18
CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 1

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 1

Page 2: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 2

............................................................................... 3

.............................................................................. 8

3. . .................................................................. 14

............................................................................................... 18

Page 3: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 3

O uso dos atributos, como vimos anteriormente, prendia-se com a necessidade de

identificar as personagens religiosas perante um público, na sua maioria, analfabeto.

Inicialmente, podem ser encontrados os nomes dos respetivos santos inscritos na

auréola ou numa filactera (espécie de legenda explicativa, na base da figura). Todavia,

o uso de sinais ou símbolos, tal como era tradição nas religiões pagãs, provou-se

muito mais eficaz, tendo sido com o tempo, mais aceite.

O Santo era, então, individualizado pelo aspeto físico, pelas roupagens, armas,

animais ou outros símbolos que se relacionassem com a sua história.

Podemos distinguir a figura santa por dois aspetos:

- as suas características – aspeto físico e indumentária;

- os seus atributos – elementos de vários tipos que se relacionam geralmente com a

sua condição, profissão, história de vida ou de martírio.

Na generalidade dos casos, o aspeto físico é mais ou menos estandardizado e com

poucas variações:

- as feições tendem a ser equilibradas, de silhuetas esguias e aspeto algo frágil, como

forma de sugerir a vida de ascetismo (com algumas exceções, como São Cristóvão,

representado como um homem de aspeto mais atlético);

- a maioria das imagens apresenta-se sã, mas muitas representações demonstram os

santos a sofrer as mutilações dos seus martírios;

- são representados na plenitude da idade, exceto aqueles que morreram em jovens

ou que habitualmente são visto como idosos (como São José e São Jerónimo);

- predominam os tipos físicos europeus, em particular os mediterrânicos;

- as barbas são curtas nos mais jovens e longas nas personagens patriarcais (de notar

que há uma santa que apresenta barba, Santa Wilgeforte, a única exceção à

suavidade caracterizadora dos rostos femininos);

Page 4: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 4

Imagem 1. Santa Wilgefort crucificada. Escultura em madeira (século XVI, Igreja de Saint

Etiénne em Beauvais – França).

- é raro encontrar santas representadas com cabelos longos visíveis (um dos

exemplos é Santa Madalena);

- é, igualmente, raro encontrar inferioridades físicas e desfigurações (mas,

encontramos São Roque com as úlceras da lepra e Santa Noémia com o pé

deformado em pata de ganso, como exceções à regra).

A indumentária revela-nos algo mais sobre a identidade da imagem, ajudando a definir

alguns aspetos da sua vivência, condição e país de origem do santo em questão, bem

como a posição hierárquica que ocupa dentro da Igreja, se a tiver.

Podemos delinear alguns aspetos gerais:

- aqueles santos dos primeiros séculos do Cristianismo, vestiam-se de modo

convencional, com túnica branca cingida, manto e sandálias;

- os Apóstolos apresentam-se do mesmo modo, mas descalços (segundo motivos

religiosos, induzidos no Novo Testamento);

- um santo que tenha tido actividade militar era representado com as suas armas e

couraças (por vezes, criando anacronismos);

-

Page 5: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 5

- Anjos e Arcanjos das Milícias Celestes podem surgir representados com armas e

couraças, embora, geralmente, surjam com túnicas brancas;

- a indumentária reflete a condição social, diferenciando um camponês (por exemplo,

Santo Isidro), de um pastor (Santo Vendelin) ou de um rei (São Luís de França);

Imagem 2. São Luís de França oferece a sua coroa e bastão real à Virgem Maria. Vitral do

Coro da Igreja de Santa Eutropia, em Clermont-Ferrand – França.

http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cl-Fd_Saint-Eutrope-Louis-XIII.jpg?uselang=pt

- os romeiros apresentam-se com o chapeirão, bordão ou cajado (por vezes com

cabaça), uma capa curta (a romeira) e, por vezes, uma concha (da romagem a

Santiago);

