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FUTURO DA AGRICULTURA O surgimento do empreendedor agrícola

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FUTURO DA AGRICULTURAO surgimento do empreendedor agrícola

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FUTURO DA AGRICULTURAO surgimento do empreendedor agrícola

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SUMÁRIO

PREFÁCIO

INTRODUÇÃO

SUCESSÃOIntroduçãoHistória inspiradora – Cristina Kress do ParaguaiFatos e números – sucessão agrícolaA perspectiva mais amplaA perspectiva do agricultorSucessão – o futuro da agricultura

SUSTENTABILIDADEIntroduçãoHistória inspiradora – Dion Tuuta da Nova ZelândiaFatos e números – sustentabilidadeA perspectiva mais amplaA perspectiva do agricultorSustentabilidade – o futuro da agricultura

CAPACITAÇÃO SOCIALIntroduçãoHistória inspiradora – Koos van der Merwe de MoçambiqueFatos e números – capacitação socialA perspectiva mais amplaA perspectiva do agricultorCapacitação social – o futuro da agricultura

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CADEIA DE SUPRIMENTOSIntroduçãoHistória inspiradora – Gerjan Snippe da HolandaFatos e números – cadeia de suprimentosA perspectiva mais amplaA perspectiva do agricultorCadeia de suprimentos – o futuro da agricultura

MÍDIA SOCIALIntroduçãoHistória inspiradora – Ricardo Rios do ChileFatos e números – mídia socialA perspectiva mais amplaA perspectiva do agricultorMídia social – o futuro da Fazenda 2.0

SOLUÇÕESO surgimento do empreendedor rural

AGRADECIMENTOS

REFERÊNCIAS

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O SURGIMENTO DO EMPREENDEDOR RURALO SURGIMENTO DO EMPREENDEDOR RURAL

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Prefácio

O SURGIMENTO DO EMPREENDEDOR RURAL

Após a crise financeira global, uma nova ameaça de âmbito mundial paira sobre o planeta: a crise mundial de alimentos. Este fenômeno e o consequente aumento nos preços dos alimentos poderão lançar milhões de pessoas a mais na pobreza, causando grande instabilidade socioeconômica, já que a alimentação é uma necessidade básica. Atualmente, mais de 840 milhões de pessoas já sofrem de fome crônica e, a cada ano, nada menos do que três milhões de crianças morrem de desnutrição.

Nos próximos 40 anos, a produção mundial de alimentos deverá quase que dobrar. Esta crescente demanda é o resultado não só da taxa de crescimento populacional prevista de 7 para 9 bilhões em 2050, mas também do crescimento econômico, cabendo aos produtores rurais atender tal necessidade. Diferentemente da época da revolução verde, a produção agora deve crescer com a utilização de menos água, fertilizantes e pesticidas. Este crescimento da produção poderá ser alcançado com a expansão das terras cultiváveis, mas, de forma muito limitada. Mesmo com um solo adequado e clima favorável, são necessários elementos facilitadores, tais como infraestrutura, acesso ao crédito e estabilidade política para explorar plenamente o potencial deste solo.

Vários desafios se apresentam também aos produtores rurais, como a importante questão sobre a sucessão empresarial, o desenvolvimento sustentável, e os chamados “fatores sociais favoráveis” nos países em desenvolvimento. Visto que os produtores rurais e horticultores alimentam o mundo, o papel a eles imposto na questão mundial da garantia alimentar é de fundamental importância. Para a troca de conhecimento sobre tais desafios, nós, com base em nossas raízes cooperativas e agrícolas, organizamos um workshop chamado “Global Farmers Master Class” para 50 líderes da produção rural de 18 países, em desenvolvimento e desenvolvidos.

A presente obra dará a você, leitor, uma visão geral sobre os desafios da segurança alimentar, com perspectivas macro, além de histórias inspiradoras de produtores rurais e horticultores solidários. A partir do ponto de vista do empresário agrícola, foi elaborado um relatório

sobre as lições aprendidas durante a Global Farmers Master Class em relação aos problemas centrais e às possíveis soluções. Trata-se ainda de um livro sobre a paixão pela atividade agrícola em que, com a devida sobriedade dos profissionais do campo, saíram em busca de soluções práticas e sustentáveis. Os produtores rurais e horticultores alimentam o mundo e possuem a experiência e o conhecimento para superar muitos dos desafios que nos esperam. No entanto, eles não podem resolver os problemas da garantia alimentar sozinhos. Agricultores e horticultores, consumidores, varejistas, fabricantes, empresas comerciais, autoridades públicas, cientistas e instituições financeiras de todo o mundo são co-responsáveis.

O enorme entusiasmo e as perspectivas de âmbito mundial destes produtores e horticultores no Global Farmers Master Class foram de grande valor para a elaboração desta obra. Um dos participantes escreveu em uma carta: “Posso dizer com segurança que esta foi a semana mais inspiradora, educativa, profissional e divertida da minha vida. O fato de possuir amigos agora em todo mundo, é absolutamente incrível.”

Espero que o presente livro leve à reflexão de muitos produtores rurais em todo o mundo. Acredito, no entanto, que esta obra não será valiosa apenas para produtores rurais, mas para toda a cadeia, desde a fazenda até a mesa do consumidor, que acredita em um futuro sustentável da agricultura e horticultura, não só para nós e nossos filhos, mas também para os filhos de nossos filhos. Como o renomado escritor australiano Julian Cribb nos escreveu: “Este livro é relevante para todos que se alimentam.”

Bons produtores alimentam o mundo e constroem o futuro.

Berry Marttin Membro do Conselho do Rabobank Holanda

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INTRODUÇÃO

- A perspectiva do produtor rural

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Numa noite de sábado do mês de junho, 50 produtores rurais de 18 países diferentes e seis continentes se reúnem em uma bela e antiga fazenda na Holanda para discutir, durante uma semana, o futuro da atividade agrícola em um evento que foi chamado de Global Farmers Master Class. O que se discute não é apenas o futuro desses agricultores, mas o futuro do mundo todo, na medida em que nos dirigimos para uma crise mundial de alimentos com consequências políticas, econômicas e sociais em uma escala sem precedentes. Os 50 agricultores participantes representam países em desenvolvimento, emergentes e desenvolvidos e têm todas as idades, culturas e origens. Entre eles, há desde alguns dos maiores produtores agrícolas do mundo (com terras do tamanho da Holanda, por exemplo), até produtores orgânicos e jovens fazendeiros. Qualquer que seja o ramo e origem cultural são todos inovadores e líderes. O desafio: a cada minuto, a população mundial cresce e ganha mais 158 bocas para serem alimentadas. A maior parte dessas pessoas (154) integra populações em expansão em regiões emergentes e em desenvolvimento. No total, a população mundial deve passar dos 7 bilhões atuais para mais de 9 bilhões em 2050. Não apenas a população mundial está aumentando, mas também está ficando mais velha e mais rica – a renda média per capita mundial deve triplicar. O crescimento econômico também será mais expressivo nas regiões em desenvolvimento. Para alimentar números crescentes de pessoas mais ricas e com maior expectativa de vida, os produtores rurais terão que aumentar a produção mundial global em pelo menos 70%, ou até dobrar. “Nas próximas décadas, teremos que produzir mais alimentos do que produzimos ao longo dos últimos 10.000 anos.” À nossa frente, temos sérios desafios, que definimos como a “estrutura dos 6 S do futuro da produção rural para a segurança alimentar” que é a base deste livro (Nota: A “estrutura dos 6 ‘S’ se refere” aos itens em inglês: Sucession, Sustainability, Social Enabling Factors, Supply Chain, Science, e Social Media).

A perspectiva do produtor rural

INTRODUÇÃO

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Sucessão: uma tendência de longo prazo observada no mundo em desenvolvimento é o envelhecimento dos empresários agrícolas. A cada 20 anos, aproximadamente, dobra o número de pessoas que depende de um único produtor. Nos EUA, para cada sete produtores rurais com mais de 75 anos há apenas um com menos de 25 anos. De fato, há o benefício da economia de escala, mas a questão é muito mais complexa do que isso e o verdadeiro desafio é: como conquistar a próxima geração de produtores rurais, quando a atividade rural está se tornando um empreendimento cada vez mais complexo, de alto investimento, de trabalho duro e de baixo retorno? Além disso, hoje em dia, tornar-se um agricultor não é mais um direito de nascença, e sim uma escolha consciente de empreendedores rurais. • Sustentabilidade: hoje, os produtores rurais cultivam 1,5 bilhão de hectares de terras aráveis no mundo todo. Ao mesmo tempo, desde a virada do século, a quantidade de terra arável vem caindo em cerca de 1% ao ano devido à erosão e à urbanização, por exemplo.A terra arável per capita caiu pela metade: de 1,5 hectare em 1960 para menos de 0,8 hectare hoje. Assim, a maior parte do adicional de alimentos necessário até 2050 terá que vir do aumento da produtividade por hectare. Entretanto, devido ao baixo investimento, o aumento

da produtividade das principais commodities caiu para 1,4% por ano, quando deveria ser de pelo menos 1,75% para alimentar um mundo de 9 bilhões de habitantes em 2050. Além disso, de acordo com o World Wildlife Fund (WWF), hoje, nossa pegada de carbono excede a capacidade mundial de se recuperar em 50%. Se continuarmos consumindo como atualmente, vamos precisar do equivalente a dois planetas Terra até meados de 2030. E só temos um. Então, a pergunta é: como reduzir o desperdício e produzir mais alimentos com menos água, defensivos e fertilizantes? • Capacitação social: “Como os países em desenvolvimento podem sair da agricultura de subsistência para a agricultura comercial?” Colocamos nossa atenção no continente do futuro, a África, que abriga um sexto da população mundial.

O continente africano é aquele que tem o maior potencial para balancear o desequilíbrio mundial entre a alta da demanda e a limitação da oferta por alimentos. Afinal, é na África que ocorre a maior distância entre a produtividade atual e a potencial, considerando a qualidade dos solos e do clima. A capacitação social é crucial para a exploração desse  potencial. Em geral, as regiões de maior produtividade do mundo (EUA, Europa) não são as de maior qualidade de solo (Ucrânia, Argentina e o Meio-Oeste americano) e/ou de clima mais favorável (por exemplo, o Leste da China, a Argentina, Europa Central, regiões da África do Sul), e sim regiões com melhor ambiente para a capacitação social, com condições econômicas e sociais estáveis, boa infraestrutura, políticas de governo, acesso a mercados ativos, créditos financeiros, saúde e educação, transmissão de conhecimento e investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Com um estudo de caso em Ruanda, encontramos a forma de encarar esse cenário e avançar na perspectiva do produtor.

• Cadeia de suprimentos: são elos contínuos que vão da “fazenda à mesa do consumidor”, os quais garantem que os produtos agrícolas alcancem os consumidores finais. Claramente, porém, essa cadeia tem alguns elos fracos, o que resulta em desperdício, baixos investimentos e ineficiência. Ou como diz um agricultor: “Até hoje não conheci um agricultor que não aumentaria sua produtividade significativamente se pudesse melhorar sua margem em 10%. A ironia é que, na maior parte do mundo desenvolvido, o leite, por exemplo, é mais barato do que a água no supermercado. A volatilidade de preços é muito mais preocupante do que a capacidade dos produtores de produzir mais alimento. Com margens maiores e distribuídas de forma mais justa pela cadeia de valor, podemos fortemente promover a inovação e o aumento de oferta”.

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• Pesquisa científica: significa progredir no sentido de soluções inovadoras. Muitos esforços serão necessários para se produzir “mais com menos”, mas é possível, há muitas oportunidades para avanços. Produtividade e eficiência são pontos-chave. A intensificação sustentável é necessária. De acordo com o WWF, os produtores que têm maior desempenho são cerca de 100 vezes melhores do que seus colegas menos produtivos, sendo estes responsáveis pela metade do impacto ambiental. Os sistemas altamente produtivos usam menos insumos por quilograma de produto final e têm menor emissão de gases de efeito estufa. Além disso, usam menos terras, o que deixa mais espaço para a natureza, a urbanização e a recreação. Há muitas oportunidades para avanços, como, por exemplo: reprodução por genoma, maior eficiência e produtividade das lavouras, cultivos com agricultura de precisão, melhores sistemas de confinamento animal, alimentos enriquecidos e mais saudáveis, maior tempo de prateleira dos produtos e menor desperdício usando técnicas inteligentes de resfriamento, armazenagem e empacotamento, matérias-primas inovadoras e eficientes como algas e insetos (ver figuras) e novas biotecnologias que permitem que o alimento, a ração e o combustível sejam obtidos de uma única planta. Este é o futuro do mercado de alimento. A ciência é uma área que sofreu com significativa falta de investimento nos últimos anos, evidenciada pela redução dos ganhos em produtividade mencionada anteriormente.

A pesquisa em si não é a meta ou o objetivo, mas está estreitamente relacionada com cada um dos outros desafios. Portanto, introduzimos uma perspectiva científica abrangente em cada capítulo deste livro, em vez de dedicar-lhe um capítulo separado.

Uma coisa é identificar os problemas e desafios em torno da agricultura e da questão da alimentação mundial. Procurar soluções, por sua vez, é bastante desafiador. É evidente que a inovação e a transmissão de conhecimento têm um papel central na resolução de cada uma das questões anteriormente relacionadas. Por isso, adicionamos um capítulo sobre mídia social, que oferece aos produtores rurais o acesso ao conhecimento (fator crucial de sucesso na exploração agrícola) com uma plataforma on-line para discussões, benchmarking e inovação.

Este livro não trata da segurança alimentar apenas por meio de uma entediante enumeração de fatos e estatísticas ou pela ótica puramente acadêmica. Ele trata do corpo e da alma, da essência da produção de alimentos: os próprios produtores rurais. São eles que estão alimentando o mundo e têm a experiência e o conhecimento para resolver muitos dos desafios à nossa frente. É por isso que os colocamos no centro deste  livro. Ao contar algumas de suas histórias, verdadeiramente

inspiradoras, valorizamos sua forma de pensar e ressaltamos que bons agricultores sempre terão sucesso no futuro.

Por fim, o aumento dos preços e a escassez de alimentos têm sido os condutores significativos por trás da Primavera Árabe e de muitos outros eventos históricos, guerras e revoluções. Oitocentas e setenta milhões de pessoas sofrem de fome crônica, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). As estatísticas da ONU mostram que 2,5 milhões de crianças morrem de fome por ano. Esses números absolutamente chocantes vão piorar se não lidarmos de forma mais estrutural com as questões enfrentadas pela agricultura mundial.

O capítulo final deste livro fornece algumas soluções pragmáticas que foram propostas por líderes do ramo de todo o mundo. Entretanto, a capacitação dos produtores para que possam alimentar a próxima geração é uma responsabilidade compartilhada – que diz respeito também aos consumidores, comerciantes, produtores, revendedores, governos, acadêmicos e órgão de financiamento. É por isso que este livro é relevante para qualquer um que respeite a questão alimentar ou que produza alimento diariamente.

A produção de alimentos dentro do agronegócio representa quase 40% da mão de obra mundial e contribui com um terço do Produto Interno Bruto (PIB) global. Tudo isso começa nas fazendas, com os produtores rurais alimentando o mundo. Se eles não acertarem, todos os outros negócios serão inviabilizados.

Este livro é sobre o corpo e a alma da produção de alimentos: os agricultores. São eles que alimentam o mundo.

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SUCESSÃO

- Introdução- Uma história inspiradora - Fatos e números- A perspectiva mais ampla- A perspectiva do agricultor- O futuro da agricultura

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“A SUCESSÃO DA ATIVIDADE AGRÍCOLA NÃO É SÓ UMA QUESTÃO FAMILIAR, POIS TEM UM IMPACTO DIRETO E DE LONGO PRAZO NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS.”

Introdução

Da Austrália à Zâmbia, a questão da sucessão da atividade agrícola, por si só, já faz acelerar o coração da maioria dos agricultores. Embora cada situação seja específica, existe um denominador comum. A sucessão de uma fazenda é uma questão que, sobretudo, envolve emoção. Para muitos, a atividade agrícola não significa somente trabalho e dinheiro, mas uma paixão, um estilo de vida. Por isso, a importância de transferir o trabalho de toda uma vida para a próxima geração.

Infelizmente, a realidade é que, em muitos processos de sucessão, as famílias acabam se dividindo, deixando para trás uma fazenda menos produtiva ou vendendo o terreno e desmanchando uma tradição que perdurou por várias gerações. Portanto, a sucessão da atividade agrícola não é só uma questão das famílias envolvidas, pois tem um impacto direto e de longo prazo na produção de alimentos. Os produtores rurais estão cada vez mais com dificuldade em encontrar sucessores. Em muitos países desenvolvidos, a idade avançada dos agricultores demonstra a gravidade do problema. A atividade agrícola tem se mostrado economicamente pouco atrativa para as novas gerações de agricultores. Grandes investimentos são necessários para aumentar o tamanho do negócio, enquanto que os retornos são baixos e o valor de aquisição de novas terras é exorbitante. Como a tendência é de diminuir o número de agricultores, em um cenário de envelhecimento de uma população rural que já cultiva menos terra arável, a sucessão da atividade agrícola tem se tornado uma grande preocupação para a segurança alimentar no mundo.

