38
Actas II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social Universidad de La Laguna, diciembre 2010 ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 1 TV Local e a alegação da sociedade civil, a diversidade e o pluralismo: O (não) caso português Cristina Tereza Salvador Rebelo Doutora em Comunicação pela Faculdade de Ciências Sociais e da Comunicação UV. Investigadora do CELCC. Email: [email protected] ; [email protected] Resumo ____________________________________________________________ A globalização trouxe uma mudança de paradigma, cuja perda da noção de identidade é uma das consequências ruinosas à sociedade civil. A ambivalência ganha rosto pela reflexão da duplicidade ou dominação, resultando numa formulação plausível: a leitura do “outro ” remete à introspecção sobre o “ mesmo ”. Juntamos a comunicação com a identidade e o desenvolvimento, adoptando a identidade local percebida como um processo dinâmico de expressão e significação de praxes concretas e simbólicas, que as comunidades locais activam para garantir a sua existência, reforçar a coesão e enfrentar as incertezas do futuro. Discute-se neste artigo, a televisão local na realidade portuguesa enquanto latente condutora de transformação social e a possibilidade que a sociedade civil tem de ali/por ali se manifestar na defesa das suas aspirações. Palavras-chave: Sociedade civil, TV local, Globalização, Inscrição, Porto Canal . Sumário _______________________________________________________________ 1-Introdução 2-Metodologia 3- Globalização: Mediatização e sociedade civil 4- TV Local como mecanismo de “inscrição

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 1

TV Local e a alegação da sociedade civil, a diversidade e o pluralismo:

O (não) caso português

Cristina Tereza Salvador Rebelo

Doutora em Comunicação pela Faculdade de Ciências Sociais e da

Comunicação – UV.

Investigadora do CELCC.

Email: [email protected] ; [email protected]

Resumo

____________________________________________________________

A globalização trouxe uma mudança de paradigma, cuja perda da noção de

identidade é uma das consequências ruinosas à sociedade civil.

A ambivalência ganha rosto pela reflexão da duplicidade ou dominação,

resultando numa formulação plausível: a leitura do “outro” remete à

introspecção sobre o “mesmo”.

Juntamos a comunicação com a identidade e o desenvolvimento, adoptando a

identidade local percebida como um processo dinâmico de expressão e

significação de praxes concretas e simbólicas, que as comunidades locais

activam para garantir a sua existência, reforçar a coesão e enfrentar as

incertezas do futuro.

Discute-se neste artigo, a televisão local na realidade portuguesa enquanto

latente condutora de transformação social e a possibilidade que a sociedade

civil tem de ali/por ali se manifestar na defesa das suas aspirações.

Palavras-chave: Sociedade civil, TV local, Globalização, Inscrição, Porto Canal.

Sumário

_______________________________________________________________

1-Introdução

2-Metodologia

3- Globalização: Mediatização e sociedade civil

4- TV Local como mecanismo de “inscrição

Page 2: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 2

5 – Síntese do contexto da televisão Regional e Local em Portugal

6- O primeiro projecto de televisão local e regional a norte: o NTV

7-Porto Canal: o canal que “inscreve” o Porto?

- Evolução e análise da audiência

- Perfil do espectador

- Divisão do público

- Influência fora do Porto

- Proporção da programação local/regional

8- Conclusão

1-Introdução

É a partir do local que devem ser geridas as formas de ligação com o global;

E esta aparente relação de duplicidade embora sugira sempre o domínio da

globalização que pela sua inevitável energia e dinâmica submete os actores e

agentes locais, não confirma de facto uma dicotomia das esferas locais e

globais e sim, um ressurgimento da configuração do local.

Este espaço geográfico e sócio - humano que designamos de local, há muito

que tem enveredado pela contestação das alienações globais numa arena onde

infelizmente, a disputa do poder está sempre presente.

A redução de capacidade de pensamento, essencialidade e até de criatividade,

a própria limitação da linguagem e do “comunis” reclamam en passant, a sã

poetização dessa forma de aproximação pela reacção contra a mundialização;

digamos que esta realidade divide o cidadão que sente necessidade de rebater

e procurar saber o que se passa no seu bairro, na sua região, no seu país e

não apenas em locais mais longínquos

Assim, temos como objectivo fundamental, concretizar uma reflexão sobre a

televisão inscrevendo a comunidade, activando a massa crítica e abrindo

espaço à expressão da sociedade civil que afinal é a principal génese das

televisões de proximidade como ambiciona o projecto existente e que aqui

apresentamos.

Page 3: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 3

2- Metodologia

_______________________________________________________________

As técnicas documentais são um auxiliar precioso ao investigador permitindo

uma apropriação rápida e credível, desde que baseada em órgãos emissores

de confiança reconhecida, de uma grande quantidade de informação

diversificada a qual o investigador pode manobrar e cruzar no sentido do

objectivo e exigências da sua pesquisa, e por isso, a utilização de dados

documentais é tão comum em trabalhos de dissertação. Optámos assim, em

função do objecto e finalidade da investigação, dar especial relevo às técnicas

documentais aplicadas a várias fontes, utilizando as possibilidades fornecidas

por dados oficiais e fontes estatísticas, artigos de imprensa generalista e

especializada, netgrafia ou sítiografia mas também obras publicadas, obtendo

informações relevantes capacitadas na descrição, comparação e caracterização

do tema e descrição do estudo proposto: O Porto Canal.

Pareceu-nos assim, a técnica apropriada à análise de alguns fenómenos que

cercaram, por exemplo, a averiguação do aparecimento e evolução do canal

nos últimos anos, construindo um quadro de referências importante sobre a

fundação e estratégia do meio e igualmente, todos os aspectos que nos

permitiriam descortinar e questionar a sua vocação e missão local.

As técnicas documentais assumem grande importância em análises tipo

macrossocial e de desenvolvimento histórico.

Encontrámos alguma dificuldade em apurar informação sobre o tema em

Portugal, pela sua ainda pouca visibilidade. Para colmatar esta omissão,

estamos a finalizar um estudo mais abrangente sobre segmentação,

georeferenciação e brand equity cujas conclusões serão atempadamente,

objecto de novo artigo.

No que respeita às fontes de dados, destacamos as seguintes:

- Marktest- Instituição especializada em audiências, sondagens e

estudos de mercado. As fontes estatísticas existentes foram

seleccionadas pelo interesse no contorno do tema e na análise de

Page 4: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 4

alguns pressupostos descritivos e quantificáveis, permitindo a

sistematização de informação.

- Obras Literárias – Estas obras, encontram-se detalhadas na secção

dedicada à Bibliografia e foram importantes na apreensão e

compreensão do tema, com a finalidade de reunir um conjunto de

hipóteses e pareceres relacionadas com o mesmo.

- Netgrafia- Recurso a bases de dados e fontes de informação

académica relevante.

- Documentação particularizada e disponibilizada pelo Porto Canal.

- Estudo em conclusão “Portoguesmente” falando: a pronúncia e

narrativa do Porto Canal”: inquéritos realizados entre Julho e Outubro

de 2010.

3 - Globalização: Mediatização e Sociedade Civil

_______________________________________________________________

“Se todos os períodos históricos têm a sua palavra mágica (…) da mesma forma que houve uma Idade da

Fé, uma Idade da Razão e uma Idade dos Descobrimentos, a nossa parece ser a Idade da

Comunicação.”

