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UNISALESIANO
Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium
Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em
Terapia Ocupacional: Uma Visão Dinâmica em Neurologia.
Diana Rosa Cavaglieri Liutheviciene Cordeiro
O retorno ao trabalho após a lesão medular:
Uma revisão crítica da literatura.
Lins – SP
2012
DIANA ROSA CAVAGLIERI LIUTHEVICIENE CORDEIRO
O RETORNO AO TRABALHO APÓS A
LESÃO MEDULAR:
UMA REVISÃO CRÍTICA DA LITERATURA.
Monografia apresentada ao Centro
Universitário Católico Salesiano
Auxilium, como requisito parcial pra
obtenção do título de especialista
em Terapia Ocupacional: uma visão
dinâmica em neurologia, sob a
orientação da Professora Mestre
Solange Aparecida Tedesco.
Lins – SP
2012
Cordeiro, Diana Rosa Cavaglieri Liutheviciene C818r O retorno ao trabalho após a lesão medular: uma revisão crítica da literatura / Diana Rosa Cavaglieri Liutheviciene Cordeiro. – – Lins, 2012.
56p. il. 31cm.
Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para Pós-Graduação “Latu Sensu” em Terapia Ocupacional: uma visão dinâmica em neurologia, 2012.
Orientador: Solange Aparecida Tedesco
1. Lesão Medular. 2. Terapia Ocupacional. 3. Reabilitação Profissional. 4. Retorno ao trabalho. I Título.
CDU 615.851.3
DIANA ROSA CAVAGLIERI LIUTHEVICIENE CORDEIRO
O RETORNO AO TRABALHO APÓS A LESÃO MEDULAR:
UMA REVISÃO CRÍTICA DA LITERATURA.
Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano
Auxilium, para obtenção do título de especialista em Terapia
Ocupacional: Uma Visão Dinâmica em Neurologia.
Aprovada em: _____ /_____ /_____.
Banca Examinadora:
Professora Mestre Solange Aparecida Tedesco
Terapeuta Ocupacional, Mestre em Saúde Mental pela Universidade
Federal do Estado de São Paulo, UNIFESP, SP.
__________________________
Professora Mestre Maria Madalena Moraes Sant´Anna
Terapeuta Ocupacional, Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie, SP.
__________________________
LINS – SP
2012
AGRADECIMENTOS
A Deus, primeiramente, por sempre guiar e iluminar o meu caminho, e
me dar energia, força e perseverança para a conclusão desse trabalho.
Ao meu esposo, Paulo, por estar sempre ao meu lado, me
acompanhando em todas as caminhadas, pelo amor, apoio, dedicação e por
sempre se dispor a me acompanhar nas viagens para Lins.
A minha família, em especial, a meus pais, Elza e Luiz por terem tornado
possível que eu chegasse até aqui, e por seu carinho e cuidado, demonstrados
diariamente através de pequenos (grandes) gestos. A minha irmã, Vanessa,
por sua amizade e preocupação.
As amigas Juliana e Suelen, pela companhia constante nos finais de
semana de aula e na realização dos trabalhos. Por tornarem esses momentos
mais alegres, pelas longas conversas, discussões e reflexões, e por
contribuírem para meu crescimento profissional.
A minha orientadora, Professora Mestre Solange Aparecida Tedesco,
pela atenção, pela disponibilidade e pelas importantes contribuições ao
trabalho.
A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização
desse trabalho.
RESUMO
A Lesão Medular (LM) é uma condição de saúde grave e altamente incapacitante e o aumento da expectativa de vida para pessoas que sofreram esse tipo de lesão tem levado a uma maior preocupação sobre seu retorno ao trabalho. Esse estudo teve como objetivo identificar, através da seleção e análise de artigos científicos, as evidências disponíveis sobre os fatores que influenciam o processo de retorno ao trabalho após a LM. Para tanto, foi realizada uma busca na literatura entre os anos de 2001 e 2011 em artigos científicos da área da saúde, utilizando as bases de dados Ibecs, Lilacs e Medline, e os descritores “lesão da medula espinhal” e “reabilitação vocacional”. Como resultados das buscas realizadas, foram identificados e pré-selecionados 35 artigos. Na análise final, 10 artigos foram selecionados por atenderem os critérios inclusão nesse estudo, ou seja, a disponibilização de seus resumos para leitura através das bases de dados; artigos publicados em inglês, português ou espanhol; pesquisas que abordassem o retorno ao trabalho ou reabilitação profissional e que os participantes apresentassem o diagnóstico de LM. Os artigos analisados apresentaram diferentes metodologias, tratando-se, em sua maioria, de estudos transversais. Na análise dos resultados dos estudos selecionados foram identificados diversos fatores que podem influenciar o retorno ao trabalho, sendo divididos nas seguintes categorias e subcategorias: fatores demográficos (gênero, etnia, idade no momento da lesão medular, tempo decorrido desde a lesão e escolaridade); fatores relacionados à lesão medular (gravidade da lesão e condições de saúde); fatores relacionados a aspectos pessoais e à reabilitação (aspectos pessoais, funcionalidade, tecnologia assistiva, serviços de reabilitação e benefícios previdenciários e assistenciais) e fatores relacionados ao trabalho (histórico profissional anterior à lesão, satisfação com o trabalho, condições de trabalho após LM). Pesquisas futuras que busquem aprofundamento sobre as influências desses fatores podem contribuir para os serviços de reabilitação profissional para pessoas com LM, e para a atuação de terapeutas ocupacionais nesses serviços. Palavras-chave: Lesão Medular. Terapia Ocupacional. Reabilitação Profissional. Retorno ao trabalho.
ABSTRACT
Spinal Cord Injury (SCI) is a serious and severe, incapacitating health condition and the increase in life expectancy for people who have suffered this type of injury has led to greater concern about the return to work. This study aimed to identify, through the selection and analysis of scientific articles, the available evidence about the factors that influence the process of returning to work after SCI. For this purpose, a search was conducted in literature published between 2001 and 2011 and in scientific articles using Ibecs, Lilacs and Medline database, and the descriptors were “spinal cord injury” and “vocational rehabilitation”. Thirty five articles were identified and pre-selected. In the final analysis, 10 articles were selected because they met the criteria for inclusion in this study, namely, the availability of their abstracts to be read through the database; articles published in English, Portuguese or Spanish; research that focused on returning to work or vocational rehabilitation and that the participants presented the diagnosis of SCI. The chosen articles presented different methodologies, where most of them were cross-sectional studies. In analyzing the results of the selected studies, several factors that can influence the return to work were identified, and were divided into the following categories and subcategories: demographic factors (gender, race, age at SCI occurrence, time since injury has occurred and level of education); factors related to personal aspects and rehabilitation (personal aspects, functionality, assistive technology, rehabilitation services and welfare benefits) and factors related to work (pre-injury employment history, job satisfaction, working conditions after SCI). Further studies deepening the understanding of the influence of these factors may contribute to the vocational rehabilitation programs for people with SCI, and help the practice of occupational therapists in these services. Keywords: Spinal Cord Injury. Occupational Therapy. Vocational Rehabilitation. Return to work.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AACD: Associação de Assistência à Criança Deficiente
AVDs: Atividades da Vida Diária
BDTD: Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações
BPC: Benefício de Prestação Continuada
BVS: Biblioteca Virtual em Saúde
CAPES: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade
DeCS: Descritores em Ciências da Saúde
Ibecs: Índice Bibliográfico Espanhol de Ciências da Saúde
Lilacs: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
LM: Lesão Medular
Medline: National Library of Medicine
MeSH: Medical Subject Headings
MSCIS: Model Spinal Cord Injury Systems
OMS: Organização Mundial de Saúde
PcD: Pessoas com Deficiência
TCE: Traumatismo Crânio-Encefálico
Scielo: Scientific Eletronic Library On-Line
UFSCar: Universidade Federal de São Carlos
USP: Universidade de São Paulo
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Síntese dos artigos selecionados...................................................26
Quadro 2 – Categorias e subcategorias dos fatores relacionados ao retorno ao
trabalho, encontrados como resultados dos estudos analisados......................37
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................. 8
1.1 A lesão medular.............................................................................. 8
1.2 Epidemiologia................................................................................. 9
1.3 Reabilitação de pessoas que sofreram lesão medular................... 10
1.4 O retorno ao trabalho após a lesão medular.................................. 12
2 OBJETIVOS...................................................................................... 19
3 MÉTODO........................................................................................... 20
3.1 Busca bibliográfica......................................................................... 20
3.2 Seleção de artigos.......................................................................... 21
3.3 Extração dos dados dos artigos e análise e discussão crítica do
material........................................................................................... 21
4 RESULTADOS.................................................................................. 23
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS........................................................ 28
5.1 Delineamento metodológico........................................................... 29
5.2 Dados demográficos dos participantes.......................................... 31
5.3 Locais de pesquisa......................................................................... 32
5.4 Índices de empregabilidade............................................................ 32
5.5 Fatores relacionados ao retorno ao trabalho após a lesão
medular........................................................................................... 34
5.5.1 Fatores demográficos.................................................................. 35
5.5.2 Fatores relacionados à lesão medular........................................ 40
5.5.3 Fatores relacionados a aspectos pessoais e reabilitação........... 42
5.5.4 Fatores relacionados ao trabalho................................................ 47
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 52
REFERÊNCIAS..................................................................................... 54
8
1 INTRODUÇÃO
1.1 A Lesão Medular
A Lesão Medular (LM) é uma condição de insuficiência parcial ou total
do funcionamento da medula espinhal, decorrente da interrupção dos tratos
nervosos motor e sensorial desse órgão, podendo levar a alterações nas
funções motoras e déficits sensitivos superficial e profundo nos segmentos
corporais localizados abaixo do nível da lesão, além de alterações viscerais,
autonômicas, disfunções vasomotoras, esfincterianas, sexuais e tróficas
(FECHIO et al, 2009; MANCUSSI-FARO, 2003).
As manifestações clínicas dependerão do nível e grau da lesão. Em
relação ao grau, segundo Adler (2005), as lesões podem ser classificadas
como completas e não-completas. Nas lesões completas existe perda sensitiva
e paralisia motora total abaixo do nível da lesão devido à interrupção completa
dos tratos nervosos. Em uma lesão incompleta estão preservados grupos
musculares e áreas sensitivas que não foram afetados.
Também em relação aos graus da lesão, segundo Casalis (2003), são
identificadas algumas síndromes medulares: Síndrome centromedular, em que
os membros superiores são mais afetados que os membros inferiores;
Síndrome de Brown-Séquard, em que apenas um lado da medula está
seccionado, com perda motora e proprioceptiva homolateral à lesão e perda da
sensibilidade térmica e dolorosa contralateral à lesão; Síndrome medular
anterior, quando ocorre perda motora e de sensibilidade térmica e dolorosa,
estando preservada a propriocepção; Síndrome medular transversa, com perda
motora e sensitiva completa; Síndrome do cone medular, lesão da medula
sacral e das raízes lombares com perda motora (paralisia flácida) e perda
sensitiva dos dermátomos lombossacros correspondentes; e Síndrome da
cauda equina, em que há lesão das raízes lombossacras abaixo do cone
medular com perda motora e sensitiva correspondente às raízes lesadas.
A LM pode ter causas de origens traumáticas ou não-traumáticas.
Entre as causas de etiologia traumática, as mais frequentes estão relacionadas
a acidentes automobilísticos, ferimentos por armas de fogo, mergulho em
9
águas rasas, acidentes esportivos e quedas. Dentre essas causas, os
ferimentos penetrantes por arma de fogo produzem lesões graves com perda
de substância, fístulas, infecções e meningites. Já as causas das lesões não-
traumáticas podem estar relacionadas a tumores, infecções, alterações
vasculares, malformações e processos degenerativos ou compressivos
(ADLER, 2005; ATKINS, 2005; CASALIS, 2003).
