2009 Uel Portugues Artigo Ivone Volpe

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    O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS

    DA ESCOLA PBLICA PARANAENSE

    2009

    Verso Online ISBN 978-85-8015-054-4

    Cadernos PDE

    VOLUMEI

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    *Metodologia do Ensino Superior, Lingustica Aplicada no Ensino da Lngua Inglesa, Letras AngloPortuguesa, Colgio Estadual Bento Mossurunga, Ivaipor-PR.** Doutor em Filologia Portuguesa pela USP (1990), Bacharel e Licenciado em Letras (Portugus eFrancs) pela USP (1969), Docente de Lingustica e Lngua Portuguesa, Universidade Estadual deLondrina (UEL), Londrina-PR.

    O ENSINO DA CRNICA COMO GNERO DISCURSIVO

    Autor: Ivone Volpe Vieira *Orientador: Paulo de Tarso Galembeck **

    Resumo

    Este artigo aborda a necessidade de uma reflexo acerca das caractersticas dacrnica, mostrando numa reviso de literatura, enquanto gnero discursivo.Apresenta os conceitos dados por crticos literrios e lingistas, e salienta a anlisedo gnero crnicas em contexto da lingstica numa concepo interacionista delinguagem. Explica o histrico da crnica e sua evoluo no campo literrio ejornalstico. Define o valor literrio desse gnero. Destaca suas caractersticas e suaintertextualidade. Conclui, enfatizando a crnica enquanto gnero discursivo nametodologia de ensino de Lngua Portuguesa. Os resultados demonstram que osalunos melhoram o desenvolvimento da oralidade, leitura e escrita.

    Palavras chave: Crnicas; Gneros; Caractersticas; Metodologias.

    Abstract

    This article approaches the need of a reflection concerning the characteristics of thechronicle, showing in a literature revision, while discursive gender. It presents theconcepts given by literary critical and linguists, and point out the analysis of thegender chronicles in context of the linguistics in a conception language interaction. Itexplains the report of the chronicle and your evolution in the literary and journalisticfield. It defines the literary value of that gender. It detaches your characteristics andyour intertextualidade. Is ends, emphasizing the chronicle while discursive gender inthe methodology of teaching of Portuguese Language. The results demonstrate thatthe students improve the development of the orality, reading and writing.

    Keywords:Chronicles; Genders; Characteristics; Methodologies.

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    1 Introduo

    Esta pesquisa surgiu da necessidade de reflexo acerca das caractersticas

    da crnica enquanto gnero discursivo, nela se pretendeu analisar, a Leitura e

    Escrita do Gnero Crnicas, em turmas de alunos de 8 srie, de uma escola de

    Ivaipor-PR, a fim de melhor compreender esse gnero, e encaminhar os

    educandos produo textual.

    Este texto foi produzido a partir de uma metodologia cientfica, dessa maneira,

    ele demonstra uma fundamentao em aportes tericos. Afinal, o que uma

    crnica? O significado da palavra crnica, segundo Afrnio Coutinho (1986, p.120),decorre de sua etimologia grega (khronos tempo), o relato dos acontecimentos

    em ordem cronolgica. A crnica, portanto, era um breve registro de eventos.

    Arrigucci ( 1987), ao iniciar o captulo Fragmentos sobre a Crnica, afirma o

    seguinte:

    So vrios os significados da palavra crnica. Todos, porm,implicam a noo de tempo, presente no prprio termo. Quando o

    crtico, aps discorrer a respeito da Crnica, aborda a produo deRubem Braga, nos diz: A diferena essencial que, para Braga, acrnica a forma complexa e nica de uma relao do Eu com omundo, um modo de expresso pessoal e um meio de apreender eexprimir certos valores. (ARRIGUCCI, 1987, p.51).

    Assim, os cronistas, aos poucos, deixaram de ter a inteno primeira de

    comentar e de informar e passaram a assumir um carter mais descomprometido,

    cada vez mais leve e com toques humorsticos. Os textos foram deixando de lado a

    preocupao argumentativa, opinativa e passaram a se aproximar mais da

    subjetividade e do lirismo da poesia.

    Pela leitura de Antonio Cndido, fica evidente que, por meio dos assuntos das

    crnicas,

    da composio aparentemente solta, do ar de coisa sem necessidadeque costuma assumir, ela se ajusta sensibilidade de todo o dia.Principalmente porque elabora uma linguagem que fala de perto ao

    nosso modo de ser mais natural. Na sua despretenso, humaniza; eesta humanizao lhe permite, como compensao sorrateira,recuperar com a outra mo uma certa profundidade de significado eum certo acabamento de forma, que de repente podem fazer dela

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    2 Pressupostos tericos

    2.1 Concepo de Linguagem

    A concepo de linguagem deste artigo se associa s necessidades criadas

    pelos PCN (1998) e, atualmente, pelas Diretrizes Curriculares de Lngua Portuguesa

    para a Educao Bsica (PARAN, 2008). Ambos os documentos assumem uma

    concepo de linguagem pautada em gneros discursivos, que atravessa os

    contedos estruturados na dimenso objeto de conhecimento. Dessa forma,segundo Bakthin (2003), o discurso como prtica social se torna uma unidade

    concreta e real da atividade comunicativa entre os sujeitos situados em contextos

    histricos e sociais, o que reflete na linguagem uma atividade social e interativa.

    Compreender essa relao fundamental para que no se caia to somente na sua

    normatizao, no que diz Rojo (2004), seria, portanto, um ensino que dissocia o

    texto de sua realidade social.

    O objeto de estudo da disciplina de lngua portuguesa a lngua e o contedoestruturante, portanto, o discurso como prtica social. Para isso acontecer, deve-

    se propor ao aluno uma diversidade de gneros discursivos que possibilite a

    construo de significados e a transformao da prtica social.

    Valorizam-se as contribuies de Bakhtin (2003) para a anlise do texto como

    um objeto dialgico, no qual segundo ele toda enunciao envolve duas vozes, a

    voz do eu e a do outro, pois no h discurso individual e todo discurso se constri no

    processo de interao e em funo do outro.Quando se assume a lngua como interao, em sua dimenso discursivo-

    textual, o mais importante criar oportunidades para o aluno refletir, construir,

    considerar hipteses a partir da leitura e da escrita de diferentes textos, que se

    efetiva nas diferentes instncias sociais. Por isso, no poderia de deixar de ser

    estudada neste momento: o gnero discursivo, crnica.

    O gnero discursivo defendido por Bakhtin busca alargar a compreenso dos

    diversos usos da linguagem. Para ele, o aluno deve ter contato com diversos

    gneros discursivos para perceber a possibilidade de entendimento e construo de

    significados, ampliando sua percepo de mundo.

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    Refletir a cerca da concepo de linguagem implica pensar tambm, as

    contradies, as diferenas, as teorias de pensamentos contrrios, que se

    fundamentam, no ensino de linguagem. O sujeito da linguagem varia de acordo

    com a concepo de lngua que se adote. Assim, Koch afirma que,

    para uma reflexo a respeito da leitura e da produo de crnicas, oponto de partida para a elucidao das questes relativas ao sujeito,na crnica, ser a partir de uma concepo sociointeracionista delinguagem. Defendendo a posio de que os sujeitos (re) produzem osocial na medida em que participam ativamente da definio dasituao na qual se acham engajados, e que so atores naatualizao das imagens e das representaes, sem as quais acomunicao no poderia existir. (KOCH, 2002, p.15).

