Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Capítulo 13
Feudalismo 2
Capítulo 14
Renascimento comercial e urbano 16
Capítulo 15
A crise do sistema feudal 30
Capítulo 16
A cultura medieval 44
Volume 4
capí
tulo
Feudalismo 13
Neste capítulo, vamos estudar a Idade Média, período que come-
ça com a queda do Império Romano do Ocidente em 476 e se esten-
de por mil anos.
Durante esse período da história da Europa Ocidental, ocorreram
importantes mudanças econômicas, políticas e sociais. O feudalismo
foi a forma de organização política e social que marcou a Idade Média
europeia. A imagem de abertura apresenta um grupo de campone-
ses. Observe a cena e reflita: Qual foi a importância dessas pessoas
para a sociedade feudal?
Sistema feudal
Sociedade feudal
o que vocêvai conhecer
©Biblioteca Nacional da França, Paris
CAMPONESES partindo o pão. [séc. XIV]. 1 iluminura, color. In:_____. O livro do rei Modus e da rainha Ratio. Biblioteca Nacional da França, Paris.
Camponeses dividem alimento e bebida
2
História
Compreender o contexto europeu no qual se formou o sistema feudal.
Conhecer como era a relação entre senhores e servos no Período Medieval.
Caracterizar e comparar as dinâmicas de abastecimento e as formas de organização do trabalho e da vida social na Idade Média.
Analisar como eram estabelecidas a política e a economia no feudalismo.
Descrever os diferentes papéis sociais das mulheres nas sociedades medievais.
objetivos do capítulo
Sistema feudal O feudalismo pode ser definido como um sistema político, econômico e social que pre-
dominou na Europa Ocidental entre os séculos X e XIV. Entre as principais características do
feudalismo estão:
produção agrícola e artesanal;
predomínio da vida rural e diminuição das atividades comerciais;
descentralização política;
sociedade estamental.
Esse sistema ganhou força no final do século IX, após a morte
de Carlos Magno. Seu sucessor, Luís, o Piedoso, governou os fran-
cos entre 814 e 840. Depois de sua morte, seus três filhos entra-
ram em uma guerra civil pelo trono. A situação foi resolvida com o
Tratado de Verdun (843), que dividiu o Império entre os três netos
de Carlos Magno: Lotário, Luís, o Germânico e Carlos, o Calvo.
Com o poder descentralizado, os senhores de terras, que constituíam a nobreza feu-
dal, assumiram o poder político dos territórios. A fragmentação política, que estabeleceu
a concentração de poderes nas mãos dos nobres, foi uma das principais características do
feudalismo.
Uma sociedade estamental
é dividida em grupos sociais
e praticamente não existe
mobilidade, ou seja, o indivíduo
nasce e morre como parte
da mesma classe social.
Observe novamente a imagem da página de abertura deste capítulo. Com base no que você já estu-
dou sobre o feudalismo, responda no caderno às questões a seguir.
1 É possível afirmar que as pessoas desse período tinham uma vida segura e pacata? Justifique sua resposta.
2 Com base na imagem, é possível identificar qual religião essas pessoas professavam?
organizando a história
3
A Idade Média foi marcada por guerras e invasões de po-
vos estrangeiros. Em meio à instabilidade provocada por esses
eventos, os reis tinham dificuldade em proteger seus territó-
rios, o que os forçava a delegar a administração das terras mais
afastadas para homens de sua confiança. Essas terras, chama-
das de feudos, eram administradas pelos senhores feudais, os
quais poderiam ter um exército próprio, cobrar impostos da
população local, cunhar a própria moeda e estabelecer leis.
Portanto, o poder do rei era meramente simbólico nos territó-
rios mais distantes da capital.
A palavra “feudo” vem do
germânico e quer dizer
“propriedade”. Essas
propriedades rurais formavam
a base da produção na
Idade Média. As terras
eram concedidas pelo rei
a um nobre ou por um
nobre de título superior a
outro de título inferior.
Observe, a seguir, a representação de uma propriedade feudal. Depois, reúna-se com
um colega e respondam: É possível afirmar que o feudo era autossuficiente? Justifique
sua resposta.
troca de ideias
As terras e os pastos eram
de responsabilidade dos
servos. Eles deveriam se dedicar de três a quatro dias ao cultivo do
manso senhorial, que
correspondia à metade das terras cultiváveis de todo o feudo. Tudo o que fosse
produzido nesses locais
deveria ser repassado ao senhor feudal.
O castelo onde morava o senhor
feudal e sua família era a principal
construção do feudo.
Moinhos eram
usados para moer
grãos.
O manso comunal abrangia todos os terrenos
da propriedade que poderiam ser utilizados ao
mesmo tempo pelo senhor feudal e por seus
servos. Na maioria das vezes, o manso comunal
correspondia a bosques e pastos onde seria
possível realizar o recolhimento de alimentos
silvestres, a caça e a obtenção de lenha.
Os servos
moravam em uma
aldeia dentro da propriedade feudal,
onde também se
localizava uma capela.
Havia oficinas
para a produção de tecido e de artigos
em madeira.
Do manso servil, os servos retiravam a produção necessária para seu sustento e pagamento dos
tributos e obrigações exigidos pelo senhor feudal.
Danillo Souza. 2019. Digital.
4
CASTELO de Conwy. Construído no século XIII. 1 fotografia, color.
©S
hu
tte
rsto
ck/S
am
ot
História
O castelo era a habitação do senhor feu-
dal, uma estrutura fortificada normalmente
localizada na parte mais alta do feudo, era
cercado por muros para a proteção contra
ataques externos. Os castelos eram construí-
dos em madeira, mas, com o tempo, passaram
a ser feitos em pedra.
As terras pertencentes aos feudos nem
sempre eram suficientes para produzir ali-
mentos para toda a população que ali vivia.
Assim, existiam disputas frequentes entre senhores feudais de um mesmo reino com o
objetivo de aumentar seus domínios.
O historiador Jack Goody destaca alguns pontos que devem ser considerados ao estudar
a Idade Média. Veja a seguir o que ele afirma.
interpretando documentos
Não foram os merovíngios e carolíngios [os francos, portanto] que herdaram o Império Ro-mano, mas Constantinopla. Podemos entender que as tradições romanas, assim como sua ri-queza e parte de suas rotas comerciais não tiveram continuidade no Ocidente, mas no Oriente. Quem vivia no feudalismo não se via como herdeiro de Roma, mas como pertencente a uma nova tradição. [...] A partir do quarto século, o gradual desconhecimento da língua grega sepa-rou o Ocidente de Constantinopla até a época da Renascença. Ao colapso do Império Romano seguiu-se o crescimento do cristianismo.
GOODY, Jack. O roubo da História: como os europeus se apropriaram das ideias e invenções do Oriente. São Paulo: Contexto, 2008. p. 84.
Sobre o texto apresentado, responda às questões propostas.
1 A sociedade feudal europeia se considerava herdeira das tradições romanas?
2 Qual cidade se identificou como herdeira do Império Romano?
3 Aponte uma razão para o distanciamento entre a antiga cultura romana e a feudal.
5
Economia feudalOs feudos estavam localizados longe das antigas rotas de comércio, eram afastados uns
dos outros e isolados pelas florestas, por isso houve a necessidade de formarem uma eco-
nomia autossuficiente, o que gerou o enfraquecimento do comércio. A produção resultante
do trabalho dos servos assegurava a sobrevivência de todos os que viviam no feudo, sendo a
maior parte dos alimentos destinada aos nobres.
Nos feudos, eram cultivados trigo, uva, cebola, al-
face, entre outros gêneros alimentícios. Os rios que
existiam nas proximidades garantiam peixes para o
consumo; das florestas, era possível obter frutas e mel.
A alimentação dos servos era à
base de pão, sopa de legumes e papas
de cereais. O pão era feito com ceva-
da, centeio ou castanhas.
O cardápio dos nobres contava
com a carne que vinha da caça, produ-
to considerado valioso e sinônimo de
prosperidade e abundância.
Havia também a criação de vacas e cabras de onde
vinha o leite, usado para fazer manteiga e queijo, bem
como a lã e o couro, transformados em roupas e cal-
çados, que eram destinados principalmente à nobreza,
pois os camponeses em geral usavam sapatilhas de te-
cido ou tamancos de madeira.
A madeira extraída das florestas era utilizada nas construções e na produção de
armas, móveis e vários outros utensílios.
A partir do século IX, as moedas passaram a ser pouco utilizadas, o que significa
que a noção de riqueza não se baseava na acumulação monetária. O comércio era feito, fre-
quentemente, por meio do escambo, ou seja, trocando um produto por outro.
As terras não podiam ser vendidas nem compradas. Assim, só poderiam ser obtidas de
três formas:
por meio de doação;
como resultado da conquista de exércitos em conflitos;
por herança, proveniente do pai ou de algum parente próximo.
©M
use
u d
e C
on
dé
, Ch
an
till
y, F
ran
ça
COLOMBE, Jean. As mais belas horas do livro do Duque de Berry. [ca. 1413]. 1 iluminura. Castelo de Condé, Chantilly.
Iluminura que retrata o trabalho de camponeses na terra
©S
hu
tte
rsto
ck/P
ap
rik
a
6
História
Sociedade feudal A sociedade feudal era dividida em grupos
ou camadas sociais, denominados estamentos.
O clero, do qual faziam parte o papa,
os bispos e os sacerdotes, estava no esta-
mento mais alto. Esse grupo era chamado
de oratores, pois tinha a função de cuidar
do mundo espiritual das pessoas por meio
de orações.
Constituíam o segundo estamento os
integrantes da nobreza, chamados de be-
latores, responsáveis pela proteção da
sociedade.
O terceiro estamento, composto de
camponeses e artesãos, formava a maior
parte da população feudal. Eram deno-
minados laboratores, pois eram os que
trabalhavam.
©B
ibli
ote
ca B
ritâ
nic
a, L
on
dre
s
CLÉRIGO, cavaleiro e camponês. [séc. XIII]. 1 iluminura. In: Livres dou Santé. Manuscrito Sloane. Biblioteca Britânica, Londres.
A iluminura ilustra a letra capitular de um manuscrito do final do século XIII. O desenho representa os três estamentos feudais: à esquerda, o monge (oratores); no centro, o cavaleiro (belatores); e, à direita, o camponês (laboratores).
Camponeses e artesãos Os camponeses eram divididos em dois
grupos: servos, que estavam unidos ao se-
nhor feudal por laços de servidão, e vilões,
que eram os trabalhadores livres. Os servos
recebiam a proteção do senhor feudal e um
pedaço de terra para cultivar. Por conta dis-
so, deveriam cumprir uma série de obriga-
ções perante o senhor, algumas das quais
eram pagas em forma de taxas. Ao lado, leia
informações sobre algumas das taxas pagas
pelos servos.
No feudalismo, os camponeses que eram submetidos
ao regime de servidão, apesar de não serem
escravizados, estavam presos à terra. Uma vez
instalados em determinada região, deveriam
permanecer nela até que o senhor feudal, doador
da terra, permitisse ou autorizasse sua saída.
Corveia: em troca das terras rece-
bidas, os camponeses deviam tra-
balhar alguns dias por semana nas
terras do senhor, realizando tarefas
agrícolas e domésticas ou fazendo
a manutenção de equipamentos, es-
tradas e pontes.
Banalidade: consistia em uma taxa
paga pelos moradores do feudo (em
moedas ou espécie) para utilizar ofi-
cinas e instrumentos de trabalho de
propriedade do senhor feudal, como
o forno, o moinho e a prensa.
Talha: parte da própria produção
que o camponês entregava ao se-
nhor feudal.
©S
hu
tte
rsto
ck/A
nd
rey
_K
uzm
in
7
Já os camponeses livres habitavam as terras entre as propriedades feudais. Tinham
maior liberdade que os servos, entretanto viviam em maior insegurança, uma vez que não
contavam com a proteção de nenhum senhor feudal.
Durante o feudalismo, os servos eram obrigados a pagar várias taxas para ter acesso a terras e à proteção do senhor feudal. Esses tributos eram pagos com trabalho ou com produtos.
Na sociedade atual, também existem diversos tributos que as pessoas precisam pagar. Faça uma pesquisa sobre essas contribuições pagas ao Estado e responda às questões a seguir no caderno.
De que forma os impostos, os tributos e as taxas são pagos na sociedade atual?
Qual é o objetivo dessas arrecadações?
Escreva o nome de dois impostos que os cidadãos brasileiros devem pagar.
pesquisa
Nas famílias camponesas,
homens, mulheres e crianças
colhiam e moíam grãos, cuida-
vam das criações de animais
e construíam as estruturas
necessárias para o desenvol-
vimento do feudo, como pon-
tes, estábulos e moinhos.
As casas não apresentavam conforto e eram construídas pelos próprios servos. Leia o
trecho a seguir, que descreve a habitação de uma família de camponeses.
O servo e sua família viviam numa feia cabana de um só cômodo, que dividiam com gali-nhas e porcos. No centro ardia uma pequena lareira, cuja fumaça escapava por um buraco no teto. No inverno, quando era preciso aumentar o fogo, o aposento ficava repleto de fumaça. Quando chovia, a água entrava pelo telhado de palha e transformava em lama o piso de terra. O cheiro de excrementos era persistente.
PERRY, Marvin. Civilização ocidental: uma história concisa. Tradução de Waltersin Dutra e Silvana Vieira. São Paulo: Martins Fontes, 2015. p. 162.
BRUEGEL, Pieter. A ceifa do feno. 1565. 1 óleo sobre tela, 114 cm × 158 cm. Palácio Lobkowicz, Praga.
Nessa pintura, o artista buscou representar mulheres e homens trabalhando juntos no campo. É possível ver, ao fundo, a igreja, a aldeia camponesa e, protegido no alto da rocha, o castelo, moradia do senhor feudal.
©Palácio Lobkowicz, Praga
8
História
A maioria da população era analfabeta e falava o idioma dominante em sua região de
origem. Essas pessoas tinham acesso à literatura por meio de artistas que se apesentavam
em público para ler, contar ou encenar histórias, o que acontecia nas ruas, nas tavernas das
aldeias e em festividades.
O casamento entre camponeses era uma festa sem fartura – em geral, a comida acabava
rapidamente. Nessas ocasiões, as pessoas dançavam, cantavam e ouviam histórias.
A nobreza A nobreza feudal tem sua origem no Império Carolíngio. A importância social do grupo
aumentou quando esse Império enfraqueceu em decorrência das invasões à Europa Ociden-
tal até meados do século X.
Os nobres eram divididos em dois segmentos: a alta nobreza, formada por duques, con-
des e marqueses, e a baixa nobreza, que comportava barões, viscondes e cavaleiros. Esses
últimos prestavam serviços militares aos grandes senhores, viviam e lutavam por eles, o que
exigia disciplina e treinamento desde a adolescência.
A guerra na Idade Média era uma prática comum; assim, os senhores feudais e os reis
precisavam de cavaleiros treinados constantemente.
