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a. a. de assis A língua da gente Maringá Edição do autor 2010 © Copyleft 2010 Antonio Augusto de Assis (Autorizo cópia do todo ou de partes, desde que citem o autor e a fonte)

A língua da gente - museumaconicoparanaense.com lingua da... · Na costa ocidental da península Ibérica, ouvindo o murmurar do Atlântico, desenvolvia-se uma bonita região conhecida

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a. a. de assis

A língua

da gente

Maringá Edição do autor

2010

© Copyleft 2010 Antonio Augusto de Assis (Autorizo cópia do todo ou de partes,

desde que citem o autor e a fonte)

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1. No princípio era o “ai”

Onde e quando os nossos ancestrais começaram a falar? Sabe-se lá... O certo é que o primeiro Adão e a primeira Eva já nasceram equipados de um aparelho fonador que lhes permitiria articular palavras. Nasceram dotados também de inteligência e criatividade. Nasceram, enfim, com aquilo que se convencionou chamar de “competência” para o “desempenho” da comunicação através da “linguagem”. Vai daí que um dia, em algum lugar, um deles emitiu o primeiro sinal significante, muito provavelmente uma interjeição; um “ai” talvez, indicativo de prazer ou de dor. Depois do “ai”, deve ter murmurado o “ei”, o “ih”, o “oh”, o “ui”... E Evas e Adões passaram a dar nome às coisas: fruto, peixe, pombo, água (os substantivos) – na língua deles, claro; e a dar nome às qualidades: grande, pequeno, doce, amargo (os adjetivos); e a dar nome às ações: andar, subir, pescar, comer (os verbos). Depois inventaram os conectivos, e formaram frases, e mais frases, e outras mais. E nunca mais pararam de tagarelar. Sabe-se, porém, que as comunidades primitivas eram nômades: esgotadas as fontes de alimento numa região, mudavam-se dali e formavam novas aldeias. Sabe-se também que o “crescei e multiplicai-vos” foi sempre levado muito a sério; e não é difícil deduzir que as famílias, multiplicando-se, acabavam se dispersando: um grupo ia para o norte, outro para o sul, e assim por diante. Não havendo meios de transporte e comunicação, as novas comunidades perdiam o contato umas com as outras. Com isso, a suposta língua original (se é que houve uma só) foi aos poucos se transformando. Cada novo agrupamento criou novas palavras, alterou a pronúncia de outras, e de mudança em mudança o mundo chegou a ter, em determinado momento da história, algo em torno de 10 mil línguas. Hoje, segundo dados recentes, 2.796 línguas são ainda faladas na Terra (além de não se sabe quantos dialetos). As línguas dividem-se em 12 grandes famílias. O português pertence à família indo-europeia, juntamente com o francês, o espanhol, o italiano, o romeno, o alemão, o escandinavo, o inglês, o russo, e vários outros idiomas, entre os quais também o sânscrito, o grego e o latim. Entretanto, graças aos atuais recursos de comunicação e transporte, as distâncias estão sendo anuladas, e a tendência é inverter-se a babel. Além disso, a própria dinâmica da vida moderna impõe a existência de uma língua universal. Houve tempo em que de certa forma esse papel foi cumprido pelo latim. Muitos ainda acreditam ser possível fazer do esperanto o idioma geral. Mas o que se percebe mesmo é o inglês tomando conta do planeta. Dentro de mais uns 30 anos, gostemos ou não, todos os povos serão bilíngues: cada habitante de cada lugarinho da aldeia global usará sua língua nativa

para falar com os íntimos... e a língua universal para conversar com o restante do mundo...

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2. A flor que veio do Lácio

Numa bela região da Itália, tendo por moldura a oeste o mar Tirreno, a leste os Apeninos, ao norte a Toscana e a Úmbria, e a Campânia ao sul, havia o Lácio. Seus habitantes falavam o latim, então modesto ramo linguístico brotado do grande tronco indo-europeu. No Lácio, um pouco segundo a lenda, um pouco segundo a história, no ano 753 a.C., às margens do Tibre, numa paisagem onde a natureza caprichosamente plantou charmosas colinas (dizem que sete), nasceu Roma, a eterna. Mais que a história, manda ainda a lenda (aliás sempre muito mais bonita) que se credite aos gêmeos Remo e Rômulo, mais a Rômulo do que a Remo, a fundação da nobre urbe. Roma cresceu, virou império, tomou conta de toda a Itália, acabou estendendo o seu poder por meio mundo. Rica e forte, pôde ao mesmo tempo tornar-se importante polo cultural, graças principalmente ao que aprendeu com os gregos. À influência recebida da cultura grega deve-se também, em boa parte, o notável enriquecimento do latim, aos poucos transformado em primorosa língua.

Havia, porém, duas modalidades de latim: o clássico (erudito), usado na produção literária, monitorado pelos gramáticos e adotado como padrão pela restrita roda dos romanos cultos; e o latim vulgar, falado (e raramente

escrito) pelos mortais comuns.

De colônia em colônia, ia Roma espalhando mundo afora a sua língua. Em cada região conquistada, a primeira providência dos dominadores era impor o latim como idioma oficial. Não o latim chique dos discursos de Cícero e dos versos de Virgílio, mas o latim povão – a fala descontraída dos soldados e dos barnabés do império. Ocorre ainda que, no contato com os povos subjugados, ia o latim assimilando parte do vocabulário e marcas do sotaque e da sintaxe de cada região. Daí resultou que, passados alguns séculos, não era mais o latim que se falava: eram dialetos, logo consolidados como novos idiomas. Assim se formaram as chamadas línguas neolatinas, entre as quais o italiano, o francês, o romeno, o espanhol, o português. A chegada dos romanos à península Ibérica (onde estão hoje Espanha e Portugal) data do século 3o a.C. Na época, a região era habitada pelos celtiberos, sabendo-se que por ali também passaram gregos, fenícios, cartagineses e outros grupos. O domínio romano permaneceu até o século 5o d.C., quando a península foi invadida pelos bárbaros de origem germânica. No ano 711, houve nova invasão, a dos árabes. Em meio a todas essas escaramuças, ao se encerrar o primeiro milênio já se definira a língua espanhola, e estava nascendo a língua portuguesa, liricamente rebatizada, muitos séculos depois, pelo poeta Bilac, como “última flor do Lácio”.

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3. Mil anos de português Recapitulando: os romanos chegaram à península Ibérica (onde estão hoje Espanha e Portugal) no século 3o a.C. Na época, a região era habitada pelos celtiberos, comunidade formada pela fusão dos celtas, vindos da Europa central, e iberos, provavelmente originários do norte da África. O latim vulgar, trazido pelos soldados romanos, foi imposto como língua oficial,

porém acabou assimilando parte do vocabulário e acentuadas marcas do sotaque e da sintaxe dos povos colonizados. Com o passar dos séculos, foram-se formando os dialetos regionais. Finalmente, consolidou-se como língua geral da península o espanhol, que adotou como padrão o dialeto de Castela e por isso ficou também conhecido como castelhano. Por volta do ano 1000, ninguém mais falava a antiga língua de Roma, a partir de então mantida apenas em documentos científicos e nos cantos e orações da Igreja. Há quem diga que o latim morreu de parto, no momento em que dele nascia a filha caçula, a língua portuguesa – “última flor do Lácio”. Na costa ocidental da península Ibérica, ouvindo o murmurar do Atlântico, desenvolvia-se uma bonita região conhecida como Lusitânia – a que Camões chamou de “o mais belo jardim da Europa à beira-mar plantado”. Falava-se ali, no alvorecer do segundo milênio (portanto há mil anos), o que hoje denominamos português proto-histórico – formado a partir do antigo dialeto galaico-português. Em 1095, Afonso VI, rei de Leão e Castela, instituiu na Lusitânia o Condado Portucalense. Sensibilizado pela colaboração que vinha então recebendo do nobre francês Henrique de Borgonha na luta contra os mouros, deu-lhe o rei por prêmio a mão de sua filha Dona Teresa, e com a noiva o governo do Condado. Em 1139, Dom Afonso Henriques, filho e sucessor de Henrique de Borgonha, proclamou a independência do Condado, e sagrou-se primeiro rei de Portugal. A essa altura já se falava, e começava a aparecer escrito, o português arcaico, assim considerado desde o século 12 até o início do século 16. Dessa época se guardam documentos de precioso valor histórico, tais como as cantigas dos trovadores, novelas de cavalaria, as crônicas de Fernão Lopes e o teatro de Gil Vicente. Mas foi somente a partir de Luís de Camões que a língua assumiu suas características definitivas. Com Os lusíadas inaugurou-se o português moderno. Daí por diante, lendo Vieira, Camilo,

Eça, Machado, Pessoa, Bandeira, Drummond, nós lusófonos (Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Goa, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor Leste, São Tomé e Príncipe – cerca de 220 milhões de falantes) tivemos apenas de acompanhar a evolução natural do idioma até alcançar a forma atual. Enquanto Seu Lobo não completa a globalização, continuaremos gostosamente a dar o nosso recado em português...

