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1 CAPÍTULO 7 SETE VIDAS NOVELA CRIADA E ESCRITA POR RÔMULO GUILHERME Personagens deste capítulo ÁGATHA AMBROSINHA ANDERSON BETÂNIA BRUNO CALINDA CARMINHA CATARINA CLARISSE CLAUDIONORA DJALMA EVA EVANDRO FILINTO JEFERSON JOSY JUNIOR LICURGO MARIA MOISÉS NARCISA NECO

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CAPÍTULO 7

SETE VIDAS

NOVELA CRIADA E ESCRITA POR

RÔMULO GUILHERME

Personagens deste capítulo

ÁGATHA

AMBROSINHA

ANDERSON

BETÂNIA

BRUNO

CALINDA

CARMINHA

CATARINA

CLARISSE

CLAUDIONORA

DJALMA

EVA

EVANDRO

FILINTO

JEFERSON

JOSY

JUNIOR

LICURGO

MARIA

MOISÉS

NARCISA

NECO

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NICOLAU

OLAVO

PACHECO

PEDRO

REBECA

RUFINO

SARAH

VIOLETA

VITOR

VLADIMIR

ZINHA

Participação especial

SEGURANÇA

CRIANÇA

MULHER (MÃE DE MARIA)

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CENA 1. HOTEL. QUARTO VITOR. INTERIOR. MADRUGADA

Ágatha dorme. Ela está inquieta, mexendo de um lado para o outro. Está tendo um pesadelo. A chuva

continua caindo forte.

Corta rápido para:

CENA 2. PENHASCO. EXTERIOR. NOITE

Flash-back a ser gravado. Ágatha, usando um penteado diferente, estaciona o carro na beira do

penhasco. Ela saí do carro e vai até a porta do passageiro, abrindo para a mulher descer. A mulher,

de 28 anos, é a mãe de Maria, que a carrega, ainda bebezinha.

Ágatha — Me dá o bebê!

Mulher — Por que cê me trouxe aqui?

Ágatha — Para que possamos conversar sozinhas, sem sabermos atrapalhadas por

ninguém!

A mulher entrega o bebê para Ágatha.

Mulher — Só quero que o pai dela, o Vitor, cuide dela como eu não posso!

De repente o carro de Anderson chega. Ele não saí do carro.

Mulher — (com medo) O que está acontecendo, Ágatha?

Ágatha — Você se envolveu com o homem errado.

Anderson acelerá o carro para cima da mulher, empurrando-a em direção ao penhasco. A mulher acaba

perdendo o equilíbrio, antes que Anderson encoste o carro nela. Assim que a mulher caí, Anderson dá

ré no carro e pára perto de Ágatha, que continua segurando Maria bebezinho, sem lhe fazer nenhum

carinho, segurando como quem segura um pacote qualquer.

Anderson— Somos agora dois assassinos!

Ágatha — Um segredo nosso, que vamos levar para o túmulo.

Anderson— Mas que vai te sair muito caro, priminha, muito caro!

Ágatha entrega Maria para Anderson.

Ágatha — Se livre dessa coisa...

Anderson— Posso jogá-la também!

Ágatha — Não! Matar criança dá um azar danado. A deixe em qualquer lugar, quem sabe

aparece um cachorro e faça o serviço completo.

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Fim do flash-back. Corta para:

CENA 3. HOTEL. QUARTO VITOR. INTERIOR. NOITE

Ágatha acorda assustada. Percebe que Vitor não está do seu lado na cama.

Ágatha — (chamando) Vitor, Vitor, meu amor!

Ela se levanta e o procura pelo quarto. Vai até a janela e vê Vitor e Clarisse terminando de se beijar.

Ele vai em direção ao o hotel e Clarisse vai pra casa.

Ágatha — Desgraçada!

Corta para:

CENA 4. HOTEL. QUARTO VITOR. INTERIOR. MADRUGADA

Continua chovendo em Jandaía. Vitor vem do banheiro e pára perto da cama. Acabou de tomar banho.

Ele não se agüenta de tanta felicidade.

Vitor — Eu sabia que ela não tinha me esquecido. Clarisse ainda me ama, ela ainda me

ama!

Nesse momento Ágatha, que até então tava dormindo, abre o olho, escutando o que Vitor acaba de

dizer.

Corta para:

CENA 5. CASA EVANDRO. QUARTO NICOLAU. INTERIOR. NOITE

Clarisse está acabando de secar seu cabelo. Assim que termina, se aproxima da cama do filho e deita

do seu lado.

Clarisse — (baixo) Mamãe vai dormir com você filho, como você dormia comigo quando era

pequeno.

Nicolau resmunga alguma coisa, sem acordar. Clarisse pensa um pouco de olhos abertos e depois

procura dormir.

Corta para:

CENA 6. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. NOITE / DIA

Corta para:

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CENA 7. CASA CARMINHA. COZINHA. INTERIOR. DIA

Carminha e Maria tomam café. Carminha termina de ferver o leite.

Carminha— Quer leite?

Maria — Quero!

Carminha serve leite para Maria. Ela senta e toma café junto com a filha.

Carminha— Hoje é aniversário da minha irmã.

Maria — Tia Sheila?

Carminha— É!

Maria — Por que cê fala tão pouco nela, mãe Carmem?

Carminha— Porque ela se afastou muito de mim. Encucou que sua felicidade estava nos

Estados Unidos e não sossegou enquanto não foi pra lá. E desde então não tenho

mais notícia dela.

Maria — Tem muito tempo que ela tá lá.

Carminha— Sim, tem muito tempo. Quando ela foi você ainda era ainda uma bebezinha! Ela

foi ilegal, entrou pelo México.

Maria — Deve estar bem de vida, cê não já tinha ligado, pedindo ajuda.