Um cavaleiro necessitava de equipamentos de guerra, como escudo, espada, elmo e ar-
madura, além de um cavalo. Esses itens tinham um alto valor, por isso apenas membros da
nobreza se tornavam cavaleiros. Era preciso também dispor de tempo para se dedicar ao
treinamento, durante o qual o homem deveria preparar-se fisicamente e aprender a utilizar
técnicas de combate, armas e a comportar-se como um cavaleiro (valentia, fidelidade e leal-
dade eram atributos exigidos).
Em períodos entre guerras, eram organizados torneios – eventos festivos promovidos
para o lazer da população. Neles, os cavaleiros disputavam provas, como a justa.
Os nobres, ou senhores feudais, dividiam suas
terras em várias porções. As pessoas que cediam
as terras eram chamadas suseranos, e aquelas
que as recebiam eram denominadas vassalos.
Um nobre podia ter vários vassalos e ser ele
mesmo o vassalo de outro nobre ou de um rei.
Além disso, havia vassalos ricos e poderosos e
vassalos pobres. O poder de um senhor feudal
era medido pela extensão de suas terras, pelo
número de vassalos que tinha e pela quantidade
de servos que lhe deviam obediência. O senhor
feudal era o responsável pela justiça, pela defe-
sa e pelo governo de suas terras; portanto, exer-
cia poder político e econômico.
CÓDEX Manesse. [1300-1340]. 1 iluminura. Biblioteca da Universidade de Heidelberg, Heidelberg.
Cavaleiro recebendo uma coroa de flores em um torneio medieval
©B
ibli
ote
ca d
a U
niv
ers
ida
de
de
He
ide
lbe
rg, A
lem
an
ha
9
Marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas. Depois, em seu caderno, reescreva as
afirmativas falsas de modo que se tornem verdadeiras.
a) ( ) Durante o feudalismo europeu, os alimentos produzidos no feudo eram divididos igual-mente entre todos os que viviam em comunidade.
b) ( ) Os cavaleiros, quando não estavam participando de alguma guerra, trabalhavam nos cam-pos e realizavam cerimônias de enfeudação.
c) ( ) A função dos oratores era cuidar da espiritualidade da sociedade feudal.
d) ( ) Em uma sociedade estamental, raramente um indivíduo muda de classe social durante sua vida.
e) ( ) Qualquer pessoa que vivesse em um feudo poderia se tornar um cavaleiro.
O ato de conceder o benefício do feudo era oficializado por meio de uma cerimônia
chamada enfeudação, da qual fazia parte a realização de gestos e juramentos específicos.
Os acordos estabelecidos nessas ocasiões eram respeita-
dos por gerações. A cerimônia era dividida em três partes: a
homenagem, a fidelidade e a investidura. Na homenagem,
dois homens ficavam frente a frente: um deveria servir, e o
outro, ser servido. Um deles, o vassalo, ajoelhava-se, juntava
as mãos e colocava-as entre as mãos do protetor, gesto que
representava submissão. Na investidura, o suserano entrega-
va um ramo de planta ou um saquinho com um punhado de
terra a seu vassalo, o que simbolizava a concessão da proprie-
dade e da proteção a ele.
organizando a história
O feudalismo é antes de tudo o conjunto dos vínculos pessoais que unem, numa hierar-quia, os membros das camadas dominantes da sociedade. Esses vínculos apoiam-se numa base “real”: o benefício que o senhor outorga a seu vassalo em troca de um certo número de serviços e de um juramento de fidelidade. O feudalismo, no sentido estrito, é a homenagem e o feudo.
LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente medieval. Tradução de Monica Stahel. Petrópolis: Vozes, 2016. p. 79.
Os vassalos não eram donos das terras; eles podiam apenas obter seu sustento e tirar
proveito delas. Por volta do século IX, os feudos se tornaram hereditários, ou seja, passavam
do pai para o filho mais velho. Quem recebia a terra podia dar um pedaço dela a outro nobre
ou a um camponês.
CERIMÔNIA de louvor. 1 iluminura. Arquivo da Coroa de Aragão, Barcelona.
Iluminura romana. Arquivo da Coroa de Aragão, Barcelona, Espanha
©Oronoz/Album/Album/Fotoarena
Leia, no trecho a seguir, a definição do historiador Jacques Le Goff sobre a importância da cerimônia de enfeudação e do feudo para a organização do feudalismo.
CA
©Oronoz/Album/Album/Fotoarena
10
História
O clero Embora o sustento da sociedade feudal fosse garantido pelo trabalho da terceira ordem
(os camponeses) e pelas taxas pagas por essa parte da população, o poder estava nas mãos
do clero e da nobreza. Essas duas ordens se apoiavam mutuamente para manter seus privilé-
gios intactos. Os nobres, por exemplo, eram próximos da Igreja Católica, principalmente em
razão da política e da doação de terras. Era comum a nobreza entregar ao clero parte de seus
territórios e os cavaleiros servirem de protetores da Igreja.
Como não existia um poder político centralizado, a instituição que ligava os territórios
feudais era a Igreja, uma vez que difundia os mesmos ensinamentos a todos os seguidores,
representando um traço de união da sociedade. Assim, representava a segurança e a estabi-
lidade religiosa e política, pois era o clero que legitimava um monarca.
O clero fundamentava a formação de uma sociedade com pouca mobilidade social, na
qual a posição do indivíduo era determinada no nascimento, o que era entendido como um
desejo celeste. Dessa forma, a condição social de uma pessoa era compreendida como uma
vontade de Deus; logo, ir contra ela significava ofender o próprio Senhor. Desse modo, im-
pedia-se o questionamento sobre a situação dos desfavorecidos.
Na sociedade feudal, os religiosos assumiam a responsabilidade de orientar moral e es-
piritualmente todas as pessoas, do camponês ao senhor feudal. Não havia feudo no qual não
existisse uma capela. A Igreja determinava os dias santos, os feriados e as festas, além de
abençoar os casamentos e as cerimônias de sagração dos cavaleiros. Os membros do clero
elaboravam calendários ilustrados com desenhos que representavam as atividades a serem
desenvolvidas ao longo do ano.
CRESCENT, Pierre. Calendário do Rustican
(Tratado de Agricultura). Miniaturas do mestre do
Boccaccio de Genebra. 1 manuscrito. [1470-1475].
Museu de Condé, Chantilly. Detalhe.
Calendário agrícola medieval.
Em cada mês, um desenho representa determinada
atividade produtiva. Os calendários serviam para
organizar o tempo e educar os
camponeses na realização de suas atividades cotidianas. Eram usadas imagens porque a maior
parte dos camponeses não sabia ler.
©F
ine
Art
Im
ag
es/
Alb
um
/Alb
um
/Fo
toa
ren
a
11
Na Idade Média, a maioria das pessoas não tinha relógio. A refe-
rência temporal eram os sinos das igrejas, que definiam a hora, tendo
como base os momentos de reflexão dos monges.
TORRE do Relógio de Praga. 2005. 1 fotografia, color. Praga.
Na torre, é possível ver um relógio astronômico do século XIV. Nesse período, havia relógio apenas nas torres das igrejas, o que conferia grande poder à Igreja Católica, por ditar o ritmo da vida das pessoas na realização de suas atividades, como acordar, dormir, comer e trabalhar.
Por meio de práticas como a doação de bens, o recebimento de heranças e a cobrança de
taxas, durante o Período Medieval, a Igreja fortaleceu seu poder com o acúmulo de terras na
Europa Ocidental. Nesse contexto, alguns membros do clero acabaram se apegando exces-
sivamente aos bens materiais, gerando críticas a essa classe. Nesse período, então, surgiram
ordens religiosas que buscavam manter seus membros afastados das questões mundanas.
A Igreja se dividiu entre o clero secular, que vivia em contato com os fiéis e era encar-
regado da administração dos bens da Igreja, e o clero regular, que se dedicava às orações e
à meditação. Isolados do dia a dia das pessoas, os religiosos do clero regular foram respon-
sáveis por preservar obras científicas e literárias de povos que viveram antes deles, como
romanos e gregos. Ordens como a dos franciscanos, dos dominicanos e dos beneditinos tive-
ram forte atuação na educação e na prática da caridade.
A desigualdade social não foi uma característica exclusiva da Idade Média. Atualmente, ela está presente em todo o mundo, inclusive no Brasil, assumindo aspectos diferentes. Sobre esse tema,
converse com os colegas acerca das questões abaixo.
1 O que tornava as pessoas desiguais na sociedade feudal?
2 O que torna as pessoas desiguais na sociedade atual?
3 Em qual desses dois modelos de sociedade há maior possibilidade de existir mobilidade social?
Explique sua resposta.
troca de ideias
©W
ikim
ed
ia C
om
mo
ns COPISTAS trabalhando. 1283. 1
iluminura, color. In: Livro dos Jogos, de Alfonso X de Leão e Castela.
Os monges copistas eram responsáveis por reproduzir textos de livros. Trabalhavam em um espaço chamado scriptorium, com mesas e cadeiras, geralmente localizado próximo a uma biblioteca. Usavam potes de tinta, penas
e folhas de pergaminho (considerado um material caro). Nos manuscritos, os monges
utilizavam um tipo de escrita que facilitava a leitura, caracterizada por letras pequenas e
arredondadas.
©S
hu
tte
rsto
ck/W
ate
rco
lor_
Art
_P
ho
to
12
História
Entre os anos de 1025 e 1027, o bispo Adalberon de Laon elaborou uma explicação para
a organização da sociedade feudal. Leia, a seguir, um trecho dessa obra.
interpretando documentos
O domínio da fé é uno, mas há um triplo estatuto na Ordem. A lei humana impõe duas con-dições: o nobre e o servo não estão submetidos ao mesmo regime. Os guerreiros são protetores das igrejas. [...] Os servos, por sua vez, têm outra condição. Esta raça de infelizes não tem nada sem sofrimento. Fornecer a todos alimentos e vestimenta: eis a função do servo. A casa de Deus, que parece uma, é, portanto, tripla: uns rezam, outros combatem e outros trabalham. To-dos os três formam um conjunto e não se separam: a obra de uns permite o trabalho dos outros dois e cada qual por sua vez presta seu apoio aos outros.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2006. p. 89.
1 Como Adalberon de Laon justifica a distinção entre os grupos sociais feudais?
2 Por que o clero não é citado ao se explicar a diferença entre os estamentos feudais?
3 Com base no texto, como o trabalho era visto na Idade Média?
4 “Todos os três formam um conjunto e não se separam”. O que essa afirmação nos permite concluir?
a) O discurso religioso servia para justificar a condição social das pessoas.
b) A fala de Adalberon instigava a revolta social dos servos.
c) Adalberon justifica o apoio que os servos recebiam dos nobres para realizarem seu trabalho.
d) Os guerreiros eram superiores ao clero em períodos de guerra.
e) Na sociedade feudal, não deveria existir divisão de classes.
As mulheres na sociedade feudalEm geral, na Idade Média, embora tivessem um papel
social inferior ao dos homens, as mulheres podiam exercer
funções em áreas que iam da política à produção agrícola.
As mulheres adultas, além de realizarem as tarefas tradicio-
nalmente atribuídas a esposas, mães e filhas, ocupavam-se
de outras atividades. Podiam trabalhar no campo ou nas
oficinas, como miniaturistas ou encadernadoras, ou mesmo
assumir funções de liderança, como no caso de rainhas e
abadessas.
MORCK, Martin. Aliénor d’Aquitaine (v. 1122-1204). 2004. 1 selo, colorido. Coleção Museu do Correio, Paris.
Leonor da Aquitânia foi rainha da Inglaterra e da França no século
XII. Uma das mulheres mais poderosas da Idade Média, foi também duquesa da Aquitânia e condessa de Poitiers. Chegou a governar a
Inglaterra na ausência do marido e acumulou grande fortuna.
©Z
oo
na
r/S
erg
ei
Ne
zhin
skii
/Ala
my
/Fo
toa
ren
a
13
As mulheres nobres recebiam uma educação diferente da destinada aos homens da no-
breza. As meninas aprendiam a ler e a escrever e conheciam um pouco de história. Eram
orientadas ainda a bordar, pintar e costurar. Quando se casavam, podiam assumir funções
políticas e administrativas. Na ausência do marido (em caso de guerra, por exemplo), a es-
posa ficava responsável pela administração do feudo, organizava o trabalho e cuidava dos
impostos.
Outra possibilidade era a vida religiosa; muitas mulheres nobres, normalmente por
orientação da família, direcionavam sua vida à reclusão em mosteiros ou conventos.
As camponesas não tinham acesso à educação. Trabalhavam nas oficinas, em atividades
de artesanato ou na produção de alimentos, como pães e queijos. Também cultivavam a ter-
ra e cuidavam das criações.
Em todas as classes sociais, o casamento era arranjado pelos pais ou pelos homens mais
influentes da família. Entre os nobres, o matrimônio era uma forma de criar alianças e am-
pliar territórios e riquezas.
As mulheres que não se encaixavam nos parâmetros da sociedade feudal, ou seja, não
eram casadas nem religiosas, eram vistas com desconfiança. Em períodos de epidemias, crises
de fome ou guerras, muitas dessas mulheres eram identificadas como feiticeiras e, então, pre-
sas e executadas, pois se acreditava que os problemas sociais estavam ligados à sua ação. Ou-
tra forma de justificar esses momentos de crise consistia em qualificar os infortúnios ocorridos
como penalidades divinas em decorrência da magia negra praticada pelas bruxas.
Nas aldeias, as mulheres exerciam diversas tarefas. Observe as imagens a seguir, que representam ati-vidades do cotidiano dessas mulheres durante a Idade Média. Depois, responda às questões propostas.
organizando a história
1 O que as mulheres estão fazendo nessas representações?
2 Qual era a utilidade desses trabalhos para a sociedade medieval?
3 É possível dizer que, na sociedade feudal, as obrigações sociais das mulheres se restringiam ao am-biente doméstico? Explique sua resposta.
BUTLÂN, Ibn. Tacuinum sanitatis. [1390-1400]. p. 61. Biblioteca Nacional da França, Paris.
BUTLÂN, Ibn. Tacuinum sanitatis. [1390-1400]. p. 86. Biblioteca Nacional da França, Paris.
BUTLÂN, Ibn. Tacuinum sanitatis. [1390-1400]. p. 86. Biblioteca Nacional da França, Paris.
BUTLÂN, Ibn. Tacuinum sanitatis. [1390-1400]. p. 86. Biblioteca Nacional da França, Paris.
