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GRUPO DE ESTUDOS POLÍTICAS PÚBLICAS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS FICHAMENTO Reunião: N 0 02/2015 Data: 24.04.2015 Relatores: Adriana Caetana e Rosane Bezerra. Texto base GOLAY, Christophe; BIGLINO Irene, TRUSCAN Ivona. A contribuição dos procedimentos especiais da ONU para o diálogo entre os direitos humanos e o desenvolvimento. In SUR - Revista Internacional de Direitos Humanos. São Paulo: Conectas, v. 9, n. 17, dez. 2012. O artigo ora em debate tem como elemento central a contribuição dos ODM (Objetivos do Desenvolvimento do Milênio) para um diálogo entre direitos humanos e desenvolvimento. Outro aspecto central á a contribuição dos detentores de mandato relativo aos procedimentos especiais das Nações Unidas nas avaliações relativas ao cumprimento ou andamento do cumprimento das ODM. O objetivo principal do texto é expor situações concretas pela qual atores dos direitos humanos se envolvem com a pauta do desenvolvimento atrelados aos direitos sociais, econômicos e culturais. Nesse sentido, o texto busca apontar meios através dos quais seja possível debater e avaliar o alinhamento de políticas de desenvolvimento (as quais envolvem interesses políticos do Estado, conveniência

Fichamento. Grupo de Estudos. Texto 2 (24.04.2015)

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Page 1: Fichamento. Grupo de Estudos. Texto 2 (24.04.2015)

GRUPO DE ESTUDOSPOLÍTICAS PÚBLICAS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS

FICHAMENTO

Reunião: N0 02/2015 Data: 24.04.2015 Relatores: Adriana Caetana e Rosane Bezerra.

Texto base

GOLAY, Christophe; BIGLINO Irene, TRUSCAN Ivona. A contribuição dos procedimentos especiais da ONU para o diálogo entre os direitos humanos e o desenvolvimento. In SUR - Revista Internacional de Direitos Humanos. São Paulo: Conectas, v. 9, n. 17, dez. 2012.

O artigo ora em debate tem como elemento central a contribuição dos

ODM (Objetivos do Desenvolvimento do Milênio) para um diálogo entre direitos

humanos e desenvolvimento. Outro aspecto central á a contribuição dos

detentores de mandato relativo aos procedimentos especiais das Nações

Unidas nas avaliações relativas ao cumprimento ou andamento do

cumprimento das ODM.

O objetivo principal do texto é expor situações concretas pela qual atores

dos direitos humanos se envolvem com a pauta do desenvolvimento atrelados

aos direitos sociais, econômicos e culturais. Nesse sentido, o texto busca

apontar meios através dos quais seja possível debater e avaliar o alinhamento

de políticas de desenvolvimento (as quais envolvem interesses políticos do

Estado, conveniência e oportunidade da administração) com a garantias dos

Direitos Humanos.

a) ODMsNa prática, os ODMs são um conjunto de metas quantificáveis a serem alcançadas até 2015. Os oito ODMs foram projetados para: erradicar a pobreza extrema e a fome (ODM 1); atingir o ensino básico universal (ODM 2); promover a igualdade entre os sexos e a valorização das mulheres (ODM 3); reduzir a mortalidade infantil (ODM 4); melhorar a saúde materna (ODM 5); combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças (ODM 6); garantir a sustentabilidade ambiental (ODM 7); e desenvolver

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uma parceria mundial para o desenvolvimento (ODM 8)” (GOLAY; BIGLINO; TRUSCAN, 2012, p. 16)

b) Diálogo entre os ODM e os direitos humanosDireitos humanos e desenvolvimento possuem como objetivo final o

bem-estar humano de modo a permitir que os seres humanos tenham uma vida

digna (GOLAY; BIGLINO; TRUSCAN, 2012).

Uma das críticas mais amplamente reconhecidas contra a iniciativa dos ODM é a de que o projeto em grande parte ignorou os direitos humanos desde o início, tanto na conceitualização, quanto na articulação dos objetivos: os ODM não se referem explicitamente aos direitos humanos, nem aos tratados internacionais de direitos humanos. (GOLAY; BIGLINO; TRUSCAN, 2012. p. 18).

