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Germinal: Marxismo e Educao em Debate, Londrina, v. 2, n. 2, p. 79-89; ago. 2010 79
PESQUISA, PRTICA PEDAGGICA E PROJETO HISTRICO
PESQUISA, PRCTICA PEDAGGICA Y PROYECTO HISTRICO
RESEARCH, PEDAGOGICAL PRACTICE AND HISTORICAL PROJECT
Celi Nelza Zulke Taffarel1
Resumo: Apresenta-se elementos para a articulao entre pesquisa, prtica pedaggica e projeto histrico, buscando nexos entre o trabalho pedaggico e a luta mais geral de superao do modo do capital organizar a vida. O ponto de partida a conjuntura, real, concreta que demonstra a profunda crise estrutural do capital, que permanente e que se aprofunda cada vez mais e, o emba de projetos para a formao dos trabalhadores. O ponto de chegada a formao de professores no Curso de Licenciatura em Educao do Campo, para responder aos desafios da escola pblica, em especial nas classes de 6 a 9 srie e no Ensino Mdio, a partir de um plano de estudo estruturado na perspectiva do sistema de complexo proposto por Pistrak. Palavraschave: Projeto histrico. Projeto Poltico Pedaggico. Revoluo. Educao do Campo. Resumo: Presentase elementos para la articulacin entre pesquisa, practica pedaggica y proyecto histrico, buscando nexos entre trabajo pedaggico y la lucha ms general de superacin del modo del capital organizar la vida. El punto de partida es la coyuntura, real, concreta que demostra la intensa crisis estructural del capital, que es permanente y que profundase cada vez ms y, el choque de proyectos para la formacin de los obreros. El punto de llegada es la formacin de profesores en el Grado de Licenciado en Educacin de Campo, para contestar los desafos de la escuela pblica, especialmente en las clases de 6 a 9 serie y en la Enseanza Media, a partir de un plano de estudio estructurado en la perspectiva del sistema del complexo propuesto por Pistrak. Palabrasclave: Proyecto histrico. Proyecto poltico pedaggico. Revolucin. Educacin del campo. Abstract: We present elements for the articulation among research, pedagogical practice and historical project, seeking links between the pedagogical work and the wider struggle of overcoming the way that the capital organizes the life. The starting point is the real and consistent conjunction that shows the deep structural crisis of the capital, that is permanent and deepens itself more and more, and the opposition to projects for workers formation. The arrival point is the teachers graduation in Rural Education, in order to solve the public school challenges, especially in the Middle and High school, based in a plan of study made in the complex system proposed by Pistrak. Key words: Historical project. Political and Pedagogical Project. Revolution. Rural Education.
Um projeto histrico aponta para a especificao de um determinado tipo de sociedade que se quer construir, evidencia formas para chegar a esse tipo de sociedade e, ao mesmo tempo, faz uma anlise critica do momento histrico presente. Os partidos polticos (embrionrios ou no) so os articuladores dos projetos histricos. A explicitao de como articulamos essas trs instncias parece ser essencial prpria pesquisa pedaggica. A necessidade de um projeto histrico claro no um capricho. que os projetos histricos afetam nossa prtica poltica e de pesquisa, afetam a gerao dos prprios problemas a serem pesquisados. (Luiz Carlos de Freitas, 1995. 142)
O presente texto apresenta elementos sobre a articulao entre, pesquisa, prtica pedaggica e
projeto histrico, buscando nexos entre o trabalho pedaggico e a luta mais geral de superao do modo
do capital organizar a vida (MEZSAROS, 2005). O ponto de partida a conjuntura, real, concreta que
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demonstra a profunda crise estrutural do capital, que permanente e que se aprofunda cada vez mais e, o
embate de projetos para a formao dos trabalhadores. O ponto de chegada a formao de professores
para a Educao do Campo, no Curso de Licenciatura em Educao do Campo, para responder aos
desafios da escola pblica, em especial nas classes de 6 a 9 srie e no Ensino Mdio. O desafio do
trabalho pedaggico do professor nas escolas na formao dos trabalhadores. Apresentaremos,
especificamente, um plano de estudo estruturado na proposta do sistema de complexo (Pistrak, 2000).
