View
233
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
8/17/2019 Cunha, Costa & Martelotta (2013) Linguística
1/15
n
gufst
i
ca
ng
elica Furtado da unha
Marcos ntonio osta
Mdrio
Eduardo a r t ~ l o c c a
8/17/2019 Cunha, Costa & Martelotta (2013) Linguística
2/15
6 Manual e linguistica
linguagem escrita, entre outras. Nessa acepc,:ao ,
as
linguas narurais, como o portugues
ou
o iraliano, por exemplo, sao
fo
rmas de linguagem, ja que consriruem insrrumenros que
possibilitam o processo de comunicac,:ao
ent
re os membros
de uma
comunidade.
Ent
retanto, OS linguisras - cientistas que se dedicam a ingufstica -
costumam
estabelecer uma relayao diferente entre os conceitos de linguagem e lingua. Enrenden
do
linguagem
como uma
habilidade, os linguistas definem o termo como a capacidade
que apenas os seres
humanos
possuem de se
comu
nicar
po
r meio de linguas. Por sua
vez, o rermo lingua e normalmenre definido como urn sistema
de
signos vocais
1
utilizado como meio de comunicac,:ao entre os membros de urn
grupo
social ou de
uma comunidade lingufstica.
Quando falamos, entao, que os linguistas estudam a linguagem, queremos dizer
que, embora observem a esrrurura das lfnguas narurais, eles nao estao interessados
apenas na estrurura particular dessas llnguas, mas nos processes que es rao na base da
sua
urilizac,:ao
como insrrumentos de comunicac,:ao.
Em
ourras palavras, o linguisra
nao e necessariamente urn poliglora ou urn conhecedor do funcionamento especffico
8/17/2019 Cunha, Costa & Martelotta (2013) Linguística
3/15
Lingu tic 17
e urn t r a ~ o disrinrivo no sistema da lingua porruguesa, pois a troca de /p/ por /b/
(e
vice-versa) leva a uma u d n ~ de significado das palavras, como em bore e por
e
.
A esse faro esra. associado o domfnio que o falanre rem sobre complexos
fenomenos de ordem fonologica que caracterizam o uso diario de uma lingua. Nesse
se
ntido, sao inreressanres fatos
como
a troca de
/e/
por /i/ por exemplo, que na
o p o s ~ a o entre pera e pira causa
uma
m o d i f i c a ~ a o de se
ntido
, m
as
na o p o s i ~ a o
entre lmeninol e lmininol nao.
Esses
fe
nomenos
demo
ns
tr
am que o uso
da
linguagem implica o domfnio de
urn conjunto de procedimemos bastante complexos, associados nao apenas a
r o d u ~ a o
e
p e r c e p ~ a o
dos diferenres sons da fala, mas rambem aos efeiros caracreristicos da
d i s r r i b u i ~ a o
funcional desses sons pela cadeia sonora.
b) Uma base neurobiol6gica composra de centros nervosos que sao utilizados na
c o m u n i c ~ o verbal
Urn exemplo que ilusrra bern essa r e l a ~ a o entre a linguagem e nossa es trurura
neurobiol6gica pode ser visto nas afasias , que se caracterizam
como
disturbios de
8/17/2019 Cunha, Costa & Martelotta (2013) Linguística
4/15
8
M
n
ual
de
lingufstica
c) Uma
ba
se cogniriva,
que
rege as relac;:6
es
entre o
hom
em eo mundo biossocial e,
consequenremenre, a simbolizac;:ao
ou
represenrac;:ao desse mundoem rermos I nguisricos
Associado a essa base neurobiol6gica esd. o que poderiamos chamar, para
usar
uma expressao s
im
plificada, de
foncionamento mental ou
seja, os processes
associados anossa capacidade
de
compreender a realidade que nos cerca, armazenar
organizadamenre
na mem
oria as
informac;:6es
consequences dessa co
mpree
nsao e
transmiri-las aos nossos semelhantes em siruac;:6es reais de comun icac;:ao. Podemos dizer
que
o
term
o cogniriio se relaciona a esse funcionamenro mental e que, em linguisrica,
existem
dif
erenres reorias que descrevem esse funcionamenro.
