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AVM FACULDADE INTEGRADA LICENCIATURA EM PEDAGOGIA VIOLÊNCIA E SUA REPERCUSSÃO NO AMBIENTE ESCOLAR MARIA HELENA BARD DE CARVALHO ORIENTADORA PROFESSORA ANDRÉA VILLELA NITERÓI 2010 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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AVM

FACULDADE INTEGRADA

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

VIOLÊNCIA E SUA REPERCUSSÃO

NO AMBIENTE ESCOLAR

MARIA HELENA BARD DE CARVALHO

ORIENTADORA

PROFESSORA ANDRÉA VILLELA

NITERÓI

2010

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AVM

FACULDADE INTEGRADA

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

VIOLÊNCIA E SUA REPERCUSSÃO

NO AMBIENTE ESCOLAR

Apresentação de monografia ao AVM FACULDADE

INTEGRADA como requisito parcial para obtenção

do grau de Licenciatura em Pedagogia.

Por: Maria Helena Bard de Carvalho

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AVM

AGRADECIMENTO

Agradeço a DEUS por me permitir a

realização deste sonho, pela coragem e força que Ele me

tem dado no decorrer dos anos de estudo;

Aos meus filhos, Graziella, Isabella e Johny

por se constituírem inexplicavelmente

diferentes como pessoas, e incrivelmente

unidos na realização dos meus sonhos.

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DEDICATÓRIA

Eu dedico esta monografia a

meus filhos que acreditaram

no meu potencial, me

incentivaram, me

estimularam torcendo pelo

meu sucesso e minha

felicidade.

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RESUMO

O presente trabalho, cujo tema é Violência e sua repercussão no ambiente

escolar vem, de forma clara e objetiva relacionar a realidade de violência

existente dentro e fora da escola. São dois fatores que se interligam: a

violência praticada pela escola e a violência externa à escola; eles são causa e

conseqüência simultaneamente.

Para o desenvolvimento do trabalho, foi feita uma leitura do atual quadro de

violência na percepção de alguns autores, particularmente nas obras de Paro

(2001), Candau (2000) e Alves (1997).

Na primeira parte, chamamos a atenção para as várias abordagens sobre o

conceito de violência e suas complexidades. Em seguida, apresentamos o

desrespeito à dignidade humana, o não cumprimento da Declaração Universal

dos Direitos Humanos, visível em nosso meio, tendo como chave de leitura o

binômio: violência e cidadania.

Para interligar essa realidade de violência externa com a realidade de violência

praticada pela escola, apresentamos a evasão escolar: o impacto da violência

na escola e da escola, a violência educacional provocada pela própria escola e

as conseqüências da violência externa à escola, sendo ela também

responsável pela evasão.

Com essa análise, o trabalho visa defender uma concepção de escola que não

seja geradora desse e de nenhum tipo de violência, propiciadora de uma

educação que possa contribuir para a inclusão social a partir da oferta de

conhecimentos significativos para os jovens que precisam integrar-se na

sociedade como cidadãos aptos a desenvolverem papéis úteis a ela.

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METODOLOGIA

A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica em livro, jornais,

revistas e textos científicos de autores reconhecidos neste campo de

conhecimento.

Na análise do estudo, confrontamos os autores, suas diferentes

informações e opiniões à luz das diferentes abordagens científicas sobre a

educação.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................ 9

CAPÍTULO I - A VIOLÊNCIA .................................................................. 12

CAPÍTULO II - A VIOLÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLA .......................... 18

CAPÍTULO III - VIOLÊNCIA / EFEITOS ................................................. 23

CONCLUSÃO ......................................................................................... 29

BIBLIOGRAFIA ....................................................................................... 32

ÍNDICE .................................................................................................... 33

FOLHA DE AVALIAÇÃO ....................................................................... 34

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INTRODUÇÃO

Este trabalho foi realizado devido à exigência da disciplina denominada

"Trabalho de Conclusão de Curso” orientada pela Professora Andréa Villela.

Esta disciplina exige que nós, educandos, escolhamos e desenvolvamos um

tema que tenha relevância para a realidade educacional atual, no Brasil.

Nosso tema foi escolhido a partir da percepção crítica do atual quadro de

violência existente na sociedade, expresso principalmente no cotidiano escolar.

Tendo em vista a realidade educacional, o trabalho visa abordar a violência

existente dentro e fora da escola. O impacto da violência e sua repercussão no

ambiente escolar, além de ser motivo de investigação e estudos, é uma

constante preocupação educacional em âmbito nacional.

Na primeira parte do nosso trabalho, procuramos definir o conceito de

violência, a violência como parte da vida urbana, a relação entre cidadania e

violência. Em seguida apresentamos os impactos da violência na escola e sua

repercussão na vida do aluno, interligando violência e fracasso escolar,

demonstrando a violência como causadora desse fracasso e ao mesmo tempo

o fracasso escolar como um ato de violência da escola.

Para uma melhor compreensão e enriquecimento do trabalho

monográfico, vamos nos deter, de modo particular, além de outros autores, nas

obras de Paro (2001), Candau (2000) e Alves (apud KUPSTAS, 1997) que tão

bem apresentam a relação da violência, em suas diversas facetas, com a

realidade escolar.

Ressaltamos ainda que a educação, segundo estabelece a Constituição

Brasileira (1988, arts. 205 e 227), é um direito de todo cidadão brasileiro,

independente de classe ou nível social. Este direito deve ser assegurado

através de ações desenvolvidas pelo Estado e pela família, com a colaboração

da sociedade.