Para introduzir a disciplina que aqui tratamos Pesquisa e Prtica Pedaggica, com carga horria 60% no
tempo escola, presencial e, 40% de horas no tempo comunidade, realizado trabalho socialmente til
partimos da anlise de conjuntura.
A anlise de conjuntura nos permite: relacionar historicamente, os fatos e os acontecimentos,
com a crise estrutural e conjuntural do capital; identificar o grau de desenvolvimento da luta de classes
luta esta que econmica, ideolgica e poltica; definir estratgia e ttica no processo de formao de
professores para a educao do campo; definir estratgias e tticas, em especial, para o Curso de
Licenciatura em Educao do Campo; e, em particular; para a disciplina Pesquisa e Prtica
Pedaggica. Vamos nos valer do livro do professor Luiz Carlos e Freitas, Critica da Organizao do
Trabalho pedaggico e da Didtica, para argumentar teoricamente a respeito do rumo dos estudos nos
Planos de estudos.
A conjuntura
Os fatos demonstram que. ao contrrio do que alguns arautos do capitalismo apregoam, a luta
de classes no acabou. Estamos vivendo um momento de acirramento da luta de classes, com a iniciativa e
a ofensiva nas mos das foras imperialistas, nas mos da direita internacional. Evidencias disto, na
Amrica Latina, so governos de direita assumindo o Estado, a exemplo do Chile e, os rumos
conservadores da economia, a exemplo da Argentina e, a exemplo do Brasil com sua nfase nos consensos
e nas polticas compensatrias de alivio pobreza. Na Europa, os exemplos esto em todos os pases, da
Inglaterra a Grcia, com a aplicao dos ajustes na economia poltica, ajustando a estrutura capitalista para
manter-se hegemnica, manter as taxas de lucro do capital, a custa da perda de direitos dos trabalhadores.
O Estado de Bem Estar Social est em franca degenerao e decomposio. Exemplos so os ajustes
violentos contra os trabalhadores e os servios pblicos sade, educao, assistncia, previdncia -,
aplicados na Grcia e, a reduo de salrios (Espanha e Portugal), pagamento de taxas nas universidades
(Alemanha) aumento dos anos para aposentadoria (Portugal, Espanha).
nos perodos de crise que o capitalismo introduz modificaes tendentes a garantir taxas de
explorao mais adequadas aos seus objetivos. Nesses perodos muda-se o papel do Estado, o papel da
produo de tecnologia, o papel da educao e a composio da classe trabalhadora, com impactos
significativos na luta poltica e ideolgica (FREITAS; 1995, p. 114).
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No plano das idias, a ofensiva no menor. Procura-se colocar como referncia a prpria
ausncia de referncia, caracterizando-se a incerteza como nica verdade e fazendo-se uma assepsia das
relaes sociais presentes na prtica social (FREITAS; p. 116).
A ofensiva da nova direita visa desmobilizar vrias esferas. Destacamos aqui duas: quebrar a
resistncia dos trabalhadores no seio da produo e introduzir um novo padro de explorao;
desmobilizar o debate poltico e ideolgico no plano das idias em especial no seio da intelectualidade.
Os intelectuais silenciam e os organismos da classe paralisam suas foras (FREITAS; p. 117).
A ofensiva, por um lado produto das lutas entre os prprios capitalistas, por outro e,
fundamentalmente, uma resposta do capital presso exercida pelas lutas dos trabalhadores. (FREITAS;
1995, p. 121). A luta pelo atendimento de suas reivindicaes. O exemplo da luta dos aposentados e o
reajuste so emblemticos, vez que, ao conceder um pfio reajuste de 7%, por um lado, por outro no se
retira o fator previdencirio que vem prejudicando enormemente a classe trabalhadora porque reduz o
piso do valor da aposentadoria.
O denominado ps-moderno ou a contemporaneidade, que significa a decomposio e
degenerao acelerada do capitalismo, no uma forma de superao do moderno, mas o
aprofundamento, sob outras bases, das formas de explorao do homem. (FREITAS; 1995, p. 123)
No h nada de novo na contemporaneidade ou na ps-modernidade, exceto a forma de
explorao e suas conseqncias culturais. A essncia a mesma.