Page 6: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 6

Imagem 3. Menino Jesus Romeiro de Santiago (óleo sobre tela, autor desconhecido,

segunda metade do século XVII; Museu de Aveiro - Portugal).

http://artalongtheages.blogspot.pt/2011/08/aveiro-museu-de-aveiro-parte-2.html

- o halo ou nimbo é usado como símbolo de santidade, dignidade e honra, servindo

para distinguir o santo. Embora geralmente sejam um círculo de luz sobre a cabeça

das figuras de santos, distinguem-se outros: o halo em triângulo (para a Primeira

Pessoa da Santíssima Trindade), o halo cruciforme (para Jesus), o halo dourado (para

as pessoas divinas, como os Anjos, a Virgem Maria e os Santos de primeira ordem) e

o halo branco (para todas as figuras restantes). Por vezes, o nimbo da Virgem Maria é

representado com estrelas (como na pintura seguinte).

Page 7: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 7

Imagem 4. Jerónimo Ezquerra – A Trindade na Terra (óleo sobre tela, c. 1737, Museu

Carmen Thyssen, Málaga - Espanha)

O pintor faz representar, simultaneamente a Trindade Celeste (Deus Pai, Filho e

Espírito Santo) e a Trindade Terreste (Jesus, Maria e José). É de notar a que o pintor

usou uma variedade de halos, que distinguem as personagens.

Page 8: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 8

A maioria dos Santos e Santas dedicou-se à vida religiosa e, por isso, aparecem

retratados com as suas vestes eclesiásticas.

Antes de começarmos a explorar as diferentes peças da indumentária religiosa,

convém distinguir clero secular e clero regular.

O clero secular é aquele que é constituído por todos os indivíduos que se dedicam a

actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do

latim «saeculum», que significa «mundo»), na celebração das cerimónias litúrgicas, na

administração dos sacramentos, etc., vivendo entre esta. São sacerdotes que fazem

parte da hierarquia da Igreja. Falamos, por exemplo, de Padres, Diáconos e Bispos.

O clero regular, ou religioso, é aquele que segue uma determinada regra (em latim

«regula»), imposta por uma ordem religiosa. Dentro desta, obedecem a uma

hierarquia e têm títulos próprios e, ao contrário do clero secular, não vivem entre os

leigos, mas em espaços próprios, como os mosteiros, conventos e abadias.

Este movimento do clero regular foi iniciado, pelo ano IV, por Santo Antão e outros

eremitas, que favoreciam uma nova abordagem à vida religiosa. Esta promovia o

ascetismo e a renúncia ao mundano. Assim, de um lado, temos eremitas que se

isolam no deserto e se sujeitam a duras penitências e jejuns; do outro, e sobretudo

pelo território europeu, vemos criarem-se também comunidades de indivíduos

dedicados à religião, que fazem votos de pobreza, obediência e castidade. Surgiram,

assim, os primeiros monges e monjas.

Dentro das ordens religiosas, podemos encontrar quatro tipos:

- monásticas – monges e monjas que vivem em clausura, nos mosteiros (ex.:

Beneditinos, Cartuxos, Clarissas, Cistercienses);

- mendicantes – frades e freiras vivem em conventos e mantêm o apostolado mais

activo junto dos leigos, através de obras de caridade, sobrevivendo de esmolas e

comprometendo-se a viver da pobreza (ex.: Agostinianos, Carmelitas, Dominicanos,

Franciscanos);

- regrantes – formadas exclusivamente por cónegos regrantes (como a Ordem dos

Cónegos Regrantes de Santo Agostinho e a Ordem Premonstratense);

- clérigos regulares – não vivem tão enclausurados como os monges e frades,

mostrando-se mais orientados para a vida comunitária entre os leigos. Participam,

Page 9: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 9

muitas vezes, das atividades do clero secular, como a liturgia, a educação e a

administração dos sacramentos (ex.: Crúzios, Jesuítas, Teatinos).

a) Vestes do Clero Secular

Podemos afirmar que, nas vestes do Clero prevalece a influência romana, visto que foi

a partir desta sociedade que a Igreja moldou os seus costumes, podendo existir, no

entanto, algumas variantes locais características. Por exemplo, vemos os Apóstolos e

outros Santos vestidos como judeus da época, com uma simples túnica, típica da sua

condição e hábitos locais.