Carminha— É, deve ser! Mas eu queria saber como a Sheila está. Me mandou um postal uma

só única vez Foi pra lá, mas continua sendo minha irmã.. Pelo menos da minha parte

eu ainda considero a Sheila como minha irmã!

Maria — Se pensamos na pessoa é porque ela vai se comunicar, de uma forma outra.

Quando cê menos esperar ela liga ou aparece! É sempre assim!

Corta para:

CENA 8. CASA EVANDRO. SALA JANTAR. INTERIOR. DIA

Vladimir está tomando café. Ambrosinha está do seu lado. Clarisse aparece, ainda com sua roupa de

dormir.

Clarisse — (sentando) Bom dia!

Eles respondem ao cumprimento.

Clarisse — Perdi a hora. Tenho que resolver tanta coisa lá na loja. E o Evandro?

Ambrosinha— Tá no escritório! Quer que eu prepare alguma coisa? Posso fazer aquelas

torradas, com geléia de damasco.

Clarisse — Não, obrigado Ambrosinha!

Ambrosinha— (para Vladimir) E o senhor, não vai querer mais nada? (para Clarisse) É a

segunda vez que ele tá tomando café já!

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Vladimir — E o que cê tem a ver com isso, sua empregada enxerida!

Ambrosinha vira a cara e vai pra cozinha.

Clarisse — O Nicolau tomou café direito?

Vladimir — Tá jogando bola na lá rua, eu deixei.(t) Eu vi a hora que você chegou!

Clarisse — Não sei do que o senhor está falando, seu Vladimir.

Vladimir — Mas não se preocupe Clarisse, não falei nada com o Evandro.

Clarisse levanta e vai pro seu quarto.

Clarisse — Vou me arrumar.

Vladimir — Eles pensam que sou bobo, que não percebo nada que acontece. Esse olhos aqui

já viram tantas coisas...

Corta para:

CENA 9. CASA EVANDRO. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA

Pacheco fala, Evandro está distante, longe.

Pacheco — O velho nos deu o bolo de novo. Agora tá falando que não vai poder vir, vai ter

que levar a estátua até o ateliê dele.

Pacheco percebe que Evandro está longe.

Pacheco — Terra chamando prefeito de Jandaía. O que foi Evandro?

Evandro — Tô precisando espairecer...

Evandro levanta e vai pra janela.

Pacheco — Aconteceu alguma coisa?

Evandro — Preciso conversar com uma certa pessoa! Acertar os ponteiros.

Corta para:

CENA 10. PRAÇA JANDAÍA. EXTERIOR. DIA

Nicolau está jogando bola com seus amigos. Se diverte. Corta para:

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CENA 11. HOTEL. FRENTE. EXTERIOR. DIA

Bruno senta na escada.

Bruno — (reclamando) Nessa droga de cidade não tem nada pra se fazer!

Bruno observa Nicolau jogando bolsa com seus amigos. A bola rola pra perto do seu pé.

Nicolau — (para Bruno) Chuta ae!

Bruno, meio que sem jeito, chuta a bola, que vai pro outro canto, pra longe. Os meninos riem dele.

Nicolau vai atrás da bola e depois corre até Bruno.

Nicolau — Tu é o Bruno não é?

Bruno — Sou sim!

Nicolau — Tu chuta mal pra caramba, em!

Bruno — Não gosto de futebol, nem de nenhum outro esporte!

Nicolau — Eu posso te ensinar. Sou uma fera no futebol.

Bruno — Não levo jeito.

Nicolau — Vamos lá.

Nicolau leva Bruno pra junto dos outros meninos. Eles começam a chutar bola, brincando.

Corta para:

CENA 12. LOJA CLARISSE. FRENTE. EXTERIOR. DIA

Ágatha vem passando e pára em frente a loja. Dá uma boa olhada do lado de fora.

Ágatha — Vamos ver se tem alguma coisa que presta ai dentro!

Ágatha entra na loja.

Corta rápido para:

CENA 13. LOJA CLARISSE. INTERIOR. DIA

Ágatha dá uma olhada nas roupas. Claudionora se aproxima dela.

Claudion — Posso ajudar?

Ágatha olha Claudionora dos pés a cabeça.

Ágatha — Estou vendo se tem alguma coisa que me interessa. Mas tenho certeza que não

vou encontrar nada que esteja a minha altura.

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Claudion — É do Rio não é?

Ágatha — Com muito orgulho.

Claudion — Eu daria tudo pra morar no Rio. Ali sim, eu teria algum futuro.

Ágatha — Você é bonita, garota. Já pensou em tentar ser modelo? Não sou especialista,

mas acho que você teria chance de tentar seguir carreira.

Claudion — É o meu grande sonho, ser modelo, desfilar pelo mundo.

Ágatha — Se tu continuar nesse buraco, cê não vai ter chance nenhuma.

Clarisse chega e entra falando.

Clarisse — Perdi a hora hoje...

Ágatha se vira e vê Clarisse.

Ágatha — Clarisse, não é?

Clarisse — Sim, sou eu!

Ágatha cumprimenta Clarisse.

Ágatha — Tá lembrada de mim, Ágatha

Clarisse — Claro!

Ágatha — (continuando) Mulher do Vitor, que foi seu namoradinho de infância!

Clarisse sente-se atingida.

Ágatha — Ele me contou isso, quase não se agüentado de tanto rir.

Clarisse — (estranhando) Rindo?

Ágatha — (pérfida) Sim! Rindo de como agiam pateticamente. Para o Vitor, esse namoro

foi tão sem importância, que ele resolveu viajar para ficar livre de você. Eu até

estranhei quando ele me acordou de madrugada, dizendo isso. Acho que ele tinha

saído pra tomar um copo d’água e voltou dizendo isso. Não pense que estou

inventando nada, tudo isso foi ele quem me disse.

Clarisse sente uma nova facada e fica sem palavras.

Ágatha — Agora deixa eu ir, pois hoje nós vamos embora! (saindo) Sua loja é muito

bonita.