    Galembeck, por exemplo, mostra que necessrio o papel ativo do sujeito,pois:

    O processamento do texto depende no s das caractersticasinternas do texto, como do conhecimento dos usurios, pois esseconhecimento que define as estratgias a serem utilizadas naproduo/recepo do texto. A Lingstica Textual enfatiza o papelativo do sujeito: o sujeito no apenas aquele que capta o sentido dotexto, mas aquele que cria (ou recria) o sentido ao interagir com otexto e inseri o texto nas formaes discursivas da sua cultura. O

    sentido deixa de ser um dado prvio, mas algo que se reconstricom base nos elementos lingsticos e na prpria organizao dotexto. (GALEMBECK, 2005, p.6,11).

    Com efeito, no existem textos fora do contexto, pois, o ser humano um ser

    histrico e social, as crnicas escritas diariamente pelos cronistas de jornais e

    revistas tm uma inteno clara, fluindo do contexto vivenciado pelos cronistas. Nas

    crnicas a seguir, a interao, concebida atravs da contextualizao, que assume

    sua forma mais ntida, que ressaltada atravs das referncias sobre um

    determinado espao:

    No Lotao

    Com o advento dos rdios transistores, o esporte, os fuxicosinternacionais e a msica popular passaram a ser nossoscompanheiros de viagem no nibus e no lotao. Por isso noestranhei ao ouvir, em surdina, areia da praia branquinha,branquinha, o vento levou o amor que eu tinha.

    (Carlos Drummond de Andrade. In: Para gostar de ler. tica,1977)

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    Ai de ti, Copacabana!

    Ai de ti, Copacabana, porque eu j fiz o sinal bem claro de que chegada a vspera de teu dia, e tu no viste; porm minha voz teabalar at as entranhas.

    Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, ecingiram tua fronte com uma coroa de mentiras; e destas risadasbrias e vs no seio da noite.

    (Rubem Braga. In: Ai de ti Copacabana. Rio de Janeiro: 1960)

    As crnicas citadas tm finalidades ideolgico-discursivas. Nesse sentido,

    observa-se que na vinculao destes textos, a uma dada situao de interao e

    espao, que faz delas enunciados e nos indica o seu gnero discursivo. Koch

    (2007), explica que fora da situao de interao (contexto, ou espao de circulaoe ou espao temporal), ela perde a dimenso de enunciado e muitas vezes do

    prprio gnero: o que era irnico em uma determinada crnica, sendo lida hoje, e

    por um interlocutor que desconhece a situao do enunciado, no conseguiria

    compreender a ironia.

    2.2 Interacionismo

    Nessa perspectiva, Koch, com preciso, afirma que,

    o sentido de um texto construdo na interao textos-sujeito e noalgo que preexista a essa interao. A leitura , pois, uma atividadeinterativa altamente complexa de produo lingsticos presentes nasuperfcie textual e na sua forma de organizao, mas requer amobilizao de um vasto conjunto de saberes no interior do eventocomunicativo. (KOCH, 2007, p.11).

    Para a mesma autora, o texto tem uma existncia independente do autor:

    Entre a produo do texto escrito e sua leitura, pode passar muitotempo, as circunstncias da escrita (contexto de produo) podem serabsolutamente diferentes das circunstncias da leitura (contexto deuso), fato esse que interfere na produo de sentido. Pode acontecertambm que o texto venha a ser lido num lugar muito distantedaquele em que foi escrito ou pode ter sido reescrito de muitasformas, mudando consideravelmente o modo de constituio daescrita. (KOCH, 2007, p.32).

    O contexto, portanto, indispensvel para a compreenso do gnero crnica,

    o primeiro passo a pesquisar a viso scio-histrica, a relao dialgica do autorcom o assunto proposto na crnica, e no seio da esfera social onde se encontra

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    inserido. Esse fato ilustrado pelas crnicas de Drummond e Braga.

    O segundo analisar a situao de interao desse gnero: Qual o cronista?

    Qual a concepo do interlocutor? Qual a sua finalidade ideolgico-discursiva?

    Como se d o seu estilo? Qual a sua viso de mundo? Esses aspectos englobam a

    anlise de dimenso social e histrico do gnero crnica. O terceiro passo,

    articulado com os anteriores, seria buscar o modo de funcionamento do gnero em

    sua dimenso verbal, isto , sua forma estrutural. Em Bakhtin, pode-se ler,

    que a verdadeira substncia da lngua no constituda por umsistema abstrato de formas lingsticas nem pela enunciaomonolgica isolada, nem pelo ato psicofisiolgico de sua produo,mas pelo fenmeno social da interao verbal, realizada atravs daenunciao ou das enunciaes. A interao verbal constitui assim arealidade fundamental da lngua. (BAKHTIN, 2003, p.223).

    As Diretrizes Curriculares da Educao de Lngua Portuguesa retomam as

    idias de Bakhtin a respeito do uso efetivo da linguagem, como ele mesmo cita:

    Texto, ento, envolve no apenas a formalizao do discurso oral ouescrito, mas o evento que abrange o antes, isto , as condies deproduo e elaborao; e o depois, ou seja, a leitura ou a resposta

    ativa. Todo texto , assim, articulao de discursos, vozes que sematerializam, ato humano, linguagem em uso efetivo. O texto ocorreem interao e, por isso mesmo, no compreendido apenas emseus limites formais (BAKHTIN, 1999, apud DCE, 2008, p. 17).

    Entende-se, portanto, que a natureza social da linguagem, o carter dialgico

    e interacional da lngua, significa reconhecer os gneros como a materializao da

    interao entre os sujeitos que, por intermdio do uso da lngua, elaboram formas

    mais ou menos estveis de discursos, os quais, segundo Bakhtin (1992), revelam a

    esfera social qual pertencem. Para a interao, necessrio tanto o domnio das

    formas da lngua quanto o das formas dos discursos.

    Esses discursos, por sua vez, concretizam-se em textos que os representam,

    denominados por Bakhtin (1979) de gneros discursivos e por Bronckart (2003) de

    gneros textuais.

    Simon, no texto: O Cotidiano Encadernado: as Crnicas no Livro percebe-

    se de forma clara a relao com a concepo interacionista de Bakhtin. Segundo o

    citado autor, o material publicado dialoga com a poca em que os textos foramescritos e com o restante da obra de cada autor, proporcionando um inestimvel

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    objeto de pesquisa para diversas reas do conhecimento.(SIMON, 2004, p.8)

    De acordo com Bakhtin (1979), o sujeito social, histrico e ideologicamente

    situado,

    que se constitui na interao com o outro. Eu sou na medida em queinterajo com o outro. o outro que d a medida do que sou. Aidentidade se constri nessa relao dinmica com a alteridade. Acrnica neste sentido, tambm dramatiza essa relao. Nela o sujeitointerage com outros discursos, de que se apossa ou diante dos quaisse posiciona para construir seu texto. A crnica, portanto, trata-se deum evento dialgico (Bakhtin), de interao entre sujeitos sociais,contemporneos ou no, co-presentes ou no, do mesmo gruposocial ou no, mas em dilogo constante.(BAKHTIN, 1979)

    Koch explica quais as pistas que os escritores habilidosos exploram e as

    escalas de recursos que utilizam para contextualizar a escrita,

    e a crnica no poderia ser diferente, cita, entre estes, as aspas, paradeterminar ironia, ceticismo, ou distanciamento crtico; o uso de sinaisde exclamao, para veicular nfase; o uso de recursos grficos, paradistinguir tipos de contedo.(KOCH, 2002, p.32).

