63
Monografia Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde n-3 Polyunsaturated Fatty Acids: Health Benefits Sofia Cordeiro Rocha Orientado por: Dra. Rita Costa Brotas de Carvalho Porto, 2009

Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

Monografia

Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios

para a Saúde

n-3 Polyunsaturated Fatty Acids: Health Benefits

Sofia Cordeiro Rocha

Orientado por: Dra. Rita Costa Brotas de Carvalho

Porto, 2009

Page 2: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

Page 3: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

i

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

Aos meus pais, pelo apoio e amor incondicional

Page 4: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

ii

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

Agradecimentos

À Dra. Rita Carvalho, pela orientação, disponibilidade, dedicação e

confiança.

Aos meus pais, irmão e avó, por todos os mimos e por toda a preocupação.

Ao Márcio, pelo carinho, paciência e apoio incondicional.

À Tânia e Sara pela amizade, apoio e companheirismo em todos os

momentos.

Page 5: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

iii

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

Índice

Dedicatória ......................................................................................................... i

Agradecimentos ..................................................................................................ii

Lista de Abreviaturas.......................................................................................... v

Resumo ............................................................................................................vii

Abstract ..............................................................................................................ix

Palavras-Chave .................................................................................................xi

Key-words ..........................................................................................................xi

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1

1. ÁCIDOS GORDOS POLIINSATURADOS n-3................................................ 3

1.1 Bioquímica ......................................................................................... 3

1.2 Síntese e Metabolismo ...................................................................... 4

2. SÍNTESE, ESTRUTURA E ALTERAÇÃO NEUROLÓGICA........................... 6

2.1 Desenvolvimento Cerebral................................................................. 6

2.2 Função Visual e Desenvolvimento Cognitivo..................................... 7

2.2.1 Recomendações....................................................................... 9

2.3 Saúde Mental................................................................................... 10

3. DOENÇAS INFLAMATÓRIAS ..................................................................... 12

3.1 Síntese de Eicosanóides ................................................................. 12

3.2 Propriedades anti-inflamatórias dos eicosanóides........................... 13

3.3 Patologias Inflamatórias................................................................... 15

3.3.1 Artrite Reumatóide.................................................................. 15

3.3.2 Asma ...................................................................................... 17

3.3.3 Doenças Inflamatórias do Intestino ........................................ 18

3.3.4 Psoríase ................................................................................. 20

Page 6: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

iv

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

3.3.5 Lúpus Eritmatoso Sistémico ................................................... 21

4. DOENÇAS CARDIOVASCULARES............................................................. 22

4.1Estudos Epidemiológicos Observacionais ........................................ 24

4.2 Ensaios Clínicos............................................................................... 28

4.3 Possíveis Mecanismos..................................................................... 29

5. ENVELHECIMENTO .................................................................................... 33

CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÃO................................................... 34

Page 7: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

v

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

Lista de Abreviaturas

AA – ácido araquidónico

AG – ácidos gordos

AGPI – ácidos gordos poliinsaturados

AHA – American Heart Association

ALA – ácido �-linolénico

COX – ciclo-oxigenase

DA – doença de Alzheimer

DCV – doença cardiovascular

DHA – ácido docosahexaenóico

EFA – ácidos gordos essenciais

EPA – ácido eicosapentaenóico

ICAM -1 – molécula de adesão intracelular 1

IL-1� – interleucina 1�

IL-6 – interleucina 6

IL-8 – interleucina 8

KABC – Kaufman Assessment Battery for Children

LA – ácido linoleico

LDL – low density lipoproteins

LES – lúpus eritmatoso sistémico

LOX – lipooxigenase

LT – leucotrienos

NF-�B – factor nuclear – �B

NSAID – medicação anti-inflamatória não esteróide

Page 8: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

vi

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

PASI – Índice de Severidade e Área de Psoríase

PG – prostaglandinas

PGI – prostaciclinas

PLA2 – fosfolipase A2

PUFA’s – polyunsaturated fatty acids

TG – triglicéridos

TNF-� – factor de necrose tumoral �

TX – tromboxanos

VCAM -1 – molécula de adesão celular vascular 1

VLDL – very low density lipoproteins

Page 9: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

vii

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

Resumo

Os ácidos gordos poliinsaturados (AGPI) n-3 de cadeia longa, nomeadamente o

ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA), são essenciais

ao ser humano, não só como componentes estruturais das membranas celulares

e do cérebro, mas também como precursores de mediadores bioquímicos de

respostas inflamatórias e imunológicas, denominados genericamente de

eicosanóides. Estes compostos bioactivos estão fisiologicamente envolvidos em

patologias como as doenças cardiovasculares, e doenças inflamatórias e

imunológicas, como a artrite reumatóide, asma, doença inflamatória do intestino,

psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder

influenciar beneficamente a evolução de doenças, por mecanismos ainda não

completamente esclarecidos. Nos últimos 100 anos verificaram-se profundas

alterações na alimentação dos povos ocidentais, nomeadamente o enorme

aumento da disponibilidade de gorduras de origem vegetal ricas em AGPI n-6,

com uma alteração da razão de n-6:n-3 de 1:1 para 10-25:1. Esta razão,

associada a baixos consumos de AGPI n-3, têm sido correlacionados com o

aumento de patologias como as atrás referidas, com um menor desenvolvimento

cognitivo em crianças, com a depressão major e com doenças degenerativas do

sistema nervoso central como a doença de Alzheimer. Este trabalho tem como

objectivo, elaborar uma pequena revisão, através da pesquisa bibliográfica de

estudos observacionais ou intervencionais que relacionam o consumo de peixe ou

de AGPI n-3, com possíveis efeitos benéficos para a saúde.

Ao nível da função visual e do desenvolvimento cognitivo na infância, foi

verificado que a suplementação de AGPI n-3 se correlaciona positivamente com

Page 10: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

viii

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

melhorias nos parâmetros de avaliação, principalmente em crianças pré-termo.

Na saúde mental, aportes insuficientes de AGPI n-3 revelam estar associados a

maiores prevalências de depressão pós-parto e depressão major, no entanto,

estas evidências baseiam-se maioritariamente em estudos observacionais, que

não permitem estabelecer uma relação de causalidade. Foram também

observadas claras evidências de que ingestões adequadas destes ácidos gordos

(AG) ou a sua suplementação, têm efeitos cardioprotectores, correlacionando-se

inversamente com a prevalência de doenças cardiovasculares, especialmente

doença coronária isquémica e acidente cerebrovascular isquémico. Os AGPI n-3

podem ainda melhorar a evolução de doenças com componentes inflamatórias e

imunológicas, como a artrite reumatóide, a doença de Crohn, a psoríase e lúpus.

Relativamente a patologias como a asma e colite ulcerosa notaram-se algumas

inconsistências em relação ao efeito protector e/ou terapêutico dos AGPI n-3. Por

último, níveis significativamente mais baixos de DHA ao nível dos fosfolípidos

plasmáticos e dos tecidos cerebrais, demonstraram constituir um factor de risco

para o declínio cognitivo e para a demência por doença de Alzheimer.

Dada a importância deste nutriente único, no crescimento, na saúde e na doença,

cuja relevância não me parece suficientemente reconhecida e assumida pelas

sociedades científicas e governamentais, que determinam as necessidades e

recomendações para a alimentação e nutrição humana, parece-me que, sendo o

peixe gordo a única fonte alimentar significativa de AGPI n-3 de cadeia longa, a

necessidade do seu consumo está muito aquém de ser bem divulgada,

aconselhada e promovida junto das populações.

Page 11: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

ix

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

Abstract

The long chain n-3 polyunsaturated fatty acids (PUFA’s) namely the

eicosapentaenoic acid (EPA) and the docosahexaenoic acid (DHA), are essential

to humans, not only as structural components of the cell membranes and the

brain, but also as precursors of biochemical mediators of inflammatory and

immunological responses, generally called eicosanoids. These bioactive

compounds are physiologically involved in pathologies such as cardiovascular

disease and inflammatory or immunological diseases as rheumatoid arthritis,

asthma, inflammatory bowel disease, psoriasis and lupus. The modulation of its

synthesis by n-3 PUFA’s seems to be able to beneficially influence the evolution of

diseases, by mechanisms not yet fully understood. In the last 100 years there

have been profound changes in the diet of Western nations, including the huge

increase in the availability of vegetable fats rich in n-6 fatty acids, with a change in

the ratio of n-6:n-3, of 1:1 to 10-25:1. This ratio, associated to low intakes of n-3

PUFA’s, has been correlated with the increase of diseases such as the ones

mentioned above, with a lower cognitive development in children, with major

depression and degenerative diseases of the central nervous system as the

Alzheimer's disease. This work has as an objective, to produce a small review,

through bibiographical research of observational or interventional studies that

relate the intake of fish or n-3 PUFA’s, with possible beneficial effects for health.

At the level of visual function and cognitive development in childhood, it was

observed that supplementation of n-3 PUFA’s is positively correlated with

improvements in parameters of evaluation, especially in preterm children. In

mental health, inadequate intakes of n-3 PUFA’s are associated with greater

Page 12: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

x

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

prevalence of postpartum depression and major depression. However, this

evidence is based mostly on observational studies, which do not allow establishing

a causal relation. This research also clearly shows that adequate intake of these

fatty acids or their supplementation, has cardioprotector effects, because it

correlates inversely with the prevalence of cardiovascular diseases, especially

ischemic coronary disease and ischemic stroke. n-3 PUFA’s may also improve the

development of inflammatory and immunological diseases, such as rheumatoid

arthritis, Crohn's disease, the psoriasis and lupus. For diseases such as asthma

and ulcerative colitis were noticed some inconsistencies in the protective and /or

therapeutic effect of n-3 PUFA’s. Finally, significantly lower levels of DHA in the

plasma phospholipids and brain tissues demonstrated to constitute a risk factor to

cognitive decline and dementia in the Alzheimer's disease.

Given the importance of this unique nutrient in growth, in health and in disease,

which relevance does not seem sufficiently recognized and adopted by scientific

and governmental societies, which determine the needs and recommendations for

food and human nutrition, it seems to me that, being the fatty fish the only

significant dietary source of n-3 long chain PUFA’s, the need of their intake is far

from being well divulged, advised and promoted to the public.

Page 13: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

xi

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

Palavras-Chave

Ácidos gordos poliinsaturados n-3; ácido eicosapentaenóico; ácido

docosahexaenóico; desenvolvimento cognitivo; função visual; saúde mental;

eicosanóides; doença inflamatória; doença cardiovascular; demência; peixe

gordo.

Key-words

n-3 polyunsaturated fatty acids; eicosapentaenoic acid; docosahexaenoic acid;

cognitive development; visual function; mental health; eicosanoids; inflammatory

disease; cardiovascular disease; dementia; fatty fish.