Clarisse — (engasgada) Obrigada!

Ágatha — (para Claudionora) Não desista, em menina! Batalha pelo seu sonho, que um dia

ele se realiza!

Claudion — Eu sei disso. Eu dia vamos nos esbarrar lá no Rio!

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Ágatha vai embora. Clarisse fica estática. Claudionora se aproxima, preocupada.

Claudion — Está tudo bem, Clarisse?

Clarisse — (ríspida) Me deixa, Claudionora! Vai arrumar o estoque.

Claudion — É Cláudia, pombas! Claú-di-a!

Corta para:

CENA 14. LOJA CLARISSE. FRENTE. EXTERIOR. DIA

Ágatha saí da loja.

Ágatha — (para si, achando graça) Você é terrível, Ágatha! Terrível! Vamos ver se essa

baranga não esquece o meu marido de uma vez por todas!

Corta para:

CENA 15. PISCINA. EXTERIOR. DIA

Violeta e Carminha sentam, bem protegidas do sol. Maria se divertindo na piscina.

Carminha— (para Maria) Fica no raso, Maria.

Maria — Mas eu já sei nadar, mãe.

Violeta — Mesmo assim é melhor, Maria. Piscina é um perigo disfarçado de diversão. Pode

ser muito traiçoeira até pra quem sabe nadar.

As duas observam Maria na piscina.

Violeta — A casa ganha um brilho, uma cor diferente, quando a Maria está. Parece que a

casa fica mais viva.

Carminha— É assim que eu me sinto também. A Maria encheu minha vida de cor, de alegria,

onde tudo antes era tristeza, solidão.

Violeta — Você nunca soube nada dos pais dela?

Carminha— Nunca, nada, nada. Eu realmente busquei saber se alguém tinha dado queixa do

desaparecimento de uma menina. Perguntei nas redondezas de onde a encontrei,

mas nada.

Violeta — Umas mães querendo ter filhos, outras largando por aí, em qualquer lugar. A

Maria teve sorte de encontrar uma mãe tão boa como você é, Carminha. Eu torço

para que meu filho tenha sido criado por bons pais, que tenham lhe dado amor e

atenção, se aquele desgraçado do meu ex-marido tive-lo abandonado.

Violeta sente uma leve tonteira.

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Carminha— O que foi, Violeta?

Violeta — (frágil) Não foi nada, só uma leve tonteira!

Carminha— É melhor irmos para o quarto.

Carminha ajuda Violeta a levantar.

Corta para:

CENA 16 QUARTO VIOLETA. INTERIOR. DIA

Violeta terminando de se ajeitar na cama, recostada. Carminha lhe entrega o remédio e um copo

d’água.

Violeta — Estou bem agora. Foi só uma leve tonteira.

Carminha— Acho melhor chamar o seu médico.

Carminha vai até o telefone e liga.

Violeta — Não precisa, Carminha.

Carminha— Precisa sim! (tel) Doutor Sávio, aqui é Carmem, enfermeira da sua paciente...

Corta para:

CENA 17. CASA RUFINO. SOTÃO. INTERIOR. DIA

Rufino e Eva estão ajoelhados rezando.

Rufino — Não nos deixei cair em tentação, mais livrai-nos de todo mal. Amém!

Eva — Amém!

Eva e Rufino levantam.

Eva — O que você quer com tudo isso, Rufino? É me exorcizar? Você vem praticando

esse ritual durante todos esses anos com qual objetivo?

Rufino — Purificar tua alma, pra que você possa subir aos céus junto comigo. Você, eu

querendo ou não, foi a alma escolhida por Deus para ser mãe de um ser abençoado

como Pedro é. Ele a usou, assim como usou Maria, para ser mãe de Jesus. Mas ao

contrário dela, você é cheia de pecados. Pecados mortais. Todos os sete pecados!

Eva — Todo mundo tem pecado, Rufino. Inclusive você, que se julga puro, sem

pecados, a um passo do céu! (rindo) O único jeito de você conseguir um lugar no

Paraíso é comprando um pedacinho, como os padres da Idade Média ofereciam.

Mas como isso não é possível, vamos de mãos dadas para o inferno! Ter matado

um padre foi sua sentença final, Rufino!

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Rufino — Eu devia ter te matado, como todos pensam, que você está morta.

Eva — Deveria mesmo. Eu seria mais uma alma pra te atormentar, junto com a do

padre Januário. Não te deixaria em paz nenhum momento, até você enlouquecer.

(t) Um monstro como você não merece o filho que tem. Não merece mesmo!

Rufino levanta a mão para bater em Eva. Narcisa chama no exato momento em que ele ia descer a mão.

Narcisa — (off) Seu Rufino, telefone! É o Arcebispo!

Rufino desiste e saí.

Eva — É por você que eu agüento isso tudo, meu filho.

Corta para:

CENA 18. CASA RUFINO. SALA. INTERIOR. DIA

Abre na mão de Rufino pegando o telefone. Ele se senta.

Rufino — (pomposo) Que honra falar com Vossa Eminência! Espero que tenha boas novas

pra mim.

Corta para:

CENA 19. HOTEL. INTERIOR. DIA

Evandro e Pacheco entram no hotel. Josy está verificando uns papeis com Olavo.

Olavo — (meloso)Prefeito, Evandro?... Que honra! Sua presença engrandece nosso dia.

Josy — Posso ajudar, prefeito?

Pacheco — O prefeito tá querendo...

Evandro — (corta ríspido) Ela perguntou pra mim, Pacheco. Esqueceu-se de que o prefeito

sou eu?

Pacheco — Eu só queria que o senhor evitasse gastar saliva.

Evandro — Não é necessário. (para Josy) O quarto do Vitor, qual é?

Olavo — (para Josy) O hospede do Rio!

Josy procura no computador enquanto fala.

Josy — Eu sei! Quarto (número).

Evandro — Ele está?