Para
form
armos uma ideia bern geral
de
como a lingufsrica trata esses
fenomenos, e nreressanre tra
8/17/2019 Cunha, Costa & Martelotta (2013) Linguística
5/15
Linguistico 9
Nao
e nosso objerivo, no
momenta
enrrar nos deralhes associados as discussoes
sabre a natureza da esrrurura cogniriva
humana
e
sim
registrar o faro de que a
capacidade da linguagem implica urn ripo de organizac;:ao mental sem a qual ela nao
exisriria ou, pelo menos, nao reria
as
caracterfsricas que rem.
d) U
ma
base sociocultural que atribui a linguagem humana OS aspectos vari:iveis que
ela apresenra
no
tempo e
no
espac;:o
A linguagem e urn dos ingredientes fundamenrais para a vida
em
sociedade.
Desse modo, ela est:i relacionada a maneira como inreragimos
com
nossos semelhantes,
refl.etindo tendencias
de comportamen
to delimitadas socialmente.
Cada
grupo social
tern urn comporramento que lhe e peculiar e isso vai se manifesrar tam bern na maneira
de
falar de seus represenrantes: os cariocas nao falam como os gauchos
ou
como os
mineiros e, do mesmo modo, indivfduos perrencenres a urn
grupo
social menos
favorecido rem caracterfsricas de fala distinras dos indivfduos de classes favorecidas.
Alem disso, urn mesmo indivfduo em
si tuac :6es
diferenres usa a linguagem de
formas diferenres.
Quando
est:i no rrabalho, discutindo quest6es profissionais
com
seu
8/17/2019 Cunha, Costa & Martelotta (2013) Linguística
6/15
20 anual
de
lingufstic
A construc,:ao negariva dupla,
como
em
Nao
quero isso, nao , ilustra bern esse
pomo. No d.iscurso falado
no
porrugues do Brasil, a pronuncia do nao ronico que
precede o verbo frequentemenre se reduz a urn num :itono,
ou
ate mesmo a
uma
s
imp
les nasaliz
ac :ao.
Para reforc :ar a ideia de n
egac :ao
o falanre
ut
il
iz
a urn seg
und
o
nao no fim da
orac :iio
como uma esrraregia para suprir o enfraquecimenro
fo
netico
do nao pre-verbal e
0
consequenre esvaziarnento
do
seu conreudo semanrico. Assim,
o acrescimo do segundo nao rem morivac :ao comunicariva.
E
nteressante o faro de que em algumas areas do Brasil,
ma
is especificamente
no
Nordeste, desenvolveu-
se
uma tendencia de utilizar apenas o segundo nao : quero
nao , sei nao , e assim
por
dianre. Essa estrutura frasal so e posslvel pela exisrencia
de
urn
esra.g
io i
me
rmedia
ri
o
em
que, por motivos
comuni
carivos, ocorre a negativa
dup la mencionada ameriormenre.
lingufstica omo estudo cientffico
Para proceder ao esrudo
ciendfi
co
da
linguagem e necessaria
que se
construa
8/17/2019 Cunha, Costa & Martelotta (2013) Linguística
7/15
Lingufstica 2
Alem disso, a lingufstica respeita qualquer variac;:ao que uma lingua apresenre,
ind
ependenremenre da regiao e do grupo social que a utilize. Isso porque e natural que
roda lingua apreseme variac;:6es- de pronuncia lf l r vs .fold; bicicleta vs .
bicicreta ,
de
vocabuhirio aipim/macaxeira; ab6bora/jerimum) ou de sinraxe casa de Paulo/casa do
Paulo) ue manifestam nfveis semelhantes de complexidade estrutural e funcional.
Oesse modo ao observar essas variedades da lingua, os linguistas reconhecem sua
relac;:ao com diferenres regi6es do pafs, grupos sociais, ed.rios e assim por diante.
A postura metodol6gica adotada na lingufstica, portanto, decorre natural mente
da definic;:ao
do
seu objero e considera, sobretudo, que:
• rodas as lfnguas e rodas as variedades de uma mesma lingua sao igualmente
apropriadas ao estudo, urna vez que imeressa ao linguista a construc;:io de uma
teoria geral sobre a linguagem humana. Cabe ao pesquisador descrever
com
objetividade o modo como
as
pessoas realmenre
usan1
a sua lingua, falando ou
escrevendo, sem atribuir s formas linguiscicas qualquer julgamento de valor,
como certo
ou
errado. lsso significa dizer que a lingufscica e nao prescritiva.