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No entanto, ao nos depararmos com a realidade educacional,

percebemos que nem sempre esse direito é exercido pela sociedade. Vários

fatores, inclusive a falta de políticas públicas voltadas para as necessidades da

classe com baixa renda ou miserável, têm contribuído para esta realidade,

gerando a violência em suas diversas facetas: poucas vagas oferecidas pela

escola, proposta pedagógica inadequada, desemprego, serviço explorado,

fome, falta de moradia, exploração do trabalho infantil, abuso sexual de

menores, homicídios, assaltos, depredação de todo tipo, espancamento, são

ações de violência que têm influenciado de forma significativa a vida escolar.

Em conseqüência de tais ações, a violência tem se manifestado na

escola de forma cada vez mais explícita. No processo ensino-aprendizagem,

observa-se uma série de problemas, tais como: reprovação, abandono escolar,

baixo desempenho nos estudos, superlotação das salas de aula.

Abordando o tema violência e sua repercussão no ambiente escolar,

buscamos, primeiramente, mostrar que a violência não se restringe a atos

fisicamente cruéis, mas remetem também a uma série de atitudes e políticas

que determinam a vida da população, subjugando-a.

Para confirmar o ponto de vista de que as políticas e as atitudes têm

condicionado a vida da população, basta abrir os jornais ou observarmos o

noticiário na televisão. Logo nos deparamos com as manchetes: invasão de

favelas, conflito entre policiais e bandidos, fechamento de escolas devido à

violência, evasão escolar, fome, famílias desabrigadas etc. A ameaça

constante de violência pode ser presenciada nos mais diversos lugares, nas

ruas, no centro da cidade, nas favelas, nas escolas, nas famílias.

Quanto às escolas, a violência tem-se dado de forma inquietante. Em

muitas delas, o cotidiano, a organização, o currículo, atitudes e ações

escolares são estabelecidas por regulamentos opressivos. A avaliação

inadequada à realidade do aluno é seguramente um dos mecanismos mais

opressores e violentos praticado no sistema educacional. Entendemos como

avaliação inadequada aquela que tem como objetivo classificar o aluno de

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acordo com o nível de aprendizagem pré-determinado pela concepção de

educação adotada pela escola ou pelo professor, e não uma avaliação que

busca diagnosticar o que o aluno ainda não aprendeu e as falhas no processo

ensino-aprendizagem. “A avaliação, por sua vez, não é fenômeno exclusivo do

meio educacional, mas condição mesmo da realização da vida humana”

(PARO, 2001 p.33).

De todas as formas de violência constatada na escola, a que revela um

elevado índice é a considerada cruenta: homicídios, ameaças, troca de tiro. Em

conseqüência disso muitos alunos abandonam a escola. Professores, sem

preparo adequado para lidar com tal situação, chegam até mesmo a pedir

transferência da escola, com medo das ameaças e com sentimento de

impotência e fracasso em relação às suas funções.

A problemática da violência é uma questão ampla, e se relaciona com

outras questões emergentes no meio social. Aqui limitaremo-nos a uma

pesquisa bibliográfica da realidade de violência em que vivemos atualmente,

fazendo uma relação com a sua repercussão no ambiente escolar, no sentido

de demonstrar que esta é gerada pela violência externa e interna à escola.

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CAPÍTULO I

A VIOLÊNCIA

1.1- Conceito

Quando se fala em violência, torna-se historicamente importante a sua

conceituação e compreensão, no contexto sócio-político e cultural, em que

estamos inseridos.

Dentro desta perspectiva, Alves apud Kupstas (1997) ao se reportar à história

dos povos e aos costumes culturais de cada época, mostra que o conceito de

violência tem-se modificado devido os diferentes contextos sociais,

principalmente, com as transformações provocadas pela industrialização e

metropolização. Neste sentido, afirma ainda que aquilo que é violento para um

povo, pode não ser para outro ou, ainda, o que se apresenta como violento em

uma determinada época, país, cultura, pode não ser em outro país ou época.

Em face deste conceito, assim diz o autor:

“Consideramos violento qualquer ato que

consciente ou inconsciente ignore, impeça ou atente

contra os direitos humanos e de cidadania; constranja

uma pessoa fazer o que não deseja ou o que não aceita,

dentro dos padrões sociais, seja por uma questão de

sobrevivência, seja por tender aos fortes apelos sociais,

como o consumo “(pág. 65).

De outro lado, para Candau (2000, p. 139-140), não é fácil definir o

conceito de violência, pois em geral este oscila entre dois extremos, sendo um

referente aos comportamentos violentos, à criminalidade ou agressão física de

maior ou menor gravidade, e o outro à ampliação deste conceito, englobando

toda manifestação de agressividade, conflito ou indisciplina.

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Na perspectiva da professora de filosofia da Universidade de São Paulo,

Marilena Chauí, apud Candau (2000), em um artigo publicado na folha de São

Paulo sobre o tema da violência, a violência contrapõe à ética; assim diz a

autora:

Tudo o que age usando força para ir contra a natureza de

algum ser (é desnaturar); todo ato de força contra a

espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém (é

coagir, constranger, torturar, brutalizar); todo ato de

violação da natureza de alguém ou de alguma coisa

valorizada positivamente por uma sociedade (é violar);

todo ato de transgressão contra o que alguém ou uma

sociedade define como justo e como um direito.