Page 14: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução
Page 15: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

1

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

INTRODUÇÃO

Os AGPI, nomeadamente o ácido araquidónico (AA 20:4 n-6) e o ácido

docosahexaenóico (DHA 22:6 n-3), são essenciais na alimentação humana (1) e

parte integrante da estrutura lipídica do cérebro (2), mas mais do que isso parecem

ter desempenhado um papel único na evolução da espécie humana,

particularmente no aumento do volume do cérebro. (3)

Dada a especificidade do tecido cerebral para o DHA, em detrimento dos AGPI n-

6 e de acordo com estudos paleontológicos, que demonstram que ao contrário

das espécies extintas Austrolopithecus afarensis ou A africanus, com volumes

cerebrais de 380 e 420 cm3, que viviam em ambientes florestais sem AGPI n-3, o

Homo sapiens, a actual espécie humana, com um volume cerebral de 1250 cm3

viveu sempre perto de costas lacustres ou marítimas, ricas em AGPI n-3, o que

terá estrutural e bioquimicamente possibilitado a expansão do cérebro.(3) De certa

forma, a demonstrada necessidade de DHA na formação do cérebro do feto e do

recém-nascido com implicações na performance cognitiva na infância, e o

possível maior declínio cognitivo ou demência com o avanço da idade, em

pessoas deprivadas de DHA, apoia esta teoria. (2)

No entanto, o papel dos AGPI n-3 não se circunscreve apenas ao cérebro. Nos

últimos 100 anos, a revolução industrial, a agricultura e a aquacultura modernas

causaram marcadas alterações na composição dos alimentos nas sociedades

ocidentais, principalmente no aumento da sua composição em AGPI n-6, e na

diminuição do seu teor em AGPI n-3.(1) Várias fontes de informação sugerem que

evoluímos de uma dieta com aproximadamente iguais proporções em AG n-3 e n-

6, passando actualmente para uma razão n-6:n-3 de 10:1 a 20-25:1.(1)

Page 16: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

2

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

O aumento da razão n-6:n-3 nas dietas ocidentais tem sido apontado como uma

causa provável para o aumento da incidência de patologias como as doenças

cardiovasculares e doenças inflamatórias nas suas populações.(4) Na base desta

teoria está o papel desempenhado pelos AGPI, na biossíntese de mediadores

inflamatórios, denominados eicosanóides, com funções fisiológicas distintas

conforme derivem de AG n-3 ou n-6. Enquanto que os eicosanóides sintetizados a

partir dos AG n-6 são potentes agentes pró-inflamatórios, os que derivam dos AG

n-3 exercem uma acção anti-inflamatória (4, 5), com possíveis efeitos favoráveis na

evolução de distúrbios inflamatórios como a artrite reumatóide, a asma, doenças

inflamatórias do intestino, psoríase e lúpus.

Na doença cardiovascular, a 1ª causa de morte em países desenvolvidos (6), o

papel dos AGPI n-3 foi extensivamente investigado, e hoje em dia sugere-se que

estes exercem um efeito cardioprotector, directamente relacionado com

propriedades anti-trombóticas, anti-inflamatórias e hipolipidémicas.(7)

A dimensão da importância dos AGPI n-3 no crescimento, na saúde, na doença e

até na eventual evolução da espécie humana, é fascinante e incentivou

fortemente a realização deste trabalho, que tentou abranger o maior número de

possíveis implicações na saúde humana, tendo apenas conseguido rever uma

pequena parte da imensa pesquisa desenvolvida ao longo das últimas décadas

sobre esta temática.

Page 17: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

3

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

1. ÁCIDOS GORDOS POLIINSATURADOS n-3

1.1 Bioquímica

Os AG são constituídos por cadeias hidrocarbonadas de extensão variável, com

duas extremidades distintas compostas por um grupo carboxílico e um grupo

metil. Estes podem ser saturados ou insaturados, respectivamente pela ausência

ou presença de duplas ligações. A presença de duas ou mais duplas ligações

caracteriza os AGPI, enquanto que os monoinsaturados compreendem apenas

uma dupla ligação. (8)

A nomenclatura utilizada para descrever um determinado AG, dá-nos informação

sobre o comprimento da cadeia, o número e posição das duplas ligações,

incluindo a posição da 1ª dupla ligação. Existem dois sistemas distintos de

descrever a localização das duplas ligações: a designação � ou n, na qual a

contagem dos átomos de carbono tem início no carbono metílico terminal, e a

designação Δ cuja contagem dos átomos de carbono é efectuada a partir do

grupo carboxílico. (9)

De acordo com a posição da primeira dupla ligação, e segundo a designação n,

surgem duas grandes classes de AGPI, os AG n-3 e n-6, cujas primeiras ligações

duplas se encontram respectivamente, entre o 3º e 4º e entre o 6º e 7º carbonos.

Figura 1 – Estrutura dos ácidos linoleico (LA 18:2n-6) e α-linolénico (ALA 18:3n-3). Adaptado de

Yaqoob & Calder, 2007 (8)

Page 18: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

4

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

Os principais representantes dos AGPI n-3 são o ácido α-linolénico (ALA 18:3n-3),

o ácido eicosapentaenóico (EPA 20:5n-3) e o ácido docosahexaenóico (DHA

22:6n-3). Por sua vez, os AGPI n-6 são sobretudo representados pelo ácido

linoleico (LA 18:2n-6) e pelo ácido araquidónico (AA 20:4n-6).

Os AGPI são componentes estruturais significativos dos fosfolípidos das

membranas celulares, e as suas propriedades físicas influenciam fortemente a

fluidez e flexibilidade das membranas biológicas que incorporam. (9)

Quanto maior o número de duplas ligações com configuração cis, (o átomo de

carbono adjacente encontra-se do mesmo lado da dupla ligação), mais curva e

menos rígida é a sua estrutura, o que influência positivamente a fluidez da

membrana. Os AGPI provenientes de fontes naturais, compreendem normalmente

duplas ligações de configuração cis. Para além disso, apresentam também baixos

pontos de fusão, que os preservam em estado líquido à temperatura interna

corporal, o que também contribui para a optimização do funcionamento das

membranas.(9)

Figura 2 – Diagrama da estrutura do ácido docosahexaenóico (DHA 22:6 n-3). Adaptado de

Ruxton et al., 2004 (12)

1.2 Síntese e Metabolismo

Os AG n-3 e n-6 são considerados ácidos gordos essenciais (EFA) ao ser

humano, porque os mamíferos que têm capacidade de sintetizar AG saturados e

Page 19: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

5

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

insaturados n-9, não possuem a capacidade metabólica de os sintetizar, de novo,

e como tal, estes têm de ser providos através da alimentação.(1)

A nossa inaptidão para sintetizar endogenamente AG n-3 e n-6, deve-se a uma

falha na capacidade enzimática, de colocação de duplas ligações para além da

posição Δ-9, nomeadamente das dessaturases Δ-12 e Δ-15, presentes nas

plantas.(9)

Existem fontes de origem vegetal de ALA, que fazem parte da alimentação

humana, como o óleo de linhaça e canola.(10) Depois de ingerido, este ácido gordo

essencial, sofre ao nível do retículo endoplasmático, maioritariamente em células

hepáticas, reacções de dessaturação e alongamento, dando origem a moléculas

de maior comprimento e com maior número de duplas ligações, nomeadamente

EPA e DHA. (5, 8)

Figura 2 – Via metabólica de dessaturação e alongamento do ácido �-linolénico (ALA 18:3n-3) e

do ácido linoleico (LA 18:2n-6). Adaptado de Yaqoob & Calder, 2007 (8)

Page 20: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

6

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

A nossa capacidade metabólica de converter o ALA em EPA e DHA é limitada (11,

12) principalmente quando existe abundância e predomínio de LA na dieta. Como

ambos os AG são metabolizados pelo mesmo sistema enzimático, competindo

entre si pela �6 e �5 dessaturases, prevalece a formação do AA a partir do LA

em detrimento da formação de EPA e DHA.(5, 11)

A biossíntese de AGPI n-3 de cadeia longa pelas plantas e algas marinhas, e a

sua transferência pela cadeia alimentar em ambiente marinho, são responsáveis

pela sua grande concentração em peixes gordos, e em óleos de peixes, que do

ponto de vista alimentar, são fontes naturais óptimas, que nos permitem obter

quantidades substancialmente maiores de EPA e DHA.(13)

2. SÍNTESE, ESTRUTURA E ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS

2.1 Desenvolvimento Cerebral

Nos últimos 40 anos, estudos sobre o impacto da nutrição no desenvolvimento do

sistema nervoso central, demonstraram que reduções no fornecimento de

nutrientes essenciais durante a gestação e infância, possuem efeitos profundos

no crescimento somático, e no desenvolvimento estrutural e funcional do

cérebro.(2)

O sistema nervoso é o órgão com a segunda maior concentração de lípidos, só

ultrapassado pelo tecido adiposo. Aproximadamente 35% desses lípidos são

AGPI de cadeia longa, como o AA e DHA, que desempenham um papel essencial

no desenvolvimento e função cerebral. (14)

O DHA, é um importante componente estrutural das membranas neurais e da

retina, podendo este atingir 40% do total de AG nos fosfolípidos destes tecidos. A

Page 21: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

7

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

sua estrutura altamente insaturada confere fluidez às membranas biológicas que

incorpora e como tal a sua falta, pode ser responsável por complicações

observadas na deficiência em EFA n-3, que incluem função visual anormal e

neuropatia periférica. (15)

O DHA é o componente major dos fosfolípidos das membranas neuronais

sinápticas, influenciando o microambiente envolvente e modulando a captação e

libertação de neurotransmissores.(2) Em resultado surgem melhorias na eficiência

sináptica e na velocidade de transmissão, o que teoricamente apoia a eficiência

com que a informação é processada. (16)

A gestação e infância são períodos críticos para a obtenção de EFA n-3.(13)

Durante a gestação, o feto e placenta são totalmente dependentes do

fornecimento materno de EFA para o seu crescimento e desenvolvimento (2), e

como tal, as reservas da mãe e a composição da sua dieta em EFA n-3, são

fundamentais e a única forma de assegurar que o feto à nascença possua

quantidades adequadas destes ácidos gordos.(13) Connor et al.(17) demonstrou que

a suplementação da dieta com óleos de peixe ou sardinhas em mulheres grávidas

levou ao aumento das concentrações de DHA no plasma e glóbulos vermelhos

maternos, e nos bebés à nascença.(17)

2.2 Função Visual e Desenvolvimento Cognitivo

Na retina, os segmentos exteriores dos bastonetes fotoreceptores (ROS – rod

outer segment), consistem em milhares de invaginações da membrana

plasmática, com rodopsinas integrantes que necessitam de um microambiente

fluido para a eficaz transmissão de sinais visuais (2), como tal a deficiência em

Page 22: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

8

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

EFA n-3 pode resultar na diminuição da visão e em electroretinogramas

anormais.(13)

Após o nascimento, o desenvolvimento bioquímico do cérebro e retina ainda não

está completo, e como tal, o aporte adequado de EFA n-3 nesta fase, através do

aleitamento materno, ou de leites adaptados, é também extremamente

importante, com possíveis implicações no desenvolvimento cognitivo e acuidade

visual da criança.(13)

Vários estudos foram desenvolvidos com o intuito de investigar de que forma os

EFA n-3 de cadeia longa, podem influenciar o desenvolvimento cognitivo e a

acuidade visual na infância. É dedicada uma especial atenção aos recém-

nascidos prematuros, pois a acumulação de DHA nos tecidos fetais ocorre

maioritariamente no último trimestre de gestação (16) e como tal estas crianças,

privadas do ambiente intrauterino neste período, são particularmente vulneráveis

à deficiência e podem mais claramente beneficiar da suplementação em DHA no

início de vida.(2, 16)

Num estudo realizado por Connor et al.(18), que envolveu 427 crianças

prematuras, foi verificado que aos 6 meses, as crianças alimentadas com leites

suplementados em DHA (0,25% da gordura total) apresentavam uma melhoria

significativa no potencial visual evocado (VEP), e que as crianças nascidas com

peso inferior a 1250g, e suplementadas com DHA, apresentavam aos 12 meses,

melhores scores na Escala de Bayley para o desenvolvimento infantil que inclui

componentes motoras, mentais e comportamentais.(18)

Num estudo recente publicado por Clandinin et al. (19) que envolveu 361 recém-

nascidos prematuros, os grupos que receberam leites suplementados com DHA

de óleos de algas e de óleos de peixes, apresentaram aos 18 meses scores de

Page 23: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

9

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

desenvolvimento mental e psicomotor da Escala de Bayley, significativamente

superiores em relação ao grupo controlo não suplementado,(19) sugerindo que o

efeito benéfico na função cerebral inerente à suplementação em DHA, não se

cinge ao período de neurogénese mas prolonga-se para além dos primeiros

meses de vida.