João Correia

Desde os anos 90, que as reflexões sobre o termo sociedade civil são

frequentemente utilizadas por comentadores e activistas como uma referência

às fontes de resistência sobre o domínio da vida social, as quais devem ser

protegidas da globalização. Esta, é vista por alguns. como persistindo além

fronteiras através de diferentes territórios, com consequências ambíguas na

relação entre os movimentos regionais e subregionais e as redes e

movimentações globais. Diferentemente, outros encaram a globalização como

um fenómeno social agregando valores liberais clássicos, os quais, fatalmente

levarão a uma acção mais expressiva por parte da sociedade civil na sua

relação com as instituições politicamente derivadas do Estado e ao emergir

Page 5: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 5

daquilo que Boaventura Sousa Santos,1 após vinte anos de intensificação da

globalização, classifica de “consciência do mundo”.

Na actualidade, Arato & Cohen expressa-se sobre a sociedade civil como

incluindo todas as instituições e formas associativas que requerem interacção

comunicativa.

Desta forma, o que proporciona a sociedade civil é a comunicação, e a

sociedade civil é autónoma quando as suas actividades são governadas por

normas que são retiradas do mundo da vida e reproduzidas e reformuladas

através da comunicação.2

Também recentemente, Robert Putnam alega extensivamente que mesmo

organizações não-políticas na sociedade civil são essenciais para a

democracia. Isto porque elas edificam capital social, confiança e valores de

partilha, os quais são transferidos para a alçada política, unindo a sociedade e

facilitando uma cooperação dos interesses no seu seio.3

É a batalha pela diferença e reconhecimento que impele estes movimentos à

acção.

Este arremesso, resulta numa emergente articulação de áreas concretas de

acção sobre as fórmulas organizativas em prol da cidadania e crescendo da

sociedade civil, originando movimentos sociais com um forte pendor

estratégico, organizativo e actuante,

Como afirmou Touraine:4

“Se uma das consequências da globalização é que desvalorizou as identidades baseadas em papéis

sociais em detrimento crescente de identidades baseadas em pertenças culturais, os media emergem

mais fortes na sua ligação quase estruturante com a definição dos territórios simbólicos que permitem a

formulação destes novos tipos de afirmação social”.

Os media como referimos, revelaram-se ao longo da sua história, e embora de

forma ambivalente, como um vector de transformação social; actualmente, com

a evolução tecnológica e a potencialidade da interactividade estes agregam

uma condição de mutabilidade das relações entre o público e o privado e de

1 SANTOS, Boaventura de Sousa. A emergência do Mundo, Revista Visão, 27 de Novembro de 2003

2 O conceito de sociedade civil,

Cf. : http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0310315_05_cap_04.pdf ( 18/10/08) 3 PUTNAM, R. Making Democracy Work: Civic Traditions In Modern Italy. Princeton, 1993.

4 Apud CORREIA, Comunicação e Cidadania: os media e as dinâmicas nas sociedades pluralistas., p.258

Page 6: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 6

forma ainda mais interessante, como meio privilegiado, se disso houver

intenção, na veiculação das ideias e reivindicações da sociedade civil através

das inúmeras formas discursivas.

É desta forma, que a utilização convergente de diversas formas de

comunicação - email, blogs, chats, fóruns, rádios e televisões de proximidade,

imprensa alternativa - dá origem à proliferação de campos de discussão e

informação conglutinados numa espécie de Ágora dos tempos modernos, onde

se propagam as alternativas, oportunidades e denúncias convenientes aos

intuitos revisitados da cidadania e da democracia, numa fórmula permeável aos

interesses daqueles que nesse discurso se pretendem rever, reforçando a

sociedade civil.

Na opinião de Boaventura Sousa Santos:5

“ (…) Os media desempenham duas funções básicas nas sociedades democráticas. Por um lado, uma

função de vigilância em relação aos detentores de poder político, económico e social, dando a informação

que torne possível o controle democrático. Por outro lado, a função de fornecer informação credível e um

espectro amplo de opiniões sobre questões importantes para o desenvolvimento da cidadania. Claro que

nenhum órgão de informação pode, por si só, garantir o desempenho pleno destas funções. É o conjunto

deles que o pode e deve fazer.”

A esfera dos media, na óptica do seu desempenho em Portugal, tem de ser

pensada.

Enquanto factor de integração social, pelas mudanças estruturais sobrevindas

do processo de transformação da própria sociedade na busca da promoção de

oportunidades de desempenho das plenitudes colectivas, respeito e cultivo das

diferenças validando o exercício da cidadania; mas, igualmente, pela

notoriedade que estes espaços de mediação e resistência que integram a

sociedade civil, transportam para a reflexão sobre a forma como os media

actuam, não apenas na sua concepção de modelo de pensamento dominante

mas analogamente, como um sistema de criação estrutural do espaço público

proporcionando novas dinâmicas e olhares cruzados, em suma, perspectivando

a mediatização da própria sociedade civil.

5 SANTOS, Boaventura Sousa, Media e Democracia. Revista Visão, 25 Nov. 2004

Page 7: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 7

A resistência fechada, baseada em individualismo ou hermetismo, contraria o

projecto basilar que dá força ao ideal democrático que é o centro da

universalidade e igualdade onde se fundamentam a sociedade civil.

Ao considerar-se que os media têm um papel elementar na consolidação dos

aspectos culturais, da ordem social e das normativas que dão corpo à vida

social, não é possível demitir daqui a discussão acerca da melhor forma de

aplicação destes instrumentos evitando que se criem apenas representações

ou simulacros destes ideais.

A visão que acompanha esta discussão, não é de forma alguma ingénua, não

rejeita a existência do confronto de poderes, e defende que a reflexibilidade e a

resistência são ocorrências determinantes na construção da identidade e da

cidadania.

Em resposta à emergência da intensificação da identidade e participação, esta

convergência tem repercussões no discurso comunicativo regional e local com

expressão marcante na esfera da sociedade civil, que cada vez mais é

concebida como uma sociedade comunicativa e plural; ou pelo menos, assim o

esperaríamos.

4- TV Local como mecanismo de “inscrição”

_______________________________________________________________

“ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..) é

uma pura miséria, uma máquina de fabricação e sedimentação da iliteracia, (…) o que contribui para o

espaço de não inscrição.”

José Gil

As televisões de proximidade já não assentam a sua definição num conceito

meramente geográfico; a comunidade está inserida para além de um espaço

físico, criando-se uma relação de cumplicidade e proximidade partilhada e que

na essência, constitui a sua identidade.

Observa-se que o panorama mediático está sustentado, actualmente, sobre o

desafio do global e o local: a comunicação local surge para contrapor alguns

efeitos desta dialéctica tentando reavivar o local.

Page 8: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 8

Desta forma, os meios de comunicação de proximidade podem e devem ser

encarados como instrumentos de mediação na busca de metas e objectivos

concernentes aos locais e comunidades, cumprindo diferentes papéis através

do auxílio de uma massa crítica colectiva e participativa, sem que o elemento

mercado promova uma sombra no evoluir da sua missão.

A condenação ao silêncio é combatida, rejeitando-se incertos argumentos que

têm sustentado a falta de investimento no sector num passado ainda recente.

No que diz respeito à realidade portuguesa, desde a Comissão de Reflexão

sobre o Futuro da Televisão, que a sustentabilidade destes projectos é

discutida.

Sob a égide da alegação económica se atribuiu à falta de mercado publicitário

e à não existência de regiões, e ainda a proximidade com os poderes locais e

regionais, o não surgimento destes fenómenos, de forma expressiva, em

Portugal.

Mas serão estes argumentos válidos no panorama actual da comunicação?

Um lugar onde se encontram os particularismos e as identidades singulares

num mesmo espaço coexistente com o nivelamento global e onde pululam os

motes de uma nova democracia oriunda da interactividade?