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4. Da arte de dar nome

Está escrito: “Formou Deus da terra toda espécie de animais campestres e de aves do céu, e os conduziu ao homem para ver como ele os chamaria...” (Gên 2,19) Vê-se, pois, que desde sempre teve o homem por função, entre outras tantas, dar nome a tudo o que diante dele exista. Faz isso geralmente de três formas: a) objetivamente, isto é, considerando as características e finalidades da coisa a ser nominada; b) metaforicamente, isto é, dando a uma coisa [por analogia] um nome antes pertencente a outra (aliquid pro aliquo); c) imitativamente, isto é, dando à coisa um nome cuja pronúncia lembre o som natural dessa coisa (onomatopeia). Nominação objetiva – Inventado, por exemplo, um aparelho capaz de transportar a voz a lugares distantes, deu-se a esse aparelho o nome de “telefone” (tele = longe + fone = som, voz). Assim também “bicicleta” (bi = dois + ciclo = roda); “periscópio” (peri = em redor + scopio = ver); “termômetro” (termo = calor, temperatura + metro = medida). Nominação metafórica – Por exemplo: os primeiros anatomistas viram certa semelhança entre o bíceps e o rato (mus, muris em latim), e deram-lhe o nome de “músculo” (diminutivo de mus, ou seja, ratinho). “Tíbia” era o nome de uma espécie de flauta; pela semelhança da forma, um dos ossos da perna (canela) passou a ser “tíbia” também. Quando o ovo cai na gordura quente, toma a forma de uma estrela; daí dizermos “ovos estrelados” (embora alguns prefiram dizer “ovos estalados”, talvez em razão do “estalo” ouvido ao se quebrar a casca). Nessa arte a criatividade popular é realmente inesgotável. Os nomes das partes do corpo humano estão presentes em numerosas catacreses (nomes tomados por empréstimo): barriga da perna, boca da ponte, braço de rio, cabeça de prego, dente de alho, mão de pilão, olho d’água, pé de vento. Nominação imitativa (onomatopeia) – É provável que seja essa a maneira mais antiga de dar nome às coisas. Alguns exemplos: bem-te-vi, cacarejo, ceceio, clique, cochicho, pingue-pongue, pio, quero-quero, reco-reco, ronco, tintim, tico-tico, tique-taque, uivo, xixi, zunzum. E é também assim que as crianças dão nome aos bichos: au-au, có-có, miau, piu-piu...

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5. Falamos grego e latim Costuma-se dizer que a língua portuguesa é filha do latim e neta do grego. Basicamente, é isso mesmo, sobretudo no que se refere ao vocabulário erudito. Supondo que ao leitor agrade recordar um pouco daquelas velhas aulas sobre radicais (ou elementos de composição), daremos a seguir uma pequena lista. Para simplificar, apresentaremos os elementos em sua forma aportuguesada. ELEMENTOS LATINOS Adipo (gordura): adipoma, adiposo; albi, alvi (branco): albinismo, alvorada; alter (outro): alternativa, altruísmo; ango, angere (apertar): ângulo, angústia; api (abelha): apiário, apicultor; argenti (prata): argênteo, argentífero; auri (ouro): áureo, auriverde; austro (sul): austral, austro-africano; axi (eixo): axial, axila; balneo (banho): balneário, balneoterapia; beli (guerra): bélico, belonave; cado, cadere (cair): cadente, ocaso; capili (cabelo): capilar, capiliforme; capiti (cabeça): capital, decapitar; caveo, cavere (ter cuidado): precaver-se, cauteloso; claustro (espaço fechado): claustrofobia, clausura; cola (que cultiva, que habita): agrícola, silvícola; columbi (pombo): columbicultura, columbifilia; cor, cordis (coração): cordial, cordiforme; corne (chifre): corneta; unicórnio; digiti (dedo): digitado, digital; doceo, docere (ensinar): docente, doutrina; duco, ducere (levar): conduzir, oleoduto; equi (igual): equilíbrio, equivalente; evo (idade): longevidade, medieval; fero (que contém, que produz): aurífero, carbonífero; fissi (fenda): fissiforme, fissurado; flama (chama): flâmula, inflamável; frango, frangere (quebrar): frágil, infringir; frigi (frio): frígido, frigorífico...

Gero (que produz): beligerante, lanígero; grado (grau): centígrado, graduação; grano (grão): granulado, grânulo; herbi (erva): herbicida, herbívoro; igni (fogo): ignição, ignífero; lacti (leite): lácteo, laticínio; lapidi (pedra): lapidação, lapidário; lati (amplo, largo): látex, latifúndio; loquo (que fala): locutor, ventríloquo; ludo (brinquedo, jogo): lúdico, ludoterapia; manu (mão): manuscrito, quadrúmano; nau (navio): naufrágio, náusea; nidi (ninho): nidificar, nidiforme; oculi (olho): ocular, oculista; oleri (legume): oleráceo, olericultura; oni (todo, tudo): onipresente, onisciente; opus (obra): operário, opúsculo); orizi, rizi (arroz): orizicultura, orizófago; os, oris (boca): oral, ósculo; pede (pé): bípede, pedestre; pene (quase): península, penumbra; pisci (peixe): pisciforme, piscina; pluvia (chuva): pluvial, pluviômetro; pueri (criança): pueril, puericultura; radici (raiz): erradicar, radical; rupi (pedra, rocha): rupestre, rupícola; rus, ruris (campo) rural, rústico; sacari (açúcar): sacarologia, sacarose; sagiti (flecha): sagitário, sagitifoliado; seco, secare (cortar): secionar, segmento; senex (velho): senador, senilidade; serici (seda): sericicultor, sericígeno; sesqui (um e meio): sequicentenário, sesquidúzia); video, videre (ver): evidência, vidente; vir (homem, varão): viril, virilidade. ----------------------------------------------------------------------------------------------------

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ELEMENTOS GREGOS (I) Acro (alto): acrobata, acrópole; acusi (audição): acústica, hiperacusia; agogo (que conduz): demagogo, pedagogo; algia (dor): analgésico, cefalalgia; alo (outro): alomorfo, alopatia; andro (homem, varão): andrógino, andrologia; anemo (vento): anemofilia; anemógrafo; angelo (anjo, mensagem): angelical, evangelho; angio (vaso, veia): angiografia, angiologia; arc (antigo, superior): arcaico, arcebispo; aritmo (número): aritmética, logaritmo); arquia (governo, poder): anarquia, monarquia; artro (articulação, junta): artralgia, artrite; aster (astro, estrela): asterisco, astrologia; auto (próprio): autobiografia, autodidata; bata (que anda): acrobata, nefelibata; biblio (livro): bibliófilo, biblioteca; bio (vida): biografia, biologia; cali (belo, bom): califonia, caligrafia; cardia (coração): cardíaco, cardiopatia; carpo (fruto): carpófago, carpologia; cinema (movimento): cinemática, cinematógrafo; cino (cão): cínico, cinódromo; ciste (bexiga): cistite, cistomia; cito (célula): citologia, leucócito; clasta (que destrói): biblioclasta, inconoclasta; clepto (roubo): cleptofobia, cleptomania; cosmo (belo, limpo, universo): cosmético, microcosmo; cracia (governo, poder): aristocracia, ginecocracia; criso (ouro): crisântemo, crisografia; cromo (cor): policromia, tricromia; crono (tempo): cronômetro, sincrônico... Datilo (dedo): datilografia, quirodátilo; demo (povo): democracia, epidemia; dendro (árvore): dendrobata, dendroclasta,; derma (pele): dermatologia, epiderme; dinamo (força): aerodinâmica, dinamismo; dromo (pista de corrida): autódromo, hipódromo; eco (casa, habitat): ecologia, economia; eno (vinho): enologia, enomania; entero (intestino): disenteria, enteralgia; entomo (inseto): entomofilia, entomologia; ergo (força, trabalho): energia, ergoterapia; espleno (baço): esplenalgia, esplenomegalia; estesia (sensibilidade): anestesia, telestesia; estoma (boca): estomatite, estomatoscópio; etno (povo, raça): etnia, etnografia; eto (costume): ética, etologia; fago (que se alimenta de): geófago, ictiófago; filo (que gosta): cinófilo, hidrófilo; fito (planta): fitófago, fitogeografia; flebo (veia): flebectomia, flebite; fobia (aversão, medo): acrofobia, ergofobia; fone (som, voz): fonema, telefone; foto (luz): fotografia, fotossíntese...