A suplementação da dieta materna em AGPI n-3 de cadeia longa parece também

exercer benefícios nas crianças. Num estudo recente realizado na Noruega, e

publicado por Helland et al.(20) foi verificada uma correlação positiva e significativa

entre os scores combinados do Kaufman Assessment Battery for Children

(KABC), e a ingestão materna de AGPI n-3 de cadeia longa. Aos 4 anos de idade,

as crianças cujas mães (n=48) foram suplementadas com óleo de fígado de

bacalhau (�1200mg DHA, �800mg EPA) durante 18 semanas no período de

gestação e nos 3 meses subsequentes ao parto, apresentavam um maior score

combinado do KABC, quando comparadas com crianças cujas mães foram

suplementadas com óleo de milho (n=36).(20)

Um estudo publicado em 2008, por Oken et al.(21) que envolveu 25 446 crianças

nascidas de mães que participaram no Danish National Birth Cohort, investigou a

associação entre o consumo de peixe durante a gravidez e a capacidade de

realização de metas de desenvolvimento mental pelas crianças, concluindo que

uma maior ingestão de peixe pelas mães (58,6g/dia versus 5,4g/dia) estava

associada a scores mais elevados de desenvolvimento nas suas crianças, aos 18

meses de idade.(21)

2.2.1 Recomendações

Com base na necessidade acrescida durante a gravidez imposta pelo aporte fetal

de DHA (22), e nos seus potenciais benefícios no desenvolvimento da criança,

Page 24: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

10

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

vários grupos científicos têm sugerido e publicado recomendações, sobre a

ingestão de DHA durante a gravidez e lactação. Apesar de não serem unânimes,

todos eles parecem convergir para uma recomendação de 100 a 300mg/dia de

DHA durante a gravidez.(23-25) Relativamente às crianças, um dos painéis de

especialistas foi mais além, e sugere que uma razão regular de DHA:AA de 1.4:1

a 2:1, pode ser benéfica para o desenvolvimento visual e cognitivo de crianças

nascidas com baixo peso, e provavelmente também em crianças com peso

normal à nascença.(25)

2.3 Saúde Mental

Os AGPI n-3 parecem também exercer um efeito benéfico na prevenção e

tratamento da depressão durante a gravidez e pós-parto.(22) Como já foi referido,

durante a gravidez a mães transferem selectivamente DHA ao feto, de forma a

assegurar seu normal desenvolvimento neurológico. Se a sua ingestão for

insuficiente, a depleção em DHA nas mães pode aumentar o risco da ocorrência

de sintomas de depressão major durante o período pós-parto.(26)

Numa análise publicada por Hibbeln (26) foram incluídos dados sobre a depressão

pós-parto, provenientes de estudos realizados em 23 países que utilizaram a

Edinburgh Postpartum Depression Scale, num total de 14 532 mulheres.

Concentrações mais elevadas de DHA no leite materno (r = -0.84, p <0.0001,

n=16 países) e um maior consumo de pescado (r = -0.81, p <0.0001, n=22

países) estiveram inversamente associados à prevalência de depressão pós-

parto. No entanto este estudo apresenta algumas limitações na medida em que os

potenciais efeito confundidores não estavam disponíveis de forma uniformizada

em todos os países abrangidos.(26)

Page 25: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

11

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

De Vriese et al.(27) comparou a composição em AG, num curto espaço de tempo

após o parto, em 10 mulheres que desenvolveram depressão e em 38 mulheres

que não manifestaram sintomas depressivos. A concentração em DHA e do total

de AG n-3 nos fosfolípidos e nos ésteres de colesteril foi significativamente inferior

no grupo de mulheres que desenvolveram depressão pós-parto, e a razão em n-

6:n-3 foi significativamente superior em relação ao grupo controlo. Estes

resultados sugerem que mulheres grávidas em risco de desenvolver depressão

pós-parto podem beneficiar de um tratamento profilático com AGPI n-3,

nomeadamente de uma combinação de DHA e EPA.(27)

Para além das grávidas, na restante população, as baixas ingestões de AGPI n-3,

e o aumento da razão n-6:n-3 da dieta ocidental, têm sido apontadas como

possíveis causas do aumento da prevalência de depressão.(28, 29)

Vários estudos tem demonstrado uma significativa diminuição de AG n-3 e/ou um

aumento da razão n6:n-3 no plasma e/ou nas membranas dos glóbulos vermelhos

em pacientes com depressão major.(30-32)

Um estudo publicado por Tanskanen et al.(33) demonstrou que o risco de

manifestar depressão era 31% superior (OR =1.31, 95% IC: 1.10-1.56, p <0.01)

numa amostra populacional que consumia peixe menos de uma vez por semana,

quando comparada com consumidores frequentes de peixe.(33)

Su et al.(34) demonstraram num ensaio controlado duplamente cego que a

suplementação de diária de 440mg de DHA e 880 mg de EPA durante 8 semanas

em pacientes com depressão major, resultou num decréscimo significativo do

score resultante da aplicação do 21-item Hamilton Rating Scale for Depression

em relação aos controlos (z = -3.34, p <0.001), sugerido que a suplementação de

AG n-3 pode melhorar a curto-prazo a sintomatologia da doença.(34)

Page 26: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

12

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

3. DOENÇAS INFLAMATÓRIAS

3.1 Síntese de Eicosanóides

O EPA e o AA são substratos na biossíntese de um conjunto de mediadores

lipídicos bioactivos, denominados eicosanóides, que por sua vez, exercem

funções de regulação e mediação das respostas inflamatórias, constituindo a

ligação chave entre os AGPI e o sistema imune. (5, 35)

A síntese de eicosanóides inicia-se com a libertação dos ácidos gordos

eicosanóicos, que se encontram ao nível da posição sn-2 dos fosfolípidos das

membranas celulares, por acção da fosfolipase A2 (PLA2).(36)

O AA é tipicamente o substrato dominante na síntese de eicosanóides, pois o seu

precursor LA, é o AGPI predominante na dieta ocidental.(4) Quando metabolizado

pela via da ciclo-oxigenase (COX), dá origem a endoperóxidos que por sua vez

originam prostaglandinas (PG), tromboxanos (TX) e prostaciclinas (PGI) de série

2. Pela via da 5-lipoxigenase (LOX), o AA dá origem a leucotrienos (LT) de série

4.(9) O EPA actua também como

substrato das enzimas COX e 5-

LOX, dando origem a eicosanóides

com estruturas ligeiramente

diferentes dos formados a partir do

AA. Quando metabolizado via

COX, o EPA dá origem a PG, TX e

PGI de série 3 e pela via 5-LOX

formam-se LT de série 5.(9)

Figura 3 – Metabolismo oxidativo do AA (20:4n-6) e do EPA (20:5n-3) pela ciclo-oxigenase (COX)

e 5-lipoxigenase (5-LOX). Adaptado de AP Simopoulos, 2002. (4)

Page 27: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

13

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

3.2 Propriedades Fisiológicas dos Eicosanóides

A descoberta em 1979, por Needleman e colaboradores de que as

prostaglandinas derivadas do EPA apresentavam diferentes propriedades

fisiológicas das derivadas do AA, estimulou a posterior investigação dos óleos de

peixe, e da possível modulação da síntese de eicosanóides, pelos AG da dieta.(1)

Fisiologicamente os eicosanóides actuam como hormonas locais, pois tem vida

curta, através de processos autócrinos e parócrinos, ligados a proteínas G.(36)

Os eicosanóides sintetizados a partir do AA são na generalidade potentes

agentes pró-inflamatórios, biologicamente activos em pequenas quantidades, dos

quais se salientam a PGE2, o TXA2 e LTB4.

A PGE2, sintetizada principalmente em macrófagos e monócitos, é responsável

pela indução da febre, pelo aumento da permeabilidade vascular, vasodilatação, e

potenciação do aumento da dor e edema, por outros mediadores como a

bradicinina e a histamina. A PGE2 actua ainda na indução da expressão génica da

COX-2 nos fibroblastos, regulando a sua própria produção, e na indução da

produção de interleucina-6 (IL-6) pelos macrófagos, uma citocina pró-inflamatória.

(5) No entanto também lhe estão associadas propriedades anti-inflamatórias, como

a inibição da produção do factor de necrose tumoral – � (TNF-�) e interleucina 1�

(IL-1�), a inibição da 5-LOX e a indução da 15-LOX, promovendo a formação de

lipoxinas, uma outra classe de eicosanóides com potenciais efeitos anti-

inflamatórios. Concluindo-se assim, que a PGE2 pode desempenhar acções, tanto

pró como anti-inflamatórias.(5, 37)

O TXA2 é um potente promotor da agregação plaquetária, e um vaso

broncoconstrictor. É sintetizado em grandes quantidades por plaquetas,

monócitos, macrófagos e em células pulmonares.(38)

Page 28: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

14

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

O LTB4 aumenta a permeabilbidade vascular, é um potente agente quimiotático

de leucócitos, é um bronco/vasocontrictor, aumenta a secreção de muco pelos

brônquios, aumenta a formação de espécies reactivas de oxigénio (ROS) e a

produção de citocinas pró-inflamatórias como a TNF-�, IL-1 e IL-6. (5, 38)

O consumo de peixes gordos e óleos de peixe, resulta num aumento da

proporção de EPA nos fosfolípidos de células inflamatórias, que competindo com

o AA, dá origem eicosanóides com menor poder inflamatório.(4) Por exemplo, o

LTB5 é um agente quimiotático 10-100 vezes menos potente quando comparado

com o LTB4.(5)

O DHA não compete directamente com o AA na síntese de eicosanóides, no

entanto, diminui a libertação de AA dos fosfolípidos membranares, pela inibição

da actividade da PLA2.(39)

Foi verificado, que a ingestão de EPA e DHA leva à diminuição da síntese de

PGE2, de TXA2 e LTB4, induz o aumento do TXA3, um fraco agregador plaquetário

e um fraco vasoconstrictor, ao aumento da produção de PGI3, sem prejuízo para a

PGI2, ambas activos vasodilatadores e inibidores da agregação plaquetária, e ao

aumento do LTB5, um fraco indutor da inflamação e um fraco agente

quimiotático.(1)

Em suma, a parcial substituição do AA pelo EPA nos fosfolípidos de células

inflamatórias é por si só um benéfico efeito anti-inflamatório, no entanto, têm sido

investigadas outras propriedades anti-inflamatórias que podem ou não resultar da

alteração na produção de eicosanóides (5), e que apesar de referenciados não

serão abordados neste trabalho. De entre eles salientam-se, a possível

diminuição da produção de citocinas pró-inflamatórias como TNF-�, IL-1 e IL-6,

cuja sobreprodução pode originar respostas patológicas crónicas ou agudas, a

Page 29: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

15

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

diminuição da expressão à superfície de células endoteliais de moléculas de

adesão intercelular 1 (ICAM-1), E-selectina e moléculas de adesão celular

vascular 1 (VCAM-1) que permitem a aderência de leucócitos e subsequente

diapedese, e ainda alterações na expressão de genes inflamatórios através de

possíveis acções em vias de sinalização intracelular, que levam à activação de

factores de transcrição como o factor nuclear-�B (NF-�B).(4, 5)

3.3 Patologias Inflamatórias

O aumento da razão n-6:n-3 nas dietas ocidentais contribui para o aumento da

incidência de distúrbios inflamatórios, caracterizados pela produção excessiva ou

inapropriada de mediadores inflamatórios, que incluem eicosanóides e citocinas.(4,

37) O reconhecimento do potencial anti-inflamatório dos AGPI n-3 de cadeia longa

aumentou o interesse sobre o seu papel na prevenção, e do seu uso na

terapêutica, de doenças inflamatórias agudas ou crónicas.

3.3.1 Artrite Reumatóide

A artrite reumatóide (AR) é uma doença inflamatória crónica, caracterizada pela

inflamação das membranas sinoviais das articulações, resultando daí

deformidade articular, que pode levar à incapacitação funcional do doente.(40)

Biopsias ao tecido sinovial em pacientes com artrite reumatóide revelam elevadas

concentrações de TNF-�, IL-1�, IL-6 e IL-8.(37) Com base, no potencial anti-

inflamatório dos AG n-3, vários estudos foram realizados com o intuito de testar o

possível efeito terapêutico destes AG na artrite reumatóide.

