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356 Avances en Psicología Latinoamericana/Bogotá (Colombia)/Vol. 30(2)/pp. 356-368/2012/ISSN1794-4724-ISSNe2145-4515 A saúde mental no sistema único de saúde do Brasil: duas realidades em análise Mental health in the Brazilian national health care system: An analysis of two realities La salud mental en sistema nacional de cuidado de la salud del Brasil: Un análisis de dos realidades ROSANE NEVES * MAGDA DIMENSTEIN ** SIMONE PAULON *** HENRIQUE NARDI **** Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil ÓMAR BRAVO **** Universidad Icesi, Colombia VANESSA ALMIRA BRITO DE MEDEIROS GALVÃO ****** ANA KALLINY DE SOUSA SEVERO ******* RAFAEL FIGUEIRÓ ******** Universidade Potiguar, Brasil Resumo Este artigo analisa as formas de funcionamento e de tra- tamento as demandas em saúde mental nas equipes do Programa Saúde da Família em duas unidades da rede básica das cidades de Natal e Porto Alegre, Brasil. Na primeira etapa da pesquisa foram feitas entrevistas semi- estruturadas com os profissionais das duas unidades de saúde. Em Natal foram realizadas 40 entrevistas; em Porto Alegre 14, todas no ano 2008. Nas duas unidades pesquisadas foi possível observar a presença de repre- sentações preconceituosas que associam à loucura com periculosidade e descontrole, sendo a solução mais fre- qüente à simples administração de medicação psiquiátri- ca As formas de funcionamento institucionais, mantém ainda uma estrutura vertical e burocrática, que dificulta a aparição de práticas de prevenção e atenção em saúde de caráter originais e participativas. Considera-se, a par- tir destes achados, que é preciso investir numa política de saúde mental na atenção básica, baseada em formas de trabalho superadoras dos modelos medicalizantes e manicomiais, o que implica necessariamente reformular a forma de funcionamento interno das equipes. Palavras-chave: saúde mental; atenção básica; loucura. * Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de Psicologia. Av. Ramiro Barcelos 2600 Santana. 90035-003 - Porto Alegre, RS - Brasil. Telefone: (51) 33085458 Fax: (51) 33085405. E-mail: [email protected] ** E-mail: [email protected] *** Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de Psicologia. E-Mail: [email protected] **** Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de Psicologia. E-mail: [email protected] ***** Cra 79 a # 9- 83. Cali, Colômbia. Telefone: 57-2-3396078. E-mail: [email protected] ****** E-mail: [email protected] ******* E-mail: [email protected] ******** E-mail: [email protected] Para citar este artículo: Neves, R., Dimenstein, M., Paulon, S., Nardi, H., Bravo, O, Brito V., De Sousa, A. K., Figueiró, R. A saúde mental no sistema único de saúde do Brasil: duas realidades em análise. Avances en Psicología Latinoamericana, 30 (2), 356-368.

A Saúde Mental No SUS

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Este artigo analisa as formas de funcionamento e de tratamentoas demandas em saúde mental nas equipes doPrograma Saúde da Família em duas unidades da redebásica das cidades de Natal e Porto Alegre, Brasil. Naprimeira etapa da pesquisa foram feitas entrevistas semiestruturadascom os profissionais das duas unidades desaúde. Em Natal foram realizadas 40 entrevistas; emPorto Alegre 14, todas no ano 2008. Nas duas unidadespesquisadas foi possível observar a presença de representaçõespreconceituosas que associam à loucura compericulosidade e descontrole, sendo a solução mais freqüenteà simples administração de medicação psiquiátricaAs formas de funcionamento institucionais, mantémainda uma estrutura vertical e burocrática, que dificultaa aparição de práticas de prevenção e atenção em saúdede caráter originais e participativas. Considera-se, a partirdestes achados, que é preciso investir numa políticade saúde mental na atenção básica, baseada em formasde trabalho superadoras dos modelos medicalizantes emanicomiais, o que implica necessariamente reformulara forma de funcionamento interno das equipes.

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356 Avances en Psicologa Latinoamericana/Bogot (Colombia)/Vol. 30(2)/pp. 356-368/2012/ISSN1794-4724-ISSNe2145-4515A sade mental no sistema nico de sade do Brasil: duas realidades em anliseMental health in the Brazilian national health care system: An analysis of two realitiesLa salud mental en sistema nacional de cuidado de la salud del Brasil: Un anlisisde dos realidadesROSANE NEVES*MAGDA DIMENSTEIN**SIMONE PAULON***HENRIQUE NARDI**** Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil MAR BRAVO****Universidad Icesi, ColombiaVANESSA ALMIRA BRITO DE MEDEIROS GALVO******ANA KALLINY DE SOUSA SEVERO*******RAFAEL FIGUEIR********Universidade Potiguar, BrasilResumoEste artigo analisa as formas de funcionamento e de tra-tamento as demandas em sade mental nas equipes do Programa Sade da Famlia em duas unidades da rede bsica das cidades de Natal e Porto Alegre, Brasil. Na primeira etapa da pesquisa foram feitas entrevistas semi-estruturadas com os profssionais das duas unidades de sade.EmNatalforamrealizadas40entrevistas;em Porto Alegre 14, todas no ano 2008. Nas duas unidades pesquisadas foi possvel observar a presena de repre-sentaes preconceituosas que associam loucura com periculosidade e descontrole, sendo a soluo mais fre-qente simples administrao de medicao psiquitri-ca As formas de funcionamento institucionais, mantm ainda uma estrutura vertical e burocrtica, que difculta a apario de prticas de preveno e ateno em sade de carter originais e participativas. Considera-se, a par-tir destes achados, que preciso investir numa poltica de sade mental na ateno bsica, baseada em formas de trabalho superadoras dos modelos medicalizantes e manicomiais, o que implica necessariamente reformular a forma de funcionamento interno das equipes.Palavras-chave: sade mental; ateno bsica; loucura.*Instituto de Filosofa e Cincias Humanas, Departamento de Psicologia. Av. Ramiro Barcelos 2600 Santana. 