A instalação da LM pode ser abrupta, originando o quadro clínico
denominado choque medular; ou progressiva, cujas alterações surgem
gradualmente. No choque medular observa-se paralisia flácida e anestesia
abaixo do nível da lesão, além de alterações esfincterianas, sexuais e na
termorregulação. Se a lesão comprometer segmentos cervicais ou torácicos
altos, também podem ocorrer problemas respiratórios. O quadro pode variar
quanto à sua duração e não é possível estabelecer qual será o prognóstico
funcional do paciente até que se supere a fase aguda (ATKINS, 2005;
CASALIS, 2003).
Segundo Casalis (2003), o prognóstico funcional será determinado
após a fase aguda e incluirá as determinações do nível e grau da lesão e a
avaliação dos comprometimentos das funções motora e sensitiva.
1.2 Epidemiologia
A LM traumática tem sido considerada um problema de saúde pública,
tanto no Brasil quanto no exterior, pois sua incidência vem aumentando nos
últimos anos. E, diante disso, as políticas públicas têm direcionado atenção
para seus aspectos preventivos (MANCUSSI-FARO, 2003).
As estatísticas mundiais indicam que 30 a 40 pessoas a cada 1 milhão
de habitantes são acometidas pela LM, por ano. De acordo com National
Spinal Cord Injury Statistical Center, há aproximadamente 10.000 novos casos
de lesão medular a cada ano nos Estados Unidos (YASUDA et al, 2002).
No Brasil, a incidência da LM é desconhecida. Porém, quando as
estatísticas mundiais são aplicadas à população brasileira, esse número
representa cinco a seis mil novos casos de lesão medular a cada ano. A
população mais afetada encontra-se na faixa etária dos 30 anos, sendo que
10
80% dos indivíduos são do sexo masculino, segundo levantamento realizado
pela Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) em 2000
(CASALIS, 2003).
No Brasil, o rápido e desordenado crescimento urbano, sobretudo nos
grandes centros, bem como o aumento da violência urbana, contribuíram para
o aumento da LM (MANCUSSI-FARO, 2003). Este aumento se deve
principalmente às lesões traumáticas (80%) provocadas por ferimentos com
arma de fogo, acidentes de trânsito, mergulhos e quedas. Entre as causa não
traumáticas (20%), destacam-se os tumores, doenças infecciosas, vasculares e
degenerativas, conforme dados da AACD (CASALIS, 2003).
Apesar do aumento nos índices de vítimas de LM nos últimos anos,
tem havido paralelamente uma diminuição nos óbitos (CASALIS, 2003), e
consequentemente o aumento de pessoas que apresentam incapacidades
decorrentes dessa condição, o que leva a importância dos estudos sobre as
técnicas e processos de reabilitação para pessoas que sofreram LM.
1.3 Reabilitação de pessoas que sofreram Lesão Medular
Segundo Mancussi-Faro (2003), a reabilitação para pessoas que
sofreram LM se inicia logo após a lesão, em sua fase aguda, e é muito
relevante para a reabilitação posterior, pois nesse momento os cuidados
preventivos podem evitar as úlceras de pressão e deformidade dos segmentos
paralisados, através de posicionamentos adequados e mudanças de decúbito.
Estudos em terapia ocupacional sobre a reabilitação de pessoas que
sofreram LM indicam que o processo de reabilitação é extenso e outros fatores
secundários à lesão podem influenciar o grau de independência e autonomia
que essas pessoas conquistarão na realização das atividades. Dentre esses
fatores, são indicados a dor, fadiga, resistência inadequada, diminuição ou
ausência da sensação, presença de espasticidade, problemas clínicos
concomitantes, fatores sociais e psicológicos, e os níveis de esforço e de
tempo necessários para o desempenho das tarefas (ATKINS, 2005;
TROMBLY, 2005).
11
Considerando o processo de reabilitação para essas pessoas, para que
sua inclusão social ocorra efetivamente, deve haver um movimento bilateral, ou
seja, a sociedade também deve assumir responsabilidades, aceitar e valorizar
as diferenças (FECHIO et al, 2009). Assim, os fatores relacionados à gravidade
e condições de saúde associados a LM, a forma como as pessoas com LM
vivenciam essa situação e as condições oferecidas pelos ambientes em que
estão inseridas podem se interrelacionar e se influenciar mutuamente,
determinando como (re)assumirão seus papéis sociais.
Observa-se que a LM pode levar a inúmeras alterações físicas,
psicológicas e sociais. Os papéis até então assumidos pela pessoa podem não
ser mais compatíveis com sua nova situação. Porém, a pessoa pode construir
estratégias de adaptação e enfrentamento, desenvolvendo novas habilidades e
interesses, impulsionando novos aprendizados, descobrindo potencialidades e
diversificando a forma de realizar suas atividades.
Segundo Fechio et al (2009), em estudo sobre as repercussões da
lesão medular na identidade do sujeito, fatores internos e externos podem
influenciar a forma como a pessoa enfrentará a nova situação relacionada às
alterações causadas pela LM. Os fatores internos se referem à estruturação
psíquica, os padrões de comportamento prévios à lesão, as características e
traços pessoais, que influenciarão a forma como a pessoa enfrentará a
situação causada pela LM. A dificuldade ou incapacidade para a realização de
movimentos físicos poderá ser percebida de forma muito negativa, caso o
sujeito apresente dificuldade em perceber outras capacidades, potenciais e
alternativas através das quais pode obter a satisfação de suas necessidades e
anseios.
Já os fatores externos dizem respeito a aspectos mais amplos como
sociedade, história, ideologia, cultura e economia e aos aspectos mais restritos
a condição social do sujeito como, por exemplo, seu nível socioeconômico e os
recursos disponíveis na comunidade (FECHIO et al, 2009). O indivíduo
frequentemente irá se deparar com suas limitações, e a realização de muitas
atividades passará então a requerer o auxílio do outro. Dessa forma, esses
autores também consideram de grande importância o trabalho com a família,
para que os familiares possam expressar seus diferentes sentimentos em
12
relação à nova situação, e para que esses possam apoiar a pessoa com LM
em seu processo de reabilitação
Segundo Venturini, Decésaro e Marcon (2007), as dificuldades mais
frequentemente enfrentadas no cotidiano dos indivíduos com LM estão
relacionadas à questão econômica (37,5%) e à dependência do outro (28,1%).
Estas dificuldades se completam, pois ser dependente exige cuidados, o que
muitas vezes priva outra pessoa, além do LM, de contribuir economicamente
para o sustento da família.
Assim, entre as repercussões mais importantes que a LM pode causar
na vida do indivíduo e seus familiares, estão as limitações relacionadas ao
retorno ao trabalho. A Terapia Ocupacional, no processo de reabilitação atua
em muitos fatores envolvidos em como a pessoa vivencia a situação causada
pela LM, entre esses fatores o terapeuta ocupacional pode atuar no retorno
dessa pessoa ao trabalho.
1.4 O retorno ao trabalho após a lesão medular
De acordo com Atkins (2005), diante de todas as alterações e déficits
adquiridos pelo indivíduo após a LM, a Terapia Ocupacional tem um papel de
extrema relevância no tratamento de reabilitação, pois é o terapeuta
ocupacional que irá intervir na rotina do indivíduo, orientando-o, prescrevendo,
confeccionando e treinando métodos adaptados ou facilitados que poderão ser
utilizados para atingir um melhor resultado funcional.
As alterações produzidas pela LM interferem nas formas como as
pessoas realizam as atividades em seu cotidiano e o retorno ao trabalho é um
dos desafios que essas pessoas enfrentarão no processo de inclusão social. O
terapeuta ocupacional contribui para que os indivíduos com LM desenvolvam
competências e satisfação nos papéis da vida, porém muitas barreiras ainda
continuam a impedir a plena participação do indivíduo (ATKINS, 2005).
Em relação à atuação da Terapia Ocupacional na integração de
pessoas com incapacidade no trabalho, Trudel (2004, p. 85) compreende que
“a Terapia Ocupacional conserva e defende o valor efetivo de que o trabalho
13
adaptado à capacidade das pessoas é garantia de saúde individual e coletiva”.
O autor também considera que:
As intervenções terapêuticas ocupacionais no campo da adaptação e reabilitação no trabalho de pessoas que apresentam problemas físicos apoiam-se principalmente na recuperação física, na avaliação de capacidades, no retreinamento das habilidades e rotinas do trabalho, na escolha de um emprego compatível com as capacidades e na adaptação ao posto de trabalho e ao ambiente onde o indivíduo trabalhava ou irá trabalhar (TRUDEL, 2004, p.86).
Para a atuação do terapeuta ocupacional na reabilitação profissional é
necessário entender por que as pessoas trabalham, reconhecer como os
terapeutas ocupacionais vêem o trabalho e seu papel na reabilitação
profissional e entender como o papel ocupacional pode ser interrompido (RICE;
LUSTER, 2005).
Lancman e Ghirardi (2002) discutem o papel central do trabalho na
constituição da identidade individual, tendo fundamental importância para vida
psíquica e contribuindo para um status positivo. Além disso, o trabalho também
é fundamental na constituição de redes de relações sociais e de trocas afetivas
e econômicas que estão na base da vida cotidiana das pessoas.
Para as pessoas com LM, o retorno ao trabalho tem se constituído
como importante questão de estudo, particularmente porque os avanços no
tratamento têm levado ao aumento de sua expectativa de vida e,
consequentemente, ao prolongamento da vida produtiva. Segundo Young e
Murphy (2009), há aproximadamente cinquenta anos atrás considerava-se que
as pessoas que haviam sofrido LM não tinham perspectivas de ter autonomia
em suas vidas, porém hoje considera-se que elas podem ter uma vida “normal”,
o que para as expectativas sociais, inclui ter um emprego remunerado.
Segundo Cabral et al (2010), na atual proposta da Organização
Mundial de Saúde (OMS) para classificar funcionalidade e incapacidade
humana – a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e
Saúde (CIF) – a participação do indivíduo na força de trabalho se relaciona
diretamente com sua saúde. Conforme esse estudo, o esquema da CIF coloca
o trabalho como um fator externo que pode influenciar a funcionalidade nos três
níveis: estrutura e função do corpo, atividade e participação. Da mesma forma,
14
o trabalho pode ser influenciado pela funcionalidade e pelos fatores pessoais.
De acordo com essa perspectiva, fatores externos, como ambiente doméstico,
lazer e suporte social também podem atuar como barreiras ou facilitadores na
participação no trabalho.
No contexto nacional, Blanes et al (2009) investigaram as
características de pessoas com paraplegia, devido à LM, que viviam no
município de São Paulo. Segundo esse estudo, a lesão medular era mais
freqüente entre homens com idade entre 21 e 35 anos, sendo considerado um
relevante problema social que afeta uma parcela da população
economicamente ativa, que é obrigada a interromper suas atividades
profissionais. 63,3% desses pacientes eram beneficiários do Seguro Social e
não tinham atividades profissionais. Assim, embora a maioria dos participantes
fossem adultos jovens, verificou-se o seu não-acesso ao mercado de trabalho,
forçando-os a permanecer como beneficiários do Seguro Social.
Loureiro, Faro e Chaves (1997), em estudo sobre a qualidade de vida
sob a ótica de pessoas que apresentam lesão medular, encontraram que
81,3% dos participantes trabalhavam regularmente e contribuíam com a renda
familiar anteriormente à lesão. Mas após a lesão medular, não podiam mais
fazê-lo. Esse estudo aponta a questão da impossibilidade para o trabalho como
preocupante para os lesados medulares, pois constitui uma necessidade não
só de adquirir renda, mas de assumir um papel social como resgate de sua
identidade.
Em trabalho de Bampi, Guilhem e Lima (2008), também sobre a
qualidade de vida de pessoas que sofreram lesão medular traumática, foi
encontrado que os domínios de qualidade de vida relacionados ao meio
ambiente e à saúde física apresentaram os piores escores de avaliação e foi
encontrado que os participantes estavam insatisfeitos com sua capacidade
para o trabalho. As autoras consideram que as mudanças físicas, assim como
as barreiras sociais, podem dificultar a vida e intervir na avaliação de qualidade
de vida das pessoas com lesão medular. Os participantes mostram insatisfação
com a vida após a lesão, e essa insatisfação está relacionada às desvantagens
sociais que o indivíduo passa a enfrentar.