Entre o século I e o século IX, a própria dinâmica hierárquica da Igreja influenciou a

pluralidade das vestimentas dos clérigos. Começando por ser constituída apenas por

padres e diáconos, a hierarquia da igreja rapidamente aumenta, criando as posições

de bispo (no século II), cónego, sub-diácono e arcebispo (século III e IV), Papa

(século V) e, finalmente, cardeal (século IX).

Distinguem-se, entre si, os membros da Igreja e distinguem-se, também, as cores dos

diferentes momentos do ano litúrgico.

No final do século XII, o papa Inocêncio III estabeleceu regras quanto às cores

usadas:

- branco – dias de festa, consagrações, coroações e acontecimentos importantes;

- vermelho – significando sangue, seria usado para a Paixão de Cristo e martírios dos

Apóstolos e outros Santos;

- verde – momentos definidos antes da Quaresma e depois da Santíssima Trindade;

- brocado de ouro – substituía o branco, o vermelho ou o verde;

- violeta e preto – significavam luto, sendo o preto para funerais e missa de defunto e

o violeta para penitência (hoje em dia, o violeta substituíu totalmente o preto).

O cor-de-rosa e o amarelo caíram em desuso e o azul-celeste é usado, sob

autorização da Santa Sé, em Portugal nas Festas da Imaculada Conceição (a 8 de

Dezembro), tido que é a padroeira deste país.

No quadro seguinte, distinguem-se aquelas que são as peças (e respetivas cores,

quando pertinente a diferenciação) usadas pelas diferentes figuras dentro da

hierarquia do clero secular.

Page 10: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 10

Quadro-síntese: Vestes usadas pelo Clero Católico

Padre Bispo Arcebispo Cardeal Papa Cónego Diácono

Subdiácono (hoje já não

existem)

Sotaina Preta

Vermelha ou preta debruada a púrpura

Vermelha ou preta debruada a púrpura

Vermelha ou preta debruada

a vermelho

Branca Preta Preta Preta

Barrete (hoje em desuso)

Preto Púrpura Púrpura Vermelho Branco Preto Preto Preto

Tiara (Processi

onal)

Sobrepeliz (hoje em desuso)

● ● ● ● ● ● ● ●

Pluvial ● ● ● ● ●

Murça Púrpura Púrpura Vermelha

(Orla de arminho)

veludo vermelho

Amicto (hoje em desuso)

● ● ● ● ● ● ● ●

Alva ● ● ● ● ● ● ● ● Cinto ● Púrpura Púrpura Vermelho Branco ● ● ●

Manípulo (hoje em desuso)

● ● ● ● ● ● ● ●

Estola ● ● ● ● ● ● ●

Tunicela ● ● ● ●

Dalmática ● ● ● ● ●

Casula ● ● ● ● ● ●

Sandálias ou Sapatos com fivela (hoje sem

obrigatoriedade) ● ● ● ●

Meias ● ● ● ●

Luvas (hoje em desuso)

● ● ● ●

Mitra Branca Branca Branca Litúrgica

Pálio Branco Branco

Cruz Peitoral ● ● ● ●

Anel Pontifical ● ● ● ●

Báculo ● ● ●

Capa Magna ● ● ● ● ●

Racional Alguns bispos apenas

Solidéu Preto Púrpura Púrpura Vermelho Branco Preto c/ borla de

cor

Page 11: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 11

(retirado de TAVARES, Jorge Campos – Dicionário de Santos. Porto: Lello Editores, 2004, pp168-

169.)

Estas peças têm origens diferentes, algumas romana (como a alva ou o pálio), outras

grega (como a mitra e a dalmática), absorvendo uma ou outra influência dos povos

invasores (bárbaros). No entanto, no geral, as vestes eclesiásticas derivam, na sua

essência, do traje romano clássico, começando por ser um traje civil comum, embora

de uso mais formal, tendência que persistirá, guardando-se as roupas mais «finas»

para aparecer com aprumo perante Deus.