90035-003 - Porto Alegre, RS - Brasil. Telefone: (51) 33085458 Fax: (51) 33085405. E-mail: [email protected]**E-mail: [email protected]***Instituto de Filosofa e Cincias Humanas, Departamento de Psicologia. E-Mail: [email protected]**** Instituto de Filosofa e Cincias Humanas, Departamento de Psicologia. E-mail: [email protected]***** Cra 79 a # 9- 83. Cali, Colmbia. Telefone: 57-2-3396078. E-mail: [email protected]****** E-mail: [email protected]******* E-mail: [email protected]******** E-mail: [email protected] citar este artculo: Neves, R., Dimenstein, M., Paulon, S., Nardi, H., Bravo, O, Brito V., De Sousa, A. K., Figueir, R. A sade mental no sistema nico de sade do Brasil: duas realidades em anlise. Avances en Psicologa Latinoamericana, 30 (2), 356-368.Avances en Psicologa Latinoamericana/Bogot (Colombia)/Vol. 30(2)/pp. 356-368/2012/ISSN1794-4724-ISSNe2145-4515 357A sade mental no sistema nico de sade do Brasil: duas realidades em anlise AbstractThisarticleanalyzestheproceduresandthewayof understandingandtreatingmentalhealthcareneeds in the Family Health Strategy in two units of the basic healthcare network of the cities of Natal and Porto Ale-gre, Brazil. In the frst stage of the research, in 2008, semi-structured interviews with the professionals of both healthcareunitswereconducted.40interviewswere conducted in Natal, and 14 in Porto Alegre. In both units where research was conducted it was possible to obser-ve the presence of preconceived representations about insanityaswellasastrongtendencytosolvemental healthcare needs through the simple administration of psychiatric medication. Based on these research results, it is necessary to invest in a mental healthcare policy in basic healthcare based on the creation of effective rap-ports between users and care givers, which also involves the reformulation of the internal procedures of the teams. Keywords :mental health, basic healthcare, madnessResumenEste artculo analiza las formas de funcionamiento y de tratamiento a las demandas en salud mental en los equi-pos del Programa Salud de la Familia en dos unidades de la red bsica de salud de las ciudades de Natal y Porto Alegre, Brasil. En la primera etapa de esta investigacin se hicieron entrevistas semiestructuradas a los profesio-nales de las dos unidades de salud. En la ciudad de Natal fueronrealizadas40entrevistas;enPorto Alegre14, todas en el ao 2008. En las dos unidades investigadas fueposibleobservarlapresenciaderepresentaciones preconcebidasqueasocianlocuraconpeligrosidady descontrol, siendo la solucin ms frecuente la simple administracin de medicacin psiquitrica. Las formas defuncionamientoinstitucionalesmantienentodava una estructura vertical y burocrtica que difculta la apa-ricin de prcticas de prevencin y atencin en salud de carcter original y participativo. Se considera, a partir de estos resultados, que es preciso invertir en una poltica de salud mental en la atencin bsica, basada en formas detrabajoquesuperenlosmodelosmedicalizantesy manicomiales, lo que implica necesariamente reformu-lar el funcionamiento interno de los equipos de salud.Palabras clave: salud mental, atencin bsica, locuraEste artigo objetiva analisar as formas de funciona-mento de equipes da Estratgia Sade de Famlia (ESF) em duas unidades da rede bsica das cidades de Natal e Porto Alegre. Procurou-se destacar as representaes existentes em cada uma das equi-pes em torno a sade mental, loucura e formas de atendimento e a forma em que estas infuenciam a maneira de entender e tratar as demandas em sade mental existentes nas comunidades de suas reas de referncia.AnalisandoaexistnciadoSistemanico deSade(SUS),Pasche(2008)enumeracomo avanosdignosdenotaofatodequenesses20 anos de existncia:Reorganizou-searededeateno,solidifcando-aa partir do fortalecimento de estratgias de ateno b-sica; ampliou-se o acesso das pessoas aos servios; o territrio nacional foi integrado por meio de redes de ateno municipalizadas e regionalizadas; ampliou-se a quantidade, a diversidade e a qualidade dos trabal-hadoresdasade,avanando-senaorganizaodo trabalho em equipe. (Pasche, 2008, p. 15) Segundo Pasche (2008) esta lgica segue uma orientao relativamente simples, baseada no prin-cipiodequetodocidadotemodireitoauma equipe que lhe cuida, com a qual estabelece fortes vnculos teraputicos, sustentculo de processos de co-responsabilizao no cuidado (Pasche, 2008, p.10).BaseadonodocumentodoMinistrioda Sade Sade da Famlia: Uma estratgia para a organizaodaatenobsica,Goulart(2002) traz algumas defnies norteadoras da proposta da ESF, entre elas: ser a porta de entrada de um sistema regionalizado e hierarquizado de sade; ter um te-rritrio defnido com uma populao delimitada sob sua responsabilidade e intervir sobre os fatores de risco aos quais a comunidade est exposta prestan-do assistncia integral, permanente e de qualidade.A ESF operacionalizada mediante a implan-taodeequipesmultiprofssionaisemunidades bsicas de sade. Estas equipes so responsveis pelo acompanhamento de um nmero defnido de famlias, localizadas em uma rea geogrfca deli-mitada. As equipes atuam com aes de promoo R. Neves, M. Dimenstein, S. Paulon, H. Nardi, . Bravo, V. Brito, A. K. de Sousa, R. Figueir358 Avances en Psicologa Latinoamericana/Bogot (Colombia)/Vol. 30(2)/pp. 356-368/2012/ISSN1794-4724-ISSNe2145-4515da sade, preveno, recuperao, reabilitao de doenas e agravos mais freqentes e na manuteno da sade desta comunidade. Conforme o previsto, a Estratgia Sade da Famlia acabou aglutinando oProgramade AgentesComunitriosdeSade (PACS).1Estalgicaprezaporumaatuaodos profssionais de sade em perspectiva interdiscipli-nar, preconizando aes conjuntas (Nunes, Juc e Valentim, 2007). O trabalho cotidiano das equipes da ESF pressupe uma capilaridade territorial que ascolocaemcontatodiretocomacomunidade eseusproblemas.Estecontatodevepossibilitar umamaiorcompreensosobreosprocessosde adoecimento, para alm do registro individual, no corpo fsico dos sujeitos que adoecem. A ESF e o PACS constituem-se, assim, nos eixos estruturais da ateno bsica no SUS. Os agentes comunitrios trabalham tanto ligados a uma unidade bsica de sade ainda no organizada na lgica da sade da famlia, como fazendo parte de uma equipe bsica de sade da famlia, membros de uma equipe mul-tiprofssional. No