Parece-nos que a resposta contraria estes fundamentos e poderá basear-se

nos seguintes factores:6

1- O argumento político de fundo: o direito ao audiovisual no plano das

regiões e das comunidades locais é um direito que se configura no

quadro do direito à cidadania e à liberdade de acesso ao sistema dos

media pela sociedade civil, em particular pelos cidadãos do interior do

país - ou das ilhas - que habitualmente não se reconhecem nos meios

de comunicação de cobertura nacional.

2- O argumento jurídico formal: em abstracto, a legitimidade de

existência de uma televisão local ou regional é idêntica à de uma rádio

local ou regional.

3- O argumento cultural: ou seja, pela necessidade das regiões e das

comunidades locais participarem de forma activa no modelo de

6 CÁDIMA, Francisco Rui, Os media regionais face à TV locall. Cf.http://irrealtv.blogspot.com/2005/05/os-

media-regionais-face-tv-local.html . (14/01/09)

Page 9: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 9

comunicação audiovisual cada vez mais próximo das suas tradições e

das suas realidades quotidianas e culturais, e cada vez necessariamente

menos dependente de fluxos de informação globalizantes e/ou pan-

europeus, mais afastados do modelo de comunicação que a Europa

precisa para o seu projecto político, económico e cultural.

Desta forma, Cádima acredita não ser possível “passar um atestado de

insanidade económica e cultural aos habitantes e ao potencial das grandes

cidades e das regiões portuguesas que os afaste irremediavelmente de um

projecto de TV local, emanado directamente da sua sociedade civil, ou de

qualquer grupo autónomo dos seus cidadãos.”7

É aqui que reside a conveniência da criação de uma televisão regional e local –

nenhum outro meio poderá, eventualmente, assumir-se como tão poderoso

mobilizador dos espaços públicos regionais, no robustecimento da cidadania e

comunhão na região/local.

Neste âmbito, tem supremacia a sua acção enquanto mediadora mas ao

mesmo tempo criadora, renovadora e consolidadora da consciência e

identidade.

Esta concepção, passa pela consciência nem sempre pacífica, de que uma

região, um local só poderá ser competitivo se e também for portador de um

sistema comunicacional integrador, que é um factor visto como fundamental ao

desenvolvimento. Sendo intérprete das mesmas, fomenta e chama a si a

missão de agente de desenvoltura, aproveitando as capacidades endógenas e

as suas vantagens, fixando a “massa crítica”.8

E neste sentido questionamos:

- Como pode uma região, uma comunidade, expressar-se se não existe um

meio de comunicação social que divulgue com frequência, oportunidade e

relevância questões e problemas relativos ao seu espaço?

7 Id. Ibid.

8 REBELO, Cristina, Televisão regional e Região Norte: uma contextualização à proximidade regional, p.

144-145

Page 10: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 10

- Como pode uma região, uma comunidade evidenciar as suas emergências, as

suas aspirações à afirmação e projecção, quando as instituições falham e o

sistema não lhe dá voz, se não se cria um meio de comunicação social

realmente capacitado em aglutinar os seus objectivos e interesses e que

chegue em efectivo, a todos os cidadãos da mesma em termos de qualidade,

entendimento e empatia?

Estas questões evidenciam a responsabilidade dos indivíduos, grupos,

localidades e espaços motivadores pelo desejo de referências e enraizamento e

também pelo interesse da expressão;

Assim, diferentes tópicos abrem um novo espaço para que a alternativa tenha

lugar e tenha voz, num legítimo direito de se expressar sem a prepotência dos

grandes centros.

No fundo, trata-se de criar uma narrativa local, que assuma o retrato da

comunidade como protagonista e que essa característica seja perceptível ao

receptor mesmo que de forma reivindicativa.

“Ante la globalización mercantil, la continua superación en el campo tecnológico y la universalización a

través de las telecomunicaciones, la empresa de comunicación local no puede quedarse de brazos

cruzados. La homogeneización, como amenaza, exige una respuesta inmediata, una reivindicación de lo

próximo. (…) Un medio local existe en relación con un espacio social, con el que mantiene una relación

de retroalimentación mutua. El público se reconoce como identificado, se ve reflejado como si estuviese

ante un espejo; esa imagen reflejada responde al deseo de protagonismo de cada uno de los usuarios.”9

Ao emitir esta opinião, Xosé López, Fermin Galindo e Manuel Vilar, acreditam

que é um direito legítimo das comunidades a expressão da sua “personalidade”

num esforço de rejeição de modelos distantes e pouco distintivos do tema local.

Este direito compreenderá o resgatar dos seus interesses e fidelização às suas

ideias, ocupando um espaço no terreno público dos meios nacionais e

internacionais e respondendo a um âmbito de cobertura específico.

O imperativo local advém da mútua relação entre a comunidade e os seus

habitantes, onde o conceito de proximidade é a garantia de renúncia frente à

globalização: a sobrevivência desta proposta está articulada à ideia do próximo

9 LOPEZ, Xosé , GALINDO, Fermín, y VILLAR, Manuel, El valor social de la información de proximidad.

<http://www.ull.es/publicaciones/latina/a/68xose.htmf> (23/01/09)

Page 11: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 11

e à valorização do local como espaço sentido e fonte de experiência; não

apenas como elemento material mas metafórico.

5 – Síntese do contexto da Televisão Regional e Local em Portugal

________________________________________________________________

A origem dos projectos remonta aos finais dos anos 70 e início dos anos 80,

altura em que o advento das experiências de rádios locais e do debate acerca

da iniciativa privada, trouxe consigo a vontade de iniciar projectos de televisão

no mesmo âmbito, embora uma espécie de ligação perigosa com o caos da

situação observada com as rádios, tenha contribuído entre outros factores, para

a omissão durante anos, à viabilidade destes projectos.

A este interesse, o Estado responde tendo decido dar o seu abono às rádios

locais legalizando-as, mas permanecendo omisso relativamente à iniciativa da

televisão regional e local.

Esta foi aliás, a grande questão à volta das Televisões locais e regionais:

- a falta de uma vontade política consistente e a consequente falta de legislação

adequada confirmando assim, a falha do estabelecimento da relação entre o

audiovisual e o desenvolvimento pelos governantes.

A questão das televisões regionais terá sido o tema que mais dividiu os

elementos da então criada, Comissão de Reflexão para o Futuro da Televisão.

Assim, no capítulo do documento sobre “A televisão Local e Regional”

defenderam-se duas teses divergentes, tentando colmatar a falta de consenso

dos seus constituintes e que aqui se refere:

Tese nº 1

A tese nº 1 reconhecia a existência de uma dinâmica favorável por parte de

alguns grupos de cidadãos no sentido da criação de televisões locais e

regionais. No entanto, este passo não deverá ser considerado “objectivo

prioritário” propondo ao invés, a implementação do serviço público dado “não

Page 12: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 12

estarem criadas as condições jurídicas, técnicas e económicas” ao seu

funcionamento.

João Soares Louro, Fernando Lopes, Susete Abreu, António Trigo de Sousa e

Nuno Cintra Torres apoiam esta posição, acrescentando “que a realidade

portuguesa não é comparável em termos étnicos, linguísticos e geográficos a

outros países”.

Tese nº 2

Aqui defendia-se a ideia de Televisão Regional associada à participação cívica

- o fenómeno de TV de proximidade ganha cor como instrumento alternativo de

participação popular em prol da defesa da singularidades.