Neste capítulo, serão revisados três pontos-chave sobre sucessão:• Por que o planejamento da sucessão da atividade agrícola é de

importância global?• Por que a sucessão é um desafio atual?• Como capacitar a próxima geração de agricultores?

Mas, antes apresentaremos uma história inspiradora, a de Cristina Kress, uma fazendeira de 24 anos que herdou, no Paraguai, a responsabilidade de cuidar de um vilarejo isolado com 3.500 crianças e trabalhadores, os quais dependem da sua fazenda e de seu negócio como meio de vida. A história de Cristina, embora não seja um exemplo típico de sucessão, demonstra que bons agricultores sempre terão um futuro e que idade e gênero são irrelevantes para quem tem a mente orientada para a agricultura.

SUCESSÃO

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Cristina Kress se tornou CEO de uma propriedade familiar de 20.000 ha no Paraguai quando tinha 20 anos de idade. Ela assumiu a propriedade com todos os seus equipamentos, uma planta de processamento e toda a dívida dos empréstimos para manter em atividade os negócios da família. Além disso, herdou a responsabilidade de cuidar de uma vila rural isolada com 3.500 crianças e trabalhadores dependendo das atividades da sua fazenda para viver.

GERENCIANDO UMA FAZENDA E UMA COMUNIDADE“Meus pais vieram da Alemanha e chegaram ao Paraguai na década de 1970. Meu pai sempre teve a mente orientada para a agricultura e queria ser fazendeiro por tempo integral durante o ano todo. Ele descobriu que alguns dos solos mais férteis da America Latina se encontravam no Paraguai. Tudo que se plantava naquela terra crescia. Então, ele convenceu minha mãe a se mudar para o Paraguai e começar uma vida nova. A fazenda da família começou simplesmente com poucas culturas e um pomar de laranjeiras”, conta Cristina Kress.

INICIANDO UMA COMUNIDADEConforme as lavouras e o pomar de laranjeiras cresciam, surgia a necessidade de se contratar mais trabalhadores. A propriedade ficava longe da civilização, das cidades, das lojas. A melhor definição para o local era “o meio do nada”. Então, para atrair e manter trabalhadores, os pais de Cristina tiveram que construir moradias.

“Quando eu completei 6 anos de idade meus pais acharam que eu precisava de estudo. Então, eles construíram uma escola para mim e para as famílias que trabalhavam na propriedade. O que começou com somente algumas casas e uma escola é hoje uma vila rural com 3.500 pessoas. Temos lojas, restaurantes e pousadas, e tudo começou porque nossos trabalhadores e suas famílias precisavam de um local para ficar.”

MANTENDO A FAZENDAEm 1998, o pai de Cristina faleceu com apenas 49 anos em um acidente na fazenda. A mãe de Cristina ficou, de repente, com toda a responsabilidade da família, da fazenda e dos trabalhadores.

Uma história inspiradora

“Ela tinha construído sua vida, uma fazenda e uma comunidade com meu pai e não queria jogar fora todos esses anos e esforço.”

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“Para que a fazenda seja um negócio viável e sustentável, Cristina, paralelamente, gerencia uma comunidade para construir e manter uma vila rural.”

“Minha mãe teve a opção de vender tudo, mas tinha vivido ali por 20 anos. Ela tinha construído sua vida, uma fazenda e uma comunidade com o meu pai e não queria jogar fora todos esses anos e esforço. Ela escolheu, então, ficar na fazenda, pagar as dívidas e cuidar dos funcionários”, conta Cristina. “Ela era uma excelente mulher de negócios, mas, como bióloga, sabia muito pouco sobre agricultura. Mas com sua vontade de ir além, ela aprendeu muito com os funcionários e com outros fazendeiros.”

Essa estória permaneceu por 10 anos. Então, quando Cristina deixou o Paraguai para estudar na Suíça, sua mãe logo a chamou: “Ela não queria mais fazer o trabalho sozinha e me perguntou se eu queria tomar conta da fazenda. Se eu não o fizesse, ela tentaria encontrar alguém para assumir o negócio ou então venderia a propriedade. Eu fiquei um tanto chocada.”

Cristina tinha passado sua infância inteira na fazenda e crescido com as pessoas na vila rural. “Meu pai deu a vida pela fazenda e, embora minha mãe não tivesse nascido para a agricultura, ela se dedicou ao máximo. Eu sabia que eu tinha paixão suficiente para fazer muito mais com a terra que tínhamos.”

TORNANDO-SE CEO AOS 20 ANOS DE IDADEMovida pela paixão pela agricultura e inspirada em seus pais, Cristina resolveu voltar para aquele local remoto no Paraguai. Em 2008, ela assumiu 20.000 ha de terra produtiva e todo o setor de processamento de grãos, silagem, citrus e fabricação de suco. Cerca de 11.000 ha eram cultivados com lavouras de trigo, milho, soja e girassol. Outros 2.000 ha eram de citrus, 14 ha de goiaba e outras frutas exóticas, e mais 100 ha de horticultura, com cultivo irrigado de hortaliças, cenoura, batata, cebola e pimentão.

“Com 20 anos de idade me tornei CEO dos negócios da família. Em um período de 4 ou 5 anos eu tive que conhecer todos os setores e aprender tudo que eu pudesse sobre a fazenda e suas atividades.”

“Hoje, eu conheço o básico, consigo manter a atividade e continuar crescendo. Porém, a fazenda não pode expandir mais, pois o preço da terra, hoje em dia, está muito mais alto. A nova filosofia do negócio é aumentar a produtividade por hectare. Todo o investimento é direcionado à tecnologia e sementes melhores. Eu não pretendo deixar o negócio”, diz Cristina.

CAPACITAÇÃO SOCIAL E PLANEJAMENTO PARA O CRESCIMENTOO plano de crescimento também envolve o aumento da produção de suco na planta de processamento da fazenda, por meio de parcerias com fazendas menores e pequenos produtores do Paraguai. A planta de processamento Frutika é um dos negócios da família Kress voltado à produção de sucos prontos para consumo, sucos concentrados e óleos para exportação.

“Nós precisamos de uma grande quantidade de frutas para fazer o suco concentrado. No Paraguai, existe muita gente pobre que não sabe o que fazer com a terra. Então, nós decidimos trabalhar com essas pequenas propriedades e capacitar pequenos agricultores que possuem de 1 a 20 hectares”, conta Cristina.

“A ideia começou dando a essas pessoas uma árvore, duas árvores, cem árvores, e então uma oportunidade para trabalhar com a terra. Nós ensinamos a eles como cultivar, orientamos em relação ao financiamento, e mostramos a eles como ganhar seu próprio dinheiro. Nós ensinamos como usar a terra para ganhar dinheiro e ser mais produtivo. Atualmente, estamos crescendo com 3.000 famílias que trazem as frutas para a nossa fábrica. Isso tem sido uma grande revolução no Paraguai e é uma ideia que pode funcionar em outros países.”

DIRIGINDO A COMUNIDADEPara que a fazenda seja um negócio viável e sustentável, Cristina, paralelamente, gerencia uma comunidade para construir e manter a vila rural. Ela está constantemente conversando com a comunidade e em discussão com o governo.

“Estamos a uma longa distância de qualquer lugar e de qualquer coisa. Eu quero que o Estado nos dê médicos, mais professores e uma estrada

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com asfalto. Nossos trabalhadores precisam de casas, escola, um posto policial e um hospital. Estamos lutando para conseguir um médico morando aqui. Até agora só conseguimos um médico que atende em três dias da semana. Se alguém ficar doente no quarto dia, temos um problema e isso não pode continuar assim”, diz Cristina. “Para os catadores de laranja que viajam às lavouras nas estações de colheita, estamos em fase inicial para a construção de 200 quartos em um hotel que terá mais 200 para a próxima fase do projeto. Nós já construímos uma linda igreja e estamos nos tornando uma comunidade oficial. Queremos que nossos impostos retornem para a comunidade e, assim, continuar crescendo”, diz Cristina.

ORGULHO DE SER PRODUTORA RURALAgora, com 24 anos, Cristina já tem alguns anos de agricultura e experiência com os negócios e ainda uma comunidade inteira que depende de suas decisões. O que ela diz para as pessoas que lhe perguntam se uma jovem como ela não deveria estar fazendo outra coisa da vida do que ser fazendeira?

“Eu não tenho que ficar no campo dirigindo tratores. Fazendeiros são também homens e mulheres de negócio que precisam gerenciar atividades lucrativas e sustentáveis. Para mim, é importante tentar manter a propriedade na família, agregar valor, ser mais intensa, criativa e, sobretudo, continuar crescendo”, diz Cristina.

“Não importa se você é jovem, velho, homem ou mulher. O importante é ter orgulho de ser agricultor. Produzir alimento é algo maravilhoso. É a primeira necessidade humana. É um grande trabalho. Para as próximas décadas, eu espero continuar crescendo e podendo dar às pessoas um lugar para morar e trabalhar.”

“Não importa se você é jovem, velho, homem ou mulher. O importante é ter orgulho de ser agricultor. Produzir alimento é algo maravilhoso.”

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Fatos e números

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65 +

NÚMERO DE FAZENDAS NA AUSTRÁLIA

ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO RURALAtualmente, 50% da população do mundo vive em zonas rurais e esse percentual está previsto para cair para cerca de 30% até 2050. Uma tendência de longo prazo, também observada, é o envelhecimento dos trabalhadores rurais. Por exemplo, a idade média dos agricultores nos Estados Unidos, em 1974, era de 45 anos e cresceu para 58 anos em 2007. Atualmente, para cada seis fazendeiros com idade acima de 75 anos, há um fazendeiro com menos de 25 anos. Para cada 350 pessoas em Nova Iorque, há somente um fazendeiro para fornecer alimento. E a cada 20 anos, o número de pessoas dependente de um fazendeiro vai dobrar.

Na Austrália, observa-se a mesma tendência de envelhecimento dos agricultores, um declínio na população rural e uma redução das terras cultiváveis caindo em 3% para um valor de 399 milhões de hectares. Ao longo dos últimos 30 anos, a idade média do agricultor foi aumentando de 44 a 56 anos até os dias de hoje.

DINÂMICA DA FORÇA DE TRABALHOA população mundial está envelhecendo. No ano 1000, a expectativa média de vida era de 24 anos. No ano de 1970, a expectativa de vida ao nascimento crescia para 57 anos e hoje é de 68 anos. Até 2050, a expectativa de vida no mundo deve alcançar 76 anos. Entretanto, a população rural parece estar envelhecendo mais rápido do que a média mundial.

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SUCESSÃO

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Em países mais produtivos, com os setores alimentício e agrícola mais desenvolvidos, mais da metade dos agricultores tem idade acima de 55 anos (veja acima).

Por exemplo, 25% da população total da Austrália tem mais que 55 anos. Nos Estados Unidos, o número de fazendeiros com idade maior ou igual a 65 anos aumentou em 20% ao longo dos últimos cinco anos, enquanto que a categoria dos mais jovens, com idade igual ou abaixo de 45 anos, diminuiu em 14%, em parte por causa do menor número de profissionais formados na área agrícola. Uma vez que a crise de alimentos de 2008 colocou as questões de segurança alimentar e produção agrícola novamente em destaque, essa tendência parece agora se reverter. Na Holanda, o número de estudantes de áreas agrícolas tem aumentado 10% ultimamente, e, no Brasil, o número mais que dobrou ao longo da última década.

A AGRICULTURA FAMILIAR É, DE LONGE, O MODELO DOMINANTEA maioria das fazendas é de propriedade familiar, gerenciada pelos próprios membros da família, e tradicionalmente passada de geração para geração. Por exemplo, 98%5 das fazendas dos Estados Unidos são dirigidas por famílias e quase o mesmo número se aplica à Austrália, onde mais de 95% do total de fazendas são gerenciadas por famílias. Entretanto, a sucessão de uma fazenda familiar se estende a uma dimensão econômico-empresarial complicada e frequentemente envolvendo aspectos emocionais muito mais complexos.

Em negócios familiares, a “família” pode ser a fonte de sua maior força ou o potencial de sua maior queda.

ECONOMIA AGRÍCOLA POUCO EXPRESSIVAEm regiões desenvolvidas como a Europa, Austrália e Estados Unidos, as fazendas têm aumentado de tamanho. Propriedades familiares muito grandes, com rendimentos anuais ultrapassando USD 1.000.000, quase que dobraram sua representatividade em produção nos EUA, passando de 21% em 1991 para 39% em 20096,7. As mesmas tendências são observadas na Europa e Oceania.

No entanto, na Holanda, na última década, apenas a renda média da produção agrícola para a carne de porco apresentou-se (um pouco) viável na porteira das fazendas. Considerando que a Holanda possui umas das mais produtivas áreas do mundo, isso demonstra a dificuldade que a agricultura tem encontrado nos anos recentes. Obviamente, há muita diferença em termos de retorno dentro de um setor. Analisando a Austrália e a Nova Zelândia, sob a perspectiva do desempenho agrícola, é particularmente interessante observar como esses países têm pouco apoio do governo (os menores níveis), e, comparados à Holanda, suas fazendas produzem significantemente em maior escala. Entretanto, dados da ABARE (Australian Bureau of Agricultural and Resource Economics and Science – Agência Australiana de Agricultura, Recursos Econômicos e Ciência) demonstram que os retornos médios de produção na Austrália foram somente (pouco) positivos no decorrer da última década. Embora tenha havido um bom aumento no valor das terras na Austrália e em outros países nos últimos 10 anos (valorização de capital), o baixo retorno produtivo tem dificultado novos agricultores a iniciar a atividade.

Mesmo após uma década de grande valorização da terra, precisamos manter em mente que no passado houve grandes períodos de baixa valorização e até de grandes correções no valor da terra, como ocorreu nos EUA e na Austrália na década de 1980.

O QUE OCORRE EM GRANDES FAZENDAS COM ECONOMIA DE ESCALA?Um estudo feito pelo Rabobank na Austrália sobre o desempenho das grandes fazendas ao longo de oito anos (2002-2010) indica que aproximadamente 80% das grandes fazendas com ativos acima de AUD 5.000.000 têm um EBIT (LAJIR) médio de oito anos de menos de 5% e um EBIT médio de aproximadamente 2,5%, tal como ilustrado no gráfico apresentado anteriormente.

Apesar de melhores do que a média da indústria de todas as fazendas, os resultados não refletem um crescimento sustentável do negócio. Uma tendência semelhante é vista na Nova Zelândia, onde os retornos

“Em negócios familiares, a ‘família’ pode ser a fonte de sua maior força ou o potencial de sua maior queda”.

Percentual de agricultores com mais de 55 anos (Relatórios de Censo Global de 2006 a 2010)3

20% - 39%

40% - 49%

>50%

Nenhum dado estatístico

Agricultores com mais de 55 anos

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médios ponderados foram apenas 1,8% para as grandes fazendas enquanto que a maioria dos agricultores estava na faixa de 0-2,5%.

O gráfico abaixo apresenta o tamanho em ativos dos principais atuantes, os quais representam 20% do total de produtores. É interessante notar que aqueles com os melhores retornos são os de porte médio, onde nenhum dos 30 milhões + fazendas tiveram um EBIT superior à média de 7,5%. Um resultado semelhante foi visto após análise dos dados da Nova Zelândia. Portanto, tamanho pode ser importante, mas não significa que o negócio seja melhor ou mais rentável.

UM EXEMPLO TÍPICO DE SUCESSÃOQuais são as consequências de uma economia agrícola pobre para o processo de sucessão? Pegue o exemplo de uma fazenda familiar típica, com três filhos, um total de ativos de USD 4 milhões e uma dívida de empréstimo de USD 1 milhão. Dois dos filhos estão deixando a atividade e uma filha concordou em ficar e cuidar da fazenda. Enquanto a mãe

“Eu não quero trabalhar duro, assumir riscos e depois ter que compartilhar a fazenda com meus irmãos que tem bons empregos na cidade.”

e o pai estiverem vivos, provavelmente tomarão conta da fazenda e receberão uma “pequena aposentadoria” vinda do rendimento da fazenda. No entanto, mesmo excluindo as questões fiscais, como essa situação poderia ser conciliada? Para a filha ir ao banco e pegar um empréstimo de USD 2 milhões para pagar os irmãos não seria factível. Tal empréstimo a levaria a níveis de até 75% e ela ainda teria que assumir um EBIT típico de 1-2%. Vender a fazenda seria economicamente racional se mais alguém pudesse garantir os retornos econômicos necessários ou pudesse especular valores futuros da terra. Entretanto, numa propriedade familiar há, provavelmente, muitos laços emocionais entre os membros da família e a propriedade. Vender a fazenda pode ser uma opção economicamente racional, mas ainda não é a alternativa emocionalmente viável para a família.

Além de economicamente racional, a resposta típica de um fazendeiro para a questão acima seria: “Eu não quero trabalhar duro, assumir riscos e depois ter que compartilhar a fazenda com meus irmãos que têm bons empregos na cidade.”

