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Os Grandes Dramaturgos Federico García Lorca BODAS DE SANGUE tragédia em 3 atos e 7 quadros Editora Peixoto Neto tradução Rubia Prates Goldoni

Bodas de Sangue

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Bodas de Sangue

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  • Os Grandes Dramaturgos

    Federico Garca Lorca

    BODAS DE SANGUE

    tragdia em 3 atos e 7 quadros

    Ed i to r aPeixoto Neto

    traduoRubia Prates Goldoni

  • Coleo Os grandes dramaturgos Volume 5, 1 edio

    So Paulo, 2004

    TTULO ORIGINALBodas de sangre

    Copyright Herederos de Federico Garca Lorca Copyright da traduo da Editora Peixoto Neto, 2004, para a edio em

    qualquer mdia impressa ou eletrnica.Para a fi nalidade de encenao ou para qualquer obra audiovisual, os direitos

    pertencem tradutora.

    EDITORJoo Baptista Peixoto Neto

    COORDENADORA DA COLEOSilvana Garcia

    CONSULTORASMaria Thereza Vargas

    Maringela Alves de Lima

    PESQUISADORA E ASSISTENTE EDITORIALFabiana Lopes Bernardino

    TRADUTORARubia Prates Goldoni

    PREFACIADORAIlka Marinho Zanotto

    REDATOROswaldo Mendes

    REVISORASOfi cina Editorial (Adriana Soares de Souza)

    Beatriz de Freitas Moreira

    PROJETO GRFICOOfi cina Editorial

    CAPAOfi cina Editorial (Eduardo Quintanilha Faustino)

    EDITORAOOfi cina Editorial

    GERENTE DE DISTRIBUIO E VENDASValdemir Batista de Anunciao

    PATROCINADORES

  • SUMRIO

    PREFCIO

    Bodas de sangue 11

    BODAS DE SANGUE

    Personagens 29

    Ato 1Primeiro quadro 33Segundo quadro 47Terceiro quadro 59

    Ato 2Primeiro quadro 73Segundo quadro 93

    Ato 3Primeiro quadro 115ltimo quadro 133

    Agradecimentos da tradutora 147

    DOSSI FEDERICO GARCA LORCA

    Cronologia da vida do autor 151

    DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAO NA PUBLICAO (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Garca Lorca, Federico, 1898-1936.Bodas de sangue / Federico Garca Lorca; traduo Rubia

    Prates Goldoni. 1. ed. So Paulo: Peixoto Neto, 2004. (Os grandes dramaturgos)

    Ttulo original : Bodas de sangre.

    1 . Teatro espanhol I . Ttulo. II . Srie

    03-5445 CDD- 868.2

    ndice para catlogo sistemtico:1. Teatro : Literatura espanhola 868.2

    ISBN DO LIVRO: 85-88069-11-3

    ISBN DA COLEO: 85-88069-03-2

    Todos os diretos desta edio esto reservados

    Editora Peixoto Neto Ltda.Rua Teodoro Sampaio 1765, cj. 44, Pinheiros

    05405-150 So Paulo, SP, Brasiltel. (11) 3063-9040 fax 3064-9056

    [email protected]

    ESTE LIVRO FOI IMPRESSO EM:Capa: Papel Couch Image Mate 145 g/m

    Guarda: Papel Accia Color Antlope Marfi m 120 g/mMiolo: Papel Chamois Fine Dunas 80 g/m

    Fabricados pela RIPASA S/A CELULOSE E PAPEL em harmonia com o meio ambiente

  • PREFCIO

    Sugestes de leitura 157

  • BODAS DE SANGUE

    ILKA MARINHO DE ANDRADE ZANOTTO

    Yo le he visto em ls noches ms altas cuando la luna correspondia con l y le plateava su rosto; y he sentido que sus brazos se apoya-ban en el aire, pero que sus pies se hundan en el tiempo, en los siglos, en la raiz remot-sima de la tierra hispnica, [...] en busca de esa sabiduria profunda que llameaba en sus ojos, que quemaba en sus lbios, que encan-deca su ceo de inspirado.

    Vicente Aleixandre, Federico, 1937

    A obra lorqueana privilegia a simbiose homem/natureza, no sentido de que somente do restabelecimento desse vnculo pode nascer a poesia. O problema crucial para o poeta reside nas paixes, isto , no patrimnio interior do homem. A ser-vio da expresso dessa essncia profunda, Lorca pe sua fan-tasia imensa, avassaladora, fogo que impregna e confere unici-dade a toda escrita do autor, numa uniformidade de desgnios e de contedos que, segundo Carlo Bo, revela o segredo de sua poesia, no momento em que tal uniformidade obtida graas

  • 12 Prefcio Bodas de sangue 13

    composio exemplar de Bodas de sangue sucedem-se s cenas rpidas, intensas, com dilogos do cotidiano, interldios lri-cos que explicitam a essncia do confl ito e ao mesmo tempo so uma antecipao trgica daquilo que vir. Esses interl-dios, muitas vezes musicados, ligam-se diretamente ao, fazendo-a progredir; a linguagem sinttica e prenhe de signi-fi caes, prpria da poesia, de extrema teatralidade, na me-dida em que veicula toda a carga de pensamento e de emoo que serve de hmus s razes da obra; dela sentimos a abso-luta necessidade, nica capaz de dar vazo ao acirramento das paixes que impelem a ao, feita de tenses, de contrastes e do movimento diversifi cado e progressivo, prprios do verda-deiro drama.

    Bodas de sangue , principalmente nas cenas fi nais, uma celebrao sinistra na qual o lirismo alterna-se violncia dos instintos, envolvendo de mistrio as palavras rituais dos Lenhadores, da Lua, da Morte /Mendiga, do Noivo e dos amantes em fuga.