15
Polia e Castro (2007) em estudo com pacientes que sofreram lesão
medular, que buscou verificar se a lesão medular provocou modificações na
dimensão ocupacional do indivíduo, de acordo com o Modelo da Ocupação
Humana, encontraram que 88,5% dos participantes da pesquisa abandonaram
suas atividades produtivas e/ou remuneradas após a lesão; 7,7 % dos
pacientes continuaram trabalhando, porém, em outro local e em outra função; e
3,8% deles não trabalhava e após a lesão medular começou a exercer suas
atividades produtivas. Porém 42,3% dos participantes auxiliavam no sustento
financeiro da família, sendo que destes, 72,7% estavam inativos e contavam
com algum tipo de auxílio, enquanto 27,3% exerciam uma atividade produtiva
remunerada.
Quando os entrevistados foram perguntados sobre os motivos pelos
quais deixaram de realizar as atividades que apreciavam, 26,9% indicaram a
perda de volição (vontade) para o desempenho das atividades; 96,1 %
relataram a falta de condições físicas; 61,5% apontaram as barreiras
ambientais como fator limitante e 42,2% consideraram que a falta de interesse
ou de tempo das pessoas em facilitar a execução das tarefas impediam seu
engajamento ocupacional (POLIA; CASTRO, 2007).
As autoras concluem que, com o advento da lesão medular, além das
alterações físicas e psicossociais, existem também alterações ocupacionais na
vida destas pessoas e apontam que o impacto da lesão medular sobre a vida
ocupacional do paciente merece maior atenção sendo este um tema que
necessita ser mais bem estudado a fim de que os profissionais de saúde, em
especial os terapeutas ocupacionais, tenham uma visão mais ampla das
modificações ocorridas, que se expressam na forma do comportamento
ocupacional (POLIA; CASTRO, 2007).
Masiero (2008) investigou o retorno das pessoas com lesão medular ao
trabalho, tanto da perspectiva social e de como está o processo inclusão, como
na perspectiva do desenvolvimento pessoal, tendo como foco a resiliência.
Encontrou que a maioria dos participantes do estudo recebia aposentadoria por
invalidez, seguida dos que recebiam auxílio-doença e uma pequena parte que
recebia o Benefício de Prestação Continuada (BPC), e que metade dessas
pessoas, através do recebimento do benefício, eram responsáveis pelo
16
sustento do grupo familiar, o que, segundo a autora, parece ser um fator que
influencia a empregabilidade dessas pessoas.
Entre os que estavam trabalhando, a maioria estava no exercício de
outra profissão. Poucos conseguiram manter a mesma atividade profissional de
antes da lesão medular. Para a autora, esse resultado nos remete à questão da
identidade profissional que, na maioria dos casos, precisou ser reconstituída ou
adaptada. A necessidade de abandonar a atividade profissional escolhida
originalmente e a necessidade da construção de uma nova identidade
profissional, podem ter sido vivenciadas como fatores de risco para o
desenvolvimento pessoal (MASIERO, 2008).
Entre os que trabalhavam, a maioria não encontrava dificuldades no
trabalho. Entre as poucas dificuldades apontadas, estavam: retirar e guardar a
cadeira de rodas do carro, no relacionamento interpessoal com colegas;
locomover-se no local de trabalho; acessibilidade nos banheiros; baixo nível
escolar; ter que se expor ao público; acessibilidade das ruas, e depender de
alguém que o levasse. Entre o grupo de participantes que não trabalhavam,
apontaram as seguintes dificuldades encontradas para trabalhar: dificuldades
motoras; não ter transportes; não encontrar empregos; não querer perder o
benefício previdenciário; não poder pegar peso; não ter concluído os estudos;
não ter aprendido a fazer trabalhos manuais ou ter problemas com a visão
(MASIERO, 2008).
Em relação à perspectiva das características pessoais, a autora conclui
que retornar às atividades laborativas, após a lesão medular, exige um
processo resiliente por envolver a necessidade do “enfrentamento a possíveis
situações adversas e a capacidade de adaptação positiva, incluindo a vivência
de transformações e crescimento pessoal” (MASIERO, 2008, p.141).
Em pesquisa realizada por Venturini, Decésaro e Marcon (2007), com
32 pessoas que sofreram lesão medular, foi encontrado que antes da lesão, a
maioria (81,3%) trabalhava regularmente e contribuía com a renda familiar, e
após a LM, apenas quatro indivíduos trabalhavam (12,5%) e dois estudavam
(6,3%). Segundo os autores, a impossibilidade para o trabalho constitui
preocupação não só pela necessidade de adquirir renda, mas de assumir um
papel social como resgate da identidade da pessoa que sofreu LM.
17
Assim, observamos que as pesquisas sobre a vida após a LM têm
apontado que os benefícios do trabalho para essas pessoas são múltiplos, com
a produtividade e o emprego sendo consistentemente associados com a
satisfação com a vida, qualidade de vida e adaptação. Porém, também indicam
múltiplos fatores que podem influenciar o processo de retorno ao trabalho
dessas pessoas.
Em revisão bibliográfica realizada por Young e Murphy (2009),
analisando estudos publicados no período de 1992 a 2005 sobre o retorno ao
trabalho de pessoas que sofreram lesão medular, com ênfase sobre os índices
de empregabilidade, foi encontrado que aproximadamente 40% das pessoas
em idade produtiva, que haviam sofrido lesão medular há pelo menos 12
meses antes da coleta de dados, estavam empregadas. Os autores indicam
que houve um aumento no número de estudos sobre o retorno ao trabalho
após a lesão medular nos últimos anos e que revisões de literatura poderiam
fornecer informações úteis sobre a empregabilidade após a lesão medular.
Ottomanelli e Lind (2009) realizaram estudo de revisão sobre as
pesquisas que abordaram os fatores relacionados ao emprego de pessoas que
sofreram lesão medular, no período de 1978 a 2008 e encontraram onze
fatores associados com a empregabilidade de pessoas com LM. Esses fatores
incluem educação, tipo de emprego, gravidade da incapacidade, idade, tempo
decorrido desde a lesão, sexo, status marital e suporte social, aconselhamento
profissional, problemas médicos relacionados à lesão, papel do empregador,
ambiente e interesses profissionais. Sendo que o nível de escolaridade foi o
fator mais fortemente ligado ao retorno ao trabalho Apontam também que
faltam evidências sobre os métodos mais efetivos de reabilitação profissional
com essa população.
Em outra revisão da literatura internacional existente sobre o retorno ao
trabalho de pessoas que sofreram LM, Yasuda et al (2002), indica que os
obstáculos relatados por essas pessoas para seu retorno ou ingresso no
mercado de trabalho incluem a incapacidade para obter assistência de saúde
suficiente, que lhes permita viver e trabalhar de forma independente;
desincentivos financeiros para trabalhar devido a programas de benefícios; e
incapacidade em acessar serviços efetivos de formação e colocação no
18
trabalho. Além disso, aponta que as dificuldades em obter emprego podem se
relacionar à falta de conhecimento em termos de seus direitos a vagas no
mercado de trabalho e a serviços que poderiam auxiliá-los.
Considerando que o retorno ao trabalho é um dos processos
relacionados à emancipação social e autonomia de pessoas que sofrem LM,
torna-se importante reconhecer, na literatura, quais os fatores que podem
influenciar a inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho.
Devido à escassez de estudos que abordam especificamente a
questão do retorno ao trabalho após a LM, na literatura nacional, o presente
estudo propõe o levantamento e análise da literatura internacional sobre o
tema, buscando identificar os fatores relacionados ao retorno ao trabalho dessa
população.
Tal investigação poderia contribuir para os serviços de reabilitação e
programas de reabilitação profissional para pessoas com LM; propor
discussões sobre o trabalho da terapia ocupacional com essa população e
indicar direções para pesquisas futuras sobre a inclusão de pessoas com
deficiência (PcD) no mercado de trabalho.
Além da relevância do tema sob o enfoque específico da LM, o atual e
crescente movimento pela inclusão social das PcD também ressalta a
importância de pesquisas sobre o assunto.
19
2 OBJETIVOS
Identificar na literatura científica, através da seleção e análise de
artigos científicos, as evidências disponíveis sobre os fatores que influenciam o
processo de retorno ao trabalho de pessoas que sofreram LM.
20
3 MÉTODO
3.1 Busca bibliográfica
Foram realizadas buscas de artigos científicos nas seguintes bases
eletrônicas de dados: Índice Bibliográfico Espanhol de Ciências da Saúde
(Ibecs), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(Lilacs), National Library of Medicine (Medline) e Scientific Eletronic Library On-
Line (Scielo), além da Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São
Paulo (USP) e dos Cadernos de Terapia Ocupacional da Universidade Federal
de São Carlos (UFSCar). Além disso, foram realizadas buscas de teses e
dissertações na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e
no Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES).
As palavras-chave utilizadas para essas buscas foram: “traumatismos
da medula espinhal”, “lesão medular” e “lesões da medula espinhal” utilizadas
de forma independente, ou associadas a “trabalho”, “terapia ocupacional”,
“reabilitação profissional” e “reabilitação vocacional”.
Nessas buscas foram encontrados diversos trabalhos relacionados à
vida de pacientes após sofrerem a LM, seu processo de reabilitação, qualidade
de vida, reações psicológicas, relações com a família, atividades de vida diária
e trabalho, entre outras áreas de ocupação.
Assim, para uma busca sistemática de artigos científicos na literatura,
que abordassem especificamente o retorno ao trabalho de pessoas que
sofreram lesão medular, investigando os fatores que influenciam esse
processo, foram utilizadas as bases de dados eletrônicas Medline, Lilacs e
Ibecs, disponíveis para acesso através do portal Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS) (BIBLIOTECA Virtual em Saúde, 2011).
Foram utilizados para busca a combinação entre os descritores “lesão
da medula espinhal” e “reabilitação vocacional”, padronizados pelo sistema de
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e Medical Subject Headings
(MeSH), e cujo os termos correspondentes em inglês são spinal cord injuries e
21
vocacional rehabilitation. A busca foi limitada para os artigos publicados no
período de janeiro de 2001 a dezembro de 2011.
3.2 Seleção dos artigos
Os artigos foram selecionados, através da leitura dos títulos e resumos,
através dos seguintes critérios de inclusão:
Trabalhos que disponibilizassem seus resumos para leitura através
da base de dados;
A partir da leitura dos títulos e resumos, pesquisas que
abordassem o retorno ao trabalho (return to work) ou reabilitação
profissional (vocacional rehabilitation) de pessoas que sofreram
lesão medular (spinal cord injury), de etiologia traumática ou não-
traumática;
Artigos publicados em inglês, português ou espanhol.
Os participantes deveriam apresentar diagnóstico de lesão da
medula espinhal.
Os critérios de exclusão utilizados para esta revisão foram:
Estudos de revisão de literatura ou bibliografia comentada;
Pesquisas sobre o processo de retorno ao trabalho de pessoas que
apresentavam outros tipos de deficiência, e não apenas
participantes com lesão medular;
Trabalhos que investigavam percepção de profissionais,
construção de instrumentos de avaliação, políticas públicas
específicas e outras áreas de ocupação, além do trabalho, em
relação a pessoas que sofreram lesão medular.
3.3 Extração dos dados e Análise e discussão crítica do material
Após seleção criteriosa dos artigos dessa revisão, foram extraídas e
resumidas de forma padronizada as informações disponíveis nos mesmos, que
incluem: referência (autores, título, periódico e ano de publicação); objetivo;
22
método (participantes, instrumentos utilizados, procedimentos de coleta de
dados, forma de análise de dados) e principais resultados encontrados.
Em relação aos resultados encontrados foram construídas categorias e
subcategorias relacionadas aos fatores que influenciam o retorno ao trabalho
de pessoas que sofreram LM.