Retirando as referncias e criando um clima de incerteza, o capital tenta passar a
contemporaneidade, ou a ps-modernidade, como se representasse uma ruptura com o passado,
quando o que temos o velho capitalismo de antes, agora na verso da terceira revoluo industrial em
curso (FREITAS, 1995, p.124).
No quadro de permanente crise do capitalismo, assediado pelos trabalhadores ao longo da
histria, as contradies afloram em outros nveis e preparam novas crises (FREITAS, 1995, p. 124).
O padro predominante de explorao da classe trabalhadora brasileira est baseado na
fragmentao do trabalho, associada rotatividade do trabalhador. Nesse modelo de explorao, a
educao do trabalhador no tem papel central. Trata-se de trein-lo rapidamente, dentro da empresa, para
executar tarefas repetitivas durante algum tempo (um ano ou dois) aps o qual ele mandado embora
para que se contrate outro por um salrio menor. Esse padro predatrio da fora de trabalho no requer
maior preparao do trabalhador (FREITAS, 1995, p. 125).
O Brasil sofre hoje as conseqncias desta poltica mais geral do capital de subsumir o trabalho
e que se expressa em polticas educacionais de baixo investimento pblico. Isto se expressas na mo de
obra desqualificada, e, ou, na falta de mo de obra. Os trabalhadores do campo e da cidade
permanecem respectivamente 3,5 e 7,6 anos na escola, aproximadamente, segundo dados do MEC.
Estudos recentes evidenciam, ainda, que a mdia dos estudantes das escolas do campo so 18% menor em
matemtica e 6% menor em lngua portuguesa do que estudantes de escolas da cidade.
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O capital procurar equacionar a contradio educar/explorar tentando controlar mais
diretamente o aparelho educacional e impondo seu projeto poltico (FREITAS, 1995, p. 128). Este projeto
poltico do capital de desqualificar a classe trabalhadora em seu processo de escolarizao, no processo de
formao acadmica visvel, por exemplo, na falta dos 350 mil professores do Brasil, e em especial na
Bahia, na falta dos 80 mil professores para atender a Rede de Ensino. visvel tambm na diviso j na
formao entre os professores que atuaro no sistema formal e no sistema no formal da educao, ou
seja, dentro e fora da escola.
Estes movimentos, ainda se fazem sentir fortemente no Brasil. O professor Luiz Carlos de
Freitas menciona em seu livro, um relatrio, preparado por um grupo de educadores que examinou as
relaes entre a educao fundamental e as novas exigncias de competitividade industrial. A proposta
desses educadores sugere que para que o Brasil se viabilize como nao qualificada para participar da
competio internacional preciso que estabelea metas a serem atingidas nos prximos 20 anos e que
pelo menos 90% da populao estudantil concluam o ensino de primeiro grau ensino fundamental e,
pelo menos 60 % concluam o segundo grau ensino mdio. Segundo os autores, nenhum pas do
mundo conseguiu resolver de maneira cabal, permanentemente e definitiva os problemas da educao. E
concluem os estudiosos A educao algo que s se resolve no cotidiano, atravs do esforo dos alunos,
da participao das famlias, da competncia e dedicao dos professores, e da liderana da direo da
escola. (FREITAS, 1995, p. 131). As iniciativas adotadas em termos da poltica educacional do pas
deixam bem evidentes a adoo destas solues, por exemplo, na nfase dada aos estudos e pesquisas
com base no cotidiano, responsabilizando-se o aluno pelo seu fracasso ou sucesso, permanncia ou
excluso do sistema; na responsabilizao da famlia pelo sucesso ou fracasso escolar; na formao do
professor voltada para as competncias e no exame nacional para ingresso no magistrio com base nestas
competncias, a serem compensadas no desempenho com incentivos salariais diferenciados que
aumentam a competitividade intra-classe de professores; na nfase na gesto, administrao e liderana da
direo da escola, e a, a nfase nos gestores, na Escola de Gestores. A tese que Freitas (1995) encampa,
com a qual temos acordo que:
...o capitalismo dever voltar seus interesses para a questo da preparao de um novo trabalhador mais adequado aos novos padres de explorao, acirrando a contradio educar/explorar. conhecido o medo que o capital tem de instruir demais o trabalhador. Ao mesmo tempo, a nova base tecnolgica, para ser eficaz nos nveis esperados de competitividade internacional, necessita de um maior envolvimento do trabalhador nas tarefas de gesto e uma preparao mais adequada, via educao regular. (FREITAS, 1995, p. 126).