Num estudo publicado por Kremer et al.(41) que envolveu 66 pacientes com AR

medicados (75mg diclofenac 2/dia), o grupo suplementado com 130mg/kg/dia de

Page 30: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

16

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

AG n-3 evidenciou uma diminuição significativa em relação ao início, do número

de articulações moles (5.3±0.835; p <0.0001), e da duração da rigidez matinal (-

67.7±23.3 minutos; p=0,008), ao contrário do grupo a tomar óleo de milho onde

não foram verificadas alterações. À 18ª semana o diclofenac foi substituído por

um placebo, mantendo-se a suplementação com óleo de peixe por mais 8

semanas. Verificou-se que a redução significativa do número de articulações

moles se manteve após a cessação do diclofenac nos pacientes suplementados

com óleo de peixe (-7.8±2.6; p=0.011), observando-se também nestes pacientes

uma diminuição significativa da IL-1� (-7.7±3.1; p=0.026) em relação ao início.

Concluiu-se assim, que a suplementação com o óleo de peixe em pacientes com

AR levou a uma melhoria dos parâmetros clínicos da doença, associados a uma

redução da IL-1�, e que em alguns doentes foi possível cessar a medicação anti-

inflamatória não esteróide (NSAID) sem agravamento da doença.(41) Calder P.(37)

sumariou os resultados de 18 estudos randomizados, controlados por placebos, e

duplamente cegos, sobre os óleos de peixe na artrite reumatóide. A dose média

de AGPI n-3 de cadeia longa usada foi de 3,5g/dia. Quase todos os estudos

revelaram efeitos benéficos do óleo de peixe, incluindo redução da duração da

rigidez matinal, redução do número de articulações moles ou inchadas, redução

da dor articular, redução da fadiga, aumento da força do pulso, e diminuição do

uso de NSAID.(37) Em suma, é verificada uma melhoria da condição clínica e de

factores bioquímicos, inerente à utilização dos óleos de peixe como terapia

coadjuvante ou alternativa na artrite reumatóide.

Page 31: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

17

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

3.3.2 Asma

A asma é uma doença crónica inflamatória caracterizada pela inflamação das vias

respiratórias, por hipersensibilidade brônquica a estímulos não específicos e por

episódios reversíveis de obstrução do fluxo de ar.(42) Vários factores ambientais,

como a poluição do ar, o fumo do cigarro, a exposição a alergénios e a dieta,

foram propostos com o intuito de explicar alterações na prevalência de asma.(43)

Black P.(43) sugere que o aumento do consumo de margarinas e óleos vegetais

ricos em AGPI n-6, e a diminuição do consumo de peixe gordo, uma boa fonte de

AGPI n-3 pode ter contribuído para o notável aumento de doenças alérgicas,

incluindo a asma em países desenvolvidos.(43) Na base desta hipótese estão

alguns eicosanóides que derivam do AA, que são produzidos por células (pe

mastócitos, macrófagos, eosinófilos e linfócitos) que modulam a inflamação

pulmonar na asma, e como tal acredita-se que estes exercem um papel principal

na broncoconstrição asmática.(37) Os LT de série 4 são potentes

broncoconstrictores, induzem o edema nas vias respiratórias, a secreção de muco

e a migração de células inflamatórias, aspectos comuns na sintomatologia

asmática.(4) Para além disso, a PGE2 está envolvida na regulação do

desenvolvimento de células T helper tipo 2 (Th2), que predispõem para a

inflamação alérgica (44) e promovem a produção da imunoglobulina E (IGE) pelos

linfócitos B.(45)

Um estudo publicado por Hodge et al.(46), que envolveu 574 crianças, mostrou que

o consumo de peixe gordo era factor protector para o desenvolvimento de asma,

pois o risco ajustado, apresentado pelas crianças que consumiam peixe gordo era

apenas ¼ do risco apresentado pelas crianças que não consumiam.(46)

Page 32: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

18

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

Outros estudos foram realizados com o intuito de testar o uso de óleos de peixe

numa perspectiva terapêutica da doença. Num estudo publicado Broughton et

al.(47), foi verificado que a suplementação da dieta de pacientes asmáticos, com

óleos de peixe, de forma a obter uma razão n-6:n-3 de 2:1, provocou uma

melhoria da função respiratória em mais de 40% da população em estudo, sujeita

a provas de função respiratória. Foi também verificada uma diminuição dos LT

totais (LTB4 e LTB5) excretados na urina, com um aumento da proporção de LT5

em relação ao início, consolidando o potencial anti-inflamatório dos óleos de

peixe.(47) No entanto, uma meta-análise publicada por Thien et al.(48), que incluiu 8

estudos randomizados controlados por placebos, realizados entre 1986 e 2001,

revelou não existirem efeitos consistentes nos vários resultados analisáveis,

decorrentes da suplementação com óleos de peixe de pacientes com asma.(48)

Podemos assim concluir, que os efeitos decorrentes da utilização dos AG n-3,

como potenciais coadjuvantes na terapêutica do doente com asma são ainda

pouco claros, e como tal necessitam de mais investigação.

3.3.3 Doença Inflamatória do Intestino

A colite ulcerosa e a doença de Crohn são doenças inflamatórias crónicas do

tracto gastrointestinal com etiologia ainda desconhecida. Mediadores locais como

metabolitos do AA e mediadores peptídicos (citocinas) parecem contribuir para o

processo da doença.(49) Sharon et al.(50) verificou em 1984, a presença de

quantidades significativas de LTB4 na mucosa do cólon em pacientes com doença

inflamatória do intestino, sugerindo que este poderia constituir um importante

mediador da inflamação na doença inflamatória do intestino.(50)

Page 33: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

19

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

Shoda et al.(51) examinou a correlação entre a incidência de doença de Crohn e

alterações na dieta na população Japonesa. Foi verificado que a incidência de

doença de Crohn estava fortemente correlacionada com a ingestão de AGPI n-6 (r

= 0.883 p <0.001) bem como com a razão n-6:n-3 (r =0.792 p <0.001).(51)

O primeiro estudo prospectivo, controlado e duplamente cego sobre os AG n-3 na

doença inflamatória do intestino foi publicado em 1989 por Lorenz et al.(49) onde

39 pacientes foram suplementados com 3.2g/dia de AG n-3 durante 7 meses. Foi

verificada uma redução da formação de prostanóides derivados do AA, no entanto

nos pacientes com doença de Crohn, a actividade clínica não foi alterada. Pelo

contrário, nos pacientes com colite ulcerosa a actividade clínica da doença

diminuiu durante e após a suplementação, mas de forma não significativa. (52)

Hawthorne et al.(53) estudou o efeito da suplementação com 4.5g/dia de EPA

durante um ano, em pacientes com colite ulcerosa, fazendo a distinção entre os

doentes em remissão e em reincidência no início do estudo. Foi verificado um

aumento significativo do conteúdo em EPA na mucosa rectal, para 3,2% do total

de ácidos gordos após 6 meses, comparando com os 0,63% nos pacientes a

receber azeite. O aumento do conteúdo em EPA esteve associado a um aumento

da síntese de LTB5, e à supressão de 54% da síntese de LTB4. Nos pacientes que

iniciaram o estudo em recaída (n=56), verificou-se uma significativa redução da

necessidade de corticosteroides após um ou dois meses de tratamento. Foi

também verificada uma tendência favorável para o mais rápido alcance da

remissão (na ausência de corticosteroides) nos pacientes suplementados com

óleos de peixe, apesar das diferenças não serem significativas.(53)

Num estudo publicado por Belluzi et al.(54), um total de 39 pacientes com doença

de Crohn foram suplementados com 9 cápsulas diárias de óleo de peixe contendo

Page 34: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

20

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

2.7g de AG n-3, outros 39 receberam 9 cápsulas placebo. No grupo de pacientes

suplementados foram verificadas 11 recaídas (28%), enquanto que no grupo

placebo 27 pacientes sofreram recaída (69%). Entre ambos os grupos a diferença

na taxa de recaída foi de 41% ([95% IC]: 21 a 61%; p <0.001). Após um ano 59%

dos pacientes no grupo do óleo de peixe continuavam em remissão, contra 26%

do grupo placebo, concluindo-se que a suplementação com óleo de peixe foi

efectiva na redução da taxa de reincidência.(54)

Numa visão global, apesar da existência de alguns estudos favoráveis, a

evidência de que os AG n-3 possuem um efeito clínico benéfico nas doenças

inflamatórias do intestino, é ainda frágil, no entanto parece existir uma aparente

habilidade destes AG na manutenção da remissão na doença de Crohn.

3.3.4 Psoríase

A psoríase é um distúrbio inflamatório da pele, que afecta 2% da população em

países desenvolvidos. A sua patogénese ainda não é totalmente conhecida.(55)

Concentrações elevadas de AA livre, bem como dos seus metabolitos pró-

inflamatórios, têm sido observadas nas lesões psoriáticas, com especial atenção

para o LTB4, que possui um efeito quimiotático dos leucócitos infiltradores da

pele, que favorecem a proliferação exagerada dos queratinócitos, típica na

doença.(56)

Assim sendo, a substituição do AA pelo EPA, dando origem a eicosanóides com

menor poder inflamatório, nomeadamente o LTB5, poderá ser um ponto de partida

para a terapêutica da psoríase.(56)

Num estudo randomizado, duplamente cego e controlado por placebo, publicado

por Bittiner et al.(57), 14 doentes que sofriam de psoríase sujeitos a suplementação

Page 35: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

21

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

com óleos de peixe durante 8 semanas, reportaram menor prurido, eritema, e

escamação, e uma tendência para a diminuição da área corporal afectada. (57)

Mayser et al.(56) desenvolveram estudos com o intuito de determinar a eficácia e a

segurança da administração endovenosa de emulsões lipídicas derivadas de

óleos de peixe na psoríase. Os estudos mostraram nos grupos suplementados

com n-3, diminuição significativa da severidade da doença, rápido aumento da

concentração plasmática de EPA livre nos primeiros dias, produção de LTB5 por

neutrófilos 10 vezes superior em relação aos grupos que receberam emulsões

com n-6, e reduções significativas do Índice de Severidade e Área de Psoríase

(PASI). (56)

Embora estes estudos tenham demonstrado efeitos positivos, outros autores,

nomeadamente Soyland et al.(58) obtiveram resultados divergentes. Num estudo

randomizado duplamente cego, publicado por estes autores, a suplementação

com AGPI n-3 de cadeia longa não surtiu melhores efeitos do que a

suplementação com óleo de milho no tratamento da psoríase. O score do PASI

não sofreu qualquer alteração significativa durante o estudo, em ambos os

grupos.(58)

3.3.5 Lúpus Eritmatoso Sistémico

O lúpus eritmatoso sistémico (LES) é uma doença autoimune, inflamatória, de

etiologia desconhecida, onde a glomerulonefrite autoimune representa uma das

principais causas de morbilidade e mortalidade associadas.(40)

Kelley et al.(59) demonstrou que a ingestão de óleos de peixe, levou à redução da

quantidade de PGE2, TXB2 e PGI2 formados, e à promoção da síntese de

pequenas quantidades de PG de série 3 em ratos lúpicos, sugerindo que a

Page 36: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

22

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

alteração da síntese de metabolitos da COX, pode directamente suprimir

mediadores inflamatórios da doença.(59)

O efeito da suplementação em AGPI n-3 de cadeia longa, nos vários mecanismos

da inflamação no LES foi estudado por Clark et al.(60) onde foi claramente

demonstrado o aumento da formação de PGI3, a diminuição da síntese por

neutrófilos de LTB4, para além de terem sido também observadas reduções da

ordem dos 40% nos triglicéridos (TG) e VLDL (very low density lipoprotein) em

humanos.(60)

Para além disso, e tendo em conta que a dislipoproteinemia é uma complicação

comum no doente lúpico, Ilowite et al.(61) demonstraram que a suplementação

com óleos de peixe em crianças com LES, revelou ser efectiva no melhoramento

do perfil lipídico, tendo sido constatadas diminuições significativas da

concentração sérica de TG.(61)

Num estudo randomizado intervencional de Wright et al.(62) foi demonstrado que a

suplementação com óleos de peixe em pacientes com LES, para além te ter

revelado um efeito terapêutico na actividade da doença, melhorou também a

função endotelial e reduziu o stress oxidativo.(62)

4. DOENÇAS CARDIOVASCULARES

Os efeitos benéficos para a saúde humana dos AGPI n-3, apenas se tornaram

aparentes com os trabalhos epidemiológicos de Bang e Dyerberg, realizados nos

anos 70. (63) A baixa prevalência de doença cardiovascular (DCV) em esquimós

da Gronelândia, que se alimentavam maioritariamente de peixe e mamíferos

Page 37: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

23

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

marinhos (63), levou estes investigadores à realização de uma série de estudos,

com base no padrão alimentar destas populações.