A revisão crítica foi utilizada para analisar os conteúdos dos artigos
selecionados e estabelecer a discussão das relações entre as categorias
construídas, para a análise do material extraído. Segundo Mancini e Sampaio
(2006), revisões críticas da literatura são estudos nos quais os autores
resumem, analisam e sintetizam as informações disponibilizadas na literatura,
mas não seguem uma metodologia pré-definida. Podem se tratar de revisões
passivas, que sintetizam estudos sobre um tema, ou revisões opinativas, que
analisam a evidência existente sobre determinado assunto.
A seguir, são apresentados os resultados da busca e seleção de
artigos, com a síntese das principais informações dos estudos selecionados.
23
4 RESULTADOS
A pesquisa inicial realizada nas bases de dados eletrônicas identificou
35 referências para o período de 2001 a 2011.
Dentre as referências encontradas, 18 artigos foram pré-selecionados
pelo conteúdo dos títulos, de acordo com os critérios de inclusão e exclusão
estabelecidos. Após a leitura dos títulos e resumos, foi feita nova seleção com
base nos mesmos critérios, sendo que cinco estudos foram excluídos por
abordarem outras deficiências, além da lesão medular; por serem trabalhos
que investigaram outros temas relacionados à qualidade de vida ou outras
áreas de ocupação, além do trabalho, para pessoas que sofreram LM; ou por
se tratar de pesquisas sobre a percepção dos profissionais acerca do processo
de reabilitação dessas pessoas. Além disso, foram excluídos três trabalhos de
revisão da literatura.
Dessa forma, a seleção final identificou dez artigos que foram
analisados na presente revisão. As informações extraídas de cada trabalho
foram organizadas e estão apresentadas de forma resumida no Quadro 1.
24
Referência Objetivos Método
Resultados
MEADE et al (2004)
Examinar questões relacionadas ao emprego e raça para pessoas com LM, pela avaliação do tipo de trabalho que realizavam antes e após a lesão e localizando os resultados em relação aos padrões da população geral.
- 5925 participantes afro-americanos e brancos que sofreram LM entre 1972 e 2002 - Estados Unidos - Os dados foram coletados conforme os procedimentos do Model Spinal Cord Injury Systems (MSCIS) Project na admissão ao centro de reabilitação e em períodos pré-determinados após a lesão, usando protocolos, categorias de prejuízos neurológicos e outras informações relevantes. - Análise retrospectiva. Pesquisa transversal
- Disparidades raciais nos índices de emprego foram encontradas antes e após a lesão. - Também houve diferenças nos tipos de trabalho antes da LM, com padrões semelhantes aos da população em geral. - Após a lesão, afro-americanos tinham menores scores de autossuficiência econômica.
SCHÖNHERR et al (2004)
Explorar o processo de reintegração ao trabalho remunerado após a LM, incluindo o papel das expectativas dos pacientes em relação ao retorno ao trabalho, indicadores de sucesso na reintegração e descrição das intervenções e barreiras.
- 55 participantes com idade entre 18 e 60 anos, admitidos em centro de reabilitação, no período de 1990 a 1998. - Holanda. - Aplicação de um questionário sobre as expectativas individuais, durante o processo de admissão ao centro de reabilitação. - Análise estatística descritiva dos dados dos questionários.
- Dos 49 respondentes que estavam empregados no momento da lesão, 45% se sentiam capazes de retornar ao trabalho. - As expectativas positivas foram relacionadas a maior nível educacional. - A chance do reingresso com sucesso foi maior se o paciente esperava voltar ao trabalho. - Para a maioria foram feitas adaptações no local de trabalho e redução da carga horária.
JANG; WANG; WANG (2005)
Estudar os índices de emprego e determinantes de retorno ao trabalho para pessoas com lesão medular traumática em Taiwan.
-169 pessoas com LM e que passaram pelo serviço de reabilitação de um hospital universitário entre 1989 e 2002, e que tem idade entre 18 e 60 anos. - Taiwan. - Questionário estruturado, abordando questões demográficas, relacionadas à lesão, funcionalidade e trabalho antes e após a lesão. - Estudo transversal.
- 47% dos participantes estavam empregados. - Educação; independência funcional; status marital; idade no momento da lesão; ocupação anterior à lesão e capacitação profissional após a lesão estão associados com a empregabilidade.
Quadro 1 – Síntese dos artigos selecionados.
25
Referência Objetivos Método
Resultados
SCHÖNHERR et al (2005)
Conhecer a situação profissional vários anos após a LM e descrever as experiências pessoais e necessidades não satisfeitas, para dar uma visão geral da situação de saúde e funcionalidade por tipo de LM e sua relação com o status de emprego.
- 55 pacientes com idade entre 18 e 60 anos, admitidos em centro de reabilitação, no período de 1990 a 1998. - Holanda - Questionário com itens relacionados à evolução profissional, experiências de trabalho, estado de saúde e funcionalidade. - Análise estatística descritiva dos dados dos questionários.
- 60% tem emprego remunerado. - O resultado foi relacionado à maior nível de escolaridade. - Uma relação significativa entre tipo de LM, estado de saúde, funcionalidade e emprego foi encontrada. - Os participantes que mudaram de emprego precisaram de mais tempo para retornar ao trabalho, mas pareciam mais satisfeitos com o trabalho e tinham menos horas de trabalho do que aqueles que retornaram ao mesmo empregador. - Apesar da satisfação com o trabalho atual, várias experiências negativas e necessidades não atendidas foram relatadas.
VALTONEN et al (2006)
Estudar os fatores individuais e aqueles relacionados à lesão como preditores da participação no trabalho em pessoas com LM traumática e congênita.
- -182 pessoas com LM traumática e 48 pessoas com mielomeningocele admitidas em centros de reabilitação. - Suécia - Questionário estruturado, enviado pelo correio. - Estudo transversal. - Associações entre potenciais preditores e participação no trabalho.
- A presença de outros transtornos somáticos ou mentais, e de dor neuropática, diminuiu a participação no trabalho entre os homens com lesão medular traumática. - Entre as pessoas com mielomeningocele, o melhor estado ambulatorial e nível de escolaridade superior se associaram a maior participação no trabalho. - Em todos os grupos, maior independência nas atividades diárias aumentou a probabilidade de participação no trabalho.
HEDRICK et al (2006)
Examinar associações entre custo, subscrição, propriedade e uso da tecnologia assistiva, e o emprego de pessoas com LM e acomodações do empregador.
- 191 participantes com idade entre 18 e 64 anos, divididos em dois grupos (civis e veteranos). - Estados Unidos - Entrevistas, através de contatos telefônicos com os participantes, abordando questões sobre o uso de tecnologia assistiva e suas relações com o trabalho. - Análises descritivas e comparativas foram realizadas com o total de participantes e para cada grupo.
- A maioria dos recursos de tecnologia assistiva dos participantes foi caracterizada como importante para o trabalho, e esses recursos foram 3,5 vezes mais caros. - Os custos de recursos de tecnologia assistiva foram de 68% a 124% maiores para pessoas que trabalhavam por conta própria. - A educação foi relacionada ao status de emprego para os dois grupos.
26
Referência Objetivos Método
Resultados
KRAUSE; TERZA; DISMUKE (2008)
Identificar diferenças nos ganhos condicionais (referentes ao trabalho remunerado) e incondicionais (participantes desempregados) entre participantes com LM, atribuíveis a fatores biográficos, educacionais, relacionados à lesão e ao trabalho.
- 1296 participantes com idade entre 18 e 64 anos. - Estados Unidos. - Levantamento dos ganhos dos participantes nos 12 meses anteriores à pesquisa. - Levantamento de dados transversal. Relação entre fatores biográficos, educacionais, relacionados à lesão e ao emprego remunerado; e os ganhos condicionais e incondicionais.
- Sexo e raça foram significativamente relacionados com ganhos condicionais, mesmo após controlar variáveis educacionais e profissionais. - Ganhos condicionais foram relacionados a 16 ou mais anos de educação, número de anos de trabalho, porcentagem de tempo após a LM que se passou empregado, e se o participante trabalhava no governo ou em indústrias privadas (não por conta própria ou em negócios da família).
FADYL; MCPHERSON(2010)
Identificar os fatores que influenciam as decisões sobre se e quando as pessoas com LM retornam ao trabalho.
- 13 participantes. - Nova Zelândia. - Entrevistas não-estruturadas com cada participante buscando abordar em profundidade os fatores que o levaram a decisão de ter ou não ter um trabalho remunerado após a LM. - Análise qualitativa das transcrições das entrevistas, identificando categorias e sub-categorias e as relações entre elas.
- Quatro principais temas sintetizaram as experiências sobre o que influenciou as decisões sobre trabalho após a LM: (1) habilidade para o trabalho (considerando as demandas do trabalho e recursos atuais); (2) presença de responsabilidades ou pressões que competem com o trabalho; (3) acesso a um emprego adequado; (4) se o trabalho foi suficientemente benéfico para o indivíduo, para que valha a pena persegui-lo.
LIDAL et al (2010)
Estudar os fatores que influenciam o trabalho e a retirada do trabalho de pessoas que sofreram LM há 20 anos, assim como estudar a satisfação com a vida para essas pessoas.
-165 participantes. - Noruega. - Dados médicos e demográficos dos prontuários. - Questionários enviados por correio e entrevista pessoal. A satisfação com a vida foi avaliada pelo instrumento LiSat-11. - Estudo transversal. - Regressão logística múltipla foi utilizada para identificar os preditores para o retorno ao trabalho após a lesão e para a retirada precoce do mercado de trabalho.
- 65% dos participantes estavam empregados em algum momento após a lesão. - 35% ainda trabalhavam no momento do estudo. - A probabilidade de obter trabalho foi maior em pessoas que sofreram a lesão quando eram mais jovens; maior em homens x mulheres, maior para pessoas com paraplegia x tetraplegia. - Fatores associados com a retirada precoce do mercado de trabalho foram relacionados a pessoas mais velhas no momento da lesão e história de condições médicas anteriores à lesão. - A satisfação com a vida foi maior para participantes empregados atualmente.
27
Referência Objetivos Método
Resultados
ROWELL; CONELLY (2010)
Examinar o impacto de um serviço de atendimento a pessoas com LM em seu retorno ao trabalho.
-109 pacientes de um serviço de apoio para o trabalho e 141 pacientes que não participam desses serviços. - Austrália - Spinal Injuries Survey Instrument, instrumento desenvolvido pelos autores que inclui questões relacionadas a características demográficas, clínicas, nível educacional, emprego e renda. - Análises econométricas de correlação entre fatores como retorno ao mercado de trabalho, participação nos serviços de reabilitação e características clínicas e demográficas.
- Não houve influências dos serviços sobre os resultados no trabalho, mas encontrou-se que as capacitações realizadas após a lesão e a idade dos participantes foram correlacionadas positivamente com o retorno ao trabalho.
28
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Atualmente, profissionais da área da saúde, incluindo terapeutas
ocupacionais, têm atuado cada vez mais no processo de reabilitação
profissional de pessoas que apresentam condições que trazem limitações para
seu retorno ao trabalho.
Entre as condições que podem causar limitações laborativas, a LM está
entre aquelas relacionadas a incapacidades mais graves e permanentes.
Para a construção de programas de reabilitação profissional efetivos,
que possibilitem o retorno ao trabalho com qualidade após a LM, torna-se
importante a sistematização da prática fundamentando-se não apenas em
pressupostos teóricos ou orientações legais, mas também nas melhores e mais
atuais evidências científicas disponíveis.
Uma prática baseada em evidências pode auxiliar o profissional em sua
tomada de decisão, permitindo-o selecionar os melhores métodos de
intervenção e implementar um programa de reabilitação profissional mais eficaz
à sua realidade.
Os estudos selecionados para essa revisão de literatura podem
contribuir, através de seus resultados, para a construção de práticas de
reabilitação profissional dirigidas a pessoas com LM que levem em
consideração os diferentes fatores relacionados ao retorno ao trabalho para
essas pessoas.
Para a análise desses estudos, primeiramente, serão apresentadas as
características de seus desenhos metodológicos, dados demográficos dos
participantes, locais em que foram realizados e índices de empregabilidade
encontrados. Em seguida, serão apresentados e discutidos os resultados dos
estudos analisados, em relação aos principais fatores que podem influenciar o
retorno ao trabalho de pessoas que sofreram lesão medular.