©B
ibli
ote
ca N
aci
on
al
da
Fra
nça
, Pa
ris
© B
ibli
ote
ca N
aci
on
al
da
Fra
nça
, Pa
ris
©B
ibli
ote
ca N
aci
on
al
da
Fra
nça
, Pa
ris
©B
ibli
ote
ca N
aci
on
al
da
Fra
nça
, Pa
ris
14
História
1 Encontre no caça-palavras sete termos que fazem parte do estudo da sociedade feudal. Depois, registre-os nas linhas ao lado.
o que já conquistei
2 Assinale com X uma das principais características do feudalismo.
a) Unidade política.
b) Liberdade religiosa.
c) Fragmentação política.
d) Igualdade social.
e) Desenvolvimento tecnológico.
3 Leia o texto a seguir.
O tempo medieval era ritmado pelos sinos. Os toques dos sinos, feito para os clérigos, mon-ges, para os ofícios litúrgicos, eram os únicos pontos de referência diários. O toque dos sinos fazia conhecer o único tempo cotidiano parcialmente medido, o das horas canônicas, que regu-lava a atividade de todos os homens.
LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente medieval. Bauru: Edusc, 2005. p. 175-176.
O relato sobre o tempo medieval revela:
a) a importância da ciência nas relações sociais durante a Idade Média.
b) a alta produtividade das atividades agrícolas e industriais no Medievo.
c) o valor da música emitida pelos sinos na sociedade feudal.
d) a importância do tempo, controlado pelos próprios camponeses.
e) o poder da Igreja Católica, a qual controlava o tempo por meio dos sinos dos mosteiros.
V V S N X A Y N C D
I A U C A C K O A G
A E S I R E B B M N
C M E S T Y P R P M
L A R N A P I E O I
E V A E A L W S N C
R X N E S E O L E A
O W O R J Z A G S Q
B U k L M U Y A E X
U Ç K F E U D O S M
T O R N E I O S D T
15
capí
tulo Renascimento
comercial e urbano
14
A partir do ano 1000, a Europa vivenciou um período de
relativa tranquilidade. O número de habitantes e a produção
agrícola aumentaram. Parte da população da Europa Ocidental
retornou à vida urbana, estabelecendo mudanças no trabalho,
na produção e na organização da sociedade medieval. O comér-
cio voltou a florescer em razão das Cruzadas, responsáveis por
reabrir o Mediterrâneo para os europeus. Cidades surgiram e
outras renasceram. Na imagem desta página, qual ambiente é
retratado? Quais atividades estão sendo praticadas? Você per-
cebe diferenças em relação à vida nos feudos?
Aperfeiçoamento das
técnicas agrícolas
Feiras e rotas comerciais
Crescimento das
cidades e formação da burguesia
Cruzadas
o que vocêvai conhecer
VIGNE, Félix de. Feira em Ghent na Idade Média. 1862. 1 óleo sobre tela, color., 100,5 cm × 168,3 cm. Museu de Belas Artes, Ghent.
As feiras medievais eram entrepostos comerciais e centros de desenvolvimento urbano
©Bridgeman Images/Fotoarena
16
História
Identificar as mudanças ocorridas na agricultura europeia no final da Idade Média e sua relação com o aumento do comércio nas cidades.
Compreender como ocorreu a reabertura comercial do Mar Mediterrâneo.
Analisar a importância das feiras e das rotas comerciais internas no processo de dina-mização do comércio europeu.
Compreender a organização da sociedade urbana e do trabalho na Baixa Idade Média.
Analisar os aspectos religiosos, econômicos, sociais e políticos que levaram à organi-zação das Cruzadas.
objetivos do capítulo
Aperfeiçoamento das técnicas agrícolas A partir do século XI, as epidemias que assolavam a população europeia diminuíram, as
grandes invasões cessaram e os camponeses passaram a cultivar em áreas que haviam sido
abandonadas. Esses fatores contribuíram para o crescimento populacional.
O modo de vida feudal, isolado e autossuficiente, foi pouco a pouco se transformando.
A produtividade gerada pelo feudo, até o século X, era baixa. Uma das razões para isso eram
as técnicas utilizadas na agricultura, contudo, novas ferramentas foram desenvolvidas no
século XI, parte delas em virtude da troca de conhecimentos com o Oriente.
Uma inovação foi a disseminação da forja dos ferros nas aldeias. Durante o período das
invasões bárbaras, o ferro era empregado preferencialmente na fabricação de armaduras e
espadas; com o término dessas invasões, os habitantes das aldeias passaram a usar o metal
para fabricar ferramentas, como arados, enxadas e foices, deixando esses utensílios mais
resistentes do que os produzidos com madeira.
A charrua, arado com rodas de metais puxa-
do por bois ou cavalos, aumentou a produtivida-
de dos campos, uma vez que foi possível revol-
ver a terra com maior rapidez e fazer sulcos mais
profundos, desperdiçando menos sementes.
Para um melhor aproveitamento das terras,
os camponeses passaram a utilizar o sistema
trienal de plantio, no qual a terra era dividida
em três partes: enquanto uma delas descansava
(sem cultivo), nas outras duas eram cultivados
cereais (como cevada e trigo) e legumes (fava,
lentilha e ervilha). A cada nova safra, os terrenos
eram alternados. Essa forma de produção per-
mitia ao solo se regenerar. Assim, em três anos,
toda a área cultivada estava renovada. O aumen-
to da produtividade das terras representou uma
revolução agrícola.
A CHARRUE. 1 ilustração. In: LYRE, Nicolas de. Postilles sur la Genèse. [1395-1402]. Biblioteca Nacional da França, Paris. Detalhe.
©B
ibli
ote
ca N
aci
on
al
da
Fra
nça
, Pa
ris
O movimento da charrua também servia para trazer à superfície os nutrientes necessários pppppapapapapapp rarararara aaaaa nnnnnnovovovovovo aaaaaaa ppplplplplplplanananana tatatataçãçãçãçãão.o.o.oo.
17
A essas inovações somava-se a utilização, em várias regiões, de moinhos movidos a
água para moer cereais e transformá-los em farinha. O moinho acelerava o processo de
moagem e possibilitava estocar maior quantidade de alimentos, o que permitia sustentar
por mais tempo a população
dos feudos.
Com o aumento da produção
agrícola, foi possível acumular ex-
cedentes, os quais eram levados
aos núcleos urbanos para serem
vendidos. A constante circulação
de mercadorias favoreceu as ativi-
dades artesanais e a melhoria das
estradas.MOINHO medieval. 1 ilustração. In: LUTTRELL. Livro dos Salmos. [ca. 1320-1340]. Biblioteca Britânica, Londres.
Representação de um moinho medieval movido a água
©B
ibli
ote
ca B
ritâ
nic
a, L
on
dre
s
Como você viu, a partir do século XI, algumas inovações técnicas foram desenvolvidas na Europa. Antes de prosseguir no estudo desse tema, responda às questões a seguir.
1 É correto afirmar que as inovações técnicas desenvolvidas nesse período diminuíram a importância econômica da posse de terras ?
2 Além das práticas agrícolas, que outra atividade econômica ganhou destaque após o desenvolvi-mento dessas inovações?
organizando a história
Muitas das inovações desse período
ocorreram nos mosteiros. Esses núcleos de
contemplação religiosa se tornaram centros
de pesquisa e unidades de produção, onde
os monges, além de se dedicar à oração, des-
cobriram novas formas de cultivar o solo. Em
seguida, eles divulgavam suas descobertas à
comunidade local.
Nesta iluminura, alguns monges da Ordem de Cister trabalham na terra enquanto outros rezam
MONGES cistercienses. [séc. XII]. 1 iluminura. Manuscrito (MS 5. 31). Livraria da Universidade de Cambridge.
©T
he
Pic
ture
Art
Co
lle
ctio
n/A
lam
y S
tock
Ph
oto
18
História
A importância dos monges e dos mosteiros na revolução agrícola pela qual a Europa
passou durante o século XI é ressaltada pelo historiador Thomas Woods Jr., como evidencia
o trecho a seguir.
Devemos aos monges a recuperação agrícola de grande parte da Europa. Em qualquer lu-gar em que estiveram, converteram terra bravia em campos cultivados; dedicaram-se à criação de gado e à agricultura, trabalharam com as suas próprias mãos, drenaram pântanos e des-mataram florestas. Todos os mosteiros beneditinos eram uma escola de agricultura para toda a região na qual estavam situados. Os monges beneditinos foram os agricultores da Europa; transformaram-na em terras de cultivo em larga escala, associando agricultura e oração.
WOODS JR., Thomas E. Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental. Tradução de Élcio Carillo. São Paulo: Quadrante, 2008. p. 29.
Observe a imagem a seguir.
interpretando documentos
Descreva a cena representada e comente a importância dos indivíduos retratados para o desenvolvimento da Europa medieval.
Ampliação das terras cultivadasComo consequência do aumento da produtividade no campo, os camponeses tiveram
sua expectativa de vida elevada, de 25 anos para 35 anos, entre os séculos XII e XIII. Bem
alimentada, essa população não só passou a viver mais como também cresceu.
Com o objetivo de evitar gastos, alguns senhores retiraram a obrigação dos servos para
com o feudo, assim, liberavam-se também de suas obrigações para com eles. Tal iniciativa
favoreceu a ocupação de terras pouco habitadas nos arredores dos feudos, proporcionando
seu uso produtivo.
BREU, Jörg. Cenas da vida de São Bernardo. 1500. 1 miniatura, 71 cm × 73 cm. Igreja Colegiada, Zwettl.
©H
isto
ry/a
kg
-im
ag
es/
Alb
um
/Alb
um
/Fo
toa
ren
a
19
Em outros casos, a ocupação de terras até então pouco exploradas ocorreu por iniciativa
de camponeses que, para fugirem da opressão, resolveram romper os laços com seus senho-
res e deixar os feudos. Para sobreviver, arriscaram-se a plantar em áreas ditas impróprias
para o cultivo, como áreas pantanosas, encharcadas em algumas épocas do ano ou cobertas
por florestas e mata nativa. Essas iniciativas expuseram os camponeses a novas situações,
contribuindo para o desenvolvimento de novos métodos de cultivo.
1 A utilização de terras até então consideradas impróprias para o cultivo provocou uma mudança na sociedade feudal. Explique essa afirmação.
2 Quais foram os efeitos sociais e ambientais imediatos da expansão agrícola do século XI?
organizando a história
Feiras e rotas comerciaisNo período feudal, as atividades comerciais não chegaram ao fim completamente, mas
sofreram um acentuado declínio. A base econômica do feudalismo era a agricultura, e o tra-
balho realizado pelos camponeses era voltado para a subsistência. As trocas comerciais exis-
tiam, porém se limitavam a produtos essenciais que não eram obtidos por meio das ativida-
des realizadas no feudo, como o sal. Com a melhora das condições climáticas e da produção
no campo, aliada ao aumento populacional, essa situação mudou gradativamente.
A maior parte das atividades comerciais
ocorria nas feiras temporárias, organizadas
entre os comerciantes no cruzamento das
rotas do norte e do sul. Essas rotas passavam
por cidades como Champagne (França), Flan-
dres (norte da França e litoral da Bélgica), Co-
lônia e Frankfurt (Alemanha). Muitos campo-
neses, artistas e artesãos se dirigiam a essas
feiras para prestar serviços aos comerciantes
ou expor seus trabalhos.
A intensa circulação de mercadores e
mercadorias deu origem a rotas, transfor-
mando em estradas movimentadas o que an-
tes eram caminhos no meio da mata.
PRAÇA do mercado. [séc. XV]. 1 iluminura. In: D’ALERAN, Thomas. O cavaleiro errante. Biblioteca Nacional da França, Paris.
Representação de uma feira em uma cidade medieval
Bib
lio
teca
Na
cio
na
l d
a F
ran
ça, P
ari
s
Nas feiras, trocavam-se os excedentes agrícolas (grãos) e madeira por artigos artesanais, artigos de luxo (tecidos
e especiarias) e produtos de primeira necessidade. Essas trocas atraíam mercadores, que percorriam as rotas para levar e trazer mercadorias.
20
História
O comércio a lon-
ga distância também
foi reaquecido. Ele gi-
rava em torno de dois
eixos marítimos: uma
rota ao sul e outra ao
norte da Europa, liga-
das por caminhos ter-
restres, como indica o
mapa ao lado.
Fonte: ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC/
Fename, 1977. Adaptação.
Principais rotas comerciais no século XIV
No mapa que mostra as rotas comerciais no século XIV, é possível notar que o Mar Mediterrâneo interligou o comércio de três continentes – Europa (sul), África (norte) e Ásia (Oriente Médio) –, o que certamente garantiu a circulação de uma ampla variedade de produtos por essas regiões. Faça uma pesquisa e descubra pelo menos cinco produtos comercializados entre os portos dessas localidades. Anote o resultado no caderno.
pesquisa
Com o aumento da importância das feiras, muitos feudos recebiam viajantes vindos de di-
versas localidades; com isso, a população entrava em contato com artefatos, comidas e roupas
de outros lugares e conhecia novos gostos e hábitos.
De modo geral, o Ocidente europeu produzia vinhos, armas
e tecidos, em especial lã, e comprava do Oriente joias, tapetes
(da Pérsia e da Arábia), seda (da China) e especiarias variadas (da
Índia). Além de as práticas comerciais realizadas com o Oriente e
com o norte africano terem se intensificado, o comércio dentro da
própria Europa tomou novos rumos.
Apesar da proliferação de feiras por toda a Europa e das ro-
tas comerciais que se organizavam pelo Mediterrâneo, a estrutura
feudal se mantinha e não favorecia o comércio, pois, para que um
comerciante pudesse se deslocar, por exemplo, do norte ao sul da
França, deveria passar por vários feudos.
As especiarias vindas do
Oriente, como a pimenta, o
cravo, o gengibre e a canela,
tinham um alto valor e, por isso,
eram vistas principalmente
na mesa dos nobres. Elas não
serviam apenas para temperar
os alimentos, mas também
para conservá-los, uma vez que
não se dispunha de métodos
adequados de conservação
de produtos alimentícios.
Ta
lita
Ka
thy
Bo
ra
21
Para entrar nos feudos, era necessário pagar taxas. Cada feudo tinha a própria moeda,
além de regras comerciais particulares. Nesse cenário, a burguesia, classe social em ascen-
são, passou a se opor ao sistema feudal, uma vez que este não se mostrava apropriado para
uma economia voltada ao comércio.
Crescimento das cidades e formação da burguesia
Entre os séculos XI e XIII, as
antigas cidades ganharam vida e
outras surgiram ao redor das fei-
ras, dos castelos e dos mosteiros.
Nos séculos XIII e XIV, as cida-
des de Veneza, Gênova e Florença
(na Itália) e a região de Flandres li-
deravam as atividades comerciais.
Genoveses e venezianos percor-
riam o Mar Mediterrâneo até os
portos orientais em busca de es-
peciarias. Eles mantinham comér-
cio entre o norte e o sul da Europa
e revendiam as mercadorias nas
feiras.