    A compreenso da mensagem , desse modo, uma atividade interativa e

    contextualizada, pois requer a mobilizao de um vasto conjunto de saberes e

    habilidades e a insero desse saberes e habilidades na interior de um evento

    comunicativo. (GALEMBECK, 2005, p.4).

    Subjacente a essa concepo interacionista, KOCH (2008, p. 63, 64) nos d

    algumas indicaes dos conhecimentos sociocognitivo que os interlocutores devero

    articular:

    Todos os tipos de conhecimentos arquivados na memria dos atoressociais, que necessitam ser mobilizados por ocasio do processo deleitura e produo de sentido. Para que duas ou mais pessoas possamcompreender-se mutuamente, preciso que seus contextos sejam, pelomenos em parte, compartilhados, uma vez que impossvel duaspessoas partilharem exatamente os mesmos conhecimentos. Vejamosquais os tipos de conhecimentos arquivados na memria necessitam sermobilizados:

    o conhecimento lingustico propriamente dito;

    o conhecimento enciclopdico, quer declarativo (conhecimento querecebemos pronto, que introjetado em nossa memria por ouvirfalar), quer episdico (frames, scripts) (conhecimento adquiridoatravs da convivncia social e armazenado em bloco, sobre asdiversas situaes e eventos da vida cotidiana;

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    o conhecimento superestrutural ou tipolgico (gneros e tipostextuais);

    o conhecimento estilstico (registros, variedades de lngua e suaadequao s situaes comunicativas);

    o conhecimento de outros textos que permeiam nossa cultura(intertextualidade).

    Koch, j considerava que a produo de linguagem constitua,

    atividade interativa altamente complexa de produo de sentidos, quese realiza, evidentemente, com base nos elementos lingsticospresentes na superfcie textual e na sua forma de organizao, mas

    que requer no apenas a mobilizao de um vasto conjunto desaberes (enciclopdico), mas a sua reconstruo e a dos prpriossujeitosno momento da interao verbal.( KOCH, 2004, p.33).

    Portanto, impossvel fazer uma leitura sem contextualizar as condies de

    produo, da situao do enunciado (quem fala, com quem, quando, onde, em que

    condies, com que propsito, etc.), ou seja, um conjunto de fatores que

    determinam a compreenso da produo de leitura, principalmente de crnicas,

    pois, foram escritas em um jornal, em um determinado dia, e que hoje est editada

    em um livro literrio.

    por isso, que ressaltamos: O poeta, afinal, seleciona palavras no do

    dicionrio, mas do contexto da vida onde as palavras foram embebidas e se

    impregnaram de julgamentos de valor.(BAKHTIN, 1979, p.18).

    2.3 Intertextualidade

    Para iniciar, o que a intertextualidade?

    Consoante os estudos de Marcuschi, a intertextualidade uma propriedade

    constitutiva de qualquer texto e o conjunto das relaes explcitas ou implcitas que

    um texto ou um grupo de textos determinado mantm com outros textos .

    (MARCUSCHI, 2008, p130)

    Os textos relacionam se entre si, pois nenhum texto afinal, se acha isolado esolitrio.

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    Segundo (KOCH, 2007, p.75), devemos levar em conta duas novas questes:

    Quantas vezes, no processo de escrita, constitumos um texto

    recorrendo a outros textos? E quantas vezes, no processo de leitura de um texto, necessrio se

    faz, para a produo de sentido, o (re) conhecimento de outrostextosou do modo de constitu-los?

    Para a mesma autora, entretanto, nem sempre a intertextualidade se constitui

    de forma desvelada:

    A produo escrita, muitas vezes tem como origem outro texto sem

    a fonte explicitada, porque o autor pressupe ser do conhecimentodo leitor. Assim, identificar a presena de outro(s) texto(s) em umaproduo escrita depende e muito do conhecimento do leitor, do seurepertrio de leitura. Para o processo de compreenso e produode sentido esse conhecimento de fundamental importncia.(KOCH, 2007, p.78).

    Conforme, a mesma autora, A intertextualidade explicita ocorre quando h

    citao da fonte do intertexto, como acontece nos discursos relatados, nas citaes

    e referncias; nos resumos, resenhas e tradues; nas retomadas de textos de

    parceiro para encadear sobre ele ou question-lo na conversao. (KOCH, 2007,

    p.87)

    Portanto, toda argumentao desenvolvida at aqui - no que Koch colocou

    sobre intertextualidade remete - nos, explicitamente, o que se constitui a

    intertextualidade:

    H casos em que ela pode se constituir de modo implcito. Aintertextualidade implcita ocorre sem citao expressa da fonte,cabendo ao interlocutor recuper-la na memria para construir osentido do texto, como nas aluses, na pardia, em certos tipos deparfrases e ironias. Neste caso, exige-se do interlocutor uma buscana memria para a identificao do intertexto e dos objetivos do autorao inseri-lo no seu discurso. Quando isso no ocorre, grande parte oumesmo toda construo do sentido do texto fica prejudicada. (KOCH,2007, p.92).

    Ento, para a compreenso de sentido do texto, o leitor deve estabelecer um

    dilogo proposto entre os textos e a razo de recorrncia implcita a outro texto.

    Trata-se, pois, da presena de partes de textos prvios dentro de um textonovo, isto , a presena de discursos outros num dado discurso, que pode ser

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    explicita ou implcita. Podemos dizer, ento, que um determinado texto uma

    comunho de outros discursos. O estudo da intertextualidade em um gnero como

    a crnica relevante, pois ao leitor cabe desvendar o sentido, relacion-lo com

    outros textos, distingui-lo nos entre cruzamentos intertextuais. As crnicas se

    disfaram em outros tantos textos e em situaes do nosso cotidiano.

    2.4 O Ensino da Crnica como Gnero Discursivo

    O ensino dos gneros, no Brasil, iniciou-se a partir de 1995, especialmente

    com os referenciais nacionais de ensino de lnguas (PCNs de lngua portuguesa e

    estrangeira), que salientam como objeto de ensino as caractersticas dos gneros

    na leitura e na produo dos textos.

    possvel afirmar, pela da leitura de Marcuschi, que o estudo dos gneros

    no novo:

    A expresso gnero esteve, na tradio ocidental, especialmente

    ligada aos gneros literrios, cuja anlise se inicia com Plato para sefirmar com Aristteles, passando por Horcio e Quintiliano, pela IdadeMdia, o Renascimento e a Modernidade, at os primrdios do sculoXX. Atualmente, a noo de gnero j no mais se vincula apenas literatura, mas facilmente usado para referir-se a uma categoriadistinta de discurso. (MARCUSCHI, 2008, p.147).

    O estudo de gnero, como vimos, muito antigo. Hoje, a anlise sai dessas

    fronteiras e vem para a Lingustica de maneira geral, mas em particular nas

    perspectivas discursivas. No Brasil, temos vrias tendncias no tratamento de

    gneros, com influncias especialmente em torno dos estudos do Crculo deBakhtin, e na lingstica aplicada. Pois, as suas idias tm impulsionado as

    discusses tericas e os desenvolvimentos pedaggicos na rea de ensino de

    lnguas a partir de meados da dcada de 1980, na perspectiva scio-histrica e

    dialgica.