29
5.1 Delineamento metodológico
A partir da análise dos estudos apresentados acima foi possível
identificar e analisar aspectos relacionados aos diferentes delineamentos
metodológicos utilizados.
Em relação ao método utilizado pelas pesquisas analisadas, verifica-se
que entre os 10 estudos, 6 se identificam como pesquisas transversais,
buscando associações entre diferentes variáveis independentes e o trabalho
após a lesão medular (variável dependente):
- Hedrick et al (2006): Associações entre o custo, prescrição,
propriedade e uso de tecnologia assistiva e o trabalho para pessoas
com LM.
- Jang, Wang e Wang (2005): Associações entre a idade no momento
da lesão, status marital, educação, tipo de incapacidades, treinamento
vocacional após a lesão, independência funcional e o retorno ao
trabalho após a LM.
- Krauze, Terza e Dismuke (2008): Associações entre fatores
biográficos, educacionais, relacionados à lesão e ao trabalho, e os
ganhos condicionais (referentes ao trabalho remunerado) e
incondicionais (participantes desempregados).
- Lidal et al (2010): Associações entre gênero, idade no momento da
lesão, tipos de incapacidades, outras lesões e problemas de saúde,
emprego no momento da lesão e o retorno ao trabalho após a LM.
- Meade et al (2004): Associações entre raça e escolaridade, e o
retorno ao trabalho e tipo de trabalho desempenhado após a LM.
- Schönherr et al (2004): Associações entre nível de escolaridade,
condições de saúde e funcionalidade, fatores relacionados ao trabalho,
e o emprego após a LM.
- Schönherr et al (2005): Associações entre escolaridade, expectativas
de retornar ao trabalho, trabalho anterior a lesão e retorno e condições
de trabalho após a LM.
- Valtonen et al (2006): Associações entre características pessoais,
fatores relacionados à lesão e capacidade funcional, condições de
30
saúde, histórico profissional e a participação no mercado de trabalho
para pessoas com LM e mielomeningocele.
Esses estudos buscaram a correlação entre diferentes fatores e o
retorno ao trabalho de pessoas com LM, em uma população ampla, e num
ponto específico no tempo, quando é realizada a coleta de dados. O estudo de
Rowell e Conelli (2010) também buscou a correlação entre variáveis envolvidas
no retorno ao trabalho, porém indicam que foi realizada uma análise
econométrica dos dados.
Esses estudos, apesar de encontrarem correlações estatísticas entre
variáveis relacionadas ao retorno ao trabalho apresentam limites em relação ao
acompanhamento ao longo do tempo dos resultados profissionais e histórias de
trabalho para um mesmo grupo de participantes, acompanhando sua entrada e
continuidade no trabalho. Estudos longitudinais prospectivos ou estudos de
seguimento possibilitariam o acompanhamento sistemático de pessoas que
sofreram LM, desde o momento da lesão e com diversos momentos de coleta
de dados num período prolongado de tempo. Segundo Yasuda et al (2002),
estudos longitudinais também poderiam fornecer informações sobre a
progressão do retorno ao trabalho ao longo do tempo, como o avanço na carga
horária de trabalho, as oportunidades de crescimento na carreira, os tipos de
trabalho realizados, a passagem de trabalhos de baixa complexidade para
trabalhos mais exigentes e a manutenção no mesmo emprego.
Um estudo selecionado apresenta para a análise o método qualitativo,
buscando abordar com profundidade, através de entrevistas não-estruturadas
com 13 participantes os fatores que influenciaram a decisão de retornar ao
trabalho para pessoas com LM (FADYL; MCPHERSON, 2010). Na revisão de
literatura realizada por Yasuda et al (2002), os autores também encontraram
poucos estudos que abordem com aprofundamento as questões sobre o
trabalho após a LM, como a satisfação do indivíduo com seu trabalho, suas
preferências e dificuldades, as influências do papel da família e dos serviços
especializados.
Os estudos analisados mostram variação em sua metodologia, em
relação aos instrumentos utilizados para coleta de dados. Alguns estudos
utilizaram questionários investigando variáveis diversas em relação ao trabalho
31
após a LM (JANG; WANG; WANG, 2005; SCHÖNHERR, 2004, 2005;
VALTONEN et al, 2006); outros estudos utilizaram entrevistas por telefone
(HEDRICK et al, 2006) ou entrevistas em profundidade em encontros
presenciais (FADYL; MCPHERSON, 2010). A investigação de Meade et al
(2004), sobre fatores raciais ligados ao emprego após a LM, utilizou dados dos
protocolos de coleta de dados e acompanhamento de pacientes que passaram
por um centro de reabilitação. Já Krauze, Terza e Dismuke (2008) realizaram
um levantamento sobre a renda de participantes com LM. Por fim, Lidal et al
(2010) e Rowell e Conelly (2010) utilizaram instrumentos padronizados, o
primeiro utilizou o LiSat-11, checklist que avalia a satisfação com a vida, em
diferentes domínios, além de questionários e entrevistas; e o segundo estudo
utilizou um instrumento desenvolvido pelos próprios pesquisadores, abordando
questões demográficas, clínicas, nível educacional, emprego e renda, o Spinal
Injuries Survey Instrument.
Entre os 10 estudos analisados, apenas uma pesquisa foi realizada por
terapeutas ocupacionais (JANG; WANG; WANG, 2005). Esse estudo investiga
os índices de emprego e determinantes de retorno ao trabalho para pessoas
com LM, em Taiwan. Observa-se nesse estudo que maior enfoque foi dado aos
fatores relacionados à funcionalidade e autonomia de pessoas com LM, que
serão apresentados com maior detalhamento posteriormente.
5.2 Dados demográficos dos participantes
O número de participantes dos estudos variou de 13 pessoas, no
estudo qualitativo realizado por Fadyl e McPherson (2010); a 5925
participantes, em pesquisa utilizando como dados os registros de prontuários e
protocolos padronizados de um centro de reabilitação, realizada por Meade et
al (2004). Porém, os estudos que utilizaram entrevistas, questionários ou
instrumentos padronizados tiveram entre 55 e 191 participantes.
Todos os estudos investigaram a população em idade economicamente
ativa, na faixa etária aproximada entre 18 e 64 anos.
32
Em todos os estudos analisados, a maioria da população investigada
foi constituída por homens. Em relação às características raciais, a maioria dos
participantes eram brancos.
Os estudos variaram em relação ao nível da lesão apresentada pelos
participantes. Sendo que alguns estudos indicam que a maioria dos
participantes apresentava lesão cervical (KRAUZE; TERZA; DISMUKE, 2008;
MEADE et al, 2004).
Em relação à etiologia da lesão, os estudos não indicaram se
trabalharam apenas com participantes com LM traumática, ou também
congênita, com exceção do estudo de Valtonen et al (2006) que formou dois
grupo de participantes, com LM traumática e mielomeningocele, e também o
estudo de Jang, Wang e Wang (2005), que investigou apenas as repercussões
da LM traumática.
A etiologia mais comum da LM traumática foi relacionada a acidentes
de trânsito, sendo que o estudo de Meade et al (2004) apontou que os
participantes afro-americanos apresentavam, em maior porcentagem, etiologia
da LM relacionada à violência.
Os estudos de Schönherr et al (2004, 2005) encontraram que 40% dos
participantes tinham lesões causadas por acidentes de trabalho, etiologia que
não foi apontada pelos outros estudos.
A idade média dos participantes no momento da lesão variou entre 20
e 30 anos. E a realização da coleta de dados dos estudos variou entre poucos
meses (mínimo de 2 meses) até mais de 20 anos após a lesão.
5.3 Locais de pesquisa
Quanto aos países em que os estudos analisados foram realizados,
localizou-se 3 estudos realizados nos Estados Unidos; 2 estudos, conduzidos
pelo mesmo grupo de pesquisadores, realizados na Holanda (SCHÖNHERR,
2004; 2005); e os demais estudos foram localizados em países variados, a
saber, Noruega, Suécia, Austrália, Nova Zelândia e Taiwan.
5.4 Índices de empregabilidade
33
Os índices de empregabilidade nos estudos analisados variaram
consideravelmente (35 a 66,3%). A grande variação pode ser atribuída a
fatores como o local em que o estudo foi conduzido, considerando as
características políticas e sócio-econômicas de cada país, e também às
características demográficas da população estudada e procedimentos de coleta
de dados. Os índices de empregabilidade entre os estudos apenas poderiam
ser comparados se as características dos participantes dos estudos fossem
equivalentes.
Após a LM, os índices de empregabilidade costumam ser mais baixos
em relação à população em geral, mas algumas pesquisas apontaram que
esses índices aumentam no decorrer do tempo após a lesão. Portanto,
variações nos índices de empregabilidade entre os estudos também podem
estar relacionadas ao período de tempo decorrido após a lesão em que foi
realizada a coleta de dados, pois verifica-se conforme apontaram alguns
estudos e revisões anteriores que os índices de emprego aumentam com o
tempo decorrido após a lesão (YASUDA et al, 2002).
Outra característica que também pode ter influenciado a variação nos
resultados está relacionada às diferenças nas definições operacionais de
emprego. Estudos que usam definições mais estreitas de emprego incluem
apenas o trabalho remunerado, enquanto outros estudos, com definições mais
amplas, consideram também as donas de casa, voluntários e estudantes.
Rowell e Conelli (2010) também consideraram que o indivíduo estava
compondo a força de trabalho se estava desempregado, mas procurando
emprego no momento atual.
Além disso, enquanto algumas pesquisas investigaram apenas o
trabalho ou renda no momento da coleta de dados ou nos doze meses
anteriores (KRAUZE; TERZA; DISMUKE, 2008), outras perguntaram de forma
mais abrangente se o participante voltou a trabalhar após a lesão,
independente de estar empregado no momento atual.
Em relação ao local onde os estudos foram realizados, não foi possível
avaliar diferenças significativas de empregabilidade devido às variações entre
as pesquisas, conforme relatado. Porém, em revisão realizada por Young e
Murphy (2009), que analisou apenas os índices de empregabilidade dos
34
estudos sobre o trabalho após a LM, os autores encontraram que os estudos
realizados nos Estados Unidos e Ásia apontaram para uma taxa de
empregabilidade menor que as pesquisas da Europa e Austrália. Os autores
consideram que uma razão para isso pode incluir a tradição europeia de
oferecer um sistema de seguridade social mais abrangente quando comparado
ao americano.
Valtonen et al (2004) discute que além das características do sistema
de seguridade social, os índices de empregabilidade após a LM podem refletir
diferenças na atenção à saúde e serviços de reabilitação, assim como
diferenças nas atitudes das pessoas em relação às pessoas com deficiência.
Lidal et al (2009) também aponta que as variações nas taxas de
empregabilidade encontradas no próprio estudo podem estar relacionadas à
época em que a pessoa sofreu a LM, devido às mudanças no contexto político
e econômico que afeta, consequentemente, a oferta de vagas no mercado de
trabalho.
Schönherr et al (2004), em seu estudo realizado na Holanda, considera
que os índices de empregabilidade de pessoas com LM podem ser explicados
também pelos deveres legais dos empregadores em admitir pessoas com
deficiência. Os autores apontam que a expansão da economia e a progressiva
escassez de mão-de-obra, devido ao envelhecimento da população, é um fator
a favor da empregabilidade de pessoas com deficiência.
Embora estimar os índices exatos de empregabilidade ainda seja difícil,
as pesquisas mostram que há um grande potencial de emprego após a LM.
5.5 Fatores relacionados ao retorno ao trabalho após a lesão medular
Esta revisão de literatura evidenciou a natureza multifatorial do processo
de retorno ao trabalho de pessoas que sofreram lesão medular.
Através da análise dos resultados apresentados pelos estudos, foi
possível classificar os principais fatores relacionados ao retorno ao trabalho de
pessoas que sofreram lesão medular em diferentes categorias e subcategorias,
apresentadas no quadro abaixo:
35
Quadro 2 – Categorias e subcategorias dos fatores relacionados ao retorno ao
trabalho, encontrados como resultados dos estudos analisados.