No ponto 4.2 se declara:

- “Sendo convicção prevalecente no seio desta Comissão, a de que não há razões para o Estado continuar

a protelar a criação de espaços televisivos de dimensão inferior à sua, em particular de todos aqueles que

contribuam para uma maior participação da sociedade civil e para a diversificação das fontes de

informação.(…)”

Com isto se remata, propondo que este sector carecia e necessitava de um

estudo mais profundo.10

Entre as muitas iniciativas, destacaram-se algumas relacionadas com

personalidades e instituições portuenses, com vista à criação de uma TV de

âmbito local na área metropolitana do Porto, sendo que em 1985, surge um

movimento de cidadãos, o Fórum Portucalense, insurgindo-se na defesa de

uma televisão regional.

A abordagem da necessidade de uma televisão regional no Norte, dá projecção

à ideia inicial para a geração do projecto que recebeu o nome de Televisão

10

A 8/2/97 foi elaborado um debate em Mangualde com representantes de partidos, representantes da TV Cabo e membros da supracitada Comissão, com o intuito de discutir o futuro da Tv Regional em Portugal. “Riscos e Desafios” foi o tema que o Movimento para a Legalização das Televisões Regionais (TRP) veio trazer num fórum que pretendia a veiculação no circuito interno da Televisão de Mangualde e via Internet. Este fórum contou aliás com uma iniciativa inovadora protagonizada pelo Centro de Estudos e Telecomunicações da Telecom. O sistema, viria a designar-se de Mangualde 2000 e junta vídeo-conferência, um demonstrador de tecnologias e serviços e uma rede de televisão integrada. Suportado por uma rede de fibras ópticas faz a ligação em 3 centros, sendo que em cada um estava instalado um computador apoiado por serviços multimédia, uma televisão e um estúdio de vídeo conferência. As zonas de recepção por seu lado também estão equipadas com linhas telefónicas, transmissão de dados e canal de TV.

Page 13: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 13

Regional do Norte (TVN) e assentava em alguns pilares oportunos à sua

criação:

“Face à evolução para a democracia que Portugal está imparavelmente a prosseguir; face ao aumento

relevante da capacidade de penetração em Portugal das televisões estrangeiras; face à necessidade de

manter a individualidade e as raízes culturais das populações, em contraposição indispensável ao

alargamento de âmbito geográfico da informação; face à importância da região Norte (...) importa criar um

dispositivo de televisão no Norte de Portugal que permita o desenvolvimento da comunicação na região e

possibilite a sua afirmação global no espaço nacional e mundial”.11

Assim, “criar ou divulgar uma ideia do Norte” 12era o elemento central do

projecto que se assumia como promotor dos anseios nortenhos, reivindicando

poder à região e planeava conseguir alguns objectivos, devendo

privilegiadamente: 13

- Fazer a cobertura noticiosa da vida regional;

-Informar a região sobre os acontecimentos nacionais e internacionais

significativos, segundo um critério e uma abordagem assentes na perspectiva

nortenha das coisas, ou seja segundo os interesses e idiossincrasias da região;

- Provocar o diálogo entre as forças vivas da região;

- Debruçar-se sobre a identidade histórico-social e cultural da região;

- Reflectir os anseios políticos, económicos, culturais, sociais e religiosos da

região;

- Exercer uma missão pedagógica e esclarecedora junto dos cidadãos da região

Norte.

Portugal continuava a ser dos poucos países da Europa que tinham atrasado

sistematicamente, um atentar de ideias sobre a viabilidade da TV local ou

regional, rejeitando intrinsecamente as vantagens que daí adviriam.

Sobre estas, em que a defesa de identidades e participação cívica e o

desenvolvimento das comunidades são de suprema importância, se contra

argumenta com a escassez do mercado publicitário que já contava com 4

canais nacionais, o espaço radioeléctrico e com a dúvida se “há vontade,

mercado e regiões”.

11

VILAR, António, Criação Imediata da TV Norte Como Sociedade Alargada aos Cidadãos, Jornal de Notícias, 17/11/1985 12

REBELO, Cristina, op cit. p. 135 13

Proclamação do Fórum Portucalense, Jornal de Notícias, 17/11/1985

Page 14: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 14

A legislação aprovada em 1998 abria a possibilidade às televisões regionais por

cabo, mas o decreto - lei nunca foi regulamentado.

Curiosamente, proclamada em entrevista à SIC a 29/4/1998, esta afirmação

parecia contrariar uma disponibilidade manifestada pelo então Secretário de

Estado, Arons de Carvalho, relativamente ao acolhimento destes projectos e

que em 1995, na oposição, escrevia assim num artigo ao jornal, “O Público”:14

“(…)Ninguém contesta a inevitabilidade e até a proximidade de uma abertura na televisão. As

acessibilidades tecnológicas e financeiras anunciam de facto o inevitável:

Vêm aí os novos canais de televisão, por via hertziana ou cabo, acessíveis a toda a gente ou codificados,

regionais ou locais, generalistas ou temáticos.(…) Tudo está cada vez mais dependente apenas da

viabilidade económica dos projectos. O poder político não tem outro álibi para atrasar a chegada de novos

canais de televisão que não seja precisamente esse.”

De qualquer modo e muito embora a situação da televisão regional parecesse

receber um novo fôlego com a prevista regionalização, o debate circulou muito

em função desse projecto político que saiu logrado, atrasando mais uma vez o

aparecimento dos projectos neste domínio. Mais recentemente, Arons de

Carvalho transfere todo o comprometimento desta obstrução para a sociedade

civil.15

“Não existe em Portugal um movimento a reclamar as televisões locais e regionais, a sociedade civil não

está mobilizada. Se a regionalização tivesse avançado a sociedade civil poderia estar mais desperta para

as vantagens destas televisões de proximidade”

A individualidade refere ainda a influência de grupos de pressão contrários ao

movimento das televisões regionais e locais mas, de facto, nunca houve

consonância entre a sua defesa destas televisões e a rejeição da lei perante a

intervenção do Estado nas mesmas.

Conclui-se que:

“ A falta de uma vontade política forte que associe o país às televisões de proximidade, tem sido ao longo

da história, amparada pela inexistência de uma pressão social reivindicativa, por parte das comunidades

regionais.

14

CARVALHO, Alberto Arons de , Vêm aí as novas Televisões, O Público- 10/05/95 15

COELHO, Pedro, TV de proximidade e os novos desafios do espaço público. p.190

Page 15: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 15

Nos últimos vinte anos assistimos ao aparecimento e desaparecimento de experiências frágeis,

concretizadas por curiosos e voluntários de que os poderes locais de tornaram cúmplices, num primeiro

momento, mas se divorciaram quando estes projectos apresentaram sinais de dasagregação. Esse

divórcio resultava normalmente do desaparecimento do entusiasmo inicial , que caracteriza todos os

projectos nesta área e da pressão dos serviços de fiscalização do Estado com vista ao encerramento das

emissões.”16

Sempre muito dependente ou subvertido por questões políticas, o enfrentar da

televisão local e regional foi sendo desacreditado. Embora presente em muitos

discursos políticos e/ou eleitorais, o tema foi travado tendo uma evolução

desvirtuada pelos sucessivos governos e pela ligação a uma regionalização

não conseguida.

A política dos últimos anos assim o confirma.

A anterior coligação, demite mais uma vez o assunto da ordem do dia e as

inúmeras dificuldades do panorama do serviço público criam indefinições várias

para uma gestão atempada e eficiente do assunto da televisão local e regional;

em 2005 o decreto - lei continuava por regulamentar. No entanto, o progresso

tecnológico impôs rapidamente que a lei e o legislador se deixassem impregnar

pela revolução incontornável dos últimos anos. E embora sempre com muitas

reservas, nomeadamente na acepção dos projectos enquanto mentores de

desenvolvimento activo das localidades e regiões, a legislação consegue ser

mais esclarecida quanto à impossibilidade de travar os processos que

mormente, através das novas tecnologias, têm surgido abundantemente

embora apresentando algumas fragilidades. A convergência TV- Web e a

crescente expansão de estações televisivas cada vez mais facilitada pelo

cenário da televisão digital, têm colocado desafios importantes ao panorama

televisivo português permitindo destacar os projectos de TV na Web.