    Segundo anlise desenvolvida por Machado, que fundamenta sua discusso

    em:

    Os estudos que Mikhail Bakhtin desenvolveu sobre os gnerosdiscursivos considerando que no h classificao das espcies, mas

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    o dialogismo do processo comunicativo. A partir desses estudos foipossvel mudar a rota dos estudos sobre os gneros: alm dasformaes poticas. Bakhtin afirma a necessidade de um examecircunstanciado no apenas da retrica, mas, sobretudo, das prticasprosaicas que diferentes usos da linguagem fazem do discurso,

    oferecendo-o como manifestao de pluralidade. (MACHADO, 2005,p.152).

    A anlise realizada pela mesma autora (p.153) verifica que no romance,

    Bakhtin situou o universo das interaes dialgicas constitudo por diferentes

    realizaes discursivas, incluindo o grande objeto de sua paixo crtica. Encontrou a

    voz na figura dos homens que falam, discutem idias, procuram posicionar-se no

    mundo.

    A pesquisa desenvolvida por Rodrigues centrou-se na anlise dos gneros,

    que segundo Bakhtin, refere-se que o enunciado no pode ser a defrase enunciada, que se constituiria em partes textuais enunciadas,mas de uma unidade mais complexa que transcende os l imites doprprio texto, quando este abordado apenas do ponto de vista daLngua e da sua organizao textual. Nesta teoria, so exemplos deenunciados os romances, as cartas, as crnicas, as notcias assaudaes, as conversas de salo etc. Todo enunciado constitui apartir de outros enunciados, tornando-o multiplanar. O autor de umaobra literria (romance) cria uma obra (enunciado) de discurso nico

    e integral. Mas ele cria a partir de enunciados heterogneos, comoquem alheios. (RODRIGUES, 2005, p.157).

    Ainda, segundo autora citada logo acima, O gnero, na teoria do dialogismo,

    est inserido na cultura, em relao a qual se manifesta como memria criativa

    onde esto depositadas no s as grandes conquistas das civilizaes, como

    tambm as descobertas significativas sobre os homens e suas aes no tempo e no

    espao. (MACHADO, 2005, p.159).

    Os estudos desenvolvidos por Rojo centraram-se na anlise crtica dosgneros discursivos e dos gneros textuais. A palavra gnero tem, j desde 1929,

    seu sentido bakhtiniano mais importante, e, mais ainda, a j temos o ncleo no qual

    se configurar o sentido do termo.

    Disso decorre que a ordem metodolgica para o estudo da lngua, na

    concepo bakhtiniana, com os gneros discursivos, devem ser o seguinte:

    1) As formas e os tipos de interao verbal em ligao com ascondies concretas em que se realiza.

    2) As formas das distintas enunciaes, dos atos de fala isolados, emligao estreita com a integrao de que constituem os elementos, i.

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    , as categorias dos atos de fala na vida e na criao ideolgica quese prestam a uma determinao pela interao verbal.

    3) A partir da, exame das formas da lngua em sua interpretaolingstica habitual. (BAKHTIN, 2005, p.198).

    A mesma autora (p.207) conclui que, parece ser mais til e necessrio

    explorar as caractersticas das situaes de enunciao relacionadas s marcas

    lingsticas que deixam como traos nos textosque fazermos anlises completas e

    exaustivas dos textos, introduzindo uma nova metalinguagem.

    Desse modo, pode-se admitir que para compreender uma crnica em uso

    entend-la em seus contextos. no uso efetivo da lngua, e de modo especial da

    crnica em sua relao com o leitor ou ouvinte, que o sentido se constitui. Mas, somente pelo do reconhecimento de certas particularidades de cada um dos

    gneros que se podem tornar mais ntidos seus papis dentro de um conjunto de

    expresses. Assim, descobrir quais as caractersticas, as estratgias que se

    manifestam e suas peculiaridades ser um meio de analisarmos as crnicas.

    2.5 Crnica: o impasse entre o jornalismo e a literatura

    A histria da crnica e sua existncia enquanto gnero discursivo pesquisada

    por meio de aportes tericos que a geraram. Porm, no h um comprometimento

    de traar uma linha histria da crnica. Mas, para Arrigucci em seu artigo,

    demonstra que,

    esse gnero de literatura ligado ao jornal est entre ns h mais deum sculo e se aclimatou com tal naturalidade, que parece nosso.Despretensiosa, prxima da conversa e da vida de todo dia, a crnicatem sido, salvo alguma infidelidade mtua, companheira quase quediria do leitor brasileiro. No entanto, apesar de aparentemente fcilquanto aos temas e linguagem coloquial, difcil de definir comotantas coisas simples. ( ARRIGUCCI, 1987, p. 51).

    Na pesquisa de Coelho (1999, p. 157), alm de se preocupar-se em realizar

    uma anlise sobre a crnica, esforou-se para evidenciar sua descrio pelo crtico

    e romancista Luiz Roncari, na obra: A estampa da rotativa na crnica literria.

    Roncari afirma que:

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    [...] A crnica antes de tudo tenta se diferenciar, como se fosse umavisitante ilustre num pas bruto, inculto e insensvel. Por isso (...)ocupa um espao fixo, ao invs de ficar flutuando, perdida, seguindoa vontade do compositor ou diagramador; no trata dos fatos que tmimportncia por si mesmos, ao contrrio, volta-se justamente para

    aquilo que passaria despercebido se no fosse o cronista (...) usauma linguagem diferente, fora dos padres de registro da notcia,apelando para o eu, o gosto e os caprichos pessoais; abaixa ou elevao registro da linguagem que a circunda, respondendo rigidez euniformidade que se d no jornal ao material lingstico(...)(RONCARI,1999, p.14).

    Para desvelar o tema na superestrutura da crnica, foi necessrio

    compreender a estrutura narrativa histrica. O tempo a matria - prima da crnica.

    De fato, a concepo do gnero se baseia nas aes histrica, literria e jornalstica.

    Do ponto de vista histrico, segundo Rodrigues (1969):

    Os primeiros textos histricos so justamente as narrativas deacontecimentos, feitas por ordem cronolgica, desde Herdoto eCsar a Zurara e Caminha. A atividade dos cronistas vaiestabelecer a fronteira entre a Logografia registro de fatos,mesclados com lendas e mitos e a histria narrativa descriode ocorrncias extraordinrias baseadas nos princpios daverificao e da fidelidade. ( in MELO, 1986, p.139).

    No incio da colonizao do Brasil, na literatura, a crnica afigura-se como

    texto primrio, produzido por espectadores privilegiados os viajantes ou

    epistolgrafos que traduzem para leitores distantes as suas impresses de

    paisagens vistas e gentes conhecidas. (MELO, 1986. p.140)

    Como disse Manuel Bandeira:

    A literatura dos pases hispano-americanos comeou como umcaptulo colonial da literatura espanhola. O descobrimento e a

    conquista do novo mundo, a terra e seus habitantes so descritos emcartas-relatrios e crnicas dos soldados, dos catequistas e dosviajantes. E, assim como a carta de Pro Vaz de Caminha inicia aliteratura de lngua portuguesa no Brasil, as cartas relaciones deColombo inauguram a literatura de lngua espanhola na Hispano-Amrica. (BANDEIRA, 1960, p.15).