Categorias Sub-categorias
Fatores demográficos
Gênero
Etnia
Idade no momento da LM
Tempo decorrido após a LM
Escolaridade
Fatores relacionados à lesão medular
Gravidade da lesão
Condições de saúde
Serviços de reabilitação e benefícios
previdenciários e assistenciais
Fatores relacionados a aspectos
pessoais e reabilitação.
Aspectos pessoais
Funcionalidade
Tecnologia assistiva
Fatores relacionados ao trabalho
Histórico profissional anterior à lesão
Satisfação com o trabalho
Condições de trabalho após a LM
O quadro 2 apresenta as categorias e subcategorias construídas para
classificar os fatores relacionados ao retorno ao trabalho de pessoas com lesão
medular, identificados a partir dos resultados dos estudos selecionados. Foram
construídas quatro categorias e catorze subcategorias.
A seguir, será apresentada a análise e discussão dos estudos
selecionados para essa revisão para cada uma das categorias e subcategorias
identificadas.
5.5.1 Fatores demográficos
Gênero: Em relação à influência do gênero em obter um emprego, os
estudos que levaram essa variável em consideração em suas análises
encontraram que os homens apresentaram maior probabilidade de retorno ao
36
trabalho que as mulheres (KRAUZE; TERZA; DISMUKE, 2008; LIDAL et al
2009).
Esse resultado está em concordância com revisões de literatura
realizadas anteriormente (YASUDA et al 2002; OTTOMANELLI; LIND, 2009),
em que foi encontrado que quando o tipo de trabalho é considerado, tem sido
encontrado que os homens têm maior probabilidade de se engajarem em
trabalhos competitivos (empregos remunerados). Porém essas revisões
também apontaram que as mulheres têm maiores chances de se engajarem
em papéis produtivos não remunerados (donas de casa, voluntárias e
estudantes). E, aquelas mulheres que estavam empregadas, trabalhavam
menos horas que os homens.
Etnia: A etnia dos participantes também tem sido associada, pelos
estudos analisados, com obter um emprego após a LM.
Em revisão realizada por Ottomanelli e Lind (2009) também verificou-se
em vários estudos que indivíduos com LM de minorias raciais estão em
desvantagem em termos de retorno a um emprego remunerado, com essa
disparidade racial sendo semelhante à encontrada na população em geral. E
essa diferença persistiu mesmo quando foram controlados os níveis de
escolaridade.
Na presente revisão, a investigação realizada por Meade et al (2004)
abordou especificamente as influências da raça para o retorno ao trabalho após
a LM. Foi encontrado que enquanto 16,4% dos participantes brancos indicaram
que estavam trabalhando ou empregados no primeiro ano após a lesão, para
os afro-americanos esse índice foi de apenas 5,9%. Essa diferença persistiu
quando a coleta de dados foi repetida posteriormente (5, 10, 15 e 20 anos após
a lesão). Além disso, os afro-americanos apresentaram maiores chances de
estarem empregados em trabalhos com salários mais baixos.
Esse estudo indica que os resultados encontrados refletem os índices
da população geral nos Estados Unidos, em que os afro-americanos estão
sobrerrepresentados entre a população desempregada ou entre aquelas
pessoas que tem ocupações que envolvem trabalhos braçais. Os negros
também apresentam níveis de escolaridade mais baixos e menos recursos
37
financeiros, quando comparados à população branca. Assim, os autores
concluem que após a LM, a falta de recursos financeiros ou os baixos níveis de
escolaridade permanecem, e provavelmente causarão barreiras para o trabalho
e para a integração na comunidade, resultando em menores índices de
emprego para os afro-americanos. Porém, deve haver cuidado em justificar as
taxas de desemprego apenas pelos níveis de escolaridade dessas pessoas,
pois controlando esses fatores, a disparidade entre as raças ainda permanece.
Dessa forma, há que se considerar também a discriminação racial que
repercute no acesso ao trabalho (MEADE et al,2004).
Idade no momento da LM: Os estudos analisados apontaram que a
idade dos participantes no momento em que sofreram a LM é um importante
fator que influencia o seu retorno ao trabalho, sendo que a probabilidade de
participação no mercado de trabalho é maior para pessoas que eram mais
jovens no momento da lesão.
Valtonen et al (2006) encontrou que para mulheres não foi encontrada
associação entre idade e participação no trabalho, já para os homens o risco
de não participação no trabalho foi maior para aqueles que sofreram a lesão
após os 40 anos.
Krauze, Terza e Dismuke (2008) indicaram que os participantes com
mais de 50 anos apresentavam menor probabilidade de retornar ao trabalho
que aqueles com idade abaixo de 35 anos.
Em revisões realizadas anteriormente (YASUDA et al, 2002;
OTTOMANELLI; LIND; 2009) também foi encontrada uma importante relação
entre a idade em que a pessoa sofreu a LM e o retorno ao trabalho. Pessoas
que eram mais jovens ao sofrer a lesão tiveram melhores resultados em
relação ao emprego, em comparação a pessoas que sofreram a lesão em
idades mais tardias, com o grupo com idade entre 16 e 30 anos tendo o índice
de empregabilidade mais alto, e o grupo com idade entre 51 e 60 anos, o mais
baixo.
Os melhores resultados de retorno ao trabalho para aquelas pessoas
que eram mais jovens no momento da lesão, poderiam ser explicados por uma
38
maior motivação para o início da carreira profissional, além de sua valorização
no mercado de trabalho.
Tempo decorrido após a LM: Foi encontrado através da análise das
pesquisas sobre o retorno ao trabalho para pessoas com LM, que as chances
de estar empregado aumentaram conforme aumentou o período de tempo
entre a lesão e a coleta de dados.
Valtonen et al (2006) indica que apesar de esse resultado ter sido
encontrado para os homens participantes do estudo, não foi observado para as
mulheres.
Jang, Wang e Wang (2005), que também encontraram melhores
resultados em maiores períodos de tempo após a LM, discutem que o período
de tempo após a lesão pode ser considerado como uma medida indireta da
adaptação à lesão, bem como uma medida da extensão necessária para os
processos de reabilitação.
Em revisão realizada por Young e Murphy (2009), os autores discutem
que, embora a literatura sobre retorno ao trabalho indique que se uma pessoa
não retorna ao trabalho dentro de 6 meses após ter adquirido a deficiência, as
chances para que esteja empregada posteriormente diminuem; ao menos para
aquelas pessoas com LM essa relação parece estar invertida. Nos estudos
analisados na revisão desses autores, as maiores taxas de empregabilidade
são encontradas no décimo e décimo primeiro ano após a LM (para homens e
mulheres respectivamente). Entretanto, há casos de pessoas que encontraram
seu primeiro emprego apenas 20 anos após a ocorrência da lesão.
Ottomanelli e Lind (2009) encontraram em sua revisão que as pessoas
que conviveram com a LM por um número maior de anos tiveram resultados
mais positivos em relação ao emprego. Entretanto, há evidências de que em
relação à aposentadoria, a vida laboral pode terminar prematuramente entre
pessoas com LM, com essas pessoas se retirando do mercado de trabalho
com idade entre 51 e 60 anos, quando a população em geral, nos Estados
Unidos, costuma se retirar após os 60 anos.
Os melhores índices de empregabilidade para pessoas que convivem
há mais tempo com a LM, além de indicarem que a LM é uma condição que
39
demanda maior período de tempo de reabilitação, anteriormente ao retorno ao
trabalho; também pode indicar que mais tempo deve ser dispensado para que
essas pessoas se capacitem para novas profissões antes de seu retorno ao
trabalho, o que deve ser observado pelos serviços de reabilitação profissional.
Escolaridade: O nível de escolaridade foi apontado pelos estudos
analisados como um fator importante relacionado ao retorno ao trabalho. E em
alguns desses estudos, os anos de escolaridade e a capacitação profissional
foi apontado como um dos fatores mais críticos para que os participantes
apresentassem melhores resultados em relação ao reingresso no mercado de
trabalho (HEDRICK et al, 2006; JANG; WANG; WANG, 2005; ROWELL;
CONELLY, 2010; SCHÖNHERR et al, 2004, 2005; VALTONEN et al, 2006), e
também para que apresentassem salários mais altos (KRAUZE; TERZA;
DISMUKE, 2009).
Segundo Jang, Wang e Wang (2005), independentemente do sexo, tipo
de lesão ou prejuízo profissional, um nível de escolaridade mais alto e
capacitação profissional estão fortemente associados com maiores
oportunidades de emprego.
No estudo de Schönherr et al (2004), todos os participantes com nível
de escolaridade médio ou universitário esperavam retornar ao trabalho. Já no
estudo de Krauze, Terza e Dismuke (2009), as pessoas com 16 ou mais anos
de educação tiveram maior probabilidade de obterem emprego, embora
aqueles que informaram de 13 a 15 anos de escolaridade também
apresentassem maior probabilidade de retornar ao trabalho que aqueles com
12 anos ou menos.
Os resultados dessa revisão estão em concordância com aquela
realizada por Ottomanelli e Lind (2009), na qual o nível de escolaridade foi o
fator mais fortemente relacionado com o retorno ao trabalho. Nesse estudo,
pessoas que concluíram o nível superior mostraram maior probabilidade de
retornar ao trabalho, quando comparadas àquelas com menos de 12 anos de
estudo. Os autores discutem que algumas razões para que os níveis de
escolaridade estejam associados com melhores taxas de retorno ao trabalho
após a LM incluem que essas pessoas requerem menos mudanças de
40
ocupações; podem tem maior autonomia e motivação e tem expectativas
pessoais mais positivas.
O nível de escolaridade tem o potencial de aumentar a gama de
empregos nos quais o indivíduo com LM pode retornar, pois as pessoas com
limitações funcionais são mais prováveis de retornarem a funções que não
exigem esforços físicos e que demandam maiores níveis de escolaridade e
qualificação profissional. Por outro lado, uma pior qualificação profissional
dificulta a alocação em novos tipos de trabalho. Assim, pessoas com maior
nível de escolaridade tendem a apresentar maior potencial para obter ou mudar
de emprego após a LM, em relação àquelas em desvantagem educacional.
Além disso, pode ser sugerido que maiores níveis de educação estão
relacionados ao aumento da empregabilidade por estarem também associados
a níveis sócio-econômicos mais altos, aumentando as opções de emprego.
Pela importante relação encontrada nos estudos analisados entre a
educação e a possibilidade de retornar ao trabalho, esse deve ser um dos
principais focos dos serviços que promovem a reabilitação profissional para
pessoas com LM ou outras condições incapacitantes, promovendo seu acesso
à maiores níveis de escolaridade e capacitação profissional.
5.5.2 Fatores relacionados à lesão medular
Gravidade da lesão: A revisão bibliográfica realizada indica relações
variadas entre a gravidade da lesão medular e o retorno ao trabalho.
Enquanto nos estudos de Krauze, Terza e Dismuke (2008) e Lidal et al
(2009) os participantes que sofreram lesão medular abaixo do nível cervical
(paraplegia) apresentaram maior probabilidade de retornar ao trabalho em
relação aos participantes com tetraplegia. Em outros estudos, como os
realizados por Schönherr et al (2005) e Valtonen et al (2006) não foram
encontradas relações entre o nível e extensão da lesão e a participação no
trabalho.
As revisões de literatura realizadas anteriormente (YASUDA et al,
2002; OTTOMANELLI; LIND, 2009) também não encontraram relações
significativas entre a gravidade da lesão medular e o retorno ao trabalho.
41
Condições de saúde: A literatura indica que existe um alto índice de
comorbidade entre a lesão medular e o traumatismo crânio-encefálico (TCE).
