Catequese - A Nova Cidade de Deus, Centro de Toda a Humanidade - Is_2_2-5

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    Isaas 2, 1 5[a]

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    Biblia Hebraica, Rudolf Kittel. Pars II,Lipsiae. J.C.Hinrichs, 1906. p. 555.

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    Cntico Is 2,2-5

    A montanha da casa do Senhor

    mais alta do que todas as montanhas

    Todas as naes viro prostrar-se diante de Ti (Ap 15,4).

    2Eis que vai acontecer no fim dos tempos, *que o monte onde est a casa do Senhor

    ser erguido muito acima de outros montes, *e elevado bem mais alto que as colinas.

    Paraele acorrero todas as gentes, *3muitos povos chegaro ali dizendo:

    Vinde, subamos a montanha do Senhor, *vamos casa do Senhor Deus de Israel,

    para que ele nos ensine seus caminhos, *e trilhemos todos ns suas veredas.

    Pois de Sio a sua Lei h de sair, *Jerusalm espalhar sua Palavra.

    4Ser ele o Juiz entre as naes *e o rbitro de povos numerosos.

    Das espadas faro relhas de arado *e das lanas forjaro as suas foices.

    Uma nao no se armar mais contra a outra, *nem havero de exercitar-se para a guerra.

    5Vinde, casa de Jac, vinde, achegai-vos, *caminhemos sob a luz do nosso Deus!

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    Catequese do Papa Joo Paulo II

    Audincia Geral,(Salmo 83, 1 13 Quarta-feira, 4 de setembro de 2002)[b]

    A nova cidade de Deus, centro de toda a humanidade

    1. A Liturgia quotidiana das Laudes, alm dos Salmos, propesempre um Cntico tirado do Antigo Testamento. De fato, sabemosque, paralelamente ao Saltrio, verdadeiro e prprio livro da oraode Israel e depois da Igreja, existe uma espcie de outro Saltriodistribudo pelas vrias pginas histricas, profticas e sapienciais daBblia. Tambm ele constitudo por hinos, splicas, louvores einvocaes, muitas vezes de grande beleza e intensidade espiritual.

    Na nossa peregrinao espiritual pelas oraes da Liturgia dasLaudes, j encontramos muitos destes cnticos que constelam as pginas bblicas. Tomamos agora em considerao um, deverasadmirvel, obra de um dos mximos profetas de Israel, Isaas, queviveu no oitavo sculo a.C. Ele testemunha de momentos difceisvividos pelo reino de Jud, mas tambm cantor da esperanamessinica numa linguagem potica altssima.

    2. o caso do Cntico que acabamos de escutar e que estcolocado quase na abertura do seu livro, nos primeiros versculos docaptulo 2, precedidos por uma nota redacional posterior que dizassim: Viso proftica de Isaas, filho de Ams, sobre Jud eJerusalm (Is 2,1). Por conseguinte, o hino concebido como umaviso proftica, que descreve uma meta para a qual tende, naesperana, a histria de Israel. No por acaso que as primeiraspalavras so: No fim dos tempos (v. 2), isto , na plenitude dos

    tempos. Por isso, um convite a no nos fixarmos no presente topobre, mas a sabermos intuir, sob a superfcie dos acontecimentosquotidianos, a presena misteriosa da ao divina, que conduz ahistria para um horizonte muito diferente de luz e de paz.

    Esta viso, com sabor messinico, ser retomada ulteriormenteno captulo 60 do mesmo livro num cenrio mais amplo, sinal de

    [b] Copyright 2006 - Libreria Editrice Vaticana; site:

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    uma nova meditao das palavras fundamentais e incisivas do profeta, precisamente as do Cntico que agora proclamamos. O profeta Miqueias (cf. 4,1-3)[c] retomar o mesmo hino, ainda quetermine (cf. 4,4-5) de maneira diferente do orculo de Isaas (cf. Is

    2,5).3. No centro da viso de Isaas ergue-se o monte Sio, que vir

    idealmente diante de todos os outros montes, sendo habitado porDeus e, por conseguinte, lugar de contato com o cu (cf. 1Rs 8,22-53)[d]. Dele, segundo o orculo de Isaas 60,1-6, difundir-se- uma luz que