Um desses projectos recentemente falados, é o da "Localvisão TV" que

promete criar 308 canais, um em cada concelho do País através da

Internet.Este projecto de televisão local promete criar 308 canais de TV em

cada concelho de Portugal com difusão através da Internet, estando os

primeiros 12 já operacionais no Distrito de Bragança, onde foi em Outubro

16

Id ibid. p. 192

Page 16: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 16

apresentada a "Localvisão Tv". Numa apresentação única, estes são canais de

proximidade cujo sinal é difundido pela Internet, que também têm algo de

WebTV na medida em que as pessoas podem pesquisar conteúdos já emitidos.

Vislumbra-se, no horizonte, um novo paradigma de TV local.

6- O primeiro projecto de televisão local e regional a norte: o NTV ________________________________________________________________

O interesse do aparecimento de uma TV Regional ou Local no Norte do país,

gerou alguma movimentação no sentido de se cimentarem ideias e firmarem

decisões.

A ligação ao debate da Regionalização e o empate no quadro legislativo, foram

os dois factores mais proeminentes do problema da viabilização da televisão,

cujos mais interessados eram os autarcas principalmente nos projectos de TV

Com data prevista para finais de 2000, o canal Porto TV Informação e

Multimédia, projectava-se dotado de interactividade num formato moderno que

permitia emissões não só em televisão, mas igualmente em multimédia,

pretendendo privilegiar a informação sobre a AMP (Área Metropolitana do

Porto) tendo à sua frente três parceiros principais - TV Cabo, RTP e Lusomundo

- com aproveitamento das instalações do Monte da Virgem.

A Câmara do Porto sempre manifestou interesse em ingressar no projecto,

fazendo fé na crença que esta possibilidade se operasse com a alteração da

legislação sobre Televisão.

A verdade é que embora não se concretizando desta forma, este organismo

mostrou-se como um dos impulsionadores da ideia.

Isto terá gerado aliás, uma polémica com outros autarcas, assente na questão

do protocolo assinado com a Porto TV, que dava à Câmara do Porto, mediante

o pagamento de 75 mil contos/ano (aprox. 355.000 euros) e pela “prestação de

serviços”, a possibilidade de incluir noticiários diários sobre a Câmara entre

outros serviços patrocinados e produzidos com o apoio desta.17

17

Vieira de Carvalho, autarca da Maia, decide abrir guerra à Porto TV, por considerar que o P.S. queria controlar o novo canal e o acordo que viria a ser celebrado representava “uma flagrante violação do espírito da Lei”. Este autarca considera ainda a possibilidade de este canal se tornar um “poderoso instrumento de propaganda político-partidária”. (Público,13/8/99)

Page 17: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 17

As principais críticas resultam da noção que “parte dos temas a tratar pelo

referido canal de televisão dependem da indicação prévia” dos serviços da

edilidade em questão.

Acresce ainda a associação da TV Cabo e da RTP, “duas empresas de capitais

públicos directa ou indirectamente tuteladas pelo governo”, mas também ao

desenvolvimento de um projecto que deveria servir toda uma região no intuito

da preocupação de “ver um projecto de grande utilidade e importância (…)

nascer assim desvirtuado”18

Esta fórmula, subliminar aos olhos de alguns, e que no fundo viria a contornar a

Lei, apelidou este canal como “o canal dos Senhores Presidentes”;

Se esta modalidade se alargasse a outras Câmaras, o novo projecto tinha em

princípio o seu problema de viabilidade financeira resolvido, mas passaria a ter

que lidar com a sensível questão dos protagonismos de tempo dados a cada

Câmara nas emissões do Canal Porto. Para o director que reiterava a força do

projecto, declarando que aguarda “que apareça um canal de televisão com esse

mesmo espírito (…) ganhador como o Futebol Clube do Porto; (…) um projecto

a partir do Porto, como se isto fosse a planta para o resto do país, ou se se

quiser, a partir de Barcelona para o resto de Espanha,” vinculando a ideia de

partilha e espaço de auto-afirmação e reafirmando que “o Porto só ganha se for

cosmopolita”. O novo canal pretendia ser “temático com características

metropolitanas (…), um canal alternativo (…) dentro da overdose de informação

que hoje existe, onde há lugar para a curiosidade e a surpresa – coisas que vão

faltando”. 19

“O canal Porto “tem ambições globais. Isto é não se consegue ser global se não se tiver um espírito tribal.

É preciso mostrar e promover o Porto cosmopolita.

É fundamental recuperar aquela velha frase do Prof. Agostinho da Silva: Há muito Norte a Sul do Equador

que nos passa pela cabeça”. 20

18

CARVALHO, Vieira , O Independente, 13/8/99

19 MAGNO, Carlos, Jornal de Notícias, 16/12/00

20 Id.

Page 18: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 18

Deste processo, conclui-se que o aparecimento da, finalmente designada, NTV

(re)colocava algumas questões ao sentido da existência e viabilização de

canais de cariz regional.

A primeira ilação passava forçosamente pelo impacto que o canal do Porto terá

gerado questionando afinal a mais valia que a existência deste “produto”

poderia representar à região e à cidade, aos cidadãos e até ao país.

Não foi contudo, com uma nota positiva que ficou marcada a estreia do canal

que recebeu aliás, bastantes críticas quanto ao formato e descaracterização,

O surgimento do NTV, supunha-se, viria colmatar uma lacuna no deficitário

papel que os media nacionais têm na abordagem de questões de índole local e

regional, apresentando-se com muitos intuitos à partida, difíceis de concretizar

num projecto único e pouco conhecido no país. As inúmeras expectativas

criadas à sua volta acabaram por representar a fonte principal das críticas

apontadas, dificultando a concretização do que aparecia muito simplesmente

como - o Canal do Norte.

Nesta medida, a NTV assumia uma enorme responsabilidade: a de fazer

passar a todos a mensagem do Norte.

Uma tarefa difícil num cenário marcado por uma identidade mal ou pouco

dirigida, uma região díspar, uma realidade complexa cuja relação com a

televisão, que muito pouco tem feito pela proximidade, pela cidadania e

projecção da região, poderia demarcar a sua posição como agente inovador

capaz de se afirmar a nível regional e nacional, criando as condições

necessárias para que o NTV criasse cumplicidade e reconhecimento num leque

já extenso de oferta de canais por cabo, muito embora este sistema ainda limite

o número de espectadores em Portugal.

Em segundo lugar, nesta abordagem que é naturalmente multifacetada, ficam

ainda subjacentes algumas questões.

Recordemos nomeadamente, a relevância destes projectos na óptica do

desenvolvimento regional, criando sinergias para a viabilização de uma

televisão de proximidade, de cidadania – um espaço de projecção que sirva a

sociedade civil esgotada do excessivo e habitual pendor por vezes oco e menos

próprio de projectos feitos em seu nome.

Page 19: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 19

Não obstante o desiderato da NTV, o canal foi adquirido pela RTP

transformando-se na RTPN sem qualquer cariz ou missão local ou regional.

O projecto seguinte, teve o objectivo de ressuscitar a NTV emitindo já há quatro

anos sob o nome de Porto Canal.

7- Porto Canal: o canal que “inscreve” o Porto?

_________________________________________________________________

Sendo o Porto Canal um “canal extremamente afecto ao Porto”, considera-se

que ainda há um caminho amplo a percorrer devido à percepção de que muitas

pessoas desconhecem ainda a existência do canal dado não terem acesso à

TV cabo.