campo especfco da sade mental, aconte-ceu um processo de mudanas orientado na mesa direo geral que estas polticas em sade pblica comentadas. Os novos paradigmas em sade men-tal destacam a preveno e a participao comuni-tria, reivindicando um modelo de clnica amplia-daquepermitaentenderosvriosdeterminantes (culturais,sociais,econmicos,subjetivos,etc.) que intervm na produo do sofrimento psquico e nos processos de adoecimento e cura.Na passagem de um para outro modelo acontece no s uma mudana terica seno tambm a demo-lio concreta de uma cultura (Basaglia, 2005), que permite afrmar um conceito diferente de sade e doena. Romagnoli (2006) considera que a ruptura com o modelo psiquitrico, no contexto da ateno bsica em sade, acontece num embate cotidiano de foras onde se coloca em disputa outra forma de entender a loucura e os modos relacionais e exis-tenciais a ela vinculados.Costa(1989)destacaascaractersticasprin-cipaisdonovoparadigmaemsademental,que passampelaconstituiodeumnovoobjetode interveno (a sade mental); um novo objetivo (a preveno); novos sujeitos de interveno (a cole-tividade) e uma integrao dos aspectos biolgicos, psquicos e sociais na concepo da personalidade, entre outros aspectos.Spink(2007)consideraanecessidadedeen-tender a doena como um fenmeno psicossocial, historicamente construdo, postura esta que implica a necessidade de realizar dois saltos qualitativos:Primeiramenteporqueabordaadoenanoapenas como uma experincia individual, mas tambm como um fenmeno coletivo sujeito s foras ideolgicas da sociedade. Em segundo lugar, por inverter a perspecti-va deixando de privilegiar a tica mdica como nico padro de comparao legtimo e passando a legitimar tambm a tica do paciente. (Spink, 2007, p. 47) Apolticaemsadementalsedeparacoma necessidadededarcontadacrescenteevariada demandasurgidacomoaumentodepatologias clssicas(comoadepresso,porexemplo)ea apariodenovaspatologias.Pode-sedizerque tal fenmeno est intimamente vinculado cres-cente deteriorao do tecido social e s importan-tes mudanas culturais produzidas pelas polticas econmicas neoliberais, executadas com singular violncia nos ltimos anos, principalmente no m-bito latino-americano (Galende, 1997). Alves (citado por Oliveira & Corvelho, 2006) estima em 20% a prevalncia global de transtornos mentais na populao brasileira, destacando as altas demandaspotenciaisemsadementalnascida-des de Braslia e Porto Alegre (34%) e So Paulo (19%), sendo os distrbios de ansiedade e fbicos as patologias mais relevantes. Segundo os mesmos autores,existetambmumconsumoabusivode lcoolque,napopulaodosexomasculinona cidade de Porto Alegre, atingiu 15%.O trabalho cotidiano das equipes da ESF pres-supe uma capilaridade territorial que as coloca em contato direto com a comunidade e seus problemas, o que lhes permite constituir-se como uma impor-1O PACS era um programa transitrio (Lima & Moura, 2005) e emergencial enquanto no era possvel criar em pequenos municpios as equipes de PSF.Avances en Psicologa Latinoamericana/Bogot (Colombia)/Vol. 30(2)/pp. 356-368/2012/ISSN1794-4724-ISSNe2145-4515 359A sade mental no sistema nico de sade do Brasil: duas realidades em anlise tante estratgia de expanso das aes preconizadas pelo processo de reforma psiquitrica em curso no pas e pelos princpios da declarao de Caracas. Esta declarao refora a idia da reestruturao da ateno psiquitrica vinculada Ateno Primria em Sade (APS), incentivando a promoo de mo-delos substitutivos concentrados na comunidade e integradoscomsuasredessociais,priorizandoa manutenodoportadordesofrimentopsquico em seu meio social (Kalil, 1992). NoBrasil,algumastentativasdeimplantao de dispositivos de sade mental na rede de ateno bsica merecem ser citadas. Boarini e Quijo (2007) analisam o impacto da experincia de um Centro de Convivncia em uma Unidade Bsica de Sade da cidade de Maring. Essa iniciativa surgiu de uma pesquisa prvia que indicava o pouco conhecimen-toexistenteemrelaoaosegressosdohospital psiquitrico por parte da equipe da UBS (Unidade Bsica de Sade). Os poucos usurios que procu-ravam a unidade, o faziam para revalidar a receita mdica. Por outra parte, os agentes comunitrios de sade tinham difculdades para identifcar essa populao no campo. As autoras destacam ainda como obstculo a expectativa de melhoras rpidas e fantsticas (Boarini & Quijo, 2007, p. 376) e a suposio de que estes usurios podiam ser perigo-sos, dada a sua condio psquica. Amaral (citado por Vecchia, 2006) destacou a baixa aceitabilidade dos egressos de instituies psiquitricas por parte da rede bsica de sade, constatando tambm que 32.5% dos pacientes psicticos acabam sendo rein-ternadosapsumperodoaproximadodequatro meses aps a sua sada da instituio.ConformeDimenstein(2004),ainclusodas questesdesadementalnapolticadeimplan-tao da Estratgia Sade da Famlia, mediando a relao com o CAPS,2 mostra-se como uma forma de inibir a fragmentao do cuidado. Experincias relatadas do conta de que a parceria CAPS/ESF pode reverter o alto ndice de procura dos postos por dependncia aos benzodiazepnicos ao propor umtrabalhobaseadonosvnculosafetivo-com-preensivosenaparticipaodacomunidadeao lidar com momentos de crise. Para as equipes da ESF o territrio um tema central no processo de trabalho e na construo das prticas de cuidado. Aodelimitardeterminadorecortegeogrfco, uma equipe de sade se torna responsvel pela po-pulao que vive naquela rea e pela vigilncia aos determinantes do processo sade-doena daquele territrio. Aqui se situa uma aproximao entre o movimento de desinstitucionalizao da Reforma Psiquitrica e a Estratgia Sade da Famlia: pro-mover aes de sade socialmente contextualiza-das. A ESF trabalha na lgica de um recorte terri-torial, entendido como delimitao de determinada rea que fca sob responsabilidade de uma equipe de sade e que funciona como o lcus operacional das aes. O que torna a ESF uma proposta perti-nente para o desenvolvimento de aes de Sade Mental , segundo Abdalla et al. (2006), o fato de ter como objeto de ateno a pessoa e seu contexto familiar e comunitrio, e no a doena. Asaesrealizadasnoterritriodevidadas pessoas so normalmente consideradas como sen-do de baixa complexidade, enquanto