Conseguintemente violência é um ato de brutalidade,

sevícia e abuso físico/ou psíquico contra alguém e

caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas

pela opressão e intimidação, pelo medo e pelo terror

(p.141)

Como percebemos, existem várias abordagens referentes ao conceito

de violência, podendo ser considerada sob vários aspectos, sejam eles sociais,

físicos e psíquicos. Com isso, não podemos, então, conceber a violência

somente em relação ao plano físico; ela abarca também o psíquico e o moral.

Entretanto, podemos afirmar que o que especifica a violência é o desrespeito, a

coisificação, a negação do outro, a violação dos direitos humanos, enfim, a

negação da cidadania.

1.2 - Violência e cidadania

Torna-se então relevante refletirmos a relação entre violência e os direitos à

cidadania, na medida em que se considera a primeira negando a segunda.

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Partindo da compreensão do conceito de cidadania como “conjunto de

direitos e deveres da pessoa e não uma concessão do estado, mas uma

conquista do povo” (BICUDO, 1994, p.5), vimos que na história brasileira, essa

conquista tem se retratado nas inúmeras lutas populares. Destacamos a

Constituição de 1988, que, após reivindicações e manifestações, foram

firmados: o código de defesa do consumidor, o estatuto da criança e do

adolescente e leis em defesa da mulher e do negro.

Nessa perspectiva, Bicudo (op cit, p.12), ao analisar a realidade social

brasileira, nos remete a um dado importante: o inchaço das cidades,

conseqüência do acentuado êxodo rural das últimas décadas, que constituiu

um fator importante para a análise da violência. Com isso, percebemos que as

mudanças sociais provocadas a partir da industrialização e urbanização

trouxeram conseqüências dramáticas, principalmente aos países pobres,

negando-lhes as condições mínimas para a sobrevivência da população.

Trata-se portanto, da negação dos direitos a uma vida digna, penalizada

de forma violenta pela fome, falta de moradia, de emprego e de escolas,

assolando um contingente significativo na sociedade. Presenciamos um total

desrespeito à vida e à liberdade, ou seja, a negação da Declaração dos

Direitos Humanos.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada

em 1948 pela a assembléia geral das Nações Unidas,

busca o reconhecimento da dignidade e dos direitos do

homem para que este não seja compelido à rebelião contra

a tirania e a opressão (...) ficando a cargo dos estados-

membros se comprometerem a promover, em cooperação

com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e

liberdades fundamentais do homem e a observância

desses direitos e liberdades (MICHALANY,1991.p.94).

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Para Alves importa observar que a estrutura social de privilégios e

exclusões em que vivemos, caracteriza-se não só por violar os direitos

humanos, mais ainda, por provocar atos violentos por parte dos injustiçados e

excluídos. Lembra ainda que a maior parte dos atos de violência é produto

dessa injustiça social, que, na verdade, é a maior de todas as violências, pois

constrange e estimula as pessoas a cometerem atos que seguramente não

cometeriam se houvesse outra opção. Os indivíduos foram primeiramente

violentados em seu direito à vida, e são tratadas como se fossem, na verdade

os violadores dos direitos humanos. Tornaram-se agressores, ao se

organizarem em grupos ou movimentos, em busca da vida com dignidade1,

como por exemplo, os negros nos quilombos durante a escravidão no Brasil.

É neste contexto que Bicudo (op. cit.) afirma:

“Essa população marginalizada em termos sócio-

econômico e sem acesso à justiça é duplamente atingida

pela violência. Ela sobrevive nas favelas ou nos cortiços

(...), imprensada entre a violência da polícia (os eternos

suspeitos, os desocupados, os marginais) e a violência

dos delinqüentes” (p.13).

Como podemos perceber, juntamente com a violência social, à violência

cruenta tem-se tornado preocupante. Basta olharmos as estatísticas, no que se

refere a mortes por armas de fogo, que logo perceberemos o aniquilamento da

população menos favorecida, mesmo sabendo que, atualmente, a violência

está generalizada.

Segundo algumas opiniões, a violência é vista como parte da vida

urbana. Nesta perspectiva, percebemos que a penetração da violência no

cotidiano da população está cada vez mais visível. A sociedade convive

constantemente com a violência: guerra armada, assaltos, seqüestros, fome,

falta de moradia, abuso sexual de menores, torturas e maus tratos nas prisões,

ônibus coletivo superlotado, baixo salário, racismo, violação da dignidade da

1 Ter moradia, saúde, educação, trabalho etc.

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mulher, analfabetismo, evasão escolar, escolas sem vagas, salas de aula

lotadas. Ou seja, o indivíduo é obrigado a conviver, quer através das vivências

pessoais ou através dos meios de comunicação, com a idéia de que sua

existência é constantemente ameaçada. Tal fato sustenta a observação de que

“a violência é tida, atualmente, como uma parte integrante da vida dos

habitantes dos grandes centros urbanos” (JAGUTTA,1983,p.5)

Partindo dessa constatação, Aranha apud KUPSTAS (op. cit. p.17),

afirma que a violência tem-se tornado natural na nossa sociedade. Acrescenta

ainda que alguns estudos vem sinalizando que a convivência com a violência

tem propiciado o enfraquecimento dos valores éticos e morais, uma vez que o

fato de convivermos com a violência nos torna indiferentes, acostumados.