BOAS FAZENDAS TÊM FUTUROObviamente, fazendas com boas perspectivas econômicas têm, no geral, menores problemas com sucessão. Embora haja enormes diferenças entre países e setores, as médias e grandes fazendas têm, no geral, maior lucratividade, nível de modernização, mão de obra produtiva e melhor perspectiva de sucessão. Por exemplo, um estudo holandês (CBS 20129) demonstra que 71% das grandes fazendas de proprietários com mais de 55 anos já têm um sucessor preparado. O mesmo se observa para 56% das fazendas de porte médio e para 34% do total de fazendas.

0%

5%

10%

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20%

25%

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80%

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100%

Mais de10%

A. Mais de 10%

B. Entre 7.5% e 10%

C. Entre +5% e +7,5%

30 mins+

20-30 min

15-20 min

EBIT das fazendas australianas com ativos acima de AUD 5.000.000

Entre+7.5%

e +10%

Entre+5%

e +7.5%

Entre+2.5%

e +5%

Entre0%

e +2.5%

Entre0%

e -2.5%

Entre-5%

e -2.5%

Inferior a -5%

10-15 min

Tamanho da fazenda em ativos

Desempenho das grandes fazendas em um período de oito anos (2002-20108)

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“Os filhos não podem caminhar segundo os passos dos pais... mas, sim, fazendo suas próprias pegadas.”

estabelecer objetivos claros para crescimento e mudanças. Reuniões regulares e formais girando o papel do líder podem promover uma distribuição justa de poder, garantindo o sentimento de segurança de cada membro da família.

Uma formação completa e alguma experiência fora da fazenda dá ao filho do produtor algo a oferecer, a negociar, a equilibrar o poder. É sensato ter um plano de independência ou até um plano de saída. Além disso, em um verdadeiro negócio de família, o sucessor não está sozinho. O que pode manter a próxima geração de sucessão é o papel do cônjuge e o seu relacionamento com o negócio. O cônjuge estará envolvido nos negócios ou estará procurando trabalho em outras áreas remotas? No caso de irmãos, as oportunidades e justas partes no planejamento sucessório devem ser também bem esclarecidas e tratadas. Passar para a próxima geração significa “entregar o controle”. Isso pode não ser fácil. Portanto, passar pelo menos um pouco do controle desde cedo é bom para que o futuro sucessor aprenda a gerenciar riscos e tomar decisões. Pesquisas apontam que se alguém esperar muito e não passar por um processo educacional poderá perder o gosto por

A perspectiva mais ampla

A agricultura é predominantemente um negócio familiar, o que dá uma dimensão especial ao plano de sucessão. O negócio familiar tem pontos fortes e pontos fracos que são específicos. Geralmente, são de longo prazo, com grande comprometimento, lealdade e flexibilidade, são não convencionais, de rápidas decisões, requerem poucos laudos e, portanto, menores custos organizacionais. Em contrapartida, a pouca exigência por laudos, processos muito autônomos e informais, e o acúmulo de informações pouco estruturadas nas mãos de um ou de poucos dificulta um processo de sucessão ameno. Frequentemente, não existe muita clareza com respeito à comunicação, expectativa de emprego, controle e poder na tomada de decisão. A falta de regras de negócio e transparência pode concentrar o poder nas mãos de poucos. É melhor estar ciente das armadilhas e tirar proveito dos pontos fortes de se trabalhar com os filhos e tomar suas próprias decisões.

Cada família e cada fazenda são diferentes, portanto não existe uma única solução que sirva para todas as situações de sucessão. No entanto, há alguns fatores universais relacionados ao sucesso no processo de sucessão de uma propriedade familiar. O segredo é começar cedo, dedicando tempo e recursos para educar a família sobre a “influência da família no negócio agrícola”, especialmente com relação à comunicação, negociação e processos de tomada de decisão. O processo de sucessão pode ser difícil e emocionalmente desconfortável. Porém, uma mudança planejada e controlada torna o processo mais gratificante do que uma mudança inesperada ou mal planejada.

Três fases críticas podem ser consideradas em um processo de sucessão:(1) Entrar no negócio agrícola ou escolher outra carreira;(2) Trabalhar no negócio ou dirigir o negócio;(3) Sair definitivamente do negócio ou ter flexibilidade para voltar.O processo de sucessão começa encontrando um sucessor, um filho ou uma filha que considere a escolha de uma carreira agrícola dentro do negócio familiar. Uma comunicação clara, aberta, contínua, oportuna e planejamento são fundamentais desde o início. É frequentemente útil envolver uma pessoa que esteja de fora do negócio, que não esteja emocionalmente envolvida, e que seja profissional e experiente. Esse profissional consegue separar as questões de negócios das questões familiares, ajudar a delegar poder, percorrer questões delicadas e

SUCESSÃO

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A perspectiva da família

Durante o evento Global Farmers Master Class, a questão da sucessão foi discutida com 50 fazendeiros de 18 países e culturas diferentes ao redor do mundo. Muitos pensamentos e ideias surgiram para lidar com as diversas questões de sucessão. Apesar das diferenças, houve muito mais semelhanças em pensamentos e perspectivas além das muitas lições aprendidas com vários países.

“Talvez o que faça a sucessão ser um grande desafio é o confronto do velho agricultor com o fato de que sua trajetória profissional está chegando ao fim.”

A AGRICULTURA FAMILIAR É SUSTENTÁVEL?Apesar dos desafios econômicos, há um consenso entre os produtores rurais de que a agricultura familiar é o melhor caminho a seguir. Agricultura familiar implica planejar em longo prazo, pensando numa próxima geração. Cada geração precisa repensar seu modo de dirigir o negócio e modernizá-lo. Sustentabilidade será o ponto-chave para as próximas gerações. A diferença entre o valor de mercado e o dinheiro que os jovens agricultores podem pagar aumenta conforme a urbanização em áreas densamente povoadas, bem como a especulação e a capitalização de subsídios que impulsiona os preços para cima. Os agricultores precisam encontrar caminhos inovativos para a sucessão, como, por exemplo, descontar o valor da família dividindo entre operação e gestão, etc.

A agricultura empresarial já ocupa um espaço, mas, como vimos, os retornos são baixos e não há lugar para gastos adicionais. Além disso, a agricultura é uma atividade de longo prazo, que melhor se encaixa em estruturas familiares ou cooperativas. Esta última pode ser ilustrada por um agricultor gerenciando interesses cooperativos de um povo indígena na Nova Zelândia. Ele diz: “Muitas são as discussões sobre interesses individuais, no entanto, o interesse coletivo deve ser sustentado como um todo e não o interesse do indivíduo.”

IMAGEM E FORMAÇÃOIniciativas de bancos e outros órgãos para apoiar jovens fazendeiros, como, por exemplo, “young farmer master class” ou “dias de campo para jovens fazendeiros” do Rabobank são ótimas iniciativas, porém

assumir riscos em idade mais avançada.

Finalmente, quando a saída do negócio for temporária, é importante especificar para a família o tempo de ausência, o quanto continuará envolvido, e as necessidades de suporte financeiro.

Em resumo, sucessão significa começar cedo. Diz respeito à comunicação aberta, planejamento com antecedência, formalizar o processo e ter uma estratégia de saída para equilibrar poder na família. É como um velho dizendo sobre o ovo que se tornará pássaro: “Por mais difícil que seja para um ovo se transformar em um pássaro, é ainda mais difícil de aprender a voar permanecendo um ovo. Não podemos ser apenas um ovo comum para sempre: temos que chocar ou vamos mal.”

SUCESSÃO

“Muitas são as discussões sobre interesses individuais, no entanto, o interesse coletivo deve ser sustentado como um todo e não o interesse do indivíduo”.

Painel de discussão sobre planejamento de sucessão durante o evento Global Farmers Master Class

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há muito mais o que se fazer. “O maior interesse não é a terra, mas sim a transferência de conhecimento”, diz Ricardo Rios Pohl, do Chile. Educação e formação é uma responsabilidade a ser dividida entre todas as partes interessadas.

A história de Ricardo será abordada mais adiante neste livro, mas um fato interessante é que ele não é filho de fazendeiro, e sim um cientista da computação. Como alguém pode envolver e motivar crianças ávidas e inteligentes, de origem não rural, a iniciar uma carreira na agricultura? O primeiro desafio a superar é restaurar a imagem da agricultura e elucidar as pessoas sobre os conceitos equivocados da agricultura na sociedade. A agricultura é algo do qual se deve orgulhar, é uma atividade que tem muito a oferecer a empreendedores rurais. O aumento da demanda por alimentos no mundo combinado com inovação dá à agricultura uma perspectiva brilhante.

DIVERSIDADE DE GÊNEROEmpreendedores familiares têm estimulado suas filhas a irem às fazendas? A história de Cristina Kress é um excelente exemplo, mas parece que ainda há um longo caminho a percorrer. A captação de mulheres para a formação agrícola tem melhorado significantemente, o que é um bom começo, mas há ainda muito que fazer. Na propriedade familiar, a mulher não está mais somente voltada para o lar, mas atuando mais amplamente no setor agrícola. Isso é um reflexo geral da sociedade, e seria bom para estimular ainda mais o equilíbrio entre gênero na agricultura, pelo menos em um país desenvolvido.

ASPECTOS FINANCEIROSMuito da discussão sobre capacitar a próxima geração de agricultores foi sobre meios de obter suporte financeiro para jovens empreendedores e fazer a atividade agrícola ser mais economicamente atrativa. A percepção geral é de que os agricultores não recebem a porção justa dos retornos na cadeia de valor de alimentos. Contudo, em uma era de baixa oferta, os agricultores não deveriam mais ser os tomadores de preços. Além do mais, o uso da mídia social ajudará os agricultores a construir uma imagem e trabalhar de maneira mais cooperativa, tomando parte do poder de precificação das grandes corporações. Esse importante desenvolvimento será revisado no capítulo sobre cadeia de suprimentos e mídia social.

“O maior interesse não é a terra, mas sim a transferência de conhecimento.”

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QUESTÃO-CHAVE:COMO CAPACITAR A PRÓXIMA GERAÇÃO DE AGRICULTORES!

1. FORMAR A PRÓXIMA GERAÇÃO EM AGRICULTURAEstabelecer com todas as partes interessadas um bom plano de educação para preparar a próxima geração de empreendedores rurais.

2. MELHORAR A ECONOMIA DA ATIVIDADE AGRÍCOLAÉ necessária uma maior cooperação dentro da cadeia produtiva para obter um ganho mais equilibrado para o lado do agricultor. Em longo prazo, isso irá beneficiar todos os agentes da cadeia e resultará numa produção de alimentos mais eficiente. Em nível individual, observamos que os melhores desempenhos e as explorações mais viáveis vêm, em 70% dos casos, com um potencial sucessor. Então, de acordo com o esperado, o negócio economicamente expressivo favorecerá uma sucessão amena.

3. EXPLORAR INOVAÇÃO E INVESTIMENTOSNovos modelos de negócio devem ser explorados dentro do conceito de agricultura familiar.

4. PREPARAR A FAZENDA PARA A SUCESSÃO EM VEZ DE PREPARAR UM SUCESSOR PARA A FAZENDAFormalizar o processo de sucessão, garantir uma comunicação transparente, repensar a estrutura de gestão e contratar um especialista para facilitar o processo de sucessão com antecedência.

5. RESTAURAR A IMAGEM DA AGRICULTURA FAZENDO DELA UMA OCUPAÇÃO MUITO MAIS RESPEITADA E DESEJADA

O futuro da agricultura – o caminho a seguir

SUCESSÃO

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SUSTENTABILIDADE

- Introdução- História inspiradora - Fatos e números - A perspectiva mais ampla - A perspectiva do agricultor - O futuro da agricultura

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Introdução

SUSTENTABILIDADE

“Sustentabilidade é como o amor. Reconhecemos a ideia vagamente, mas não sabemos exatamente o que é.” Professora Louise O. Fresco, Universidade de Amsterdã.

A atividade agrícola, ao redor do mundo, teve um bom desempenho nos últimos 50 anos. Desde a década de 1960, a agricultura tem conseguido fornecer alimento a preços mais baixos para uma população que dobrou de tamanho, de 3 para 7 bilhões. O fornecimento de alimento per capita aumentou em 30%1 no mundo.

Entretanto, esse sucesso de produtividade foi acompanhado por desafios ambientais. A produção animal em todo o mundo responde por 18%i das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) induzidas pelo homem, responsáveis por causar aquecimento global. A agricultura primária é acusada de consumir 70% da água doce do planeta, e – de acordo com a WWF – polui pelo menos a metade disso. Mais de um terço da produção global de alimentos é perdido ou desperdiçado em algum ponto ao longo da cadeia entre produtor e consumidor; uma quantidade grande o suficiente para alimentar 2 bilhões de pessoas. Desde 1970, a biodiversidade global diminuiu em aproximadamente 30%; em 60% nos trópicos. A demanda por recursos naturais quase dobrou desde então. Atualmente, utilizamos o equivalente a 1,5 planeta para suportar as nossas atividades globais; excedendo a capacidade de regeneração do mundo em 50%. Se nós continuarmos nesse ritmo até 2030, o equivalente a dois planetas Terra não será suficiente. Se cada um fosse viver como um cidadão médio dos Estados Unidos (EUA), seria necessário um total de quatro planetas para regenerar a demanda anual da humanidade pela natureza2. Existe somente um mundo. Nós precisamos produzir mais com menos.

De acordo com a Comissão Bundtland (1987), sustentabilidade refere-se a: “Satisfazer as necessidades da geração atual sem comprometer a habilidade das gerações futuras de satisfazer as suas necessidades.” Sustentabilidade significa produzir mais com menos. Ser mais produtivo e eficiente, com menos insumos, menos emissões e menos desperdício. Significa capacitar a próxima geração de agricultores para alimentar o mundo de maneira sustentável com conhecimento, adotando tecnologias existentes e novas tecnologias com colaboração

“Atualmente, nós estamos usando o equivalente a 1,5 planeta Terra”

“Existe somente um mundo. Nós precisamos produzir mais com menos.”

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e treinamento dentro da cadeia de suprimentos, assegurando que as melhores práticas serão compartilhadas globalmente.

“A definição de sustentabilidade apresenta vários significados, mas existe somente um significado que importa: o significado comum. Minha liberdade termina quando eu afeto a liberdade do outro.” Ricardo Rios Pohl, Chile. Especialista em computação que se tornou produtor de leite e deu o nome de Chilterra ao seu sistema de produção, um sistema de pastagem adaptado ao Chile, baseado em um grande líder e exemplo da Nova Zelândia.

“SUSTENTABILIDADE É COMO O AMOR. RECONHECEMOS A IDEIA VAGAMENTE, MAS NÃO SABEMOS EXATAMENTE O QUE É.” LOUISE O. FRESCO

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Parininihi ki Waitotara Incorporation (PKW) Grupo Maori com sede em Taranaki, Aotearoa, Nova Zelândia.

Dion Tuuta é chefe executivo da PKW, grupo Maori que possui 14 fazendas de produção de leite na região de Taranaki, Nova Zelândia. Como membro da tribo Maori, Dion lida com o desafio de aumentar crescimento, produtividade e lucros sem impactar negativamente a terra que ele herdou e deverá passar para a próxima geração Maori.

“Eu irei me apresentar do jeito Maori: Ko Taranaki te Maunga, Ko Urenui te Awa, Ko Ngati Mutunga te Iwi, Ko Dion Tuuta ahau. Que significa: Taranaki é a minha montanha ancestral, Urenui é o meu rio ancestral e Ngati Mutunga é a minha tribo. Eu sou Dion Tuuta.”

“Nossa organização PKW inclui 9.000 proprietários individuais Maori, cada um com uma área em 20.000 hectares de terra total. Essa terra foi herdada dos nossos ancestrais Maori. Nós não a compramos. Não é um investimento comercial. Ela veio para nós dos nossos pais, avós e bisavós. Nós a estamos mantendo e preservando para os nossos filhos, nossos netos e os filhos deles. Em um sentido de continuidade, isso é o que sustentabilidade significa para mim. Eu tenho ouvido muitos agricultores dizerem que querem passar a terra para os seus filhos em uma condição melhor do que aquela em que receberam. Esta é a nossa herança cultural,” disse Dion. “Sustentabilidade significa uma porção de coisas distintas para diferentes pessoas, mas basicamente eu diria que eu só quero que meus filhos, netos e bisnetos aproveitem o ambiente assim como eu aproveitei quando eu era criança. Eu não quero que as nossas atividades rurais comprometam os rios e o ambiente dos quais nós dependemos para o nosso bem-estar.”

OLHOS ATENTOS NAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS “PKW tem 8.000 vacas e é o maior fornecedor da nossa cooperativa Fonterra em Taranaki, ocupando somente 10% da nossa terra. Nós temos planos para aumentar, com o tempo, a produção e o número de vacas para 50.000, com uma maior retomada de controle da nossa terra. Nós precisamos ser cuidadosos e conscientes na maneira como nós fazemos isso. Nós precisamos considerar o impacto da intensidade da atividade agrícola no nosso ambiente,” disse Dion.

Nos últimos anos, os governos estadual e local e as grandes corporações de produção de leite assumiram maior responsabilidade pela limpeza do ambiente na Nova Zelândia. De forma semelhante, o povo Maori e as tribos locais também mantiveram olhos atentos nas atividades da propriedade e no impacto nocivo e potencial nas suas terras e recursos hídricos.

