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Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde oral Vegetarian or Vegan diets: Manifestations in Oral Health Madalena Ribeiro Correia de Almeida e Silva Porto 2020

Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

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Page 1: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na

saúde oral

Vegetarian or Vegan diets: Manifestations in Oral Health

Madalena Ribeiro Correia de Almeida e Silva

Porto

2020

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I

Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na

saúde oral

Vegetarian or Vegan diets: Manifestations in Oral Health

Madalena Ribeiro Correia de Almeida e Silva

Aluna do 5 º ano do mestrado integrado de Medicina Dentária da FMDUP [email protected]

Artigo de revisão submetido à Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto para obtenção do grau de mestre em Medicina

Dentária

Orientadora: Professora Doutora Otília Adelina Pereira Lopes

Professora Auxiliar convidada

Coorientadora: Professora Doutora Marta dos Santos Resende

Professora Auxiliar

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II

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III

Agradecimentos

À minha mãe por todo o amor e dedicação, por nunca ter desistido e por me

ter acompanho nesta luta todos os dias

À minha irmã Catarina pela amizade, pela fé em mim e pelo carinho todos

estes anos

Ao Ricardo pela presença constante, pelo apoio e pela paciência

À minha binómia Mónica pela amizade, pela troca olhares reconfortante do

outro lado da cadeira do paciente e pela motivação constante

À Sónia, à Ana Isabel e à Ana Rita pela amizade e por tentarem todos os

dias tornar-me numa pessoa menos pessimista

Page 5: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

IV

Agradecimentos

À excelentíssima Professora Doutora Otília Adelina Pereira Lopes por toda

a simpatia, afabilidade e disponibilidade, por todos os seus conselhos, por

todas as suas sugestões e por apoiar este meu tema com abertura

entusiasmo. Foi um privilégio ser orientada por si.

À excelentíssima Professora Doutora Marta dos Santos Resende por ter

aceite apoiar este projeto, por todas as suas recomendações e pela sua

rápida resposta, sempre disponível.

Page 6: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

V

Page 7: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

VI

Haverá relação direta entre dietas mais restritas e a nossa saúde oral?

Page 8: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

VII

Page 9: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

VIII

Resumo

A saúde oral depende da interação complexa de fatores intrínsecos e

extrínsecos ao indivíduo. A dieta é um dos fatores que contribui de forma

fundamental para a saúde oral, pois uma alimentação equilibrada é crucial

para saúde dos tecidos periodontais, do esmalte, da dentina e das bases

ósseas.(1, 2) Uma alimentação deficiente em nutrientes e vitaminas pode

levar ao aparecimento de cárie dentária, periodontite, lesões da mucosa,

infeções ou ainda doenças sistémicas crónicas. (3-5)

Um indivíduo vegetariano segue um regime alimentar isento de carne,

peixe, lacticínios e ovo, mas existem algumas variantes a este regime

podendo ir do lacto-ovo-vegetariano até aos vegans. (6)

Face à adesão crescente a este tipo de regime alimentar, e sendo a dieta

um dos fatores essenciais para uma boa saúde oral, é de todo o interesse

estudar as manifestações na saúde oral daquele regime. É objetivo deste

trabalho elaborar uma revisão da literatura científica de forma a reconhecer

nos tecidos moles e duros da cavidade oral, e glândulas anexas, os efeitos

deste regime alimentar. Desta forma, através da pesquisa realizada foram

observadas alterações significativas, por exemplo, na densidade óssea e no

risco de fratura óssea, tal como, na suscetibilidade ao aparecimento de cárie

e erosão dentária.

Page 10: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

IX

Abstract Oral health depends on the complex interaction of intrinsic and

extrinsic factors to the individual. Diet is one of the factors that contributes

fundamentally to oral health, as a balanced diet is crucial for the health of

periodontal tissues, enamel, dentin and bone health.(1, 2) A diet deficient in

nutrients and vitamins can lead to the appearance of dental caries,

periodontitis, mucosal lesions, infections or chronic systemic diseases.(3-5)

A vegetarian individual follows a diet that is free of meat, fish, dairy

products and eggs but there are some variants to this regime, ranging from

lacto-ovo-vegetarian to vegans.(6)

In view of the growing adherence to this type of diet, and since diet

is one of the essential factors for good oral health, it is of all interest to study

the manifestations in oral health of that regime. With this work I propose to

review the scientific literature in order to recognize the effects of this diet on

the soft and hard tissues of the oral cavity and attached glands. Thus, through

the research carried out, significant changes were observed, for example, in

bone density and in the risk of bone fracture, as well as in the susceptibility

to the appearance of caries and dental erosion.