Actualmente, a TV cabo apresenta um share de 23,5% tendo vindo a crescer

desde Janeiro de 2009, o que é explicável pela possibilidade de acesso às

alternativas mais ao gosto dos consumidores de televisão; porém, ainda não é

um crescendo tão acentuado devido à limitação do poder de compra dos

consumidores.21

Nos quadros seguintes podem verificar-se as diferenças de share entre 2009 e

2010 sendo o último quadro correspondente a Novembro de 2010.

21

Cf.Cabo tem melhor resultado de sempre e ultrapassa SIC e TVI:

http://pdf.clipping.mediamonitor.pt/pdfTemp/etn_6192414_527_0.pdf (6/04/09)

Page 20: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 20

Fig 1 -Audiências TV Janeiro 2009

Fig.2 Marktest - http://www.marktest.com/wap/a/n/id~152d.aspx (22/11/2010)

Outro dado de interesse é o que mede a frequência de visionamento para o

Porto Canal, que apresenta o estudo em curso. Resultados menos positivos,

para reflectir o lugar adentro das ofertas da TV Cabo.

Page 21: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 21

Fig 3- Estudo “Portoguesmente” falando: a pronúncia e narrativa

do Porto Canal”: dados da autora – Nov 2010

Evolução e análise das audiências:

Page 22: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 22

Fig. 4: Dados fornecidos pelo Porto Canal

Fig. 5: Dados fornecidos pelo Porto Canal

As audiências do Porto Canal em crescimento, de forma contínua e sustentada

durante o primeiro ano, numa programação com conteúdos “diferenciados,

exclusivos, interactivos e adequados ao seu público.”

Um dado interessante, é o aumento do share verificado na passagem do ano.

O Porto Canal liderou, pelo terceiro ano consecutivo, as audiências televisivas

na noite de passagem de ano na região do Grande Porto, entre os canais que

transmitem por cabo, segundo se apurou pelas fontes impressas.

"O Porto Canal foi líder absoluto, no Grande Porto, entre os canais de cabo"

Page 23: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 23

Segundo dados da Marktest, divulgados na mesma fonte impressa, entre as

00:00 e as 00:30 do dia 1 de Janeiro, a estação de televisão liderou com 43,8

por cento.

O programa que atraiu as atenções dos telespectadores do Grande Porto foi a

transmissão em directo, da Avenida dos Aliados, do espectáculo de fogo de

artifício que assinalou a entrada no novo ano.22 O Porto Canal, apresenta nesta

data, bem como na noite de S.João (festa do santo popular) e na Queima das

Fitas (festividades académicas), uma forte relação com a cidade.23 A conclusão

reside pois, na desejada inclinação de proximidade com as raízes do Porto e

do Norte.

Perfil do espectador

Fig. 6- Divisão por classes sociais de Janeiro de 2007 a Novembro de 2007.

Dados baseados no Manual de Apresentação

22

Porto Canal liderou audiências entre canais por cabo, no Grande Porto, na Passagem do Ano. Cf.

http://tv1.rtp.pt/noticias/?article=168494&visual=3&layout=10 . (18/03/09) 23

Cf. Mediamonitor, Marktest: http://pdf.clipping.mediamonitor.pt/pdfTemp/etn_4478641_527_0.pdf (18/03/09)

Page 24: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 24

Fig. 7- Divisão por idades de Janeiro de 2007 a Novembro de 2007.

Dados baseados no Manual de Apresentação

Com uma programação diversificada, embora as 24H de emissão sejam

sustentadas pela repetição, a qual vai do entretenimento ao desporto,

passando pelos debates, entrevistas e informação, abrange um público

diversificado e diferenciado etária e socialmente. Segundo dados mais

recentes, destacam-se as alterações positivas na captação das classes A/B e

perda na classe C1 e sem alterações significativas para os restantes

parâmetros.

4% 4%

12%

23%

10%

21%

26%Idade 4/14

Idade 15/24

Idade 25/34

Idade 35/44

Idade 45/54

Idade 55/64

Idade + 64

Fig 8- Divisão por classes (Jan. 2008/Mar 2009)

Baseado em Marktest-Audimetria/MediaMonitor

Dados retirados do MMW/Telereport/Audicabo

Page 25: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 25

4% 4%

12%

23%

10%

21%

26%Idade 4/14

Idade 15/24

Idade 25/34

Idade 35/44

Idade 45/54

Idade 55/64

Idade + 64

Fig 9-Divisão por Idades (Jan. 2008/Mar 2009)

Baseado em Marktest-Audimetria/MediaMonitor

Dados retirados do MMW/Telereport/Audicabo

Em relação ao ano de 2007, a variável Idade relativa à audiência sofre algumas

alterações, nomeadamente as faixas dos 23/34 anos que sofre uma diminuição

praticamente para metade (22,7% para 11,7%), dos 35/44 anos que

suplantaram mais de metade das preferências (9,1% para 23,2%) e dos + de

64 anos onde se verifica um aumento para o dobro dos valores (13,3 para

26,9).

Os valores mais elevados são encontrados em pessoas de idade mais

avançada, provavelmente reformados e paralelamente, observa-se que

diminuem as audiências das faixas abaixo dos 35 anos. Este dado

seguramente sugere uma preferência ou apetência deste tipo de audiência em

relação à selecção e agenda do Porto Canal.

Divisão do público:

No que respeita à classificação de género os dados são explícitos, embora a

predominância masculina não se assuma tão preponderante, analogicamente

falando. O corrente estudo, “Portoguesmente” falando: a pronúncia e

narrativa do Porto Canal” confirma estes dados.

Page 26: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 26

52%

48%Mas culino

F eminino

Fig. 10- Divisão por sexo: (Jan 2008/Mar/2009)

Baseado em Marktest-Audimetria/MediaMonitor

Dados retirados do MMW/Telereport/Audicabo

Fig. 11- - Estudo “Portoguesmente” falando: a pronúncia e narrativa

do Porto Canal”: dados da autora – Nov 2010

Page 27: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 27

Fig. 12- - Estudo “Portoguesmente” falando: a pronúncia e narrativa

do Porto Canal”: dados da autora – Nov 2010

No que respeita a estes dados, verifica-se que o nível da escolaridade

obrigatória abarca a maior percentagem: do 9º ao 12º ano apura-se um valor

de 45,1% nas pessoas entrevistadas.

Em relação ao estado civil, um dado interessante: um maior número de

solteiros, parece indicar faixas etárias mais novas associadas ao canal do que

os dados apontados no estudo fornecido pela Marktest e Porto Canal em

2008/09.

Um dado a cruzar, posteriormente, com o estudo referido e em conclusão.

Page 28: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 28

Influência fora do Porto

Sobre este ponto, existiu muita limitação ao acesso a dados mais significativos

porque é um parâmetro muito pouco explorado, inclusive nas instituições

designadas para estudos de audiências.24 Segundo apurámos junto do Porto

Canal, estes não possuem quaisquer dados pois há grande dificuldade em

medir o cabo e os resultados não têm nenhuma relevância estatística. Este

aspecto constitui uma fragilidade no auxílio à gestão e monitorização do

impacto do canal, apenas efectuado empiricamente pela verificação da

participação popular em programas e fóruns de cidadão fora da AMP.

6%

75%

7%

3%7% 2%

G rande L is boa

G rande P orto

L itoral Norte

L itoral C entro

Interior

S ul

Fig. 13: Divisão por regiões (Jan 2008/Mar/2009)

Baseado em Marktest-Audimetria/MediaMonitor

Dados retirados do MMW/Telereport/Audicabo

De qualquer forma, junto da empresa Marktest, conseguimos obter alguns

dados que acima demonstramos e onde se destaca a influência LOCAL do

canal.