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A TESEA TESE
Interesse da Interesse da burguesia pela burguesia pela educao do educao do trabalhadortrabalhador
Preparar um Preparar um novo novo
trabalhador trabalhador
Proposta de Proposta de educao das educao das
foras foras progressistasprogressistas
Formar um Formar um novo homem novo homem
Figura elaborada a partir do livro do professor Dr. Luiz Carlos de Freitas (1995)
Ainda segundo Freitas (1995), com o interesse do capital pela educao algumas conseqncias
podem ser hipotetizadas:
a) o ensino bsico e tcnico vai estar na mira do capital pela sua importncia na preparao do novo trabalhador;
b) a didtica e as metodologias de ensino especficas (em especial alfabetizao e matemtica) vo ser objeto de avaliao sistemtica com base nos seus resultados (aprovao que geram); (Freitas, p. 1995, 127)
c) a nova escola que necessitar de uma nova didtica ser cobrada tambm por um novo trabalhador;
d) tanto na didtica como na formao do professor haver uma nfase muito grande no operacional, nos resultados, nas competncias a didtica restringir-se-, cada vez mais, ao estudo de mtodos especficos para ensinar determinados contedos considerados prioritrios e, a formao do professor poder ser aligeirada do ponto de vista terico, cedendo lugar formao de um prtico (Freitas, p. 1995, p. 127). Evidencias esto postas nas propostas curriculares e nos cursos distncia
e) os determinantes sociais da educao e o debate ideolgico podero vir a ser considerados secundrios uma perda de tempo motivada por um excesso de politizao da rea educacional (LCF, p.124).
O contraponto a anttese para construo de uma nova sntese
Para dar o contraponto a tais concepes, dentro da conjuntura que vivemos atualmente,
estamos atuando por anttese, planejando coletivamente, ou seja, prevendo PLANOS DE ESTUDO,
segundo a experincia da Escola Comuna (Pistrak, 2010) o Plano de Estudo do Coletivo Escolar com
os procedimentos que, sugerimos sejam experimentados, enquanto hiptese de trabalho, para
implementao do sistema de complexos, pelos cursos pilotos que mantm a Licenciatura em Educao
do Campo, contribuindo, assim, para a consolidao de outras bases para a formao de professores do
Sistema Nacional de Formao de Professores do Brasil, relacionadas construo do projeto histrico
socialista rumo ao comunismo.
Com est concepo educativa, com a delimitao dos objetivos formativos, assim
referenciados, com o detalhamento dos xitos educativos previstos, delimita-se o plano de estudo,
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considerando a auto-organizao individual e coletiva, tendo o trabalho como princpio, as cincias e as
artes como base e, considerando os mtodos de ensino especficos. O contexto da luta de classes na
atualidade nos indica os rumos que a educao em geral e em especial a educao escolarizada podem vir a
ter.
COMPLEXO DE ESTUDO
TRABALHO(Mtodo Geral)
BASES DASCINCIAS E ARTES
AUTODIREO EORGANIZAODA VIDA INDIVI-DUAL E COLE-TIVA
MTODOSDE ENSINOESPECFICOS
PLANO DEESTUDO
MEIO EDUCATIVO: atualidade, contradies, rede de agncias formadoras
OBJETIVOSE XITOS
CONCEPODE EDUCAO
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O que pretendemos dar conseqncia prtica e demonstrar a aderncia ao real de tal
proposio, nas condies pr-revolucionrias em que estamos vivendo. Esta tese das condies pr-
revolucionrias advm das formulaes de Trotsky (2010) e esto assim expressas no Programa de
Transio.