Page 11: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

X

Índice

Introdução 1

Materiais e métodos 3

Desenvolvimento 4

Alterações na densidade óssea 4

Alterações da microbiota salivar 6

Alterações do esmalte e da dentina 7

Alterações periodontais 9

Patologias orais 10

Alterações no desenvolvimento dentário 13

Avaliação do impacto do chá verde sobre a saúde oral 15

Avaliação do impacto de produtos vegan sobre a saúde oral 16

Conclusão 20

Perspetivas de trabalhos futuros 21

Índice de figuras 22

Referências Bibliográficas 23

Anexos 26

Page 12: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

XI

Page 13: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

1

Introdução

Nos dias que correm a preocupação do indivíduo com a sua saúde, bem-

estar e a sua aparência é cada vez maior. De igual modo, a preocupação com

a saúde oral e a estética dentária cresceu em igual percentagem, havendo

maior procura do dentista pela população e maior cuidado com a higiene

oral. Consequentemente, temos um número crescente de indivíduos a

aderirem a “estilos de vida” mais saudáveis. Surgindo, quase diariamente,

hábitos alternativos mais saudáveis para o indivíduo que, ao mesmo tempo,

tentam respeitar mais o nosso planeta e assegurar a sua sustentabilidade.

Historicamente, as dietas vegetarianas - o nosso “objecto” neste trabalho -

não são novas, existindo em várias culturas, designadamente nas asiáticas,

indianas, etc, que sempre seguiram estes regimes utilizando aquilo que a

natureza lhes oferecia, ao ritmo normal do ciclo de vida do nosso

ecossistema. (6, 7)

Um indivíduo vegetariano segue um regime alimentar à base de

alimentos com origem vegetal, mas existem algumas variantes a este regime,

como por exemplo Ovolactovegetarianismo (de consumo de produtos de

origem vegetal, ovos, lacticínios e seus derivados, excluindo apenas a

carne); Lactovegetarianismo (consumo de produtos de origem vegetal,

lacticínios e seus derivados, excluindo a carne e os ovos; e regime frequente

na população indiana); Ovovegetarianismo (consumo de produtos de origem

vegetal e ovos, excluindo a carne e os lacticínios); Vegetarianismo estrito

(exclui todos os tipos de alimentos com origem animal) e o Vegetarianismo

semi-estrito (exclui quase todos os tipos de alimentos com origem animal)

(6).

Existe também o veganismo que é frequentemente confundido com o

vegetarianismo, pois o que distingue estes dois regimes é o facto de os

Page 14: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

2

vegans além de não consumirem alimentos de origem animal, também não

utilizarem qualquer produto que tenha origem animal. (8)

A saúde oral depende da interação complexa de fatores intrínsecos e

extrínsecos ao indivíduo. A dieta é um dos fatores que contribui de forma

fundamental para a saúde oral, pois uma alimentação equilibrada é crucial

para saúde dos tecidos periodontais, do esmalte, da dentina e das bases

ósseas.(1, 2) Uma alimentação deficiente em nutrientes e vitaminas pode

levar ao aparecimento de cárie dentária, periodontite, lesões da mucosa,

infeções ou ainda doenças sistémicas crónicas. (3-5)

Face à adesão crescente a este tipo de regime alimentar, e sendo a dieta

um dos fatores essenciais para uma boa saúde oral, é de todo o interesse

estudar as suas manifestações na saúde oral. Por outro lado, abundam as

entrevistas e discussões sobre as dietas vegan e vegetariana, até mesmo nos

jornais mais prestigiados, mas nunca é encarada esta abordagem. Por isso,

importa referir que o interesse por este tema foi motivado pela falta de

informação e investigação compreensiva e fidedigna que elucide o seu real

impacto na sociedade. Da mesma forma, frequentes informações

contraditórias nas redes sociais e outras formas de média contribuíram

igualmente na motivação para a realização deste trabalho, como uma

temática ainda pouco estudada na área da medicina dentária.

Com os resultados deste trabalho pretende-se acrescentar

conhecimento e sensibilizar o médico dentista e, quem sabe, a população em

geral, para cuidados específicos que possam ser necessários nestes pacientes.

Page 15: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

3

Materiais e métodos Realizou-se uma pesquisa bibliográfica nas bases de dados

Pubmedâ, Google académicoâ e Cochrane Lybraryâ usando a seguinte

equação boleana: (vegan diet OR vegetarian diet OR nutritional deficiencies

OR Nutrition) And (oral health OR oral cavity OR dental health OR

periodontology OR saliva OR dentistry OR oral medicine OR oral

pathology).

Foram incluídos todos os tipos de estudos, artigos e teses que pela

leitura do título, resumo e texto integral apresentassem informações

relevantes sobre os efeitos da dieta vegetariana ou vegan na saúde,

Foram excluídos artigos e teses sem acesso a texto integral e com

idiomas diferentes de inglês, português ou espanhol.

Page 16: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

4

Desenvolvimento

Na estruturação desta seção optou-se por criar subsecções colocando

algumas questões que surgem na prática clínica de um médico dentista e

responder às mesmas com a informação obtida na literatura científica

selecionada da pesquisa bibliográfica efetuada anteriormente. Sempre que

possível complementou-se essa informação com alguns conselhos de aspetos

a ter em conta ou procedimentos a efetuar pelo médico dentista aquando da

elaboração de um diagnóstico e plano de tratamento de um paciente com este

tipo de dieta.