Olavo — Está sim!

Evandro ruma para subir aos quartos.

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Josy — Vou anunciá-lo.

Evandro — Não precisa, menina. Vou fazer uma surpresa.

Pacheco vai junto.

Evandro — Aonde cê pensa que vai?

Pacheco — Junto, fazer a grande surpresa!

Evandro — Me espera aqui embaixo.

Pacheco — Mas...

Evandro — (corta, em cima) Mas nada! Vai desobedecer minha ordem?

Pacheco — Nunca, de forma alguma, em tempo algum!

Evandro — Muito bem. Minha conversa será em particular. Um assunto que só eu e ele

podemos resolver!

Evandro pega o elevador.

Corta para:

CENA 20. HOTEL. QUARTO VITOR. INTERIOR. DIA

Vitor está fazendo suas malas. Alguém bate na porta. Vitor vai atender. Ele abre. É Evandro, que

entra de rompante.

Vitor — (surpreso) Evandro?... Não espera você aparecer aqui!

Evandro — Precisamos ter uma conversa séria, de homem pra homem!

Eles se encaram por um momento, até Evandro dizer:

Evandro — Tô vendo que já está arrumando suas coisas!

Vitor — Sim! Vamos embora hoje!

Evandro — Já não era tempo. E espero que não volte mais. Você e sua família não tem mais

nada o que fazer em Jandaía. O tempo passou, cada um seguiu seu caminho.

Vitor — (atingido) Você está dizendo do meu relacionamento com a Clarisse?

Evandro — Minha esposa. Clarisse é minha esposa!

Vitor — (voz) Mas sou eu quem ela ama!

Evandro — (ameaçador)Espero que você a esqueça, pro seu bem. E para o bem dela

também.

Vitor — (provocando) Qual é o motivo da sua inesperada visita afinal, Evandro?

Vitor caí na risada.

Evandro — (nervoso) Qual o motivo do riso, posso saber?

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Vitor — Agora entendi! Você está sentindo-se ameaçado com minha presença, não é?

Eu ofereço algum tipo de risco para seu casamento, prefeito?

Evandro — Que risco um sujeito como você ofereceria pro meu casamento? Agora sou eu

quem acho graça! (risos)

Vitor — O sujeito por quem sua esposa foi apaixonada e ainda...

Evandro — Termina a frase!

Vitor — Continuo sendo!

Evandro — (tom) Você é muito canalha mesmo, Vitor. Depois de tudo o que fez com

Clarisse, o quanto a fez sofrer, ainda afirma ser o homem por quem ela ainda

nutre sentimentos, ama? O único homem que ela ama sou eu, quem lhe deu

conforto, amor de verdade, quando ela estava despedaçada, sem rumo, sem

ninguém. (t) Clarisse pode sim estar um pouco confusa. Mas você sabe tão bem

quanto eu que o que houve entre vocês ficou no passado. Morreu quando você a

abandonou para ir pro Rio de Janeiro, de onde nunca mais deveria ter saído.

Vitor — Amor como o nosso nunca termina.

Evandro — Esquece a Clarisse, esquece minha família, essa cidade. Tudo isso pra você é

passado, não é? Enterra esse passado novamente, agora que você o desencavou,

como você esqueceu durante todos esses anos. Fica com sua esposa, com seu

filho, que é o melhor que você faz!

Evandro abre a porta e antes de sair.

Evandro — Isso não é um conselho, é uma advertência do que pode vir caso você não tenha

compreendido o que acabei de dizer!

Evandro saí e bate à porta com força.

Vitor — Será que ele tem razão? Devo esquecer Clarisse, mesmo sentindo que nosso

amor continua vivo e pulsante? Ela tem uma família e eu tenho a minha. Filhos é

para sempre!

Corta para:

CENA 21. CASA RUFINO. SALA. INTERIOR. DIA

Rufino desliga o telefone. Está feliz. Ele caminha até o móvel onde tem uma foto de Pedro.

Rufino — (para a foto) Você conseguiu, meu filho. Nós conseguirmos!

Ele caminha até o altar e ajoelha.

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Rufino — Obrigado meu Deus, minha Nossa Senhora. Eu sabia que vocês iriam fazer o

certo, que não iam me decepcionar!

Corta para::

CENA 22. LOJA CLARISSE. INTERIOR. DIA

Clarisse termina de atender uma cliente, finalizando uma compra.

Clarisse — (para cliente) Volte sempre!

Claudionora vem do estoque.

Claudion — Já acabei de arrumar o estoque. Estou em frangalhos. Morta de cansada, mas

sempre linda, é claro!

Clarisse — Eu queria me desculpar da forma como falei com você, Cláudia. Fiquei nervosa

com a presença daquela mulher!

Claudion — Posso perguntar o por quê? Eu sei que não é da minha conta, mas... não custa

tentar desfazer a curiosidade.

Clarisse — Histórias do passado, do presente. Quando os dois tempos se encontram, acaba

trazendo uma onda de conseqüências, que mexem com todos os envolvidos!

Claudion — Passado é passado. Morreu, morreu!

Clarisse — Eu também pensava assim, que o passado estava morto e enterrado. Mas

quando me dei conta, o vi entrando pela porta da igreja, com a mulher e o filho

do lado.

Claudion — O seu grande amor? O homem que você amou no passado?

Clarisse — (voz) E que ainda amo no presente. Mas não posso amar no futuro! (para

Claudion) Amei. Deixei de amar.

Claudion — Pode desabafar, Clarisse. Conte tudo e não me esconda nada!

Clarisse acha graça.

Clarisse — (saindo, de rompante) Cuida da loja pra mim que não demoro!

Clarisse saí.

Claudion — Aonde a senhora vai? Temos muita coisa pra fazer aqui!

Clarisse não fica para responder Claudionora.