Entretanto, é uma rara exceção que pesquisadores avaliem se pessoas com
LM, que também sofreram traumatismos cranianos, acompanhados ou não de
prejuízos cognitivos, tem seu retorno ao trabalho afetado, ou se essas pessoas
precisam de ambientes de trabalho protegidos ou maior suporte
(OTTOMANELLI; LIND, 2009). Na revisão realizada, apenas o estudo de
Valtonen et al (2006) estudou as repercussões que a associação entre a LM e
o TCE podem ter sobre o retorno ao trabalho e foi observado uma tendência
dessa associação aumentar o risco de não participação no mercado de
trabalho entre homens com LM traumática.
Outra condição de saúde que raramente é investigada nos estudos
sobre o retorno ao trabalho de pessoas que sofreram a LM é a saúde mental
desses participantes, apesar de ser apontado que transtornos depressivos e de
ansiedade podem estar presentes em pessoas com essa condição e que
podem afetar negativamente sua motivação e níveis de energia. Alguns
pesquisadores têm concluído que variáveis psicológicas, variáveis da
personalidade e atitudes em relação ao trabalho, impactam significativamente o
retorno ao trabalho após a LM (OTTOMANELLI; LIND, 2009). Também em
relação a essas variáveis, apenas foram verificadas pelo estudo de Valtonen et
al (2006) nessa revisão, que encontrou que os transtornos mentais se
constituíram como um importante fator de risco para a não-participação no
trabalho para os homens, mas não para as mulheres.
Segundo Fadyl e McPherson (2010), as condições de saúde mais
frequentemente associadas à LM incluem dor, fadiga e efeitos da medicação, e
podem se relacionar ao retorno ao trabalho. Por exemplo, os medicamentos
podem influenciar as atividades que a pessoa pode fazer no trabalho, ou a
fadiga pode limitar a quantidade e intensidade das mesmas. Nesse estudo, os
participantes indicaram que o estado de saúde influencia a avaliação sobre se
o emprego é uma opção viável e até que ponto a pessoa pode se engajar no
trabalho.
No estudo realizado por Lidal et al (2009), os autores encontraram que
o histórico de saúde anterior à LM esteve associado ao não retorno ao
42
trabalho, indicando a necessidade de observar outras condições presentes,
além da LM. Além disso, esse estudo encontrou que as pessoas com LM
desempregadas relataram mais queixas de dores em relação às pessoas
empregadas.
Também em relação às queixas de dores Valtonen et al (2006)
observou que a dor aumentou o risco de não participação no trabalho para os
homens, mas não para mulheres. A incontinência urinária e fecal não foram
associadas à participação no trabalho.
Assim, no estudo realizado por Valtonen et al (2006) homens e
mulheres com LM traumática parecem diferir em relação a como as condições
de saúde podem afetar o retorno ao trabalho. Os autores discutem que não é
possível afirmar se essas condições não foram encontradas como preditores
do retorno ao trabalho devido a maior tolerância das mulheres à dor, por
exemplo, ou por outros motivos. E que esse resultado aponta para a
importância de manter a perspectiva de gênero na reabilitação e em pesquisas
futuras sobre a LM.
5.5.3 Fatores relacionados a aspectos pessoais e reabilitação
Aspectos pessoais: Nessa revisão dos estudos sobre o retorno ao
trabalho de pessoas com LM, poucas pesquisas se debruçam sobre
características pessoais, aspectos emocionais decorrentes da lesão ou
mudanças na dinâmica familiar que podem influenciar no retorno dessas
pessoas ao trabalho.
Na pesquisa realizada por Schönher et al (2004) sobre a relação entre
as expectativas dos pacientes em relação ao retorno ao trabalho, foi observado
que 91 % dos participantes que relataram expectativas de retornar ao trabalho
no momento da lesão, realmente retornaram ao mesmo trabalho. Os
respondentes que estavam fora do mercado de trabalho há muito tempo no
momento da lesão mostraram expectativas negativas em relação ao retono ao
trabalho após a LM e todos permaneceram desempregados.
Os autores consideram que as expectativas positivas dos participantes
em relação ao trabalho são complexas e podem ser influenciadas por diversos
43
fatores subjetivos, como os valores que a pessoa sustenta sobre o trabalho,
sua capacidade de enfrentamento em relação à situação vivenciada devido à
LM, sua motivação, além outros fatores ambientais e relacionados ao trabalho.
Mas apesar de sua complexidade, as expectativas do participante em relação
ao trabalho são um forte determinante para a reintegração bem sucedida
(SCHÖNHERR et al, 2004).
Em estudo qualitativo buscando um maior aprofundamento na
compreensão dos fatores que influenciam o retorno ao trabalho para pessoas
que sofreram LM, realizada por Fadyl e McPherson (2010), muitos participantes
informaram que diversos recursos pessoais foram necessários para lidar com
questões emocionais, particularmente àquelas relacionadas às mudanças
físicas e funcionais decorrentes da lesão. E a capacidade ou incapacidade para
o trabalho foi considerada como uma das áreas de funcionalidade mais
relacionadas às questões emocionais que surgem como resultado da LM.
Em relação à autoconfiança, entendida como a confiança na própria
capacidade de lidar com os desafios que surgem em decorrência da LM,
incluindo capacidade e determinação para o trabalho, apesar das barreiras
existentes, alguns participantes se descreveram como pessoas particularmente
determinadas a enfrentar desafios aparentemente impossíveis. Outros
descreveram que viveram experiências de perda devastadora na autoconfiança
e o lento processo de recuperação se relacionou ao ganho de maior controle
sobre aspectos de suas vidas, por vezes diretamente relacionados ao trabalho
(FADYL; MCPHERSON, 2010).
Esse estudo também indicou a presença de responsabilidades ou
pressões que competem com o trabalho. Dado que o período inicial de
reabilitação após a LM geralmente se estende por meses, uma das
considerações quando se pensa no retorno ao trabalho, são as outras
responsabilidades que se tornaram parte de sua vida (por exemplo, por causa
das mudanças nos papéis familiares, ou dos acontecimentos associados com a
lesão), e que agora se tornam tão importantes quanto às responsabilidades
relacionadas ao trabalho. Em alguns casos, outras pessoas na família
assumem o papel de principais responsáveis pela renda, que anteriormente era
ocupado pela pessoa que sofreu a LM, e essa passa a assumir outras
44
responsabilidades, por exemplo, cuidar da casa e das crianças (FADYL;
MCPHERSON, 2010).
Além disso, por vezes, tarefas e compromissos anteriores passam a
tomar mais tempo e serem realizados com mais dificuldades devido às
deficiências associadas com a lesão. Assim, a deficiência resultante da lesão
frequentemente se relaciona a pressões e responsabilidades extras àquelas
normalmente associadas com o trabalho ou vida daria - tais como as atividades
de autocuidado ou transporte – que também precisam ser consideradas.
Na revisão bibliográfica realizada por Yasuda et al (2002), os autores
encontraram que as pessoas com LM que estavam empregados tinham mais
claramente definidos seus objetivos profissionais e apresentavam auto-
percepção mais positiva em relação àqueles que estavam desempregados. Em
relação a aspectos que podem dificultar o acesso ao trabalho, as pessoas que
estão empregadas relataram falta de confiança e baixa moral como problemas,
enquanto aqueles desempregados relacionaram falta de habilidades,
necessidade de reciclagem profissional e de encontrar novas carreiras.
A revisão realizada por esses autores também encontrou uma
correlação positiva entre a satisfação com a vida e a adaptação após a LM e o
status de emprego. As pessoas empregadas mostraram características de
comportamento mais ativo, se perceberam como tendo menos problemas,
eram mais satisfeitas com suas vidas, e sua adaptação global foi avaliada
como superior àqueles que estavam desempregados (YASUDA et al, 2002).
Assim, é possível observar que os fatores pessoais que podem
influenciar o retorno ao trabalho são complexos e também multifatoriais, pois
dependem de aspectos emocionais, experiências anteriores, escolaridade,
dinâmica familiar. Porém, apesar de serem pouco explorados nos estudos
analisados, os aspectos pessoais foram encontrados como importantes
determinantes do retorno ao trabalho após a LM.
Por outro lado, também verificamos na literatura que o trabalho após a
LM influencia de forma importante a forma como essas pessoas irão vivenciar
essa nova situação.
45
Funcionalidade: A presença de determinado nível de capacidade
física e/ou mental foi importante para a possibilidade de pessoas com LM
retornarem ao trabalho. Para algumas pessoas, essas condições estão
associadas às expectativas de ingressar ou prosseguir em um determinado tipo
de ocupação. Outro aspecto relacionado à sua capacidade para o trabalho são
as mudanças na aparência devido a necessidade de utilizar determinados
equipamentos (ex., cadeira de rodas e órteses) e como esses são percebidos
pelas outras pessoas em seu ambiente de trabalho (FADYL; MCPHERSON,
2010).
As possibilidades de mobilidade das pessoas com LM na comunidade
em que vivem e a suas habilidades de auto-cuidado, com autonomia, foram
encontrados como importantes determinantes do retorno ao trabalho (JANG;
WANG; WANG, 2005).
Em estudo realizado por Schönherr et al (2005) encontrou-se que as
pessoas com LM precisavam de mais ajuda para os auto-cuidados, transporte
e atividades domésticas, e a lesão foi relacionada a um grande número de
incapacidades relacionadas ao trabalho, sendo que essas pessoas precisavam
de mais tempo para desempenhar as atividades. Além das dificuldades
relacionadas à perda de mobilidade e limitação nas funções de membros
superiores, problemas de continência também foram citados como dificuldades
para o trabalho.
Na pesquisa de Valtonen et al (2006), maior independência funcional
também esteve relacionada a maior participação no trabalho.
Assim, considerando os resultados da pesquisa sobre a associação
entre a funcionalidade e as possibilidades de retorno ao trabalho, verificamos
que a independência nas AVDs é um importante fator que deve também ser
foco de atenção nos serviços de reabilitação profissional para pessoas com
LM.
Tecnologia assistiva: Segundo estudo realizado por Hedrick et al
(2006), a propriedade e o uso de recursos de tecnologia assistiva é importante
para o sucesso no trabalho de pessoas com LM. Os participantes que estavam
trabalhando no momento da entrevista ou que tinham trabalhado durante os
46
cinco anos anteriores à entrevista relataram ter em média 400 diferentes tipos
de recursos de tecnologia assistiva, sendo que 80 % deles foram identificados
como importantes para o trabalho. Os recursos identificados como mais
importantes para o trabalho foram cadeiras de rodas motorizadas, órteses para
membros superiores e inferiores, recursos de acessibilidade para o
computador, recursos de controle do ambiente, estações de trabalho com
altura adaptada e adaptações para equipamentos de telecomunicações.
Em termos de custo, os recursos identificados como importantes para o
trabalho são 3,5 vezes mais caros que outros recursos. Entretanto, a pesquisa
sugere que os empregadores devem reconhecer que esses custos
representam investimentos, pois podem aumentar a retenção no emprego e a
produtividade. Foi encontrado que as acomodações de um grande número de
locais de trabalho eram adequadas para as pessoas com LM ou foram
implementadas adaptações especificamente para os participantes, o que
sugere que o desemprego das pessoas com LM pode não estar relacionado à
indisponibilidade de tecnologia assistiva no local de trabalho ou da relutância
dos empregadores em fornecer a tecnologia assistiva ou outras adequações
necessárias no local de trabalho (HEDRICK et al, 2006).
Também no estudo de Schönherr et al (2004; 2005), 74% dos
participantes relataram que foram feitas adaptações no ambiente de trabalho,
tais como dispositivos para auxílio pessoal no trabalho, adaptações no
mobiliário ou banheiros. Transporte adaptado estava disponível para 18% dos
trabalhadores. Adaptações nas tarefas, ritmo e tempo de trabalho estavam
disponíveis para 65% dos trabalhadores. Os autores apontam que as
modificações nas atividades de trabalho são muitas vezes indispensáveis para
a reintegração com sucesso.
Por outro lado, no estudo de Fadyl e McPherson (2010), os
participantes apontaram dificuldades em obter a implementação das
adaptações e modificações necessárias no local de trabalho, assim como na
residência e no transporte, que permitem à pessoa chegar ao local de trabalho
ou lidar com a rotina de tarefas.