Sem vitria da revoluo socialista no prximo perodo histrico, toda a civilizao humana est ameaada de ser conduzida a uma catstrofe. Tudo depende do proletariado, ou seja, antes de mais nada, de sua vanguarda revolucionria. A crise histrica da humanidade reduz-se crise da direo revolucionria... A tarefa estratgica do prximo perodo perodo pr-revolucionrio de agitao, propaganda e organizao consiste em superar a contradio entre a maturidade das condies objetivas da revoluo e a imaturidade do proletariado e de sua vanguarda (confuso e desencorajamento da velha gerao, falta de experincia da nova). necessrio ajudar as massas, no processo de suas lutas cotidianas a encontrar a ponte entre suas reivindicaes atuais e o programa da revoluo socialista. Esta ponte deve consistir em um sistema de reivindicaes transitrias que parta das atuais condies e conscincia de largas camadas da classe operria e conduza, invariavelmente, a uma s e mesma concluso: a conquista do poder pelo proletariado (TROTSKY. O Programa de Transio, 1938).
O que se segue, portanto, o Plano de Estudo mais geral que estamos formulando, dia-a-dia, a
partir dos estudos e da experincia concreta na implementao do Curso de Licenciatura em Educao do
Campo.
Roteiro Plano de Estudo: Nvel de implementao - Sistema:
Compe a implementao do Plano de Estudo ao nvel do Sistema, segundo Freitas (2010), o
seguinte:
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Especificao da concepo de educao e matriz formativa. Especificao do educando, suas caractersticas e necessidades em geral Definies iniciais quanto unidade de tempo disponvel e as disciplinas envolvidas. Formulao dos objetivos instrucionais e formativos e especificao dos xitos esperados. Definio dos aspectos tericos (contedos) a serem ensinados nas disciplinas e os aspectos
formativos necessrios ao educando. Adequar estes objetivos e seus aspectos tericos correspondentes unidade de tempo disponvel
e sua diviso. Articulao dos elementos dos inventrios do meio mais os relatrios do trabalho pedaggico
desenvolvido pelas reas de: Linguagem e Cdigos; Cincias da Natureza e Matemtica; Cincias Sociais, Humanas e Agrrias; Tecnologias Educacionais -, com os aspectos tericos das disciplinas e/ou objetivos formativos, agrupando-os de forma a propor complexos gerais (partes da realidade que permitem a integrao de conceitos explicativos e procedimentos de anlise oriundos das vrias disciplinas em questo) comuns a todas as disciplinas e sugerir metodologias para sua implementao pelo coletivo escolar.
Indicao de como conduzir os inventrios do meio educativo local o trabalho pedaggico posteriormente sistematizado em relatrios das reas - Linguagem e Cdigos; Cincias da Natureza e Matemtica; Cincias Sociais, Humanas e Agrrias; Tecnologias Educacionais -, tendo em vista as disciplinas envolvidas e os educandos de forma a levar em conta o entorno concreto da escola no interior dos complexos indicados.
Definio do aproveitamento particular (em termos de objetivos e xitos) que uma dada disciplina far de cada complexo, bem como, os eventuais mtodos especficos necessrios para o estudo destas disciplinas especficas.
Distribuio inicial dos complexos na unidade de tempo disponvel o complexo geral reconhecido pelo coletivo das reas foi Homem Terra Trabalho - Educao e a nfase a ser dada , no desenvolvimento das funes psquicas superiores que permitem a leitura, a escrita, a matematizao da natureza e da sociedade. Sem ler, escrever, matematizar, no se desenvolvem funes psquicas superiores para ler a realidade e agir transformando-a, ou seja, alterando o modo de produo e reproduo da vida, para alm do marco do capital.
Indicao de como examinar cada complexo, de forma a agregar contribuies das reas, de forma a elencar as atividades de preparao necessrias e outras providncias para sua abordagem fixando responsabilidades na equipe de educadores Os exemplos esto nas disciplinas que o Modulo V vai desenvolver, a saber: Pesquisa e Prtica Pedaggica que exps na reunio seu Plano; Metodologia da Pesquisa; Introduo Filosofia; Fsica; Educao Scio Ambiental; Ecologia Geral; Educao Fsica (Cultura Corporal), Estgio Supervisionado.
Definio dos momentos de balanos coletivos quanto aos xitos planejados e obtidos pelos educandos e seu redirecionamento se necessrio. Preparao da equipe de educadores para trabalharem unificados. Reunio de estudos da Equipe dia 16 de julho de 2010.
Este Plano mais geral, por sua vez, implica na implementao, em definio do ROTEIRO DO
PLANO DE ESTUDOS do Coletivo Escolar, ou seja, o que estudar?