Leia a seguir a descrição de uma cidade medieval.
troca de ideias
A cidade da Idade Média é um espaço fechado. A muralha a define. Penetra-se nela por portas e nela se caminha por ruas infernais que, felizmente, desembocam em praças pa-radisíacas. Ela é guarnecida de torres, torres das igrejas, das casas dos ricos e da muralha que a cerca. Lugar de cobiça, a cidade aspira à segurança. Seus habitantes fecham suas casas à chave, cuidadosamente, e o roubo é severamente reprimido. [...] A misericórdia e a caridade se impõem como deveres que se exercem nos asilos, essas casas de pobres. [...] Mas os doentes, como os leprosos que não podem mais trabalhar, causam medo, e essas estruturas que abrigam não demoram a tornar-se estruturas de aprisionamento [...].
LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades: conversações com Jean Lebrun. Tradução de Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes. São Paulo: Ed. da Unesp, 1998. p. 71.
Após a leitura, reúna-se com um colega e discutam: Quais eram os medos dos moradores das cidades medievais? Na atualidade, essas inquietações persistem?
SCHEDEL, Hartmann. Nuremberg. Crônica Mundial de Schedel. 1493.
Cidade medieval de Nuremberg, atualmente território da Alemanha. A cidade é protegida por um muro e por torres de observação. Esse era o modelo usado pela maioria dos burgos medievais.
©h
isto
ric-
ma
ps/
ak
g-i
ma
ge
s/A
lbu
m/A
lbu
m/F
oto
are
na
22
História
A vida nos burgosÀ medida que as atividades comerciais iam se desenvolvendo, buscava-se modificar as
ações voltadas apenas para a subsistência, a fim de gerar produções em maior quantidade
para serem destinadas ao comércio. Nas proximidades dos castelos feudais, foram instala-
dos locais de compra e venda, favorecendo o surgimento de núcleos urbanos formados por
comerciantes, artesãos, mercadores ambulantes e camponeses. Esses núcleos urbanos fo-
ram chamados, inicialmente, de burgos (do latim burgus, que significa “fortificação”) e seus
habitantes compunham uma nova camada social, a burguesia.
Com o crescimento populacional nas cidades, também aumentavam o consumo e, con-
sequentemente, o mercado para os gêneros agrícolas e os produtos de artesanato. De iní-
cio, as oficinas urbanas responsáveis pela fabricação artesanal de produtos como calçados,
ferramentas, peças de roupas e chapéus eram pequenas e empregavam camponeses que
abandonavam os campos.
Esses camponeses se instalavam nas cidades e exerciam funções de fiandeiros, tecelões,
marceneiros, carpinteiros, sapateiros, ferreiros, entre outras. A jornada de trabalho desses
artesãos era longa e o pagamento era diário ou semanal.
Com o desenvolvimento da atividade manufatureira, surgiram
profissionais especializados. Nas oficinas, os mestres – que conhe-
ciam a arte de fazer os produtos necessários à vida comunitária –
ocupavam um lugar de destaque, seguidos pelos jornalei-
ros, trabalhadores que recebiam pela jornada de serviços
realizados, e pelos aprendizes, que entravam nessas ofici-
nas para aprender as primeiras técnicas, a fim de se torna-
rem profissionais especializados.
Os artesãos eram agrupados de acordo com as ativida-
des que realizavam: havia oficinas de ferreiros, de sapatei-
ros, de tecelões, de marceneiros, de vidraceiros, etc. Eles
organizavam corporações de ofício em defesa de seus
interesses; nelas, criavam regulamentos para se proteger
contra a concorrência e para assegurar o pagamento aos
trabalhadores. Os comerciantes se reuniam em agremia-
ções similares, chamadas guildas, cujos objetivos eram a
regulamentação das práticas comerciais e a manutenção
do monopólio sobre o comércio local.
©B
ibli
ote
ca N
aci
on
al
da
Fra
nça
, Pa
ris
UM OLEIRO: canções reais sobre design. [séc. XV]. 1 ilustração. In: L’ANGLAIS, Barthélemy. Livro das propriedades das coisas. Biblioteca Nacional da França, Paris.
Representação de um oleiro produzindo vasos
As corporações eram formadas por várias oficinas. Cada
uma delas pertencia a um mestre, que estabelecia um grupo
para controlar a quantidade, a qualidade e o preço dos pro-
dutos fabricados, além de decidir quem poderia entrar para a
profissão. Os aprendizes moravam nas oficinas e realizavam
as atividades sem remuneração, recebiam em troca hospe-
dagem, alimentação e aprendizado, que durava entre dois e
sete anos.
manufatureira: sistema que usa técnica de produção artesanal e divisão do trabalho.
23
Em virtude das determinações estabelecidas para o funcionamento das oficinas, a reali-
zação dos pagamentos e a fixação das características dos produtos, as corporações de ofício
representaram, de certa forma, um obstáculo ao pleno desenvolvimento comercial. Isso por-
que elas restringiam a produção ao mercado local e regulavam o preço das matérias-primas
e dos produtos comercializados.
O crescimento comercial aumentou a circulação de moedas. Como estas eram prove-
nientes de diversas regiões e representavam diferentes valores, foram criados os câmbios
para efetuar sua conversão. Os merca-
dores que se dedicavam a essa atividade
expunham em bancas as moedas que se-
riam trocadas; assim, ficaram conhecidos
como cambistas.
MATSYS, Quentin. O cambista e sua esposa. 1514. 1 óleo sobre tela, color., 71 cm × 68 cm. Museu do Louvre, Paris.
A pintura retrata um cambista, ou seja, um comerciante que troca moedas de diferentes valores. Ele está acompanhado
de sua esposa. Alguns historiadores acreditam que a imagem ilustra a difícil relação entre a busca por lucro e a Igreja
Católica (que condenava a riqueza quando não resultava do trabalho do indivíduo), pois, acima do cambista, há uma maçã,
símbolo do pecado.
A partir do século XII, os cambistas italianos passaram a aceitar depósitos e a realizar empréstimos. Foi dessa forma que surgiram as atividades bancárias, por meio das quais os cambistas enriquece-ram rapidamente. Observe a imagem a seguir.
interpretando documentos
BANCO di San Giorgio, Gênova. Mestres do Codex Cocharelli. [ca. 1330]. 1 gravura ( fragmentos com manuscritos coloridos e em ouro). Gênova.
1 Qual atividade os homens repre-sentados na imagem estão pra-
ticando e como isso se relaciona com o contexto medieval?
2 Como a existência de feiras, co-merciantes e cambistas eviden-
cia uma mudança na compreen-são do trabalho na Idade Média?
©B
an
co d
i S
an
Gio
rgio
, Gê
no
va
©M
use
u d
o L
ou
vre
, Pa
ris
24
História
Os senhores feudais procuraram obter benefícios com o crescimento agrícola e comer-
cial, cobrando impostos e taxas das cidades que se instauraram em seus domínios. Eles exi-
giam dos servos o pagamento de suas obrigações em dinheiro (moedas), e não mais em pro-
dutos. Passaram, também a consumir produtos de luxo, a dar grandes festas e a sustentar
muitos nobres, com o objetivo de afirmar seu poder.
Os camponeses se deslocavam para as cidades em virtude dos atrativos que elas ofere-
ciam, como as novas relações de trabalho e a inexistência das taxas que eles pagavam pelo
uso da terra feudal. Bastava que os servos vivessem por um ano nas cidades para serem
considerados livres, tal como sugeria um provérbio alemão que circulava na época: “O ar das
cidades torna o homem livre”. Já os burgueses exigiam dos senhores feudais segurança e
liberdade, bem como o direito de exercer livremente seus negócios e de criar as próprias leis
em troca dos impostos pagos.
1 Sobre as corporações de ofício, é correto afirmar:
a) Eram grupos de oficinas que visavam controlar a quantidade, a qualidade e o preço dos produtos fabricados e decidir quem entrava para a profissão de artesão.
b) Eram órgãos utilizados pelos senhores para recolher os impostos devidos pelos servos e fiscali-zar as terras concedidas aos camponeses.
c) Eram mosteiros nos quais os monges se dedicavam à oração, ao trabalho e ao estudo da ciência
e da religião cristã.
d) Eram fábricas arcaicas que produziam roupas e acessórios a preços baixos, para que todos tives-sem a oportunidade de comprar.
e) Eram tropas militares mercenárias que circulavam pela Europa em busca de conflitos.
2 Sobre a saída dos trabalhadores dos campos em direção aos núcleos urbanos durante a Baixa Idade
Média (século X a XV), responda no caderno às questões a seguir.
a) No contexto do renascimento comercial e urbano, por que as cidades se tornaram atrativas para os camponeses?
organizando a história
Aos poucos, várias cidades se tornaram independentes e romperam com o isolamento
da sociedade feudal. Enquanto muitos burgueses – como os grandes comerciantes, os mes-
tres artesãos e os banqueiros – enriqueciam, a nobreza feudal se adaptava com dificuldade
às novas formas de organização social.
As cartas de franquia eram documentos que garantiam os direitos
dos burgueses. Podiam ser compradas dos senhores feudais ou do cle-
ro, quando as terras pertenciam à Igreja. Com essas cartas, os burgue-
ses buscavam liberdade para trabalhar nos burgos.
25
b) Quais eram as ocupações e as condições de trabalho dos camponeses que se instalavam nas cidades?
c) O clero católico não via com bons olhos o aumento do comércio pelo fato de considerar o acú-mulo de dinheiro um pecado; mesmo assim, o comércio prosperou. É correto afirmar que o re-nascimento comercial europeu fez com que o poder da Igreja Católica diminuísse?
CruzadasOs cristãos europeus promoveram, entre os séculos XI e XIII, expedições militares rumo
ao Oriente com o intuito de expulsar os turcos islamizados de lugares considerados santos
para o cristianismo. É preciso destacar que, além de retomar Jerusalém, o Papa pretendia
reaver a influência sobre o território do Império Bizantino, perdida desde o ano de 1054,
quando houve o Cisma da Igreja.
Em 1095, o papa Urbano II expôs aos fiéis a necessidade de reconquistar Jerusalém, consi-
derada a Terra Santa dos cristãos, que estava sob o domínio dos muçulmanos. Cerca de 150 mil
pessoas atenderam ao apelo do Papa. A expedição foi chamada de Primeira Cruzada.
As expedições tinha esse nome porque os combatentes se autodenominavam soldados
de Cristo e costuravam o símbolo da cruz em suas roupas. O objetivo da cristandade era
libertar Jerusalém dos muçulmanos – chamados de infiéis pelos cristãos –, convertê-los ao
cristianismo e conquistar novos territórios.
Durante as Cruzadas, foram criadas associações de cavaleiros de
caráter religioso e militar, conhecidas como ordens. Alguns exemplos
são a Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém e a Ordem dos
Templários, uma das mais conhecidas. De maneira geral, elas tinham
como função proteger os cristãos em sua peregrinação. A Ordem dos
Templários recebia grande número de doações, o que permitiu seu rá-
pido enriquecimento e fortalecimento na Europa. Na roupa do cavalei-
ro templário, era desenhada uma ou mais cruzes vermelhas, de modo a
representar sua ligação com as Cruzadas e o sacrifício de Cristo.
Os proprietários de terras e os comerciantes viam nas Cruzadas a possibilidade de au-
mentar seus domínios, conquistar riquezas e ampliar o comércio. Os nobres cavaleiros vis-
lumbravam uma oportunidade de alcançar riquezas, já que não podiam contar com a posse
de terras (que eram destinadas ao primogênito da família). Além disso, a Igreja Católica pro-
metia o perdão pelos pecados e a vida eterna após a morte para os cruzados.
Cruz vermelha, símbolo dos cavaleiros templários
Converse com um colega sobre a seguinte questão: De que forma as Cruzadas e a pro-
dução de excedentes contribuíram para o renascimento comercial no período da Baixa
Idade Média (séculos X a XV) na Europa?
troca de ideias
©S
hu
tte
rsto
ck/J
ack
ezn
or
26
História
Após a Primeira Cruzada, foram organizadas mais sete expedições oficiais. Observe o
trajeto percorrido pelas principais Cruzadas:
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1988. p. 90. Adaptação.
Cruzadas
A partir da Quarta Cruzada, os interesses comerciais foram colocados acima dos interes-
ses religiosos. Essa expedição não chegou a conquistar Jerusalém, mas tomou Constantino-
pla em 1203.
Ainda que as Cruzadas tenham falhado em seu objetivo inicial, elas foram fundamentais
para desenvolver o comércio na Europa feudal e promover trocas comerciais entre o Ociden-
te e o Oriente, como explica o historiador Hilário Franco Jr. no trecho a seguir.
[...] as Cruzadas não foram as responsáveis pelas grandes transformações econômicas, mas produto delas. Contudo, elas não deixaram de contribuir significativamente para o avan-ço daquelas transformações. Exemplifiquemos novamente com Veneza e Gênova, pois estas cidades eram os principais centros econômicos da época e tiveram importante participação nas Cruzadas. O intenso comércio que ambas praticavam era anterior ao século XI, mas foi a abertura dos mercados orientais – para o que as Cruzadas desempenharam papel decisivo – que as tornou potências econômicas.
FRANCO JR., Hilário. As Cruzadas. São Paulo: Brasiliense, 1984. p. 77.
Ma
rilu
de
So
uza
27
Além dos confrontos entre cris-
tãos e muçulmanos, havia grupos de
cruzados que realizavam saques e
massacres por onde passavam, o que
fez das Cruzadas eventos violentos,
com grandes perdas para todos os
envolvidos.
De acordo com seus estudos sobre as Cruzadas, responda:
1 As pessoas que se comprometiam a fazer parte das Cruzadas tinham conhecimento de como seriam essas expedições?
2 Todos os cruzados sabiam a distância a ser percorrida pelas expedições e como chegariam ao
destino?
organizando a história
COLOMBE, Jean. A conquista da Antioquia. [séc. XV]. 1 iluminura. Biblioteca Nacional da França, Paris.
Ilustração de uma batalha entre cruzados e turcos islamizados na região da Anatólia (território da atual Turquia)
©Biblioteca Nacional da França, Paris
A Cruzada das CriançasDepois de saber que Constantinopla havia sido saqueada pelos cruzados, a cristandade eu-
ropeia ficou abalada; passaram a propagar a ideia de que não se podia mais confiar nos adultos,
pois somente as crianças, consideradas puras e inocentes, poderiam reconquistar Jerusalém.
Difundiu-se a história de que um menino alemão havia reunido jovens camponeses para recon-
quistar a Terra Santa, iniciando, assim, a Cruzada das Crianças.
Em torno de 50 mil crianças foram reunidas e colocadas em um navio em direção a Jeru-
salém. A maioria delas não chegou ao destino, porque morreu de fome ou de frio durante a
viagem. Outras se desligaram do grupo ou foram capturadas e vendidas como escravizadas.