Em 1970, Bang e Dyerberg, analisaram os lípidos séricos e a respectiva

composição em AG, de uma amostra composta por 3 grupos distintos: esquimós

da Gronelândia, esquimós a viverem na Dinamarca e Dinamarqueses, com o

intuito de encontrar uma possível explicação, para na Gronelândia, a morte por

enfarte agudo do miocárdio ser extremamente rara, apesar do semelhante e

elevado conteúdo em gordura da dieta praticada pelos 3 grupos. (64)

Na época, a influência da composição em AG da dieta, nos lípidos plasmáticos e

secundariamente na morbilidade por doença coronária, era alvo de muito

interesse. A elevada ingestão de ácidos gordos saturados associada a uma baixa

ingestão de AGPI, era apontada como a principal causa do aumento da incidência

de aterosclerose nas sociedades industrializadas. (64, 65)

No entanto, nos lípidos séricos dos esquimós da Gronelândia predominavam os

ácidos gordos saturados, pressupondo-se assim, que o efeito protector da dieta,

estaria relacionado com diferenças qualitativas e não quantitativas,

nomeadamente com a presença de alguns AGPI de cadeia longa. (64)

Não foram encontradas diferenças substanciais no perfil lipídico e respectiva

composição em AG, entre o grupo de esquimós a viver na Dinamarca e a

população dinamarquesa, pressupondo-se assim, que as possíveis diferenças em

relação aos esquimós da Gronelândia eram de causa exógena, presumivelmente

por diferenças na dieta.(64)

Valores séricos mais baixos de colesterol, TG, LDL (low density lipoproteins) e

VLDL foram encontrados nos esquimós da Gronelândia, associados a

quantidades substancialmente maiores de AGPI n-3 de cadeia longa, com

Page 38: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

24

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

especial atenção para o EPA que correspondia a 16% do total de ácidos gordos

esterificados. (64)

Mais tarde os mesmos investigadores confirmaram, através do estudo da

composição dos alimentos ingeridos pelos esquimós da Gronelândia, que

associado ao seu frequente consumo de peixe e mamíferos marinhos estava uma

elevada ingestão de AGPI n-3 de cadeia longa, nomeadamente de EPA e DHA,

que possivelmente exerceriam um efeito cardioprotector nesta população.(66)

Estimulados por estas evidências, um grande número de investigadores,

desenvolveram estudos epidemiológicos sobre potencial efeito do consumo peixe,

rico em EPA e DHA, na redução do risco de morte por doença coronária. (67-76)

4.1 Estudos Epidemiológicos Observacionais

Vários estudos epidemiológicos demonstram uma associação entre o consumo de

peixe e a redução do risco de mortalidade por doença coronária, no entanto,

outros não. Uma revisão sistemática de 4 coortes prospectivas (67, 70, 72, 77), foi

publicada por Marckmann em 1999.(78) No Health Professionals Follow-up Study e

US Physicians Health Study, não foram encontradas evidências do efeito

protector do consumo de peixe. É de salientar que estes estudos foram realizados

em profissionais de saúde, que à partida teriam um baixo risco de doença

coronária, pois apresentavam uma baixa percentagem de fumadores (8-13%), um

consumo médio de gorduras saturadas inferior a 10% do VET, e concentrações

séricas totais de colesterol desejáveis. (78)

Contrariamente, no Zutphen Study e Chicago Western Electric Study, que

envolveram populações consideradas de alto risco (60% de fumadores, consumo

de gordura saturada de 16-18% do VET e com valores séricos totais de colesterol

Page 39: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

25

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

elevados), foi encontrada uma relação inversa entre o consumo de peixe e a

morte por doença coronária, onde um consumo de 40-60g/dia de peixe estava

associado a uma redução do risco da ordem dos 40-60%.(78)

No Chicago Western Electric Study, foi verificado, após um follow-up de 30 anos,

um efeito favorável do consumo de peixe, especialmente na morte não súbita por

enfarte de miocárdio. Comparativamente com os que não comiam peixe, os

indivíduos que consumiam pelo menos 35g por dia apresentavam um risco

relativo de morte por doença coronária de 0.62, e um risco relativo de morte não

súbita por enfarte de miocárdio de 0.33.(72)

Albert et al.(77) sugeriu, que o facto de apenas 3.1% da sua amostra ter referido

não comer ou comer pouco peixe, pode ter motivado a não associação

encontrada no US Physicians Health Study, pois geralmente os estudos que

revelam associação apresentam uma população de tamanho razoável que não

come ou come muito pouco peixe.(10, 77) Outros investigadores consideram, que na

origem da variação dos resultados epidemiológicos, podem estar factores como, a

variabilidade de “end points”, diferenças nas populações em estudo, diferentes

períodos de follow-up, diferentes metodologias de determinação da ingestão,

variações no ajuste de co-variáveis, ou mesmo, a não distinção do tipo de peixe

consumido.(10, 79)

Num estudo realizado por Oomen et al.(73), que envolveu três países europeus

(Finlândia, Itália e Holanda), só o consumo de peixe gordo, revelou estar

associado a uma redução da mortalidade por doença coronária, não se

verificando qualquer associação em relação ao consumo de peixe magro.(73)

Recentemente foi publicada por He K. et al.(80) uma meta-análise de 11 coortes

observacionais, abrangendo no total 222.364 pessoas, e com uma média de

Page 40: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

26

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

follow-up de 11.8 anos.(80) A tabela seguinte, mostra os riscos relativos (RR)

conjugados de mortalidade por doença coronária, em relação ao consumo de

peixe.

Tabela 1 – RR’s conjugados (95%IC) de mortalidade por doença coronária, de acordo com o

consumo de peixe. Adaptado de He K. (80)

Em comparação com os que não consomem peixe, ou o fazem menos de 1 vez

por mês, os indivíduos que comem peixe 1 vez por semana apresentaram uma

diminuição significativa do risco relativo de morte por doença coronária da ordem

dos 15% (RR 0.85: 95%IC,0.76-0.96). O efeito benéfico na mortalidade, aumentou

gradualmente em função do consumo de peixe, atingindo o seu máximo nos

indivíduos que consumiam peixe 5 ou mais vezes por semana, onde a

mortalidade foi 38% mais baixa (RR 0.62: 95%IC, 0,46-0.82).(80)

Um grande número de estudos epidemiológicos, investigou também a associação

entre o consumo de peixe e o risco de acidente vascular cerebral (AVC)(71, 81-87).

Uma meta-análise de 9 coortes, abrangendo um total de 200.575 pessoas,

revelou que, em comparação com os indivíduos que não consumiam peixe ou o

faziam menos de uma vez por mês, o risco relativo (RR) conjugado de AVC foi de

0.91 (95%IC; 0.79-1.06) para os indivíduos que consumiam peixe 1-3 vezes por

Page 41: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

27

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

mês, 0.87 (95%IC; 0.77-0.98) para os que consumiam 1 vez por semana, 0.82

(95%IC; 0.72-0.94) para um consumo de 2-4 vezes na semana, e 0.69 (95%IC

0,54-0.88) para um consumo superior a 5 vezes por semana (79).

Nessa mesma meta-análise, foi também feita uma análise estratificada aos

estudos que faziam a distinção entre acidente vascular isquémico e hemorrágico

(82, 83, 86). Os riscos relativos (RR) conjugados ao longo das cinco categorias de

consumo de peixe, foram de 1.0, 0.69 (95%IC; 0.48-0.99), 0,68 (95%IC 0.52-

0.88), 0.66 (95%IC; 0.51-0.87), e 0.65 (95%; 0.46-0.93) para o acidente vascular

isquémico, e de 0.1, 1.47 (95%IC; 0.81-2.69), 1.21 (95%IC, 0.78-1.85), 0.89

(95%IC; 0.56-1.40) e de 0.80 (95%IC; 0.44-1.47) para o acidente vascular

hemorrágico, concluindo-se assim, que foi encontrada uma associação inversa

entre o consumo de peixe e o risco de AVC, particularmente em relação ao

acidente vascular isquémico.(79)

Dyerberg e Bang (88) demonstraram, que o aumento do conteúdo em EPA no

plasma e plaquetas dos esquimós da Gronelândia levou a uma diminuição da

agregabilidade plaquetária, e ao aumento do tempo de coagulação, aumentando

o risco de acidente vascular hemorrágico.(88) A não distinção em estudos

epidemiológicos, entre os dois tipos de acidente vascular pode de certa forma

atenuar a verdadeira associação entre o consumo de peixe e o risco de AVC.

Um recente estudo caso-controlo aninhado na coorte Cardiovascular Health

Study, foi realizado por Lemaitre et al.(89), com o intuito de investigar as

associações entre a concentração de EPA, DHA e ALA nos fosfolípidos

plasmáticos, e o risco de morte por doença coronária isquémica, e de enfarte do

miocárdio não fatal, em adultos com mais de 65 anos. Foram considerados casos,

Page 42: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

28

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

os indivíduos que sofreram enfarte agudo de miocárdio (fatal ou não), ou qualquer

outra doença coronária esquémica.(89)

Após o ajuste dos factores de risco, uma maior concentração conjunta de EPA e

DHA esteve associada a um menor risco de morte por doença coronária

isquémica (odds ratio: 0.32, 95%IC: 0.13-0.78 p=0.01) e uma maior concentração

de ALA a uma tendência para a diminuição do risco (odds ratio: 0.52, 95%IC:

0,24-1.15 p=0,1). Pelo contrário, não foi encontrada qualquer associação com o

risco de enfarte de miocárdio não fatal. Em suma, uma ingestão combinada de

EPA e DHA, e possivelmente de ALA, demonstrou reduzir o risco de morte por

doença coronária isquémica em adultos mais velhos.(89)

4.2 Ensaios Clínicos

Com o intuito de consolidar as associações provenientes de estudos

epidemiológicos, a hipótese de que a ingestão de AGPI n-3 nos protege da DCV,

foi testada em vários ensaios experimentais.

O GISSI-Prevenzione Trial,(90) testou a eficácia dos ácidos gordos n-3 na

prevenção secundária de doença coronária. Da amostra faziam parte 11324

pacientes que tinham sofrido um enfarte de miocárdio nos últimos 3 meses, e a

partir da qual foram aleatoriamente formados 4 grupos distintos. O primeiro grupo

foi suplementado com �850mg/dia de EPA e DHA numa razão de 2:1, o segundo

foi suplementado com 300mg de vitamina E, o terceiro foi sujeito a ambas as

suplementações, e o quarto grupo não sofreu qualquer suplementação. Após 3,5

anos de follow-up, o grupo suplementado com EPA e DHA revelou uma

significativa diminuição do risco, no primeiro end-point, (enfarte de miocárdio e

AVC não fatal), da ordem dos 15%. Foi também verificada uma diminuição

Page 43: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

29

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

significativa do risco de morte por DCV (30%), bem como de morte súbita (45%).

Não foi verificado qualquer benefício estatisticamente significativo no grupo

suplementado com vitamina E.