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Claudion — A patroa saí, sobra pra funcionária aqui. Meus dias de escrava Isaura está

acabando. Tenho fé nisso! Se prepare Gisele Bündchen, que Claudionora está

chegando. (corrigindo) Cláudia!

Corta para:

CENA 23. RIO DE JANEIRO. RUA. EXTERIOR. DIA

Sarah desce do ônibus, reclamando por estar lotada.

Sarah — (reclamando) Quase morro sufocada... Meu Deus do céu, isso não é vida pra

mim, não! Acorda aí, todo poderoso! Olha por sua filha logo aqui, porque a situação

está brava, periclitante.

Sarah caminha. Ela passa em frente a uma joalheria e pára. Observa uma linda jóia. Sarah tira um pão

com mortadela da bolsa, enrolado num papel alumínio e come, enquanto observa não apenas a jóia em

destaque, como as outras também. Qualquer semelhança com a cena do filme: Breakfast at Tiffany’s,

não é mera coincidência não! Um segurança se aproxima dela.

Segurança— É melhor ce ir dando o fora!

Sarah — Só estou olhando! Não vou roubar não!

Segurança— (tom) Tu pode sair por bem ou por mal.

Sarah — Um dia tu vai me ver entrando por essa porta e comprando tudo isso. Vou fazer

você lamber meus sapatos, cravejados de diamante!

Sarah saí resmungando.

Corta para:

CENA 24. PRAIA. JANDAÍA. EXTERIOR. DIA

Vitor caminha pela areia, carregando o sapato nas mãos. Caminha pensando, apreciando a paisagem.

Corta para Clarisse também caminhando na areia, brincando com as ondas, pensando. Os dois se

encontram. Fica se olhando por um momento, sem falar nada.

Vitor — Estava mesmo precisando falar com você!

Corta para:

CENA 25. IGREJA JANDAÍA. INTERIOR. DIA

Licurgo está dormindo. Zinha mexe com ele, tentando acordá-lo. Licurgo acorda sonolento, com a visão

embaçada. No lugar de Zinha ele vê padre Januário.

Licurgo — O senhor não morreu padre!

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Zinha — Sou eu Licurgo, Zinha! Padre Januário morreu, esqueceu?

Licurgo — Ele não morreu! Ele não morreu! Está aqui, comigo, pra onde que eu vou, padre

Januário está comigo!

Zinha — Agora ele está descansando do lado de Nosso Senhor! E você, dormiu aqui?

Licurgo — Dormi! Senti tanto frio!

Zinha — Já tomou café?

Licurgo — Ainda não! Minha barriga tá até roncando! Mas não posso. Tenho que fazer meu

santos. Padre Januário gostava muito dos meus santos. Ele dizia que eram muito

bonitos. Que eu tinha uma mão abençoada!

Licurgo caminha apressado pra fora da igreja.

Zinha — (indo atrás) Espera Licurgo. Saco vazio não para em pé! Vamos até o hotel, lá

tem um café delicioso. Minha neta trabalha lá. Eu ainda não tomei café também.

Licurgo — A senhora tá me convidando?

Zinha — Sim!

Licurgo — Mas o café no restaurante do hotel do seu Rufino é muito caro! Eu não tenho

dinheiro. Os turistas não estão comprando muito minhas imagens.

Zinha — Esse povo sem fé, esses fariseus, não compram mesmo. Mas vamos lá, quanto

ao dinheiro... vemos mais tarde, depois de nos fartarmos!

Zinha se dá conta do pecado da gula, e se benze.

Zinha — (arrependida) Eu não quis dizer isso, senhor! Me expressei errada. Não sou

gulosa!

Licurgo — Se é assim, então vamos!

Os dois se benzem e caminham pra fora da igreja.

Licurgo — (rompante) Espera!

Zinha — O que foi, Licurgo? Aconteceu alguma coisa?

Licurgo — Quando será que o novo padre vai chegar? A igreja não pode ficar sem um

padre!

Zinha — Tem razão, Licurgo. Mas o seu Rufino diz que já por dentro desse assunto. Pra

mim ele já sabe o padre que foi designado pra cá. Eita homem bom é o seu Rufino!

Licurgo — (desconfiado) Bom, né? Sei!

Zinha — O que ce tá querendo dizer, Licurgo?

Licurgo — Eu não.. Licurgo não quer dizer nada...

Eles saem da igreja.

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CENA 26. CASA RUFINO. SOTÃO. INTERIOR. DIA

Narcisa acabou de deixar uma bandeja com o café da manhã de Eva. Elas conversam.

Eva — (aflita) Me fala alguma coisa, Narcisa! Como está meu filho? O Pedro. Sinto

tanta saudade dele.

Narcisa — Seu Rufino me proibiu de dizer qualquer coisa do Pedro pra senhora.

Eva — Mas sou a mãe dele. Tenho direito!

Narcisa — Enquanto ele não a livrar de todos seus pecados, purificar seu corpo, sua alma,

a senhora continua sendo uma impura, imunda. Uma mãe que não merece o filho

que tem!

Eva — É o Pedro que não merece o pai que tem! Você acredita Narcisa, que o Rufino

tem todo esse poder? Quem é o Rufino pra você?

Narcisa — Um ótimo patrão, um homem decente, honesto, que só quer o bem das pessoas,

inclusive o de você, Eva, mesmo depois de tudo o que fez pra ele, em prejudicá-lo.

Rufino entra.

Rufino — (para Narcisa) Pode ir, Narcisa!

Narcisa — Depois eu voltou pra buscar a bandeja.

Narcisa saí.

Rufino — Tava tentando saber do Pedro? Eu escutei você perguntando pra Narcisa!

Eva — Você fez lavagem cerebral nela, assim como fez no Pedro, até convencê-lo a se

tornar padre, aceitar fazer os votos! Tenho certeza, que por vontade própria, ele

nunca tinha seguido esse caminha. Ser padre não era a vocação do Pedro!