47
As diferenças no acesso aos recursos de tecnologia assistiva podem
estar relacionadas aos serviços existentes nos países em que os estudos
foram realizados.
Serviços de reabilitação e benefícios previdenciários e assistenciais:
As diferenças nos sistemas de seguridade social que administram benefícios
para PcD em cada país podem influenciar no retorno ao trabalho de pessoas
que sofreram LM. Assim também, questões econômicas, como altos índices de
desemprego, e sociais, como dificuldades no transporte público, estão entre os
fatores que podem influenciar o emprego dessas pessoas (LIDAL et al, 2009).
No estudo realizado por Fadyl e McPherson (2010), os participantes
identificaram também a necessidade de representantes e associações para
aconselhá-los e orientá-los nas relações com os empregadores e agências
administradoras de benefícios. Esse fato é especialmente necessário quando o
trabalhador não tem conhecimento sobre seus direitos e deveres para lidar com
situações particulares. O apoio da família, grupo social, serviços de
reabilitação, empregador e colegas de trabalho também foi apontado como um
fator que contribui para como a pessoa julga sua capacidade de voltar a
trabalhar.
Outro tipo de suporte para promover retorno ao trabalho deve ser
prover compensação suficiente, através de benefícios previdenciários e
assistenciais, mas não demasiada de modo a inibir a motivação para trabalho.
Em revisão realizada por Yasuda et al (2003) foi encontrado que o percentual
de indivíduos que retornou ao trabalho após a lesão é maior para aqueles que
não tinham direito a qualquer forma de compensação que entre aqueles que
recebiam benefícios (51% e 23% respectivamente). Os autores consideram
que se as pessoas que sofreram LM não estiverem convencidas de que o
retorno ao trabalho valerá a pena, provavelmente não arriscarão sua situação
atual como beneficiários para voltar ao trabalho.
5.5.4 Fatores relacionados ao trabalho
48
Histórico profissional anterior à lesão medular: Enquanto alguns
estudos encontraram relação entre o status de emprego no momento da lesão
(empregado x desempregado) e o retorno ao trabalho (VALTONEN et. al,
2006), outras pesquisas não encontraram essa associação (LIDAL et al, 2009).
Em relação a como o histórico de trabalho anterior à lesão pode afetar
o retorno ao trabalho de pessoas que sofreram LM, a pesquisa realizada por
Krauze, Terza e Dismuke (2008) encontrou que pessoas com ocupações
fisicamente menos intensas anteriormente à lesão têm maiores chances de
retornar ao trabalho. É sugerido que no retorno a profissões que demandam
maior esforço físico, pode haver maiores dificuldades em adaptar o local de
trabalho. Além disso, essas pessoas, devido ao seu histórico profissional,
podem ser menos motivadas para trabalharem em atividades profissionais mais
leves, como tarefas administrativas.
Esses autores também apontam que as pessoas que retornaram ao
mesmo posto de trabalho que ocupavam anteriormente à lesão ou que
retornaram a outro posto de trabalho, porém dentro da mesma empresa,
apresentaram maior probabilidade de se manterem empregadas. Esses
resultados foram mais frequentes para pessoas que trabalhavam em empresas
privadas ou em serviços do governo, que também apresentaram rendas
maiores que aqueles que trabalhavam como autônomos ou em negócios da
família (KRAUZE; TERZA; DISMUKE, 2008).
Esse resultado aponta para a importância de que os serviços de
reabilitação profissional realizem a articulação com os empregadores anteriores
dos pacientes, buscando identificar as funções e atividades que tem demandas
compatíveis com as capacidades atuais do paciente, assim como realizar as
adaptações necessárias para que esse possa retornar à mesma empresa.
Nas revisões bibliográficas sobre o tema, realizadas anteriormente
(OTTOMANELLI; LIND, 2009; YASUDA et al, 2002), verificou-se que as
pessoas que estavam empregadas anteriormente à lesão mostram um menor
tempo médio de permanência nos programas de retorno ao trabalho, em
relação àqueles que estão buscando um novo emprego.
49
Satisfação com o trabalho: Em pesquisa qualitativa realizada por
Fadyl e McPherson (2010), quando o trabalho foi percebido como
suficientemente benéfico pelos participantes, a ponto de que valha a pena
persegui-lo, houveram melhores resultados em relação ao retorno. Os
benefícios oferecidos pelo retorno ao trabalho foram relacionados com o fato
de retornar à vida “normal”, as possibilidades oferecidas pela carreira, às
demandas da atividade laborativa, à contribuição do trabalho para a qualidade
devida, às questões financeiras, à percepção dos outros em relação à pessoa
com LM e à autonomia em relação ao fato de estar empregado.
Na pesquisa realizada por SCHÖNHERR et al (2005), 65 % relataram
satisfação com seus postos de trabalho, e a satisfação com o trabalho foi
avaliada através da presença de tensões, pressões em relação ao tempo,
acessibilidade nos postos de trabalho e possibilidades de transporte para o
local de trabalho
No estudo de Valtonen et al (2006), 80% dos participantes em ambos
os grupos classificaram sua satisfação com a situação atual de trabalho como
bom ou muito bom.
Assim, verifica-se que o retorno ao trabalho após a LM está associado
com a satisfação dessas pessoas em relação ao trabalho que realizam,
empregadores e suas profissões. Esse resultado indica que os profissionais
que atuam na reabilitação profissional tenham intervenções centradas na
percepção e satisfação dos trabalhadores sobre o trabalho que realizam e nas
dificuldades identificadas por eles para o seu desempenho profissional.
Condições de trabalho após a LM: Com poucas exceções, a maioria
dos estudos não indicam os tipos de emprego que são obtidos após a LM. Os
estudos que o fazem, apontam que as pessoas que iniciam em novos trabalhos
após a LM, o fazem em áreas que exigem menos esforços físicos, como
atividades administrativas, de vendas ou como profissionais especialistas
(JANG; WANG; WANG, 2005; MEADE et al, 2004). Por sua vez essas áreas
também tendem a exigir maior nível de escolaridade e de qualificação
profissional.
50
Na pesquisa realizada por Fadyl e McPherson (2010), as demandas
das atividades de trabalho foram relacionadas à decisão de retornar ao
mercado de trabalho, principalmente para aqueles que exerciam trabalhos que
exigiam esforços físicos ou que necessitavam de muitas horas de dedicação.
Se as alternativas de emprego não apresentam condições adequadas, ou os
salários apresentam importante redução, devido à diminuição na carga horária,
muitas vezes as pessoas não avaliaram como benéficas as possibilidades de
retornar ao trabalho.
Hedrick et al (2006) encontrou que grande parte dos participantes de
sua pesquisa trabalhavam por conta própria no momento da coleta de dados
ou recentemente. Isso pode ser explicado porque o trabalho em casa pode ser
a única ou mais viável opção para pessoas com LM, devido a sua dificuldade
em encontrar transportes adaptados ou por terem compromissos médicos de
rotina que exigiriam muito tempo fora de um local de trabalho tradicional.
Schönherr et al (2004; 2005) verificou que para as pessoas com LM
houve uma diminuição na carga horária semanal média de 48,7 horas no
momento da lesão para 31, 6 horas no momento atual. 62% das pessoas
trabalhavam menos horas que antes da lesão; 38% tinham trabalho
remunerado sem qualquer benefício complementar, e 62% recebiam benefício
além do salário. Assim, na maior parte dos casos, as consequências
financeiras em relação à menor carga horária de trabalho foram compensadas
pelo recebimento de benefícios da seguridade social, o que torna mais atraente
continuar no trabalho.
Assim, benefícios previdenciários ou assistenciais, como o auxílio-
acidente, que possam complementar a renda de pessoas que optam por
continuar trabalhando, mas necessitam que sua carga horária seja reduzida,
devido às incapacidades associadas com a LM, são importantes recursos para
incentivar essas pessoas a se manterem ativas no mercado de trabalho.
Os estudos analisados nessa revisão de literatura apontam para a
característica multifatorial do retorno ao trabalho de pessoas que sofreram LM.
As categorias e sub-categorias construídas para os resultados encontrados nos
estudos não são estanques, os fatores se relacionam entre si, influenciam uns
aos outros e interferem nos resultados de retorno ao trabalho.
51
Foi possível observar que os estudos, principalmente aqueles
realizados em outros países, que não os Estados Unidos, buscam
contextualizar seus resultados em relação à legislação referente ao trabalho de
pessoas com deficiência e mudanças políticas e econômicas ocorridas.
Em relação à realidade brasileira, Cabral et al (2010), em seu estudo
sobre o retorno ao trabalho de pessoas que sofreram lesão de mão, a
instabilidade do mercado de trabalho brasileiro e a oferta de emprego foram
apontadas pelos participantes como motivos de insegurança e medo.
A implementação de medidas que fiscalizem o cumprimento da lei de
cotas pelas empresas e que incentivem a contratação de trabalhadores com
deficiência, e a reestruturação dos serviços de reabilitação profissional
brasileiros podem ser uma saída no sentido de facilitar o retorno e a
manutenção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
52
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O foco dessa revisão foi a busca e análise evidências científicas sobre
os fatores que influenciam o processo de retorno ao trabalho após a LM.
Os resultados encontrados através da análise dos estudos selecionados
mostraram a característica multifatorial do retorno ao trabalho para pessoas
que sofreram lesão medular, e que esses fatores se influenciam mutuamente
em uma relação dinâmica e complexa.
Os fatores encontrados foram divididos em categorias e sub-categorias,
incluindo fatores demográficos (gênero, etnia, idade no momento da LM, tempo
decorrido após a LM e escolaridade); fatores relacionados à lesão medular
(gravidade da lesão e condições de saúde); fatores relacionados a aspectos
pessoais e de reabilitação (aspectos pessoais, funcionalidade, tecnologia
assistiva e serviços de reabilitação e benefícios previdenciários e assistenciais)
e fatores relacionados ao trabalho (histórico profissional anterior à lesão,
satisfação com o trabalho e condições de trabalho após a lesão medular).
Os resultados dos estudos analisados indicam que pessoas com LM
têm boas perspectivas de retorno ao trabalho, desde que considerada a
interação entre as capacidades e dificuldades dessas pessoas e as condições
oferecidas pela sociedade e empregadores. A inclusão dessas pessoas no
mercado de trabalho demanda mudanças e adaptações tanto em relação aos
ambientes físicos de trabalho, quanto em relação às atitudes sociais, serviços
de saúde e políticas de emprego e previdência social.
Atualmente, a busca constante por evidências para fundamentar a
prática clínica de profissionais da saúde, entre eles o terapeuta ocupacional, é
imprescindível para a realização de intervenções e, consequentemente, para a
implementação de prática baseada em evidências.
A reabilitação profissional é um campo de atuação que vem crescendo
cada dia mais para os terapeutas ocupacionais no Brasil, como através dos
profissionais que atuam no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Torna-
se relevante conhecer as condições mais importantes que podem ser
geradoras de limitações laborativas e, também, as evidências científicas sobre
os processos de reabilitação profissional em relação a essas condições.
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Essa pesquisa, apesar de suas limitações, traz informações sobre a
complexidade e relevância do estudo sobre os fatores que influenciam o
processo de retorno ao trabalho de pessoas que adquiriram deficiências ou
limitações laborativas, como a LM, podendo auxiliar os profissionais envolvidos
com as políticas e serviços de reabilitação profissional e saúde do trabalhador.
Considerando que o trabalho é central para a vida e que a experiência
acumulada na atividade de trabalho é algo individual e insubstituível, espera-se
contribuir para a mudança de um modelo de reabilitação profissional, que tenha
como foco o indivíduo em sua singularidade. Isso implica a adoção de novos
modelos teóricos e a ampliação do diálogo com os trabalhadores, de modo que
as soluções sejam encontradas conjuntamente.
Posteriormente, o desenvolvimento de novos estudos com outros
desenhos metodológicos e abordando outras condições geradoras de
limitações laborativas poderão nortear de forma mais específica, e baseada em
evidências científicas, a prática dos profissionais que atuam nesses serviços.
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