• a lfngua falada, exclufda durante muiro tempo como objero de pesquisa,
8/17/2019 Cunha, Costa & Martelotta (2013) Linguística
8/15
22 anual de linguistica
Filosofia atraves da Logica. Sobrerudo a partir do inkio
do
seculo XX
com
a publicayao
do urso de linguistica geral (marco inicial da chamada lingufstica moderna), obra
posruma
do
linguista
< o
Ferdinand
de
Saussure, instaura-se
uma
nova posrura, e
os esrudiosos da linguagem
adq
uirem consciencia
da
tarefa que lhes cabe: utilizando
se
de uma
metodologia adequada, esrudar, analisar e descrever as linguas a partir dos
elementos formais que lhes sao proprios.
Entretanto, isso nao significa dizer
que
a lingwstica encontra-se isoladadas demais
ciencias e de ourras areas
de
pesquisa. Ao contrario, existem rela
8/17/2019 Cunha, Costa & Martelotta (2013) Linguística
9/15
Linguistica
23
Para o linguista sulc;o, a lingufstica seria urn ramo
da
semiologia, apresentando urn
carater mais espedfico
em
fun
8/17/2019 Cunha, Costa & Martelotta (2013) Linguística
10/15
24
anual de
lingufstic
r
emoro
ou
recenre, mas
que
se
perderam; formas e usos lingufsticos
amalmenre
nao
urilizados, mas necessaries para esclarecer-nos eventuais passagens obscuras de urn
texto. Alem disso, a disciplina visa apresentar ao leiror o texto que mais se
aproxima
da ultima forma materializada pelo seu autor.
Ass
im
,
quando
observa urn
determinado
manuscrito, o fil6logo deve saber
de que epoca
e
a lerra, se e texto original ou c6pia, se 0 copista foi fiel
ou
se inseriu
mod
ernismos.
Deve
observar nao apenas aspe
cto
s linguisticos, como
por
exemplo, as
caracterisricas ortograficas, mas tambem as
pecto
s nao lingufsticos,
como
a disposi
8/17/2019 Cunha, Costa & Martelotta (2013) Linguística
11/15
Linguistica 25
pela sociolingwsrica e a reoria da grarnaticalizayao reromada no final do seculo
xx
pelos
linguistas funcionalisrassao exemplos de propostas mais universais de
mudanya.lingwstica.
inguistica e
gram tica
tradicional
Cabe agora diferenciar a linguisrica da chamadagramdtica tradiciona
s
pessoas
frequemememe pensam que a linguisrica e a velha gramatica ensinada nas escolas,
avivada
com
alguns termos novos. Porem, a diferenc;:a entre arnbas se manifesta em
varios aspectos basicos.
Em primeiro Iugar, devemos registrar que a grarnatica cradicional foi criada
e desenvolvida por fil6sofos gregos. Representa uma tradic;:ao, que se iniciou em
Arist6teles, de esrabelecer uma relac;:ao entre linguagem e16gica, buscando sistematiz
ar,
atraves da
observac;:ao
das fo rmas lingufsticas, as leis de
elaborac;:ao
do raciodnio. Essa
tradic;:ao rem, portanro, suas rafzes na filosofia e predominou na base dos esmdos
gramaticais are o seculo XIX, quando se desenvolverarn novas reorias sobre a linguagem
que caracterizariam o surgimenro de uma nova ciencia: a lingufsrica.
9
Alem disso, essa tradis:ao gramatical se caracrerizava
por uma
oriemas:ao
8/17/2019 Cunha, Costa & Martelotta (2013) Linguística
12/15
26
anual de linguistica
linguagern.
Entretanro
,
e
evidente
qu
e essa posis:ao
nao
deve ser esrendida para o
ensino de lingua materna sem urn mfnimo de reflexao.
Os
linguistas rem plena consci
enc
ia
da
imporrancia da norrna-padrao para
o ensino
do
porrugues e reconhecern que o aprendizado ou nao desse padrao tern
irnplicary6es importances no desenvolvirnento sociocultur
al
dos indivfduos.
Nesse
semido
,
e
valido dizer
que
para a lingufstica nao
ha
forrnas
de
expressao
correras ou erradas, m
as
adequadas ou nao aos diferentes contexros de uso. tao
inadequ
ado 0
uso de formas
nao
padronizadas
da
lingua
por
parte
de
urn
deputad
o
ao discursar na Camara por exernplo,
quanto
a urilizayao por parte desse rnesrno
depurado de
urna linguagern formal , marcada pelas regras
do padr
ao
culto
,
quando
ele estiver nas ruas pedindo voros para as pessoas humildes.
Uma
segunda diferenrya importance
entre
a lingufstica e a grarn:itica tradiciona
e
que
os linguistas considerarn a lingua falada, e nao a escrita, como primiria.