Alterações na densidade óssea Há realmente diminuição de densidade óssea nos vegetarianos e vegans?

Muitos defendiam que os indivíduos vegetarianos ou vegan tinham

menor densidade óssea, maior risco de osteoporose e de fraturas ósseas(9)

devido a uma dieta deficiente em vitamina D que levava a uma maior

tendência para perda óssea, doença periodontal e maior incidência de cárie

(quando na infância e no período de desenvolvimento dentário se regista

deficiência de vitamina D) (10, 11). Como sabemos a principal fonte de

vitamina D é a exposição solar, cerca de 95%, no entanto os restantes 5%

vem da ingestão de alimentos como a carne, peixe (sardinha, salmão e

marisco), leite, fígado, ovos e queijos. Alimentos estes que não são

contemplados na maioria das dietas vegetarianas e principalmente nas dietas

vegans, tornando-os assim mais sujeitos a problemas ósseos. Segundo os

resultados de uma revisão sistemática realizada em 2019 as dietas

vegetarianas e vegan estavam associadas a uma baixa densidade óssea

quando comparadas com as dietas omnívoras e os indivíduos vegans têm

maior risco de fraturas ósseas do que os vegetarianos. Nesta revisão

Page 17: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

5

sistemática recomenda-se, ainda, a toma de suplementos e a ingestão de

alimentos mais ricos em cálcio e vitamina D de forma a evitar estes efeitos.

(12)

No entanto, alguns estudos recentes(1, 9) parecem contradizer alguns

destes factos. Nesses estudos observou-se que apesar dos indivíduos

vegetarianos terem um baixo consumo de cálcio, potássio, fosforo, zinco,

cobre, vitamina B12, vitamina K e vitamina D (nutrientes essenciais para a

saúde óssea) o risco de osteoporose, de fraturas ósseas e os níveis de

densidade óssea não eram significativamente diferentes dos indivíduos

omnívoros. Aparentemente, os défices nutricionais são compensados pelo

baixo consumo de proteína de origem animal que, quando ingerida em

elevada quantidade, produz elevadas cargas ácidas endógenas que aumentam

a reabsorção óssea e pelo alto consumo de frutas e vegetais com capacidade

alcalinizadora, que diminuem a reabsorção óssea, obtendo-se assim um

equilíbrio.

Realizaram-se observações semelhantes nos indivíduos vegan,

verificando que, apesar do seu consumo de cálcio, potássio e de vitamina D,

ser ainda mais reduzido estes conseguiam contrariar os efeitos dos défices

nutricionais, talvez, pelo alto consumo de produtos de soja. Pois este

consumo traduzir-se-ia numa alta concentração de isoflavona de soja, que

poderá, possivelmente, inibir a reabsorção óssea. (13)

Este aspeto é importante na medicina dentária no que diz respeito, por

exemplo, à ponderação no momento de averiguar se estes indivíduos seriam

viáveis para a colocação de implantes ou se teriam um risco acrescido nas

extrações dentárias por terem menor densidade óssea ou osteoporose, o que

poderia causar complicações pós-operatórias, tais como o aparecimento de

sequestros ósseos ou a fratura das tabuas ósseas, condicionando um pouco o

método de atuação do medico dentista.

Page 18: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

6

Alterações da microbiota salivar

A microbiota salivar altera em função da dieta? Sabe-se, através de vários estudos realizados, que o tipo de dieta altera

a microbiota intestinal(14). Assim, questionamo-nos se o mesmo aconteceria

com a microbiota da saliva. Observa-se, através de vários testes realizados

em laboratórios, que há certos padrões de biomarcadores que permitem

identificar o tipo de dieta que o indivíduo segue mas que não alteram a

estabilidade da saliva(15). Como por exemplo, a presença elevada de ureia,

um biomarcador sugestivo de uma dieta omnívora, visto que deriva da

digestão da proteína com origem animal, tal como, a creatinina, creatina e a

histadina. É um facto de extrema importância para a medicina dentária, uma

vez que a sua hidrólise pelas bactérias orais gera uma placa bacteriana mais

alcalina, importante para a prevenção de cáries dentárias(15, 16). Outro

composto que se observa em níveis elevados é o formato ou formiato, que se

pensa ser resultante da atividade das bactérias orais que degradam compostos

nitrogenados em indivíduos com elevado consumo de carne(15).

No caso dos não-omnívoros o que os distingue é a elevada presença

de ácido capróico, prolina e de 1-propanol que resulta da fermentação

bacteriana da trionina e das isoleucinas que existem em alta concentração em

variados legumes(15, 17). A presença destes álcoois na saliva dos

vegetarianos e em particular nos vegans, é responsável por uma saliva mais

ácida nestes indivíduos, o que é desfavorável para a proteção do esmalte e

da dentina dos mesmos.