    Ao referir-se crnica jornalstica, Martin Vivaldi explica, que:

    A determinao se torna necessria para diferen-la de outras

    crnicas, anteriores e posteriores ao jornalismo como atividade decomunicao social. O caracterstico da verdadeira crnica avalorao do fato ao tempo em que se vai narrando. O cronista, aorelatar algo, nos d sua verso do acontecimento; pe em sua

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    narrao um toque pessoal. No a cmara fotogrfica que reproduzuma paisagem; o pincel que interpreta a natureza, imprimindo-lheum evidente matiz subjetivo. (VIVALDI, 1973, p.123).

    Para (Melo, 1998, p. 147), A crnica, na imprensa brasileira e portuguesa, um gnero jornalstico opinativo, situado na fronteira entre a informao de

    atualidades e a narrao literria, configurando-se como um relato potico do real.

    Entretanto, Apesar do seu florescimento no sculo passado e do seu cultivo

    por jornalistas-escritores do porte de Machado de Assis e Jos de Alencar, a crnica

    brasileira somente assumiria aquela feio de gnero tipicamente nacional, neste

    sculo. (RONAI, 1971)

    Antnio Cndido, quem sugere seu marco histrico:

    No decnio de 30 do sculo passado, que a crnica moderna sedefiniu e consolidou na Brasil, como gnero bem nosso, cultivado porum nmero crescente de escritores e jornalistas, com os seusrotineiros e os seus mestres. Nos anos 30 se afirmaram Mrio deAndrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, eapareceu aquele que de certo modo seria o cronista, voltado demaneira praticamente exclusiva para este gnero: Rubem Braga.(CNDIDO, 1981, p.17).

    Portella, leva em considerao, os entraves e as diferentes colocaes de

    crticos literrios, a respeito deste gnero Crnica e afirma que:

    indicam que a crnica atravs da constncia com que vmaparecendo, ultimamente, os chamados livros de crnicas, livros decrnicas que transcendem a sua condio puramente jornalsticapara se constituir em obra de arte literria, veio contribuir, em formadecisiva, para fazer da crnica um gnero literrio especfico,autnomo. (PORTELLA,1958, p. 111).

    Como disse Antonio Cndido, apudArrigucci:

    A crnica como gnero menor informal, e muito prximo do eventomido do cotidiano, o cronista de algum modo deve dribl-lo, se noquiser naufragar agarrado ao efmero. Buscando uma sada literria,as margens de sua terra sem fim so bastante imprecisas: ele podeestender a ambigidade linguagem e s fronteiras do gnero, semperder o nvel de estilo adequado s pequenas coisas de que trata.Com isso, s vezes a prosa da crnica se torna lrica, como seestivesse tomada pela subjetividade de um poeta do instantneo,que, mesmo sem abandonar o ar de conversa fiada, fosse capaz detirar o difcil do simples, fazendo palavras banais alarem vo. Outrasvezes, a tendncia para a prosa de fico, pela nfase naobjetivao de um mundo recriado imaginariamente: ela pudesse

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    confundir com o conto, a narrativa satrica, a confisso. Outras ainda,como em tantos casos conhecidos, constituem um texto difcil declassificar: ... a crnica. (ANTNIO CNDIDO. 1981. in: Arrigucci,1987, p 55,56).

    Simon relata, em seu Projeto de Pesquisa, que:

    os crticos reconhecem o lirismo como uma das marcas da crnica;h, contudo, em torno desse reconhecimento diferentes tipos dereservas. Essa prudncia decorre de observaes e de julgamentosdiferenciados dos desempenhos dos cronistas, incluindo desde umadesvalorizao do lirismo na crnica em comparao com suamanifestao no poema, passando pela verificao de que outrasestratgias da crnica no permitem ao lirismo imperar absoluto, atse concluir que nem todos os cronistas ostentam o mesmo grau lrico.

    (SIMON, 2000, p.9).

    Em seu livro A Crnica, Jorge de S, afirmaque:

    na ultrapassagem do jornal para o livro, atenua-se o vnculocircunstancial e elimina-se a referncia s demais matrias e prpria diagramao. Com isso, o texto adquire maior independncia,e o leitor fica estimulado a buscar, no seu prprio imaginrio, todas asassociaes possveis. (...) temos a sensao de que ela superou atransitoriedade e se tornou eterna. (S, 1999, p.83,85).

    Conclumos, ento, que a Crnica com uma mistura de linguagens e

    gneros, resiste, mas na maioria das vezes mais como esprito do que como forma.

    muito raro, digamos, ver um cronista descrever seu dia de caminhada sob o cu

    azul do Rio de Janeiro, maneira de um Braga. (PIZA, 2000, p.136)

    2.6 Afinal, o que uma crnica?

    A palavra CRNICA tem, na sua raiz, a palavra TEMPO (CRONOS). O

    tempo, na crnica, o dia-a-dia: baseia-se no fato cotidiano, corriqueiro. O jornal

    publica um fato que aconteceu: narra o fato, fiel e ele, informando o leitor da melhor

    maneira possvel. O mesmo fato, que foi notcia de jornal, pode transformar-se em

    uma crnica. Na crnica, no existe a preocupao de informar o leitor. O cronista

    escreve, filtrando o fato atravs de suas emoes, de sua viso pessoal. O fato real

    (notcia de jornal) recriado. Os fatos sociais, polticos e econmicos esto a se

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    multiplicando. Uns so pitorescos, comoventes. Outros so trgicos, revoltantes.

    So desses fatos do cotidiano que os cronistas geralmente extraem suas histrias,

    suas crnicas.

    Os crticos literrios ao referirem-se a crnica, seus conceitos no mudam de

    um crtico para outro, Afrnio Coutinho, por exemplo, destacou em seu Artigo:

    Ensaio e Crnica, que para a crnica,

    o fato s vale, nas vezes em que ela o utiliza, como meio oupretexto, de que o artista retira o mximo partido, com asvirtuosidades de seu estilo, de seu esprito, de sua graa, de suasfaculdades inventivas. A crnica na essncia uma forma de arteimaginativa, arte da palavra, a que se liga forte dose de lirismo.

    um gnero altamente pessoal, uma reao individual, ntima, ante oespetculo da vida, coisas, seres. O cronista um solitrio comnsia de comunicar-se. Para isso, utiliza-se literariamente dessemeio vivo, insinuante, gil que a crnica. (COUTINHO, 1986,p.136).

    Acerca da informalidade e os temas das crnicas, Antonio Cndido, teceu

    crticas importantes a respeito deste gnero:

    Num pas como o Brasil, onde se costumava identificar

    superioridade intelectual e literria com grandiloquencia e requintegramatical, a crnica operou milagres de simplificao enaturalidade, que atingiram o ponto mximo nos nossos dias... oseu grande prestgio atual um bom sintoma do processo de buscade oralidade na escrita, isto , de quebra do artifcio e aproximaocom o que h de mais natural no modo de ser do nosso tempo. Eisto humanizao. (CNDIDO, 1981, p.16).

    Em Um encontro marcado, um captulo do livro de Jorge de S, usandogenericamente a designao de crnicas, diz que os escritores se revelamconscientes de que o gnero ambguo mesmo:

    Sabino favorecido pela possibilidade de ampliar o relato,conseguindo, assim, um maior campo de ao, pois ele costumaescrever para revistas, onde o espao maior que nos jornais.