    Personagens reais e simblicos dialogam livremente e a poesia irrompe no palco, desenfreada.

    O texto todo um encadeamento de frases-snteses, de situaes-chaves que preparam ns dramticos, ligados coesa-mente ao fi o condutor do confl ito maior: a nsia de liberdade inerente ao ser humano em face das foras que tentam sufoc-lo, a impossibilidade trgica de aniquilamento das pulses mais primordiais que jazem no mago de nosso ser.

    Mas, semelhana dos dramas gregos, a violncia do tema expressa-se mais por meio das palavras do que pela ao pre-senciada no palco. O que fez Alfredo de La Guardia defi ni-lo por ocasio da estria em Madri como o poema dramtico mais belo escrito na Espanha desde que se extinguira a luz do

    ao extraordinrio uso dos particulares. Lorca chega s grandes invocaes, quelas que so a profi sso de sua f potica, ao termo de longa caa mida, constante, cotidiana.

    O modo personalssimo pelo qual Lorca leu e sentiu o mundo tornou-o um personagem sem regras, um pouco fora dos cnones da lrica espanhola do sculo XX, conferindo-lhe indiscutvel repercusso mundial.

    Consciente de que jamais as palavras podem restituir ao leitor a experincia nica do espetculo teatral, tentarei neste prefcio, pouco ortodoxamente , contar um pouco da tra-jetria daquela que considerada uma das mais belas expres-ses do tema do amor e morte, pea que integra a trilogia de tragdias mais renomadas do autor.

    . . . . .

    Inspiro-me na vida, nas notcias que leio nos jornais, nos fatos: Bodas de sangue aconteceu em Almera, afi rmou Federico Garca Lorca em 1933, quando da estria da pea em Buenos Aires, aps o retumbante sucesso no Teatro Infanta Beatriz de Madri, em maro do mesmo ano. Mas ele j dissera tambm: A poesia algo que anda pela rua, que se move, que nos acotovela. E mais: No h teatro separado da vida e no h grande teatro que no seja potico, isto , questionador e criador. Coerentemente, o episdio que lera num jornal de provncia, sobre uma festa de casamento banhada pelo sangue de dois homens que amavam a mesma mulher, eclodiu em obra teatral aps ter amadurecido durante anos em sua me-mria. O real transfi gurou-se na mais alta poesia dramtica cujo grau de estilizao dilua totalmente a eventual melodra-maticidade. Nasceu um teatro potico que viveu naturalmente no palco, que Lorca usou de modo singularmente direto. Na

  • BODAS DE SANGUE

  • PERSONAGENS

    A ME

    A NOIVA

    A SOGRA

    A MULHER DE LEONARDO

    A CRIADA

    A VIZINHA

    MOAS

    LEONARDO

    O NOIVO

    O PAI DA NOIVA

    A LUA

    A MORTE (COMO MENDIGA)

    LENHADORES

    MOOS

    FOTO DA CAPAAlma Flora e Belmira de Almeida em Bodas de Sangue, de Federico Garca Lorca.

    Cia. Dulcina-Odilon Teatro de Arte, 1944.Foto de Carlos.

    Acervo CedocFunarte.

  • ATO 1

  • Primeiro quadro

    (Sala pintada de amarelo.)

    NOIVO(Entrando.) Me.

    MEQu?

    NOIVOJ vou.

    MEAonde?

    NOIVOPara a vinha. (Vai sair.)

    MEEspere.

    NOIVOQue ?

    MEO farnel, fi lho.

    NOIVODeixe. Eu como uvas. Me d a navalha.

  • 34 Federico Garca Lorca Bodas de sangue 35

    MEMesmo que eu vivesse mil anos, no falaria de outra coisa.

    Primeiro seu pai, que me cheirava a cravo e que eu s tive por trs curtos anos. Depois seu irmo. justo isso? possvel que uma coisa to pequena como uma pistola ou uma navalha possa acabar com um homem que um touro? No vou me calar nunca. Os meses passam e sinto o desespero arder nos olhos e at na ponta dos cabelos.

    NOIVO(Alto.) Vamos parar?

    MENo. No vamos parar. Quem vai me trazer seu pai de

    volta? E seu irmo? E depois, a cadeia. O que a cadeia? Um lugar onde se come, se fuma, se toca msica! Meus mortos co-bertos de terra, mudos, reduzidos a p; dois homens que eram dois gernios Os matadores, na cadeia, sossegados, olhando os montes

    NOIVOA senhora quer o qu? Que eu os mate?

    MENo Eu falo porque Como no vou falar, vendo voc

    sair por essa porta? que no gosto que ande com a navalha. que eu no queria que voc fosse para o campo.

    NOIVO(Rindo.) Ora!

    MEQueria que voc fosse mulher. Agora no iria para o riacho

    e fi caramos as duas bordando cachorrinhos e babados.

    MEPara qu?

    NOIVO(Rindo.) Para cort-las.

    ME(Entre dentes, enquanto procura.) A navalha, a navalha

    Malditas sejam todas as navalhas e a corja que as inventou.

    NOIVOVamos mudar de assunto?

    MEE as espingardas e as pistolas e a menor das facas, e at as

    enxadas e os ancinhos da eira.

    NOIVOChega.

    METudo o que pode cortar o corpo de um homem. Um ho-

    mem bonito, com uma fl or na boca, que vai para as vinhas ou para suas prprias oliveiras, porque so dele, herdadas

    NOIVO(Baixando a cabea.) Quer fi car quieta?

    ME e esse homem no volta. Ou se volta s para colocarem

    em cima dele uma palma ou um prato de sal grosso para que no inche. No sei como se atreve a andar com uma navalha, nem como eu deixo essa serpente no ba.

    NOIVOJ no chega?