28
História
1 Analise as afirmações a seguir e marque V para as verdadeiras e F para as falsas. Depois, reescreva no caderno as falsas de modo que se tornem verdadeiras.
a) ( ) O aumento da produção agrícola foi um importante fenômeno que ocorreu na Europa Ocidental a partir do século XI.
b) ( ) Um dos motivos para o aumento da produção agrícola na Baixa Idade Média na Europa foi o incentivo econômico proporcionado pelos senhores feudais aos camponeses.
c) ( ) Entre os efeitos causados pelo aumento da produção agrícola estão o crescimento popu-lacional e o florescimento do comércio.
d) ( ) Durante toda a Baixa Idade Média, a economia europeia foi caracterizada exclusivamente pela atividade agrária.
2 Elabore um parágrafo para explicar o que era uma carta de franquia e qual sua importância para os comerciantes.
3 Sobre o crescimento urbano durante a Baixa Idade Média na Europa, explique por que era vantajoso para comerciantes e camponeses viverem livres nos burgos.
4 A formação dos burgos possibilitou o desenvolvimento de diversas oficinas especializadas, que de-
ram origem às corporações de ofício. Sobre elas, complete o trecho a seguir.
O objetivo das corporações de ofício era os interesses dos associa-
dos. Defendiam a criação de um regulamento para a qualidade e o
de repasse dos produtos. Os aprendizes tinham direito a receber trei-
namento, e nas oficinas. Como dever,
precisavam aprender o ofício e auxiliar o mestre sem exigir .
5 A respeito das Cruzadas, escreva no caderno um texto que responda às questões a seguir.
a) O que foram as Cruzadas?
b) Quais eram os interesses dos nobres, do clero e dos camponeses nesses eventos?
c) Como o movimento das Cruzadas afetou a sociedade medieval europeia?
o que já conquistei
29
capí
tulo
A crise do sistema feudal 15
A partir do século XI, o aperfeiçoamento das técnicas agrí-
colas possibilitou a obtenção de uma produção significativa de
alimentos na Europa feudal. O clima favorável e a ausência de
epidemias fizeram com que a população medieval aumentasse de
modo considerável. Contudo, o século XIV ficou conhecido como
um período de grande crise na Europa.
É possível caracterizar esse momento de crise com base na
leitura da imagem desta página? De acordo com seus estudos e
com base na representação produzida por Pieter Bruegel, crie
uma legenda para a imagem.
Fome
Peste
Guerras e
revoltas
Fragmentação do sistema feudal
o que vocêvai conhecer
BRUEGEL, Pieter [o Velho]. O triunfo da morte. [ca. 1562]. 1 óleo sobre tela, color., 117 cm × 162 cm. Museu do Prado, Madri. Detalhe.
©Museu do Prado, Madrid
30
História
objetivos do capítulo Identificar os fatores responsáveis
pela crise do século XIV.
Conhecer os motivos que levaram à grande fome no século XIV na Europa.
Analisar o contexto que proporcionou a disseminação da Peste Negra.
Relacionar a Peste Negra, a fome, as guerras e as revoltas camponesas com o colapso do feudalismo.
Compreender como a crise do século XIV alterou a econonomia e a socie-dade na Europa.
A crise afetou profundamente as relações feudais. Você vai conhecer, neste capítulo, os
fatores que contribuíram para abalar o continente europeu por cerca de cem anos, marcan-
do o final da Idade Média.
FomeA intensificação da agricultura gerou o desgaste das terras. Para agravar a situação da pro-
dução de alimentos, várias alterações climáticas provocaram a perda de inúmeras colheitas. En-
tre os anos de 1315 e 1317, chuvas intensas destruíram colheitas
contribuindo para o aumento do preço dos alimentos. As más co-
lheitas e o desgaste das terras resultaram em graves consequên-
cias, que atingiram principalmente os servos, os camponeses e os
moradores mais pobres das cidades. Os nobres viram sua renda di-
minuir em decorrência da baixa produção agrícola. A solução encon-
trada por eles foi o aumento de impostos e da exploração de servos
e camponeses.
Para aumentar os impostos, a nobreza difundiu a ideia de que o clima desfavorável era
fruto do castigo divino. De acordo com os nobres, os seres humanos haviam se tornado or-
gulhosos e estavam sendo castigados. No trecho a seguir, é possível identificar essa ideia.
As informações sobre as chuvas
intensas foram obtidas pelos
historiadores por meio das
crônicas escritas por religiosos
e intelectuais medievais.
Quando Deus viu que o mundo era demasiado orgulhoso,
Ele enviou uma escassez à Terra e a tornou áspera.
Um alqueire de trigo foi a quatro xelins ou mais
Do que os homens possam ter tido um quarto antes...
E então pálido ficou quem ria tão alto,
E dóceis se tornaram quem antes eram tão orgulhosos. O coração de um homem pode san-grar por ouvir o choro
Dos pobres homens que gritavam, “Ai! De fome eu morro”.
EDUARDO II. Os tempos terríveis de Eduardo II (1323), apud RUBIN, Miri. In: HORROX, Rosemary; ORMROD, W. Mark (Ed.). A Social History of England: 1200-1500. Cambridge: University Press, 2006. p. 405. Tradução nossa.
31
Com a sucessão de más colheitas, resultante de verões excessivamente frios e chuvosos,
os cereais não amadureceram e faltou o sal, usado para conservar a carne, pois as salinas
ficaram encharcadas. Nessas condições, estabeleceu-se uma fome generalizada.
ROUSSILLON, Girart de. Camponeses em luta. [séc. XV]. 1 gravura. In: FERRIÈRES, Henri de. Livre du roi Modus et de la reine Ratio. Biblioteca Nacional da França, Paris. Detalhe.
Camponeses, homens e mulheres em fúria, com espadas, paus e enxadas em torno de um barril. A violência foi uma das consequências da grande fome
Na Idade Média, a imagem de Jesus que teria vivido como mendigo estava muito presente e, no século XIII, quando surgiram nas cidades os dominicanos e os franciscanos, suas ordens foram chamadas de “ordens mendicantes” – o que, na época, na maioria das vezes, era com-preendido como um elogio.
LE GOFF, Jacques. A Idade Média explicada aos meus filhos. Tradução de Hortencia Santos Lencastre. Rio de Janeiro: Agir, 2007. p. 62.
©B
ibli
ote
ca N
aci
on
al
da
Fra
nça
, Pa
ris
Em muitas regiões da Europa, como a Inglaterra, os senhores feudais começaram a inves-
tir no aumento da produção de lã, em virtude de seu alto valor comercial. Para isso, as terras
antes cultivadas por camponeses e servos foram transformadas em pastos para ovelhas, o
que provocou a diminuição da produção de alimentos e a expulsão dos camponeses de suas
terras.
Até os animais que serviam para o transporte e para o arado foram utilizados como ali-
mento. Sementes que eram guardadas para as próximas plantações também foram usadas.
Camponeses famintos circulavam de vila em vila em busca de comida. A violência, os roubos
e os crimes se tornaram frequentes.
Estima-se que entre 10% e 25% da população europeia tenha morrido no início do sécu-
lo XIV; os indivíduos que sobreviveram ficaram com a saúde debilitada.
A insatisfação com a pobreza rural fez com que muitos camponeses fossem para as ci-
dades em busca de melhores condições de vida. A transferência de grandes contingentes de
pessoas para as cidades gerou, entre outras consequências, a mendicância. Essa atividade
não era totalmente desprezada pelos moradores, uma vez que a Igreja propagava uma visão
religiosa sobre essa condição, como indica o trecho a seguir.
32
©Shutterstock/JeniFoto
História
Durante o século XIV, a má
alimentação das pessoas esta-
va na origem de epidemias de
disenteria, principalmente em
recém-nascidos e crianças pe-
quenas. O auxílio para esses in-
divíduos vinha do clero.
Os primeiros hospitais fo-
ram construídos na Europa Oci-
dental pela Igreja, mais particu-
larmente por ordens religiosas,
e eram chamados de “casas de
Deus” (Hôtels-Dieu, na França).
Esses estabelecimentos se pro-
punham a cuidar daqueles que
não tinham recursos. HÔTEL-DIEU de Beaune. 1 fotografia, color. 2013. Beaune.
O Hôtel-Dieu da cidade de Beaune foi construído em 1443 para prestar serviço de caridade. A construção é um exemplo da arquitetura francesa do século XV. Atualmente, o prédio abriga um museu.
Observe a imagem que retrata um grupo de mendigos em uma cidade medieval.
troca de ideias
BRUEGEL, Pieter [o Velho]. Os mendigos. [ca. 1568]. 1 óleo sobre tela, color., 18 cm × 21 cm. Museu do Louvre, Paris.
No quadro de Bruegel, é possível observar
a representação de parte da população pobre nas cidades. Os homens estão mutilados, provavelmente em razão de
doenças.
De acordo com a leitura da imagem e com base em seus estudos sobre a Idade Média,
reúna-se com um colega e respondam às questões a seguir.
1 As cidades medievais estavam preparadas para receber um grande fluxo de camponeses? Justi-
fique sua resposta.
2 Quais problemas esses camponeses poderiam encontrar nas cidades?
©M
use
u d
o L
ou
vre
, Pa
ris,
Fra
nça
33
PesteNas duas primeiras décadas do século XIV, a fraca alimentação causada pelas más colhei-
tas favoreceu o surgimento de epidemias. Nos burgos, as doenças que mais acometiam os
moradores eram a tuberculose e a lepra. Entretanto, entre os anos de 1347 e 1351, a Peste
Negra foi a maior epidemia da Europa, levando muitos habitantes à morte.
A Peste Negra teve origem no Oriente e espalhou-se por vá-
rias regiões, tendo chegado à Europa provavelmente pela Rota
da Seda. Apenas algumas regiões ficaram livres do contágio,
graças às quarentenas impostas por reis e príncipes locais ou à
baixa densidade populacional.
O teólogo Jean Charlier de Gerson (1363-1429) expôs a situação das pessoas mais po-
bres na França em um discurso proferido na corte em 1405. Leia um trecho desse discurso a
seguir e responda às questões propostas.
interpretando documentos
O homem pobre não terá pão para comer; a sua pobre mulher parirá e eles terão quatro ou seis crianças em volta da lareira ou do forno, que só por acaso estará aquecido; eles pedirão e chorarão doidos de fome. A pobre mãe mal terá um pouco de pão para lhes mitigar a fome. Ora essa miséria deveria bastar; mas não: os salteadores virão rebuscar tudo... Tudo lhes será tirado.
HUIZINGA, Johan. O declínio da Idade Média. Tradução de Augusto Abelaira. Lisboa: Ulisseia, 1985. p. 45.
1 A que problemas enfrentados pelas pessoas pobres desse período o autor faz referência nesse texto?
a) Ele se refere apenas à fome.
b) São apontados os problemas relacionados à fome e às guerras entre os senhores feudais.
c) Ele se refere somente às revoltas populares.
d) O autor faz referência à fome, ao frio e à violência gerada pela miséria.
e) O autor não se refere aos pobres, mas à corte que o ouvia.
2 Com base em seus conhecimentos sobre o tema, exponha algumas das razões para a situação de miséria relatada no texto.
quarentenas: períodos de isolamento a que um grupo de indivíduos era submetido para evitar o contágio em episódios de epidemias.
34
História
A Peste Negra se apresentava de duas maneiras. Havia a peste bubônica, que foi assim
denominada por causar bubões (grandes feridas negras, em virtude da coagulação do sangue,
que se manifestavam principalmente nas axilas e na virilha). Nesse caso, a doença era trans-
mitida pela picada da pulga do rato contaminado e demorava até três semanas para causar
a morte da pessoa infectada. Havia também a peste pneumônica, transmitida de indivíduo
para indivíduo. Essa manifestação da doença era mais cruel do que a bubônica, pois matava
as vítimas entre dois ou três dias, pe-
ríodo em que se observava intenso
sofrimento.
Fonte: DUBY, George. Atlas histórico mundial. Madrid: Larousse, 1997. Adaptação.
Expansão da Peste Negra
PESTE Negra. 1411. 1 miniatura, 36 cm × 23 cm. ID: 78 E 1, fol. 80 verso
(número do inventário) | 819062. Museu Staatliche, Berlim.
PESTE Negra 1411 1 miniatura
Nessa sociedade, os membros da Igreja eram os principais detentores
do saber. Como a ciência ainda não tinha conhecimento sobre vírus e bactérias, as explicações para a ocorrência de doenças eram, em geral, relacionadas à vontade divina.
©M
use
u S
taa
tlic
he
, Be
rlim
Ta
lita
Ka
thy
Bo
ra
Observe, no mapa, as regiões afetadas pela Peste Negra.
35
Para muitos indivíduos que viveram naquela época, a Peste Negra era um castigo de Deus
diante dos pecados cometidos pelas pessoas. Para aplacar a “ira” divina, a Igreja organizava
procissões que percorriam as cidades. Algumas dessas procissões contavam com a presença
de monges flagelantes – que se chicoteavam na expectativa de que, com esse sacrifício, Deus
acabasse com a epidemia.
A Peste Negra atingiu a todos, nobres,
religiosos, burgueses e camponeses, e
trouxe grandes consequências à socieda-
de do final da Idade Média. Esses efeitos
não se limitaram ao aspecto demográfi-
co, isto é, ao número da população; en-
volveram principalmente as relações so-
ciais. O medo e as incertezas quanto ao
futuro fizeram com que valores como a
caridade, a solidariedade e a compaixão
fossem substituídos por egoísmo e te-
mor. A própria ideia do poder infinito de
Deus, que tanto caracterizava a socieda-
de medieval, começou a ser questionada.
PROCISSÃO de flagelantes durante um surto da Peste Negra. [13--]. 1 iluminura. Biblioteca Real da Bélgica, Bruxelas.
Representação de uma procissão dos monges flagelantes
Nas áreas urbanas, o acúmulo de lixo, a convivência com animais e a aglomeração de pes-
soas facilitaram muito a transmissão da doença em suas duas formas. Em algumas cidades,
as autoridades instituíam a quarentena, ou seja, isolavam quarteirões ou bairros contamina-
dos. No entanto, isso não resolvia o problema, uma vez que os ratos iam e vinham pelo local.
As autoridades e a medicina da época não asso-
ciavam a doença aos ratos. As atitudes das pessoas
e as ações tomadas diante das mortes e da própria
doença variavam, refletindo características da so-
ciedade de cada região e padrões de mentalidade
da população.
A busca aos responsáveis pela disseminação da
doença gerou um aumento da violência nas cidades.
Em algumas regiões, os judeus e os leprosos foram
classificados como culpados pela epidemia. Sob a
acusação de terem envenenado os poços de água,
muitos foram perseguidos.
A Peste Negra, contudo, era transmitida pelo ar
e pelo contato físico, como mencionado anterior-
mente. Aos poucos, os médicos medievais identifi-
caram essa possibilidade e passaram a pedir às pessoas que queimassem incensos e ervas
aromáticas nas ruas. Porém, as pulgas de ratos não foram identificadas como transmissoras
das doenças.