Curiosamente os valores para o Litoral Norte e Grande Lisboa têm o mesmo

peso estatístico, do qual se depreende a visualização da estação na capital e

24

Dados mais conclusivos e recentes serão objecto de publicação pela autora em 2011. sob a

designação “Portoguesmente” falando: a pronúncia e narrativa do Porto Canal”.

Page 29: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 29

provavelmente, a fraca adesão ao cabo nas outras regiões também explique a

sua fraca penetração; a inclinação regional, pelo menos a Norte, não foi ainda

alcançada.

No que respeita ao estudo, “Portoguesmente” falando: a pronúncia e narrativa

do Porto Canal” a finalizar, adiantamos que a conclusão reitera que as zonas

mais substantivas são Vila Nova de Gaia, Porto, Maia, Braga, Guimarães,

Valongo e Gondomar.

Igualmente se registam valores significativos na Póvoa do Varzim e Paços de

Ferreira. Estes dados, são relevantes para estratégia de alargamento regional

pretendida pelo Porto canal e também de ilustração de tendências de

fidelização local.

Fig 14- Estudo “Portoguesmente” falando: a pronúncia e narrativa

do Porto Canal”: dados da autora – Nov 2010

Page 30: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 30

Proporção de programação local/ regional- 2009/2010

21%

79%

Programas com

ancoramento regional

Outra programação

Fig. 15- Percentagem de programas regionais, de 2ª a 6ª feira

Fim de semana:

40%

60%

Programas com

ancoramento regional

Outra programação

Fig. 16- Percentagem de programas regionais, ao fim de semana.

As escolhas temáticas de alinhamento local ou regional ainda estão aquém do

espectável. No entanto, a estação tem intenções de alargar o seu campo de

Page 31: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 31

transmissão para a região Norte, constituindo este ano diversas janelas de

correspondência com várias regiões nortenhas.

Do estudo que se encontra a finalizar, retiraremos mais esclarecidas

conclusões sobre esta matéria que serão objecto de posterior apreciação.

Conclusão

_______________________________________________________________

Falar de um meio de comunicação social do Porto ou para o Norte, fez levantar

o véu ao tema da falência do diálogo da região consigo própria que em muitos

sentidos, se deve a questões políticas, e que existe, persiste aniquilando o

verdadeiro sentido da comunicação.

Ora, a comunicação – técnica e ciência – existe como instrumento ao serviço

da satisfação de necessidades e intenções num sentido bidireccional; e como

se sabe, a complexidade deste processo obriga por vezes às mais criativas

estratégias para que se consiga fazer passar uma mensagem cuja eficácia dita

a convergência com o outro.

Sem estes espaços de convergência que permitem incorporar interesses,

valores, identidades e até anseios de afirmação, torna-se difícil a gestão do

conhecimento que a própria comunidade deve ter de si. E por consequência, o

desconhecimento, a falta de integração e até um certo desenraizamento

condicionam o aparecimento de fragilidades gritantes:

- onde não existe questionamento, não pode haver desenvolvimento.

Neste sentido, órgãos de comunicação locais são de extrema importância;

ainda mais o é a televisão que pode assumir real valor estratégico não só como

veículo, mas como intermediário à sociedade civil e à região.

Na vertente do interesse local, poderíamos aqui questionar até se um espaço,

uma comunidade também pode “fazer-se” através de uma televisão.

Dir-se-á que o que se defende é uma provável construção mediática do local;

mas se a “região faz a televisão”25, parece-nos lógico considerar o oposto e até

que as duas versões se complementam. Uma região conhecer-se melhor a si

25

MUSSO, Pierre, Apud. CÁDIMA, Francisco R, Os desafios dos novos media, p. 13

Page 32: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 32

mesma, as suas idiossincrasias, as suas gentes, a sua forma de vida, os

meandros da sua política, possibilitando-lhe a recuperação de elementos de

ordem social e cultural, querendo ter e dar voz nesta era de uniformização

imposta a título de igualdade, resultam de um tipo de construção mediática? Se

assim for, bastará que se assegure uma vigilância aos perigos de uma fórmula

mais propagandística ou de grande intimidade com poderes capazes de

desvirtuar a ideia central na base destes projectos.

Em suma, insurge-se em continuidade, uma reflexão que deverá ser

acompanhada de um campo de interesses mais alargado, contribuindo para a

operacionalidade dos projectos, os quais estão muito facilitados pela tecnologia

mas não tanto pela legislação e reivindicação suficiente da sociedade civil que.

Virtualmente, continuamos a acreditar que embora estes projectos possam ser

mais ou menos bons, esperando sempre que sejam os melhores no

cumprimento dos seus objectivos e atendendo a que, neste percurso, muitos

podem falhar, principalmente se atendermos apenas a questões de

rentabilidade e lucro, estas televisões têm a sua viabilidade na simbiose entre a

missão desenvolvimentista e a formação social e cultural de cidades e locais,

fazendo um forte apelo à voz local, na medida em que procurem dar relevo à

expressão da sociedade civil e aos seus problemas, promovendo uma

perspectiva inovadora de reflectir activamente sobre o local, a identidade e os

sentimentos de pertença.

Com uma história muito recente, o Porto Canal resiste à incredulidade e

descrença que tem acompanhado a história dos meios locais na cidade do

Porto.

Durante a vigência dos primeiros dados apresentados, conclui-se que estação

não tem vocação regional em efectivo, mas tem importância local: é

reconhecida a nível da AMP pelo contacto nas ruas e pela participação popular

em fóruns e debates.

A programação tem uma preocupação local e uma perspectiva também local

mas falta a criação de espaços de real permuta, no que respeita à geração de

opinião e massa crítica, capaz de gerar linhas de força activas em prol da

consciência local.

Page 33: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 33

O acto de “não inscrição” fica patente por alguma descontextualização operada

pela falta de experiência do próprio mercado das televisões locais pouco

estimulado ainda para a sua presença, por razões de sensibilização e pouco

investimento permitido no sector, e igualmente do tecido social local.

Não obstante, os valores e missão do canal são subjacentes à proximidade

com a vizinhança e a comunidade; não teria sentido apresentar conteúdos que

não constituíssem uma mais valia para este objectivo que de facto, fundam o

sentido e existência da estação, ou seja o seu “cariz genético”.

Por outro lado, a oferta de programação fica comprometida na sua

potencialidade, uma vez que a produção se torna mais sofrível nos géneros e

nos formatos; embora sejam de realçar os valores elevados e atraentes de

produção portuguesa visionados, envolvemo-nos novamente com a questão da

sustentabilidade do canal.

Sustentabilidade essa que é, essencialmente, facilitada por uma organização

não portuguesa e resultado de um interesse mais comercial que alia o capital

ao know-how.

Questionamos a falta de investimento e a participação de instituições

carismáticas do local e da região, que traduzem a desconfiança ainda existente

em relação ao papel e missão destes meios; não há, politicamente, um efectivo

empenho em aderir à movimentação participativa e democrática destas

televisões, o que compromete a estabilidade das mesmas.

Há ideias e projectos, mas faltam meios e recursos capazes de dar vida ao

desafio criado pela falta de concorrência significativa; o espaço do Porto Canal

não é disputado mas a oportunidade existente “melindra-se” com a

obstaculização da legislação em relação à participação de instituições locais, o

que provavelmente só irá alterar-se quando se voltar a falar de Regionalização

no país. Atrever-nos-íamos a dizer, que este é um dos factores críticos no

exercício e na vocação local do meio, embora este faça conjunto

multidisciplinar com outros factores.