Outro ponto interessante é a existência de alguns estudos que apontam

o facto das dietas ricas em fibra minimizarem a atrofia da glândula salivar,

aumentando, assim, o fluxo salivar(18). No entanto, o mesmo não foi

observado num estudo que tinha como objetivo avaliar amostras de saliva

estimulada em lactovegetarianos. Os autores concluíram que o fluxo salivar

Page 19: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

7

e respetivo pH dos lactovegetarianos era mais baixo que o dos indivíduos

omnívoros. Ainda assim, observou-se que, ao contrário do que normalmente

acontece com os indivíduos omnívoros, os indivíduos lactovegetarianos não

diminuem mais o seu fluxo salivar e respetivo pH com o avançar da

idade.(19)

Alterações do esmalte e da dentina

Há maior prevalência de cáries e lesões erosivas nos vegetarianos e

vegans? A informação existente nesta área é escassa e a que existe é por vezes

contraditória. Sabe-se que os vegetarianos têm um pH da saliva mais ácido

resultante da ingestão em maior número de frutos cítricos, e outros tipos de

frutos e vinagres, o que potencia a erosão dentária. Estes indivíduos devem,

também, ser alertados para o potencial cariogénico e erosivo das frutas e

vinagres quando consumidas em elevada quantidade, o que é bastante

comum nos vegetarianos e vegans. Isto porque foi observado que os açúcares

produzidos pelas frutas, como a glucose ou a frutose, quando estão presentes

em elevadas quantidades, têm uma ação semelhante à da sacarose que, como

se sabe, promove a adesão de S.mutans à superfície dentária alterando,

assim, o biofilme de forma a promover o desenvolvimento de bactérias

cariogénicas como o lactobacillus ou a actinomyces, levando ao

aparecimento de um maior número de cáries e de áreas de maior desgaste

dentário.

Um estudo que comparava a condição oral de indivíduos vegetarianos e

não vegetarianos mostra que os indivíduos vegetarianos possuem no geral

maior nível de higiene que os não vegetarianos. No entanto, os vegetarianos

apresentavam, em média, um número significativamente maior de dentes

com erosão dentária e cáries extensas do que os não vegetarianos. O número

Page 20: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

8

de indivíduos afetados por erosão dentária, cáries radiculares e cáries

extensas foi, também, significativamente maior no grupo vegetariano

quando comparados com o do grupo não-vegetariano como ilustra a seguinte

tabela.(20)

Figura 1 - Parâmetros dentários nos indivíduos vegetarianos e não vegetarianos Fonte: Influence of fruit consumption and fluoride application on the prevalence of caries and erosion in vegetarians—a controlled clinical trial (sem autorização do autor)

Outro fator que poderá contribuir para explicar estes resultados é o

menor consumo de flúor, seja através do sal ou da pasta de dentes, por parte

dos vegetarianos e vegans. Ainda no mesmo estudo foi também realizada a

comparação entre vegetarianos que estavam a realizar aplicações tópicas de

flúor e vegetarianos que não estavam a efetuar essas aplicações, tendo-se

constatado que, efetivamente, os vegetarianos que eram submetidos a esta

profilaxia tinham menor índice de dentes cariados, restaurados ou

perdidos.(20)

No que diz respeito à erosão dentária é importante refletir que esta não

decorre apenas da ação dos ácidos presentes na dieta. A escovagem dos

dentes logo após a exposição aos ácidos promove igualmente a abrasão

dentária. Por exemplo, a ingestão de pelo menos duas vezes ao dia de frutos

Page 21: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

9

cítricos parece aumentar 37 vezes o risco de erosão dentária. Assim, são estes

os dois fatores responsáveis pela erosão dentária.(20) (21)

Estas são consequências muito importantes para o médico dentista e

às quais deve estar atento, de forma a fazer um controlo assíduo de lesões de

cáries, desmineralizações e zonas de possível erosão dentária.

Adicionalmente, o médico dentista, deverá incentivar a uma maior ingestão

de cálcio para contrariar a ação dos ácidos alimentares nos tecidos duros,

embora seja algo complicado nestes indivíduos, pelo que deverá recomendar

a utilização de uma pasta fluoretada ou, ainda, aplicações tópicas de flúor

periódicas.

Alterações periodontais

Há um aumento de incidência de doença periodontal nos vegetarianos e

vegans? Especula-se que haja maior incidência de casos de periodontite nos

indivíduos vegetarianos e vegans, conquanto, os estudos realizados são

escassos e muitas vezes inadequados. Um estudo clínico recente revelou uma

menor profundidade de sondagem nestes indivíduos assim como menor

hemorragia pós sondagem em relação aos indivíduos omnívoros não

havendo, ainda assim, diferença significativa nos valores de recessão

gengival, envolvimento da furca e perda de inserção do ligamento. Este

estudo aponta para que os principais motivos destes resultados se devem ao

facto de que, por um lado, os vegetarianos não consumirem carne e terem

também estilos de vida mais saudáveis, por outro, consumirem mais

alimentos antioxidantes (importantes para a redução de inflamação do tecido

periodontal), e destes indivíduos não serem, na maioria das vezes, fumadores

ou consumidores de álcool (dois fatores altamente predisponentes para a

inflamação ou alteração dos tecidos periodontais). Neste estudo observou-se

também um menor índice de placa bacteriana (fator primário para a

Page 22: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

10

inflamação do tecido periodontal) o que por sua vez, revela maior nível

higiene e, possivelmente, maior frequência de visitas ao médico dentista do

que os indivíduos não vegetarianos. (5)