Com base neste estudo, pode concluir-se, que uma suplementação <1g/dia de

EPA e DHA exerce um efeito benéfico na prevenção secundária de morte por

doença coronária.(90)

Uma meta-análise de 11 estudos experimentais publicada por Bucher et al.(91),

investigou o efeito da ingestão de ácidos gordos n-3 (incluindo EPA, DHA, e ALA),

na doença coronária. A maioria dos estudos abrangidos recorreu à

suplementação, com doses variáveis de EPA (0,3-6,0g/dia) e de DHA (0,6-

3,7g/dia), mas também foram incluídos estudos com base em intervenções

dietéticas. O risco relativo de enfarte de miocárdio não fatal, foi de 0.8 (95%IC:

0.55-1.2) para os grupos suplementados, e de 0.7 (95%IC: 0.1-3.2) para os

grupos sujeitos a intervenção na dieta, em comparação com os grupos controlo.

Por sua vez, o risco relativo de enfarte de miocárdio fatal foi de 0.8 (95%IC: 0.7-

0.9) nos indivíduos suplementados e de 0.5 (95%IC: 0.3-1.1) nos grupos com

intervenção dietética. Apenas um estudo de intervenção dietética apresentava

dados sobre o risco de morte súbita, no entanto, nos estudos com suplementação

o risco relativo conjugado de morte súbita foi de 0.7 (95%IC: 0.6-0.9).(91)

4.3 Possíveis Mecanismos

São vários os mecanismos sugeridos, com o intuito de explicar o provável efeito

benéfico na DCV, do enriquecimento dos fosfolípidos membranares em AGPI n-3

de cadeia longa, nomeadamente do EPA e DHA.

Page 44: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

30

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

As hipóteses mais frequentemente apontadas relacionam-se com o seu potencial

efeito na prevenção de arritmias, na diminuição dos TG, na redução da pressão

arterial, na diminuição da agregação plaquetária, na melhoria da reactividade

vascular e diminuição da inflamação.(92)

A taquicardia ou severa fibrilhação ventricular é frequentemente responsável pela

morte súbita.(1) Vários estudos têm demonstrado, uma diminuição do risco de

morte súbita, em populações com concentrações plasmáticas elevadas de EPA e

DHA, ou suplementadas com óleos de peixe. O GISSI-Prevezione Trial (90) é disso

exemplo, bem como um estudo publicado por Albert. et al.(93) onde as

concentrações plasmáticas de AGPI de cadeia longa estavam inversamente

relacionadas com o risco de morte súbita. Em comparação com os indivíduos

cujos níveis se encontravam no 1º quartil, o risco relativo de morte súbita foi

significativamente menor nos indivíduos que se encontravam no 3º (RR 0,28

95%IC: 0.09-0.87) e 4º quartil (RR 0.19 95%IC: 0.05-0.71).(93) O mecanismo

proposto para justificar estas observações, baseia-se num potencial efeito

estabilizador do miocárdio, inerente à presença de EPA e DHA nos

cardiomiócitos, bem como a um aumento da capacidade de enchimento do

ventrículo esquerdo, e redução da frequência cardíaca em repouso.(10)

O efeito hipotrigliceridémico dos AG n-3 provenientes de óleos de peixe é já

pouco discutível. Uma revisão publicada por Harris W.,(94) revelou que �4g/dia de

EPA e DHA induzem uma diminuição da concentração sérica de TG de 25 a 30%,

principalmente em indivíduos que sofriam previamente de hipertrigliceridemia.(94)

Este efeito deve-se principalmente à acção favorável do EPA e DHA na redução

da síntese hepática de triacilgliceróis, e à redução da secreção de VLDL e

Page 45: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

31

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

apolipoproteína B-100, bem como a um efeito favorável na actividade lipolítica no

plasma pela modulação da libertação da lipoproteína lipase, e ainda à

estimulação da beta-oxidação hepática de outros AG.(95)

Os AG n-3 de cadeia longa parecem ainda exercer um ligeiro efeito hipotensor

dose-dependente, que parece também variar segundo o grau de hipertensão.(10)

Numa meta-análise publicada por Morris et al.(96) foi verificada uma redução

média de -3.0/-1.5 mmHg (95%IC: pressão arterial sistólica -4.5 a -1.5, e pressão

arterial diastólica -2.2 a -0.8) em indivíduos suplementados com óleos de peixe,

ou sujeitos a enriquecimento dietético. O efeito dose-resposta dos óleos de peixe

na pressão arterial foi de -0.66/-0.35 mmHg/g de AG n-3. (96)

Foi sugerido que o efeito na pressão arterial da suplementação em AG n-3 de

cadeia longa, deve-se principalmente a alterações impostas por estes ácidos

gordos, principalmente pelo EPA, na síntese endógena de eicosanóides

vasoactivos.(1)

Os AG n-3 em óleos de peixe desempenham uma forte acção anti-trombótica.(97)

A diminuição da agregação plaquetária e consequente prevenção de fenómenos

trombóticos pelos AG n-3 de cadeia longa deve-se principalmente à inibição pelo

EPA, da síntese de TXA2 a partir do AA, potentes agregadores plaquetários e

vasoconstrictores, bem como ao aumento da síntese de PGI de classe 3 sem

prejuízo das de classe 2, ambas activos inibidores da agregação plaquetária.(1, 10)

Existe ainda alguma evidência de que a suplementação em óleos de peixes, pode

favorecer a fibrinólise. (10)

Page 46: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

32

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

Por fim, o efeito protector dos AGPI n-3 de cadeia longa na DCV, está também

relacionado com a melhoria da função endotelial e de fenómenos inflamatórios

prevenindo o desenvolvimento da aterosclerose.

O EPA e DHA têm demonstrado favorecer a produção de óxido nítrico (NO)

também conhecido como factor de relaxamento endotelial (10), que inibe a

agregação plaquetária, modula a interacção entre os leucócitos e o endotélio pela

alteração da expressão de moléculas de adesão, reduz a aderência dos

monócitos e inibe a proliferação das células do músculo liso.(98) O efeito anti-

aterogénico dos AGPI n-3 também tem sido demonstrada pela redução do

metabolismo de mediadores inflamatórios como o TNF-� e a IL-1� que possuem

uma acção pró-inflamatória, e de moléculas de adesão como a VCAM-1, E-

selectina e ICAM-1 envolvidas no recrutamento de leucócitos durante a

inflamação.(99)

Após décadas de extensiva investigação, a consolidação das evidências que

suportam o efeito benéfico dos ácidos gordos n-3 dos óleos de peixe na DCV e na

diminuição dos triglicéridos, levou à sua inclusão nas recomendações da

American Heart Association (AHA).(100) Num editorial publicado em 2003, a AHA

recomenda o consumo de peixe gordo pelo menos duas vezes por semana por

adultos saudáveis, e a suplementação de �1g/dia de EPA e DHA (combinados)

em indivíduos com doença coronária documentada, através do consumo de óleos

de peixe ou através de cápsulas de AGPI n-3. É também referido que a

suplementação de 2-4g/dia de EPA+DHA pode reduzir os TG em 20-40%.(100)

Page 47: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

33

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

5. ENVELHECIMENTO

O declínio cognitivo e demência são apontados como as principais causas de

incapacidade com o avanço da idade.(2, 101)

Vários investigadores têm analisado a possível relação entre as concentrações de

AGPI n-3 de cadeia longa e a demência (101), com base na influência destes AG

nas propriedades biofísicas das membranas nos tecidos cerebrais (102).

Conquer et al.(102) investigaram através de uma análise transversal, a composição

de várias fracções de fosfolípidos em 65 pacientes diagnosticados com demência

ou redução da função cognitiva comparando os resultados com um grupo de 19

indivíduos saudáveis de idade avançada. Foi verificado que os pacientes que

sofriam de demência associada à Doença de Alzheimer (DA), e com outros tipos

de demência ou redução da função cognitiva apresentavam um conteúdo

significativamente mais baixo de DHA, e do total de AGPI n-3 em determinados

fosfolípidos plasmáticos (fosfatidiletanolamina e fosfatidilcolina), sugerindo que

níveis plasmáticos reduzidos de AGPI n-3 poderão constituir um factor de risco

para o declínio cognitivo e/ou demência.(102)

Num estudo realizado por Soderberg et al.(103) que analisou amostras de tecidos

cerebrais, foi verificado que pacientes com DA apresentavam menos 30% de DHA

nos tecidos cerebrais em relação aos controlos com a mesma idade.(101, 103)

Alguns estudos observacionais sugerem também que uma maior ingestão de

peixe gordo e consequentemente de AGPI n-3 de cadeia longa, está associada a

uma redução do risco de declínio cognitivo e de DA.

Kalmijn et al.(104) analisaram uma amostra de homens com idades compreendidas

entre os 69-89 anos que participaram no Zutphen Elderly Study e verificaram que

um consumo de peixe de pelo menos 20g/dia estava inversamente associado a

Page 48: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

34

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

níveis cognitivos mais baixos (OR = 0.63, 95% lC 0.33-1.21) e ao declínio

cognitivo (OR = 0.45, 95% lC 0.17-1.16) comparativamente com os que não

consumiam peixe.(104)

Num estudo publicado por Morris et al.(105) que envolveu 815 participantes com

idades compreendidas entre os 65 e os 94 anos, foi verificado após um follow-up

de 3.9 anos, que 131 destes indivíduos tinham desenvolvido DA. Os participantes

que consumiam peixe pelo menos uma vez por semana apresentavam uma

redução do risco de desenvolver DA de 60% (RR 0.4 [95%IC: 0.2-0.9]) num

modelo ajustado para a idade e outros factores de risco, quando comparados com

os indivíduos que nunca consumiam peixe. Verificando-se também que o total de

AGPI n-3 e de DHA ingerido estava associado a uma redução do risco de

desenvolvimento de DA.(105)

CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÃO

A essencialidade dos AGPI n-3 é clara nos períodos iniciais da vida humana,

altura em que são indispensáveis ao óptimo desenvolvimento estrutural e

funcional do cérebro, mas não se cinge a este período formativo, e prolonga-se

durante toda a vida com possíveis implicações na saúde mental, e manutenção

das nossas capacidades cognitivas com o avanço da idade.

No contexto da saúde humana, existem fortes evidências de que os AGPI n-3 de

cadeia longa exercem um efeito promissor na prevenção e/ou evolução de

algumas patologias revistas neste trabalho, mas necessitam de maior

investigação noutras, não abordadas, como no cancro, na diabetes, e no

síndrome metabólico.

Page 49: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

35

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

As características da alimentação ocidental levaram a que a razão entre a

ingestão de AGPI n-6 e n-3 seja actualmente desequilibrada. Têm sido

observados consumos elevados de AG n-6 e insuficientes aportes de AG n-3,

com prováveis danos para a saúde. O consumo elevado de óleos vegetais como

o óleo de milho e de girassol (106), com razões elevadas de LA em relação ao ALA,

e o aumento da disponibilidade de peixe para consumo humano criado em

regimes de aquacultura,(107) que por serem alimentados artificialmente com rações

à base de cereais em vez de algas e pequenos crustáceos marinhos, possuem

menor concentração de n-3,(108) são algumas das causas apontadas para este

desequilíbrio.

Como forma de inverter esta desproporção, várias foram as recomendações

publicadas. A British Nutrition Foundation Task Force on Unsaturated Fatty Acids

recomenda uma ingestão equivalente a 1-2 porções de peixe gordo por semana,

ou uma ingestão diária de 0.5-1.0g de AGPI n-3.(106) Posteriormente a US National

Institutes of Health recomendou a ingestão diária de 650mg de EPA e DHA

combinados.(109)

O peixe rico em gorduras constitui o único alimento fornecedor de EPA e DHA na

alimentação humana e o seu consumo deve ser fortemente aconselhado. Cabe-

nos a nós nutricionistas, conscientes da importância destes nutrientes, exercer o

elo de ligação de forma segura entre conhecimento científico e a prática alimentar

diária das populações. Como tal acredito que a actual promoção do consumo de

peixe gordo é ainda insuficiente e deve ser reforçada, tendo em conta os imensos

benefícios para a saúde que o seu consumo implica.

Page 50: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

36

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

Referências Bibliográficas

1. Simopoulos AP. Omega-3 fatty acids in health and disease and growth and

development. Am J Clin Nutr. 1991; 54:438-63.