Galato (leite): galactófago, galactorreia; gamia (casamento): monogamia, poligamia; gastro (estômago): genia (criação, origem): congênito, genética; geo (solo, terra): apogeu, geografia; gero (velhice): geriatra, gerontocracia; gimno (nu): ginásio, ginástica; gino (mulher): ginecocracia, ginecologia; gipso (gesso): gipsografia, gipsífero; glico (doce): glicômetro, glicose; glossa, glota (língua): glossário, poliglota; gnos (conhecer, saber): diagnóstico, ignorar; grama (letra, palavra, peso): gramática, quilograma; hagio (sagrado, santo): hagiógrafo, hagiólogo; helio (sol): heliocêntrico, heliólatra; hema (sangue): anêmico, hemorragia; hemero (dia): efêmero, hemeroteca; hemi (meio): hemisfério, hemistíquio; hepa (fígado): hepatite, hepatotomia; hetero (diferente): heterogêneo, heterônimo... ----------------------------------------------------------------------------------------------------

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ELEMENTOS GREGOS (II) Hialo (vidro): hialino, hialotecnia; hidro (água): hidrelétrica, hidrografia; higro (umidade): higrófilo, higrômetro; hipo (cavalo): hípico, hipódromo; histero (útero): histeralgia, histerografia; histo (tecido): histologia, histotomia; hodo (caminho): êxodo, hodômetro; holo (inteiro, todo): holístico, holofote; homo (igual, semelhante): homeopatia, homônimo; icono (ídolo, imagem): íconólogo, iconoteca; ictio (peixe): ictiofagia, ictióide; idio (peculiar, próprio): idioleto, idiossincrasia; iso (igual): isocrônico, isotérmico; leuco (branco): leucemia, leucocitose; limno (lago, lagoa): limnófilo, limnometria; lipo (gordura): lipoaspiração, lipoma; lito (pedra, rocha): litografia, litogravura; logo (palavra): diálogo, logorreia; macro (grande, longo): macróbio, macrocéfalo; mega (grande): megafone, megalópole; micro (pequeno): micróbio, microscópio; mnes (memória): amnésia, mnemônica; necro (morte): necrópole, necrotério; nefelo (nuvem): nefelibata, nefelóide; nefro (rim): nefrite, nefrólito; nomia (administração): agronomia, economia; noso (doença): nosocômio, nosomania... Odonto (dente): odontológico, ortodontia; oftalmo (olho): oftalmia, oftalmoscópio; oligo (poucos): oligarquia, oligopólio; onimo (nome): antropônimo, pseudônimo; oniro (sonho): onírico, oniromancia; onto (ser): ontogênese, ontologia; orex (apetite): anorexia, heterorexia; orto (correto): ortografia, ortopedia; osteo (osso): osteometria, osteoporose; oto (ouvido): otite, otoscópio; paleo (antigo): paleografia, paleontologia; pan (todos, tudo): panaceia, panteísmo; paqui (grosso): paquiderme, paquigástrico; para (próximo, ao lado): paralelo, parapsicologia; pedo (criança): pediatra, pedagogo; pepsia (digestão): dispepsia, péptico; piro (foro): pirogênico, pirotécnico; pteco (macaco): pitecantropo, pitecóide; plegia (paralisia): hemiplegia, tetraplégico; pneumo (ar, pulmão): dispneia, pneumonia; podo (pé): antípoda, podômetro; polis (cidade): política, Teresópolis; potamo (rio): hipopótamo, Mesopotâmia; pluto (rico): plutocracia, plutomania; ptero (asa): pterodátilo, helicóptero; quiro (mão): cirurgia, quiromante... Rino (nariz): rinite, rinoceronte; sauro (lagarto): dinossauro, megalossauro; scop (ver): periscópio, telescópio); seleno (lua): selenita, selenografia; sema (sinal, significado): semântica, semiótica); sidero (aço, ferro): siderotecnia, siderurgia; sofia (sabedoria): filosofia, teosofia; soma (corpo humano): psicossomático, somatologia; talasso (mar): talassografia, talassoterapia; tanato (morte): eutanásia, tanatofobia; terapia (tratamento): terapêutico, psicoterapia; termo (calor): térmico, termodinâmica; tomo (divisão, parte): anatomia, átomo; topo (lugar): topografia, topônimo; trico (cabelo): tricotilomania, tricotomia; trofia (crescimento): hipertrofia, hipotrofia; uru (cauda, rabo): anuro, macruro; xeno (estrangeiro): xenofobia, xenomania; xero (seco): xerocópia, xerografia; xilo (madeira): xilogravura, xilófago; zimo (fermento): ázimo, zimotecnia; zoo (animal): epizootia, zoófilo. ----------------------------------------------------------------------------------------------------

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6. Nossos dois latins

Como foi dito, falamos ainda latim; modificado a ponto de mudar de nome (passou a chamar-se português), mas sempre latim. E não apenas um, senão dois latins: o vulgar e o erudito (ou clássico). O vulgar veio com os romanos, quando invadiram a península Ibérica (Espanha e Portugal); o erudito “ressuscitou” durante a Renascença (séculos 15 e 16), quando as pessoas cultas voltaram a ler os clássicos da Antiguidade greco-riomana: Aristóteles, Platão, Cícero, Virgílio... O vulgar chegou até nós pela boca do povo; o erudito pela escola e pelos livros. No século 16, em Portugal, a boca do povo já havia “mastigado” o latim, simplificando-o e o ajustando ao sotaque local. Mas os eruditos da época, entre os quais o máximo poeta Luís de Camões, animados pela moda renascentista, decidiram ir de novo à fonte e de lá trouxeram, renascido, e em sua mais esmerada forma, o vocabulário clássico. Assim, cadeira voltou a ser cátedra, inteiro voltou a ser íntegro, mancha voltou a ser mácula, e por aí afora. O povo fala mais do que escreve; o erudito escreve mais do que fala, ou tanto quanto. Na fala a língua se modifica muito mais rapidamente do que na escrita. Ou talvez até mais sabiamente, porque se guia pelas preferências do aparelho fonador (mestre em “lei do menor esforço”). Por exemplo: o erudito se delicia com as proparoxítonas – diz álacre; o povo acha mais fácil e mais bonito dizer alegre. Como supunha Gilberto Amado: se tivesse permanecido por mais tempo na boca do povo (sem a interferência dos clássicos), a língua portuguesa teria ficado inteiramente livre das proparoxítonas, tal como aconteceu com o francês. Abóbora seria abobra, chácara seria chacra, córrego seria corgo... Por obra e arte desses dois canais de entrada do latim em nossa vida, acabamos formando uma língua ao mesmo tempo nobre e plebeia. Por via plebeia, escutamos; por via nobre, auscultamos. O povo diz chama; o erudito diz flama. Um diz cheio, outro diz pleno; um diz redondo, outro rotundo; um diz livrar, outro liberar... Curioso também é observar que os substantivos (porque usados com maior frequência) mudaram mais que os adjetivos: do latim ecclesia temos em português o substantivo igreja, mas o adjetivo é eclesial; o substantivo é bispo, mas o adjetivo é episcopal (de episcopus). Do mesmo modo: cabelo e capilar (capillus); chumbo e plúmbeo (plumbum); chuva e pluvial (pluvia); dedo e digital (digitus); eixo e axial (axis); grau e gradual (gradus); ilha e insular (insula); mão e manual (manus); olho e ocular (oculus); orelha e auricular (auricula); pai e paterno (pater); perigo e periculoso (periculum); raiz e radical (radix); umbigo e umbilical (umbilicus)... ---------------------------------------------------------------------------------------------------

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7. Somos todos poliglotas Como refletimos anteriormente, falamos latim (argentífero, sericígeno); falamos também grego (idiossincrasia, prosopopeia); mas não somente grego e latim. Quem fala português fala ao mesmo tempo numerosas outras línguas. Vamos conferir. Sabemos que o latim trazido pelos romanos para a península Ibérica (Espanha e Portugal) misturou-se ali com outras línguas, de outros povos. Dessa forma o vocabulário foi crescendo, e até hoje repetimos palavras que os nossos ancestrais aprenderam com os iberos (arroio, baía, barro, cama, sapo); com os celtas (cabana, caminho, cerveja, lança, légua); com os fenícios (barca, malha, mapa, mata, saco); com os germânicos (burgo, estribo, feudo, roupa, sabão). Dos árabes herdamos quase mil palavras (açúcar, aldeia, alface, álgebra, almofada, arroz, azeite, café, ciranda, enxaqueca, fulano, girafa, harém, jarra, marfim, oxalá, rima, sultão, xerife, zênite...). De várias outras línguas tomamos por empréstimo (e não devolvemos) um punhado de palavras, das quais daremos a seguir pequena amostra. Do espanhol: apetrecho, baunilha, pandeiro, pimpolho, realejo; do francês: aprendiz, bilhete, etiqueta, paisagem, restaurante; do inglês: bife, cheque, esporte, túnel, uísque; do italiano: aquarela, camarim, confete, piano, talharim; do alemão: cãimbra, esgrima, folclore, harpa, valsa; do russo: czar, escorbuto, estepe, rublo, vodca; do persa: azul, bazar, jasmim, quiosque, turbante; do turco: caviar, iogurte, odalisca, paxá, sandália; do japonês: biombo, haicai, iquebana, quimono, saquê.