“Nós estamos muito conscientes de que somos uma entidade corporativa Maori, mas também somos membros da tribo Iwi. Nosso povo colhe alimentos vindos dos rios e os rios fluem para o oceano, de onde nós também colhemos peixes e alimentos marinhos. Nós queremos ter certeza de que nossa atividade em terra não compromete os outros recursos culturais. Nosso povo mantém atenção naquilo que estamos fazendo. Se eles sentem que as nossas atividades agrícolas estão impactando outras áreas da nossa vida cultural, eles ficarão chateados e irão nos dizer,” disse Dion. “O segredo é ter certeza de que nós estamos alinhados com o que o nosso povo quer.”

História inspiradora

SUSTENTABILIDADE

“PKW tem 8.000 vacas e é o maior fornecedor da Fonterra em Taranaki, ocupando somente 10% da nossa terra.”

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“Nós investimos em iniciativas educacionais e sociais e em fazer parcerias com instituições educacionais voltadas à agricultura.”

UMA IDEIA SIMPLES SOBRE SUSTENTABILIDADE “No passado, as práticas agrícolas da Nova Zelândia não eram tão boas quanto são hoje. As regulamentações não eram tão restringentes”, admitiu Dion.

“Há poucas décadas, os resíduos das fazendas de leite eram despejados no rio. Não podíamos mais nadar com frequência e segurança no rio e isso era uma das minhas brincadeiras favoritas quando eu era criança.”

Nos últimos 25 anos, a Nova Zelândia mudou os seus métodos agrícolas, e fixou a sustentabilidade ambiental como prioridade. O governo local tem sido muito efetivo em colocar em operação regulamentações que garantem que os agricultores isolem os corpos d’água com cercas e façam tratamento adequado dos efluentes, disse Dion.

“Nós temos removido a sujeira dos rios com sucesso. Agora, eu posso puxar uma cadeira e observar minhas crianças balançarem na árvore, apreciando nossos cursos d’água. Esse é o entendimento que eu tenho de sustentabilidade,” disse Dion.

PKW certifica-se de que cursos d’água conectados a terras agrícolas são protegidos por cercas, as quais suportam também plantios tutorados ao longo do rio. “Nossa cooperativa Fonterra escreveu um acordo chamado Clean Streams Accord (Acordo dos Córregos Limpos). Até 2015, todos os agricultores fornecedores da Fonterra deverão ter seus cursos de água cercados. As nossas propriedades alcançarão essa meta em 2013,” disse Dion.

A PRÓXIMA GERAÇÃO DE PRODUTORES DE LEITEParte do papel de Dion como chefe executivo é garantir que a próxima geração de produtores de leite Maori e os administradores de terra Taranaki sejam orientados para as oportunidades da propriedade e o que pode ser obtido com a terra deles. “A nossa gente esteve separada de sua terra por muitos anos. Muitos perderam a memória da prática agrícola e perderam o capital cultural de serem administradores de terras. Nós tentamos encontrar caminhos para orientar as pessoas e reconectá-las à sua terra,” disse Dion.

“Nós investimos em iniciativas educacionais e sociais e em fazer parcerias com instituições educacionais voltadas à agricultura. Nós vamos a escolas primárias e encontramos maneiras de conectar crianças bem novas com o ambiente e plantamos as sementes de um futuro em agronegócio e manejo da terra. Nós convidamos estudantes

para visitar a fazenda e experimentar a vida em nossas propriedades. Muitas pessoas do nosso povo se tornaram urbanas e nós estamos tentando fazer crescer nelas um amor pela terra, ainda em uma idade bem jovem,” disse Dion.

“Quando as nossas crianças crescerem, não haverá garantia de que desejarão retornar e trabalhar em suas terras. Mas uma das minhas tarefas é encontrar pessoas que irão me substituir quando eu for para frente. Eu planto e cultivo ideias nas pessoas. Este é o tipo de coisa que eu faço,” disse Dion. Como chefe executivo, ele é o responsável pelo negócio e por preservar, prosperar e preparar o negócio para a geração seguinte.

O FUTURO PARA A TERRA E O POVO MAORI PKW também promove oportunidades para envolver os descendentes da sua terra no negócio.

“A Nova Zelândia é muito distante de tudo. O povo Maori está começando a se reposicionar com confiança na economia neozelandesa e no cenário global. Nós estamos muito orgulhosos do fato que, apesar de muitos desafios, nossa cultura sobreviveu, sucedeu e cresceu,” disse Dion.

“Nós acreditamos na comunidade, na força da comunidade, e em nossas conexões uns com os outros,” disse Dion. “Eu conheço agricultores de

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O relatório marco de 2006 da FAO Livestock’s Long Shadow3 (A Longa Sombra da Produção Animal) indica que a produção animal global é a mais responsável por gerar emissão de GEE induzida pelo homem – 18%i – do que o transporte. Aproximadamente dois terços disso (13%) vêm dos sistemas extensivos de produção animal, como gado de pasto, enquanto um terço (aproximadamente 5%) vem dos sistemas intensivos como suinocultura e avicultura.

Estimativas mostram que aproximadamente 80% dos minerais consumidos na cadeia de suprimentos são excretados novamente. Mais de um terço do alimento produzido ao redor do globo é perdido ou desperdiçado; uma quantidade grande o suficiente para alimentar dois bilhões de pessoas. Enquanto em regiões desenvolvidas, uma parte significante do desperdício de alimentos resulta do consumidor, em regiões em desenvolvimento a perda de alimentos usualmente ocorre em decorrência das infraestruturas (armazenamento e resfriamento) subótimas, antes mesmo de o alimento chegar ao consumidor. Todo ano, os consumidores em países ricos desperdiçam quase a mesma quantidade de alimentos (222 milhões de toneladas) da cadeia completa de produção de alimentos da África Subsaariana (230 milhões de toneladas).4 Uma análise inicial de 1.600 produtos da Unilever, os quais representam mais de 70% das suas vendas em 14 países, mostrou que 68% dos GEE oriundos dos produtos da Unilever foram originados pelo consumidor, demonstrando a grande influência destes no mundo ocidental.

Enquanto a agricultura usa 70% da água doce do mundo, outras indústrias criam 70 vezes mais valor por gota de água usada. Os requerimentos diários de água potável de uma pessoa são aproximadamente três litros, enquanto se consomem 2.000–5.000 litros de água para produzir o alimento ingerido diariamente por essa mesma pessoa. Já há, nos dias de hoje, aproximadamente 1,2 bilhão de pessoas que vivem em áreas com escassez de água. Esse número deverá crescer para 1,8 bilhão até 2025. Enquanto isso, os cenários de mudanças climáticas existentes projetam que quase a metade da população mundial poderá estar vivendo em áreas de grande falta de água até 2025.6

Fatos e números

SUSTENTABILIDADE

todo o mundo e, embora tenhamos diferenças, compartilhamos dos mesmos valores e do estilo de vida que nossos pais e ancestrais deixaram para nós.” Para ilustrar a conexão, Dion traduziu um velho dizer Maori: “He aha te mea nui ki te ao, he tangata, he tangata, he tangata.” (“Qual é a coisa mais importante no mundo? São as pessoas. São as pessoas. São as pessoas.”)

“A promessa do futuro para o povo Maori é o agronegócio que é real e significante. Eu estava entre 50 agricultores de diferentes países discutindo questões sobre aumentar a segurança alimentar e ao mesmo tempo gerenciar questões de sustentabilidade, sucessão e estabilidade social. Se eu pudesse teria trazido uma sala cheia de jovens a este fórum para que eles pudessem ouvir o potencial que o futuro guarda para aqueles que podem alimentar o mundo – sustentavelmente.”

Fato:O mundo possui estimados 1.400 milhões de quilômetros cúbicos de água. Somente 0,003% dessa enorme quantidade são “recursos de água doce” – água que teoricamente pode ser usada para bebida, higiene, agricultura e indústria. Mas essa água não é toda acessível. Na verdade, somente entre 9.000 e 14.000 quilômetros cúbicos são economicamente disponíveis para uso humano5.

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Desde a virada do século, a quantidade de terra arável tem decrescido em aproximadamente 1% por ano devido à por exemplo, erosão e urbanização. Por habitante, a terra arável diminuiu pela metade, de 1,5 ha em 1960 para menos do que 0,8 ha hoje em dia (como mostrado na figura a seguir). Portanto, o suprimento de alimento tem que crescer em pelo menos 70% até 2050 com somente metade da terra atual e das fontes disponíveis de água e minerais por habitante. A mudança na dieta definida pelo salário com maior consumo de proteínas animais acelerará a demanda por recursos naturais como terra e água ainda mais. Enquanto atualmente se consome aproximadamente 1.500 litros de água para produzir 1kg de trigo, estima-se que se consumirá aproximadamente 10 vezes mais, isto é 15.000 litros, para produzir 1kg de carne de vaca alimentada com grãos.7

O crescimento mais forte é esperado para o consumo de peixe criado em tanque e frango. Por uma feliz coincidência, estas também parecem ser as fontes de proteína animal com a menor pegada ecológica.8 Oportunidades para solucionar o problema da água residem em uma melhor gestão dos recursos hídricos, irrigação mais eficiente, seleção de culturas baseada no clima e desenvolvimento de variedades vegetais eficientes no uso da água. Por exemplo, a irrigação pode aumentar a produção de muitas culturas de 100 a 400%. Agricultores que mudarem de irrigação superficial para irrigação localizada poderão cortar o seu uso de água em 30 a 60%9. A agricultura irrigada representa, ao redor do globo, 20% do total de terra cultivada, mas contribui com 40% do total de alimento produzido.

1961

1964

1967

1970

1973

1976

1979

1982

1985

1988

1991

1994

1997

2000

2003

2006

2009

5.0000,00

4.9000,00

4.8000,00

4.7000,00

4.6000,00

4.5000,00

4.4000,00

4.3000,00

4.2000,00

1,6

1,4

1,2

1

0,8

0,6

0,4

0,2

0

Terra agrícola (1.000 ha)

Área de terra agrícola Área de terra agrícola por capital

Fato:com 0,03% de CO₂ na atmosfera da Terra a temperatura média mundial é 15ºC. Sem CO₂ (0%, portanto), a temperatura média seria 33 graus mais baixa, −18ºC.

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A perspectiva mais ampla

“Negócio que produz nada além de dinheiro é negócio pobre.” Henry Ford.

EFICIÊNCIA E PRODUTIVIDADE, CHAVE PARA A SUSTENTABILIDADE Produzir “mais com menos” irá requerer um esforço enorme, mas é possível; existem muitas oportunidades. Produtividade e eficiência são chaves. Precisamos de uma intensificação sustentável. Sistemas de alta produção e eficientes usam menos insumos por kg de produto final e apresentam menores emissões de GEE. Além disso, o uso da terra é menor, deixando mais espaço para natureza, urbanização e recreação.

“A Terra, com certeza, não ficará maior. Nós temos que aumentar produção por ha com menos insumos e menos emissões: mais com menos. Maior produtividade e eficiência são chaves para a sustentabilidade.” Aalt Dijkhuizen, presidente do Conselho Executivo da Universidade e Centro de Pesquisa de Wageningen.

PROGRESSO NO PASSADO Um significativo progresso na sustentabilidade já foi observado em levantamentos em que, por exemplo, a emissão de carbono em fazendas de leite foi reduzida em 63% nos últimos 60 anos por meio da eficiência na produção de ração e manejo da nutrição, enquanto o uso de energia no processamento da produção de leite diminuiu 25%. Comparado aos anos 1940, a produção de leite de hoje requer somente 10% da utilização da terra, 23% da nutrição e 35% da água por kg de leite10. Tendências e resultados semelhantes foram encontrados para outros sistemas de produção de alimentos. Comparada à realidade de 1970, a pegada de carbono por kg do porco e ave consumidos hoje em dia diminuiu 31% e 43%, respectivamente, ou aproximadamente 0,8% a 1% por ano. Novamente, isso foi principalmente devido às eficiências dos sistemas de produção. O aumento geral no consumo desses produtos, nesse mesmo período, foi (mais que) compensado por essa redução na produção por unidade de carbono.11

PROGRESSO POTENCIAL – COBRINDO AS LACUNAS GLOBAIS EXISTENTES EM EFICIÊNCIA E PRODUTIVIDADEGrandes variações em produtividade existem nas fazendas com respeito à terra e água. As estimativas são de que, na média global,

SUSTENTABILIDADE

“Maior produtividade e eficiência são chaves para a sustentabilidade.”

a produtividade animal é de 30 a 40% abaixo do potencial genético deles. Acredita-se que muitas culturas têm desempenho 50% abaixo do que poderiam. Enquanto a média mundial de produção de cereais é aproximadamente três toneladas por ha, os 10 países com as mais extensas áreas de cereais apresentam produtividades variando de mais de seis toneladas por ha nos Estados Unidos, e aproximadamente uma tonelada por ha na Nigéria e no Cazaquistão. Para melhor comparação, as maiores produções de cereais são de 8 a 10 toneladas por ha. Mas mesmo dentro de um único país, em condições semelhantes, uma variação significante pode ser encontrada. Por exemplo, os produtores de suínos com melhor desempenho na Holanda, os quais somam 20% do total de produtores, são capazes de produzir mais do que cinco filhotes por ninhada por ano a mais do que os de mais baixo desempenho, os quais representam também 20% do total de produtores. Enquanto a média holandesa de produção de leite por vaca é aproximadamente três vezes mais alta que a média mundial, os 25% maiores produtores de leite da Holanda são capazes de alcançar uma quantidade de leite por vaca aproximadamente 45% mais alta (isto é, aproximadamente 3.000kg a mais) do que os seus colegas menos produtivos que representam 25% do total. Baseado no alto grau de produtividade e eficiência holandesa seriam necessários 40% menos porcos ao redor do mundo para produzir o mesmo volume atualmente produzido no globo. De acordo com a WWF, os produtores mundiais

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Legais e de conformidade

Filantropia estratégica

Valores com base em autor-

regulaçãoEficiência

Plataforma de crescimento

Adesão à lei nos países de produção, operação e distribuição.

Alinhamento das atividades de caridade com as questões sociais que apoiam os objetivos de negócios.

Incorporam um sistema de valor da empresa e/ou código de conduta para orientar o comportamento das empresas

Redução de custos mensuráveis por meio de cenários eficientes e vantajosos para todos

Acesso a novos mercados, novas parcerias ou inovações de produtos/serviços que geram receita.

Fonte: Institute for Business Value (IBM)14

CURVA DE VALOR

“Durante as duas décadas passadas, os setores de RSC das empresas deixaram, ao longo da cadeia de valor, de mitigar riscos ou de se orientar na observância de custos para propor uma plataforma de crescimento sustentável e criação de valor.”

com melhor desempenho são aproximadamente 100 vezes melhores do que seus colegas menos produtivos, os quais são, por sua vez, responsáveis por metade do impacto ambiental.

PROGRESSO POTENCIAL – NOVAS SOLUÇÕES SUSTENTÁVEISMesmo para os melhores agricultores, existe espaço para melhorias significativas. A ciência está progredindo na direção de muitas soluções sustentáveis inovadoras. Oportunidades de melhorias incluem progresso na reprodução acelerada usando a genômica, produção mais alta e mais eficiente de culturas e animais com o uso de agricultura de precisão, instalações animais melhoradas para maior bem-estar animal, alimentos enriquecidos mais saudáveis, com vida de prateleira mais longa e desperdício reduzido por resfriamento inteligente, técnicas de empacotamento e armazenamento, novas matérias-primas eficientes, como algas e insetos, e novas técnicas baseadas em biotecnologia para obtenção de alimento, alimentação animal e combustível de uma única planta.

Hoje em dia, o sequenciamento de DNA pode ocorrer 25.000 vezes mais rápido do que há 15 anos, o que significa que hoje nós podemos desvendar o genoma humano em uma tarde, algo que teria levado 15 anos uma década atrás. Usando a genômica, as características mais desejáveis de plantas e animais podem ser selecionadas sem manipulação de genes e sem triagens práticas demoradas, o que resultaria em um progresso mais efetivo e acelerado do melhoramento. As estimativas indicam que, usando a genômica, o progresso genético poderia dobrar.

A agricultura de precisão explora as diferenças que existem nas culturas e nos animais, em vez de tentar eliminá-las. Tudo gira em torno de tomar uma ação correta e específica no tempo certo e no lugar certo. Em vez de uma ação genérica para todo o campo de produção, o objetivo é adaptar, por exemplo, o uso de fertilizantes, herbicidas ou água para cada metro quadrado específico do campo de produção. Desse modo, áreas deficientes podem receber mais tratamento do que áreas sem deficiência, aumentando significativamente a produção total e, ao mesmo tempo, reduzindo os insumos. Com o uso de modelos de computadores capazes de levar em conta a quantidade de fosfato que permanece no solo após a colheita de uma cultura fertilizada, é possível calcular mais precisamente a quantidade de fosfato requerido para as culturas subsequentes. Os pesquisadores calculam que, dessa forma, a produção de alimentos em 2050 irá requerer 40% menos fosfato (um recurso natural esgotável) do que foi previamente pensado12. Este é o futuro do alimento; um futuro muito viável para a produção agrícola.