    A crnica uma narrativa curta por excelncia, uma conversa fiada,como dizia Vincius de Morais, mas que recebe um tratamentoliterrio, mesmo que no seja considerada ficcional.O prprio cronista tem dificuldade em rotular os seus trabalhos. Otratamento de fico que ele se refere :

    1. a construo do dilogo (inevitvel, porque a simples transcrio

    de uma conversa no atingiria o leitor, nem seria literatura);

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    2. a construo de personagens que se afastam da matriz real uma(pessoa de carne e osso, que vive ou viveu em determinado lugar) eganham o estatuto de seres inventados, com vida real apenas nocontexto do relato;

    3. o envolvimento mais complexo de espao, tempo e atmosfera;

    4. a perspectiva do cronista de distanciar-se do narrador, uma vez quena crnica a voz do narrador a voz do cronista.

    Na crnica existe um dilogo com o leitor, mesmo que permaneanas entrelinhas, como um suporte bsico da crnica.Fernando Sabino nos revela que tem sempre um encontro marcadocom a prosa do cotidiano, atravs do lirismo reflexivo ou do finohumor dessa inseparvel companheira de viagem, que a crnica.(S, 1999, p. 28,29).

    2.7 Como reconhecer as caractersticas de uma crnica?

    Segundo Arrigucci, no Brasil, a crnica teve um desenvolvimento prprio

    extremamente significativo:

    A crnica despretensiosa, prxima da conversa e da vida de tododia, com dimenso esttica e relativa autonomia, a ponto de constituirum gnero propriamente literrio. Ela adquiriu a espessura de textoliterrio,tornando-se, pela elaborao da linguagem, pelacomplexidade interna, pela penetrao psicolgica e social, pela forapotica ou pelo humor, uma forma de conhecimento de meandrossutis de nossa realidade e de nossa histria. (ARRIGUCCI, 1987,p.51).

    Assim, o acontecimento escolhe o cronista, segundo Neves:

    A crnica moderna, todos sabem, algo muito distinto. Seu tom leve, e busca sempre ser acessvel a todos os leitores. Sua marca deidentidade a de ser comentrio quase impressionista. A escolha deseus temas supostamente arbitrria e a liberdade preside suaconstruo. Sua forma , por definio, caleidoscpica, fragmentriae eminentemente subjetiva. O conjunto das crnicas de umdeterminado escritor produzido ao modo de um mosaico, cujo autorno tivesse a idia exata seu sentido de seu produto final. (NEVES,1995, p.20).

    Segundo o texto, obtido em palestra nas turmas do PDE (UEL - 2009), existem

    alguns elementos prprios do gnero crnicas, o que se pretende verificar modo

    de reconhecer uma crnica:

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    a escrita enquanto antdoto contra a corroso do tempo;

    h uma transitoriedade e transcendncia;

    tenso entre o circunstancial e o literrio;

    o destaque da crnica o cotidiano;

    quebra do monumental e da nfase no cotidiano;

    fronteiras instveis do gnero;

    aproximao com a narrativa;

    estruturalmente no h diferena entre conto e crnica;

    meio termo entre acontecimento e lirismo: lugar ideal;

    pulsao lrica;

    frmula moderna: fato mido, humor e poesia;

    fato moderno: choques da novidade, fugacidade da vida

    moderna, duelo com a contingncia; h uma tenso (clmax) e o leitor fica sem saber o que vai

    suscitar ao final da crnica;

    autoria e autoridade;

    o relato duplo: o que se relata e o que se esconde.(SIMON, 2009)

    Quais as tipologias do gnero crnicas? Segundo Coutinho e Farias, as

    crnicas so identificadas entre as seguintes categorias:

    crnica narrativa: cujo eixo uma estria ou episdio.

    crnica poema: o contedo lrico, mero extravasamento da

    alma do artista ante o espetculo da vida.

    crnica dilogo: tom comunicativo, de conversa, a lngua falada,

    informalidade, de bate papo, o dilogo permanente entre

    cronista e leitor;

    crnica comentrio: divulga fatos e acontecimentos tecendo

    ligeiros comentrios pessoais, pretexto para divagaes e

    reflexes.

    crnica metafsica: reflexes de cunho mais ou menos

    filosficos ou meditaes, com o poder do paradoxo e da

    fantasia.(COUTINHO , FARIAS,1986, p.133).

    De modo geral, segundo Antonio Candido,

    parece s vezes que escrever crnica obriga a uma certa comunho,

    produz um ar de famlia que aproxima os autores acima da suasingularidade e das suas diferenas. que a crnica brasileira bemrealizada participa de uma linguagem geral lrica, irnica, casual, oraprecisa e ora vaga, amparada por um dilogo rpido e certeiro, ou por

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    uma espcie de monlogo comunicativo. (CNDIDO1981, p.22).

    Com base em vrios autores, assim se definiram as caractersticas da

    crnica. Suas principais caractersticas so: uma narrativa breve, de linguagemacessvel, retratando sempre um episdio do cotidiano. Com poucas personagens

    atuando num nico fato e nada se informa acerca delas, alm do que referente ao

    assunto. A crnica tem marcas da oralidade, por isso simples. Lembra mais uma

    conversa informal do que um texto escrito. A oralidade um trao da lngua falada,

    por isso ela nos faz conferir, pensar, entender, melhor o que se passa dentro e fora

    da gente, isto , nos sugere reflexes. Normalmente, possui uma crtica indireta.

    Histrias que podem ter acontecido com todo mundo _ at com voc mesmo, compessoas de sua famlia ou com seus amigos. A crnica, na maioria das vezes, um

    texto curto narrado geralmente em primeira pessoa, nos d uma sensao do

    cronista estar dialogando com o leitor. Muitas vezes vem escrita em tom

    humorstico, mas leve e descontrada, s vezes tambm, irnica.

    2.8 Exemplos de caractersticas presentes em trechos de crnicas

    A crnica de Rubem Braga intitulada, Rita, o eu do cronista, retrata uma

    cena familiar, trata-se de uma crnica onde estas caractersticas da

    crnica ficam evidentes, narrativa breve, com um grau do eu lirismo muito

    intenso, somente uma personagem, isto , retrata o cotidiano:

    No meio da noite despertei sonhando com minha filha Rita. Eu a via nitidamente, na

    graa de seus cinco anos.

    A crnica, Ousadia de Fernando Sabino, verifica-se marcas de fala,

    como se fosse uma conversa informal, isto , indica a presena da

    oralidade:

    _ Descarado, como que tem coragem? Me seguiu at aqui!

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    Na crnica, O padeiro de Rubem Braga, percebe-se o eu lirismo

    reflexivo, um extravasamento da alma do cronista:

    Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E s vezes me julgava importante

    porque no jornal que levava para casa, alm de reportagens ou notas que eu

    escrevera sem assinar, ia uma crnica ou artigo com o meu nome. O jornal e o po

    estariam bem cedinho na porta de cada lar: e dentro do meu corao eu recebi a

    lio de humildade daquele homem entre todos til e entre e todos alegre; no

    ningum, o padeiro!E assobiava pelas escadas.

    A crnica, Emergncia de Lus Fernando Verssimo, as marcas lingsticas

    so outras, o cronista concentra sua produo para causar humor ao leitor,

    escrita em tom humorstico, mas leve e descontrada:

    Acaba esquecendo a fivela e dando um n no cinto. Comenta, com um falso riso

    descontrado: At aqui, tudo bem. O passageiro ao lado explica que o avio ainda

    est parado, mas ele no ouve. A aeromoa vem lhe oferecer um jornal, mas ele

    recusa.-- Obrigado. No bebo.

    importante ressaltar que ao ler o gnero crnicas, o indivduo busca as

    suas experincias pessoais, os seus conhecimentos prvios, a sua formao

    familiar, religiosa, cultural, enfim, as vrias vozes do outro, dimenso dialgica e

    discursiva, como foi teorizado pelo crculo de Bakhtin.