No Brasil, a língua portuguesa enriqueceu-se mais ainda, ao incorporar a preciosa contribuição indígena e africana. Com os africanos aprendemos palavras fortemente expressivas, tais como acarajé, agogô, angu, banguê, banguela, baobá, batuque, berimbau, caçula, cafundó, cafuné, caruru, caxambu, caxinguelê, dendê, fubá, jiló, marimbondo, maxixe, molambo, moleque, moringa, quilombo, quitute, tutu, vatapá. Os índios, por sua vez, nos deram de presente palavras que parecem música: araçá, caju, canoa, capim, carijó, cipó, cucuia, curió, embira, garapa, gaturamo, goiaba, guaraná, ingá, ipê, jabuticaba, jirau, jenipapo, jerimum, juriti, jururu, macaxera, mingau, mirim, mocotó, peroba, piaba, pipoca, piracema, pirão, pitanga, sabiá, saci, xará...

Mas o vocabulário não cessa nunca de crescer. A todo instante aparece alguma coisa nova, e tudo o que surge no mundo precisa ganhar um nome.

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8. Fobias e logias FOBIA (angústia, aversão, mal-estar, medo mórbido, pavor) – acrofobia (mal-estar em lugares altos); agorafobia (mal-estar em espaços muito largos e descobertos, como as grandes praças); ailourofobia (medo de gato); algofobia (medo da dor); androfobia ( aversão ao homem, ao sexo masculino); aracnofobia (medo de aranha); brontofobia (medo de trovão); cinofobia (medo de cachorro); claustrofobia (mal-estar em lugares apertados); ergofobia (aversão ao trabalho); fotofobia (aversão à luz); gefirofobia (medo de atravessar pontes) gimnofobia (pavor diante de pessoas nuas); ginecofobia (aversão à mulher, ao sexo feminino); hematofobia (pavor na presença de sangue); hidrofobia (aversão à água, sintoma apresentado pelo cão raivoso); hipnofobia (medo de dormir); lactofobia (aversão a leite); maieusofobia (medo do parto); necrofobia (pavor na presença de pessoas mortas); nictofobia (medo da escuridão); nosofobia (medo de ficar doente); oclofobia (mal-estar em meio a uma multidão); pirofobia (medo de fogo); sismofobia (medo de terremoto); tanatofobia (medo de morrer); tassalofobia (medo do mar); triquedecofobia (medo do número 13); xenofobia (aversão ao estrangeiro).

LOGIA (ciência, estudo) – [colocamos entre parênteses o objeto de cada ciência ou campo de estudo] – alergologia (alergias); andrologia (doenças masculinas); angiologia (vasos, veias); anemologia (ventos); antropologia (ser humano); aritmologia (números, grandezas); arqueologia (documentos e objetos antigos); biologia (seres vivos); bromatologia (alimentos); cardiologia (coração); carpologia (frutos); cinologia (cães); citologia (célula); cosmologia (universo); cronologia (divisão do tempo, datas históricas); dermatologia (pele); ecologia (ambiente); endocrinologia (glândulas de secreção interna); enologia (vinho); enterologia (intestinos); entomologia (insetos); esplenologia (baço); estomatologia (boca); etimologia (origem das palavras); etnologia (aspectos culturais dos povos); etologia (costumes); fitologia (plantas); fonologia (som, voz); gastrologia (estômago); geologia (origem, formação e transformações do globo terrestre); gerontologia (doenças de idosos); ginecologia (doenças privativas das mulheres); glossologia ou glotologia (línguagem); hagiologia (santos, coisas sagradas); hematologia (sangue); hepatologia (fígado); histologia (tecidos); iconologia (imagens, figuras alegóricas); ictiologia (peixes); limnologia (lagos, lagoas); litologia (pedra, rocha); mastologia (glândulas mamárias); mastozoologia (mamíferos); microbiologia (micróbios); mitologia (fábulas, lendas, mitos); morfologia (formas); nefrologia (rins); neonatologia (recém-nascidos); neurologia (nervos); oftalmologia (olhos); oncologia (tumores); oologia (ovos); ornitologia (pássaros); orologia (montanhas); osteologia (ossos); otologia (ouvido); paleontologia (fósseis, seres antigos); patologia (anormalidades, doenças); psicologia (mente); pneumatologia (anjos, espíritos); pneumologia (pulmões); potamologia (rios); rinologia (nariz); semiologia (significado); sismologia (tremores de terra); somatologia (corpo humano); teologia (Deus); traumatologia (ferimentos, lesões); urologia (órgãos das vias urinárias); zoologia (animais).

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9. Culturas, manias etc. CULTURA (= cultivo, em relação a vegetais; criação, em relação a animais) – apicultura (abelhas); bubalinocultura (búfalos); ciprinocultura (carpas); citricultura (laranja, limão); columbicultura (pombos); cotonicultura (algodão); cunicultura (coelhos); equinocultura (cavalos); olericultura (legumes); piscicultura (peixes); pomicultura (maçã, pera); orizicultura ou rizicultura (arroz); ovinocultura (ovelhas); sericicultura (bicho-da-seda); triticultura (trigo); viticultura (uva). MANIA (gosto exagerado por alguma coisa, paixão) – antomania (paixão pelas flores); bibliomania (paixão pelos livros); clastomania (mania de destruição); cleptomania (mania de roubar, sem necessidade); dacnomania (mania de morder); enomania (paixão por vinhos); hidromania (mania de beber água); iconomania (mania de colecionar estatuetas, imagens); megalomania (mania de grandeza); melomania (paixão pela música); micromania (mania de humildade); mitomania (mania de mentir); nosomania (mania de se dizer doente); sofomania (mania de exibir erudição); tricotilomania (mania de puxar os cabelos).

METRO (como elemento de composição, indica medida, instrumento utilizado para medir alguma coisa) – anemômetro (velocidade do vento); barômetro (pressão atmosférica); cronômetro (tempo); hidrômetro (consumo de água); higrômetro (umidade); hodômetro (distância percorrida); manômetro (pressão de um líquido); *parquímetro (tempo de permanência de um veículo no estacionamento); pluviômetro (índice de precipitação das chuvas); podômetro (distância percorrida por um pedestre); telêmetro (grandes distâncias); termômetro (temperatura); velocímetro (velocidade). (*) A palavra parquímetro, embora constituída de elementos de origem latina, chegou ao português passando pelo inglês parking-meter (equipamento que registra o tempo de permanência de um veículo num estacionamento e indica a taxa a ser paga). Em inglês, to park é estacionar, e parking é estacionamento de automóveis. Em português temos os verbos aparcar (em Portugal) e parquear (no Brasil), ambos sinônimos de estacionar.

CRACIA (governo, poder) – aristocracia (poder dos escolhidos, dos nobres); burocracia (poder do escritório, do documento, do papel); democracia (governo do povo); gerontocracia (poder exercido por pessoas idosas); ginecocracia (poder exercido por mulheres); plutocracia (poder dos ricos). Têm sentido semelhante as palavras formadas com o elemento de composição arquia – anarquia (ausência de governo); monarquia (poder exercido por uma só pessoa); oligarquia (poder nas mãos de um pequeno grupo); tetrarquia (poder exercido por quatro pessoas). -----------------------------------------------------------------------------------------------------

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10. Um régulo na panturrilha Não se assuste se ouvir alguém dizer que fulano tem um régulo na panturrilha. Significará apenas que o tal fulano tem um reizinho na barriguinha. Se os diminutivos em português fossem todos marcados por inho ou zinho, seria moleza (barquinho, barzinho). O problema é que muitos deles vieram prontos do latim, mantendo a forma erudita; outros chegaram até nós via espanhol, francês, italiano, e alguns nem parecem diminutivos. Por exemplo: é fácil entender que caixinha é diminutivo de caixa, porém nem todos percebem de imediato que cápsula (do latim capsa = caixa) é a mesma coisa, isto é, uma caixinha.