“Existe espaço para o aperfeiçoamento, um grande potencial a ser conquistado. O teto não foi alcançado, nem de longe, nem mesmo pelos atuais agricultores de melhor desempenho. Com o uso de novas tecnologias, como genômica, agricultura de precisão e tecnologias baseadas na biotecnologia, novos avanços serão alcançados.”Aalt Dijkhuizen.

OS DRIVERS DE SUSTENTABILIDADE MOVEM-SE DA CONFORMIDADE PARA A CRIAÇÃO DE VALORES13

A integração de questões ambientais e sociais, por meio da Responsabilidade Social Corporativa (RSC), é uma alternativa que as empresas têm no gerenciamento dos seus negócios para produzir um impacto positivo na sociedade por meio de ações econômicas, ambientais e sociais. Durante as duas décadas passadas, os setores de RSC das empresas deixaram, ao longo da cadeia de valor, de mitigar riscos ou de se orientar na conformidade de custos para propor uma plataforma de crescimento sustentável e criação de valor. Em outras palavras, os direcionadores de RSC moveram-se do gerenciamento de reputação e risco para a adição de valor a partir dos ganhos de eficiência e criação de (novo) valor.

No início, as empresas se envolvem com RSC porque se sentem forçadas a fazer isso. Obedecer às regulamentações locais e globais dá a eles a licença para produzir, enquanto que a falta de cumprimento pode destruir as marcas e as reputações do negócio. Entretanto, consumidores e agentes da cadeia estão se transformando em comedores ávidos de informação. Hoje, a informação requerida vai muito além do comportamento legal das empresas com relação ao fornecimento,

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• Marca mais forte e maior

poder de precificação

• Maior eficiência operacional • uso mais

eficiente de recursos

• Otimização da cadeia de suprimentos

• Custos e impostos mais

baixos

• Maior capacidade de atrair, reter e motivar os

funcionários• Maior produtividade

dos funcionários

• Maior fidelização do cliente,

menor taxa de

rotatividade

• Maior capacidade

de entrar em novos mercados

• Mais fontes potenciais de

receita

• Menores riscos

operacionais, de mercado e

de balanço

• Menor custo do capital e

maior acesso ao capital,

financiamento e seguro

Poder de precificação

economia de custos

Recrutamento de funcionários e

comprometimento

Representação no mercado

Entrada em um novo mercado

Os prêmios de risco

Custo de capital

Melhoria da margem Crescimento da renda

Lucros Fluxo de caixa livre Variação múltipla

Retorno total ao acionista

Potenciais Impactos dos esforços de sustentabilidade

Alavancas de criação de valor

Fonte: MIT – Sloan Management Review 200915

ALAVANCAS DE CRIAÇÃO DE VALOR EM SUSTENTABILIDADE

composição e impacto dos produtos e sistemas de produção. Para responder a essa crescente visibilidade, empresas aumentam sua abordagem em RSC para se defenderem de reais ou eventuais desafios das partes envolvidas ou alegações de ONGs. As atividades de caridade e RSC são focadas em questões sociais e ambientais que suportam objetivos de negócios para mitigar riscos colocados por questões atuais e pontuais de sustentabilidade. Para aprender com essas experiências, as empresas subsequentemente reconhecem a importância do verdadeiro negócio e o impacto de uma linha de fundo. Por exemplo, economizar energia reduzindo as emissões de gases de efeito estufa também minimiza custos. Otimizar cadeias de suprimento reduzindo o desperdício e a negligência irá simultaneamente aumentar a eficiência e a produtividade. Então, na próxima fase da curva de valor, a RSC irá agregar valor por meio da economia de custos, mensurável, dada pela presença de cenários mais eficientes em que todos saem ganhando. Finalmente, para sair do risco para o lucro, empresas reconhecem que a RSC pode trazer vantagens competitivas por acionar inovação e a criação de novos produtos, novos mercados e novos modelos de negócio com novos parceiros, fortalecendo sua posição na briga por talentos. Desse modo, a sustentabilidade vale a pena, pois seus esforços podem acionar todas as alavancas para a criação de valor pelas empresas (veja abaixo uma visão geral das alavancas de criação de valor em sustentabilidade).

Ações de sustentabilidade podem aumentar a eficiência e economia de custo, enquanto que o fortalecimento das marcas permite um maior poder de precificação, contratação, desenvolvimento e retenção de empregados – tudo resultando em melhoria das margens. Isso pode

aumentar a fidelidade e diminuir a rotatividade de clientes e, portanto, aumentar a representatividade no mercado. Isso alimenta a inovação criando novos mercados e aumentando as vendas. Pode diminuir os prêmios de riscos reduzindo os riscos legais, operacionais, de reputação e de mercado, e, então proporcionar um menor custo de capital, e, assim, melhorar os múltiplos de avaliação dos negócios. De todos esses modos, a sustentabilidade pode aumentar os retornos aos investidores. Por exemplo, um estudo16 demonstrou que empresas com um comprometimento ambiental proativo pagam juros mais baixos em seus empréstimos e, assim, diminuem o valor da dívida.

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A perspectiva do agricultor

“Nós, como agricultores, sabemos que temos que trabalhar com a natureza em vez de trabalhar contra ela, mas, de alguma forma, parece que não temos conseguido convencer os governos e a sociedade a pensar assim”.

“A fita vermelha está se tornando verde.”Rod Fenwick, Austrália. Especialista em produção, processamento e gerenciamento de negócio avícola e vencedor do prêmio Indústria Avícola Victorian.

Ser verde não é fácil. Entretanto, alguns critérios de sustentabilidade são conflitantes. Por exemplo, enquanto o sistema de produção de ovos ao ar livre favorece o bem-estar das poedeiras, esses sistemas em geral emitem 20% mais CO₂ e usam 25% mais terra por kg de produto17. Semelhantemente, sistemas de produção orgânica, em geral, parecem ter um maior potencial de aquecimento global por kg de produto do que os convencionais. Embora a agricultura orgânica seja apreciável, ela não pode por si só alimentar o mundo. Mudar massivamente o principal sistema de produção para agricultura orgânica requeriria seis vezes mais terra para alimentar a população mundial atual, ao custo de

hábitos naturais. O uso da terra não pode crescer seis vezes, ele pode ser expandido somente em acerca de 15%. Ninguém deveria fazer tabus com fertilizantes, pesticidas e nem com agricultura orgânica. Em vez disso, cada um deveria aprender as lições de cada tipo de agricultura, de cada sistema. Os sistemas de agricultura intensiva também aprenderam com o passado, com os excedentes de estercos e minerais que resultaram em excesso de nitrogênio/nitrato e fosfato poluindo a água e o solo, diminuindo o bem-estar animal e aumentando as crises de doenças animais.

“Quanto mais eficiente é a produção, isto é, mais produtos por unidade de insumo, melhor. Entretanto, para a classe média urbana de economias ricas, eficiência tem se tornado cada vez mais um conceito negativo. O ideal dessa classe é uma visão romântica da produção agrícola passada dos avós. Entretanto, nós não podemos alimentar o mundo de hoje com a agricultura de ontem.”Louise O. Fresco

O dogmatismo ecológico é contraproducente. A educação ecológica é necessária. Permaneça com a mente aberta; mantenha eficiência, mas implemente melhorias de base ecológica, aprendidas da agricultura orgânica, como, por exemplo, uso de insetos predadores para controle biológico de pragas ou aperfeiçoamento das práticas agrícolas que o torne capaz de trabalhar sem o emprego de hormônios e com menos antibióticos.

“Sistemas intensivos de produção agrícola como também preservação dos ecossistemas ao redor deles requerem uma aplicação racional de princípios ecológicos. Entretanto, isso não é a mesma coisa do que agricultura orgânica.”Louise O. Fresco

Uma parte significante da sustentabilidade está na fazenda, especialmente para produção animal. O cultivo de espécies agrícolas e a produção animal representam a maior parte das emissões de GEE enquanto o transporte e o processamento industrial, especialmente para produto fresco, são bem menos importantes no âmbito global. Ao longo de toda a cadeia de alimentos lácteos, as emissões dentro da fazenda representam aproximadamente 80% das emissões de GEE em países industrializados. A principal fonte de emissão de GEE é a fermentação entérica. Ela é responsável pela maior parte da pontuação de GEE dos produtos de carne, especialmente para ruminantes em sistemas extensivos de criação com uma baixa taxa de crescimento e uma alta taxa de conversão alimentar. Os principais fatores que determinam a pontuação de GEE para os outros animais (monogástricos), que são

SUSTENTABILIDADE

“Uma parte significante da sustentabilidade está na fazenda, especialmente para produção animal.”

“Nós, como agricultores, sabemos que temos que trabalhar com a natureza ao em vez de trabalhar contra ela, mas, de alguma forma, parece que não temos conseguido convencer os governos e a sociedade a pensar assim.”

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na maior parte mantidos em sistemas intensivos de criação, são taxa de conversão alimentar, armazenamento do esterco e aplicação do esterco. Além disso, o que mais influencia o bem-estar animal é o seu manuseio, suas instalações e o modo de gestão da fazenda.

“Nós podemos fazer mais. Nós temos que fazer mais. Ponto. Ponto-final.” Kees Schoenmaker, Brasil.

SUSTENTABILIDADE VENDE? “Você pode ser um capitalista verde hoje em dia.” Sjouke Bruinsma, Tanzânia.

Agricultores podem hesitar na hora de investir em práticas mais sustentáveis, uma vez que as margens da fazenda são geralmente pequenas e os preços voláteis. Enquanto algumas medidas aumentarão os custos da fazenda, outras podem levar a economias ou preços premium. Como discutido anteriormente, economias de energia, redução de resíduos e ganhos de eficiência, incluindo produções mais altas e menos insumos necessários por kg (por exemplo) e melhores taxas de conversão alimentar, beneficiarão tanto a economia da fazenda quanto o desempenho da sustentabilidade. Um projeto da Unilever, com pequenos agricultores cultivadores de chá no Quênia, mostrou que a implementação de práticas mais sustentáveis poderia resultar em ganhos de 5–15% de produção, melhorias na qualidade do chá, custos de operação reduzidos como também em preços mais altos para o chá. Talvez tão importante quanto – ou até mais importante que – o ganho econômico, e isso foi o fortalecimento pessoal dos agricultores quenianos: estar apto para criar uma propriedade saudável que pode ser passada para as gerações futuras.

“Um negócio de prestação de serviços pode ir à falência dentro de um ano. Como o solo pode levar 20 anos para tornar-se esgotado, a falência da fazenda pode levar mais tempo. Se você é um bom agricultor, você saberá o que é bom para os seus solos e você protegerá a sua principal riqueza: a terra e a água com as quais você trabalha e de onde você ganha a sua vida. Cuide delas e passe-as para frente corretamente para as gerações futuras.”

DILEMAS DIFÍCEIS Sustentabilidade é como amor; ninguém é contra ele, mas não existe nenhum consenso sobre o que ele significa, sobre a sua específica interpretação e implementação. Os cientistas discordam – parece não existir consenso sobre aquecimento global e as suas possíveis causas. Sustentabilidade é complicada. Pontos de vistas e focos variam ao redor do mundo. Gases de

efeito estufa e mudanças climáticas tornaram-se preocupações universais.

Entretanto, questões como bem-estar animal e organismos geneticamente modificados são preocupações mais dominantes em regiões desenvolvidas, particularmente no Noroeste da Europa, enquanto escassez de água, poluição e segurança alimentar parecem preocupações mais aparentes na África e na Ásia. Enquanto obesidade é alta prioridade na agenda desde a América do Norte até o Oriente Médio, simultaneamente, desnutrição, fome e redução da pobreza prevalecem na África e na Ásia. Dessa forma, diferentes sociedades parecem ter diferentes preocupações com sustentabilidade ao longo do tempo. Além disso, mesmo dentro das sociedades, especialmente nas desenvolvidas, ocorrem variações entre o que os consumidores falam e o que eles de fato fazem; uma lacuna entre o chamado cidadão consciente e o consumidor sensível a preço, entre o comportamento real ou imposto de compra. Por exemplo, a porção de respondentes que mostrou intenção positiva de comprar alimento orgânico variou de 30% a mais de 80% em estudos feitos em alguns países, como Alemanha a China, enquanto que as porções dos mercados locais foram bem menores do que 5%.18 Embora o alimento orgânico tenha

“Nós podemos fazer mais. Nós temos que fazer mais. Ponto. Ponto-final.”

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mostrado aumento de dígito duplo nos últimos anos, a porção de mercado holandês igualou meramente 2% enquanto que a porção de mercado americano (EUA) ultrapassou somente um pouco os 3%.

“Portanto, quem diz o que é sustentável? Não é somente o que nós pensamos dos nossos agricultores. É também a percepção de sustentabilidade do consumidor. Sustentabilidade representa diferentes percepções, ideias, parâmetros. A única coisa que você não pode fazer é ignorá-la. Sustentabilidade é aspecto central.”

Portanto, sustentabilidade pode causar confusão, como o amor. Vários critérios de sustentabilidade podem ser conflitantes, as opiniões de investidores ou mesmo um critério podem divergir. Cientistas não concordam, sociedades diferem em pontos de vista e foco, consumidores enviam mensagens confusas. Os agricultores não podem esperar, entretanto. Agricultores precisam tomar decisões de longo prazo. Com horizontes de investimentos e esquemas de rotação de culturas se estendendo sobre diversos anos, algumas vezes, décadas, os produtores rurais alimentam o futuro. Quando as opiniões mudam, eles não podem simplesmente pegar de volta uma cultura no campo, um rebanho animal, um tanque de peixes, uma casa de vegetação ou um prédio na fazenda. Os agricultores semeiam hoje para colher bem amanhã. Nós temos que agir agora.

PARA CHEGAR LÁ JUNTOSAs oportunidades para aumentar sustentavelmente a segurança alimentar ao redor do mundo são muitas. Elas estão na redução da distância entre os sistemas menos e os mais produtivos; no aprendizado e na aplicação do melhor dos diferentes sistemas; na economia de energia e alimento pela redução das perdas e do desperdício; na implementação de ambos, no conhecimento e nas melhores práticas existentes e na adoção de novas tecnologias (por exemplo, a genômica), agricultura de precisão e técnicas baseadas em sistemas biotecnológicos. As oportunidades estão disponíveis em todas as opções e nós não podemos deixar nenhuma fora da mesa.

Os agricultores não podem fazer isso sozinhos. Confiança e transparência, respeito e debate recorrente são importantes precondições, mas o desenvolvimento sustentável precisa de mais. Ele precisa de eficiência, produtividade, investimento, inovação e medição. É preciso que todos os agentes se envolvam e se comprometam. Os agricultores trabalham em um mundo onde a maioria das pessoas não é agricultor. Existe a necessidade de construir um entendimento comum. Agricultores, compradores e fornecedores precisam combinar

“Se você é um bom agricultor, você saberá o que é bom para os seus solos e você protegerá a sua principal riqueza: a terra e a água com as quais você trabalha e de onde você ganha a sua vida. Cuide delas e passe-as para frente corretamente para as gerações futuras.”

com a sociedade o que deve ser monitorado e quais incentivos devem ser usados para um progresso sustentável. As externalidades como excesso de água e nitrogênio deveriam ser incluídas nos preços dos alimentos? São questões complicadas que ninguém consegue resolver sozinho. Entretanto, quando nós unimos as forças, nós podemos fazer a diferença. O governo sozinho não pode fazer isso, a ciência sozinha também não pode – para o negócio, é árduo – mas, juntos, nós podemos vencer. Esse ‘triângulo dourado’ fez os agricultores de um país pequeno como a Holanda tornarem-se o segundo maior exportador de flores e alimentos. Agricultores de quem podemos nos orgulhar. Bons agricultores têm o futuro.

“Sustentabilidade em cinco palavras: Reduza, Recicle, Reuse, Substitua, Redesenhe... e Retribua. Em resumo: Repense!”

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Sustentabilidade sempre será uma questão de definição. Como um dos participantes do Master Class disse: “Sustentabilidade significa uma porção de coisas diferentes para uma porção de pessoas diferentes”. Talvez nós devêssemos simplesmente aceitá-la, lidar com ela de fato, traduzi-la para todas as nossas próprias realidades diárias e manter o senso comum como possivelmente podemos. Alguns sensos comuns para manter em mente:

1. EFICIÊNCIA E ALTA PRODUTIVIDADE SÃO OS PONTOS-CHAVE Fatos indiscutíveis são que a população mundial está crescendo e ficando mais velha. Além disso, como a prosperidade média está também aumentando, uma mudança massiva para dietas mais intensivas está ocorrendo. Como Aalt Dijkhuizen afirmou: “A Terra, com certeza, não aumentará de tamanho”, portanto, eficiência e alta produtividade são pontos-chave. Entretanto, nós precisamos estar conscientes do bem-estar animal, qualidade do solo, entre outros, ao mesmo tempo. Portanto, precisamos produzir mais com menos. É tudo uma questão de um equilíbrio saudável.