Muitos burgueses ricos fugiam da cidade e isolavam-se em propriedades no campo. Ou-
tros aproveitavam a crise social ocorrida com a peste para criticar a Igreja e as autoridades.
WOLGEMUT, Michael; PLEYDENWURFF, Wilhelm. Judeus queimados vivos. 1493. 1 gravura. In: SCHEDEL, Hartmann. Crônicas de Nuremberg. Biblioteca Estatal da Baviera, Munique.
©B
ibli
ote
ca R
ea
l d
a B
élg
ica
©B
ibli
ote
ca E
sta
tal
da
Ba
vie
ra, M
un
iqu
e
36
História
Leia o texto a seguir e responda às questões propostas.
interpretando documentos
BOCCACCIO, Giovanni. Decameron. In: SILVA, Francisco C. T. da. Sociedade feudal: guerreiros, sacerdotes e trabalhadores. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 73.
1 De acordo com o texto de Boccaccio, por que as pessoas abandonavam os familiares?
2 Explique o significado da frase: “O evento tornou-se tão banal que não mais se tratavam os que morriam com mais carinho do que se cuida hoje das cabras...”.
Guerras e revoltasAlém da fome e da Peste Negra, um terceiro elemento contribuiu para a crise que afetou a
Europa feudal no século XIV – as guerras e as revoltas. É importante destacar que há certo grau
de relação entre esses três elementos. Isso porque a insegurança causada pela fome e o temor
em relação às epidemias geraram um clima propício para que ocorressem revoltas isoladas e
locais, bem como conflitos armados envolvendo diversos senhores feudais e casas reais.
A partir da segunda metade do século XIV, inúmeros
conflitos sociais eclodiram na Europa, tanto no campo
quanto nas cidades. Em um deles, ocorrido por volta de
1301, os artesãos da região de Flandres (Holanda) che-
garam a tomar o poder. No mesmo período, em Florença
(Itália), os trabalhadores têxteis também se revoltaram.
MESTRE de Margaret de York. Camponeses assassinam cavaleiro. [1470-1490]. Fr.87, folha 299 versos. Biblioteca
Nacional da França.
As revoltas atingiram principalmente a nobreza rural, colaborando para a decadência do sistema feudal
©O
ron
oz/
Alb
um
/Alb
um
/Fo
toa
ren
a
A calamidade lançara tanto pavor e inquietude no peito dos homens e das mulheres, que um irmão deixava o outro; o tio abandonava o sobrinho; a irmã, o irmão; e, não raras vezes, a esposa abandonava o marido. Pais e mães evitavam ir visitar e prestar ajuda aos próprios filhos... Os cadáveres eram retirados das residências e colocados à frente da porta da casa... Os infelizes nem por isso eram homenageados por uma lágrima, uma vela ou algum séquito. O evento tornou-se tão banal que não mais se tratavam os que morriam com mais carinho do que se cuida hoje das cabras...
séquito: conjunto de pessoas que acompanham um cortejo.
37
Foi nas regiões onde atualmente estão a França e a Inglaterra que aconteceram os prin-
cipais conflitos envolvendo camponeses e senhores. Nesses reinos, além dos problemas ge-
rados pela peste, havia a revolta dos camponeses contra o aumento de impostos.
Na Inglaterra, o principal conflito foi a Revolta de Wat Tyler, em 1381. A motivação foi a
criação de um imposto para financiar a luta contra os franceses.
Na região da França, a mais popular das revoltas ocorreu em
1358, a Jacquerie. No princípio, as investidas aconteceram nos
arredores de Paris e, posteriormente, propagaram-se para outras
regiões.
Em geral, todas essas revoltas estão ligadas à situação de mi-
séria e violência a que estavam submetidos os camponeses, além
da pressão de suas obrigações feudais.
Além das rebeliões camponesas ocorridas na França e na In-
glaterra, aconteceram outras nas regiões da Península Itálica e da
Península Ibérica. Mesmo com o rigor usado na contenção dessas revoltas, com o tempo,
houve melhora nas condições de trabalho dos servos. Nas cidades, os artesãos também se
rebelaram.
REVOLTA de Wat Tyler. 1385. Biblioteca Royal MS 18.Ei-ii f. 175.
Na imagem, o prefeito de Londres, William Walworth, golpeia Wat Tyler. O rei Ricardo II aparece duas vezes nessa ilustração: em um primeiro momento, ele olha para o confronto; do lado direito, conversa com os soldados.
As revoltas camponesas romperam os laços do regime de servidão que ligava os se-
nhores feudais aos trabalhadores do campo. Considerando o contexto histórico, os cam-
poneses tinham razão de se revoltarem contra seus senhores? Converse com os colegas e
anote no caderno as ideias que surgirem.
troca de ideias
O termo “Jacquerie” deriva de
Jacques Bonhomme – apelido
dado a Guillaume Cale, suposto
líder do levante. Com o tempo,
a denominação passou a ser
usada de modo pejorativo para
se referir aos camponeses e às
próprias revoltas no campo.
©B
ibli
ote
ca R
oy
al,
In
gla
terr
a
38
História
Guerra dos Cem AnosNo final da Idade Média, ingleses e franceses se envolveram em um longo conflito, de-
nominado Guerra dos Cem Anos, que durou 116 anos (1337-1453) de forma descontínua.
A motivação política do conflito foi a sucessão do trono francês. A disputa se deu entre Filipe
de Valois, proclamado rei da França depois da morte de Carlos IV (último da dinastia dos Cape-
tos), e Eduardo III da Inglaterra, que se considerava herdeiro do trono francês pela linha materna.
Contudo, na França, a Lei Sálica impedia a sucessão monárquica por linhagem materna. Por isso,
Filipe de Valois assumiu o poder com o título de Filipe VI.
A disputa pela região de Flandres, importante centro comercial e produtor de tecidos, am-
pliou a motivação para o conflito, envolvendo também a economia naquela conjuntura. Na épo-
ca, Flandres pertencia à França, pelos laços de vassalagem. No entanto, para produzir seus te-
cidos, os artesãos flamengos dependiam da lã inglesa. Assim, o rei inglês reivindicava o trono
francês por questões sucessórias e comerciais.
A Guerra dos Cem Anos teve períodos al-
ternados de lutas e tréguas. Casamentos entre
membros da nobreza eram arranjados em uma
tentativa de selar a paz entre os dois reinos.
Outros motivos para a interrupção das lutas
foram a Peste Negra e a proibição dos confron-
tos armados pela Igreja durante os períodos de
Quaresma.
A primeira fase de lutas foi marcada pelas
derrotas dos franceses em famosas batalhas,
como a de Crécy, em 1346.
Ao longo da guerra, os ingleses mostra-
ram-se superiores aos franceses em técnicas e
parte do exército francês ser composta de no-
bres e cavaleiros e, no exército inglês, os ho-
mens servirem sob contrato e receberem um
pagamento. Assim, diferentemente dos fran-
ceses, eles não lutavam por laços de fidelidade
e vassalagem.
Aos poucos, o feudo deixou de ser o único local para o recruta-
mento, pois nas cidades também se encontravam homens para os
exércitos. Foi entre os ingleses que o uso dos soldados profissionais
se popularizou.
A superioridade das tropas inglesas também se devia ao fato de
que, além de terem armamentos de melhor qualidade, estavam sub-
metidas a uma rígida disciplina militar. Além disso, sem uma armadu-
ra pesada, os soldados podiam se movimentar com mais rapidez que
os franceses. Experientes, os arqueiros ingleses conseguiam atingir
os cavaleiros nas partes vulneráveis da armadura.
VIRGIL, Master. Eduardo III contando os mortos da Batalha de Crécy. 1410. Biblioteca Royal MS 18. Ei-ii f. 175.
Eduardo III, rei da Inglaterra, após a vitória na Batalha de Crécy
Os homens que lutavam
sob contrato firmado com
o rei inglês recebiam um
pagamento por suas atividades,
denominado soldo. Por isso, ao
longo da guerra, eles ficaram
conhecidos como “homens
a soldo” ou “soldados”.
©W
ikim
ed
ia C
om
mo
ns
39
As batalhas aconteceram em território francês. No início da guerra, os ingleses vence-
ram várias batalhas e conquistaram parte da Normandia. Depois de uma série de reviravol-
tas, algumas protagonizadas por uma jovem camponesa chamada Joana D’Arc, os franceses
se recuperaram, e a paz finalmente foi restabelecida em 1453, quando o exército francês
expulsou os ingleses de seu território, exceto do porto de Calais.
Joana D’Arc nasceu em 1412 na região de Lorraine, na França. Era uma menina religiosa,
como grande parte dos camponeses da época. Durante a Guerra dos Cem Anos, Joana D’Arc
disse ter recebido ordens vindas das vozes que ouvia para que fosse à cidade de Orléans e
comandasse um levante contra os ingleses. Ela recebeu apoio do rei Carlos VII, que se con-
venceu de que a moça agia guiada por desígnios divinos. Joana D’Arc teria comandado um
exército de cerca de 4 mil homens, em 9 de maio de 1429, para expulsar os ingleses e retomar
a cidade. A vitória nessa batalha foi muito importante
para a França, pois reacendeu as esperanças dos fran-
ceses de se libertarem do domínio inglês.
Em 1430, Joana D’Arc ingressou em outra batalha,
agora na tentativa de libertar a cidade de Compiègne,
mas foi capturada pelos borguinhões, aliados dos in-
gleses. Eles, então, acusaram-na de heresia e assassi-
nato. Ela foi julgada em Rouen e considerada culpada
e, em 30 de maio de 1431, recebeu a punição que cos-
tumavam sofrer os hereges na Idade Média: foi quei-
mada viva em uma fogueira. Séculos depois, em 1920,
Joana D’Arc foi inocentada das acusações que lhe ha-
viam sido feitas e canonizada pelo papa Bento XV.
LENEPVEU, Jules E. Joana D’Arc em armas defronte Orléans. [1886-1890]. 1 pintura mural. Panteão, Paris.
Pintura do século XIX representando Joana D’Arc em Orléans
1 Analise as afirmativas abaixo e marque V para as verdadeiras e F para as falsas.
( ) A Guerra dos Cem Anos foi um conflito entre a Inglaterra e a França.
( ) A Peste Negra atingiu poucas partes da Europa e não foi tão letal quanto as revoltas campo-
nesas.
( ) As revoltas camponesas ocorreram em virtude da situação de miséria e da opressão da servi-dão feudal.
( ) São conhecidas como crises dos séculos XIV e XV: a fome, a Peste Negra, a guerra e as revoltas
camponesas.
( ) Joana D’Arc ajudou a Inglaterra a vencer a Guerra dos Cem Anos.
organizando a história
©P
an
teã
o d
e P
ari
s, F
ran
ça
40
História
Fragmentação do sistema feudalAs consequências da crise do século XIV foram sentidas, de fato, no século seguinte na
Europa Ocidental. Manifestaram-se na forma de redução da população, crise econômica e
enfraquecimento do poder político dos
nobres (representados pelos senhores
feudais), o que resultou no fortaleci-
mento dos reis e na centralização do
poder.
Os nobres sofreram com a ausên-
cia de mão de obra porque muitos dos
camponeses que sobreviveram às guer-
ras e às pestes foram para as cidades,
onde poderiam trabalhar com o comér-
cio. Embora a terra ainda representas-
se uma importante fonte de riquezas e
prestígio social, já não era mais a úni-
ca alternativa para a sustentação da
sociedade.
Em face da redução gradual de seu
poder, a nobreza buscou uma compen-
sação ao investir no refinamento de
seus hábitos e de seu vestuário. Os bur-
gueses enriquecidos se uniram aos no-
bres, por meio de casamentos, visando
à obtenção de status e projeção social.
LIEDET, Loyset. Banquete de casamento. 1440. 1 ilustração. In: L’HISTOIRE d’Olivier de Castille et d’Artus d’Algarbe. Biblioteca Nacional da França, Paris.
Com a redução do poder político, a nobreza buscou refinar seus hábitos
sociais e passou a influenciar a burguesia
2 Produza um parágrafo explicando a relação entre a fome, a Peste Negra e as revoltas camponesas que ocorreram no século XIV na Europa Ocidental.
©B
ibli
ote
ca N
aci
on
al
da
Fra
nça
, Pa
ris
41
1 Além do crescimento das cidades e do comércio, que acontecimentos aceleraram o fim do feudalis-mo e o início de novos tempos?
2 No final da Idade Média, aos poucos, o poder foi saindo das mãos da Igreja e dos senhores feudais. Qual foi o papel dos banqueiros e dos comerciantes nesse período?
o que já conquistei
COMERCIANTES burgueses. Crônicas da França. [séc. XV]. Biblioteca Nacional da França, Paris. Detalhe.
Burgueses comerciantes em centro urbano às margens de um rio utilizado para navegação comercial
A partir do século XV, novas estratégias empregadas nos campos político, econômico,
social e cultural redimensionaram o antigo mundo feudal. No final da Idade Média, o comér-
cio se tornou uma atividade bem estabelecida, sendo praticado principalmente pelos bur-
gueses. Também houve a monetarização das práticas comerciais com a utilização de moedas
para compra e venda de mercadorias.
A crise do século XIV na Europa acabou por resultar na ascensão de uma nova sociedade.
O vácuo deixado pela nobreza feudal foi, aos poucos, sendo preenchido pela burguesia. A
antiga economia fechada e rural deu lugar a uma nova economia baseada no comércio.
©B
ibli
ote
ca N
aci
on
al
da
Fra
nça
, Pa
ris
42
História
[...] Ela era transmitida essencialmente pelos parasitas, principalmente as pulgas e os ratos. Era uma doença exótica, contra a qual os organismos dos europeus não tinham defesas. Veio da Ásia pela rota da seda. Veja: a epidemia, essa catástrofe, é, portanto, também um dos efeitos do progresso, do crescimento. O comércio europeu desenvolvera-se, os negociantes genoveses e venezianos partiam para negociar até os confins do Mar Negro e lá entravam em contato com os mercadores vindos da Ásia.
[...] Foi da Crimeia, onde entrepostos genoveses estavam instalados, que um ou mais navios trouxeram o germe da peste para o Mediterrâneo. [...]
DUBY, Georges. Ano 1000, ano 2000: na pista de nossos medos. Tradução de Maria Regina Lucena Borges-Osório e Eugênio Michel da Silva. São Paulo: Ed. da Unesp, 1998. p. 81-86.
a) Explique a relação entre a afirmação “[...] a epidemia, essa catástrofe, é, portanto, também um dos efeitos do progresso, do crescimento” e os eventos ocorridos no século XIV.
b) Segundo o texto, como a Peste Negra chegou à Europa?