as aes rea-lizadas em centros cirrgicos e grandes hospitais soconsideradasdealtacomplexidade.Lancetti (2006) e Barros (2003) defendem a idia de que em sade mental exatamente o contrrio. Os procedi-mentos realizados dentro dos muros dos hospitais psiquitricos,nasenfermariasenosptios,so procedimentos simples e tendem simplifcao. A vida do paciente, na medida em que a doena se cronifca, tende a fcar cada vez mais empobrecida. Jasaesnoterritriodevidadaspessoasso muitomaiscomplexas,comtodososatravessa-mentos culturais e com um setting que no fxo. Da decorre uma das alternativas para lidar-se com 2Os Centros de Ateno Psicossocial (CAPS) so servios de sade abertos e comunitrios do Sistema nico de Sade que operam como lugar de referncia e tratamento para pessoas que sofrem transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e demais quadros, cuja severidade e persistncia justifquem sua permanncia neste tipo de dispositivos (Brasil, 2004). A Portaria 224/92 ofcializa a existncia dos CAPS, def-nindo estes dispositivos como espaos de atendimento de cuidados intermedirios entre o regime ambulatorial e a internao hospitalar, em um ou dois turnos de quatro horas, por equipe multiprofssional (Brasil, 1992). Vrias modalidades de interveno devem ser oferecidas por estes dispositivos, entre outras, o atendimento individual, em grupo, dirigido a famlias ou de carter comunitrio. Tambm esto previstas assemblias que renam tcnicos, usurios do servio e familiares, para discutir as intervenes e avaliar o servio (Brasil, 2004). R. Neves, M. Dimenstein, S. Paulon, H. Nardi, . Bravo, V. Brito, A. K. de Sousa, R. Figueir360 Avances en Psicologa Latinoamericana/Bogot (Colombia)/Vol. 30(2)/pp. 356-368/2012/ISSN1794-4724-ISSNe2145-4515a loucura na perspectiva da tica da diferena: a de investir em projetos clnico-polticos que interf-ram na relao territrio existencial-universos de referncia(redesdesociabilidadeeredesurba-nas) (Barros, 2003, p. 202). Umdosinstrumentosparaestetrabalhoo Apoio Matricial que tem como objetivo possibili-tar que as equipes de referncia possam produzir o cuidado no territrio de vida das pessoas, rompen-do com a lgica do encaminhamento para servios especializados. O desenho do Apoio Matricial foi proposto por Campos (1999) e tem como objetivo fornecer suporte tcnico e pedaggico em reas es-pecfcas para as equipes responsveis pelas aes bsicas de sade de determinado territrio adscrito, trabalhando na lgica da co-responsabilidade, ou seja,aproduodeumaresponsabilidadepartil-hada no lugar do simples encaminhamento a uma outra instncia de cuidado. Para organizar a ateno em determinadas reas especfcas, Campos (1999) prope organizar Equi-pes Matriciais de Apoio que, num recorte temporal mais transitrio, ofereceriam apoio tecnolgico e pedaggico s equipes de referncia, em forma de aes matriciais. Estas aes se efetuariam de pre-ferncia em conjunto, pois, assim, as intervenes teriam no s um carter clnico, mas tambm peda-ggico, de instrumentalizao e potencializao das equipes locais. No h encaminhamentos, mas des-enhos de projetos teraputicos executados por um nmero maior de trabalhadores, o que pode se dar atravs da discusso de casos clnicos, intervenes e atendimentos conjuntos, oferecendo retaguarda assistencial,suportetcnicoeapoiopedaggico (Campos&Domitti,2007). Aresponsabilidade maior continua sendo da equipe de referncia.A responsabilidade partilhada entre as Equipes de Referncia e as Equipes de Apoio Matricial tem como objetivo reverter a tradicional lgica do enca-minhamento para nveis maiores de complexidade, tal como o sistema referncia e contra-referncia, dentrodeumaconcepopiramidaldoSistema nico de Sade. A lgica do encaminhamento cos-tuma ter como resultado a desresponsabilizao no ato de encaminhar e uma falta de integrao entre as aes da equipe situada no territrio adscrito e as aes do servio especializado. Ao contrrio, quan-do um usurio participa de alguma atividade matri-cial ele no deixa de ser, mesmo temporariamente, usurio da equipe local. Desta forma, diminui-se o risco de que o usurio se perca no meio do labirinto de inmeros encaminhamentos. Apoio Matricial e Equipes de Referncia tam-bm podem ser pensados como uma metodologia de trabalho que visa realizar a clnica ampliada e a integrao dialgica entre as diferentes profsses eespecialidades.Oapoiadormatricial,almdas intervenes conjuntas, pode realizar aes espe-cfcas que assim o requeiram, sempre mantendo contato com as equipes locais, que no deixariam deseresponsabilizarporseususurios(Campos & Domitti, 2007). O matriciamento permite somar ao trabalho da equipe outras atividades ligadas ao gosto pessoal dos trabalhadores de sade que, mesmo tendo um nmero de usurios sob sua responsabilidade, po-deriam oferecer apoio matricial para outros usu-rios em atividades especifcas, como, por exemplo, ofcinas de msica, culinria ou literatura. Campos (1999) acredita que esta proposta de gesto pode funcionar como um dispositivo, um artifcio que provoque mudanas nos processos de subjetivao no trabalho em sade, produzindo uma valorizao concreta do vnculo teraputico e da integralidade da ateno, possibilitando novos arranjos de gesto, novos padres de comunicao e de sociabilidade. Na mesma direo, Barros (2003) afrma a impor-tncia de novos contratos de trabalho, com inicia-tivas de co-gesto sejam fundamentais quando se quer implementar prticas clnicas que invistam no aumento da autonomia e co-responsabilidade dos usurios (Barros, 2003, p. 201). Aretaguardaparaasnecessidadesdesade mental,segundooMinistriodeSade(Bra-sil,2004),deresponsabilidadedosCentrosde AtenoPsicossocial(CAPS),osquaisdevem oferecer Apoio Matricial Especializado em Sade Mental para as equipes da Estratgia Sade da Fa-mlia (ESF). Municpios com menos de 20000 ha-bitantes que, portanto, no tm populao sufciente Avances en Psicologa Latinoamericana/Bogot (Colombia)/Vol. 30(2)/pp. 356-368/2012/ISSN1794-4724-ISSNe2145-4515 361A sade mental no sistema nico de sade do Brasil: duas realidades em anlise para cadastrar um CAPS, podem organizar Equipes Matriciais para o apoio em Sade Mental junto s equipes locais da Ateno Bsica ou