O futuro da agricultura

SUSTENTABILIDADE

2. PERMANEÇA COM A MENTE ABERTA Aprenda e compartilhe as melhores práticas de todo sistema de produção agrícola, mas também adapte as melhores práticas do mundo externo à indústria. Como Gerjan Snippe afirmou no capítulo Cadeia de Suprimentos: “Nós podemos aprender uns com os outros.” Além disso, precisamos permanecer com a mente aberta para novas tecnologias. Isso está fortemente relacionado com o aumento de produtividade e eficiência. Para conseguir produzir mais com menos, inovação é um ponto crítico. E existem grandes e diversas promessas de inovação: agricultura de precisão, genômica, resfriamento inteligente, armazenamento e técnicas de embalagem, entre outras.

3. PROCURE POR OPORTUNIDADES EM SUSTENTABILIDADEAbraçar a sustentabilidade não significa ter um fardo, pois existem muitas oportunidades a serem ponderadas e isso pode trazer uma considerável diferenciação competitiva em termos de reputação, lealdade do consumidor, desenvolvimento de produtos, etc.

4. EDUCAÇÃOPreencha a lacuna entre os sistemas menos e mais produtivos, reduza o desperdício, o lixo, e ensine as crianças. Dissemine o conhecimento existente de “como fazer” para os agricultores de todo o mundo. Além disso, nós precisamos educar melhor as pessoas, ensinar melhor as crianças, incluir algo como “alimento, agricultura, ambiente e saúde” no currículo da escola. Algo que é tão vital para a nossa sobrevivência precisa ser bem refletido. Em adição, precisamos fechar a lacuna entre sentimentos e fatos por meio de mensagens simples e consistentes.

Obtenha consumo e produção conectados, deixe consumidores e cidadãos mais próximos da agricultura moderna novamente. Ou, como um dos participantes do fórum Master Class colocou pertinentemente: “Nós, como agricultores, sabemos que precisamos trabalhar com a natureza, ao invés de contra ela, mas parece que não conseguimos convencer o governo e a sociedade a pensar assim.”

5. COOPERE – JUNTOS CHEGAREMOS LÁ Forme parcerias público-privado envolvendo ciência, negócio, governos, ONGs e, o mais importante, aqueles que de fato alimentam o mundo: produtores rurais.

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CAPACITAÇÃO SOCIAL

- Introdução- Uma história inspiradora - Fatos e números- A perspectiva mais ampla- A perspectiva do agricultor- O futuro da agricultura

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Introdução

CAPACITAÇÃO SOCIAL

Em geral, as áreas com as maiores lavouras do mundo não são as mesmas com os melhores climas e solos, mas são aquelas com um melhor ambiente para a capacitação social. Exemplos destes tão chamados fatores de capacitação social que determinam se um agricultor consegue explorar o potencial máximo de seu solo, clima, e suas habilidades em agricultura são: políticas governamentais, o funcionamento e o acesso aos mercados agrícolas, financiamentos, e acesso ao conhecimento e aos investimentos públicos em pesquisa e desenvolvimento agrícola.

Visto que a desigualdade social parou de progredir, a capacitação social é a chave que abre o potencial agrícola para o desenvolvimento econômico. De acordo com a FAO, uma análise cruzada de países mostra que o crescimento do PIB oriundo da agricultura é, em média, pelo menos duas vezes mais eficaz em beneficiar a porção mais pobre da população de um país do que o crescimento gerado por setores não agrícolas1. O aumento necessário na produção de alimentos tanto quanto sua distribuição para suprir o mundo em 2050 só podem ser atingidos em ambiente bem preparado para tal. Portanto, fatores de capacitação são a base para o futuro da segurança alimentar no mundo.

A agricultura é vital para a prosperidade econômica. De acordo com o relatório do Banco Mundial, quase nenhum país se levanta do estado de pobreza sem aumentar a sua produtividade agrícola. Entretanto, não existe uma fórmula mágica, ou seja, é improvável que uma única solução funcione globalmente. Temos que considerar, além de outros fatores, as diferenças culturais e o estágio de desenvolvimento de cada país. Um processo de mais de 100 anos de desenvolvimento agrícola, que experimentou um país desenvolvido, não é algo que se programa da noite para o dia para países em desenvolvimento. Existem histórias de sucesso como a do Brasil, que se desenvolveu graças a fortes investimentos em pesquisa e a um ambiente favorável à capacitação. Nas últimas décadas, passou de importador para um dos maiores exportadores de alimentos do mundo. Em contraste, no mesmo período, o continente africano passou da condição de exportador para importador de alimentos. Então, fazendo uma análise de prioridades, é difícil de entender por que a África, que já exportava energia, transformou seus campos de produção de alimentos em campos de produção de etanol para biocombustível.

“VISTO QUE A DESIGUALDADE SOCIAL PAROU DE PROGREDIR, A CAPACITAÇÃO SOCIAL É A CHAVE QUE ABRE O POTENCIAL DA AGRICULTURA PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO.”

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PLANTANDO SEMENTES PARA O FUTURO DA ÁFRICAMas há também boas notícias. O jornal The Economist relatou que seis das dez economias de mais rápido crescimento no mundo estão na África Subsaariana. O continente africano combina uma grande necessidade com um grande potencial. Devido à vasta área de terra que pode ser convertida em produção, com possibilidade de uma produtividade aumentada em cinco vezes, existe um tremendo potencial na África. Para capturar esse potencial, muitas questões relacionadas devem ser abordadas, incluindo: transmissão de conhecimento para melhorar produtividade, economia de escala, preços justos, aspectos sociais, infraestrutura, acesso a mercados, e, por último, mas não menos importante, o acesso a financiamentos. Que nas palavras do agricultor significa: “sem dinheiro, não há safra”.

Discutir fatores de capacitação social como se a África fosse um único país é errado, pois, desse modo, não se consideram as grandes diferenças culturais, sociais e locais existentes entre os 54 países do continente. Nós, então, iremos focar em uma perspectiva mais ampla, num estudo de caso de um país específico: Ruanda, o qual tem demonstrado um claro progresso na África. Nós analisaremos profundamente a perspectiva do agricultor na produção de arroz em Ruanda e depois daremos a perspectiva do produtor para o futuro da agricultura.

Mas, antes, apresentaremos a história de Koos van der Merwe, que é agricultor em Moçambique. Sua abordagem da agricultura ilustra como um indivíduo pode fazer uma real diferença para um futuro melhor no campo.

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Uma história inspiradora

CAPACITAÇÃO SOCIAL

UMA ATIVIDADE DE PEQUENA ESCALA EM UM PEQUENO CANTO DO MUNDO Koos van der Merwe tem usado seus 25 anos de experiência em agricultura e proteção ambiental para tocar um negócio próprio em uma fazenda experimental do governo em Moçambique. Koos frequentemente tira de seu próprio bolso recursos para ajudar pequenos agricultores com treinamento, assistência agronômica e acesso ao mercado. Por meio da educação financeira, ele também tem ajudado a desenvolver cada vez mais empresários agrícolas em Moçambique.

FAZENDA EXPERIMENTAL“Em primeiro lugar, eu não possuo uma fazenda. Temos um contrato de 10 anos para o arrendamento de terras do governo de Moçambique. Há três anos, iniciamos nossas operações em uma fazenda experimental do governo na província de Inhambane. Nós queremos demonstrar o que é possível quando você tem as variedades certas, os métodos apropriados de produção e as misturas líquidas corretas”, diz Koos.

“Nós pesquisamos a receita e desenvolvemos o mercado. Eu não posso pedir para alguém me desenvolver um produto se eu não tiver uma chance razoável de sucesso. Nós identificamos as pessoas certas, as treinamos, damos os insumos certos, e eventualmente compramos suas produções”, diz Koos.

A ideia do negócio com orgânicos em Moçambique é baseada em pequenos nichos de mercado para produtos de alto valor, priorizando as culturas de mão de obra intensiva e variedades bem testadas, tais como milho baby e pimenta malagueta vermelha. “Cerca de 40% do nosso mercado externo é suprido por pequenos produtores. Havendo iniciativas do governo, esses fazendeiros poderão se desenvolver, crescer, ganhar mais habilidades, e, então, em parceria com novos produtores, poderão fornecer 80% da nossa produção”, diz Koos.

FORNECENDO INSUMOS E IRRIGAÇÃOA fazenda experimental não é de larga escala, não é empresarial e também não recebe financiamento de terceiros. “Nós estamos plantando 150 ha de horticultura por ano e pretendemos expandir para 400 a 500 ha. Nós temos muitas ideias e modelos, e o potencial para esse mercado existe”, diz Koos.

Moçambique tem um bom potencial agrícola, um clima muito favorável, mas precisa ter irrigação. Obter água para as culturas é caro. A irrigação por gotejamento custa USD 3.000 por hectare, o que normalmente é muito mais do que aquilo que um pequeno agricultor iniciante pode pagar.

“Inicialmente, nós fornecemos irrigação para os primeiros poucos produtores só para mostrar como o modelo funciona. Também bancamos todo o custo dos insumos, porém você só consegue pagar o investimento quatro ou cinco meses depois de colocar seu dinheiro no negócio. É uma atividade encharcada de capital para uma pequena entidade que está apenas começando. “Tudo que entra na fazenda vem do meu dinheiro e do dinheiro da minha esposa. Nós tivemos que fazer um plano de balanço para tudo o que entra e sai da fazenda. Cada investimento tem que dar retorno o mais rápido possível. E isso também é uma necessidade para o pequeno produtor, pois ele não tem outras fontes de renda ou meios para se apoiar”, diz Koos.

CONSTRUINDO CONFIANÇAConstruir confiança com os agricultores e trabalhadores da região tem sido uma jornada muito difícil. Moçambique tem muitas histórias de agriculturas falidas, coisas que deram errado e desapontaram muito as

“Nós estamos plantando 150 ha de horticultura por ano e pretendemos expandir para 400 a 500 ha.”

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pessoas. Forasteiros já tinham chegado antes e prometido o mundo e no mês seguinte desapareciam, conta Koos.

“A maioria das pessoas da região nunca tinha visto um campo de milho verde comercial”, conta Koos. ”Ao redor da província não havia nenhum bom exemplo de agricultura comercial. No primeiro ano, nenhum pequeno produtor se voluntariou a iniciar a agricultura conosco.”

“Parte da nossa função foi abrir a mente das pessoas, criar uma história positiva e ser um exemplo positivo. Então, de repente, na mente dos pequenos produtores havia uma nova imagem de agricultura”. Eles puderam ver dessa maneira: “Eu posso ter muito mais plantas de milho e posso colher muito mais espigas delas”, conta Koos.

“Hoje, temos pessoas que chegam à fazenda todos os dias querendo que eu forneça irrigação e dizendo: ‘Vamos crescer juntos’. Infelizmente nossos meios financeiros não permitem isso. Nós somos dependentes do governo e outras instituições, as quais poderiam financiar todos esses pequenos produtores com o básico para crescer. Desse modo, estaríamos aptos para desenvolver o negócio”, diz Koos.

TRABALHANDO COM MULHERESDevido ao fato de a horticultura ser uma atividade de mão de obra intensiva, a fazenda experimental está oferecendo empregos e treinamentos, que é exatamente o que um país como Moçambique precisa. “Existem muitas pessoas desempregadas e nenhuma ética de trabalho estabelecida. Eles são, entretanto, muito diligentes, esforçados e ávidos por aprendizado. A maioria das pessoas empregadas na nossa fazenda está trabalhando pela primeira vez em suas vidas. Nós tivemos que registrá-las para terem documento de identidade, seguro desemprego e conta bancária”, diz Koos.

A fazenda experimental tem sido especialmente de grande valor para as mulheres da região, as quais agora possuem uma fonte de renda e uma conta bancária. Para essas mulheres, uma conta bancária significa ter o controle das finanças da família, ou, pelo menos, da parte que ganham. “As mulheres estão ansiosas por crescimento, seja em qualquer pequeno aspecto, como, por exemplo, fazer aulas de inglês. Elas estão realmente interessadas em aprender cada vez mais, de pouquinho em pouquinho”, diz Koos.

FORNECENDO ORIENTAÇÃO FINANCEIRANa tentativa de fornecer melhor orientação financeira, Koos estabeleceu com contadores e consultores locais treinamentos e consultorias. O

contador, junto com sua esposa, fornece treinamento financeiro para trabalhadores e pequenos agricultores.

“Eles ensinam nossos trabalhadores como administrar uma conta bancária, o que é uma conta bancária, o que é lucro e prejuízo, e como elaborar um orçamento.”

“São noções muito básicas de contabilidade, mas significam muito para pessoas que nunca tiveram um orçamento e uma contabilidade antes. Com formação financeira, esperamos criar melhores empresários para a área”, diz Koos.

MAIOR EXPOSIÇÃO PARA MOÇAMBIQUEO negócio possui técnica de produção biológica, adaptável e inovativa, que reduz altamente o custo de produção. Em um ambiente de agricultura moderna, a competição vem das grandes fazendas, suas produções em massa, mecanização e alta quantidade de insumos químicos. O que esperamos então para essa pequena fazenda experimental, seu pessoal e Moçambique?

“Estamos numa remota parte do mundo. A maioria das pessoas não tem ideia do que fazemos. Estamos muito longe de acessar os meios modernos de agricultura. Somos pequenos e precisamos de uma maior audiência para discutir e compartilhar nossas preocupações e interesses com relação à água, área, população e nosso modelo de negócio.”

“Este modelo está dando à população de Moçambique uma oportunidade de melhorar seus estilos de vida, valorizando sua própria

“A maioria das pessoas da região nunca tinha visto um campo de milho verde comercial.”

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Fatos e números

terra. Nós nunca tentaremos comprar a terra. Nós não queremos a terra. Nós queremos a produção da terra”, diz Koos.

“Se pudermos ajudar as pessoas a se beneficiarem da produção das suas próprias terras, então nós chegaremos a um modelo mais sustentável. O mundo precisa saber mais dos benefícios desse modelo de agricultura aplicado a esse pequeno canto do mundo em Moçambique”.

Fatores de capacitação social ajudam a atingir um maior potencial de colheita. Esse potencial é determinado pela interação entre a qualidade do solo e o clima local.

QUALIDADE DO SOLOConsiderando primeiramente a qualidade dos solos disponíveis, o mapa abaixo (fonte USDA)2 mostra que existe no globo três áreas onde a qualidade do solo é melhor: a região Centro-Oeste dos EUA, a Ucrânia e algumas áreas da América do Sul (especialmente a Argentina). Além disso, observa-se que a qualidade do solo em algumas partes da Europa e da China não é ideal.

CLIMAAlém da qualidade do solo, o clima é também importante para o potencial de colheita. O mapa de clima na próxima página (classificação Köppen) mostra o clima que prevalece nas diferentes regiões do globo. Os melhores climas para a produção agrícola são encontrados na região Centro-Oeste dos EUA, Argentina, regiões da África Subsaariana, China Oriental, Europa do Sul e Central, e regiões da Austrália e Nova Zelândia. Há claramente áreas de sobreposição de solos de alta qualidade e clima

CAPACITAÇÃO SOCIAL

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favorável, como, por exemplo, observa-se na Argentina e no Centro-Oeste dos EUA. POTENCIAL DE COLHEITAO potencial de colheita é determinado pela combinação de qualidade do solo e clima prevalecente. As colheitas realizadas são determinadas por esses fatores, e também por fatores de capacitação, que deixam os fazendeiros aptos para explorarem o máximo potencial de colheita. Portanto, a diferença que existe em termos de rendimento é determinada pelos fatores de capacitação ou falta deles, disponíveis ou não nas diferentes regiões.

Em um mundo perfeito, a qualidade do solo somada a um clima ideal e a um ambiente ideal para capacitação cria um rendimento que se iguala a 100%, ou seja, o potencial máximo de colheita.

Com base nos cálculos feitos em um conjunto de dados que incluem índices do Economist Global Food Security, da FAO, Banco Mundial e Mapas Climáticos (classificação Köppen) foi feito um ranking que ilustra o real rendimento de colheita em função dos fatores de capacitação, do clima e da qualidade dos solos.

Os critérios usados para definir capacitação social nessa análise incluem o acesso a financiamento, estabilidade política, infraestrutura agrícola, e gastos públicos com pesquisa e desenvolvimento no setor agrícola. Considere que há algumas limitações estatísticas devido às variações na classificação de diferentes fontes de dados, entre outras.

Os resultados mostrados no gráfico abaixo indicam um alto rendimento na Europa apesar da baixa qualidade do solo comparada com a das Américas. Isso pode ser explicado pelo ambiente de capacitação, por exemplo, pelas políticas de pesquisa e desenvolvimento e a abrangência de um planejamento agrícola comum (The Common Agricultural Programme). No Leste da Ásia, grandes colheitas são realizadas, apesar da baixa qualidade dos solos, devido ao clima favorável e a grande utilização de fertilizantes subsidiados. Porém, com respeito à sustentabilidade das colheitas, vale lembrar que o uso intensivo de fertilizantes poderá com o tempo reduzir a qualidade desses solos. A América Latina, em particular a Argentina, possui os melhores solos e condições climáticas, porém não consegue explorar ao máximo o potencial devido ao impacto negativo das políticas agrícolas, como, por exemplos, as taxas de exportação. Na América Latina, o Brasil está se destacando mais que a Argentina mesmo com clima e solos parecidos com os da África Subsaariana. Isso acontece, além de outros fatores, devido a um alto investimento em pesquisa e desenvolvimento, o que tem capacitado os agricultores para um maior rendimento.

