Crónica Nº 120- A casa velha

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  • 7/28/2019 Crnica N 120- A casa velha

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    Crnica N 120 A casa velha

    Por Henrique de Almeida Cayolla

    DISSERTAES NUMA TARDE DE PRIMAVERA

    Era uma tarde de sexta-feira, quando me desloquei ao Parque da Cidade doPorto para espairecer um pouco, e gozar da tranquilidade e do contacto coma natureza que l nos proporcionado.Parei o carro na Avenida da Boavista, para entrar pelo acesso que est mais perto do mar. Era um dia tranquilo, sem vento e com o cu ora nublado, oracom sol.Sa do carro, e fui caminhando lentamente, pois por um lado no tinha pressa, e por outro, as circunstncias a isso me obrigavam, j que h unsdias que andava com uma mazela num dos joelhos, originada por umaentorse.Se procuro ser um observador atento quando ando de carro, mais ainda osou, quando me desloco a p passeando, ou caminhando para fazer exerccio.Assim, quando olhos para as coisas, no estou s a v-las, estou tambm aobserv-las, e da recolho elementos curiosos ou invulgares, e comfrequncia fao ligaesaos pensamentos que bailam na minha cabea.Era um dia que estava um pouco deprimido, daquelas ocasies em queestamos pessimistas, aborrecidos com determinados acontecimentos oudescrentes das actuaes dos nossos semelhantes, por vezes bem prximosem laos familiares.Em ocasies como essa, sinto-me vazio, s, e ocorrem-me pensamentosrelativos ao percurso que tive na vida, que at j nem pequeno, pois nascino ano em que principiou a Segunda Grande Guerra Mundial.Assim, lembro-me muito bem, que embora Portugal no tivesse entrado naGuerra, viveram-se pocas difceis, em que tinha que haver cuidado a poupar nos gastos, aproveitando-se o mais possvel o que existia.

    Embora filho de um oficial do exrcito, e portanto j dentro de umadeterminada rea social, no nos podemos esquecer que os militares eram

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    bastante mal pagos, e portanto tinham que ser controladas as despesas, emuitas vezes tinha que se tirar partido do que existia.Exemplos concretos eram a forma como eram feitas as minhas botas, com asola adaptada de borracha de pneu de automvel, eram os brinquedos, em

    que a bola com a qual jogava futebol com os amigos era feita de uma meia,que se enchia com trapos, era a forma como jogvamos hquei em campo,com o talo de uma couve, que na parte que estava enterrada na terra faziaum ngulo semelhante ao da parte inferior do stick real, era o dinheiro quens jovens procurvamos adicionar nossa pequena semanada, vendendo jornais e garrafas que os nossos Pais j no precisavam, e tantas coisasmais. Como ns ramos diferentes dos jovens de agora!Como os nossos Pais eram diferentes dos Pais de agora!Fui crescendo, habituado a gerir as despesas, a poupar e a no desperdiar.Quando casei, com 24 anos, criei um caderno que designei de Cofreforte, no qual cada pgina tinha 5 colunas: Dia - Referncia Entrada Sada Saldo, onde registava os movimentos que se iam efectuando, enoutras folhas tinha Despesas previstas, para assim ir controlando o meuFundo de Maneio.Ora, olhando para tudo aquilo que de h muitos anos para c, se ia passando nas famlias portuguesas, em que as despesas eram sempremaiores que as receitas, no era difcil prever que isso tinha de estourar forosamente! E C EST O PANTANO EM QUE ESTAMOSATOLADOS, por culpa do prprio Povo, mas tambm e muito dosgovernantes, que no s no o souberam educar, mas tambm essesmesmos governantes no souberam dar o exemplo, e paralelamente criaramcondies e condies, umas atrs das outras, para os cidados recorreremao crdito por tudo e por nada.Estava ento eu com este tipo de pensamentos, quando o meu olhar se prendeu numaCasa Velha que estava dentro de um jardim, sobranceiro Avenida da Boavista.Que triste e vazia imagem que ela transmitia: Portas e janelas escancaradas,vidros partidos, telhado a cair, ervas e arbustos a crescer descontroladamente no jardim!Esta casa, naquele dia, estava em consonncia comigo, sentindo-me vazio es, da ter funcionado como um im para os meus olhos.

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    Percebia-se que esta moradia que j foi nova, teria sido propriedade degente de dinheiro, teria tido muitos dias de glria e de sade, e aquiestava abandonada, vazia, sem que algum tratasse dela! S!

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