No entanto, existem outros estudos que revelam que, contrariamente ao

descrito anteriormente, há um elevado risco de os indivíduos vegetarianos

estarem mais sujeitos à doença periodontal, dada a associação significativa

entre a deficiência de vitamina D e a presença de doença periodontal. Foi

observado que a vitamina D, quando ativada pelas células epiteliais orais,

tem um efeito indutor na produção de péptidos antimicrobianos, atuando

como um anti-inflamatório e imunomodelador importante para a redução da

doença periodontal. (22) Não obstante, foi publicada em 2017 uma revisão

sistemática que determinou não haver informação suficiente para determinar

a associação entre os níveis de vitamina D e a doença periodontal conclusiva,

sendo necessário efetuar estudos longitudinais com critérios mais rigorosos

do que os realizados até então. (23)

Patologias orais As carências nutricionais tornam os vegetarianos ou vegans mais sujeitos

a problemas do âmbito da medicina oral?

Uma das carências nutricionais mais preocupantes nos vegetarianos

ou vegans é a falta de vitamina B12 que é mais eficazmente obtida através

de bactérias, ovos e produtos de origem animal como a carne (24). Esta

vitamina é importante para a realização da eritropoiese e para o metabolismo

de aminoácidos ou ácidos nucleicos prevenindo, por exemplo, enfartes ou

acidentes vasculares cerebrais.(25) As melhores fontes de vitamina B12 são

o fígado, as ostras, os peixes, as carnes e a manteiga; no entanto, existem

também fontes alternativas para indivíduos que não consumam estes

produtos, tais como, a spirulina, as algas, a cevada ou os cogumelos. O

Page 23: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

11

problema é que estas fontes alternativas, além da vitamina B12 levam

também à produção de antagonistas a esta vitamina, não sendo possível

atingir níveis ótimos de vitamina B12.(26)

A falta de vitamina B12 está muito relacionada com presença de a

anemia perniciosa ou macrocitose no indivíduo. Muitas vezes os primeiros

sinais/sintomas clínicos destas doenças ocorrem na cavidade oral, na forma

de queilite angular, glossite, candidíase oral, eritema difuso ou generalizado,

síndrome de boca ardente, ageusia, línguas inflamadas e com lesões

maculares na zona dorsal e ventral marcadas pela atrofia epitelial e pela

redução da espessura epitelial, ou ainda a isquemia da mucosa. Desta forma,

o médico dentista tem um importante papel no diagnóstico precoce destas

doenças de forma a evitar o aparecimento de sequelas mais graves e,

também, na promoção do início do tratamento médico o mais cedo possível.

No entanto, tendo o paciente ou não estas doenças, a deficiência de vitamina

B12 pode levar ao aparecimento de neuropatias assimétricas afetando

principalmente os membros inferiores, a zona posterior e as colunas laterais

da coluna vertebral.(24, 27)

Registou-se um caso no Brasil de uma paciente vegetariana que seguia

um regime vegetariano já há dois anos, tendo surgido no hospital com

queixas de ageusia, lábios desidratados e ardência na boca. Após um exame

clínico intra-oral observou-se que a paciente apresentava glossite com atrofia

das papilas, parestesia de algumas zonas enervadas pelo nervo mandibular e

ainda múltiplos eritemas dolorosos na mucosa oral e na face dorsal e ventral

da língua. Aliado ao exame clínico foram feitas análises sanguíneas tendo-

se verificado deficiência de vitamina B12. Foram prescritos suplementos de

àcido fólico, cobalamina e hidroxicobalamina durante 30 dias, e ainda, a

ingestão de fígado ou bife diariamente. No que diz respeito à avaliação da

cavidade oral observou-se que ao fim de 14 dias a maior parte das queixas

tinham desaparecido. Esta é uma das consequências negativas deste regime

Page 24: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

12

quando seguido por muito tempo, uma vez que os níveis séricos do individuo

só começam a baixar em média ao fim de 2 a 5 anos da mudança de regime

alimentar, já que o organismo tem uma grande capacidade de

armazenamento de vitamina B12 ao longo do tempo.(27)

É também referido em alguns artigos que os baixos níveis plasmáticos

de vitamina B12 e folato estão relacionados com o aparecimento de lesões

pré-cancerígenas e com um possível aumento de incidência de cancro na

região da cabeça e pescoço. Ainda são necessárias mais investigações para

perceber a relação existente, mas pensa-se que um baixo nível de vitamina

B12 e folato pode levar a uma síntese, reparação e metilação de DNA

alterada que pode, concomitantemente, levar a uma hipometilação e à

ativação de certos oncogenes. Este é um aspeto importante para os médicos

dentistas da área da medicina oral, que devem alertar os pacientes para esta

possibilidade e, também, fazer um controlo periódico destes pacientes para

o despiste de possíveis lesões suspeitas. (28)

Outra vertente integrada no tema desta questão é a influência da dieta

no risco do aparecimento de tumores nas glândulas salivares, já que segundo

um estudo o consumo de vitaminas antioxidantes, particularmente, a

vitamina C e alimentos ricos em fibra como o feijão e o grão está associado

a esse risco, ainda que este seja reduzido.