Podem consultar a descrição e função de cada peça no nosso Glossário.

b) Vestes do Clero Regular

Os hábitos da maioria das Ordens refletem os seus votos, mostrando-nos um figurino

modesto, mas digno, que imita os humildes do seu tempo. Assim, as vestes do clero

regular é um traje de grande simplicidade, variando em corte e formas, de acordo com

a Ordem a que pertence, e consistindo somente num escapulário e um capuz.

Os Abades e as Abadessas recebiam, com a bênção do bispo um anel e uma cruz

peitoral, significando o seu cargo. Aos Abades era, ainda, atribuído um báculo.

Vamos, então, analisar brevemente os hábitos das principais ordens religiosas:

- Beneditinos – chamados de «monges negros», porque vestiam um hábito de lã

preta, por tingir; o hábito tinha mangas e capeirote com capuz e calçavam sapatos e

meias;

- Ordem de Cister – o hábito era igual ao dos Beneditinos, inicialmente em castanho,

depois passou a branco ou cinzento com escapulário castanho e evoluiu para um

hábito branco com escapulário preto;

- Cartuxos – inicialmente usavam hábitos grosseiros e uma camisa de esparto (um

arbusto que servia para fazer cordas e esteiras), mas hoje vestem-se com sarja

branca;

- Agostinhos – os Frades Eremitas Agostinhos vestiam cinzento; os Cónegos

Regulares de Santo Agostinho usavam roqueta sobre sotaina preta e uma capa preta

com capuz; os Cónegos Regulares (ordem fundada por São Norberto) usavam branco;

os Gilbertinos (fundados por São Gilberto) usavam um hábito preto com capa branca;

os Cónegos Regulares de Santo Antão usavam um hábito preto com uma cruz branca

em forma de tau (Τ ou τ); e, finalmente, os Cónegos Regulares da Santíssima

Trindade ou frades trinitários tinham um hábito branco, com cruz azul e vermelha e

capeirote e chapeirão negros;

Page 12: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 12

- Ordens dos Frades Menores (Franciscanos) – o hábito era cinzento, agora é

castanho, com capuz e cinto de corda com três nós (símbolo dos três votos: pobreza,

castidade e obediência), e geralmente, descalços ou com sandálias;

- Ordem dos Pregadores (Dominicanos) - vestindo apenas lã, os seus hábitos são

brancos, com capa e capuz brancos ou capa e capeirão em preto; até ao século XIII

usavam roqueta, mas esta foi substituída pelo escapulário (em preto);

- Frades Menores Capuchinhos (Franciscanos Reformados) – vestem-se como os

Franciscanos, embora o capuz seja mais longo, andam descalços ou quase descalços

e usam barba;

- Irmãos de Nossa Senhora do Monte Carmelo (Carmelitas) – é uma ordem

mendicante cujo hábito é variante: originalmente, usavam túnica cintada, escapulário e

capuz pretos, castanhos ou cinza; a capa tinha listas verticais pretas e brancas; hoje

usam o hábito castanho com capa branca;

- Sociedade de Jesus (Jesuítas) – sem hábito próprio definido, começaram por usar

a sotaina preta e barrete ou chapéu, tal como os padres seculares de Espanha da sua

época; a única imposição era reflectir na sua indumentária o voto de pobreza e os

usos locais.

c) Ordens Militares

Em continuidade do espírito das Cruzadas, surgiram, ainda, as Ordens Militares –

freires guerreiros que defendiam a sua religião através da participação activa na

Guerra Santa.

As mais representativas em território nacional são as seguintes:

- Templários (Milícia de Jesus Cristo ou Irmãos Soldados Pobres de Jesus) –

herdam o nome da primeira localização da ordem, que terá sido junto ao Templo de

Salomão, daí serem conhecidos como a Ordem do Templo. O seu hábito foi fixado em

1228, no Concílio de Troyes: hábito branco com duas cruzes vermelhas (uma sobre o

peito, outra no manto, do lado esquerdo).