Fonte: Análise feita a partir de dados do Banco Mundial, FAO, jornal The Economist, e mapas climáticos (classificação Köppen)2-5

Norte e Oeste da Europa

Leste da Ásia América do Norte Austrália + Nova Zelândia

Todos os países Sul da Ásia América Latina África-subsaariana0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

ambiente de capacitação social Barra azul clara qualidade do solo e clima rendimento real

Linha azul rendimento potencial

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A perspectiva mais ampla: O setor de arroz em Ruanda – Estudo de Caso

INTRODUÇÃOClaramente, criar um ambiente de capacitação social é uma tarefa delicada onde não há uma única solução que resolva todas as situações. Para mostrar algumas das complexidades e a necessidade por fatores de capacitação social, um estudo de caso foi utilizado. Esse estudo de caso irá focar no setor de arroz em Ruanda, porém as lições aprendidas,podem ser aproveitadas para outros setores do país e, ainda, em outros países.

Ruanda é um país pequeno da região da África Subsaariana que tem um clima favorável para a produção agrícola. É o país com a maior densidade populacional da África, com mais de 300 pessoas por hectare. Cerca de 80% da população de Ruanda está diretamente ou indiretamente trabalhando no setor agrícola. Em 1994, o genocídio destruiu a base econômica do país e empobreceu severamente a população na época. Entretanto, passadas as últimas décadas, Ruanda mostrou um considerável progresso na África que foi reconhecido pelo Banco Mundial, o qual apontou Ruanda como o país de reconstituição mais rápida do mundo. Lá, iniciar um novo negócio é mais rápido e mais eficiente que em muitos países da Europa. Entretanto, há ainda muitos desafios a serem superados em Ruanda.

De uma perspectiva puramente tecnológica, e com base nas diferenças significativas em potenciais de rendimento, a superfície terrestre tem habilidade para produzir uma dieta europeia para o dobro da população mundial esperada em 2050. Isso ilustra a enorme oportunidade que a capacitação social oferece para resolver a questão global da segurança alimentar.

CAPACITAÇÃO SOCIAL

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A pobreza continua espalhada pelo país. Aproximadamente, 50% da população vive com menos de USD 1,25 por dia. Considerando fatores de capacitação social específicos, já discutidos anteriormente, observa-se que existe ainda muita melhoria a ser feita para ajudar os agricultores de Ruanda (veja a tabela abaixo). Os fatores são classificados numa escala de 1-5, onde 5 indica os fatores que permitem uma maior capacitação.

Esse estudo de caso irá agora considerar o setor de arroz de Ruanda. A abordagem específica permite investigar fatores de capacitação ou a ausência deles, no país em análise.

O SETOR DE ARROZO arroz é a cultura foco do governo de Ruanda, considerando a forte e crescente demanda por arroz pela sua população. No entanto, a produção nacional não consegue suprir a demanda interna, tendo o país, assim, que importar arroz. Essa deficiência produtiva está relacionada ao pobre desenvolvimento de fatores de capacitação em Ruanda, resultando muito mais em baixos rendimentos e baixa qualidade do arroz do que atingindo o que é potencialmente possível.

A estratégia de desenvolvimento nacional do setor de arroz de Ruanda prevê uma autossuficiência na produção de arroz até 2018. O plano reconhece os muitos obstáculos a serem superados. Por exemplo, falta de mecanização, de organização cooperativa com acesso a financiamento, e falta de conhecimento transmitido ao longo da cadeia de valor.

Há aproximadamente 62.000 produtores de arroz ativos em Ruanda, cada um com uma porção de terra inferior a 0,1 ha por propriedade. Isso já ilustra uma das questões importantes do setor: não existe economia de escala e o nível de mecanização é muito baixo. O processo produtivo é muito mais caro que nos países do Sul da Ásia, os quais apresentam as mesmas condições de clima e solo.

Os agricultores estão organizados em 52 cooperativas que estão divididas em seis sindicatos. Essa estrutura fragmentada é caracterizada por uma gestão muito pouco profissional das cooperativas e sindicatos. Tal fragmentação resulta em perdas de economia de escala e trabalho

Ruanda

Acesso a financiamento pelos agricultores

Gastos públicos com pes-quisa e desenvolvimento

Infraestrutura agrícola

Estabilidade política

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desnecessariamente duplicado por meio da cadeia de valor. Junto com isso, muitas das cooperativas perdem o acesso a financiamento; o que significa que os produtores não recebem pagamento imediato pela sua produção (arroz na casca). Isso implica grande informalidade na cadeia de valor, a qual é dominada por comerciantes ilegais de produção de baixa escala. São esses intermediários que processam o arroz, resultando num produto final de baixa qualidade. A falta de acesso a financiamento das cooperativas e produtores também resulta em um sistema de produção onde quase nenhum fertilizante é utilizado, pois não há recursos para comprá-los.

Quase não existem investidores ativamente envolvidos com a infraestrutura agrícola para tornar a cadeia de valor do arroz competitiva, como, por exemplo, com instalações para armazenamento pós-colheita. Junto com isso, a transferência de conhecimento para os agricultores é ainda um problema, embora o governo tenha anunciado que o arroz é a cultura foco para investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Porém, além de investir em pesquisa e desenvolvimento, é necessária uma estratégia de comunicação bem trabalhada para que os agricultores obtenham e adotem conhecimento.

Os muitos problemas na cadeia de valor do arroz, desde a disseminação de conhecimento até a questão da informalidade, levam ao enfraquecimento do sistema de crédito em dinheiro, o qual poderia estimular um ambiente propício para os produtores de arroz. Esses problemas resultam em um baixo rendimento do arrozal e uma baixa qualidade da produção. Consequentemente, há necessidade de importar arroz.

É necessário resolver o problema da carência de um ambiente de capacitação para alcançar a meta do governo de Ruanda para 2020,6 de

já estar autossuficiente na produção de arroz até 2018. Junto a isso, a situação do setor de arroz representa também o desenvolvimento de outros setores agrícolas de Ruanda. Uma reestruturação bem-sucedida do setor arrozeiro serviria como modelo para o desenvolvimento de outros setores, como café, feijão e outras culturas.

“Quase não existem investidores ativamente envolvidos com a infraestrutura agrícola para tornar a cadeia de valor do arroz competitiva.”

62.000 agricultores

52 cooperativas

6 sindicatos

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A perspectiva do agricultor

O estudo de caso apresentado anteriormente foi discutido durante o evento Global Farmers Master Class com 50 agricultores vindos de todos os continentes. Durante a discussão, pediu-se que eles dessem sua perspectiva sobre os fatores de capacitação social e sua opinião sobre como criá-los. Perguntar isso a um grupo diverso de agricultores que representam países emergentes, desenvolvidos e em desenvolvimento é algo inestimável. Muitos desses produtores vivem em países que experimentaram a transição de uma agricultura tipicamente de subsistência para uma agricultura comercial – transição que ainda está acontecendo em Ruanda.

Todos os participantes concordaram que a criação de um ambiente de capacitação social envolve aspectos complexos e multifacetados e requer a ação de um conjunto de diferentes agentes. Deliberou-se e então se identificaram os papéis dos agricultores, da cadeia de valor como um todo, e do governo.

Primeiramente, considerando o agricultor individualmente, uma consolidação de parcelas agrícolas seria a solução para criar economia de escala e aumentar as possibilidades de mecanização. Isso também poderia ser feito em esquemas de agricultura organizada em grupos, onde produtores juntariam suas terras, decidiriam coletivamente e gerenciariam o negócio por meio de uma pequena cooperativa. Após a colheita, as receitas seriam divididas entre os membros do grupo. Com esse esquema, as receitas divididas provavelmente seriam maiores do que aquelas conseguidas individualmente.

Em seguida, a cadeia de valor precisaria de ajustes para capacitar cada agricultor individualmente para atingir seu potencial. De acordo com os agricultores em debate, um gerenciamento profissional das cooperativas e sindicatos seria o ponto crucial. É o que permitiria as cooperativas e sindicatos ganharem acesso a créditos que poderiam ser usados para pagar imediatamente seus membros após a colheita e fornecer a eles os insumos necessários para a próxima safra, como fertilizantes e sementes de qualidade. Junto a isso, os agricultores participantes sugerem que os sindicatos se integrem às plantas de processamento para aumentar a eficiência das operações na cadeia de valor. Além disso, a comunicação e a transparência da cooperativa com seus membros precisam

melhorar. A disseminação do conhecimento deveria ser feita dentro dessas cooperativas, porém o conhecimento disponível dificilmente é transferido.

Finalmente, o governo também deve ter um papel a cumprir. Em primeiro lugar, deve ter certeza de que os direitos de propriedade de terra e regulamentos tributários estão criando incentivos para os agricultores e as cooperativas poderem investir em seus próprios negócios. Tais políticas devem ser suportadas por normas jurídicas capazes de fazê-las

Grant Ludemann - um grande produtor de leite da NZ, um dos idealizadores de uma iniciativa para ajudar agricultores iniciantes em países em desenvolvimento - retratado durante sua estadia em uma fazenda na Holanda para compartilhar sua experiência com um fazendeiro holandês.

CAPACITAÇÃO SOCIAL

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cumprir. Junto a isso, além de investir em pesquisa e desenvolvimento agrícola, o governo deve garantir que o conhecimento adquirido seja transferido para agentes importantes na cadeia de valor. Sem essa transferência, o conhecimento gerado será inútil.

A alta representação do governo de Ruanda destaca que as soluções sugeridas pelos agricultores podem contribuir para alcançar a autossuficiência no setor de arroz. “As recomendações foram encaminhadas para o Conselho de Agricultura de Ruanda. Nós solicitamos que as ideias dos agricultores de todo o mundo fossem incorporadas nas estratégias para o desenvolvimento nacional do arroz em Ruanda (Rwanda´s National Rice Developement Strategies – NRDS) com o propósito de aumentar a competitividade local e regional do setor em Ruanda por meio de avanços significativos em qualidade e produção.” Inspirados nas lições aprendidas, em aspectos sociais do caso de Ruanda, e reconhecendo oportunidades de desenvolvimento, alguns agricultores decidiram se unir e juntar recursos e conhecimento. Esse grupo tentará ajudar a construir um ambiente de agricultura sustentável para desenvolver países, trabalhando com agentes locais que, de algum modo, tenham interesse no desenvolvimento. Isso novamente enfatiza o poder da transferência do conhecimento global e do empreendedorismo, fruto da mentalidade cooperativa de um grupo de agricultores que estão significantemente fazendo a diferença.

Hamish Alexander, um novo fazendeiro da Nova Zelândia, se perguntou: “Quantos fazendeiros de Ruanda seriam tão bem-sucedidos quanto nós se tivessem as mesmas condições sociais que nós temos?”

CAPACITAÇÃO SOCIAL

O futuro da agricultura

Primeiramente e de modo pouco formal, uma nota previdente sobre o ciclo de vida da agricultura ao redor do mundo trouxe um sorriso para o Global Farmers Master Class: “Como intensificar a agricultura em países em desenvolvimento?” Inicialmente, trazendo as pessoas do Paraguai para estabelecer um sistema. Em seguida, pedindo aos “Kiwis e Aussies” que o tornasse mais eficiente. Então, o pessoal dos EUA entraria para dimensioná-lo e fazer a produção em escala. Por último, os europeus fariam a regulamentação do sistema e “passariam a fita vermelha/verde”. Então, começaria um novo ciclo para um novo setor.

Obviamente que a nota acima não deve ser levada tão a sério, pois trata a questão da capacitação de modo muito geral. A realidade é que os fazendeiros, governos e outros agentes ao redor do mundo podem aprender muito uns com os outros como criar o ambiente propício de capacitação em diferentes estágios do ciclo de vida da agricultura. Mas, muitas vezes, questões de agricultura são discutidas sem envolver os agricultores.

1. PERMITIR O ACESSO AO FINANCIAMENTO – SEM DINHEIRO NÃO HÁ SAFRA.• “Sem dinheiro não há safra”. Mundialmente, quatro bilhões de

pessoas não têm acesso a serviços de financiamento, incluindo a porção que representa a maioria dos pequenos agricultores africanos – as mulheres. O microfinanciamento, como é oferecido, por exemplo, pelo kiva.org, é um dos caminhos que conecta diretamente o mundo desenvolvido com o mundo em desenvolvimento pela internet. Outro caminho é reproduzir os modelos de agricultura e bancos cooperativos em países em desenvolvimento por meio do investimento em conhecimento, recursos financeiros e infraestrutura. Por exemplo, o banco cooperativo holandês Rabobank, fundado há 100 anos por agricultores e para agricultores (pobres). Este tem sido ativo por muitos anos na África, em parceria com bancos locais, para construir uma infraestrutura financeira baseada em princípios cooperativos, permitindo a pequenos produtores o acesso ao financiamento.

“Além de investir em pesquisa e desenvolvimento agrícola, o governo deve garantir que o conhecimento adquirido seja transferido para agentes importantes na cadeia de valor.”

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2. VISÃO EM LONGO PRAZO E REFORMAS DO GOVERNO• Trocar experiências sobre as melhores práticas envolvendo

agricultores locais e estrangeiros “na mesa da cozinha” com funcionários do governo.

3. APRENDER UNS COM OS OUTROS – TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO• Unir recursos para criar um portal do conhecimento ou uma

fazenda virtual para troca de experiência.• Investir em educação financeira.• Ultrapassar as fronteiras. A reunião na fazenda oferecida no início

do Global Farmers Master Class possibilitou os agricultores a compartilharem ideias e a aprender com os colegas.

4. CONSTRUIR UMA INFRAESTRUTURA AGRÍCOLA SUFICIENTE• Construir silos para reduzir o desperdício, melhorar o rendimento e

sair da condição de tomador de preço.• Construir estradas, melhorar o manuseio pós-colheita e o acesso

ao mercado local, e, em caso de excesso de oferta, acessar os mercados externos.

5. COMUNICAÇÃO ENTRE TODOS OS AGENTES DA CADEIA• A cooperação dentro da cadeia de valor é a chave.• Criar uma plataforma de comunicação eficiente.

Enquanto 75% dos pobres do mundo vivem em zonas rurais dos países em desenvolvimento, apenas 4% da ajuda oficial para o seu desenvolvimento vai para a agricultura. A agricultura pode realmente fazer a diferença para a população mais pobre do mundo. Vamos à busca do equilíbrio e investir no futuro certo para garantir nossa alimentação.

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CADEIA DE SUPRIMENTOS

- Introdução- Uma história inspiradora- Fatos e números- A perspectiva mais ampla- A perspectiva do agricultor- O futuro da agricultura

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CADEIA DE SUPRIMENTOS

Introdução

CADEIA DE SUPRIMENTOSSem agricultores toda a cadeia ficaria estagnada. Porém, assim como os agricultores, toda a cadeia de suprimentos (da semente à carne) é “tão forte quanto o seu elo mais fraco”. Em uma cadeia eficiente, insumos agrícolas, como sementes, ração e fertilizantes, são convertidos em alimentos básicos e seguros pelo agricultor, os quais são processados e distribuídos para os consumidores finais.

EXPANDINDO O GLOBO – PRODUÇÃO E CONSUMO ALÉM DAS FRONTEIRASEm apenas dois ou três séculos atrás, éramos todos fazendeiros produzindo nossos próprios alimentos. Até a Revolução Industrial, a grande maioria da população do mundo trabalhava na agricultura. Nos dias de hoje, especialmente em regiões desenvolvidas, produção e consumo se dão em locais separados, divididos em diversas fases de desenvolvimento e regiões geográficas. Prevê-se que produção e consumo ainda se dividirão mais, uma vez que uma porção significativa da população do mundo se encontra e se encontrará na Ásia, um continente limitado em terra agricultável. Por exemplo, a China e a Índia, juntas, hospedam cerca de 40% da população global, enquanto que possuem apenas 20% das terras aráveis do mundo; 40% do crescimento da população global até 2050 será na Ásia. Para contrabalancear esse crescente desequilíbrio entre local de produção e local de consumo, o comércio global de matérias-primas agrícolas vai crescer.

A MUDANÇA ACONTECE – ENTRANDO NUMA ERA DE ESCASSEZ DE SUPRIMENTOS E DE PREÇOS MAIS ELEVADOS E VOLÁTEISA forte demanda (asiática), combinada com as alterações nas políticas de biocombustível, atraso nas colheitas e estoques menores, resultou em preços muito mais altos e mais voláteis nesses últimos anos. Foi uma quebra significativa que ocorreu a partir da segunda metade do século 20, quando os preços reais das commodities caíram a uma taxa de 1-2% ao ano. O sistema global de alimentos foi levado a um ponto de inflexão e a batalha por commodities agrícolas só tende a aumentar. Nós entramos em uma era de escassez com preços mais elevados e aumento da volatilidade, conforme o novo padrão para uma indústria de alimentos globalizada.

“EM UMA CADEIA EFICIENTE, INSUMOS AGRÍCOLAS, COMO SEMENTES, RAÇÃO E FERTILIZANTES, SÃO CONVERTIDOS EM ALIMENTOS BÁSICOS E SEGUROS PELO AGRICULTOR, OS QUAIS SÃO PROCESSADOS E DISTRIBUÍDOS PARA OS CONSUMIDORES FINAIS.”