Assim também acontece com régulo, diminutivo erudito de rei, e com panturrilha, palavra que pedimos emprestada ao espanhol e que em geral é empregada no sentido de barriga da perna (daí que os jogadores de futebol

frequentemente se queixam de “contratura na panturrilha”). A palavra tem origem no latim pantex (= barriga), que virou panza em espanhol e pança em português. De pantex temos também os verbos empanturrar e empanzinar. Pode ser útil anotar outros diminutivos igualmente interessantes: asterisco (diminutivo do lat. aster = astro, estrela – repare que o asterisco [*] é uma estrelinha); botija (do lat. buttis = pote, tonel); caniço (de cana, cano); cassete (do fr. casse = caixa – cassete é a caixinha onde se guarda a fita); castanhola (de castanha); castelo (do lat. castrum = fortaleza); cedilha (diminutivo da letra grega zeta [z] – o sinal que colocamos embaixo da letra ç era originalmente um pequeno z); crepúsculo (do lat. crepus = escuro); cubículo (de cubo); donzela (de dona); edícula (do lat. aedes = casa); espátula (de espada); fascículo (do lat. fascis = feixe – de varas, de folhas de papel etc.); flâmula (do lat. flama = chama); flóculo (de floco); flósculo, florículo (de flor); folíolo (de folha); goela (do lat. gula = esôfago); gorjeta (de gorja = garganta); grânulo (de grão); janela (do lat. janua = entrada, porta); lagartixa (de lagarto); lamparina (de lâmpada); luneta (do lat. luna = lua); maçaneta (de maçã – as maçanetas antigas tinham, quase todas, a forma de uma pequena maçã); mantilha (de manta); moela (provavelmente de mo, moinho); molécula (do lat. moles = massa, corpo); músculo (do lat. mus, muris = rato – observe que o bíceps tem a forma de um ratinho); neblina (do lat. nebula = névoa); nódulo (do lat. nodus = nó); opúsculo (do lat. opus = obra); ósculo = beijo (do lat. os, oris = boca – para beijar a pessoa contrai os lábios, faz uma “boquinha”); palito (do lat. palus = pau); parcela, partícula (de parte); pastilha (de pasta); película (de pele); pipeta (de pipa); radícula (do lat. radix, radicis = raiz); roseta (de rosa); sarjeta (de sarja = escoadouro de águas); Venezuela (de Veneza – o nome foi dado pelos colonizadores ao observarem o grande número de cabanas construídas sobre estacas nas águas do lago Maracaibo, lembrando uma pequena Veneza); versículo (de verso); vesícula (do lat. vesica = bexiga); vírgula (do lat. virga = vara – a vírgula tem a forma de uma varinha). ----------------------------------------------------------------------------------------------------

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11. Cardio ou corde? Cardio ou corde, o coração é o mesmo. A diferença é que cardio é grego e corde é latim. A medicina usa preferentemente a forma grega (cardiologia, cardiopatia, eletrocardiograma). Corde (em latim cor, cordis) aparece mais na linguagem figurada, tomando-se coração como símbolo dos sentimentos e da vontade. Daí temos, por exemplo, cordial ( = de coração). A propósito,

é bom lembrar que o tradicional “cordialmente”, no fecho das cartas, só se justifica quando de fato existe amizade “de coração” entre o remetente e o destinatário. Com igual sentido, temos ainda os verbos concordar (para indicar que dois corações convergem, isto é, ambos “querem” a mesma coisa) e discordar (para indicar que dois corações divergem, isto é, um “quer” alguma coisa e outro quer algo oposto). Durante muito tempo as pessoas acreditaram também que o coração fosse a sede da inteligência e da memória, daí resultando a expressão saber de cor (ter na memória) e os verbos decorar (memorizar) e recordar (trazer de volta à memória). Aproveitando o fio da meada, parece oportuno recordar um pouco daqueles adjetivos “chiques” chamados eruditos. Daremos a seguir uma pequena lista,

colocando entre parênteses o substantivo a que cada adjetivo se refere: acrídio (gafanhoto); adamantino (diamante); álgico (dor); angelical (anjo); anímico (alma); anserino (ganso, pato); aquilino (águia); argênteo (prata); arietino (carneiro); asinino (burro, jumento); áureo (ouro); auricular (orelha, ouvido); austral (sul); avuncular (tio); axial (eixo); bélico, belicoso (guerra); bubalino (búfalo); canoro (canto); capilar (cabelo); ciático (quadril); cínico (cão); columbino (pombo); consuetudinário (costumes); cúprico (cobre); digital (dedo, número); domiciliar (residência); ebúrneo (marfim); eclesial (igreja); embrionário (embrião, início); êneo (bronze); episcopal (bispo); epistolar (carta); equino (cavalo); etílico (álcool); falimentar (falência); felino (gato); fiducial, fiduciário (confiança); fluminense, fluvial (rio); fraterno (irmão); gástrico (estômago); glacial (frio, gelo); hebdomadário (semana); hepático (fígado); heráldico (brasão); hígido (saúde); hípico (cavalo); ictíico (peixe); ígneo (fogo)... Laborioso (trabalho); lácteo (leite); lúdico (brinquedo, jogo); matutino (manhã); meridional (sul); mnemônico (memória); monacal, monástico (monge); monetário (moeda); ocidental (oeste); murino (rato); ocular (olho); náutico (barco, navio); nodal (nó); ofídico (cobra); onírico (sonho); oriental (leste); ovino (ovelha); papilonáceo (borboleta); paradisíaco (paraíso); pecuniário (dinheiro); persecutório (perseguição); pétreo (pedra); písceo (peixe); plúmbeo (chumbo); pluvial (chuva); probatório (prova); pueril (criança); radical (raiz); renal (rim); sacarino (açúcar); senil (velho); setentrional (norte); sideral (astros, estrelas); somático (corpo humano); telúrico (terra); uxoriano, uxórico, uxório (esposa); varonil/viril (homem, varão); vascular (vasos sanguíneos); venoso (veia); vesical (bexiga); vespertino (tarde); vulpino (raposa). ----------------------------------------------------------------------------------------------------

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12. Rebaixa de fatos de banho Aproveite: estão liquidando os maiôs. Isso mesmo: em Portugal, rebaixa é liquidação; fato é roupa; e fato de banho é, naturalmente, traje de praia: maiô, biquíni, calção etc. Quando você for lá, vá sabendo: a língua é (quase) a mesma. Sublinhe o pormenor: quase. Nos jornais de lá você vai logo notar algumas diferenças gráficas. Por exemplo: eles escrevem académico, Amazónia, António, bónus, fémur, fénix, fenómeno, quilómetro, ténis... (com acento agudo, quando aqui marcamos tais palavras com acento circunflexo); eles conservam, mais do que nós, as consoantes chamadas “mudas” (escrevem acto, accionista, adopção, baptismo, correcto, director, excepção, óptimo, optimismo...). Na linguagem oral também será fácil perceber características interessantes: eles “engolem” alguns fonemas: cr’oa, difr’ente, espr’ança...; eles usam habitualmente, no tatamento íntimo, o pronome tu; e no tratamento mais cerimonioso, além de o senhor, a senhora, a senhorita, valorizam muito a fórmula Vossa Excelência. O que mais chama atenção, entretanto, é o vocabulário. Você, por certo, já ouviu falar que bicha em Portugal é fila, daí resultando frases como estas: “Ontem à noite havia uma bicha enorme na porta do teatro”... “Favor não furar a bicha”... E como baguete (pão) é cacete, não estranhe se ouvir

alguém dizer: “Entrei na bicha para apanhar um cacete quentinho”. Outra palavra curiosa é troço (trecho de estrada). Você poderá encontrar placas assim: “Troço escorregadio”... “Longo troço em declive”... Autocarro é ônibus, berma é acostamento, peão é pedestre, e aparcar é estacionar. Descapotável é conversível, gasolineiro é frentista de posto (hoje raramente encontrável por lá), boleia é carona, e demasia é troco. Romagem é romaria, renda é aluguel, betão é cimento, e piroso é brega, jeca. O avião, quando levanta voo, descola; quando desce, aterra. Canalizador é encanador, casa de banho é banheiro, e banheiro é como se chama o salva-vidas. Retrete é privada, autoclismo é caixa de descarga, de-fumos é exaustor, e esquentador é aquecedor. Pastilha elástica é chiclete, sandes é sanduíche, e ementa ou preçário ou carta de pratos é o que chamamos cardápio ou menu. Capachinho é peruca, penso é curativo, e casa com recheio é casa com os móveis. Mandato a distância é controle remoto; atendedor automático ou gravador de chamadas é secretária eletrônica, e ficha é tomada. Relvado é campo de futebol, equipa é time, e golo da igualdade é gol de empate. Camião é caminhão, camionista é motorista, e portagem é pedágio. Estomatologista é dentista, peúga é meia para homem, e elétrico é bonde.

Mas nada disso é problema, porque tanto lá como cá amizade é amizade, amor é amor, abraço é abraço. Um abraço enorme, que já dura mais de 500 anos e que a cada dia é mais dengoso. ---------------------------------------------------------------------------------------------------

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13. Polissemia (I) Há uma brincadeira assim: é prêmio ao valor; é tom de cor; dá forte sabor; é um ser falador... O que é o que é ?... Isso mesmo. A resposta é louro – prêmio ao valor (os louros da vitória, láurea, laurel); tom de cor (cabelos louros = amarelos); dá forte sabor (folhas de louro, usadas como tempero); um ser falador (louro, o papagaio).