É referido na literatura científica que a vitamina C pode ter um papel

importante na prevenção dos cancros orais e do trato respiratório, todavia

não é ainda claro o seu modo de atuação. Pensa-se que este facto esteja

relacionado com a sua capacidade de bloquear a produção de nitritos e, por

consequência, a formação de nitrosamina, que é um conhecido carcinogéneo,

muito comum no fumo do tabaco. Houve um estudo in-vitro que conseguiu

relacionar positivamente o alto consumo de vitamina C com a regressão

deste tipo de tumores. Esta ideia é reforçada pelos resultados de outros

estudos em que se verificou um efeito semelhante de importantes

Page 25: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

13

antioxidantes vitamínicos e também de alimentos ricos em fibra como os

vegetais, o feijão e o grão na proteção de cancros relacionados com o

consumo do tabaco. (29) Esta informação é relevante para os vegetarianos e

vegans, uma vez que habitualmente têm maior consumo de vitamina C e

alimentos ricos em fibra na sua dieta, podendo hipoteticamente deduzir-se

que talvez tenham um menor risco para o aparecimento de tumores nas

glândulas salivares.

Estarão os vegetarianos e vegans mais sujeitos a alterações fúngicas? Existe ainda um outro aspeto a ter em consideração nesta subseção

relacionado com as possíveis alterações salivares em indivíduos

vegetarianos ou vegan, já que alguns estudos sugerem uma maior

prevalência de infeções por Candida mas curiosamente não pela espécie

Candida albicans, mas sim por outras formas de Candida, normalmente

menos comuns, como a C.tropicalis, C.galbratta, C.krusei(30). Pensa-se que

o principal fator predisponente para esta alteração possa ser a dieta

vegetariana por provocar diminuição do fluxo salivar, a reduzida capacidade

de tampão da saliva e a diminuição do pH (19). É também referido,

concomitantemente, que a alteração de alimentação para alimentos com

texturas e consistência mais dura possa levar a uma hiperqueratinização que,

tal como nos fumadores, providencia às espécies de Candida uma maior

resistência no epitélio(30).

Alterações no desenvolvimento dentário

Será uma dieta vegetariana ou vegan saudável para o desenvolvimento dentário nas crianças?

Durante o crescimento as crianças têm necessidade de um aporte

energético e vitamínico muito superior. Assim, os bebés, crianças e

Page 26: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

14

adolescentes em regimes vegetarianos ou vegan podem ter maior

suscetibilidade a défices nutricionais.

Nestas idades a alimentação destas crianças é abundante de forma a

saciar, mas com baixo teor energético e vitamínico e contendo por vezes

inibidores à absorção de alguns nutrientes, como por exemplo, o ferro e o

zinco. Nas crianças o ferro é fundamental no processo de crescimento e

desenvolvimento cerebral, e apenas uma ligeira deficiência pode ter efeitos

adversos na função cognitiva, criar problemas comportamentais ou até

anemias. No caso do zinco, a descida dos níveis ótimos está associada a

anorexias, baixo crescimento e capacidades imunitárias reduzidas.

O cálcio tem um papel fulcral no desenvolvimento e crescimento

ósseo bem como no desenvolvimento dos tecidos duros como o esmalte. Para

que seja possível manter os níveis de cálcio é necessário que haja

concentrações ótimas de vitamina D, uma vez que esta é responsável pelo

metabolismo do cálcio no organismo. É uma vitamina importante na

calcificação dos tecidos duros dentários, podendo as crianças com

deficiência em vitamina D desenvolver amelogénese assintomática ou

dentinogénese imperfeita, uma condição difícil de tratar e que preconiza um

tratamento e acompanhamento constante por parte do medico dentista. Tem

também um papel importante na resposta imune dos tecidos periodontais e

ainda na manutenção da saúde óssea, uma vez que a diminuição na sua

concentração pode permitir uma maior atividade osteoclástica.

A falta de vitamina B12 que é uma grande preocupação nos adultos

vegetarianos, também se revela preocupante nas crianças, já que a

diminuição da sua concentração pode levar a problemas motores, cognitivos

e a atrasos no seu desenvolvimento. No que diz respeito à cavidade oral pode,

como referido anteriormente, levar ao aparecimento de glossites, isquemia

das mucosas, atrofia das papilas da língua, disfagias, parestesias e síndrome

de boca ardente. (31-33)

Page 27: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

15

No entanto, a informação nesta área é muito escassa e não são

observadas, à luz da literatura atualmente disponível, diferenças

significativas no que diz respeito à prevalência de erosão dentária e cáries

dentárias quando comparadas com crianças de regimes omnívoros e também

não é possível, ainda, retirar conclusões definitivas acerca dos efeitos

positivos e negativos destas carências nutricionais na saúde oral das

crianças.(31, 34) Somente foi encontrado um estudo no qual se observou que

as crianças em regime vegan tinham um crescimento ligeiramente inferior,

em peso e altura, apesar da toma de suplementos e da alimentação de

substituição.