    [c] Mq 4,1Nos ltimos dias, acontecer que o monte da casa de Jav ficar firme no topo dasmontanhas e se elevar acima das colinas. Para l correro os povos 2e at l iro numerosas naes,dizendo: Vamos correndo para o monte de Jav, para o Templo do Deus de Jac; a aprenderemos seus

    caminhos, para seguirmos os seus rumos. Porque de Sio sair a lei e de Jerusalm vir a palavra deJav! 3Ele ser o juiz da multido dos povos, e dar sentena para as naes poderosas, at para as maisdistantes. De suas espadas vo fazer enxadas, e de suas lanas faro foices. Um povo no vai mais pegarem armas contra outro, nunca mais aprendero a fazer guerra. 4Cada um poder sentar-se debaixo de suaparreira ou da sua figueira, sem ser perturbado, pois assim disse a boca de Jav dos exrcitos. 5Todos ospovos caminham, cada qual em nome do seu deus; ns, porm, caminhamos em nome de Jav, nossoDeus para sempre![d] 1Rs 8,22Salomo ficou em p diante do altar de Jav, na presena de toda a assembleia de Israel.Estendeu as mos para o cu, 23e disse: Jav, Deus de Israel, no existe nenhum deus como tu, seja lno alto do cu, seja c embaixo na terra. Tu s fiel aliana e ao amor para com teus servos quecaminham de todo o corao na tua presena. 24Cumpriste a promessa que havias feito ao teu servoDavi, meu pai, e o que prometeste com a boca, hoje realizaste com a mo. 25Agora, Jav, Deus de Israel,mantm a promessa que fizeste a teu servo Davi, meu pai: Nunca faltar para voc, diante de mim, umdescendente no trono de Israel, contanto que seus filhos saibam se comportar, vivendo de acordocomigo, assim como voc viveu. 26Agora, portanto, Deus de Israel, confirma a promessa que fizeste ateu servo Davi, meu pai. 27Ser possvel que Deus habite na terra? Se no cabes no cu e no mais altodos cus, muito menos neste Templo que constru. 28Atende orao e splica do teu servo, Javmeu Deus! Ouve o clamor e a prece que teu servo faz hoje diante de ti. 29Que teus olhos fiquem abertosdia e noite sobre este Templo, sobre este lugar onde quiseste que teu Nome habitasse. Ouve a prece queteu servo far neste lugar. Converter-se para ter uma nova histria 30Ouve as splicas do teu servo edo teu povo Israel, quando rezarem neste lugar. Escuta de tua morada no cu. Escuta e perdoa. 31Quandoalgum pecar contra o seu prximo e, porque lhe tiverem exigido um juramento imprecatrio, vier parajurar diante do teu altar neste Templo, 32escuta do cu e age. Julga os teus servos: condena o culpado,

    dando-lhe o que merece, e absolve o inocente, tratando-o conforme a justia dele. 33Quando teu povoIsrael for derrotado pelo inimigo por ter pecado contra ti, se ele se converter, confessar-se ao teu Nome,rezar e suplicar a ti neste Templo, 34escuta do cu, perdoa o pecado do teu povo Israel, e faze com queele volte para a terra que deste a seus antepassados. 35Quando o cu se fechar e no cair chuva, porterem pecado contra ti, se eles rezarem neste lugar, se confessarem ao teu Nome e se arrependerem deseu pecado, porque os afligiste, 36escuta do cu, perdoa o pecado do teu servo e do teu povo Israel,mostrando-lhe o bom caminho que devem seguir, e rega com a chuva a terra que deste como herana aoteu povo. 37Quando o pas sofrer fome, peste, mela e ferrugem; quando vierem gafanhotos e pulges;quando o inimigo deste povo cercar uma de suas cidades; quando acontecer alguma calamidade ouepidemia; 38seja qual for a orao ou splica de qualquer um do teu povo Israel, que sinta remorso deconscincia; se ele erguer as mos para este Templo, 39 escuta do cu onde moras, perdoa e age. Paga a

    cada um conforme o seu comportamento, pois conheces o corao; s o nico que conhece o corao detodos. 40Desse modo, eles te respeitaro, enquanto viverem na terra que deste aos nossos antepassados.41Se o estrangeiro, que no pertence ao teu povo Israel, tambm vier de uma terra distante por causa doteu Nome, 42pois ouviro falar do teu grande Nome, de tua mo forte e de teu brao estendido, se ele

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    rasgar e afastar as trevas e para ele se dirigiro procisses de povosde todas as partes da terra.[e]

    Este poder de atrao que Sio possui, est fundado sobre duasrealidades que promanam do monte de Jerusalm: a Lei e a Palavra

    do Senhor. Elas constituem, na verdade, uma nica realidade, que fonte de vida, de luz e de paz, expresso do mistrio do Senhor e dasua vontade.

    Quando as naes alcanam o cume de Sio, onde se ergue otemplo de Deus, eis que se realiza aquele milagre que desde sempre ahumanidade espera e pelo qual suspira. Os povos deixam cair dasmos as armas, que depois so recolhidas para serem forjadas eminstrumentos pacficos de trabalho: as espadas so transformadas emrelhas de arados, as lanas em foices. Desta forma, delineia-se umhorizonte de paz, de shalom (cf. Is 60,17)[f], como se diz emhebraico, palavra querida sobretudo teologia messinica.Finalmente desaparecem de uma vez por todas a guerra e o dio.