2. Uauy R, Dangour A. Nutrition in Brain Development and Aging: Role of the

Essential Fatty Acids. Nutr Rev. 2006; 64 no. 5:S24-S33.

3. Crawford M, Bloom M, Broadhurst C, Schmidt W, Cunnane S, Galli C, et al.

Evidence for the Unique Function of Docosahexaenoic Acid During the Evolution

of the Modern Hominid Brain. Lipids. 1999; 34 (suppl):S39-S47.

4. Simopoulos AP. Omega 3 Fatty Acids in Inflammation and Autoimmune

Diseases. J Am Coll Nutr. 2002; 21 No.6:495-505.

5. Calder P. Polyunsaturated fatty acids and inflammation. Prostaglandins,

Leukotrienes and Essential Fatty Acids 2006; 75:197-202.

6. Thom T, Haase N, Rosamond W, Howard V, Rumsfeld J, Manolio T, et al.

Heart Disease and Stroke Statistics—2006 Update: A Report From the American

Heart Association Statistics Committee and Stroke Statistics Subcommittee.

Journal of the American Heart Association. 2006; 113:e85-e151.

7. Simopoulos A. Essential fatty acids in health and chronic disease. Am J Clin

Nutr. 1999; 70 suppl:560S-9S.

8. Yaqoob P, Calder P. Fatty acids and immune function: new insights into

mechanisms. Br J Nutr. 2007; 98 suppl 1:S41-S45.

9. Murray R, Granner D, Mayes P, Rodwell V. Harper's Illustrated

Biochemistry. 26th ed. New York: Lange Medical Books/ McGraw-Hill Medical

Publishing Division; 2003.

Page 51: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

37

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

10. Kris-Etherton PN, Harris WS, Appel LJ. Fish Consumption, Fish Oil,

Omega-3 Fatty Acids, and Cardiovascular Disease. Journal of the American Heart

Association. 2003; 23:e20-e31.

11. Burdge G. �- Linolenic acid metabolism in men and women: nutritional and

biological implications. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2004; 7:137-44.

12. Ruxton C, Reed S, Simpson M, Millington K. The health benefits of omega-

3 polyunsaturated fatty acids: a review of the evidence. J Hum Nutr Dietet. 2004;

17:449-59.

13. Connor W. Importance of n-3 fatty acids in health and disease. Am J Clin

Nutr. 2000; 71 (suppl):171(S)-5(S).

14. Vaisman N, Kaysar N, Zaruk-Adasha Y, Pelled D, Brichon G, Zwingelstein

G, et al. Correlation between changes in blood fatty acid composition and visual

sustained attention performance in children with inattention: effect of dietary n-3

fatty acids containing phospholipids. Am J Clin Nutr. 2008; 87:1170-80.

15. Hoffman D, Birch E, Birch D, Uauy R. Effects of supplementation with n-3

long chain polyunsaturated fatty acids on retinal and cortical development in

premature infants. Am J Clin Nutr. 1993; 57 suppl:807S-12S.

16. Cheatham C, Colombo J, Carlson S. n-3 Fatty acids and cognitive and

visual acuity development: methodologic and conceptual considerations. Am J Clin

Nutr. 2006; 83 (suppl):1458S-66S.

17. Connor W, Lowensohn R, Hatcher L. Increased Docosahexaenoic Acid

Levels in Human Newborn Infants by Administration of Sardines and Fish Oil

During Pregnancy. Lipids. 1996; 31 (suppl):S183-7.

18. O'Connor D, Hall R, Adamkin D, Auestad N, Castillo M, Connor W, et al.

Growth and Development in Preterm Infants Fed Long-Chain Polyunsaturated

Page 52: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

38

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

Fatty Acids: A Prospective, Randomized Controlled Trial Pediatrics. 2001; 108 No.

2:359-71

19. Clandinin M, Aerde JV, Merkel K, Harris C, Springer M, Hansen J, et al.

Growth and development of preterm infants fed infant formulas containing

docosahexaenoic acid and arachidonic acid. J Pediatr. 2005; 146 (4):461-68.

20. Helland I, Smith L, Saarem K, Saugstad O, Drevon C. Maternal

supplementation with very-long-chain n-3 fatty acids during pregnancy and

lactation augments children's IQ at 4 years of age. Pediatrics. 2003; 111:e39-e44.

21. Oken E, Osterdal M, Gillman M, Knudsen V, Halldorsson T, Strom M, et al.

Associations of maternal fish intake during pregnancy and breastfeeding duration

with attainment of developmental milestones in early childhood: a study from the

Danish National Birth Cohort. Am J Clin Nutr. 2008; 88:789-96.

22. Jensen C. Effects of n-3 fatty acids during pregnacy and lactation. Am J

Clin Nutr. 2006; 83 (suppl):1452(S)-7(S).

23. Simopoulos A, Leaf A, Salem N. Workshop on the Essentiality of and

Recommended Dietary Intakes for Omega-6 and Omega-3 Fatty Acids J Am Coll

Nutr. 1999; 18 No.5:487-89.

24. Koletzkoa B, Cetina I, Brennaa J. Dietary fat intakes for pregnant and

lactating women. Br J Nutr. 2007; 98:873-77

25. Akabas S, Deckelbaum R. Summary of a workshop on the n-3 fatty acids:

current status of recommendations and future directions. Am J Clin Nutr. 2006;

83(suppl):1536(S)-8S.

26. Hibbeln J. Seafood consumption, the DHA content of mothers’ milk and

prevalence rates of postpartum depression: a cross-national, ecological analysis. J

Affect Disord. 2002; 69:15-29.

Page 53: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

39

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

27. Vriese SD, Christophe A, Maes M. Lowered serum n-3 polyunsaturated

fatty acid (PUFA) levels predict the occurrence of postpartum depression: Further

evidence that lowered n-PUFAs are related to major depression Life Sci. 2003;

73(25):3181-87.

28. Colin A, Reggers J, Castronovo V, Ansseau M. Lipids, depression and

suicide. Encephale. 2003; 29(1):49-58.

29. Logan A. Omega-3 fatty acids and major depression: A primer for mental

health professional. Lipids in Health and Disease. 2004; 3:25.

30. M Peet, Murphy B, Shay J, Horrobin D. Depletion of Omega-3 Fatty Acid

Levels in Red Blood Cell Membranes of Depressive Patients. Official Journal of

Society of Biological Psychiatry. 1998; 43(5):315-19.

31. Tiemeier H, Tuijl Hv, Hofman A, Kiliaan A, Breteler M. Plasma fatty acids

composition and depression are associated in the elderly: The Rotterdam Study.

Am J Clin Nutr. 2003; 78:40-46.

32. Maes M, Christophe A, Delanghe J, Altamura C, Neels H, Meltzer H.

Lowered omega-3 polyunsaturated fatty acids in serum phospholipids and

cholesteryl esters of depressed patients. . Psychiatry Res. 1999; 85:275-91.

33. Tanskanen A, Hibbeln J, Tuomilehto J, Uutela A, Haukkala A, Viinamäki H,

et al. Fish Consumption and Depressive Symptoms in the General Population in

Finland. Psychiatr Serv. 2001; 52:529-31.

34. Su K, Huang S, Chiub C, Shen W. Omega-3 fatty acids in major depressive

disorder a preliminary double-blind, placebo-controlled trial. Eur

Neuropsychopharmacol. 2003; 13:267-71.

35. Parveen Y, Calder P. Fatty Acids and immune function: new insights into

mechanisms. Br J Nutr. 2007; 98 Suppl 1

Page 54: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

40

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

36. Jump DB. The biochemistry of n-3 Polyunsaturated Fatty acids. The Journal

of Biological Chemistry. 2001; 277 No.11:8755-58.

37. Calder P. n-3 Polyunsaturated fatty acids, inflammation, and inflammatory

diseases. Am J Clin Nutr. 2006; 83(suppl):1505S-19S.

38. Cook J. Eicosanoids. Crit Care Med. 2005; 33 No.12 (suppl):S488-S91.

39. Stephensen C. Fish oil and Inflammatory Disease: Is Asthma the Next

Target for the n-3 Fatty Acids Supplements? Nutr Rev. 2004; 62 No.12:486-89.

40. Moreira A, Rodrigues J, Fonseca J, Vaz M. Ácidos gordos pollinsaturados

n-3 e resposta inflamatória. Rev Port Imunoalergol. 2001; 8 No.4:237-50.

41. Kremer J, Lawrence D, Petrillo G, Litts L, Mullaly P, Rynes R, et al. Effects

of high-dose fish oil on rheumatoid arthritis after stopping nonsteroidal

antiinflammatory drugs. Clinical and immune correlates. Arthritis Rheum. 1995; 38

(8):1107-14.

42. Arm J, Horton C, Mencia-Huerta J, House F, Eiser N, Clark T, et al. Effects

of dietary supplementation wit fish oil lipids on mild asthma. Thorax. 1988; 43:84-

92.

43. Black P, Sharpe S. Dietary fat and asthma: is there a connection? Eur

Respir J. 1997; 10:6-12.

44. Miles E, Aston L, Calder P. In vitro effects of eicosanoids derived from

different 20-carbon fatty acids onThelper type 1 and Thelper type2 cytokine

production in human whole-blood cultures. Clin Exp Allergy. 2003; 33:624-32.

45. Roper R, Phipps R. Prostaglandin E2 regulation of the immune response.

Adv Prostaglandin Thromboxane Leukot Res. 1994; 22:101-11.

46. Hodge L, Salome C, Peat J, Haby M, Xuan W, Wollcock A. Consumption of

oily fish and chilhood asthma risk. MJA. 1996; 164:137-40.

Page 55: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

41

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

47. Broughton K, Johnson C, Pace B, Liebman M, Kleppinger K. Reduced

asthma symptoms with n-3 fatty acid ingestion are related to 5-series leucotriene

production. Am J Clin Nutr. 1997; 65:1011-7.

48. Thien F, Woods R, DeLuca S, Abramson M. Dietary marine fatty acids (fish

oil) for asthma in adults and children

Cochrane Database Syst Rev 2003; The Cochrane Library(1):Abstract.

49. Endres, Stefan, Lorenz, Reinhard, Loeschke, Klaus. Lipid treatment of

inflammatory bowel disease. Current Opinion in Clinical Nutrition & Metabolic

Care. 1999; 2(2):117-20.

50. Sharon P, Stenson W. Enhanced synthesis of leukotriene B4 by colonic

mucosa in inflammatory bowel disease. Gastroenterology. 1984; 86 453– 60.

51. Shoda R, Matsueda K, Yamato S, Umeda N. Epidemiologic analysis of

Crohn disease in Japan: increased dietary intake of n-6 polyunsaturated fatty

acids and animal protein relates to the increased incidence of Crohn disease in

Japan. Am J Clin Nutr. 1996; 63:741-5.

52. Lorenz R, Weber P, Szimnau P, Heldwein W, Strasser T, Loeschke K.

Supplementation with n-3 fatty acids form fish oil in chronic inflammatory bowel

disease - a randomized, placebo-controlled, double-blind cross-over trial. J Intern

Med. 1989; 225 suppl:225-32.

53. Hawthorne A, Daneshmend T, Hawkey C, Belluzzi A, Everitt S, Holmes G.

Treatment of ulcerative colitis with fish oil supplementation: a prospective 12

month randomised controlled trial. Gut. 1992; 33:922-28.

54. Belluzzi A, Brignola C, Campieri M, Pera A, Boschi S, Miglioli M. Effect of

an enteric-coated fish-oil preparation on relapses in Crohn's disease. N Eng J

Med. 1996; 334:1557-60.

Page 56: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

42

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

55. Christophers E. The immunopathology of psoriasis. Int Arch Allergy

Immuno. 1996; 110 (3):199-206.

56. Mayser P, Grimm H, Grimminger F. n-3 fatty acids in psoriasis. Br J Nutr.

2002; 87 (suppl):S77-S82.