Avaliação do impacto do chá verde sobre a saúde oral

O consumo elevado de chá verde tem benefícios na saúde oral?

O chá verde é muito consumido pelos vegetarianos e vegans no dia a

dia, o que parece ser altamente benéfico, uma vez que é uma fonte de

polifenol, um importante antioxidante. Além deste antioxidante, o chá verde

tem na sua composição numerosas vitaminas, proteínas e minerais

importantes para a manutenção da saúde oral(35).

O chá verde tem ainda um papel importante na neutralização de radicais

livres, resultantes do stress oxidativo e do efeito pró-inflamatório do fumo

do tabaco, prejudiciais para os tecidos periodontais. Além disso, as

catequinas (EGCG – Epigallocatechin gallate, ECG – Epigallocatechin,

GCG – Gallocatechin galla), um tipo de polifenóis, libertadas pelo chá

verde, impedem a colonização e desenvolvimento de microorganismos como

P.gingivalis, P.intermedia, e P.nigrescen(36), que aderem à mucosa oral e

que libertam de metabolitos tóxicos que a destroem(35).

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16

O chá verde pode ser igualmente importante para o esmalte e dentina

pois nas suas folhas existe flúor e outros polifenóis que têm um efeito

importante na redução da prevalência de cárie, inibição da atividade

bacteriana e remineralização dos tecidos duros(36, 37). As catequinas EGC

e EGCG, já referidas anteriormente, parecem impedir a libertação da enzima

salivar, a amílase, impedindo assim a sua ação na superfície dentária e a

adesão de Streptococcus muttans, o microorganismo mais prevalente nas

cáries dentárias (35), prevenindo a desmineralização dos tecidos duros(38,

39).

A halitose ocorre pela atividade proteolítica das bactérias anaeróbias

Gram negativas que degradam o substrato e libertam gazes responsáveis pela

halitose, como o sulfureto de hidrogénio, sulfureto de dimetilo e metil-

mercaptano(40). As catequinas presentes no chá verde têm um forte poder

antimicrobiano que parece suprimir a ação de bactérias anaeróbias e elimina

a produção de compostos sulfúricos voláteis(35).

Avaliação do impacto de produtos vegan sobre a saúde oral

Qual a influência dos produtos vegan na higiene oral?

Como já anteriormente foi referido a prevalência de erosão dentária

nos vegetarianos parece ser maior quando comparado com os indivíduos

omnívoros.(41) Como tal há algumas tentativas de prevenir e tratar este

problema respeitando o mesmo princípio dos produtos de origem orgânica.

Um dos exemplos é a utilização de colutórios produzidos a partir de óleos

vegetais como o óleo de girassol, azeite, óleo de palma, óleo de coco e óleo

de cártamo. Foi efetuado um estudo para avaliar a eficácia desses óleos e

observou-se uma diferença estatisticamente significativa entre o grupo

experimental e o grupo de controlo, em que se utilizava um colutório

considerado normal. Verificou-se que o óleo de palma demonstrava uma

Page 29: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

17

menor erosão da superfície dentária e desmineralização face ao controlo. No

entanto, o mesmo não se observou nas formas ditas “puras” de óleo de

girassol, coco, azeite, cártamo ou numa emulsão com apenas 5% de óleo de

palma. Isto talvez seja devido ao facto de o óleo de palma conter tocotriénois

na sua composição, nutriente da família da vitamina E que permite a

penetração dos óleos nos tecidos duros e que parece ter um efeito

antioxidante contra reações oxidativas.(42)

Assim, entende-se que o único óleo de origem vegetal que terá um

efeito positivo no tratamento da desmineralização inicial e erosão dentária é

o óleo de palma puro. (43)

Surgiu a possibilidade de utilizar uma pasta de dentes reforçada com

vitamina B12 nos vegans como alternativa aos suplementos alimentares.

Para avaliar a eficácia desta foi realizado um estudo durante 12 semanas em

que os participantes tinham de escovar os dentes duas vezes ao dia, durante

dois minutos, com esta pasta. Para avaliar as concentrações foram realizadas

duas colheitas de sangue - uma no início das 12 semanas e uma no fim - das

quais foi retirado o plasma sanguíneo. Este foi analisado para determinar

concentração de vitamina B12 e do respetivo marcador holotranscobalamina.

No final do estudo observou-se que os indivíduos vegans que utilizavam esta

pasta tinham maior concentração de vitamina B12, o que permitiu concluir

que este método é um bom meio alternativo de suplementação desta vitamina

nos indivíduos vegetarianos.(44)

Muitos indivíduos vegetarianos defendem a não utilização de pasta de

dentes fluoretada, porque na composição de muitas destas pastas de dentes

disponíveis no mercado há gordura de carne de boi. Assim, muitos optam

por não utilizar todas as pastas que contenham flúor, tendo assim um

consumo de flúor abaixo do necessário para proteger as estruturas dentárias.