- Hospitalários (Ordem de São João de Jerusalém) - também conhecidos por

Ordem do Hospital, mais tarde: Ordem de Rodes e Ordem de Malta; usavam manto

negro com cruz branca. Substituiram, em 1248, o manto por um capote (que não

interferia com os movimentos em combate), e passaram a poder usar um pelote negro,

com cruz branca sob as armaduras. Uma década depois, o pelote passou a vermelho

e a cruz assimiu as formas hoje conhecidas da Cruz de Malta (oito pontas).

- Ordem de Alcântara (ou Calatrava) – era uma ordem espanhola e vestiam-se como

os Cistercienses, de hábito branco, e com armas negras.

Page 13: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 13

- Ordem de Sant’Iago da Espada – hábito branco com cruz floretada em vermelho (o

ramo inferior da cruz assemelhava-se, geralmente, a uma espada, mas a da Ordem

portuguesa tinha as quatro pontas floretadas).

- Ordem de São Bento de Avis – foi fundada por D. Afonso Henriques e usavam

hábito branco com escapulário negro e com capelo. Eventualmente, o capelo foi

substituído por uma cruz verde floretada.

- Ordem de Cristo – consistia o ramo português dos Templários, que D. Dinis

converteu quando da perseguição aos mesmos. Mudaram a cruz: pateada com uma

cruz branca sobreposta, hoje conhecida como símbolo nacional português.

Page 14: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 14

3. .

Ao longo deste capítulo, vamos explorar os atributos e simbologia associados a alguns

dos Santos e Santas mais representados.

Como mencionado antes, uma forma de reconhecer os Santos é através das suas

vestimentas, aparência geral e símbolos por que estão rodeados. Assim, na imagem 1

(abaixo), podemos identificar os elementos seguintes:

- hábito religioso,

- figura do Jesus Menino no seu regaço (identificado pelo globo na mão),

- e açucena, (símbolo de pureza).

Poderemos, então, concluir que se trata de Santo António porque sabemos de

antemão serem estes os seus atributos e características (era franciscano, logo usava

hábito religioso).

Imagem 1. Santo António. Relevo na torre sineira da Igreja de Santo António, em Lviv.

http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Church_of_Saint_Anthony,_Lviv_(relief_on_bell_tower).j

pg

É de notar que, por vezes, as imagens são ambíguas, não permitindo uma leitura tão

breve e facilitada, seja porque são de origem mais obscura, porque os atributos estão

em falta, ou porque foram mal representados, até. É aqui que ressalta a importância

das fontes gráficas e escritas (a par com o conhecimento de alguns dados do historial

da peça ou local onde se encontrava).

Page 15: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 15

Por exemplo, neste caso, o hábito não nos aponta diretamente para pensar que se

trata de uma figura pertencente à Ordem Franciscana, por exemplo. No entanto, por

outro lado, a Criança e a açucena pertencem ao conjunto de atributos que

conhecemos ligados a este Santo, permitindo-nos concluir que se trata realmente de

Santo António.

Antes de vermos com mais atenção, alguns exemplares dos Santos mais relevantes e

as suas representações comuns, vamos, contudo, abordar a representação dos

Quatro Evangelistas.

Estes assumem uma iconografia particularmente rica e diferenciada, pela sua

participação na produção da Bíblia. Assim, ao longo do tempo, podem ser

representados como indivíduos ou como um conjunto, num formato muito interessante.

Observemos a imagem seguinte.