Rufino — Como você pode saber isso? Conhece os desígnios de Deus?

Eva — Conheço meu filho. Mesmo não tendo convivido o tempo que queria ao seu lado,

já que eu morri, não foi isso?

Rufino — Morreu! Está morta e enterrada, para o Pedro e para toda cidade! Hoje, como

acordei de bom humor, vou saciar sua curiosidade sobre o Pedro.

Eva — Fala logo.

Rufino — Pedro é o novo padre de Jandaía. A Curia acabou de decidir e aceitar seu nome

para ser o responsável pela nossa paróquia.

Eva fica em silêncio, pensando.

Eva — Conseguiu, não é Rufino? Você conseguiu!

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Rufino — Sim! Consegui! (deslumbrado) Sou o novo padre de Jandaía, como sempre

sonhei!

Eva — (corrigindo) Pedro é o novo padre de Jandaía. (debochando) Ficou louco de vez!

Rufino — Eu e Pedro, não importa. Ele sendo o novo padre, é como se eu também fosse!

Vou lhe dar essa notícia pessoalmente!

Corta para:

CENA 27. PRAIA JANDAÍA. EXTERIOR. DIA

Vitor e Clarisse.

Clarisse — (exaltada) O que você quer que eu faça: largue tudo, deixe minha vida, meu

filho, minha loja, minha família, pra ir pro Rio junto com você, sua esposa e seu

filho? Me torne sua amante? É isso, Vitor? Não sei o que você está querendo!

Vitor — (doce) Que você me espere! Tenha paciência e me espere!

Clarisse — Foi essa mesma frase que você disse quando foi pro Rio de Janeiro anos atrás.

Não se lembra? É como se eu revivesse toda aquela dor, de estarmos nos

separando, algo que até então nunca tinha acontecido. Contando os dias da sua

volta, que não acontecia. Não vou te esperar, pois nós não temos esse tempo. A

vida segue, Vitor, como seguiu. Hoje somos casados, temos nossas próprias vidas.

Vitor — Mas ainda podemos ser felizes juntos.

Clarisse — Como? Pegar uma borracha e desmanchar nossas famílias, como se eles nunca

tivessem existidos? Se essa borracha milagrosa, que apaga todos os problemas

existisse, todos iam querer!

Vitor — Vou pensar num jeito! Eu sei que existe um jeito!

Clarisse — Você se lembrou do caminho até Jandaía, pode voltar mais vezes. Vou estar

aqui, vivendo minha vida, como vivi durante todos esses anos sem você, esperando

esse tal jeito.

Clarisse vai embora. Vitor segura sua mão. Eles se olham. Depois ele a solta e Clarisse vai embora.

Vitor senta na areia e chora, como uma criança.

Corta para:

CENA 28. MERCADO DE PEIXE. JANDAÍA. EXTERIOR. DIA

Moisés, Neco, outros pescadores lidando com o peixe. Uns vendendo, outros descarregando mais.

Agitação, falatório.

Neco — Não vejo a hora de ter meu próprio barco, sem precisar de usar os barcos da

frota do seu Rufino.

Moisés — Mas ele é um patrão bom, não é?

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Junior — É um homem muito direito.

Neco — Acho que direito até de mais. Não sei, mas tem alguma coisa nele que me

perturba. Acho que é o negócio do santo não bater.

Junior — Não tenho nada contra seu Rufino.

Moisés — O Neco que é muito implicante, Junior. Eita homem difícil, é tu!

Neco — Sou calejado, Moisés! Conheço as pessoas. Já rodei muito por aí, vi, ouvi e vivi

muita coisa!

Moisés — Mas não fácil conseguir ter meu próprio barquinho. Cês sabem bem como ralei

igual um condenado, com minha mulher do lado.

Neco — Tudo que vem fácil, vai fácil. Eu me apego com Iemanjá, pedindo que ela me dê

essa graça, me de meu barquinho. Não precisa ser novo não, pode tá usando, com

tanto que esteja bom pra me usar, pegar meus peixes

.

Vitor aparece, com os olhos marejados de chorar.

Moisés — (para Vitor, surpreso) Vitor? O que aconteceu?

Vitor — Podemos conversar, Moisés?

Moisés — Claro amigo!

Vitor — Preciso muito do teu ombro amigo, dos teus conselhos...

Moisés — (para Neco) cuida de tudo aí pra mim, Neco. Já volto!

Neco — Pode deixar, Moisés!

Corta para:

CENA 29. QUARTO EVANDRO. INTERIOR. DIA

Evandro está deitando, sentindo muita dor de cabeça. O quarto está todo escuro. Ambrosinha entra

com uma bacia de água. Pacheco tira o pano que está na testa de Evandro, molha na bacia, torce e

coloca no mesmo lugar.

Evandro — Esse pano que tu ta colocando na minha testa, não tá adiantando nada! Acho

que tá é piorando!... Que dor, meu Deus! Que dor de cabeça!

Ambrosinha— (baixo) São os chifres!

Pacheco — Receita da minha falecida vozinha!

Ambrosinha— Eu também nunca ouvi falar que isso é bom pra curar dor de cabeça.

Evandro — E meu anjo, Pacheco? Será que eu mesmo que vou ter que tapa as vergonhas do

anjo? Fazer a tal parreira?

Pacheco — É claro que não, prefeito! Consegui dobrar o velho e ele vai vir até aqui. As

vergonhas do anjo vão ser cobertas, pelas mesmas mãos que o fez!

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Ambrosinha— Assim espero!

Evandro — Assim espero também!

Corta para:

CENA 30. CASA DE RUFINO. QUARTO DELE. INTERIOR. DIA

Narcisa terminando de arrumar uma pequena mala, com poucas peças de roupa. Rufino está

terminando de se arrumar na frente do espelho.