    S, crtico literrio, ressalta que a funo da crnica aprofundar a notcia edeflagrar uma profunda viso das relaes entre o fato e as pessoas, entre cada um

    de ns e o mundo.

    Portanto, pode-se afirmar, sob essa perspectiva, o que Silva defende: ao

    aprender a ler ou a ler para aprender, portanto, o individuo executa um ato de

    conhecer e compreender as realizaes humanas registradas atravs da escrita.

    (SILVA, 1996, p.34).

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    3 Resultado e Discusses

    As discusses feitas a partir da reviso bibliogrfica, e da crtica literria arespeito da crnica, apontam para importncia e a evoluo desse gnero, que no

    Brasil passa a ter uma tonalidade prpria.

    Para Bakhtin, a lngua vive e evolui historicamente na comunicao verbal

    concreta, no no sistema lingustico abstrato das formas da lngua nem no

    psiquismo individual dos falantes. ( BAKHTIN, 1979. p.124)

    Na implementao em sala de aula, refletiu-se como analisar crnicas que se

    constitui na tenso entre literatura e jornalismo, explorando suas caractersticasenquanto gnero discursivo: aproximao da oralidade, nexo entre elementos

    diversos do cotidiano e o vnculo com a matria cotidiana.

    Percebeu-se que um conjunto de fatores que determinam a compreenso

    da produo de leitura, principalmente do gnero crnicas, pois, foram escritas em

    um jornal, em um determinado dia, e que atualmente est editada em um livro

    literrio. Para tanto, realizaram-se atividades que possibilitou ao educando a leitura

    e a produo oral e escrita do gnero Crnicas, bem como as formas de sua

    composio e o uso da linguagem em diferentes situaes do cotidiano, priorizando

    com estas s prticas sociais.

    Disso decorre que a ordem metodolgica para o estudo da lngua, segundo o

    mesmo autor, deve ser o seguinte:

    1. As formas e os tipos de interao verbal em ligao com ascondies concretas em que se realiza.

    2. As formas das distintas enunciaes, dos atos de fala

    isolados, em ligao estreitta com a interao de queconstituem os elementos, isto , as categorias de atos de falana vida e na criao ideolgica que se prestam a umadeterminao pela interao verbal.

    3. A partir da, exame das formas da lngua na suainterpretaoo lingustica habitual. ( BAKHTIN, 1979. p.124).

    Considerando que todas atividades desenvolvidas em sala de aula, de acordo

    com a Unidade Didtica, implementada no Projeto PDE 2009 so o resultado de

    uma opo metodolgica, articulada a uma determinada concepo que temos

    sobre a linguagem. E em virtude, que as aes previstas no projeto foram

    implementadas com os alunos de 8 srie do ensino fundamental de uma escola de

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    Ivaipor-PR.

    Koch afirma que,

    para uma reflexo a respeito da leitura e da produo de crnicas, oponto de partida para a elucidao das questes relativas ao sujeito,na crnica, ser a partir de uma concepo sociointeracionista delinguagem. Defendendo a posio de que os sujeitos (re) produzem osocial na medida em que participam ativamente da definio dasituao na qual se acham engajados, e que so atores naatualizao das imagens e das representaes, sem as quais acomunicao no poderia existir. (KOCH, 2002, p.15).

    Diante das concepes e anlises estudadas, a primeira ao programada

    ressaltou leituras de diversos cronistas, colocando em relevo a reflexo crtica, o

    humor implcito nestas e sua forma pessoal de compreender os acontecimentos que

    o cercam.

    Para Galembeck, em seu artigo, o processamento do texto depende no s

    das caractersticas internas do texto, como do conhecimento dos usurios, pois

    esse conhecimento que define as estratgias a serem utilizadas na

    produo/recepo do texto.

    Verificaram-se que, na primeira atividade realizada, apesar dos alunos

    interagirem entre os pares, nunhum estudante conseguiu identificar se era crnica

    ou outro gnero.

    Segundo Koch, os sujeitos somente produzem o social na medida que

    participam ativamente, sem os quais a comunicao no pode existir. Isso ficou

    claro diante do resultado negativo da atividade de reconhecimento do gnero

    crnica, sem os alunos terem o conhecimento prvio necessrio.

    Logo aps, realizou-se um debate, para verificar quem diferenciava a crnica

    dentre outros gneros apresentados. Mesmo assim, ainda houve muita dificuldade

    durante a discusso.

    Numa prxima aula, o professor preparou uma pasta contendo mais ou

    menos umas quarenta crnicas de diferentes cronistas, recortadas de revistas,

    jornais e da internet. Os alunos fizeram leituras silenciosas e orais. Identificaram-se

    atravs da leitura, com ajuda do professor, as reflexes, as crticas, as marcas de

    oralidade, o humor, a ironia, o lirismo, isto , as principais caractersticas da crnica,

    e tambm, sua forma de composio.A partir dessa atividade, a crnica passou a ser compreendida. Portanto,

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    para haver compreenso exige-se habilidade, interao e trabalho, na verdade,

    sempre que ouvimos algum ler um texto, entendemos algo, mas nem sempre essa

    compreenso a correta.

    Marcuschi (2009, p. 230) afirma o seguinte, a respeito da compreenso que:

    compreender no uma ao apenas lingustica ou cognitiva. muito mais uma

    forma de insero no mundo e um modo de agir sobre o mundo na relao com o

    outro dentro de uma cultura e sociedade.

    A dificuldade de compreenso geral entre os estudantes, pois compreender

    uma atividade colaborativa e um exerccio de convivncia sociocultural. Para tal,

    requer um leitor inserido na realidade social, infelizmente so poucos os que leem

    por prazer e principalmente fora do ambiente escolar.Em seguida, o professor observa atentamente, que conforme os estudantes

    leem as crnicas, se estas lhe causam alguma sensao, como: entusiasmo, horror,

    desnimo, indignao e ou felicidade. Para a pesquisa nesse momento, o essencial

    descobrir qual emoo que cada crnica lhe traz, com seu mistrio, sua harmonia

    e a interao.

    interessante ressaltar o quo prazerosa esta atividade tornou-se para os

    alunos e tambm para o professor. Os estudantes, ao lerem as crnicas, trocavamentre si, comentavam seu gosto, a emoo que lhe causara e tambm, a sua opinio

    a respeito do assunto. Percebeu-se, que, ao lerem, eles riam e se divertiam. Cada

    crnica despertavam lhes emoes, e isso era ntido em seus olhos, com os

    entusiasmos, pois, conforme liam, imediatamente buscavam outra e mais outra

    crnica. A leitura tornou-se realmente envolvente para os leitores participantes do

    projeto.

    Segundo Marcuschi, Atualmente a leitura vem sendo tratada em um novocontexto terico que considera prticas sob um aspecto crtico e voltado para

    atividades, sobretudo scio-interativas. A leitura deve ser assim uma influncia

    bastante clara sobre os processos de compreenso.

    Para Koch ( 2007, p.19), por outro lado, preciso tambm levar em conta os

    conhecimentos do leitor, condio fundamental para o estabelecimento da interao,

    com maior ou menor intensidade, durabilidade e qualidade de leitura.