Qualqu
er
atividadede escrita representa urn processo mais sofisticado e adquirido mais tardiarnent
e
como comprovarn as seguinres
ob
se
rvary6es
gerais: corneyarnos a falar antes de aprender a
8/17/2019 Cunha, Costa & Martelotta (2013) Linguística
13/15
Lingufstico 27
oferece muiras opc;6es para a pesquisa aplicada, e muiros ramos ou reorias lingufsticas sao
fortememe oriemados para a resoluc;ao de quest6es praticas que envolvem a linguagem.
Nos tiltimos anos, rem-se registrado o crescimemo de uma tendencia aplicada,
comprometida com a urilizac;ao dos resultados da pesquisa lingulstica e de outras areas
do conhecimento com vistas a esoluc;ao de problemas da vida cotidiana que envolvem
o usa da linguagem.
Comecemos pela
chamada
lingu stica aplicada. Segundo alguns
au
tores, o
termo
"lingulsrica aplicada" surgiu na metade
da
decada de 50 do seculo passado
quase simultaneameme na Inglaterra e nos Estados Unidos, mocivado talvez pelo
desejo
do
s professores
de
lfngua
de
se distinguirem dos professor
es
de lireratura e de
se associarem a alga mais ciemlfico e objetivo,
como
a lingulsrica.
Embora ainda nao haja urn consenso
quanta
ao escopo e crirerios definidores
dessa area do conhecimento, e evidence que ela esra se tornando uma disciplina
reconhecida que vern ampliando seus domfnios. Em sua origem, a lingulstica aplicada
rem sua aruac;ao volrada para o ensino de linguas, especialmente de linguas estrangeiras
buscando, para isso, subsfdios de teorias references a inguagem, sejam elas provenieme
da lingulstica, da filosofia da linguagem ou de qualquer outra area afim.
8/17/2019 Cunha, Costa & Martelotta (2013) Linguística
14/15
28 anua
l de linguistica
de urn modo ou de outro, ao ensino e aprend.izagem de lfngua, incluindo aspectos de
a l f a b e t i z a ~ o letramenro,
1
a q u
i s i ~ o
e aprendizagem de linguas estrangeiras e l a b o r a ~ o
de testes e material educacional de lingua. A parte remanescenre se divide em quatro
categorias amplas, que
inclu
em
polftica e planejamenro lingufsticos, usos profissionais
da linguagem, comportamento lingulstico desvianre e bilinguismo, multilinguismo
e multiculturalismo. Sao essas as areas em que a linguistica aplicada tern
es
tado ativa,
inrervindo nos modelos te6ricos
enos
praticanres,
numa
via de mao dupla, ajudando
a trazer preocupas:oes te6ricas a siruas:oes concretas e, ao mesmo tempo, expandindo a
teoria ao trazer
essas
situas:oes problemas e questoes que nao foram (ou nao foram
adequadamenre) focalizados pela teo ria. A rela
8/17/2019 Cunha, Costa & Martelotta (2013) Linguística
15/15
Lingufstico 2
insrruc;:6es para os j
ur
ados, a rranscric;:ao de regisrros de julgamenros, a admissao
d
evidencias
no
julgamenro e a forc;:a do resremunho de especialisras.
Os
progressos
na
area da recnologia da comunicac;:ao ra
mb
em
requerem
informac;:ao lingu srica sofisricada. Na area das relecomuni
cac;:6es
engenheiro
elerricos e elerronicos conram com a colaborac;:ao de especialisras em fonerica para
por exemplo, aumenrar o nllinero de conversac;:6es em urn unico circuito de telefone
A participac;:iio
da
linguistica aplicada e
es
pecialmente noravel em projetos
que
lidam
com
o reconhecimenro autom::irico
da
fala, a s nrese automarica do discurso, traduc;:a
auromat
ica, inreligencia artificial e campos afins.
Em resumo ha varios dominios em que a linguisrica pode ser apl icad
produrivamenre.
Dependendo
do proposiro
da
aplicac;:ao, as disciplinas relevanres
esses propositos vao variar. A relac;:iio entre disciplinas e os domfnios da linguistic
aplicada
e paralela
a
relac;:ao
entre
por
exemplo
,
de
urn
ado
, a
engenharia
maremarica, a fisica, a quimica, ere., e de
ourro
ado, os objerivos do engenheiro
em
determinadas circunstancias praticas.
Recommended