da ESF.FicaevidenteaimportnciadaESFnacons-truo de um cuidado integral ao usurio portador de sofrimento psquico, e que a ESF tanto tem a possibilidade de produzir um cuidado contextuali-zado no territrio de vida dos usurios como pode setornaraportadeentradadeumitinerriode segregao. No Brasil, os Agentes Comunitrios de Sade se constituram como linha de frente da Ateno Primria em Sade, sendo considerados sua mola propulsora.Seosdebatesnocampodasadese consolidam atravs das prticas, estes trabalhadores de sade so os que inscrevem estes debates mais pertodoreal-social,levandooparadoxoentreo cuidado e o controle das populaes s paisagens mais longnquas, aos territrios mais ridos e em-pobrecidos e s populaes mais vulnerveis. No epicentro de toda a luta pela ateno integral e pela universalidade de acesso sade, est este trabalha-dor andarilho, com seu caminhar pela comunidade. Nogueira (2000) considera o ACS um trabalha-dor sui generis porque suas funes transcendem o campo da sade, atuando sobre as condies de vida da populao e porque no pode ser classif-cado em categorias que preexistem historicamente no campo da sade. O ACS teria a caracterstica de possuir uma identidade com a comunidade e um pendor para a ajuda solidria. O autor defne o papel de mediador exercido pelo ACS como:um elo entre os objetivos das polticas sociais do Esta-do e os objetivos prprios ao modo de vida da comu-nidade; entre as necessidades de sade e outros tipos denecessidadesdaspessoas;entreoconhecimento popular e o conhecimento cientfco sobre sade; entre a capacidade de auto-ajuda prpria da comunidade e os direitos sociais garantidos pelo Estado. (Nogueira, 2000, p. 10)Nunes (2002) afrma que o ACS o ator mais intrigante da Estratgia de Sade da Famlia, pelas relaes de troca entre saberes que produz e por-que vive a realidade de sade de sua comunidade ao mesmo tempo em que faz parte de uma organi-zao de sade. Isto faz do agente um personagem hbrido e polifnico, portando contradies e po-tencialidades ao transitar entre o servio de sade e a comunidade. Tais caractersticas podem servir como facilitadoras ou como empecilho na conso-lidao do modelo assistencial proposto pela ESF.Segundooautor,asaeseducativasparaa adeso a estilos de vida mais saudveis, por exem-plo, podem vir acompanhadas de uma reduo da complexidade da rede de signifcaes dos usurios levando a uma total normatizao da vida. Assim as condutas passam a ser classifcadas como boas ou ms e os usurios como dceis ou indceis em relao adeso s prescries, sem que haja uma contextualizaodassituaes.Contudo,Nunes (2002, p. 164) considera que o trabalho dos ACS tem o efeito de eliminar as fronteiras do posto de sade.Destamaneira,asfronteirassealargam, a lgica das interaes se transforma e o contato comaintimidadedafamliapodeconstruiruma rede de relaes permeadas de novos signifcados e sentimentos. Em 1999 o Decreto 3,189 de 04 de outubro fxa diretrizes da atividade de Agente Comunitrio de Sade (ACS). No decreto consta que cabe ao ACS desenvolveratividadesdeprevenodedoenas e promoo da sade a travs de aes educativas individuais e coletivas, nos domiclios e na comu-nidade. considerado atividade do ACS: utilizar instrumentos para o diagnstico demogrfco e scio-cultural; executar atividades de educao para a sade individual e coletiva; registrar para fns de con-trole das aes de sade, nascimentos, bitos, doenas e outros agravos sade; estimular a participao da comunidade nas polticas pblicas como estratgia da conquista de qualidade de vida; realizar visitas domici-liares peridicas para monitoramento de situaes de risco famlia; promover aes que fortaleam os elos entre a sade e outras polticas pblicas. (Brasil, 1999) LimaeMoura(2005)consideramo ACSum trabalhador atpico em funo dos regimes de con-tratao no formais e pela competncia exigida de possuir um capital social e um atributo relacional para exercer sua ocupao. Os autores relatam que o trabalho dos agentes refete a nova forma de im- R. Neves, M. Dimenstein, S. Paulon, H. Nardi, . Bravo, V. Brito, A. K. de Sousa, R. Figueir362 Avances en Psicologa Latinoamericana/Bogot (Colombia)/Vol. 30(2)/pp. 356-368/2012/ISSN1794-4724-ISSNe2145-4515plementar polticas pblicas descentralizadas pelo Estado que atende ao pr-requisito de estar sujeito ao controle social dos cidados. Desta forma, estes novos dispositivos de preveno e ateno em sa-de precisam tambm de uma mudana estrutural na forma de entender os processos de sade e doena e das formas de interveno associadas. Cenrio da pesquisaEm 2007, havia 27324 equipes de sade da famlia implantadas no Brasil, segundo dados do Departa-mento de Ateno Bsica do Ministrio da Sade,3 distribudasentre5125municpios,oquerepre-sentava uma cobertura populacional de 46.6% da populao (cerca de 87.7 milhes de pessoas). O nmero de Agentes Comunitrios de Sade era, at maio de 2008, de 220080. No mesmo perodo, o nmero de mdicos aumentou de 328 para 27764 e o de enfermeiros, de 328 para 28712. O nmero de dentistas que forma parte das equipes de Sade da Famlia de 16740, o de tcnicos de higiene dental de 1327, de auxiliares de consultrio dentrio de 16975 e de tcnicos e auxiliares de enfermagem de 29071.4 A Estratgia Sade da Famlia (ESF) foi implan-tada em Natal no ano 1994, a partir de um convnio entre a Secretaria Municipal de Sade e o Minist-rio da Sade, mas s no ano 1998 acontece a efetiva adeso e implantao desta estratgia. O processo iniciou-se no Distrito Oeste, com quatro equipes implantadas nas reas de maior risco epidemiol-gico dos bairros de Felipe Camaro, Cidade Nova eGuarapes,compostaspormdico,enfermeiro, auxiliardeenfermagemeagentescomunitrios desade. Trintaeseisnovasequipesforamim-plantadas no ano 2002 no Distrito Sanitrio Norte, j com a incorporao de dentistas, auxiliares de consultrio dentrio e auxiliares de enfermagem. No momento da pesquisa que originou este tex-to, existiam 93 equipes cadastradas no Ministrio da Sade, compostas por um mdico, um enfermei-ro, um dentista, dois auxiliares de enfermagem, um auxiliar de consultrio dentrio e cinco agentes de sade, seguindo assim as orientaes da Lei Com-plementar 062 de 06 de Outubro de 2005 (Natal, 