Imagem 2. Tapeçaria de Pieter van Aelst (séc. XVI) – Deus Pai com o os Quatro

Apóstolos (Tetramorphos) (no Museu Nacional das Artes Decorativas, Madrid –

Espanha).http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pieter_van_Aelst_-

_God_the_Father_with_the_symbols_of_the_fourth_apostles_(tetramorphos),_know_as_%22T

he_Trinity%22_-_Google_Art_Project.jpg

Tendo por base os dados que vimos anteriormente, podemos identificar, em primeiro

lugar, Deus na Primeira Pessoa, ao centro, distinguindo o seu nimbo triangular (aponta

para a Santíssima Trindade). Sob essa figura, temos três animais e enfrentando-O, um

anjo. Conhecendo o Novo Evangelho, podemos perceber que Deus Pai está rodeado

Page 16: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 16

pelos Quatro Apóstolos Evangelistas. Estes, com frequência, surgem representados

não apenas como pessoas ostentando determinados objetos como atributos, mas

como animais (e um Anjo, no caso de São Mateus), orientando-nos para a sua autoria

dos Evangelhos de Cristo.

Assim, esta figuração, a que chamamos Tetramorfo (tetra, do grego: quatro, e morfo,

de morpho, em grego: forma), substituirá a figuração tradicional destes Apóstolos,

salientando a sua importância como Evangelistas.

Imagem 3. Pantocrator Tetramorfo.

http://livroquadrado.blogspot.pt/2013/02/o-homem-merkabah-do-senhor.html

Como podemos observar das imagens 2 e 3, o Tetramorfo é composto por um Anjo,

um Leão, um Touro e uma Águia. Estas representações estão diretamente ligadas ao

Evangelho respetivo de cada Apóstolo.

Assim:

- o Anjo (ou um Homem) representa São Mateus, porque defender a humanidade

de Cristo ao longo do seu testemunho. São Mateus simboliza o Nascimento e deve ser

colocado à direita de Cristo;

- o Leão representa São Marcos, porque começa o seu Evangelho com a previsão

do Baptista («voz que clama do deserto»). Simboliza a Ressureição e fica igualmente

à direita de Cristo;

- o Touro representa São Lucas, que fala do sacrifício de Zacarias, pai de São João

Baptista (o animal escolhido para os sacrifícios era, geralmente, o touro). Além disto,

Page 17: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 17

fala alargadamente do sacrifício de Jesus na cruz, simbolizando, por isso, a Paixão.

Situa-se à esquerda de Cristo;

- a Águia representa São João, que começa o seu Evangelho no Céu, debruçando-

se sobre o espiritual. Segundo o bestiário, a águia será o único animal que pode olhar

de frente o Sol, que, neste caso, será simbólico da pessoa divina. A Águia é

representada à esquerda, acima do Touro.

Além do Tetramorfo, estes Apóstolos podem surgir simplesmente sentados, a escrever

o seu Evangelho, junto ao seu animal simbólico. Por vezes, o Anjo parece sussurrar

ao ouvido de São Mateus. São Marcos também é representado através de episódios

narrados na Legenda Dourada, como o traslado do seu corpo para Veneza ou o

milagre do escravo, e São Lucas como pintor (imagem 4), aludindo metaforicamente

ao facto de ter sido quem melhor retratou a Virgem nos seus escritos.

Imagem 4. São Lucas a pintar a Virgem Maria. Pintura a óleo de Luca Giordano (c.1650-55,

no Museu de Belas-Artes de Lyon – França).

http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Saint_Lucas_painting_the_Virgin-Luca_Giordano-

MBA_Lyon_A55-IMG_0374.jpg

Page 18: CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE ......actividades religiosas junto da população leiga (também chamada de «século», do latim «saeculum», que significa

CURSO: Iconografia I AUTORA: Yolanda Silva | TEXTO DE APOIO - 3 18

MUELA, Juan Carmona – Iconografia cristiana. Guia básica para estudiantes. Madrid:

Istmo, 1998.

TAVARES, Jorge Campos – Dicionários de Santos. Porto: Lello Editores, 2014.

http://artalongtheages.blogspot.pt/2011/08/aveiro-museu-de-aveiro-parte-2.html

http://www.christianiconography.info/index.html

http://www.infopedia.pt/$ordens-religiosas-militares

http://www.rtp.pt/arquivo/?tm=38&headline=14&visual=5