A presença e visibilidade do meio estão em crescimento, para que se crie a

convergência e a afectividade entre o espaço e a sua gente; falta-lhe ainda, por

razões óbvias, a “garra” que punge a identificação e a identidade.

Page 34: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 34

A adesão ao cabo constitui outra situação de fragilidade; pelo facto de envolver

um pagamento, não se torna disponível a toda a gente e contribui para o

desconhecimento regional e societal da estação.

Por outro lado, não verificamos ainda uma invocação decisiva da sociedade e

das instituições de peso local em relação à estação, o que compromete a sua

evolução e arremesso; cria-se um ciclo de virtualidade existencial que não é

positivo para a geração de reconhecimento e sinergia entre ambas as partes da

relação: canal e audiências.

Logo, o processo pedagógico de intercâmbio inerente, não cimenta: dilui-se ou

esvazia-se de maior sentido.

Em relação à categorização da audiência e perfil do espectador, observamos

nos dados auditados, que os acréscimos nas faixas etárias referidas traduzem,

sob o ponto de vista da eficácia local, uma perda de interesse da camada que

poderíamos chamar de “decisora”. Uma audiência mais idosa, não concretiza o

apelo à cidadania e ao envolvimento enérgico com os temas locais, porque a

maioria destas pessoas já não tem uma participação activa na sociedade local

(pelo menos no que concerne à realidade portuguesa). Daí que, se o Porto

Canal anseia, como é desejável, estreitar a sua intervenção e predisposição no

envolvimento local, terá como tarefa examinar e decompor estes dados.

Esperamos os resultados do estudo em conclusão, para melhor apreciar este

parâmetro.

Com estas condicionantes, a sobrevivência tem sido um acto de coragem e

até, de afirmação.

Cremos que o projecto se encontra em construção e reconhecemos nele

pontos positivos a continuar a desenvolver ou aprimorar.

A grande percentagem de programação em português, por exemplo, traduz a

preocupação mais vernácula do canal. Como já referimos, não teria sentido

não obedecer a este pressuposto que descaracterizaria o projecto, retirando-

lhe capacidade de criar opção ou preferência.

A afectação ao Porto e a vinculação ao “portoguês” são destacáveis no

conjunto da programação, e isso acaba por ajudar a construir um projecto mais

genuíno, “tripeiro” e dinâmico dando visibilidade aos temas associados à

Page 35: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 35

cidade e vizinhança. Por outro lado, a estação aposta claramente nos

“directos”, o que, eventualmente, nem sempre resulta de modo eficaz.

De forma reformadora, igualmente o impacto das novas tecnologias resulta

muito bem tecnicamente e pensamos que nos últimos tempos, a estação

aprimorou e tornou mais atraentes, alguns aspectos relativos à imagem e

grafismo. No âmbito da capacidade de produção de uma televisão local, tem a

seu favor custos mais reduzidos que nos projectos pensados no passado e

que, inclusivamente, obstaculizaram o seu desenvolvimento.

O que se estimaria evitar, é aquilo que José Gil chama de sombra branca ao

referir-se aos media:

“ Por um lado estão ali, o mundo agora, o seu país, a sua cidade ou a sua aldeia numa abertura virtual de

imagens; por outro é apenas aquilo, com o sentido que deve ser pensado, as notícias, os comentários

semanais dos comentadores, os pensamentos que confirmam o meu pensamento antes de o ter, a minha

existência reduzida a uma massa pastosa que engole imagens e nunca treme realmente com o que

vê ou ouve.”26

Em suma, um projecto de quatro anos, os quais são ainda limitados para uma

mais vasta prospectiva sobre o futuro do Porto Canal; mas já é também um

tempo suficientemente importante, no contexto português, para que se faça

uma reflexão sobre o interesse do canal e as reais expectativas que recaem

sobre ele, transportando-nos para o Porto de Sophia de Mello Breyner, o Porto

a pátria dentro da Pátria,

É para esta reflexão que esperamos contribuir.

26

GIL, José, Portugal Hoje, o medo de existir. p. 35

Page 36: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 36

Bibliografia

CÁDIMA, Francisco R., Os desafios dos novos media, Noticias Editorial, Porto, 1999.

CÁDIMA, Francisco Rui - Os media regionais face à TV local.

Cf.http://irrealtv.blogspot.com/2005/05/os-media-regionais-face-tv-local.html .

(14/01/09)

COELHO, Pedro - TV de proximidade e os novos desafios do espaço público.

Livros Horizonte, Lisboa, 2005.

CORREIA, João - Comunicação e Cidadania: os media e as dinâmicas nas

sociedades pluralistas. Tese de Doutoramento. UBI 2001.

FORTUNA, Carlos - Nem Cila Nem Caribdis: Somos todos translocais. Revista

critica de ciências sociais, n.º 32, Junho 1991.

GIL, José - Portugal Hoje : O medo de existir. Ed. Relógio d`água, Lisboa,

2005.

GRASA, Rafael - Sociedad civil y Estado en la Globalización. Revista

Metapolítica, nº 56. Nov-Dez. 2007.

Page 37: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 37

HALLS, S. - Representation: Cultural Representations and Signifying Practices.

Sage Publications, London, 1997.

KEKELI, Nuviadenu - Globalisation and Localisation in Ghana Television.

Conference Papers. International Communication Association, Annual

Meeting, 2006.

LÓPEZ, Xosé; GALINDO, Fermín e VILLAR, Manuel, El valor social de la

información de proximidad.

<http://www.ull.es/publicaciones/latina/a/68xose.htmf> (23/01/09)

MATTELART, Armand - Los nuevos escenarios de la comunicación

internacional. Generalitat de Catalunya, Centre de d´investigació dela

comunicació, Barcelona, 1994.

PUTNAM, R. - Making Democracy Work: Civic Traditions In Modern Italy.

Princeton, 1993.

REBELO, Cristina - TV regional de Região Norte: uma contextualização à

proximidade regional. Tese de mestrado. Publismai, 2001.

SANTOS, Boaventura de Sousa - A emergência do Mundo, Revista Visão, 27

de Novembro de 2003.

__________________________Media e Democracia, Revista Visão, 25 Nov.

2004.

THORNTON, William H. - Mapping the “glocal” village: the political limits of

glocalization. Journal of Media and Cultural studies. Vol.14. NY.2000.

WOLTON, Dominique - Pensar a Comunicação. Difel, Lisboa, 1999.

Page 38: Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación ... · “ A função dos media consiste em abrir o espaço da comunicação social. (…) a televisão portuguesa (..)

Actas – II Congreso Internacional Latina de Comunicación Social – Universidad de La

Laguna, diciembre 2010

ISBN: 978-84-9384-28-0-2 Página 38

Fontes

Bareme Imprensa regional 2007 – Marktest

<http://www.marktest.com/wap/a/n/id~10a9.aspx>

Bareme Imprensa regional 2006 - Marktest

<http://www.marktest.com/wap/a/n/id~9ee.aspx>

Mediamonitor, Marktest:

<http://pdf.clipping.mediamonitor.pt/pdfTemp/etn_4478641_527_0.pdf>

(18/03/09)

Marktest –

http://www.marktest.com/wap/a/n/id~152d.aspx (22/11/2010)

Marktest-Audimetria: Cabo tem melhor resultado de sempre e ultrapassa SIC e

TVI: <http://pdf.clipping.mediamonitor.pt/pdfTemp/etn_6192414_527_0.pdf>

(6/04/09)

Outros

Estudo da autora, em conclusão - “Portoguesmente” falando: a pronúncia e

narrativa do Porto Canal”.

Manual de Apresentação do Porto Canal.