2005). Somando as 20 equipes em funcionamen-tonocadastradasnoMinistriodaSade,pela ausncia de algum profssional da equipe mnima existiam em Natal 113 equipes no total, o que co-rrespondeaumacoberturapopulacionalde49% (aproximadamente 110 mil famlias atendidas). At 1997, existiam em Natal 1147 Agentes de Sade, sendo 446 atuantes no controle de endemias e 701 nas equipes da Estratgia Sade da Famlia. A Pre-feitura de Natal conta com dois CAPS II, um CAP-Si e dois CAPS AD, duas residncias teraputicas, umambulatrioparatratamentodetabagismoe outras drogas e um de Sade Mental.Em Porto Alegre, a Estratgia de Sade da Fa-mlia(ESF)iniciou-seem1996. Aestrutura,na poca da pesquisa, contava com 84 equipes de ESF, distribudas em 79 unidades bsicas de sade (Porto Alegre/Secretaria Municipal de Sade, 2008). At julho de 2007, a ESF do municpio contava com 359 mdicos, enfermeiros e tcnicos e 372 agentes comunitrios, que atendiam a 22% da populao (aproximadamente 330 mil pessoas).As aes em sade mental na cidade de Porto Alegre estruturam-se em torno de trs eixos de di-recionamento: a qualifcao da Ateno Bsica, a ampliao da Rede de Servios Especializados e a promoo e Desenvolvimento da Intersetorialida-de, assim como o fortalecimento geral da rede de atenoextra-hospitalar. APrefeituracontacom quatro CAPS II, dois CAPSi (para infncia e ado-lescncia) e dois CAPS AD (dirigidos a usurios de lcool e outras drogas).Caracterizao das unidades pesquisadasA Unidade de Sade pesquisada na cidade de Natal foi criada em 1986. Em 2002 passou a fazer parte da Estratgia Sade da Famlia. Atendia uma popu-lao de 14460 pessoas, a maioria de baixa renda. Nessa unidade atuam quatro equipes completas de 3Recuperado de http://dtr2004.saude.gov.br/dab/abnumeros.php 4Fonte: Ministrio da Sade, SAS, DAB, Datasus, SCNES.Avances en Psicologa Latinoamericana/Bogot (Colombia)/Vol. 30(2)/pp. 356-368/2012/ISSN1794-4724-ISSNe2145-4515 363A sade mental no sistema nico de sade do Brasil: duas realidades em anlise sade da famlia, integradas por um mdico, uma enfermeira, um dentista, um auxiliar de consultrio dentrio, dois auxiliares de enfermagem e quatro ou cinco agentes comunitrios de sade (ACS). No total, h 40 profssionais na unidade. O territrio de abrangncia da unidade est dividido em qua-tro reas, cada uma sob a responsabilidade de uma das equipes. Cada rea, por sua vez, esta dividida em micro-reas, cada uma sob a responsabilidade de um ACS.A UBS objeto da pesquisa em Porto Alegre foi inaugurada no ano de 2002. Atende uma populao de 5700 pessoas, aproximadamente. A Unidade composta por duas Equipes de Sade da Famlia, ambas incompletas, que trabalham juntas e indistin-tamente, compostas por 2 mdicos, 2 enfermeiros, 3 tcnicos em enfermagem e 7 agentes comunitrios desade.Cadaumdosagentescomunitriosde sade atende uma rea em particular, com caracte-rsticas sociais distintas.Procedimentos metodolgicos e constituio do corpus de anliseO processo de coleta de informao foi organizado emduasetapaseincluiuatotalidadedosprofs-sionais das duas unidades, que manifestaram o seu interesse em participar da pesquisa e do momento de formao previsto. Esta possibilidade de com-preender a todos os trabalhadores das duas insti-tuiesobjetodaintervenopermitiuampliara informaoepotenciaromomentodeformao previsto. Na primeira etapa da pesquisa foram feitas en-trevistas baseadas em um roteiro semi-estruturado com os profssionais das duas unidades de sade, versando sobre as condies de trabalho (estrutura dos servios, equipes) e o cuidado em sade men-tal. Em Natal foram realizadas 40 entrevistas e em Porto Alegre 14. A partir dos dados das entrevistas foi possvel traar a rede enunciativa na qual se expressaram os diferentes signifcados que atravessam e constituem as prticas de trabalho nas instituies estudadas. Em Porto Alegre, e considerando que a informao surgida das entrevistas era menor que a de Natal, foram realizados tambm dois grupos focais com a equipe: um com os agentes comunitrios e outro com mdicos, enfermeiras e tcnicos em enferma-gem, alm do acompanhamento das visitas domi-ciliares realizadas pelos ACS. Asegundaetapaconsistiunummomentode formao para as equipes da ESF, voltada para a articulaodaSadeMentalna AtenoBsica. Esta formao, articulada proposta de Educao PermanenteemSade,incluiuadiscussodos modosdetrabalhocomopartedoprocessode aprendizagem e de produo de conhecimento das equipes. Essa etapa foi orientada a partir das infor-maes obtidas nas entrevistas e nas observaes da rotina de trabalho das unidades, e ocorreu entre os meses de julho e outubro de 2008, totalizando oito encontros em cada uma das unidades pesqui-sadas.Duranteessesencontrosparticiparamem mdia 10 pessoas na unidade de Porto Alegre e 40 na unidade de Natal. O projeto de pesquisa foi submetido aos Comi-ts de tica em Pesquisa do Instituto de Psicologia da UFRGS e da Secretaria Municipal de Sade de Porto Alegre, atendendo aos critrios dispostos pela Resoluo 196/96 do Conselho Nacional de Sade. As gerncias distritais dos municpios de Natal e Porto Alegre autorizaram a realizao deste estudo junto s Unidades Bsicas de Sade escolhidas e os sujeitos participantes das equipes de Sade da Famlia tambm foram informados quanto aos ob-jetivos e procedimentos da pesquisa.Resultados e discussoA anlise das entrevistas realizadas em Natal e das entrevistas, grupos focais e observaes de campo em Porto Alegre e a categorizao posterior dos da-dos permitiram a anlise das representaes sobre loucura, sade mental e formas de interveno das equipes de ESF de cada unidade e sua incidncia no trabalho individual e coletivo.Apesar das equipes das duas unidades mante-rem representaes rgidas e preconceituosas em relao loucura, em geral associada imprevi-sibilidade e periculosidade, e de existir uma forte tendnciadeapelarsimplesadministraode medicao psiquitrica como forma de resolver as demandas em sade mental, existem alguns dife- R. Neves, M. Dimenstein, S. Paulon, H. Nardi, . Bravo, V. Brito, A. K. de Sousa, R. Figueir364 Avances en Psicologa Latinoamericana/Bogot (Colombia)/Vol. 30(2)/pp. 356-368/2012/ISSN1794-4724-ISSNe2145-4515rencias na forma de pensar