Rufino — São Paulo, Narcisa. Vou até lá contar ao Pedro a novidade. Ele ainda não sabe

que é o novo padre de Jandaía, já que a notícia não é oficial. Como tenho muita

amizade com o Arcebispo, e pedi a interseção dele, ele me contou em primeira

mão!

Narcisa — É um orgulho pra mim saber que o menino, de quem eu curei o umbigo, troquei

as primeiras fraldas, vi crescer, vai ser o padre que me dará a comunhão, com

quem eu confessarei, mesmo não tendo pecados... Enfim, nos abençoará!

Rufino — Nem me diga, Narcisa. E eu então como pai! Nossa, não podia estar mais feliz!

Corta para:

CENA 31. CASA RUFINO. SALA. INTERIOR. DIA

Narcisa e Rufino. Sua mala está no chão.

Narcisa — O táxi acabou de chegar!

Rufino pega sua mala.

Rufino — Cuida de tudo pra mim, que não demoro. Fica de olho nela. E qualquer coisa me

liga, estou com o celular.

Rufino saí.

Narcisa — Vai com Deus! Que Ele o acompanhe e o traga de volta em segurança.

Corta para:

CENA 32. QUARTO DE REBECA. INTERIOR. DIA

Rebeca está deitada, pensando. Ela acaba pegando no sono.

Corta para:

CENA 33. SONHO REBECA. LUGAR ESCURO

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Rebeca está perdida nesse lugar desconhecido, escuro, esquisito. Ela caminha e se depará com um

enorme cruz, com imagem de Cristo crucificado. Rufino aparece de repente, vindo do escuro! Tudo

muito rápido, em seqüências marcada por uma música pesada, de igreja, como algum canto gregoriano

por exemplo. Rebeca está atormentada, abalada!

Rufino — Ele é padre! Não pode se casar com você!

Rebeca — Mas eu o amo!

Rufino — Você não pode amar um padre!

Jeferson aparece. Rebeca fica cercado por Rufino e Jeferson, sempre muito atormentada, chorando,

querendo fugir dali, mas sem saber como.

Jeferson— Eu te amo, Rebeca. Você tem que se casar comigo! Eu sou o homem da sua vida!

Rebeca — (para Jeferson) Eu amo o Pedro. Eu não te amo, Jeferson!

Rufino — O Pedro não te ama, nunca te amou! Ele fez os votos, pertence a Deus agora.

Deixou de ser um homem, pra ser um instrumento do Altíssimo!

Rebeca — (para Rufino) Cala a boca! Você o obrigou a ser padre. Ele não queria, Pedro me

amava, íamos ser felizes juntos, nos casar, ter filhos... Eu te odeio, Rufino! Eu te

odeio!

Jeferson— Vamos ter muitos filhos, sermos muito felizes Rebeca... Nos dois.

Corta para:

CENA 34. QUARTO REBECA. INTERIOR. DIA

Rebeca acorda assustada. Ela se recupera do sonho estranho.

Rebeca — Eu queria te amar, Jeferson, mas não consigo!

Corta para:

CENA 35. BAR FILINTO. INTERIOR. DIA

Filinto acaba de servir uma cerveja para Moisés e Vitor.

Filinto – Vão querer uns petisco, pra irem beliscando?

Moisés — Pode trazer, Filinto!

Filinto vai buscar o petisco.

Moisés — Tu nem precisa dizer o porque de tu está assim. Já sei! Que amor complicado,

Vitor!

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Vitor — Já viu algum amor, fácil? E se está tranqüilo, pode saber que alguma coisa

aparecerá para colocar a prova o sentimento, se resistirá a uma tempestade!

Moisés — Você esperava que a Clarisse largasse tudo por sua causa?

Vitor — Não esperava encontrá-la casada, com filho, sendo primeira dama de Jandaía.

Moisés — Ela não podia ficar te esperando por toda vida, Vitor? Vamos ser franco, tu

sumiu no mundo, dizendo que ia pro Rio de Janeiro ficar rico, mas que voltava. E

isso não acontecia. O tempo passou pra todo mundo!

Vitor — Fiquei deslumbrado com o mundo que o Rio me apresentou. Crescemos num

mundo simples, criados num sítio, e quando me vi numa cidade grande, empregado,

minha ambição me engoliu por completo. Eu só pensava em trabalhar, trabalhar,

conseguir dinheiro, e mais nada.

Moisés — Acho que o melhor que você faz é voltar pro Rio e tentar esquecer da Clarisse.

Vitor — Nós nos beijamos na praça.

Moisés — Quando?

Vitor — Ontem. Na praça, no meio daquele temporal. Ela me ama, assim como eu a amo.

Estou disposto a me separar da Ágatha. Nosso casamento está desgastado. No

fundo, nunca amei Ágatha de verdade. Casei por ela ter ficado grávida de Bruno.

Mesmo não me lembrando de Clarisse, do que nos vivemos, algo no meio

inconsciente me dizia que eu já tinha encontrado a mulher da minha vida.

Moisés — O Evandro é muito ciumento. Se ele souber disso, que vocês se beijaram na

praça...

Vitor — Ele não sabe disso, mas sabe do houve entre nos. Foi até o hotel, me ameaçar,

mandando eu sumir da vida da Clarisse, dessa cidade, não voltar nunca mais pra

cá! Vê se pode uma coisa dessas? Só porque é o prefeito acha que tem o poder de

permitir que entra e quem saí de Jandaía.

Moisés — Evandro Copola é um homem influente, Vitor, poderoso! É bom tu tomar

cuidado com ele. Ele pode até não colocar a mão na mas, mas tem gente que faz

isso no lugar dele.

Vitor — (achando graça) Tá falando daquele capacho dele? O Pacheco?

Moisés — Não só dele. Gente que tem dinheiro, poder, forma em torno de si uma rede de

influência, pessoas que são motivas pelo dinheiro, fazendo qualquer tipo de

serviço.

Vitor — (firme) Não tenho medo do Evandro!

Moisés — (sisudo) Se eu fosse você teria!