Roteiro do plano de estudo: Nvel de implantao - Coletivo Escolar.
Neste sentido destacam-se, ainda segundo Freitas (2010), o seguinte:
Estudar a concepo de educao e matriz formativa
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Especificar ao educando local, suas caractersticas e necessidades especficas quem so nossos educandos professores do campo que atuaro em escolas do campo, que por sua vez atendem crianas e jovens das 5 a 9 srie e, jovens do ensino mdio.
Examinar com os professores as definies iniciais quanto unidade de tempo disponvel e as disciplinas envolvidas.
Estudar com os professores os objetivos instrucionais e formativos e os xitos esperados. Estudar com os professores os aspectos tericos destas disciplinas e os aspectos formativos
necessrios ao educando Examinar com os professores a distribuio inicial dos complexos na unidade de tempo
disponvel e defini-la. Conduzir com professores e estudantes os inventrios do meio educativo local, tendo em vista as
disciplinas envolvidas e os educandos de forma a levar em conta o meio educativo concreto da escola.
Por em prtica metodologias para articular os inventrios sobre o meio educativo da escola, em particular com os aspectos tericos das disciplinas, considerando os objetivos e contedos destas disciplinas no interior dos complexos gerais indicados (partes da realidade que permitem a integrao de conceitos explicativos e procedimentos de anlise oriundos das vrias disciplinas em questo), comuns a todas as disciplinas. Definimos leitura e produo dos textos inicialmente como comum, sem o que no se desenvolvem outras funes psquicas superiores como analise, sntese, avaliao, teorizao.
Por em prtica metodologias para articular os aspectos do meio educativo da escola em particular com os objetivos formativos definidos, incluindo suas ligaes com o processo de gesto escolar.
Levar cada professor a compreender o aproveitamento (em termos de objetivos e xitos) que cada disciplina far de cada complexo, bem como, os eventuais mtodos especficos necessrios para o estudo destas disciplinas especficas, agregando outras aes que forem convenientes.
Examinar com os professores e estudantes cada complexo de forma a elencar as atividades de preparao necessrias e outras providncias para sua implementao, fixando responsabilidades na equipe de educadores e de educandos.
Implementar momentos de balanos coletivos quanto aos xitos planejados e obtidos pelos educandos e seu redirecionamento se necessrio.
Este roteiro por sua vez, em sua implementao, implicou em um plano de estudo especfico da
disciplina pesquisa e prtica pedaggica.
Plano de estudo especfico da disciplina pesquisa e prtica pedaggica.
Partindo, portanto, do acirramento da luta de classes, da necessidade de alterao dos rumos da
formao humana no campo e, em especial, da concepo de projeto histrico, de educao e de matriz
formativa que tem o trabalho como principio educativo, vamos apresentar o ROTEIRO DO PLANO
DE ESTUDO: Nvel de Implementao: Professores, monitores e estudantes da Disciplina Pesquisa e
Pratica Pedaggica.
O xito planejado diz respeito ao domnio de conceitos e domnio de ferramentas de
pensamento para investigar: reconhecer rea problemtica no trabalho pedaggico, delimitar problemas de
investigao, trabalhar com hipteses, definir objetivos da pesquisa. Identificar dados, suas fontes,
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construir instrumentos, sistematizar dados e expor resultados, sintticos, em forma verbal e escrita.
Estamos focando as sries finais do ensino fundamental (6 a 9 sries) e o Ensino Mdio.
Para garantir o xito ser necessrio implementar o seguinte Plano de Estudo Especifico da
Disciplina Pesquisa e Prtica Pedaggica que componente curricular do Curso de Licenciatura em
Educao do Campo da UFBA, com distribuio no tempo pedaggico disponvel e com indicao dos
responsveis. Sero realizadas sucessivas aproximaes aos contedos, atravs da metodologia do ensino
crtico superadora (Coletivo de Autores; 1992), atravs de exposies, acesso a dados na internet e em
revistas, dissertaes e teses, leituras dirigidas e orientaes para elaborao de texto escrito, em forma de
snteses:
Roteiro do plano de estudo: Nvel de Implementao - Professores, monitores e estudantes da
Disciplina Pesquisa e Pratica Pedaggica.