A escola, diante desse contexto, deve repensar as suas metodologias e

práticas, visto que o desafio do espaço educativo é desenvolver a criatividade e

a reflexão sobre os principais problemas da sociedade, na busca de possibilitar

ao educando uma formação intelectual que venha contribuir para o seu

desenvolvimento como cidadão, fortalecendo seus valores éticos e morais.

1.3 - A violência no contexto social

Segundo Yves Michaud (1989), a violência introduz o desregramento e o

caos num mundo estável e regular. Mesmo dizendo que não há discurso nem

saber universal sobre a questão, Michaud propõe uma definição que é

apropriada para nossa sociedade e para outras do mesmo tipo: (...) Há

violência quando numa situação, um ou vários atores agem de maneira direta

ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma várias pessoas, seja

em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou

em suas participações simbólicas e culturais (1989,p.13)

Nessa definição, Michaud introduz a violência social, a violência entre as

pessoas de uma sociedade.. A violência é compreendida além da violência

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física (a violência em si ) e é vista como psicológica ou moral, como danos à

pessoa ou à sua extensão família, vizinhança, bens.

Viver em sociedade quer dizer conviver com outros indivíduos; as vezes,

indivíduos bem diferentes de nós: cor, sexo, etnia, idade, gostos, manias,

hábitos, desejos, pretensões, etc. Portanto, para que esta convivência possa

ser mantida, tornou-se necessário à criação de regras; regras sociais; que na

realidade são padrões de comportamento. Um comportamento será

socialmente aceitável, sempre que estiver de acordo com estas regras sociais.

Serão inaceitáveis aqueles comportamentos que não estiverem em desacordo

com as regras sociais. O comportamento socialmente inaceitável também é

chamado de desvio social. A figura da violência aparece exatamente neste

contexto de desacerto ou desequilíbrio da vida social.

Entender a questão da violência na perspectiva sociológica significa

afirmar que enquanto processo social ela é permanente, ela é um processo que

se constitui a partir das contradições sociais. Neste aspecto, explica-se a

violência pelo movimento da sociedade no seu desenvolvimento histórico e nas

suas contradições sociais, assim pode-se afirmar que a realidade social

constitui-se como a origem da violência e seus desdobramentos.

A violência contra o ser humano faz parte de uma trama antiga e

complexa: antiga, porque data de séculos as várias formas de violência

perpetradas pelo homem e no próprio homem; complexa por tratar-se de um

fenômeno intrincado, multifacetado. (OLIVEIRA; MARTINS, 2007, p.90).

É nas contradições sociais dentro da comunidade que a violência ganha

forma e destaque no espaço social, tem-se a forma da violência urbana como

principal aspecto a ser analisado. A violência urbana então merece atenção

especial, trata-se da forma mais emblemática de violência, pela sua brutalidade

e pela sua complexidade. “A violência se caracteriza quando os atores sociais

nela envolvidos assim a qualificam, ratificando assim um consenso social a

respeito. Deve, portanto, ser compreendida como fruto de um determinado

tempo” (GASPARIN, LOPES, 2003, p.297).

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A caracterização dos espaços sociais com maior incidência de violência

e das diferentes formas de ações agressivas revelam, que a conduta violenta

está disseminada por toda a sociedade. Estamos mais perto dela do que

gostaríamos e ela é mais extensiva do que imaginamos. Em função dessas

características da violência, sua desarticulação somente poderá ser alcançada

se sua busca for adotada como um dever social de todos.

CAPÍTULO II

A VIOLÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLA

2.1 – O cotidiano escolar e formas de violência.

A violência na escola pública é um tema de grande relevância, inserido no

processo educacional. Muito se tem abordado sobre esse assunto e muitas

pesquisas já foram direcionadas nesse campo. Partindo desses pressupostos,

é preciso analisar pessoas, idéias e atitudes que interferem na motivação e

aprendizagem.

Ficam claros os fatores que interferem na aprendizagem, relacionados ao

professor, aluno, à família, à escola e ao Estado. Muitas pesquisas apontam a

desmotivação dos professores diante de sua má remuneração, seu

desprestígio e por serem submetidos a jornadas de trabalho excessivas e

exaustivas, o que os incapacita de satisfazer suas necessidades básicas de

uma forma digna.

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Quanto ao aluno, têm-se levado em conta os seus problemas

socioeconômicos e os fatores psicológicos, decorrentes da situação de pobreza

dos pais, dos desajustes familiares e, sobretudo, da carência afetiva.

Na escola, observa-se a falta de participação dos professores, dos

alunos, dos pais e da comunidade no processo educacional, além da ausência

de compromisso com oferecer uma educação voltada à transformação e à

construção da cidadania.

No Estado, a política de baixos salários, a falta de condições humanas e

materiais e a má administração dos recursos públicos também são fatores que

se consideram como geradores da violência na escola e na sociedade, de

modo geral.

Neste sentido, é um fenômeno fundamentalmente derivado, cuja

dinâmica se origina na sociedade e se reflete na escola, seu dinamismo é de

"fora" para "dentro". Os professores, em geral, têm dificuldade de identificar

formas de violência geradas pela própria escola, não vêm a cultura escolar

como fonte de violência. No entanto, inúmeras pesquisas no âmbito da

educação têm mostrado que, muitas vezes, existe uma grande distância entre

a cultura escolar e a cultura social de referência dos alunos podendo este fato

ser também fonte de violência, por exemplo, de violência simbólica ou daquela

presente nas práticas especificamente escolares, como nos modos de

conceber a avaliação e a disciplina.