A isso se chama polissemia (poli = muitos + sema = significado): muitos significados para um mesmo significante. Vejamos, por exemplo, a palavra ponto (do latim punctum), que significava originariamente “furo”. Era costume fazer-se um buraco, um furo (punctum) para marcar algum lugar, disso resultando que ponto, em pouco tempo, virasse sinônimo de marca. Daí por diante, de metáfora em metáfora, o verbete ponto, com seus múltiplos significados, foi ocupando espaço cada vez maior nos dicionários. Confira: ponto a ponto, ponto culminante, ponto de apoio, ponto de bala, ponto de chegada, ponto de cruz, ponto de ebulição, ponto de honra, ponto de interrogação, ponto de ônibus, ponto de saturação, ponto de táxi, ponto de vista, ponto facultativo, ponto final, ponto morto, pontos cardeais, chegar a tal hora em ponto, entregar os pontos, estar a ponto de explodir, fazer ponto no bar, fazer tantos pontos na loteria, levar tantos pontos na cabeça, não dar ponto sem nó, o doce está no ponto, o ponto que caiu na prova, tocar no ponto fraco, vender o ponto...

A polissemia pode dar origem a comunicados ambíguos, por isso exige

especial cuidado em textos que exijam máxima clareza e exatidão. Trabalhada, porém, com engenho e arte, permite interessantes jogos de palavras, e tem sido utilizada com frequência, sobretudo, na poesia, na publicidade e no humorismo. Observe estes versos de Manuel Bandeira: No Nordeste faz calor também, / mas lá tem brisa: / Vamos viver de brisa, Anarina! – A chave do poema está justamente no duplo sentido da palavra brisa, ainda mais se considerarmos o

nome da personagem – Anarina.

Veja também estes versos de Geir Campos: Se eu lhes desse agora fragmentos do meu passado, / seria como dar-lhes um presente usado. – Observe a habilidade com que o poeta tirou proveito do jogo semântico passado-presente, explorando a ambiguidade da palavra presente.

A polissemia foi sempre grande aliada dos criadores de textos publicitários, mestres na arte de tirar o melhor proveito da ambiguidade das palavras. Veja estes exemplos, em que marcamos com itálico as palavras-chave:

* Uncle Ben’s é o arroz que pegou porque não gruda.

* Papel – uma indústria de fibra.

* Dumont – o primeiro a cada segundo.

* Delta AirLines – Você se sente lá em cima.

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14. Polissemia (II)

São, porém, os humoristas os que mais frequentemente se servem dos jogos polissêmicos (trocadilhos etc.) para fazer as suas graças. Algumas amostras, que por certo você já ouviu ou leu em algum lugar:

* Sabe como ele conseguiu colar grau?... Colando...

* Muitas vezes a colação de grau depende do grau de colação.

* Na roça, cana dá pinga. Na cidade, pinga dá cana.

* Ela e ele saíram para fazer um programa. Trabalham juntos na TV.

* A palestra dele me lembrou uma espada: comprida e chata.

* Tem gente que faz na vida pública o mesmo que na privada.

* Já deu muitas voltas no globo. É motociclista de circo.

* O Brasil foi feito por nós. Falta apenas desatá-los.

* Gripe topless: você tosse, tosse, tosse... até botar os peitos pra fora.

* Sabe o que faz o nadador?... Nada!

* A duplicata, ela sim pode afirmar: – Hei de vencer!

* Disse o estudante: – Feliz é o rio, que faz o seu curso sem sair do leito.

* Motorista paciente: se o sinal está verde, ele espera amadurecer.

Por falar em motorista, uma das mais interessantes coleções de jogos polissêmicos é a que circula Brasil afora nos parachoques de caminhões. São frases realmente muito boas. Vale recordar algumas:

* A vida de solteiro é vazia; a de casado enche.

* O mundo é redondo, mas está ficando chato.

* A mata é virgem porque o vento é fresco.

* Melhor um cachorro amigo do que um amigo cachorro.

* Relógio que atrasa não adianta.

* Para não ficar a pé, siga sempre na mão.

* Já estou cheio de me sentir vazio.

* A preguiça é um ócio duro de roer.

* Curta a vida, porque a vida é curta.

* Quem gosta de coroa é rei.

* Não sou sanfoneiro, mas toco a noite inteira.

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15. Sinônimos (I) Tomemos, por exemplo, a frase “Quem com ferro fere com ferro será ferido”. A esse tipo de frase dá-se o nome de provérbio – palavra cujo significado é “breve sentença que expressa a sabedoria popular”. Poderíamos dizer a mesma coisa, isto é, indicar o mesmo significado, escolhendo, entre outras, uma das seguintes palavras: adágio, aforismo, anexim, apotegma, brocardo, ditado, dito, máxima, preceito, prolóquio, rifão... A isso chamamos sinonímia – vários significantes para o mesmo significado. Nem sempre, entretanto, a coincidência de significado é perfeita; por isso é importante, em benefício da clareza e da expressividade, escolher o sinônimo que melhor se encaixe no contexto. Em vez de aeroplano, você dirá avião, por ser palavra mais moderna; ou aeronave, para indicar maior intimidade com esse meio de transporte. Alencar não descreveu Iracema como a que tinha beiços açucarados; deu-lhe lábios de mel. Um beijo fica muito melhor no rosto ou na face do que na cara. Seca e enxuta podem ser sinônimos, no entanto é mais prudente chamar uma garota de enxuta do que de seca...

A linguagem, em sua função expressiva, estabelece para os sinônimos uma espécie de hierarquia social, que parte do cerimonioso ou científico, passa pelo afetivo ou familiar e chega até o rústico ou vulgar. Nessa ordem temos, por exemplo, abdome-barriga-pança; urina-xixi-mijo; fezes-cocô-merda; indelicado-grosseiro-cavalo; nádegas-bumbum-bunda; tedioso-enfadonho-chato... Geram-se os sinônimos mediante processos vários. Veremos alguns dos mais frequentes: Eufemismo ou disfemismo, que consistem em amenizar ou embrutecer a manifestação de uma ideia. Por exemplo: para substituir morrer, temos, entre outros, os eufemismos descansar, falecer, faltar, partir, dormir nos braços do Senhor; entregar a alma a Deus; ir desta para melhor, ir para a eternidade, mudar-se para o andar de cima... ou disfemismos tais como bater as botas, esticar as canelas, ir para a cidade dos pés juntos... Em vez de velhice, muitos preferem dizer idade avançada, idade da sabedoria, idade madura, idade provecta, outono da vida, terceira idade... E o velho, embora comumente chamado ancião, idoso, vetusto, é dito por outros coroa, gagá...

O povo é fértil também na criação de eufemismos “folclóricos”: cachaça = água que passarinho não bebe; defecar = exonerar o ventre; gravidez = estado interessante; menstruação = lua; penico = vaso da noite; urinar = verter água...

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16. Sinônimos (II) A gíria é outra fonte inesgotável de sinônimos, alguns engraçados, outros um tanto grosseiros, mas sempre fruto de admirável criatividade. Veja, por exemplo, quantos sinônimos o povo criou para aguardente: bagaceira, birita, bafo-de-onça, branca, branquinha, cachaça, caiana, cana, caninha, esquenta-goela, mata-bicho, parati, pinga, purinha, suor de alambique; para bêbado: bebum, esponja, gambá, pau-d’água, pinguço; para embriaguez: carraspana, ferro, fogo, pileque, pifão; para casamento: amarração, degola, forca, entrega dos pontos; para prostituta: cortesã, loba, loureira, horizontal, marafona, mariposa, messalina, mulher à-toa, mulher-dama, mulher da rua, mulher da vida, mulher da zona, mulher de vida fácil, odalisca, piranha, puta, rameira, traviata; para dinheiro: carvão, gaita, grana, tutu; para caipira: bobó, bocó, brega, cafona, capiau, casca-grossa, coió, jacu, jeca, matuto, mocorongo, otário, tabaréu...

A metonímia e a sinédoque (que alguns consideram uma coisa só) prestam bons serviços na criação de sinônimos, tanto poéticos quanto populares. Exemplos de metonímia: Comeu dois pratos (= a comida contida em dois pratos); Já bebeu duas garrafas (= o conteúdo de duas garrafas); Ele é um bom garfo (= uma pessoa que come muito); É sempre útil ler Machado (= os livros de Machado de Assis); “Respeite ao menos meus cabelos brancos” (= idade avançada) [Herivelto Martins]; “O retumbar dos bronzes” (= sinos) [Fagundes Varela]. Exemplos de sinédoque: O pão de cada dia (= o alimento); Os sem-teto (= sem casa); Completou 60 janeiros (= 60 anos). O símbolo é outra forma interessante de sinonímia. Dentro do contexto próprio, são sinônimos, por exemplo: arado = agricultura; balança = justiça; altar, cruz = igreja; lira = música, poesia; trono = realeza. Algumas cores ou conjuntos de cores constituem também símbolos com força de sinônimos: Alvinegro = Botafogo, Corinthians; Rubronegro = Flamengo; Tricolor = Fluminense, São Paulo F.C.; Verdão = Palmeiras. E não nos esqueçamos dos animais-símbolos, que igualmente ganharam status de sinônimos: águia = perspicaz; burro = ignorante; camaleão = falso, traiçoeiro; carneiro = ingênuo, pacífico; coruja = mãe que gaba os filhos; galinha = namorador, namoradeira; gata = moça bonita; gavião = conquistador; jararaca = mulher brava; porco = avesso à higiene; raposa = esperto. Entram ainda nessa categoria de sinônimos alguns famosos personagens da história e da literatura: don juan = conquistador; dom quixote = idealista, sonhador; hércules = forte, másculo; judas, silvério dos reis = traidor; mecenas = protetor das artes. -----------------------------------------------------------------------------------------------------