alternativas institucio-nais a esta problemtica.Enquanto em Porto Alegre a equipe majoritaria-mente manifesta certa posio saudosista frente atual limitao de internaes nos antigos hospitais psiquitricos, em Natal as preocupaes do grupo eram muito mais relativas s carncias da rede local e suas responsabilidades como equipes de Ateno Bsica com os casos. Pode-se compreender tais distines luz dos diferentes cenrios locais de sade. Em Porto Ale-gre, sucessivas mortes referidas foram consideradas como conseqncia do abandono a que todos esto submetidos, os usurios e os prprios trabalhado-res. Esta vivncia de abandono estava especialmen-te exacerbada em um momento em que a equipe vivia o luto da transferncia de um trabalhador que era tido como o elo forte da equipe, aquele que ao mesmotemposeocupavadosusuriosdesade mental e cuidava da sade mental dos cuidadores. Neste clima de angustia, culpa e medo, diante de umaequipequenofuncionavademodoconti-nente e do desmantelamento de uma rede local de ateno sade, a fgura do hospital psiquitrico emerge como a soluo defnitiva: o ruim era melhor que o nada de hoje, chegavam a referir al-guns trabalhadores. Ao mesmo tempo, em Natal, as equipes experimentaram, na etapa de capacitao, umespaodecompartilhamentoqueviabilizou avaliaesparaaequipedepesquisadizendo-se muito mais prximos a serem meio psiclogos do que imaginavam antes daqueles debates promovi-dos pela pesquisa. EmPorto Alegre,podemserdestacadosdois procedimentos em relao aos casos de sade men-talconsideradospelostrabalhadorescomomais graves: segurar o caso fora da Unidade, atravs dos ACSs ou procurar encaminhar a alguma ins-tituioespecializada,quandoocasochegaat aUnidade.Os ACSsseguramoscasosforada Unidade instruindo os usurios a procurar os ser-vios de emergncia ou, em suas palavras dando a real, informando que no existem atendimentos: somos honestos, dizemos que no tem para onde encaminhar. Dada a inexistncia de uma rede de sade mental capaz de atender a esta demanda, a maioria dos casos aguardam um longo tempo de espera para o atendimento, sendo que muitas vezes acabam no sendo atendidos. Um dos ACSs expli-cou em um dos encontros da etapa de formao que informa aos usurios que a nica maneira que eles tm para conseguir atendimento quebrar tudo em casa at que algum chame a polcia. Destaca-se aqui o apelo a uma suposta condio de perigoso queosujeitoprecisaencenarparapodertersua demandadecuidadoatendida.Parasercuidado, o usurio instrudo a reproduzir a caricatura do senso comum em relao loucura, em um de seus principais pressupostos, o da periculosidade. Esta associao de loucura com periculosidade tambm esteve presente nos momentos iniciais do processo de pesquisa nas equipes de Natal.AUnidadedePorto Alegreconstrudapara atividades prioritariamente individuais, centradas em procedimentos curativos. Os atendimentos in-dividuais so realizados em salas que no possuem isolamento acstico adequado. Muitas iniciativas tambm no eram levadas adiante, como no caso de uma das enfermeiras que quis comear um grupo de caminhadas e no obteve apoio de nenhum dos ACS. Entre os ACS cada um cuida de sua rea, e sorefratriosaatividadesgrupais.Os ACSre-lataram, durante as entrevistas e durante o acom-panhamentodesuasatividades,diversasaes importantes de sade mental. Assim, por exemplo, visitam sistematicamente pacientes acamados com humor deprimido e com slidos vnculos afetivos ensaiam uma forma de cuidado que pode ser con-sideradaumafunode Acompanhamento Tera-putico, acompanhando estas pessoas ao longo de vrios anos. Escutam os seus dramas e procuram solues.Noobstante,noreconhecemcomo legtimas essas prticas de cuidado, consideram as interlocues que estabelecem com estes usurios, mero improviso, paliativos. Sentem que esto in-vadindo o campo de certas especialidades, dando uma de psiclogos.Nas duas unidades, a sade mental no enten-dida em geral como eixo transversal aos cuidados primrios em sade na micropoltica do trabalho cotidiano, mas como uma lista de procedimentos relacionados a tecnologias de alta densidade. Mes-mo que durante as entrevistas um mdico de Porto Alegre tenha dito todos os problemas fsicos vm Avances en Psicologa Latinoamericana/Bogot (Colombia)/Vol. 30(2)/pp. 356-368/2012/ISSN1794-4724-ISSNe2145-4515 365A sade mental no sistema nico de sade do Brasil: duas realidades em anlise acompanhadosdeproblemaspsicolgicos,as aes de sade mental so consideradas somente aquelas em que o trabalho recaia sobre o problema psicolgico. Um dos pontos tidos como problemtico para as equipes das duas Unidades pesquisadas, Natal e Porto Alegre, foi a inexistncia de um protocolo de atendimento para os casos, de modo que cada membro age individualmente e no existe nenhum tipo de planejamento das aes neste campo: H tambmumaqueixadedespreparoedefaltade suporteparaarealizaodestetrabalho.Desse modo, na fala de um dos integrantes das equipes de Natal, A equipe acaba sendo mais uma triadora do paciente e no se responsabiliza de verdade pela sua comunidade. As falas a esse respeito refetem a necessidade sentida por estes indivduos de terem um especia-lista dentro da unidade de sade para poder aten-der os casos de sade mental, no caso de Natal, ou especialistasexternos,deoutrasinstituies,no caso de Porto Alegre. possvel ver nisto tanto a desvalorizao de suas aes e das possibilidades teraputicas de suas atribuies considerando que apenas um conhecimento tcnico especializado capaz de responder ao sofrimento psquico quanto certa incompreenso da funo da Ateno Bsica emsade,suaspotencialidades,seupapeleat mesmo seus modos de trabalho. Nesse sentido va-le o alerta de Sampaio e Barroso (2000), quando afrmam que: no necessrio dispor de um especialista para que o conhecimento sobre SM seja introjetado na ateno primria.Oclienteemergedeumgruposocial,a moradia-famlia,produzsuascondiesdeexistn-cia em um lugar social concreto, o bairro, o distrito, a cidade, e, antes de especializar sintomas e sndromes, experimenta tenses, perdas, infelicidades, fracassos e incapacidades, das mais difusas maneiras, somatop-squicas, psicossomticas e atuacionais contra-sociais. Diante da equipe local de sade da famlia, o