Uma pesquisa do Núcleo de Estudos da Universidade de São Paulo

(NEV/USP), que analisou 60 escolas públicas da periferia paulistana, mostrou

que a violência mais comum no cotidiano escolar não é mesmo aquela

relacionada à criminalidade ou a ataques físicos, a despeito dos contextos

sociais com altos índices de práticas criminosas. Diz o estudo que a mais

corriqueira é a agressão existente nas relações entre pessoas. (Carolina

Cassiano – Revista Escola Pública- março/abril 2008 ).“Tanto alunos quanto

professores se sentem desrespeitados. Até que se chegue à agressão física,

há vários estágios de violência silenciosa”, analisa Caren Ruotti, socióloga do

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NEV/USP e uma das autoras do estudo Violência nas escolas: um guia para

pais e professores (Imprensa Oficial) .

Há violências diversas implicando atores (sujeitos) diversos e

acontecendo sob formas diferentes (violência física, psicológica, emocional,

simbólica). A exigir respostas diferentes. De diferentes dimensões que se

relacionam entre si de maneiras peculiares. Em todos os casos, há agressores

específicos e há vítimas.

Na abordagem da violência na escola, precisa-se considerar o atual

contexto sociocultural, entendendo-se que esse enfoque ajuda a compreender

a complexidade da problemática educacional identificada no quotidiano da sala

de aula.

A criação de um clima favorável ao aprendizado depende do

compromisso do professor em aceitar as contribuições dos alunos,

respeitando-os, mesmo quando se manifestarem de forma confusa, incorreta,

mostrando, assim, a importância do respeito às diferenças individuais, ao

pensamento discrepante e às preferências de cada indivíduo, por parte do

grupo, assegurando a participação de todos os alunos. Nessa perspectiva, a

escola é uma instância social voltada à transformação dos indivíduos,

tornando-os autônomos, críticos, criativos e produtivos, capazes de

desenvolver habilidades, de construir conhecimentos e de se apropriar dos

valores éticos, necessários à convivência social.

2.2 – A violência entre alunos

Ao analisar o fenômeno da violência, vemo-nos diante de uma série de

dificuldades, não apenas porque o fenômeno é complexo, mas, principalmente,

porque nos faz refletir sobre nós mesmos, sobre nossos pensamentos, sobre

nossos sentimentos. De modo geral, a violência se confunde, se interpenetra,

se inter-relaciona com agressão e/ou com indisciplina quando se manifesta na

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esfera escolar. A discussão sobre violência é importante, porque é um

fenômeno que se desdobra no ambiente da instituição escolar.

Ocorrências violentas entre alunos e professores são bastante frequentes

nas instituições de ensino brasileiras, e diversas esferas da sociedade vêm

tentando fornecer explicações e ações efetivas para modificar essa situação.

Uma das principais palavras utilizadas pelo senso comum para descrever o que

ocorre é bullying – termo emprestado da língua inglesa para designar ações

repetitivas de violência entre alunos.

O bullying escolar, ou violência entre pares, é um fenômeno tão antigo

quanto prejudicial, que pode deixar marcas profundas na vida de um escolar

Segundo Fante (2002), o bullying não se trata de um episódio esporádico ou de

brincadeiras próprias de crianças; é um fenômeno violento que se dá em todas

as escolas, e que propicía uma vida de sofrimento para uns e de conformismo

para outros. Para a autora, os danos físicos, morais e materiais, os insultos, os

apelidos cruéis e as gozações que magoam profundamente, as ameaças, as

acusações injustas, a atuação de grupos que hostilizam a vida de muitos

alunos levando-os à exclusão, tudo isso são algumas das condutas que

observa em relação ao bullying escolar. Algumas informações e relatos

extraídos de jornais ou de estudos realizados podem anunciar a extensão e

magnitude do problema.

Segundo a especialista Cleo Fante, autora de Fenômeno bullying:

como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz (Verus Editora),

que conduziu um estudo sobre o tema durante dois anos em uma escola

municipal de São José do Rio Preto, dos 450 alunos pesquisados, 49%

estavam envolvidos em práticas do gênero: 22% como vítimas, 15% como

agressores e 12% como vítimas-agressoras.”Se você não interrompe o

processo de agressão, a vítima tende a reproduzi-la contra alguém vulnerável.

A maioria não tem consciência de que leva o outro a sofrer. E muitos

interrompem a agressão quando são levados a pensar sobre isso”, explica.

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Por meio da observação e da discussão sobre o comportamento

individual dos alunos, os professores podem identificar os alvos e os

agressores. As vítimas são alunos frágeis, que se sentem desiguais ou

prejudicados, e que dificilmente pedem ajuda. Eles podem demonstrar

desinteresse, medo ou falta de vontade de ir a escola, apresentar alterações no

rendimento escolar, dispersão ou notas baixas. Além disso, podem ter

sintomas de depressão, perda de sono e pesadelos. Normalmente recebem

apelidos, são ofendidos, humilhados, discriminados, excluídos, perseguidos,

agredidos, e podem ter seus pertences roubados ou quebrados.

Os agressores geralmente acham que todos devem fazer suas vontades,

e que foram acostumados, por uma educação equivocada, a ser o centro das

atenções. São crianças inseguras, que sofrem ou sofreram algum tipo de

agressão por parte de adultos. Na realidade, eles repetem um comportamento

aprendido de autoridade e de pressão. Tanto as vítimas, quanto os agressores,

necessitam de auxílio e de orientação. Os demais alunos são os observadores

da violência. Eles convivem com ela e se calam ou são ignorados em suas

observações por pais e professores. Temem tornarem-se alvos, e podem

sentir-se incomodados e inseguros.