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17. O valor do pormenor Pormenor, minúcia, detalhe... como você preferir. O importante é levar a sério certas minudências que realmente decidem na construção de um significado. Por exemplo: entre velinha acesa e velhinha acesa (com lh), a diferença é grande. Pior ainda será se na festa de aniversário, em vez de apagarem a velinha, resolverem apagar a velhinha... Notem que, no primeiro caso, velhinha (com lh), em lugar de velinha, altera também o sentido de acesa; no segundo caso, altera o sentido de apagar. Outros exemplos: Comer à francesa (com crase) é uma coisa. Comer a francesa (sem crase) é outra. E “comer” a francesa pode ter outro sentido ainda... A manchete Avião caiu no rio faz entender que um avião tenha caído nas águas de um rio. Já Avião caiu no Rio indica que o avião caiu no Rio de Janeiro. A maiúscula aí faz a diferença. Manifestantes dirigiram-se à Bolsa de Valores levando uma faixa: Não à privatização. Como naquele dia o leilão não pôde realizar-se, os manifestantes fizeram uma pequena alteração na faixa: Não há privatização. Um simples h e a inversão do acento mudaram o recado. Pedro ouviu que Maria estava falando (reconheceu a voz de Maria). Pedro ouviu o que Maria estava falando (ficou sabendo de que assunto Maria estava falando). Agora é com você. Veja se percebe a diferença: * O defeito é no rádio – O defeito é na rádio. * Ele é ruim de bola – Ele é ruim da bola. * Ele é um homem de bem – Ele é um homem de bens. * Ele saiu daqui há pouco – Ele sairá daqui a pouco. * Sente-se, bem! – Sente-se bem? * Não gosto de pão duro – Não gosto de pão-duro. * Ele caiu da cama – Ele caiu de cama. * O tio e padrinho da noiva – O tio e o padrinho da noiva. * O papel de imprensa – O papel da imprensa. * O médico chegou a tempo – O médico chegou há tempo. * Os inimigos são dois – Os dois são inimigos. * A galinha vai por ali – A galinha vai pôr ali. ------------------------------------------------------------------------------------------------------

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18. Defeitos de estilo (I) Escritores, jornalistas, apresentadores do rádio e da televisão, políticos, professores, enfim todos os que frequentemente nos comunicamos com o público estamos sujeitos a escorregões. Na linguagem coloquial, evidentemente, podemos até bagunçar um pouco a norma chamada culta. Mas em textos formais é bom tomar cuidado. Ler, reler, emendar, cortar, reescrever, são hábitos que ajudam a evitar certos vexames – desde simples cochilos de grafia até defeitos mais importantes, como os que veremos (ou reveremos) a seguir. CHAVÃO (chapa, clichê, estereótipo, lugar-comum, mesmice) – Ninguém escapa de perpetrar de vez em quando um chavãozinho. No entanto, vale sempre a pena buscar a originalidade. Olhos e ouvidos atentos: ao perceber que determinada expressão está sendo muito repetida em toda parte, fujamos dela. Com um pouco de criatividade, acharemos algo capaz de substituir fórmulas por demais surradas, tais como a bola da vez, a céu aberto, administrar os resultados, agradar a gregos e troianos, alto e bom som, a nível de, aparar as arestas, a toque de caixa, causar espécie, calorosa recepção, calorosa salva de palmas, cartada decisiva, chegar a um denominador comum, com a voz embargada pela emoção, com certeza, conjugar esforços, conquistar o seu espaço, coroado de êxito, corpo escultural, correr atrás do prejuízo, de mão beijada, dirimir dúvidas, em compasso de espera, empanar o brilho, escoriações generalizadas, falta vontade política, fazer a lição de casa, fazer uma colocação, forças vivas da sociedade, gesto tresloucado, honrosa visita, ideia fantástica, ilustre visitante, infausto acontecimento, inserido no contexto, lamentável equívoco, lauto jantar, leque de opções, misto de alegria e tristeza, monstros sagrados, na fila do gargarejo, não é por aí, num primeiro momento, obra faraônica, o conjunto da sociedade, perda irreparável, perdeu o bonde da história, por ironia do destino, por último mas não menos importante, profundo pesar, profundo silêncio, rápidas pinceladas, rigoroso inquérito, segmentos da sociedade, sincera homenagem, singelo presente, suculenta feijoada, tecer considerações, verdadeiro caos... AMBIGUIDADE (anfibologia, duplo sentido, obscuridade) – Há casos até de triplo sentido, como percebemos na frase “O operário pintou o avião a jato”. Você pode entender: a) que um avião movido a jato foi pintado pelo operário; b) que o operário pintou o avião muito rapidamente (a jato); ou c) que o operário pintou o avião usando uma daquelas pistolas que soltam jatos de tinta... Veja agora esta: “Pedro beijou a mulher dele e José fez o mesmo”. José beijou a própria esposa ou beijou a mulher de Pedro?... Mais uma: “Vi a lua entre as nuvens viajando de avião”. E outras mais: * A comida ali é barata. * A população parou de crescer porque o brasileiro está comendo menos. * Roupas para mulheres usadas. * Chapéus para homens de palha. * Fogões para cozinheiras a gás que soltam fogo pelas quatro bocas.

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19. Defeitos de estilo (II) REDUNDÂNCIA (pleonasmo, tautologia, superfluidade) – As pessoas não se contentam em subir: querem subir para cima; não se contentam em repetir: querem repetir de novo... Daí que a lista vai crescendo: acabamento final, adiar para data posterior, boato falso, cair um tombo, conclusão final, continua ainda, conviver junto, ele esteve aqui pessoalmente, elo de ligação (sendo elo, só pode ser de ligação), encarar de frente, erário público (erário já significa tesouro público), estrear novo, exportar para fora, exultar de alegria (exultar é manifestar alegria), foram todos unânimes, ganhar de graça, há dois anos atrás (o há dispensa o atrás, e vice-versa), já não é mais, manejar [ou manusear] com as mãos, manter o mesmo, metades iguais, minha opinião pessoal, monopólio exclusivo, novidade inédita, outra alternativa (em alter já está expressa a ideia de outra/outro), pedalar com os pés, pessoa humana, prosseguir adiante, recinto fechado (recinto é espaço fechado), sentidos pêsames, sorriso nos lábios, surpresa inesperada. REPETIÇÃO – Que-que-que-que... um-um-um-uma... meu-meu-minha... seu-seu-sua... Repetições como essas, além de deselegantes, “machucam” o ouvido alheio. Confira: * Aquela moça, que estuda, que trabalha, que cuida da casa e que ainda tem que fazer tanta coisa de que não gosta, é alguém que a gente tem que admirar. *Um homem entrou em uma loja e pediu um par de sapatos a uma balconista e uma gravata a um rapaz que atendia em uma outra seção. * Meu método de administração exige minha presença ao lado dos meus funcionários. Convivendo com os meus gerentes e com toda a minha equipe, comunico meu estilo aos que militam comigo. * Filisberto Filisbertus, sua esposa e seus filhos comunicam a seus parentes e a seus amigos sua mudança para sua nova residência, construída em sua chácara, onde se colocam à sua disposição e esperam receber sua visita. * Aí ele chegou, aí contou uma história, aí pediu água, aí... * Então ele chegou, então contou uma história, então pediu água, então... * Ele chegou, sabe?... contou uma história, sabe?... pediu água, sabe?... * Ele chegou, não é?... contou uma história, não é?... pediu água, não é?... RIMA (eco, homeoteleuto) – Rima em poesia, tudo bem... (claro, desde que

seja boa). Mas em prosa, convenhamos que não dá. Veja como fica: * Quando eu chegar ao mar, vou me esbaldar, vou nadar, vou deitar e rolar, descansar, sonhar, até enjoar de tanto ar.. * Neste momento, na rua do Livramento, o Zezé Bento está pedindo consentimento para realizar seu casamento na capela do convento. * Toda a nação, até por uma questão de autoproteção, sente-se na obrigação de buscar solução contra a volta da inflação. ------------------------------------------------------------------------------------------------------

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20. Defeitos de estilo (III) CACOFONIA (cacófato) – Nem mesmo os grandes escritores estão livres de

cochilos desse gênero. É famosa, por exemplo, a “alma minha” de Camões, o poeta máximo. O primoroso Bilac desafinou no “só quem ama...” E o genial Vieira deixou escapulir o célebre “busca pão”. Mas não será por isso que vamos abusar. Encontros sonoros “impudicos”, ou simplesmente “engraçados”, podem comprometer a seriedade de um texto. Com a devida moderação (para não cair na cacofatomania), anote alguns que podem muito bem ser evitados: acerca dela, álbum da moça, a lei teria, amo ela, a roupa daria, a rota, chegou ao auge (ao-au?...), cinco cada, começou a cavá-lo, como a concebo, confisca gado, conforme já, da nação, ela tinha, ela trina, eles o são (ossão?...), embarca nela, em busca dela, escapa nela, estoca brita, estraga linha, fé demais, fica nisso, haja manta, havia dado, intrínseca validade, levanta manco, má madeira, marca dela, marca gol, mas ela, mesma mão, nunca ganha, o café deu, o time já, paraninfo da turma, por cada, por razões, prima minha, reclama mais, só sobraram, tarefa fácil, toca a gansa, triunfo da equipe, uma mata, um barco meu, vez passada (vespa assada?...), vi a dona...