Deste modo, é muito importante alertar para a existência de pastas

Page 30: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

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fluoretadas feitas com gorduras de origem não animal como, por exemplo, o

óleo de coco, ou glicerinas produzidas à base de milho (geneticamente

modificado) ou à base de soja. (20)

Como alternativa aos colutórios usuais foi testada a utilização de

colutórios com extrato de folha de bambu e soluções de clorofilina com sódio

e cobre para combater o mau hálito e para avaliar a sua capacidade

antimicrobiana nas bactérias anaeróbias usualmente presentes na flora oral,

como a Porphyromonas gingivalis, Prevotella intermidai, Prevotella

nigrescence, Fusobacterium nucleatum. Os resultados obtidos foram

positivos pois demonstraram que em elevadas concentrações estes dois tipos

de colutório (extrato de folha de bambu - 0,16% e solução de clorofilina com

sódio e cobre - 0,25 %) têm poder inibitório sobre a proliferação de bactérias

na cavidade oral. Este pode ser, assim, um meio de higiene oral alternativo

mais ecológico e vegetariano/vegan, uma vez que são soluções de

componentes extraídos de plantas.(45)

Relativamente às escovas dentárias existem também várias opções

mais ecológicas e vegan-friendly do que as escovas normais de plástico.

Existem agora escovas de plástico 100% reciclado e cerdas de nylon, escovas

de cana de açúcar e óleo de mamoa e as escovas de bambu também na sua

maioria com cerdas de nylon, que apesar de ser referido como um

antibacteriano natural, tem uma elevada capacidade de absorção de

humidade. A maior parte destas escovas designadas alternativas utilizam

cerdas de nylon uma vez que as cerdas naturais parecem ser demasiado duras

e abrasivas. No entanto, há alguma preocupação com as cerdas de nylon, em

muitas marcas as cerdas são de nylon-6, que não é biodegradável podendo

ser um motivo de desagrado em indivíduos vegan(46). São também

necessários mais estudos que sobre a eficácia e segurança destas escovas no

Page 31: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

19

que diz respeito à desorganização do biofilme, à microbiologia e ao efeito na

superfície dentária, de forma a definir se a sua utilização é recomendável.

Além de escovas existem também em algumas marcas escovilhões,

palitos e fios dentários de plástico 100% reciclado.

Page 32: Alimentação vegetariana ou vegan: Manifestações na saúde

20

Conclusão

Após a análise detalhada da literatura desta temática foi possível

responder a algumas das questões que colocamos atrás:

• As dietas vegetarianas e vegan são associadas a uma baixa densidade

óssea quando comparadas com as dietas omnívoras e os indivíduos

vegans têm maior risco de fraturas ósseas.

• Não há uma alteração significativa da microbiota da saliva causada

pela dieta vegetariana ou omnívora.

• Os indivíduos vegetarianos mostraram um número significativamente

maior de dentes cariados e de superfícies cariadas do que os não

vegetarianos. Ainda se observa também que os vegetarianos

apresentam um maior risco para o aparecimento de erosão dentária.

• O chá verde, consumido largamente pelos indivíduos aderentes a estas

dietas, é um importante antioxidante que ajuda na proteção e regressão

de vários problemas da saúde oral, como a cárie dentária, a halitose e

a inflamação dos tecidos periodontais.

• Existem múltiplos meios alternativos de higiene oral respeitadores da

dieta vegan e com benefícios para as necessidades específicas destes

indivíduos.

Deste modo, este trabalho esclarece algumas dúvidas, fornece algumas

formas de atuação nestes pacientes e também informações importantes para

o raciocínio do medico dentista aquando da elaboração de um diagnóstico

ou possível plano de tratamento. Também esperamos que a realização desta

monografia abra portas a futuras reflexões mais profundas nesta área.

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21

Perspetivas de trabalhos futuros

Não obstante das informações acima referidas no desenvolvimento há

perguntas às quais neste momento não temos a possibilidade de responder,

tais como, a possibilidade de os vegetarianos apresentarem ou não maior

suscetibilidade ao aparecimento da doença periodontal, ao aparecimento das

alterações fúngicas, às patologias do ramo da medicina oral e aos efeitos na

saúde oral das crianças. Será necessária uma investigação mais rigorosa,

preferencialmente estudos longitudinais ou de maior grau de evidência

cientifica, com observação clínica destes parâmetros que permitam validar o

exposto e estabelecer formas de recomendação para elaborar guidelines para

o medico dentista relativamente aos procedimentos a ter face a um paciente

com este tipo de dieta.

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22

Índice de figuras Figura 1 - Parâmetros dentários nos indivíduos vegetarianos e não

vegetarianos Fonte: Influence of fruit consumption and fluoride application on the prevalence of caries and erosion in vegetarians—a controlled clinical trial (sem autorização do autor) .............................. 8

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Anexos

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