    Um dos desafios que se props nesta pesquisa, foi a produo de crnicas

    junto com os alunos acerca do nosso cotidiano, observando mais atentamente as

    pessoas e as situaes que fazem parte do seu dia-a-dia, construindo textos claros

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    e, ao mesmo tempo, criativos.

    Para se chegar a essa produo de crnicas, houve vrias etapas. Na

    primeira etapa produziu-se uma crnica em equipe, isto , em conjunto.

    Organizaram-se, elegeram um colega para a escrita, enquanto os outros se

    debatiam entre os pares, as idias e as propostas iam surgindo, e claro, aps

    serem aprovadas por todos, o redator escrevia. A convivncia em grupos, isto , a

    interao social foi fundamental. Trabalhar com idias que no eram suas, foi

    intrigante, mas ao mesmo tempo, bastante estimulante.

    Para Backtin, identificar a presena de outro(s) texto(s) em uma produo

    escrita depende muito do conhecimento do leitor, do seu repertrio de leitura.

    Na segunda etapa da produo dar continuidade s crnicas de cronistasfamosos, mas sem o trmino do mesmo. Na terceira e ltima etapa foi escrita

    individual de crnicas criadas por eles mesmos. E medida que os pargrafos iam

    sendo escritos, eles pediam para o professor ler, to grande foi o envolvimento. As

    crnicas escritas pelos alunos, tanto em cartazes ou em folhas de cadernos, foram

    colocadas em um painel, organizado pelos alunos e professor. Este painel foi para

    uma exposio realizada na escola pelo professor PDE. Alm disso, uma coletnea

    de crnicas escrita pelos alunos foi doada para o acervo na biblioteca da escola.A origem dos problemas mais tpicos verificados na mbito da produo,

    segundo Pcora, so:

    mais especificamente , essa contradio histrica determina,primeiro, a incapacidade do processo escolar em garantir aoaluno o domnio das normas especficas da escrita; segundo,a restrio da escrita a um domnio consagrado no interior daprpria escola, que acaba operando uma reduo das virtuaisrelaes entre sujeito e linguagem.(PCORA, 1989 p.45).

    Ao realizar uma proposta de produo de gnero, considerou-se o ensinocom vrios recursos que se dispe para a construo de um texto eficiente. Deacordo com Menegassi,

    a prtica de ensino aprendizagem de lngua maternaesboada numa perspectiva dinmica de trabalho com alinguagem, com a sua produo oral e escrita, vinculando-aao momento concreto de sua produo, levando os alunos reflexo de seu uso de acordo com as suas intenescomunicativas. Nesse sentido, o aluno o sujeito da ao de

    aprender, aquele que age sobre o objeto de conhecimento,como divulgam os PCNs (BRASIL, 1997, p.29) e o professormediador entre sujeito e objeto, sendo este objeto a lnguaportuguesa. (MENEGASSI, 2010, p.110),

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    Como objeto de estudo, explorou-se na oralidade das crnicas os conceitos

    aprendidos, como tambm, os fatos do cotidiano que influenciam o desenvolvimento

    dos alunos para encontrarem a forma de ver e questionar o mundo ao seu redor.

    Conforme aponta S, o texto adquire maior independncia, e o leitor fica

    estimulado a buscar, no seu prprio imaginrio, todas as associaes possveis. (...)

    temos a sensao de que ela superou a transitoriedade e se tornou eterna.

    muito importante desenvolver se a oralidade em sala de aula. Essa ao foi

    realizada com sucesso, porm trabalhosa. Os alunos precisam esperar a sua vez de

    falar, saber pedir a palavra. Tambm lhes cabe, justificar seu ponto de vista com

    argumentos que convencem seus colegas. E com contra argumentos em defesa de

    suas idias, pois as pessoas tm opinies diferentes. No entanto, devem faz-las deforma respeitosa. Na escrita da crnica em grupo foi bastante utilizada essa

    atividade da linguagem oral. As opinies e as intervenes eram feitas em todo

    momento, pelos alunos e entre os mesmos, com explicaes do professor, em slides

    preparados para a TV pendrive.

    Para DINO PRETI, a construo do dispositivo persuasivo argumentativo a

    forma de garantir a intercompreenso na conversao ou outro tipo de texto. Dessa

    maneira, a competncia do falante para produzir textos, principalmente orais, e a doouvinte para compreend-los dependem, em larga medida, do conhecimento dos

    processos de reformulao.

    Segundo o mesmo autor,

    A sala de aula um local onde professor e alunos, mediadospela linguagem, constroem ativamente o sentido do mundo.Nela, o individual e o social esto em contnua articulao, eos sujeitos, em constante processo de negociao. Ao

    professor cabe atrair e manter a ateno de seus alunos,incentiv-los a falar ou ordenar que se calem e,especialmente, motiv-los a participarem do processoensino/aprendizado.(DINO PRETTI, 2006, p.48).

    No decorrer desse estudo, alm de mostrar o gnero crnica, fizeram-se

    menes a concepes e metodologias do ensino de lngua portuguesa. Passa-se

    agora para a ltima parte deste trabalho, em que se espera , tal como proposto,

    apontar as reflexes acerca do ensino do gnero crnicas numa concepo

    interacionista de linguagem.

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    4 Consideraes Finais

    Com esta pesquisa, espera-se que os outros inmeros aspectos existentes, e

    aqui no esmiuados, e seus possveis desdobramentos despertem interesses nos

    professores, nos estudantes em outros estudos e pesquisas acadmicas.

    Este artigo desponta como uma oportunidade para que se reflita quanto ao

    ensino da crnica como gnero discursivo. Redigir uma crnica ter direito a

    elaborar um texto livre. Ensinar, aprender e produzir uma crnica pode ser a

    liberdade e ao mesmo tempo ter a chance de ver a criatividade dos estudantes.

    Estudar crnica ir alm de fices literrias ou pginas envelhecidas de jornais. debruar-se sobre um fato, um problema poltico, uma idia, uma simples conversa,

    uma poca e uma leitura subjetiva de mundo exteriorizado por um autor, que dialoga

    com intimidade e liberdade ao seu leitor, mas sem deixar de discutir os problemas

    sociais, polticos e ou os sucessos e principalmente, no poderia ser diferente os

    fracassos humanos.

    Segundo Cndido, um meio privilegiado de apresentar ao leitor de modo

    persuasivo muitos temas e assuntos que divertem, atraem, inspiram e fazem oindivduo amadurecer a sua viso de mundo.

    As crnicas escritas pelos alunos nessa implementao do projeto PDE, nos

    revelaram justamente esses dizeres. Alm dessas caractersticas tpicas da crnica,

    observou-se tambm, nos alunos um grande envolvimento por parte dos mesmos.

    Uma motivao, at ento, inexistente em aulas de produo de textos.

    Verificou-se que os alunos buscaram em suas crnicas as suas

    experincias, os seus conhecimentos prvios, a sua formao familiar, religiosa,cultural, enfim, as vrias vozes do outro, a dimenso dialgica e a discursiva, isto ,

    os estudos teorizados pelo crculo de Bakhtin.

    Portanto, espera-se que esse artigo contribua com o ensino de Lngua

    Portuguesa, a fim de que o professor tenha conscincia sobre o tipo de reflexo que

    est sendo proposto, bem como do processo de ensino aprendizagem acerca do

    gnero discursivo crnica.

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