4 Que significado as revoltas dos camponeses tiveram no contexto das relações entre senhores e servos?
5 Elabore um texto que explique a relação de Joana D’Arc com a Guerra dos Cem Anos.
6 Explique como a crise do século XIV alterou a sociedade na Europa.
3 Leia com atenção a descrição que o historiador Georges Duby fez da Peste Negra.
43
Foi na cidade de Reims
que Clovis, rei dos francos,
foi batizado em 496. Desde
então, os reis passaram a
ser coroados nessa localida-
de. Em 1429, Carlos VII foi
coroado na catedral dessa
cidade. Na cerimônia, estava
presente a líder responsável
pela expulsão dos ingleses
do território francês, Joana
D’Arc. De que forma pode-
mos associar os conteúdos
já abordados sobre a Idade
Média à construção desse
monumento religioso?
Influência da Igreja Católica
Mosteiros e bibliotecas
Ensino medieval
Arquitetura medieval
Ciência
Literatura e trovadorismo
o que vocêvai conhecer
capí
tulo
A cultura medieval16
A Catedral de Reims foi construída no século
XIII. Nela, foram coroados 32 reis da França
©Shutterstock/El Greco 1973
44
História
objetivos do capítulo Analisar os principais aspectos da cultura medieval.
Compreender a importância da religião cristã e dos mosteiros para a formação da cultura medieval.
Identificar a influência cultural que os demais povos mediterrânicos exerceram sobre a Europa medieval por meio da circulação de pessoas e mercadorias.
Conhecer parte da produção artística e científica desenvolvida na Idade Média na Europa.
Influência da Igreja CatólicaA Igreja Católica foi a principal instituição na Europa Ocidental durante toda a Idade
Média, período no qual se manteve forte diante dos inúmeros reis que governaram a região.
Quando esses reis distribuíram terras aos seus guer-
reiros, a Igreja recebeu propriedades como forma de
pagamento dos impostos ou como manifestação de fé
dos nobres.
Para a maioria das pessoas que viviam na Europa
Ocidental nesse período, a Igreja era a instituição que
representava o conhecimento sobre o mundo e sobre
a História e carregava consigo a verdade. Para a po-
pulação em geral, a ideia de verdade estava na Bíblia,
que só podia ser lida em latim e manuseada por mem-
bros do clero. As explicações sobre a distribuição das
pessoas em estamentos, de acordo com a crença reli-
giosa, encontravam-se nas escrituras cristãs.
PAPA Inocêncio III. 1219. 1 afresco. Santuário do Sacro Speco, Roma.
O papa Inocêncio III representou o auge do poder político da Igreja Católica sobre os Estados europeus
Ao estudar a organização da sociedade feudal, você aprendeu as três ordens sociais que
a compunham, ou seja, clero, nobreza e servos, bem como os eventos dos quais participaram
na Idade Média. No material de apoio, desenhe uma história em quadrinhos na qual apare-
çam pelo menos três personagens, cada um pertencente a uma das três ordens, mostrando
as relações entre eles, suas obrigações e a hierarquia entre as ordens.
organizando a história
©S
an
tuá
rio
do
Sa
cro
Sp
eco
, Ro
ma
45
De acordo com a mentalidade medieval, influenciada pelo catolicismo, os demônios esta-
vam guerreando permanentemente pela posse das almas das pessoas. Isso gerava medo entre
elas, pois acreditavam que haveria uma seleção entre os bons e os maus no fim dos tempos.
Durante a Idade Média, o medo
do inferno era muito grande. Comu-
mente, ele era retratado em vitrais ou
desenhos para que os fiéis não se es-
quecessem de sua existência. As repre-
sentações mais comuns mostravam o
inferno com demônios que torturavam
as pessoas.
As dúvidas em relação ao desco-
nhecido eram respondidas pela Igreja.
Aspectos como a origem da humanida-
de ou a organização dos astros no céu,
por exemplo, eram entendidos como
ordenações divinas. Leia, a seguir, o
que o historiador Georges Duby escre-
veu sobre isso.
ANJO tocando a trombeta do Apocalipse, no final dos tempos. [séc. XIII]. 1 iluminura. In: APOCALIPSE de Burckhardt-Wildt. [1290-1300]. Biblioteca e Museu Morgan, Nova Iorque.
Na Idade Média, existia uma crença de que, no final dos tempos, os
bons seriam salvos. Essa crença foi especialmente forte na passagem do ano 999 para o ano 1000.
Estavam persuadidos de que a Terra era o centro do Universo e que Deus tinha criado apenas um homem e uma mulher, Adão e Eva, e seus descendentes. Não imaginavam que existissem outros espaços habitados. O que viam no céu, o movimento regular dos astros, era a imagem do que havia de mais próximo do plano divino de organização.
DUBY, Georges. Ano 1000, ano 2000: na pista de nossos medos. Tradução de Maria Regina Lucena Borges-Osório e Eugênio Michel da Silva. São Paulo: Ed. da Unesp, 1998. p. 137.
A presença da Igreja na vida dos indivíduos não se resumia às missas, às confissões e à
cobrança de impostos. A Igreja auxiliava as pessoas a aceitar o mundo no qual viviam e for-
necia orientação para que todos se sentissem acolhidos por Deus.
Como a formação do clero se apoiava em textos sagrados e em ensinamentos de após-
tolos e filósofos cristãos, grande parte da cultura medieval foi produzida com base nessa
mentalidade. Assim, os desenhos, a literatura, a filosofia e as músicas medievais geralmente
tinham características religiosas e estavam em diálogo com orações, textos bíblicos e ensi-
namentos de filósofos cristãos. O saber, para o indivíduo medieval, era uma revelação divina.
Se as pessoas tinham certeza de que, após a morte, iriam para outro lugar, a Igreja era a
instituição responsável por mantê-las no caminho de Deus e garantir que suas almas seriam
salvas, evitando a condenação eterna no inferno.
A desejada salvação seria alcançada se o fiel seguisse as orientações dadas pelos religio-
sos, que incluíam orar constantemente, frequentar os templos e fazer jejuns, penitências,
peregrinações e ofertas para as obras da Igreja.
©B
ibli
ote
ca e
Mu
seu
Mo
rga
n, N
ov
a I
orq
ue
46
História
Leia o texto a seguir e, depois, responda às questões propostas.
interpretando documentos
A heresia sonhava com uma outra sociedade. Não desordenada, certamente – porque qual é a sociedade que pode vingar sem ordem? – mas com uma sociedade diferentemente ordena-da, fundada numa nova concepção da verdade, das relações entre a carne e o espírito, entre o visível e o invisível. [Os hereges] negam que a comunicação com o sagrado deva forçosamente estabelecer-se por gestos e fórmulas – por ritos. Em princípio, a contestação é antirritual. Pro-clama que a graça e o espírito penetram sem mediação nas inteligências e nos corações. Razão por que de nada valem a eucaristia, o batismo, a absolvição. Nem a unção. Negação das virtudes do sacramento, o que permite lan-çar contra os heréticos uma outra acusação: eles põem em perigo a autoridade monárquica, minam os fundamentos do estado político.
DUBY, Georges. As três ordens ou o imaginário do feudalismo. Tradução de Maria Helena Costa Dias. Lisboa: Estampa, 1982. p. 154.
1 A reflexão exposta no texto nos permite concluir que:
a) não existia relação entre o poder da Igreja e o poder dos senhores feudais.
b) a heresia só atingia a autoridade do clero, portanto não era uma ameaça para o poder político.
c) os rituais da Igreja Católica, como a missa e a confissão, eram secundários para essa religião.
d) os hereges acreditavam que a autoridade da Igreja era fundamental para o bem-estar da socie-dade.
e) o poder da Igreja e dos reis se manifestava por meio de ritos e gestos – atingir um deles signifi-cava ameaçar o outro.
2 É correto afirmar que, no contexto da Idade Média, mudar os princípios religiosos seria equivalente a transformar a própria sociedade feudal? Justifique sua resposta.
3 Descreva como seria a sociedade organizada com base no pensamento dos hereges, de acordo com o trecho.
4 De acordo com o texto, qual era a grande crítica dos hereges contra a Igreja?
heresia: doutrina e interpretação religiosas que não são aprovadas pela Igreja Católica, consideradas como “desvios de fé”.
47
©Shutterstock/Sokolean
Mosteiros e bibliotecas A Igreja foi responsável por grande parte da preservação da cultura greco-romana. Os
antigos manuscritos gregos e latinos eram copiados por monges e guardados em seus mos-
teiros, abadias e bibliotecas. Muitos desses materiais eram usados nas escolas fundadas pela
Igreja, que tinham como objetivo formar clérigos e atender às necessidades dos cultos.
Os membros do clero eram divididos entre o clero secular, que participava da adminis-
tração da Igreja e da vida nas paróquias, e o clero regular, formado por religiosos que viviam
sob a disciplina de uma regra religiosa. Estes “abandonavam o mundo”, passando a viver em
mosteiros e abadias, onde se dedicavam aos estudos, às práticas religiosas, à leitura e à cópia
dos textos da Antiguidade Clássica.
Os mosteiros, normalmente, ficavam em locais isolados no
alto de montanhas ou em lugares retirados das partes povoadas
das vilas, para que os monges pudessem se dedicar a uma vida de
silêncio, voltada à contemplação e às orações.
A Antiguidade Clássica refere-
-se às antigas Grécia e Roma.
A vida nos mosteiros medievais era baseada em uma constante rotina. Eram as chamadas
regras monásticas, que todo monge ou monja deveria seguir. Em cada mosteiro vigorava um
tipo de regra, de acordo com o fundador da ordem, ou seja, do estilo de vida religiosa que se
buscava. Além de serem a casa vitalícia dos religiosos e das religiosas que optavam por uma
vida monástica, os mosteiros eram lugares de produção, reprodução e conservação dos sa-
beres. Os monges procuraram armazenar diversos conhecimentos da Antiguidade; para isso,
copiaram e guardaram inúmeros documentos nos mosteiros e criaram uma ordenação para
os saberes, dando forma à cultura medieval. Além disso, tinham um papel ativo na formação
da liturgia das igrejas. Desse modo, os sermões que eram lidos nas missas refletiam as refle-
xões e os estudos realizados nos mosteiros, proporcionando a difusão de saberes.
©Shu©Shu©Shu©Shu©Shu©Shu©Shu©ShuS uShuh tterttertterttertterttertterteerererererererrre stotstocstocstoctstocstoctstoct ccstocstocstocstocstocstocstococcs k/Sok/Sok/Sokk/Sok/Sok/Sok/So/Sok/k/Sok/Sok/So/SSok/Sok/Sok/Sok/Sok/Sk/Sok/Sok/k/Sokk/k Sok ok ookolekolekolekolekolekolekolekokolekolekolekolekolekolekolekolekoleolekoleolokooleko eananannanananananananaanananananan
Construído durante a Idade Média, o Mosteiro de Montserrat foi parcialmente destruído em períodos
de guerra. Em 1940, foi reconstruído.
48
©Jorge Royan/www.royan.com.ar/CC BY-SA 3.0
Os documentos produzidos como
fruto do trabalho dos monges foram
catalogados em grandes bibliotecas
de acesso restrito. Essas coleções
bem ordenadas de livros se constituí-
ram em recursos para pesquisas cien-
tíficas e reflexões filosóficas que pos-
sibilitaram o avanço das mais diversas
áreas do conhecimento.
ROYAN, Jorge. Biblioteca da Abadia de Göttweig. 1083. 1 fotografia, color. Áustria.
A Biblioteca da Abadia de Göttweig, construída no século XI, conta com mais de 150 mil livros, além de uma
coleção de iluminuras medievais e moedas antigas.
Você já foi a uma biblioteca? Sabe se existe alguma perto de onde você mora? Con-
verse com os colegas e descubra se algum deles já conheceu uma biblioteca. Depois, res-
pondam às questões.
1. As bibliotecas ainda são importantes?
2. É possível dizer que a internet se tornou um tipo moderno de biblioteca?
troca de ideias
Em muitas regiões do continente, os mon-
ges eram a única classe letrada; mesmo os mem-
bros da nobreza eram, em geral, analfabetos.
Portanto, os monges formaram uma elite inte-
lectual na Idade Média, não só no campo religio-
so, mas em todas as áreas científicas conhecidas
no período, como a Astronomia, a Matemática e
a Lógica. Os reinos recorriam frequentemente a
esses homens para a administração de seus go-
vernos. O poder dos mosteiros, nesse sentido,
era enorme.
SAAVEDRA, Antonio del Castillo. Santo Tomás de Aquino. [séc. XVII]. 1 óleo sobre tela, color., 225 cm × 115 cm. Museu
de Belas Artes de Córdoba, Córdoba.
Santo Tomás de Aquino, o chamado Doutor Angélico, foi um dos maiores intelectuais da História – responsável pelo resgate
da Filosofia produzida na Antiguidade, como textos de Platão e Aristóteles – e um dos mais importantes professores da
Universidade de Paris.
©M
use
u d
e B
ela
s A
rte
s d
e C
órd
ob
a, C
órd
ob
a
49História
O texto a seguir reproduz algumas das regras que eram seguidas pelos monges da Or-
dem de São Bento. Leia-o e, depois, faça o que se pede.
interpretando documentos
Capítulo 33 – Se os monges devem possuir alguma coisa própria
Seja tudo comum a todos, como está escrito, nem diga nem tenha alguém a presunção de achar que alguma coisa lhe pertence.
Capítulo 48 – Do trabalho manual cotidiano
A preguiça é inimiga da alma; por isso, em certas horas devem ocupar-se os irmãos com o trabalho manual, e em outras horas com a leitura espiritual. Pela seguinte disposição, cremos poder ordenar os tempos dessas duas ocupações: [...] saindo os irmãos pela manhã, trabalhem [...] naquilo que for necessário. [...] entreguem-se à leitura. Depois [...], levantando-se da mesa, repousem em seus leitos com todo o silêncio; se acaso alguém quiser ler, leia para si, de modo que não incomode a outro.
Capítulo 55 – Do vestuário e do calçado dos irmãos
Sejam dadas vestes aos irmãos de acordo com as condições e temperatura dos lugares em que habitam porque, nas regiões frias, tem-se necessidade de mais, e nas quentes, de menos. [...] Não se preocupem os monges com a cor e qualidade de todas essas coisas, mas sejam as que se puderem encontrar no lugar onde moram e as que puderem ser adquiridas mais barato. [...] Os que recebem novas entreguem sempre, ao mesmo tempo, as velhas, que devem ser re-colocadas na rouparia, para os pobres. [...] E devolvam também os calçados e tudo o que está velho, quando recebem os novos. Como peças que guarnecem o leito, bastam uma esteira, uma colcha, um cobertor e um travesseiro.
NÚRSIA, São Bento de. Regra de São Bento. São Paulo: Família Católica, 2018. p. 34-59.
Com base nessas regras, produza um parágrafo descrevendo como seria o cotidiano dos monges. Depois, faça um desenho que ilustre parte da rotina desses religiosos.
50
História
Ensino medievalAs escolas medievais surgiram no entorno das catedrais (escolas catedra-
lísticas) e dentro dos mosteiros (escolas monásticas). Os objetivos da educação
promovida eram muito específicos: ler salmos e orações e escrever poemas e preces para
Deus e para os santos.