57. Bittiner S, Cartwright I, Tucker W, Bleehen S. A double-Blind, Randomized,

Placebo-Controlled Trial. The Lancet. 1988; (8582):378 3 pgs.

58. Soyland E, Funk J, Rajka G, Sandberg M, Thune P, Rustad L, et al. Effect

of Dietary Supplementation with Very-Long-Chain n-3 Fatty Acids in Patients with

Psoriasis. The New England Journal of Medicine. 1993; 328 No.25:1812-16.

59. Kelley V, Ferretti A, Izui S, Strom T. A fish oil diet rich in eicosapentaenoic

acid reduces cyclooxigenase metabolites, and suppresses lupus in MRL-lpr mice.

The Journal of Immunollogy. 1985; 134(3):1914-19.

60. Clark W, Parbtani A, Huff M, Reid B, Holub B, Falardeau P. Omega-3 fatty

acid dietary supplementation in systemic lupus erythematosus. Kidney Int. 1989;

36:653-60.

61. Ilowite N, Copperman N, Leicht T, Kwong T, Jacobson M. Effects of dietary

modification and fish oil supplementation on dyslipoproteinemia in pediatric

systemic lupus erythematosus. J Rheumatol. 1995; 22 No.7:1347-51.

62. Wright S, O'Prey F, McHenry M, Leahey W, Devine A, Duffy E, et al. A

randomised interventional trial of n-3 polyunsaturated fatty acids on endothelial

function and disease activity in systemic lupus erythematosus. Annals of

Rheumatic Diseases 2007; 67:841-48.

63. Simopoulos AP, Kifer RR, Martin RE. Health Effects of Polyunsaturated

Fatty Acids in Seafoods. Orlando, Florida: Academic Press, INC. Harcourt Brace

Jovanovich, Publishers; 1986.

Page 57: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

43

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

64. Dyerberg J, Bang HO, Hjorne N. Fatty acid composition of the plasma lipids

in Greenland Eskimos. Am J Clin Nutr. 1975; 28:958-66.

65. Lands W. Fish and Human Health. Orlando, Florida: Academic Press INC.

Harcourt Brace Jovanovich, Publishers; 1986.

66. Bang HO, Dyerberg J, Sinclair HM. The composition of the Eskimo food in

north western Greenland. Am J Clin Nutr. 1980; 33:2657-61.

67. Kroumhout D, Bosschieter EB, Coulander CdL. The inverse relation

between fish consumption and 20-year mortality from coronary heart disease. N

Eng J Med. 1985; 312:1205-9.

68. Kromhout D, Feskens EJM, Bowles CH. The Protective Effect of a Small

Amount of Fish on Coronary Heart Disease Mortality in an Elderly Population.

Internacional Journal of Epidemiology 1995; 24, No.2:340-45.

69. Shekelle R, Missell L, Paul O, Shryock A, Stamler J. Fish consumption and

mortality from coronary heart disease. [Letter to the editor]. N Eng J Med. 1985;

313:820.

70. Ascherio A, Rimm EB, Stampfer MJ, Giovannucci EL, Willett WC. Dietary

Intake of Marine n-3 Fatty Acids, Fish Intake, and The Risk of Coronary Disease

among Men. N Engl J Med. 1995; 332, No. 15:977-82.

71. Morris MC, Manson JE, Rosner B, Buring JE, Willett WC, Hennekens CH.

Fish Consumption and Cardiovascular Disease in the Physician's Health Study: A

prospective Study. Am J Epidemiol. 1995; 142 No.2:166-75.

72. Daviglus ML, Stamler J, Orencia AJ, Dyer AR, Lu K, Greenland P, et al.

Fish Consumption and the 30-year Risk of Fatal Myocardial Infarction. N Eng J

Med. 1997; 336:1046-53.

Page 58: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

44

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

73. Oomen CM, Feskens EJM, Rasanen L, Fidanza F, Nissinen AM, Menotti A,

et al. Fish Consumption and Coronary Heart Disease Mortality in Finland, Italy,

and the Netherlands. Am J Epidemiol. 2000; 151 No.10:999-1006.

74. Hu FB, Bronner L, Willet WC, Stampfer MJ, Rexrode KM, Albert CM, et al.

Fish and Omega-3 Fatty Acid Intake and Risk of Coronary Heart Disease in

Women. JAMA. 2002; 287(14):1815-21.

75. Kyungwon O, Hu FB, Manson JE, Stampfer MJ, Willet WC. Dietary Fat

Intake and Risk of Coronary Heart Disease in Women: 20 Years of Follow-up of

the Nurses Health Study. Am J Epidemiol. 2005; 161:672-79.

76. Erkkila AT, Lehto S, Pyorala K, Uusitupa MIJ. n-3 Fatty acids and 5-y risks

of death and cardiovascular disease events in patients with coronay artery

disease. Am J Clin Nutr. 2003; 78:65-71.

77. Albert CM, Hennekens CH, O'Donnell CJ, Ajani UA, Carey VJ, Willett WC,

et al. Fish consumption and risk of sudden cardiac death. JAMA. 1998; 279:23-28.

78. Marckmann P, Gronbaek M. Fish consumption and coronary heart disease

mortality: a systematic review of prospective cohort studies. Eur J Clin Nutr. 1999;

53:585-90.

79. He K, Song Y, Daviglus ML, Liu K, Horn LV, Dyer AR, et al. Fish

Consumption and Incidence of Stoke: A Meta-Analysis of Cohort Studies. Stoke.

2004; 35:1538-42.

80. He K, Song Y, Daviglus ML, Liu K, Horn LV, Dyer AR, et al. Accumulated

Evidence on Fish Consumption and Coronary Heart Disease Mortality: A Meta-

Analysis of Cohort Studies [Circulation]. Journal of the American Heart

Association. 2004; 109 2705-11.

Page 59: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

45

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

81. Gillum RF, Mussolino ME, Madans JH. The relationship between fish

consumption and stroke incidence. The NHANES Epidemiologic Follow-up Study

(National Health and Nutrition Examination Survey) Arch Intern Med. 1996;

156:537-42.

82. Iso H, Rexrode KM, Stamfer MJ, Manson JE, Colditz GA, Speizer FE, et al.

Intake of fish and omega-3 fatty acids and risk of stroke in women. JAMA. 2001;

285:304-12.

83. Sauvaget C, Nagano J, Allen N, Grant EJ, Beral V. Intake of animal produts

and stroke mortality in the Hiroshima/Nagasaki Life Span Study. Int J Epidemiol.

2003; 32:536-43.

84. Orencia AJ, Daviglus ML, Dyer AR, Shekelle RB, Stamler J. Fish

consumption and stroke in men. 30-year findings of the Chicago Western Electric

Study Stroke. 1996; 27:204-09.

85. Keli S, Feskens EJ, Kromhout D. Fish consumption and risk of stroke. The

Zutphen Study. Stroke. 1994; 25:328-32.

86. He K, Rimm EB, Merchant A, Rosner BA, Stampfer MJ, Willett WC, et al.

Fish consumption and risk of stroke in men. JAMA. 2002; 288:3130-36.

87. Yuan JM, Ross RK, Gao YT, Yu MC. Fish and shellfish consumption in

relation to death form myocardial infarction among men in Shanghai, China. Am J

Epidemiol. 2001; 154:809-16.

88. Dyerberg J, Bang HO. Haemostatic function and platelet polyunsaturated

fatty acids in Eskimos. Lancet. 1979; 2:433.

89. Lemaitre RN, King IR, Mozaffarian D, Kuller LH, Tracy RP, Siscovick DS. n-

3 Polyunsaturated fatty acids, fatal ischemic heart disease, and nonfatal

Page 60: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

46

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

myocardial infarction in older adults: the Cardiovascular Health Study. Am J Clin

Nutr. 2003; 77:319-25.

90. Gruppo Italiano per lo Studio della Sopravvivenza nell'Infarto Miocardico.

Dietary supplementation with n-3 polyunsaturated fatty acids and vitamin E after

myocardial infarction: results of the GISSI-Prevenzione trial. The Lancet. 1999;

354:447-55.

91. Bucher HC, Hengstler P, Schindler C, Meier G. N-3 Polyunsaturated Fatty

Acids in Coronary Heart Disease: A Meta-analysis of Randomized Controlled

Trials. Am J Med. 2002; 112:298-304.

92. Breslow JL. n-3 fatty acids and cardiovascular disease. Am J Clin Nutr.

2006; 83(suppl):1477S-82S.

93. Albert CM, Campos H, Stempfer MJ, Ridker PM, Manson JE, Willett WC, et

al. Blood Levels of Long-Chain n-3 Fatty Acids and The Risk of Sudden Death.

New Engl J Med. 2002; 346 No.15:1113-18.

94. Harris WS. n-3 fatty acids and serum lipoproteins: human studies. Am J Clin

Nutr. 1997; 65(suppl):1645S-54S.

95. Jacobson TA. Role of n–3 fatty acids in the treatment of

hypertriglyceridemia and cardiovascular disease. Am J Clin Nutr. 2008;

87(6):1981(s)-90(s).

96. Morris M, Sacks F, Rosner B. Does fish oil lower blood pressure? A meta-

analysis of controlled trials. Journal of the American Heart Association, Circulation.

1993; 88:523-33.

97. Connor WE. Importance of n-3 fatty acids in health and disease. Am J Clin

Nutr. 2000; 71(suppl):171(S)-5(S).

Page 61: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

47

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

98. Brown AA, Hu FB. Dietary modulation of endothelial function: implications

for cardiovascular disease. Am J Clin Nutr. 2001; 73:673-86.

99. James MJ, Gibson RA, Cleland LG. Dietary polyunsaturated fatty acids and

inflamatory mediator production. Am J Clin Nutr. 2000; 71(suppl):343(S)-8(S).

100. Kris-Etherton PM, Harris WS, Appel LJ. Omega-3 Fatty Acids and

Cardiovascular Disease: New Recommendations From the American Heart

Association. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2003; 23:151-52.

101. Johnson E, Schaefer E. Potencial role of dietary n-3 fatty acids in the

prevention of demencia and macular degeneration. Am J Clin Nutr. 2006; 83

(suppl):1494S-8S.

102. Conquer J, Tierneyc M, Zecevica J, Bettgera W, Fisherc R. Fatty Acid

Analysis of Blood Plasma of Patients with Alzheimer’s Disease, Other Types of

Dementia, and Cognitive Impairment. Lipids. 2000; 35:1305-12.

103. Soderberg M, C E, Kristensson K, Dallner G. Fatty acids composition of

brain phospholipids in aging and in Alzheimer's disease. Lipids. 1991; 26:421-5.

104. Kalmijn S, Feskens E, Launer L, Kromhout D. Polyunsaturated Fatty Acids,

Antioxidants, and Cognitive Function in Very Old Men. Am J Epidemiol. 1997;

145:33-41.

105. Morris M, Evans D, Bienias J, Tangney C, Bennett D, Wilson R, et al.

Consumption of Fish and n-3 Fatty Acids and Risk of Incident Alzheimer Disease.

Arch Neurol. 2003; 60:940-46.

106. Sanders T. Polyunsaturated fatty acids in food chain in Europe. Am J Clin

Nutr. 2000; 71 (suppl):176S-8S.

107. Tall A. World Trade Trends for Fishery Products and the Share of Africa.

INFOPECHE. 2002.

Page 62: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

48

Sofia Cordeiro Rocha Porto, 2009

108. Vliet T, Katan M. Lower ratio of the n-3 to n-6 fatty acids in cultured than in

wild fish. Am J Clin Nutr. 1990; 51:1-2.

109. Simopoulos A, Leaf A, Salem N. Essentiality of and Recommended Dietary

Intakes for Omega-6 and Omega-3 Fatty Acids. Ann Nutr Metab. 1999; 43:127-30

Page 63: Ácidos Gordos Poliinsaturados n-3: Benefícios para a Saúde · psoríase, e lúpus. A modulação da sua síntese pelos AGPI n-3 parece poder influenciar beneficamente a evolução

a1