Corta para:

CENA 36. CONFEITARIA. INTERIOR. DIA

Rebeca entra na confeitaria. Ela está triste, distante. Jeferson que atende uma mesa, quando a vê,

abre um largo sorriso.

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Jeferson— (beijando) Que surpresa boa te ver aqui, minha linda! Tava com saudades!

Rebeca — (direta, fria) Precisamos conversar, Jeferson.

Jeferson— Sobre o nosso casamento? Eu também queria conversar com você pra acertar

alguns outros detalhes, que acabou passando...

Rebeca — (corta) Envolve nosso casamento. Mas é mais especificamente sobre nos dois!

Corta para:

CENA 37. LUGAR BONITO. EXTERIOR. DIA

Rebeca e Jeferson.

Jeferson— Aconteceu alguma coisa Rebeca? Você tá com um olhar triste, distante... Me

fala! Já estou ficando preocupado!

Rebeca — O que eu sou pra você, Jeferson?

Jeferson— (estranhando) Que pergunta é essa Rebeca? Você é minha futura esposa, a

mulher que eu amo, que escolhi pra viver do meu lado, construir uma família, ter

uma penca de filhos!

Rebeca — Por que você gosta de mim?

Jeferson— Não estou entendendo o porque dessas perguntas estranhas, Rebeca! Agora

tenho certeza que alguma coisa aconteceu!

Rebeca — É que eu pensei muito sobre nos dois. Quase não dormi direito, fiquei a manhã

todo pensando em nós dois!

Jeferson— Eu penso em você vinte e quatro horas por dia. Minha vida só tem sentindo por

você, Rebeca! Eu não era feliz, eu apenas vivia, sem expectativas do amanhã. E

agora não, agora eu faço planos, quero que o dia seguinte chegue!

Rebeca — E se eu desistisse de tudo agora?

Jeferson— Acho que sem você eu morreria! Me atiraria no mar! (t) Agora entendi! Você tá

querendo fazer um teste. Testas meu amor. Por isso essas perguntas estranhas...

Pode ter certeza, Rebeca, meu amor por você é maior do que o Sol, o Universo.

Eu daria minha vida pela sua, sem pensar duas vezes!

Corta para:

CENA 38. PRAIA JANDAÍA. EXTERIOR. DIA

Vitor olha fixo para o mar. Em cortes descontínuos vemos ele tirar sua roupa até ficar de sunga e

entra no mar. Brinca como se fosse uma criança. Bruno aparece.

Vitor — (para Bruno) Vem filho! A água está deliciosa!

Bruno tira a camisa e entra de calção. Ele se junta ao pai. Os dois demonstra o carinho, amor que

existe entre eles.

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Bruno — Eu te amo, pai! Tenho muito orgulho do senhor!

Corta para Vitor e Bruno sentados na areia, conversando.

Bruno — Fiz um amigo aqui!

Vitor — Quem?

Bruno — O Nicolau! Ele é muito gente boa.

Vitor — Tem razão. Também gostei muito dele. Um ótimo garoto. Eu me vejo muito no

Nicolau, com a idade dele. Nos parecemos muito!

Bruno — Vou sentir saudades, dele! Vamos voltar?

Vitor — Claro, meu filho! Agora que redescobri o caminho da minha terra natal, nunca

mais esqueço! Jandaía para sempre em minha vida, assim como meus amigos!

Vitor e Bruno levantam e caminham pela areia.

Vitor — (voz) Chegou o momento de partirmos, filho! Sua mãe deve estar desesperada!

Corta para:

CENA 39. HOTEL. FRENTE. EXTERIOR. TARDE

Vitor, Ágatha e Bruno estão pronto para irem embora. O táxi já os espera. Calinda, Djalma, Moisés,

Olavo, Josy, Licurgo, Zinha, Jeferson, Rebeca. Da janela do quarto de Clarisse vemos ela observando

a despedida de Vitor. Uma lágrima escorre do seu rosto. Vitor olha para a janela e acenam. Ela acena

e fecha a cortina em seguida. Nicolau chega correndo, trazendo na mão a sua bola de futebol.

Nicolau — (para Bruno, entregando) Pro cê treinar, pra quando você voltar...

Bruno — Eu vou voltar. Eu e meu pai vamos voltar.

Nicolau e Bruno se abraçam. Vitor, Ágatha e Bruno entram no táxi, que vai embora. Todos acenam,

despedindo.

Corta para:

CENA 40. RUAS SÃO PAULO. EXTERIOR. TARDE

Pedro está entregando refeição para os moradores de rua, junto com outros padres, com voluntários.

Eles caminham, entregam, conversam, dão uma palavra de conforto.

Pedro — (para os moradores, quando entrega a refeição) Que Deus esteja contigo, meu

irmão!

Corta para:

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CENA 41. ORFANATO. INTERIOR. TARDE

Pedro chega. Uma criança se aproxima dele.

Criança — Tem uma visita pro senhor, padre Pedro!

Pedro — Uma visita? Quem será?

Corta para:

CENA 42. ORFANATO. SALA. INTERIOR. TARDE

Pedro abre a porta e se depara com Rufino sentado.

Pedro — (abraçando, feliz) Pai... Que felicidade ver o senhor aqui!

Rufino pega a mão de Pedro e beija.

Rufino — Me abençoa, filho!

Pedro fica um pouco constrangido, mas faz.

Pedro — (dando a bênção) Deus te abençoe, meu pai!

Pedro e Rufino sentam.

Pedro — Qual é o motivo da visita? Aconteceu alguma coisa?

Rufino — (feliz) Aconteceu, meu filho. Uma coisa maravilhosa.

Pedro — Fala, pai! O que foi?

Rufino toma um ar e fala.

Rufino — Pedro, você é o novo padre de Jandaía!

Pedro fica surpreso. De sua reação, corta para:

FIM DO CAPÍTULO 7