Especificar o educando, suas caractersticas e necessidades Quem so nossos educandos com os quais vamos trabalhar pedagogicamente - crianas e jovens das 6 a 9 srie e, jovens do ensino mdio. Trabalho a ser realizado: Observao e descrio densa de dados sobre os estudantes da escola, com complementao de informaes da literatura, sistematizada em resumos analticos, sobre o tema aprendizagem e desenvolvimento. Participao das atividades de lanamento do POLO de Referencia sobre Educao do Campo da UFBA e da capacitao dos professores tcnicos que orientaro professores para as classes multi-seriadas da Bahia. Assistir palestra e sistematizar contedos, com Afonso Mancuso de Mesquita. Princpios para a organizao do ensino: alunos-contedo-recursos-condies, com o objetivo de Apresentar um modelo de anlise da prtica pedaggica que orienta a organizao do ensino com base na teoria histrico-cultural norteando o planejamento e a realizao da atividade docente nas situaes concretas. s 14 horas Palestra - Relaes entre desenvolvimento infantil e planejamento de ensino. Professora: Ana Carolina Galvo Marsiglia. Objetivo. Retomar conceitos acerca do desenvolvimento infantil e da juventude, reiterar a importncia do planejamento de ensino e orientar sua elaborao segundo os pressupostos da pedagogia histrico-crtica e da metodologia critico superadora. Leitura complementar sugerida: ABRANTES; ngelo e MARTINS; Ligia. Relao entre contedos de ensino e processo de pensamento. V. 1, N 1, p.. 62-74. e ainda, MOLINA: Mnica. Educao do Campo e Pesquisa: questes para reflexo. Braslia, MEC, 2005. http://www.nead.org.br/index.php?acao=biblioteca&publicacaoID=322. Dia 12 e 13 de julho de 2010. Das 08 as 12 e das 14 s 18 horas. Responsvel. Celi Taffarel.
Realizar inventrio do meio escola pblica de 6 a 9 srie e Escola de Ensino Mdio. Conduzir, valendo-se de instrumentos para observao, um inventrio do meio educativo escola de 6 a 9 e Escola de Ensino Mdio, tendo em vista a infra-estrutura, a gesto, administrao, projetos e programas; o currculo proposto, os objetivos formativos as avaliaes, as disciplinas ou reas envolvidas, os docentes, tcnico-administrativos, os educandos, expondo os resultados em um texto sinttico.Trabalho a ser realizado: Observao em escola de ensino fundamental 6 a 9 e ensino mdio. Dia 21 de julho de 2010. Das 08 s 12 horas e das 14 s 18 horas.
Estudar a concepo de educao e matriz formativa expressa nos projetos em disputa para a educao nas sries finais do ensino fundamental (6 a 9 srie) e no Ensino Mdio a partir das teorias explicativas de autores que investigam o ensino fundamental e mdio. Trabalho a ser realizado pelo coletivo: Leitura, anlise e interpretao, a ser exposta verbalmente e na forma de sntese escrita, do livro de KUENZER; Accia. O Ensino Mdio. Construindo Uma proposta
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para os que vivem do trabalho. So Paulo: Cortez 2000. Dia 26 de julho. Das 08 as 12 e das 14 s 18 horas.
Estudar o que prev a legislao no Brasil como Diretrizes curriculares Nacionais da Educao Bsica. Parmetros Curriculares Nacionais de 6 a 9 sries e para o Ensino Mdio. Diretrizes Operacionais para a Educao do Campo. Sistematizar e ordenar as informaes e dados obtidos nos textos dos seguintes stios: http://www.scielo.br/pdf/es/v23n80/12937.pdf. http://www.cedes.unicamp.br/ . http://www.scielo.br/pdf/cp/n109/n109a04.pdf . http://www.diaadia.pr.gov.br/dedi/cec/arquivos/File/diretrizescurricularesestaduaisdaeducacaodocampo.pdf . Dia 28 de julho. Das 08 s 12 horas.