indivduo e seus grupos apresentam-se primariamente, atores e cenrios de processos embrionrios de disabilidades. (Sampaio & Barroso, 2000, p. 211) Comoexemplodaforadesteimaginriodo especialismo, destaca-se o relato de uma das ACSs de Porto Alegre no ltimo encontro de formao: ela mencionou, em vrias ocasies, como o acom-panhamento de uma visita domiciliar realizado por umadasentrevistadorassignifcouparaelauma interveno signifcativa em sade mental, conside-rao esta feita a partir da mera presena da pesqui-sadora. Estas falas ao mesmo tempo misturam-se com expresses preconceituosas sobre a loucura e a pobreza. Cabe ressaltar que a atuao das equi-pes da ESF se d, muitas vezes, em situaes onde estopostososlimitesentreaspatologiaseos problemas da vida cotidiana, espaos muitas vezes entendidos como independentes um do outro, o que facilita essa suposta separao entre conhecimen-to especializado e senso comum. Em Natal, junto a uma demanda por profssionais especializados, foi percebida uma prevalncia de atuaes indivi-dualizadas e pontuais frente s demandas de sade mental. Os profssionais desta capital apontaram a inexistncia ou a fragilidade de uma proposta de atuao sistemtica por equipes que funcionassem na lgica da referncia territorial.Amarante(2000)destacaestascaractersticas como resqucios do modo asilar de tratamento da doena mental, onde qualquer forma de interveno que vai alm do estritamente psiquitrico, que tente incorporar outras formas de cuidado, considerada comosecundriatantoemtermostericoscomo tcnicos. Essas questes nos permitem interrogar a efetividade (ou no) de uma mudana de mode-lo de ateno proposta pelo SUS e pela Reforma Psiquitrica, que tem na Ateno Bsica a porta de entrada preferencial do sistema (Brasil, 2006). Uma integrante da equipe de Natal fez uma considerao a esse respeito: Eu acho que ainda no houve a mudana do modelo assistencial. A coisa ainda est muito centrada dentro do consultrio. S consultar e passar receita, como se fosse o mximo, e a gente sabe que no , hoje em dia a prioridade no isso. A fala dessa profssional corrobora o que apon-tam Merhy e Franco (2003). Segundo esses autores ahistriadaReformaSanitriatemmostradoa difculdade de incorporao de novas tecnologias R. Neves, M. Dimenstein, S. Paulon, H. Nardi, . Bravo, V. Brito, A. K. de Sousa, R. Figueir366 Avances en Psicologa Latinoamericana/Bogot (Colombia)/Vol. 30(2)/pp. 356-368/2012/ISSN1794-4724-ISSNe2145-4515naproduodocuidado,astecnologiasleves, que dizem respeito s relaes, ao modo singular como cada profssional aplica seu conhecimento. Em contraposio situam-se as tecnologias duras, relacionadas lgica instrumental, ao conjunto de tcnicas e procedimentos j estabelecidos.ConclusesCabeafrmaraquique,apesardasmudanases-truturais acontecidas nos ltimos anos e da incor-poraoehierarquizaodos ACSsdentrodas equipesdesade,asformasdefuncionamento das equipes ainda est muito vinculada ao modelo anterior, de carter hospitalocntrico e fortemente baseado na fgura do mdico e na administrao da medicao como forma de resolver as demandas. Este modelo tinha como um dos seus suportes te-ricos a associao entre loucura e peligrosidade e anecessidadedainstitucionalizaodoenfermo mental como forma de proteger a sociedade de essa suposta ameaa.Desta forma, necessrio ainda investir numa poltica de sade mental na ateno bsica basea-danacriaodevnculosefetivosentreusurio ecuidadordemodoqueestedeixedeserum nmero ou um pronturio e passe a ser um sujeito com uma histria singular. Estas polticas devem objetivar tirar do centro da produo do cuidado a fgura do mdico e todo o aparato tcnico-cientfco que isso representa, colocando em seu lugar uma equipe multiprofssional habilitada a ofertar diver-sos servios, superando os preconceitos em torno a loucura ainda existentes. Tanto as polticas de Sade Mental como as de Ateno Bsica tratam dos problemas em um nvel territorial, prezando os vnculos entre os sujeitos e seus territrios de vida e estimulando que os usu-rios deixem sua tradicional posio de pacientes e se tornem protagonistas de suas prprias histrias. As duas polticas preconizam o envolvimento das famlias, quando possvel, colocando-as no papel de articuladoras e atuantes no cuidado, cultivando a idia de co-responsabilizao de todos os atores envolvidos, ou seja, famlias, as diversas equipes de sade e os diversos nveis de ateno na produo do cuidado. EmNatal,duranteaetapadeformao,gra-dualmente as equipes foram incorporando a noo deco-responsabilizao,fortalecendootrabalho em equipe e estreitando as relaes com o Centro de Ateno Psicossocial que referncia para sua rea de abrangncia. Em Porto Alegre marcante oisolamentodostrabalhadores,adifculdadede dividiraresponsabilidadecomaequipeecom outrosserviosdesade.Dessemodo,asaes realizadassotomadascomoherosmoouboa vontade individuais, no caso dos xitos, ou como uma culpa insuportvel como foi observado quan-dosurgiuotemadossuicdiosnacomunidade, deixando evidente o quanto este tema angustiava a todos, notadamente os ACS das respectivas reas, que se sentiam individualmente responsabilizados por tais ocorrncias. Mudanasnosmodosdeproduzirocuidado implicam, dentre outras coisas, uma transformao nas posturas dos tcnicos que atuam no campo da sade, na medida em que estes precisam aprender aaliarseusconhecimentostcnicosespecfcos, habilidades de escuta e entendimento das deman-das que lhes so trazidas. necessrio prescindir dasrespostasprontasdispostasnosmanuaise protocolos para partir em busca de solues ino-vadorasecriativasquesejamadequadasssuas demandas de trabalho fato que nos leva inevita-velmente a pensar os modos de trabalho que tm sido desenvolvidos no contexto da ateno bsica. J aos usurios, cabe igualmente uma mudana de lugar. interessante que estes se portem como su-jeitos que usam ativamente um sistema e que no permaneamamercdeste,esperandopaciente-mente. Desta forma, ser possvel avanar no caminho de mudanas iniciado, evitando a ameaa sempre latente de retorno a modelos anteriores, aportando assim a processos de mudanas sociais mais amplas e estruturais. RefernciasAbdalla, C. et al. 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