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RESENHAIREVIEW Marcelo Carbone CARNEIROl GONZÁLEZPORTA,M. A. A filosofia a partir de seus problemas. São Paulo: Editora Loyola, 2002. O problema inicial do livro de Mario Porta é o de discutir a apren- dizagem e propor um método de abordagem da filosofia. Na introdu- ção, o autor pede ao leitor que seu livro seja julgado por sua utilidade, isto é, a de efetivar uma certa prática de exposição filosófica preocu- pada em ser compreensível e acessível ao leitor. A tese do autor é a de que grande parte das dificuldades encon- tradas para se entender o pensamento filosófico deve-se à falta de entendimento do problema filosófico proposto. Portanto, a compreen- são do problema constitui-se no núcleo do ensino e da aprendizagem em filosofia. Na primeira parte do livro, Mario Porta desenvolve a idéia cen- tral do estudo da filosofia a partir dos seus problemas, isto é, procura responder à seguinte questão: no que consiste um "modo filosófico de pensar?" O autor afirma de forma tranqüila que a história da filosofia não seria "um caos de pontos de vista incomensuráveis, nem consiste sim- plesmente em possuir certezas. Trata-se de ter opiniões sobre certos temas bem definidos e sustentá-Ias em algo diferente de uma convic- ção pessoal; mais ainda, o núcleo essencial da filosofia não é constitu- ído de crenças tematicamente definidas e racionalmente fundadas, senão de problemas e soluções." (p. 25) 1 Professor do Departamento de Ciências Humanas - FAAC - UNESP/Bauru. I Trans/Form/ Ação, São Paulo, 26(2): 143-145, 2003 143

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Fabula da caverna

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    MarceloCarboneCARNEIROl

    GONZLEZPORTA,M. A. A filosofiaapartir deseusproblemas.SoPaulo:EditoraLoyola,2002.

    O problemainicialdolivrodeMarioPortao dediscutira apren-dizageme proporum mtodode abordagemda filosofia.Na introdu-o,o autorpedeaoleitorqueseulivrosejajulgadopor suautilidade,isto , a de efetivarumacertaprticade exposiofilosficapreocu-padaemser compreensvele acessvelao leitor.

    A tesedo autor a dequegrandepartedasdificuldadesencon-tradasparase entendero pensamentofilosficodeve-se faltadeentendimentodo problemafilosficoproposto.Portanto,a compreen-sodo problemaconstitui-seno ncleodo ensinoe da aprendizagememfilosofia.

    Na primeirapartedo livro,Mario Portadesenvolvea idiacen-traldo estudoda filosofiaa partirdosseusproblemas,isto , procuraresponderseguintequesto:no queconsisteum "modofilosficodepensar?"

    O autorafirmadeformatranqilaquea histriada filosofianoseria"umcaosdepontosdevistaincomensurveis,nemconsistesim-plesmenteempossuircertezas.Trata-sede ter opiniessobrecertostemasbemdefinidose sustent-Iasemalgodiferentede umaconvic-opessoal;maisainda,o ncleoessencialdafilosofiano constitu-do de crenastematicamentedefinidase racionalmentefundadas,senode problemase solues."(p.25)

    1 Professordo Departamentode CinciasHumanas- FAAC - UNESP/Bauru.

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    Trans/Form/Ao, SoPaulo,26(2):143-145,2003 143

  • Esta leiturada histriada filosofia,quereaparecena considera-ofinaldo livro,bemcontroversa,poisconsideraos sistemasfilos-ficoscomensurveisecomocontinuidadeou"sedimentaoconceitual"(p.34).Segundoo autor,a filosofiaposteriorconteriaa discussoan-teriore no haveriarupturae sim continuidade.

    O ponto de partidada anlisefilosficaseria o de entenderoproblema;diantede um filsofoparticular,comeamospelapergunta"qual o problemapor eleproposto?"(p.26).

    Portaapresentaumaexposioda filosofiacomoguardida ra-zoe v emtodoquestionamentofilosficodarazoumaincoerncia.A racionalidadeocidentalgaranteo esclarecimento,o discernimento,a reflexoclarae conscientee a no-contradio."Pensarracional-mente, em boamedida,separar,distinguir,diferenciar."(p.44)O au-tor apresentaumaleiturade defesada racionalidadeocidental,pois,dentreoutrascoisas,argumentaa favordo conceitoe daanlisefilos-fica.

    Na nota3 da p. 44diz Portaque

    usualescutarqueaanlisecongelaeisolaasidias.Nadamaisinjustoqueisto.A anlisenodetmo pensamento,nemimplicaatomismo.Distinguirno isolar,senoo primeiropassoimprescindvelparaestabelecerrelaesbemdefinidas.Otodoassimclarificadoemcadaumadesuasarticulaes.Quantomaisvinculadasseencontramduasidias,maisnecessriasuadis-

    tino.Emrealidade,aanlisesseopeaconfusoevaguidade:pensamen-to confusoevagoaquelequenodistingueondepossvel.(p.44).

    A nota construdade formaassertivana verdadeassumeum

    pontoabsolutocomrelaoao conceitoe anlisefilosfica.Pareceu-nosbastantecuriosaa nota4 dap. 45,ondeo autordiz

    que " a ansiedade inimiga da filosofia. O acompanhamentomedicamentosose torna,em algunscasos,recomendvel."Teramosaqui uma ironia?

    Comoler,ento,umtextode filosofia?Diz o autorque existemduasperspectivaspossveissobreumtexto:leiturae produo.A lei-turatentaapreendera lgicado sistemafilosfico.A produocons-tri, por argumentos,a estruturalgicado texto.Portanto,ao ler umtexto de filosofia,devemosnos preocuparem saberqual a questoformuladana obrae apreender,a partir do problema,a lgica dasrazeslevantadaspeloautor.

    Diz Porta: "observamosemvriosmomentosque s possvelcompreendertextosfilosficosa partirdeseusproblemas(introduo,

    finalidadedo livro,final)e queesses,porsuavez,no estosimples-menteai esperandoser tomados,mas que sua 'construo' parteessencialdaatividadefilosfica".(p.85)Paracompreendero textofilo-sfico necessrioreconstruirracionalmenteo problema,explicitarpressupostostericos,compreendero contextohistricoe apreendera lgicadas razeslevantadas.

    Na segundaparte do livro, o autorexpedois exemplosquecolocamemmovimentoa tesedeA fjJosofia partir deseus problemas.Em dois textos,publicadosem momentosdiferentese reunidosnolivro, apresentadaa filosofiade Kant(nocaptulo1da segundapar-te)e a de Cassirer(nocaptulo2 da segundaparte).

    No texto sobreKant "O Problemada Crticada RazoPura",oautor apresentade formadidticae claraa teoriade Kant sobreoconhecimentoe sobrea tica.No texto bastanteelucidativosobre

    Cassirer,cujottulo "O Problemadafilosofiadasformassimblicas",Mario Porta expe a filosofiadas formassimblicaspropostapeloneokantianoem questo.No ltimocaptuloda segundapartedo li-vro,discute-sea filosofiacontempornea,pormtomandocomopontode partidaa tesede queexisteumaunidadena histriada filosofia.

    l111 Trans/Form/Ao,SoPaulo,26(2):143-145,2003 Trans/Form/Ao,SoPaulo,26(2):143-145,2003 145