Estudar os objetivos instrucionais e formativos, os xitos esperados e, os aspectos tericos das disciplinas, ou reas de conhecimento, trabalhadas nos currculos escolares do ensino fundamental, sries finais (6 a 9) e, no currculo do ensino mdio. Trabalho a ser realizado. Leitura, anlise e interpretao critica a ser expressa verbalmente e por escrito, em forma de sntese, dos seguintes textos contidos no livro de FRIGOTTO, G. CIAVATTA; M. RAMOS, Marise. Ensino Mdio Integrado: Concepes e contradies, So Paulo, Cortez, 2005. Texto 1. FRIGOTTO; CIAVATTA; RAMOS. Apresentao. (P. 7-20). Texto 2. FRIGOTTO; G. Concepes e mudanas no mundo do trabalho e no ensino mdio (p. 57 a 82). Texto 3. RAMOS, M. Possibilidades e desafio na organizao do currculo integrado. (p. 106-127).
Examinar, coletivamente e expressar verbalmente a compreenso sobre o sistema de complexo, em especial, o complexo Homem Terra e Trabalho Educao de forma a elencar os conceitos e as atividades necessrias para sua compreenso, desenvolvidas na disciplina e, estabelecer responsabilidades e novos compromissos com os estudos e o trabalho pedaggico dos educadores e dos educandos, para ampliar as referencias e avanar no pensamento terico sobre o sistema de complexo. Texto: FREITAS, Luiz Carlos. A Luta por uma pedagogia do meio: Revisitando Conceitos. In: PISTRAK ; M. (Org.) A escola-Comuna. So Paulo, Expresso popular. 2010. PISTRAK; M. Fundamentos da escola do Trabalho. So Paulo, Expresso Popular, 2000. Dia 24 de julho de 2010, das 14 s 16 horas.
Elencar e articular, verbalmente, na avaliao final, conceitos explicativos e procedimentos investigativos de coleta e anlise dos dados, sobre trabalho pedaggico, estabelecendo as relaes entre: a) o inventrio sobre o meio educativo da escola; b) o que prev a legislao e; c) as proposies tericas superadoras para o ensino fundamental (6 a 9 sries) e ensino mdio. Dia 24 de julho de 2010 das 08 s 12 horas.
Realizar o balano coletivo para verificar os xitos planejados e obtidos pelos estudantes participantes do Projeto Pesquisa e prtica pedaggica e seu redirecionamento se necessrio. Dia 24 de Julho de 2010, das 16 s 18 horas.
Consideraes finais
A discusso sobre educao aqui proposta, em especial, a formao de professores que atuaro
nas sries finais do ensino fundamental (6 a 9 srie) e ensino mdio no campo, parte das relaes atuais
entre trabalho-educao determinadas historicamente. Reconhece os interesses do capital na formao de
um dado tipo de trabalhador e contrape a isto a tese da formao de um novo ser humano a partir do
projeto histrico socialista, rumo ao comunista.
Com est concepo educativa, com a delimitao dos objetivos formativos, assim
referenciados, com o detalhamento dos xitos educativos previstos, delimita-se o plano de estudo,
Debate
Germinal: Marxismo e Educao em Debate, Londrina, v. 2, n. 2, p. 79-89; ago. 2010 89
considerando a auto-organizao individual e coletiva, tendo o trabalho como princpio, as cincias e as
artes como base e, considerando os mtodos de ensino especficos.
As dificuldades de criao e de implantao de um projeto educacional com fundamentao
marxista na atual sociedade, marcada pelo consumo potencializado pelo desenvolvimento da chamada
economia flexvel, acentua-se frente s diferenas de comportamento do ser social sob a nova regulao
do trabalho. Tal desafio nos coloca no contexto da luta de classes e indica os rumos que a educao em
geral, em particular a educao do campo e, em especial a formao de professores para a escola
fundamental e mdia podem vir a ter no campo brasileiro. Por fim, conforme destaca Freitas (1995), a
necessidade de um projeto histrico claro no um capricho. que os projetos histricos afetam nossa prtica poltica. Isto
nos coloca outro grande desafio, reconhecer nos partidos polticos e participar efetivamente, como
professores, militantes culturais, na construo e na defesa intransigente do projeto histrico socialista,
rumo ao comunismo.
Referncias bibliogrficas do coletivo escolar.
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Notas
1 Professora Da Universidade Federal da Bahia. Diretora da Faculdade de Educao FACD/UFBA.
2 As figuras do presente texto foram apresentadas pelo professor Dr. Luiz Carlos de Freitas em exposio realizada na UEFS, em maio de 2010.