A escola e os membros da equipe escolar podem e devem lidar com os

molestadores e com o comportamento Bullying com o objetivo de contribuir

para um ambiente seguro e ordenado na escola, livre de intimidações e de

ameaças.

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CAPÍTULO III:

VIOLÊNCIA / EFEITOS

3.1 – Violência: algumas repercussões e efeitos

Como percebemos, a violência tem permeado todas as instâncias da

vida social. Não estando alheia à escola, ela exerce forte influência no âmbito

educacional, particularmente no que diz respeito ao fracasso escolar.

Daí que não se pode dissociar, as questões da violência na escola da

problemática presente na sociedade. Em geral, as violências na sociedade, em

sua dimensão sócio-cultural-estrutural, e a violência escolar estão

relacionadas, são parte de um todo estrutural, são duas faces da mesma

moeda. (CANDAU).

Porém, pouco trabalhada do ponto de vista da pesquisa educacional, a

problemática da violência que chega a atingir a escola ou até mesmo gerada

pela própria escola, tem sido uma preocupação constante da população

brasileira, bem como motivo de inquietação para muitos educadores que vêem

a escola como um espaço de construção do conhecimento.

Neste sentido, Aquino apud Revista Nova Escola (2002, p.22), vem

explicitar a realidade educacional apresentada, lembrando que o cotidiano

escolar não só incorpora as ameaças de violência de seu exterior, como

também produz ele mesmo conflitos, embates e exclusões. Por isso, a escola

não pode ser pensada como refém de um entorno hostil ou de outras

instituições violentas. Se lá acontecem situações perigosas, é por que elas são,

em alguma medida, potencializadas pelas ações de violência lá existentes, tais

como: o impedimento à participação eqüitativa de todas as crianças e jovens

no dia-a-dia da escola, o desconfiar de suas potencialidades, recusando

oferecer o que lhes é de direito, o aligeiramento dos conteúdos por não crer

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que eles farão diferença na vida daquelas pessoas, e por colocar em risco sua

auto-estima com um diagnóstico malicioso.

É no contexto da relação entre violência e escola, que percebemos a

falta da noção de cidadania existente no meio educacional, ou seja, a

constatação da negação do direito à educação expresso na repetência, na

evasão escolar e no fracasso escolar. Tais violências são sutis e invisíveis, a

ponto de serem inadvertidamente promovidas por regulamentos opressivos,

currículos e sistemas de avaliação inadequados, não considerando

adequadamente o direito de aprendizagens que tenham significado para o

aluno. Isso quer dizer que a cultura escolar não tem considerado as diferenças

culturais de sua clientela, desrespeitando a identidade e o modo de vida dos

alunos, o que não deixa de ser um ato violento, segundo o conceito aqui

adotado.

Dados fornecidos pelo jornal “O Globo”, de 13 de outubro de 2002, de

estudos do senso 2000, PNAD 1999, senso escolar 2000, Datasus e Iser,

apresentam numa pesquisa realizada na cidade do Rio de Janeiro, um número

de 2.616.399 de jovens entre 15 a 24 anos de idade, em situação de abandono

e permanência na escola. Assim registram os seguintes dados: 47,5% não

completaram o ensino fundamental, 21,7% ficaram em supletivos e 25,8%

abandonaram a escola.

Como percebemos a escola enquanto parte da sociedade, está inserida

num contexto de violência. Ela é geradora de uma forma de violência

educacional que ocasiona, além de outras, a chamada evasão escolar. É com

este ato de violência que, já nas series iniciais, a escola faz a eliminação.

Neste sentido, a autora abaixo vem confirmar o pensamento:

É ainda nas séries iniciais que o tráfico escolar fica

congestionado: um grande contingente de crianças em

idade escolar no país, atualmente fora da escola, aí não

está somente por que nunca chegou a ter acesso aos

bancos escolares, se não por que deles foi eliminado

prematuramente” (PATTO, 1990, p. 02).

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Candau (Ibid), reforça nossa posição ao afirmar que, as relações entre

violência e escola não podem ser concebidas exclusivamente como de fora

para dentro da escola, pois além de penetrar o âmbito escolar, este também é

um gerador de violência à medida que produz a violência educacional da

evasão escolar.

Partindo desta hipótese, percebemos que a violência praticada pela

escola, que atende, prioritariamente, aos interesses do mercado, produz um

permanente fracasso e desvalorização das populações menos favorecidas e

tem deixado marcas profundas em crianças, jovens e adultos, “gerando, ao

longo de nossa história , indivíduos revoltados, incapazes de dialogar e

intolerantes em relação às diferenças individuais” (ALVES , op. cit. p.74).

Nesta perspectiva, Paro (op.cit.) sabiamente afirma:

“O que se percebe é que a escola não está estruturada

para ensinar e promover personalidades, mas para

selecionar aqueles que, apesar dela, têm condições de

galgar os vários degraus do ensino até chegar à

Universidade. Isso não quer dizer que ela selecione

sequer os melhores, mas sim aqueles que a ela se

ajustam “(p.48).