Tanto nas escolas catedralísticas como nas monásticas, ofereciam-se cursos que tinham
como fundamento o ensino do latim, língua utilizada pela Igreja Católica. Os primeiros alu-
nos eram pessoas que ansiavam por uma vida religiosa. Com o tempo, integrantes da nobre-
za que não tinham esse propósito também passaram a procurar uma formação educacional.
As escolas leigas, não religiosas, foram fundadas na Baixa Idade Média em razão das
transformações ocasionadas pela ampliação do comércio e pelo crescimento das cidades,
fatos que tornaram a busca pelo conhecimento uma necessidade.
O termo “escola” tem origem na filosofia
da Igreja Católica desenvolvida na Idade Mé-
dia, a Escolástica, pensamento que combina
princípios cristãos com a filosofia de Aristóte-
les. A obra-prima do pensamento escolástico,
escrita no final do século XIII, é a Suma Teoló-
gica, de Santo Tomás de Aquino, que trata de
diversos assuntos (religiosos, filosóficos, po-
líticos e econômicos). A Escolástica definiu o
currículo dos estudos desenvolvidos nas pri-
meiras universidades europeias, sendo consi-
derados dois conjuntos de disciplinas:
o Trivium, constituído por Gramática, Re-
tórica e Lógica;
o Quadrivium, constituído por Aritmética,
Geometria, Astronomia e Música.
A partir de então, as instituições que es-
tabeleciam grades curriculares foram chama-
das de “escolas”.
ALUNOS de Santo Tomás de Aquino. 1974. 1 selo. Alemanha.
Selo comemorativo dos 700 anos da morte de Santo Tomás de Aquino apresentando
uma ilustração que retrata alunos em uma escola medieval.
A universidade surgiu no século XII como uma corporação de ofício. Nela havia regula-
mentos internos por meio dos quais se defendia o produto dessa instituição: o ensino. Ini-
51
O pensamento filosófico medieval era
elaborado com base em pensadores cris-
tãos, como Santo Agostinho (354-430), na
Alta Idade Média, e Santo Tomás de Aquino
(1225-1274), na Baixa Idade Média. Busca-
va-se conciliar elementos da Filosofia clás-
Aristóteles, com os princípios da doutrina
cristã. Contudo, durante o século XIII, as
universidades europeias sofreram grande
influência de pensadores muçulmanos,
como Averróis e Avicena, cujos estudos ti-
nham como base a Filosofia.
Os alunos entravam na universidade por volta dos 14 anos e as etapas que compreen-
diam o Trivium e o Quadrivium tinham duração variada, dependendo do rendimento escolar
de cada um. Em média, cursavam oito anos. Em seguida, os estudantes se preparavam para
exercer um ofício ou se especializavam nas áreas de Teologia, Medicina ou Direito.
A Igreja era responsável pela educação dos filhos dos nobres, que, muitas vezes, os en-
tregavam ainda crianças aos mosteiros, onde eram alfabetizados e instruídos em Filosofia,
Medicina, Direito e Teologia. Es-
ses meninos, com apurada forma-
ção, eram encaminhados, geral-
mente, para cargos de destaque
dentro da hierarquia da Igreja e,
no futuro, podiam se tornar, por
exemplo, bispos, cardeais e até
papas.
CHAMPAIGNE, Philippe de. Santo Agostinho. [séc. XVII]. 1 óleo sobre tela, color., 78,7 cm × 62,2 cm. Museu de Arte de
Los Angeles, Estados Unidos.
Santo Agostinho de Hipona foi um dos fundadores do pensamento católico e ficou conhecido por sua obra Confissões. Santo Tomás de
Aquino recebeu forte influência desse pensador.
AULA de Filosofia na Universidade de Paris, França. [séc. XIV]. 1 iluminura. In: LES GRANDES Chroniques de France. Biblioteca Municipal, Castres. Detalhe.
Nas universidades medievais, um grupo
de alunos escolhia o professor com quem queria aprender
©M
use
u d
e A
rte
de
Lo
s A
ng
ele
s, E
sta
do
s U
nid
os
©B
ibli
ote
ca M
un
icip
al,
Ca
stre
s
52
História
Arquitetura medievalEntre os séculos XI e XIII predominou na Europa um estilo de construção e de arte chamado
românico. Eram edificações austeras e robustas, também utilizadas como proteção contra inva-
sões. Representavam ainda a ideia de isolamento do mundo exterior, associada à intenção de
assegurar ao fiel um ambiente silencioso para poder conversar com Deus.
As igrejas românicas eram ornamentadas com representações que se aproximavam dos
elementos presentes na vida dos camponeses, como esculturas de animais ou desenhos de
cenas do cotidiano.
A partir do século XIII, no meio urbano, um novo estilo arquitetônico se desenvolveu, o
gótico. Muito altas, as construções góticas se destacavam pela presença da luz no interior,
difundida através dos vitrais.
Leia a seguir um resumo das características desses dois estilos que marcaram a Idade
Média.
As mulheres também se destacaram nos estudos na Idade Média. É o caso da madre superiora Hildegard de Bingen. Faça uma pesquisa para obter mais informações sobre ela.
1. Quando e onde viveu Hildegard de Bingen?
2. Quais foram suas contribuições para a ciência e a religião?
3. Era comum a presença de mulheres nas universidades durante a Idade Média?
pesquisa
REVELAÇÃO a Hildegard de Bingen. 1 iluminura. Codex.
Hildegard de Bingen recebe uma inspiração divina e a transmite ao escriba
românico se sobressaiu na Alta Idade Média, deriva da arquitetura romana e tem como
características principais: arcos, paredes baixas e grossas, pesadas pilastras de sustentação,
gótico, fortemente representado na Baixa Idade Média, foi o estilo de arquitetura fa-
vorito na construção das catedrais a partir do século XIII e apresenta como características
principais: linhas verticais, paredes finas, abóbadas nervuradas, arcos ogivais, rica decoração
esculpida na fachada exterior e um grande número de vitrais coloridos produzindo ampla
iluminação no interior das construções.
©R
up
ert
sbe
rge
r C
od
ex
de
s L
ibe
r S
civ
ias
53
igrejas e mosteiros.
CATEDRAL de Speyer, Alemanha.
Estilo românico
CATEDRAL de Notre-Dame, Paris.
Estilo gótico
Para o homem medieval, mosaicos, painéis, vitrais, relevos e outras composições obser-
vadas em igrejas e catedrais tinham principalmente um papel didático. As representações
registradas nessas estruturas facilitavam a compreensão das mensagens religiosas por parte
daqueles que não sabiam ler e escrever.
Consulte o material de apoio e observe as imagens de algumas construções medievais.
Assinale com um R aquelas que representam o estilo românico e com um G as que corres-
pondem ao gótico.
organizando a história
CiênciaO conhecimento científico desenvolvido na Idade Média possibilitou, no século XVI, já na
Idade Moderna, a chamada Revolução Científica. Embora a Igreja Católica limitasse o avan-
ço de algumas áreas de pesquisa, a ciência ganhou um
forte impulso a partir do século XIII, graças ao cres-
cimento do número de universidades, ao progresso
econômico que se obteve com a expansão do comér-
cio marítimo e às trocas culturais que esse desenvol-
vimento promoveu entre os sábios do norte da África,
do Oriente Médio e da Europa.
Os árabes foram os principais responsáveis pelo
conhecimento matemático desenvolvido no Ocidente. Por essa razão, até a atualidade, utilizamos os números arábicos de forma universal.
ÁRABE e europeu praticando geometria. [séc. XV]. 1 manuscrito. In: LES CAHIERS de Science et Vie, n. 114.
©C
ah
iers
de
Sci
en
ce e
t V
ie, n
. 11
4
©S
hu
tte
rsto
ck/T
tstu
dio
©S
hu
tte
rsto
ck/C
hb
au
m
54
História
O próprio método científico tem origem medieval. O fra-
de franciscano Roger Bacon (1214-1294) estudava matemá-
tica com base em fontes árabes. Defendia o empirismo e um
método científico rudimentar. Teve seus escritos condenados
pela Igreja Católica e ficou enclausurado por 14 anos. Leia, a
seguir, a expressão de seu pensamento.
BOARD, Ernest. Roger Bacon em seu observatório de Oxford. 1 óleo sobre tela. Londres, Inglaterra.
Sem experimentos, nada pode ser adequadamente co-nhecido. Um argumento prova teoricamente, mas não dá a certeza necessária para remover toda a dúvida; nem a men-te repousará na visão clara da verdade se não a encontrar pela via do experimento. [...] O argumento mais forte não prova nada enquanto as conclusões não forem verificadas pela experiência.
Muitos foram os pensadores medievais que contribuíram para o avanço das ciências durante o período. Pesquise dois deles: o filósofo persa Avicena (980-1037) e o pensador francês Nicolau Oresme (1323-1382). Identifique quais áreas de conhecimento eles estudaram e de que forma suas ideias colaboraram para o desenvolvimento científico. Registre no caderno as informações encontradas.
pesquisa
NICOLAU Oresme escrevendo o Tratado de Esperança. 1 miniatura. Biblioteca Nacional da França, Paris.
RETRATO de Avicena.
© W
ell
com
e I
ma
ge
s
©F
ine
Art
Im
ag
es/
Alb
um
/Alb
um
/Fo
toa
ren
a
WOODS JR., Thomas E. Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental. Tradução de Élcio Carillo. São Paulo: Quadrante, 2008. p. 90.
Roger Bacon destacou a necessidade da experiência para a comprovação das hipóteses
criadas, o que contribuiu para desenvolvimento do conhecimento científico. Sem testar, ana-
lisar e pesquisar, não seria possível comprovar tese alguma.
55
Literatura e trovadorismo-
sente nos cultos religiosos. Uma das expressões musicais desenvolvidas nessa época foi o
canto gregoriano.
Na Baixa Idade Média, a música se popularizou, sendo toca-
da em festas nos castelos.
canção de gesta, a poesia lírica e o ro-
romance cortês surgiu da síntese entre a poesia épica e a cortês, relatando batalhas épicas,
amores e paixões.
Alighieri, com A divina comédia; Boccaccio, com Decamerão;
e Geoffrey Chaucer, com Os contos de Canterbury.
OLIVEIRA, Halley Pacheco de. Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro. 1 fotografia, color.
Monges beneditinos entoando um canto gregoriano no Natal de 2009 no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro
canção de gesta: canção que celebra grandes feitos históricos.
poesia épica
no uso de armas e a lealdade do cavaleiro ao suserano.
poesia trovadoresca
Os trovadores destacam-se entre os maiores poetas da Idade Média. Esse estilo literário
e versavam sobre as aventuras dos cruzados, as lutas contra os muçulmanos ou assuntos do
cotidiano. As cantigas trovadorescas se dividiam
em quatro categorias: de amor, de amigo, de
escárnio e de maldizer, cada qual com um estilo
próprio. O trovadorismo entrou em decadência
a partir do século XIV.
A imagem mostra uma das ilustrações do pintor e desenhista francês Gustavo Doré para compor o livro
A divina comédia, de Dante Alighieri.
DORÉ, Gustave. O diabo coroado rei do inferno. [18--]. 1 ilustração com bico de pena sobre papel. Biblioteca Nacional da França, Paris.
O canto gregoriano recebeu
esse nome em referência ao
papa Gregório I (590-604),
responsável por organizar a
forma como se aprendia a música
necessária para acompanhar
as celebrações religiosas.
56
História
Diferencie a poesia épica da poesia trovadoresca.
organizando a história
As catedrais europeias foram construí-
das entre os séculos XI e XII. No continente
americano, a arquitetura se desenvolveu
sobretudo a partir do século XIV, com a
construção dos grandes templos dedicados
aos deuses astecas.
Construído na primeira metade do sé-
culo XIV e localizado na antiga cidade de
Tenochtitlán, capital do Império Asteca,
o Templo Maior tinha o estilo do período
pós-clássico da Mesoamérica e foi dedica-
do aos deuses da guerra e da chuva. Após a conquista espanhola, o templo, que tinha
cerca de 80 metros de altura, foi destruído para a construção da Catedral da Cidade
do México.
Considerando as informações apresentadas, responda às questões a seguir.
1 É correto dizer que a arquitetura mesoamericana era inferior à europeia? Explique sua resposta.
2 -teca? Explique sua resposta.
3 Você percebe alguma similaridade entre o estilo arquitetônico asteca e os modelos predo-minantes na Europa medieval? Qual?
outras histórias
RECONSTRUÇÃO do Templo Prefeito de Tenochtitlán. 1 maquete. Museu Nacional de Antropologia, Cidade do México.
©Wikimedia Commons/Wolfgang Sauber
57
1 Leia o texto a seguir e responda às questões propostas.
o que já conquistei
A manutenção da escrita é, então, uma exclusividade dos clérigos, a tal ponto que a oposição entre letrados e iletrados recorta exatamente a divisão entre clérigos e leigos. Isso é ainda mais reforçado pelo divórcio, consagrado na época carolíngia, entre as línguas faladas, que evoluem para formar as línguas verná-culas europeias, e o latim, que, na impossibilidade de ser resta-belecido em sua pureza clássica, é mais ou menos estabilizado.
BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. Tradução de Marcelo Rede. São Paulo: Globo, 2006. p. 181.
a) Cite uma das principais diferenças apontadas no texto entre os membros do clero e os leigos.
b)
2 Numere corretamente as lacunas de acordo com a correspondência entre as informações.
1. Mosteiros
2. Igreja Católica
3. Gótico
4. Roger Bacon
5. Trovadorismo
6. Escolástica
línguas vernáculas: línguas nacionais, faladas por todas as pessoas de determinado país.
( ) Estilo arquitetônico surgido na Idade Média.
( ) Instituição que mais influenciou a cultura medieval.
( ) Filosofia católica.
( ) Cientista da Idade Média.
( ) Estilo literário medieval.
( ) Locais que ajudaram a preservar a cultura greco-romana.
3 Durante a Idade Média (até aproximadamente o século XII), o ensino escolar estava voltado para a formação religiosa. Em que momento e em quais circunstâncias a população leiga teve acesso a ele?
4 As catedrais construídas nos séculos XII e XIII apresentavam algumas diferenças quanto ao estilo arquitetônico. Indique quais eram essas diferenças.
58
2
Capítulo 16 – Organizando a história – página 54
Catedral de Pisa, na Itália
Catedral de Poitiers, na França
Catedral de Milão, na Itália
Catedral de Salisbury, na Inglaterra
©S
hu
tte
rsto
ck/J
ay
10
95
©S
hu
tte
rsto
ck/S
ylv
1ro
b1
©S
hu
tte
rsto
ck/B
ea
uti
ful
lan
dsc
ap
e
©S
hu
tte
rsto
ck/A
nit
a V
an
De
n B
roe
k
1
2
3
4