    vier para orar neste Templo, 43escuta do cu onde moras, e atende a todos os pedidos do estrangeiro.Assim, todos os povos da terra reconhecero o teu Nome e temero a ti, como faz o teu povo Israel. Elessabero que o teu Nome invocado neste Templo que eu constru. 44Se o teu povo sair para guerrearcontra os inimigos, e se no caminho em que o mandares ele rezar para ti, voltado para a cidade queescolheste e para o Templo que constru para o teu Nome, 45escuta do cu a sua orao e splica, e fazejustia para ele.46Quando os israelitas pecarem contra ti, pois no h ningum que no peque, e tuficares irritado contra eles, entregando-os ao inimigo, e ento eles forem levados como cativos pelosvencedores para uma terra inimiga, distante ou prxima; 47se nessa terra onde estiverem cativos, elescarem em si e, na terra dos vencedores, suplicarem: Ns pecamos, agimos mal e nos pervertemos; 48seeles se voltarem para ti de todo o corao e de toda a alma, na terra em que os inimigos os tiveremexilado; se rezarem a ti voltados para a terra que deste aos seus antepassados, para a cidade queescolheste e para o Templo que constru para o teu Nome, 49escuta do cu onde moras, escuta a orao esplica deles, e faze justia para com eles. 50Perdoa ao teu povo que pecou contra ti, perdoa todas assuas revoltas contra ti, e faze que ele encontre a benevolncia dos vencedores, e que estes usem de

    compaixo para com ele, 51porque o teu povo e a tua herana, que tiraste do Egito, do meio da fornalhade ferro. 52Que teus olhos estejam abertos para as splicas do teu servo e do teu povo Israel, paraouvires todos os pedidos que eles fizerem a ti. 53De fato, Senhor Jav, tu os separaste como tua heranaentre todos os povos da terra, como disseste atravs de teu servo Moiss, quando tiraste do Egito osnossos antepassados![e] Is 60, 1Levante-se, Jerusalm! Brilhe, pois chegou a sua luz, a glria de Jav brilha sobre voc.2Sim, a treva cobre a terra, nvoas espessas envolvem os povos, mas sobre voc brilha Jav, e sua glriaa ilumina. 3Sob a luz de voc caminharo os povos, e os reis andaro ao brilho do seu esplendor. 4Lanceum olhar em volta e observe: todos esses que a se renem vieram procur-la. Seus filhos vm de longe,suas filhas vm carregadas no colo. 5Ento, bastar ver, e seu rosto se iluminar, seu corao parecerexplodir de emoo, porque estaro trazendo para voc os tesouros de alm-mar, estaro chegando a

    voc as riquezas das naes.

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    Uma grande multido de camelos a invade, camelos de Madi e Efa; deSab vem todo mundo, ouro e incenso o que eles trazem, e vm anunciando os louvores de Jav.[f] Is 60, 17Em vez de bronze, vou trazer ouro; em vez de ferro, trarei prata; em vez de madeira, bronzee, em vez de pedra, trarei ferro. Vou dar-lhe como inspetor a paz, e como capataz a justia.

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    4. O orculo de Isaas conclui-se com um apelo, que est emsintonia com a espiritualidade dos cnticos de peregrinao aJerusalm: Casa de Jacob, vinde, caminhemos luz do Senhor (Is2,5). Israel no deve permanecer espectador desta transformao

    histrica radical; no se pode dissociar do convite que ressoou naabertura nos lbios dos povos: Vinde, subamos Montanha doSenhor (v. 3). Tambm ns, cristos, somos interpelados por esteCntico de Isaas. Ao coment-lo, os Padres da Igreja do quarto equinto sculos (Baslio Magno, Joo Crisstomo, Teodoro de Ciro,Cirilo de Alexandria) veem-no realizado com a vinda de Cristo. Porconseguinte, identificavam na Igreja o monte do templo do Senhor...erigido no cimo dos montes, do qual saa a Palavra do Senhor e parao qual acorriam os povos pagos, na nova era de paz inaugurada peloEvangelho.

    5. J o mrtir So Justino na sua Primeira Apologia, escrita porvolta de 153, proclamava a realizao do versculo do Cntico quediz: sair de Jerusalm a palavra do Senhor (cf. v. 3). Ele escrevia:De Jerusalm sairo homens para o mundo, num nmero de doze; eestes eram incultos; no sabiam falar, mas graas ao poder de Deus

    revelaram a todo o gnero humano que tinham sido enviados porCristo para ensinar a todos a Palavra de Deus. E ns, que antes nosmatvamos uns aos outros, no s j no combatemos os inimigos,mas para no mentir e no enganar quantos nos interrogam,morremos de bom grado confessando Cristo.[g]

    Por isso, de modo particular ns, cristos, aceitamos o apelo doprofeta e procuramos lanar as bases daquela civilizao do amor eda paz na qual no haja mais guerra, nem morte, nem pranto, nem

    gritos, nem dor, porque as primeiras coisas passaram (Ap 21,4).

    [g] Primeira Apologia, 39, 3; Os apologistas gregos, Roma 1986, pg. 118.