É neste contexto de desrespeito e seleção, que a evasão, ação de

violência da escola, é conseqüentemente definida pelo processo seletivo de

notas adotado pela instituição. Como percebemos a avaliação que visa apenas

medir a aquisição de conhecimentos intelectuais, não havendo preocupação

quanto à aprendizagem política e social, e a formação da personalidade dos

alunos, determina o processo de ensino do mesmo, medindo seu

enquadramento nos padrões adotados pela escola. Para isso, enfatizam-se os

resultados que são obtidos pela avaliação dos conteúdos, desconsiderando

que “a razão de ser da avaliação não é classificação ou retenção de alunos,

mas a identificação do estágio de compreensão e assimilação do saber pelo

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educando, junto com as dificuldades que este encontra” (PARO, op. cit. p.39-

40).

Por outro lado, temos a reprovação escolar, prática educacional

determinante para se chegar à evasão escolar. Ela é produzida por métodos

avaliativos excludentes ou classificatórios que se apóiam no conteúdo

determinado pelo currículo, ou seja, sem conexão com o contexto sócio-

econômico do aluno. “A evasão, acha-se associada à reprovação como uma

das causas de sua ocorrência. Em boa parte, pelo fato de saber que será

reprovado, o aluno abandona a escola” (PARO, op.cit. p. 58-59).

Nesta mesma linha de reflexão, Paro (op.cit.p.61-62), ao nos remeter à

reprovação escolar, lembra que ela tem-se manifestado de forma integrante à

realidade da escola, defendida por pessoas que não conseguem perceber a

contradição que há entre a educação como construção humana e a reprovação

como método ou recurso pedagógico. Recorda ainda que o ato de reprovação,

não se manifesta, pois, apenas nos números retidos ou desistentes que a

escola produz, mas também, no modo de agir e de pensar que perpassa as

atividades escolares.

Como pudemos perceber ao estudar esses autores, a violência

provocada pela escola, tem contribuído fortemente para a geração da violência,

particularmente, a evasão escolar, forçando, muitas vezes, a renúncia ao saber

educacional. Com isso, a educação passa, então, a não cumprir seu verdadeiro

papel, o de garantir o direito à educação e o pleno desenvolvimento do

educando.

Importa observar, ainda, a necessidade de cumprimento da LDB – Lei de

Diretrizes e Base da Educação Nacional, que afirma:

“A educação é dever da família e do Estado, inspirada nos

princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade

humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do

educando, seu preparo para o exercício da cidadania e

sua qualificação para o trabalho “(Art. 2º)

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No tocante à violência externa à escola, percebemos que as ações

violentas têm invadido, cada vez mais, o espaço escolar, atravessando os

portões e as portas das salas de aulas.

Partindo do ponto de vista histórico, podemos analisar esta realidade

como fruto da crise do processo civilizatório pelo qual passamos, lembrando

que, no Brasil, a violência acompanha toda a sua história, desde a colonização,

com a eliminação das tribos indígenas, escravização do negro, até as formas

atuais de lazer3, multiplicando ao longo dos tempos a exclusão e, a repressão

(CANDAU, op.cit.p.146-147).

Essa estrutura significativa da violência existente no âmbito educacional

tem também sido reforçada pela mídia. Dentro da própria escola, percebemos

através de comentários e brincadeiras, que os alunos são telespectadores

assíduos de filmes que vêm reforçar a prática de violência dentro da escola.

Conforme aborda Faria, apud Fiqueiredo (1999, p. 107), não há uma

preocupação dos meios de comunicação quanto ao imaginário que está sendo

construído na criança, adolescente ou jovem. De forma dominante, os Meios de

Comunicação enfatizam a violência explícita, com o objetivo de atingir uma

aceitação e construir um ponto a mais na audiência.

O fato é que a violência está cada vez mais freqüente nas escolas. “O

assédio das escolas pelos traficantes, trata-se de uma realidade cada vez mais

presente, particularmente nas escolas públicas” (CANDAU,op. cit.p.145). Além

do assédio por traficantes, verifica-se também que o aluno, dentro do espaço

escolar, reproduz a realidade de violência do seu dia-a-dia, causando, na

maioria das vezes, dificuldade para a sua permanência na escola.

Como já explicitamos a relação entre evasão escolar e violência, estão inter-

relacionadas. De um lado temos a forma pela qual a escola faz a sua prática: a

avaliação, a aplicação do currículo inadequado, o ato de reprovação escolar.

3 Prática de esportes violentos, brincadeira com armas de brinquedo, assistir a filmes violentos etc.

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Por outro lado, temos os impactos da violência externa, que impõe à escola

muros, grades, medo, mortes. Por fim, ambas refletem os mesmos sintomas

de uma sociedade desigual e competitiva. De uma sociedade baseada no

desrespeito e na desobediência às normas de solidariedade e de ética.

Resgatar o aluno evadido é interromper o ciclo vicioso da violência, do

fracasso social, cultural e econômico das crianças e jovens oriundos das

camadas pobres da população, gerador da forma mais cruel de exclusão

social.

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CONCLUSÃO

No decorrer deste trabalho, limitamo-nos a abordar, de forma clara e

precisa, a realidade da violência existente na sociedade e seus impactos na

escola, destacando a relação entre a violência e evasão escolar, sendo que

esta pode ser percebida como um ato de violência provocado pela própria

escola ou causado pelo impacto da violência externa a ela.