PALAVRAS “DIFÍCEIS” (eruditismo, sofomania) – Escrever ou falar “difícil” não significa escrever ou falar bem. Ao contrário, porque o leitor/ouvinte acaba não entendendo coisa alguma. Imagine a reação da moça que recebesse do namorado um bilhete assim: “As tessituras traumáticas dos invólucros cardíacos de minha caixa torácica palpitam por ti”... Vale lembrar o sábio conselho de Paul Valéry: “Entre duas palavras, escolha sempre a mais simples; entre duas palavras simples, escolha a mais curta”. TERMOS TÉCNICOS (economês, gramatiquês etc.) – O problema é semelhante ao que vimos no item anterior. Claro: de advogado para advogado, de economista para economista, de gramático para gramático, de médico para médico, o emprego de termos técnicos é natural; às vezes é até indispensável. Mas, no relacionamento com o público geral, quanto mais simples o vocabulário, tanto mais eficiente a comunicação. Sempre há de ser possível “trocar em miúdos” os adimplementos, os fluxogramas, as antonomásias, as esplenomegalias... Em vez de oftalmotorrinolaringologia, é muito mais fácil dizer “clínica de olhos, ouvidos, nariz e garganta”. E veja se você entende que coisa é isto: dinâmica estrutural totalizada; flexibilidade logística inusitada; mobilidade opcional balanceada; retroação dimensional sistemática... Numa de suas deliciosas crônicas, Fernando Sabino brinca com essa história de falar difícil. Diz ele, dando uma caprichada receita de como não se deve escrever: “Para direcionar o questionamento dos problemas que afetam determinado segmento da sociedade, acionando o dispositivo de uma logística que atinja os estratos sociais emergentes, faz-se mister equacioná-los em módulos abrangentes, que otimizem a operacionalização, segundo parâmetros impostos pela cooptação da proposta contida no discurso de nossa casuística”. -----------------------------------------------------------------------------------------------------

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21. Defeitos de estilo (IV) VERBORRAGIA (logorreia, palavras inúteis, prolixidade, tagarelice) – Uma

das boas normas da etiqueta é a que nos recomenda poupar o tempo alheio. Falando ou escrevendo, é ótimo hábito concentrar no mínimo de palavras aquilo que se quer dizer. Em vez de “aos 22 dias do mês de maio do ano de 1999, na cidade de Maringá, estado Paraná...”, basta dizer “a 22 de maio de 1999, em Maringá – PR...” Em vez de “chefe do executivo municipal”, basta dizer “prefeito”. Em vez de “capital do estado do Paraná”, basta dizer “capital do estado”, “capital do Paraná”, ou simplesmente “Curitiba”. Em vez de “Através do presente instrumento, venho solicitar a Vossa Senhoria a especial gentileza de remeter-me dois exemplares do livro Os lusíadas, de autoria do escritor português Luís Vaz de Camões”, é muito mais prático escrever assim: “Solicito-lhe a remessa de dois exemplares de Os lusíadas”. Há uma piadinha que em diferentes versões costuma circular nas redações de jornais. O aprendiz de repórter apresentou este belo texto: “O ilustre e inimitável pianista foi atentamente observado e entusiasticamente aplaudido pela seleta, elegante e empolgada plateia que superlotava o amplo e confortável teatro”. O editor “enxugou” os adjetivos e outras palavras supérfluas. Veja o que sobrou: “O pianista foi entusiasticamente aplaudido”. O “entusiasticamente” foi mantido para não desestimular o rapaz... INCOERÊNCIA – Sempre é útil reler cuidadosamente o que escrevemos. Se

possível, é bom pedir também que outra pessoa confira. Um “minuto de bobeira” é bastante para deixar escapar preciosidades como estas: * “Meu pai nasceu num ranchinho de palmito, que ele construiu com as próprias mãos.” (Construiu o rancho antes de nascer?...) * “Tão violenta foi a seca de 1905, que o capim chegou a crescer no leito estorricado dos antigos riachos. Assolou tudo, matou tudo.” (Se a seca matou tudo, como foi que o capim cresceu?...) * “Para que a obra seja concluída no prazo previsto, as máquinas da prefeitura têm trabalhado dia e noite, com chuva ou com sol.” (Sol de noite?...) GÍRIA – Em textos formais, é melhor evitar. Na linguagem coloquial,

respeitadas as circunstâncias, nada contra; é até simpático descontrair um pouco o vocabulário. O inconveniente da gíria é que ela, na maioria dos casos, tem vida curta, sai logo de moda. Se você abusa da gíria, por exemplo, numa crônica, corre o risco de rever o texto após alguns meses e sentir enfado. Muitas delas, que em época recente fizeram grande sucesso, estão hoje inteiramente cafonizadas. Aliás, esse próprio cafona cafonizou: em lugar dele entrou o sinônimo brega (concorrendo com o velho jeca, que vira e mexe volta à crista da onda). Tudo joia, bicho, é uma brasa, morou, o fino, são algumas das muitas gírias que chegaram no sopro do vento e que em seguida o mesmo vento levou...

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22. Palavras “traiçoeiras”

Vale parafrasear São Francisco de Assis: “Onde há dúvida, que eu busque o Aurélio”. Os dicionários existem para servir. Usemos, portanto, e abusemos deles. Rui Barbosa escrevia cercado de dicionários por todos os lados. Guimarães Rosa também. E Machado, e Bandeira, e Drummond. O próprio Aurélio. Você não se lembra se é giló ou jiló? Quer saber a diferença entre eminente e iminente? Abra o “livrão” e terá a resposta, rápida e segura. Supomos, porém, ser útil recortar (e ter sempre à mão) uma pequena lista de palavras havidas e tidas como “traiçoeiras”. Daremos a forma correta de

algumas delas, marcando em negrito as letras que exigem maior atenção: Abóbada, abstêmio, acessório, adivinhar, adolescente, aforismo, aleijado, amerissar, analisar, antediluviano, anteontem, anteprojeto, ascendente, ascensão, ascensor, assessor, aterrissar (ou aterrizar), atrás, atrasar, azia, baliza, bandeja, bege, beneficente, bicarbonato, bilboquê, bissexto, braguilha, bugiganga, bulir, burburinho, bússola, cabeleireiro, camundongo, canjica, caranguejo, casimira, cataclismo, cinquenta, coabitar, convalescente, corrimão, curtume... Dentifrício, depredar, descerrar, desconcertante, deslizar, desmazelo, despender, deterioração, eletricista, embutir, difamar, digladiar, dilapidar, disenteria, empecilho, engajar, engolir, egrégio, enjeitar, entretenimento, escapulir, escassez, espocar, espectador, esplêndido, espontâneo, esquisito, estender, estrangeiro, esvaziar, exceção, exceto, excesso, exegese, excitar, exiguidade, expensas, êxtase...

Florescer, fosforescente, frustrar, garagem, garçom, grandessíssimo, gás, gasolina, gorjeio, gorjeta, haltere, harpa, haurir, herbicida, hesitar, hombridade, imbuia, imbuído, impingir, inadimplente, incrustar, intitular, invólucro, irascível, irrequieto, jabuticaba, jeito, jiló, lagartixa, laje, lampião, laranjeira, limusine, lisonjeiro, mágoa, majestoso, manjedoura, manteigueira, menoridade, meritíssimo, meteorologia, mexerico, miscigenação, misto, monge, mortadela, nódoa, óbolo, obsceno, octogésimo, ojeriza, oscilar... Paçoca, pajem, pantomima, paralisação, parêntese, pátio, perspicaz, perturbar, pirulito, plebiscito, poleiro, polenta, prateleira, prazeroso, pretensão, pretensioso, primazia, privilégio, prostrar, puxar, quadriênio, querosene, quesito, rabugento, rebuliço, regurgitar, reivindicar, rejeitar, requeijão, rescindir, rijeza, rodízio, romeno, salobro, salsicha, sarjeta, sequer, silvícola, sinusite, sobrancelha, somatório, sotaque, sucinto, supetão, surrupiar, suscetibilidade, suscitar, tábua, tamarindo, tangerina, terraplenagem, tigela, titularidade, trapézio, traseiro, ultraje, umbigo, umidecer, urticária, usucapião, várzea, voçoroca, xará, zoeira..