Apesar da inserção formal de compromissos com os direitos humanos, ainda pode ser questionado se isso representa um verdadeiro rumo passo à convergência substantiva ou se a adesão permanece no plano meramente retórico. Se considerarmos que o prazo final de 2015 se aproxima, a falta de ação prática para realmente situar os ODM em um quadro de direitos humanos e dar a esses direitos um significado operacional e concreto aponta para um cenário de oportunidades perdidas (GOLAY; BIGLINO; TRUSCAN, 2012, p. 19).

c) Importância dos relatores especiais e especialistas independentes com os ODMs para possibilitar um diálogo entre direitos humanos e desenvolvimento

[...] os relatores especiais, especialistas independentes e outros detentores de mandato relacionado aos procedimentos especiais da ONU podem ser apontados, dentre os atores da ONU em direitos humanos, como os mais ativos na redução das distâncias conceituais e práticas que separam os direitos humanos e os ODM. Eles têm desempenhado um papel importante tanto ao tornar mais clara a relação entre os direitos humanos e os ODM em suas áreas de foco específico, quanto ao propor formas concretas por meio das quais uma abordagem de direitos humanos pode trazer benefícios tangíveis a esforços de desenvolvimento (GOLAY; BIGLINO; TRUSCAN, 2012, p. 20-21).

d) DH e desenvolvimento: não discriminação, accountability e participação

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[...] o papel central a ser desempenhado pelos direitos humanos nos esforços de desenvolvimento tem características diversas: fornecer um marco normativo forte, reforçado por obrigações legais, aumentando o nível de empoderamento e participação dos indivíduos; garantir a não-discriminação e a atenção a grupos vulneráveis; proporcionar meios para monitorar e responsabilizar das várias partes interessadas envolvidas no processo de desenvolvimento por meio de mecanismos independentes; e reforçar aquilo a que eles se referem como os ‘princípios gêmeos’ da equidade global e da responsabilidade compartilhada (UNITED NATIONS apud GOLAY; BIGLINO; TRUSCAN, 2012, p. 22).

. Os parâmetros utilizados pelos relatores especiais com seus

receptáculos conceituais refletem os princípios da equidade global e da

responsabilidade compartilhada com foco na não-discriminação, na

accountability e na participação (GOLAY; BIGLINO; TRUSCAN, 2012).

d.1. não-discriminação“[...] um dos problemas mais frequentemente citados em relação aos

ODMs é sua formulação agregada, que esconde as preocupações específicas

de grupos ou indivíduos predispostos a discriminação, marginalização,

exclusão ou vulnerabilidade” (GOLAY; BIGLINO; TRUSCAN, 2012, p. 23).

“[...] um comprometimento genuíno com a não-discriminação requer que

a coleta de dados seja subdividida de acordo com as categorias protegidas de

discriminação” (GOLAY; BIGLINO; TRUSCAN, 2012, p. 23).

Os autores apontam para a necessidade de pensar a avaliação dos

ODMs através de “categorias de gênero, raça, deficiência, credos político e

religioso e idade precisam ser incorporados em qualquer análise séria de

práticas discriminatórias” (GOLAY; BIGLINO; TRUSCAN, 2012, p. 24).

Há necessidade de realizar as análises com enfoque na condição de

grupos desfavorecidos, marginalizados ou discriminados para além dos casos

de discriminação direta a fim de perceber possíveis obstáculos para a efetiva

implementação de programas de desenvolvimento para comunidades locais e

integrar os direitos humanos na elaboração de medidas de implementações de

programas de DH (GOLAY; BIGLINO; TRUSCAN, 2012).

d.2. Accountability

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O sistema de monitoramento dos ODMs é primariamente constituído por um esquema de relatórios voluntários, que tem mais relação com o fornecimento de informações e ‘advocacy para conscientização’ do que fazer com que os Estados e outros atores relevantes se responsabilizem (GOLAY; BIGLINO; TRUSCAN, 2012, p. 25-26).

Pode ser detectada uma concordância geral entre os relatores e especialistas da ONU no sentido de que a implementação de programas relacionados aos ODMs que falham em respeitar os direitos humanos de beneficiários precisa ser submetida ao escrutínio independente e efetivo de mecanismos judiciais, quase-judiciais ou administrativos. A disponibilidade de tais mecanismos e sua acessibilidade por todos os membros da sociedade implica que todos os indivíduos são atores iguais no desenvolvimento, e que eles têm direito a reparação quando seus direitos são violados. Os mecanismos de responsabilização precisam satisfazer certos requisitos técnicos, especialmente para assegurar que os indivíduos mais desfavorecidos e desempoderados possam acessá-los (GOLAY; BIGLINO; TRUSCAN, 2012, p. 26).

d.3. Participação

Para além de consultas e de assegurar a presença de pessoas que

sofram discriminação, marginalização ou exclusão nos organismos tomadores

de decisão, faz-se necessária a correção de situações recorrentes de

discriminação, bem como buscar caminhos de empoderar as pessoas

envolvidas nos processos (GOLAY; BIGLINO; TRUSCAN, 2012). Esse é o

caminho para uma participação efetiva.

CONCLUSÃOVerifica-se que o presente artigo aponta caminhos para analisar a

efetivação do desenvolvimento atrelado aos direitos humanos a partir das

avaliações realizadas pelos relatores e especialistas num âmbito local, regional

e global.