Os dados bibliográficos apresentados neste estudo, coletados dos

diferentes autores, vêm confirmar a nossa questão inicial, a investigação sobre

os atos de violência que levam ao abandono da escola, e a indagação: até que

ponto a violência tem determinado ou condicionado a evasão escolar.

Aqui ressaltamos, conforme a pesquisa realizada, que a violência tem

sido motivo de grande preocupação, uma vez que ela tem se tornado mais

freqüente no meio social, abrangendo todos os grupos e classes.

Dentre o que foi apresentado no decorrer do texto, destacamos como

fator de suma relevância, a desigualdade social, violência que tem causado

inúmeras mazelas na população, negando o direito à vida digna a muitas

pessoas. Essa negação da cidadania implica, em última instância, em não

reconhecer a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Outro fator abordado que merece destaque é o quadro apresentado de

violência cruenta espalhado no meio educacional. A escola convive

constantemente com ameaças de traficantes, depredações, assaltos. Para se

proteger utiliza grades, alarmes, muros. Assim, alunos, por sentir a vida

ameaçada, não vão à escola e são forçados a renunciar ao saber ou seja,

evadem-se.

No entanto, a escola também é responsável por essa violência

educacional, a evasão. Isso acontece quando se perde de vista, no processo

ensino-aprendizagem, a totalidade do educando, se limitando a utilizar

currículos e avaliações que não consideram todas as dimensões da formação

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do aluno: psíquico, social e econômico. Trata-se o aluno, como um ser que

deve guardar conhecimentos conforme o professor ensina, ou seja, muitas

vezes dissociado de seu ambiente e experiências sociais. Assim, podemos

afirmar que existe uma estreita relação entre violência e evasão escolar.

Acreditamos e esperamos que as escolas revejam seus conceitos e

filosofias, buscando a construção de um espaço de amplo conhecimento das

necessidades e desafios que permeiam a sociedade, tornando o meio

educacional sensível à formação humana pautada na ética, na cidadania e na

solidariedade. Com isso, possa contribuir para minimizar a exclusão dos alunos

da escola e, conseqüentemente, da nossa sociedade. Somente conscientes de

como vivemos e do que buscamos, conseguiremos chegar a encarar a

educação como verdadeiro processo de transformação pessoal e social.

Nesta linha de reflexão e ação, reafirmamos as palavras de Candau:

“A escola assim é concebida como espaço de busca,

construção, diálogo e confronto, prazer, desafio,

conquista de espaço, descoberta de diferentes

possibilidades de expressão e linguagens, aventura,

organização cidadã, afirmação da dimensão ética e

política de todo processo educativo “(op.cit.p.15).

Na análise do professor Célio da Cunha, representante da UNESCO

para educação no Brasil: “A escola não pode abdicar de sua verdadeira missão

que é formar mentes solidárias e éticas. A escola não pode alimentar a

violência que existe fora, deve desenvolver entre seus integrantes relações

com base no respeito mútuo, na cidadania. Fazendo isso, combate a violência

que está dentro dela e também a que vem de fora” (Revista Escola Pública –

março/abril 2008).

Com este trabalho, buscamos despertar a escola para a necessidade de

contribuir na construção da cultura da paz, que seja reconhecida por acolher a

todas as crianças e jovens, acompanhando-os durante todo o processo escolar

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e avaliando suas possibilidades de participação nas decisões sobre os rumos

da vida planetária.

Ao viabilizar a permanência da criança na escola e a educação

permanente e contínua, cria-se espaço para a formação de cidadãos com forte

sentimento de dignidade e mais felizes. A combinação desses elementos com

as possibilidades de exercício profissional e qualidade de vida é a fórmula

mais eficaz de combate à violência. É ter certeza de que a nova geração

terá um futuro sem violência. Um futuro de PAZ.

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BIBLIOGRAFIA

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São Paulo: Moderna, (Coleção polêmica) 1994.

BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA. Brasília Senado Federal,

1988.

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL– LEI nº 9.394,

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FIGUEIREDO, Vera Follain et al. “Mídia e Educação”- Rio de Janeiro:

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VICENTE, de Paula Faleiros e Eva Silveira Faleiros, “Escola que Protege:

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PARO, Vitor Henrique. “Reprovação escolar”: renúncia à educação- São

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PATTO, Maria Helena Sousa, “A produção do Fracasso Escolar”: histórias

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KUPSTAS, Marcia et al. “Violência em debate”. São Paulo: Moderna, (coleção

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PELLEGRINI, Denise, et al- “Portas abertas para paz”, REVISTA NOVA

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ........................................................... 2

AVALIAÇÃO ...................................................................... 3

AGRADECIMENTO ........................................................... 4

DEDICATÓRIA ................................................................... 5

RESUMO ........................................................................... 6

METODOLOGIA ................................................................. 7

SUMÁRIO ........................................................................... 8

INTRODUÇÃO ................................................................... 9

CAPÍTULO I

A VIOLÊNCIA

1.1 - Conceito ..................................................................... 12

1.2 - Violência e cidadania ................................................. 13

1.3 - A violência no contexto social .................................... 16

CAPÍTULO II

A VIOLÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLA

2.1 - O cotidiano escolar e formas de violência ................. 18

2.2 - A violência entre alunos ............................................. 20

CAPÍTULO III

VIOLÊNCIA / EFEITOS

3.1 - Algumas repercussões e efeitos ................................ 23

CONCLUSÃO .................................................................... 29

BIBLIOGRAFIA ................................................................. 32

ÍNDICE ............................................................................... 33

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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