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Então, os preços mais elevados indicam que os agricultores estão “nadando em ouro”? Não, muito pelo contrário, de uma maneira geral os agricultores têm experimentado margens baixas. Como tomadores de preço, eles tendem a ficar espremidos entre seus fornecedores altamente concentrados e seus compradores. Os agricultores têm que agir equilibrando sua liberdade com cooperação na cadeia. Que opções eles têm de uma estratégia contínua entre redução de custos e comakership para captar uma maior porção de valor na cadeia?

Primeiramente, vamos apresentar a noção de “agricultura de senso comum”, de Gerjan Snippe, cujo negócio com orgânicos ilustra o ciclo completo de uma cadeia de suprimentos.

“Nós entramos em uma era de escassez com preços mais elevados e aumento da volatilidade, conforme o novo padrão estabelecido para uma indústria de alimentos globalizada.”

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Uma história inspiradora

CADEIA DE SUPRIMENTOS

“A empresa combina antigas práticas agrícolas (com eficiência comprovada) com tecnologia moderna.”

GERJAN SNIPPE DA HOLANDA

A NOÇÃO DE “AGRICULTURA DE SENSO COMUM”Na província de Flevoland na Holanda, uma empresa chamada Bio Brass produz uma grande variedade de brássicas nos solos jovens e férteis dos pôlderes e as fornece diretamente aos varejistas e processadores de alimentos da Europa. A empresa combina antigas práticas agrícolas (com eficiência comprovada) com tecnologia moderna. Ou, nas palavras do seu diretor e acionista, Gerjan Snippe, “agricultura de senso comum”.

Gerjan cresceu na fazenda de leite da sua família, “mas, como não gosta de gado de leite”, sentiu que agricultura simplesmente não era para ele. “Eu queria estudar economia na universidade de Roterdam”, conta Gerjan. Porém, suas raízes agrícolas o chamaram de volta ao compromisso. Ele estudou economia agrícola. “Eu percebi que muitos dos meus colegas viviam como que numa ilha. Eu fazia as coisas mais preto no branco do que eles, porém as conversas, na maioria da vezes, giravam em torno de nossos próprios tratores. Para mim, isso deixava claro que nós, como futuros agricultores, estávamos muito mais preocupados com nossos próprios assuntos do que com os mercados consumidores que deveríamos atingir.”

Depois de concluir um curso subsequente na universidade de Wageningen, Gerjan entrou em contato com a agricultura orgânica. “Arrumei um emprego comercializando orgânicos da Áustria para o Reino Unido. Naquela época, minhas ideias sobre orgânicos não eram totalmente positivas – “idealista”, “pouco profissional”, “meia boca”, “baixa qualidade”, “muita doença” era o que vinha a minha mente.” No entanto, ele viu oportunidades. Ele descobriu que varejistas tradicionais consideravam incluir produtos orgânicos em suas ofertas. “Varejistas precisavam de produtos orgânicos bons e profissionais, o que naquela época era muito difícil de encontrar. Na mesma época, conheci produtores de orgânicos realmente bons, e contrariamente do que sempre pensei, percebi que agricultura orgânica fazia sentido e que era algo realmente muito simples.”

Acompanhando o desenvolvimento dos negócios da sua família, Gerjan iniciou suas atividades com agricultura orgânica. “Começamos a operar em um esquema misto com agricultura orgânica. Um dos meus irmãos assumiu os negócios de leite da fazenda, o outro irmão as terras aráveis; e eu comecei a produzir hortaliças, todas orgânicas.”

Ao explicar seu ponto de vista com relação a orgânicos, Gerjan faz menção ao seu avô, que também adotava um sistema misto: “Ele não tinha o mesmo maquinário que temos hoje, mas tinham vacas, vários tipos de culturas aráveis e pastagem. Sem a ajuda de defensivos e fertilizantes, conseguia colher o bastante para alimentar o mundo nesse momento”. Porém, passados 50, 70 anos, a demanda por produtos primários aumentou e a agricultura se tornou mais intensiva, principalmente na Holanda. “A agricultura tem focado cada vez mais em alta produtividade e adota cada vez mais o uso de defensivos e fertilizantes para atingi-la”, diz Gerjan. “Compare isso ao corpo humano: você pode trabalhar 80 horas por semana tomando Red Bull, porém, mais cedo ou mais tarde, entrará em colapso”.

“Na mesma época, conheci produtores de orgânicos realmente bons, e, ao contrário do que sempre pensei, percebi que agricultura orgânica fazia sentido e que era algo realmente muito simples.”

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Adotar o velho sistema de rotação de culturas, porém, com uma tecnologia melhor, é o que Gerjan chama de “senso comum”: “Fazendo isso você não precisará de aditivos, conseguirá manter sua lavoura saudável e poderá atingir um rendimento justo.” O rendimento de Gerjan é comparável com o dos métodos convencionais, porém ele é muito realista com relação ao sucesso da agricultura orgânica em todo o mundo; ela é quase impossível. Gerjan: “Orgânico é para todo mundo? Não, nós somos sortudos aqui, especialmente nessa parte da Holanda: os solos são férteis e as indústrias e mercados estão presentes”.

DO NICHO PARA A TENDÊNCIA ATUALDe acordo com Gerjan, nichos são ineficientes por definição, e orgânicos não são uma exceção. Tradicionalmente, a cadeia de suprimentos para produtos orgânicos compreende muitos elos: os agricultores produzem e colhem produtos, os armazenam, finalmente os vendem, os empacotam e os transportam para um varejista que os embalam novamente. Gerjan diz: “Você não pode culpar os consumidores de não

comprá-los. Por causa de uma cadeia de suprimentos ineficiente, eles não têm uma boa aparência e se tornam cada vez mais caros. Assim, pessoas vão concluir que orgânicos não são sustentáveis.”

Embora sempre estivesse consciente sobre o significado de uma cadeia de suprimentos, Gerjan sempre teve os olhos bem abertos quando iniciou seus negócios com uma grande mercearia multinacional e com um varejista que decidiu conceder espaço em suas prateleiras para produtos orgânicos premium. A partir dos resultados de um teste, que demonstraram 40% de aumento nas vendas de produtos orgânicos, esse varejista passou a procurar bons produtores de orgânicos.

O aumento da escala permitiu que a cadeia de suprimentos melhorasse sua eficiência. Gerjan inovou seu sistema de embalagem, e, então, reduziu o número de operações na cadeia, tanto quanto suas instalações de armazenamento, prevenindo desperdício.

“A agricultura tem focado cada vez mais em alta produtividade e adota cada vez mais o uso de defensivos e fertilizantes para atingi-la.”

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Graças a um sistema inteligente de pedidos do varejista, Gerjan sabe de antemão a demanda da próxima semana. “Com o nosso novo sistema de empacotamento, nós conseguimos embalar os produtos no campo”, explica Gerjan. “Nós melhoramos nossas instalações de armazenamento e conseguimos fazer entregas diariamente, diminuindo também o tempo de estoque. Consequentemente, a validade dos produtos na prateleira também aumentou e aparência deles melhorou.” Quando Gerjan visitou uma das filiais do varejista, ele teve, em primeira mão, a experiência do consumidor: “Eu pude ver os consumidores selecionando as nossas couves-flores, nem sempre porque eram orgânicas, mas porque elas eram boas.” Desde então, a parceria de Gerjan com os varejistas se intensificou. Juntos, analisam as estatísticas de venda das safras passadas, determinam e planejam a variedade de ofertas e desenvolvem novos produtos, sempre com uma posição na prateleira em mente.

AGRICULTURA ORGÂNICA E CONVENCIONAL – APRENDENDO UMA COM A OUTRAOs produtos orgânicos começaram como um nicho e hoje são uma tendência atual especialmente em países desenvolvidos. “Na medida em que os orgânicos vão se tornando mais do que um negócio, as empresas de insumos agrícolas ficam mais interessadas, o que nos ajuda a adotar novas técnicas e fazer uma agricultura mais eficiente.” Gerjan espera que a agricultura orgânica e a convencional continuem crescendo juntas: “Agricultores orgânicos precisam encontrar meios de serem mais eficientes. Agricultores convencionais precisam encontrar

soluções para manter seu nível de eficiência sem exaurir a terra. Nós conseguimos aprender uns com os outros. Há uma boa história por trás da agricultura orgânica da qual eu me beneficio por ter construído meu próprio nicho de mercado. Porém a história real é sobre uma agricultura de senso comum. No fim, eu penso que a agricultura convencional irá crescer juntamente com a orgânica, então eu sempre terei que contar a minha história focando em diferenciação”.

A CADEIA DE SUPRIMENTOS FECHA UM CÍRCULO COMPLETOGerjan sempre teve muita habilidade para conectar seu ambiente com o consumidor final. Uma das iniciativas que ele adotou foi construir uma minifazenda para demonstrar como a rotação de culturas funciona. Um grande número de crianças e escolas visita essa minifazenda para aprender sobre a origem dos alimentos e como cultivá-los. Mais recentemente, Gerjan tem se conectado ao consumidor final em outro nível. “Nós temos desenvolvido uma nova marca. Consumidores querem voltar às origens. Eles estão interessados em fazendas e agricultura. Os agricultores precisam trabalhar com esse interesse. Precisamos contar nossas histórias cada vez mais e melhor, na internet, por exemplo. Desse modo, os consumidores não irão comprar somente uma couve-flor, mas a couve-flor de uma fazenda especial, de um meio de produção com o qual se identificam. E é isso que nossa marca oferece. É uma nova maneira de tentar conectar consumidores com nossos produtos. A questão é: será que a cadeia de suprimentos trabalha dessa maneira? Isso é um novo e ótimo desafio para nós, ao lado do bom negócio que atualmente temos.”

Em sua atuação como produtor rural, Gerjan adotou com sucesso um tipo circular e recorrente de método de cultivo: rotação de culturas. E esse pensamento “circular” parece ser imitado dentro de sua cadeia de suprimentos, onde o começo de um ciclo cultural está conectado com o final do outro; da mesma maneira que o produtor se conecta ao consumidor final. Assim, Gerjan amarra as extremidades da cadeia e fecha um círculo. Para ele, a cadeia de suprimentos fecha um círculo completo.

“Na medida em que os orgânicos vão se tornando mais do que um negócio, as empresas de insumos agrícolas ficam mais interessadas, o que nos ajuda a adotar novas técnicas e fazer uma agricultura mais eficiente.”

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Fatos e números

CADEIA DE SUPRIMENTOS

A COLONIZAÇÃO DA COMMODITY – O ATRASO NOS GANHOS EM RENDIMENTO MOVE UMA BATALHA POR MATÉRIA-PRIMA Ciclos de escassez e fartura não é são fenômeno novos. A história do mundo está repleta de exemplos de ciclos de abundância e escassez de commodities agrícolas e seus impactos no sistema de distribuição de alimentos e nas civilizações. Mas, mesmo com uma perspectiva histórica, os acontecimentos dos últimos anos demonstram fortemente que dessa vez as coisas estão diferentes.

Ao contrário da revolução verde nos anos 1960 e 1970, nós agora lidamos com recursos naturais limitados e superexplorados, o que implica que essa alta demanda por alimentos deve ser suprida com uma expansão menor da fronteira agrícola, menos insumos (água, fertilizantes, defensivos, etc.) e menor emissão de poluentes e resíduos. A FAO estima que somente 10-15% do crescimento em abastecimento deverá vir da expansão das terras agrícolas. Entretanto, os ganhos em produtividade têm caído a uma taxa de 1,4% por ano, enquanto que deveria chegar a no mínimo, 1,75% em 2050, para que a agricultura consiga abastecer um planeta com nove bilhões de habitantes. No período de 1960-1990, o rendimento do trigo no campo aumentou em 1,3% ao ano; nos últimos 20 anos, o crescimento em produtividade do trigo foi de 0,5% ao ano. A mesma tendência foi observada para o arroz; então, as duas culturas mais importantes do mundo tiveram quase nenhum aumento em rendimento durante as duas décadas passadas devido à falta de investimentos. Sem ganhos suficientes em rendimento e novas terras aráveis para aumentar a produção, o suprimento não acompanha a velocidade

da demanda e os estoques globais caem. Entramos, então, na era da escassez com preços maiores e mais voláteis, onde a luta por commodities agrícolas só tende a se intensificar. AGRICULTORES - ATOLADOS NO MEIO DA CADEIA?As margens dos agricultores têm subido menos do que o que o preço das commodities agrícolas sugere e o preço dos insumos cresceu tanto quanto ou mais do que o das commodities. Enquanto que as margens dos fornecedores de insumos, processadores e varejistas foi de 15-23% durante a última década, agricultores holandeses obtiveram retornos negativos ou muito pouco positivos (veja tabela abaixo). O valor criado parece estar distribuído desigualmente na cadeia de suprimentos com as maiores porções capturadas no início e no final da cadeia.

Ração/nutrição

carne suína laticínios hortaliças

15,5 15,5 24,7

frutas(%)

Agricultura -2,9 0,3 -5,5 -2,4

Processamento 17,2 18,8 22,3 16,0

Varejo 22,2 22,2 22,2 22,2

Média do retorno sobre o patrimônio (ROE) no período 2005-2009 em quatro cadeias de suprimento agrícolas da Holanda1

18

16

14

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10

8

6

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2

0

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20022003

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20062007

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Trigo Milho Soja

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/bus

hel

Sobre os preços médios mais altos e mais voláteis

Fonte: Bloomberg, Rabobank FAR

-1,00%

0,00%

1,00%

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Wheat Linear (Wheat)

0,00%

0,50%

1,00%

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2,00%

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Perc

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Rice, paddy Linear (Rice, paddy)

Dife

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Dife

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Trigo

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Wheat Linear (Wheat)

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Perc

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Yie

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Wheat Linear (Wheat)Curva de tendência linear (trigo) arroz irrigado

-1,00%

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1,00%

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Wheat Linear (Wheat)Curva de tendência (arroz irrigado)

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A cadeia alimentar da UE-27 gerou um total de 751.008 milhões de euros em valor agregado em 2008. A distribuição desse valor foi muito desigual, dado que a importância relativa das atividades não agrícolas foi consideravelmente maior. Por exemplo, embora os fabricantes de bebidas e alimentos representassem apenas 1,6% dos agentes ativos da cadeia de suprimentos da UE-27, eles retiveram 26% do total do valor agregado em toda a cadeia2. O que isso tem a ver com poder de mercado? No geral, a concentração de valor na atividade agrícola é consideravelmente menor do que nas atividades do início (fornecimento de insumos) e do final (varejo) da cadeia de suprimentos.

A CONCENTRAÇÃO PROSSEGUEA concentração de valor no sistema de abastecimento prossegue em dois níveis: na cadeia de suprimentos e na quantidade e variedade de alimentos que comemos. Se, por um lado, isso traz benefícios de economia de escala, por outro isso aumenta os riscos (volatilidade).

De modo geral, desde a década de 1980, a concentração de valor tem aumentado em todos os níveis da cadeia de suprimentos dos principais setores agrícolas. Nos Estados Unidos, no nível da agricultura, menos que 2% das fazendas representaram 50% das vendas totais em 2007. A nutrição animal em larga escala (confinamento) representou quase dois terços da produção de frango, 50% da produção de ovos e 42% da produção de carne suína nos EUA. No setor de processamento, por exemplo, a porção do mercado para as quatro maiores empresas de processamento de carne aumentou de 36% em 1982 a 63% em 2006. No setor do varejo, a porção do mercado para os quatro maiores varejistas mais que dobrou – de 16% em 1982 foi para 36% em 20053.

Fato:Embora existam mais que 50.000 espécies de plantas comestíveis no mundo, apenas 15 delas representam 90% da nossa dieta alimentar. Além disso, cerca de dois terços dos alimentos do mundo derivam de somente três plantas: arroz, milho e trigo.4

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A perspectiva mais ampla A mudança é constante – lidando com volatilidade5

CADEIA DE SUPRIMENTOS

QUAIS ESTRATÉGIAS AS EMPRESAS DE AGRONEGÓCIO TÊM ADOTADO PARA LIDAR COM O AUMENTO DA VOLATILIDADE?Em época de escassez, com preços mais elevados e maior volatilidade, estratégias tradicionais na cadeia como “just-in-time” para gerenciamento de inventário e integração horizontal estão sendo revistas. Elas fazem muito sentido em uma situação de abundância, de baixa de preços das commodities e pouca volatilidade. Nessa nova era de escassez, estratégias de armazenamento e de integração vertical fazem mais sentido. Hoje, empresas de contabilidade e financiamento estão adotando novas estratégias para lidar com preços mais altos e mais voláteis. Os grandes países e atores corporativos estão tentando garantir sua porção no mercado contrabalanceando os riscos de oferta com os riscos de negócio dentro de uma grande continuidade de estratégias de fornecimento.

“Atualmente a questão-chave que faz os CEOs das grandes empresas dos setores alimentícios e agronegócio perderem o sono é: como eu posso garantir o fornecimento?” Carel van der Hamsvoort, Chefe Global, Rabo Food & Agribusiness Research and Advisory (FAR).

Grosso modo, as estratégias de fornecimento podem ser agrupadas em três categorias distintas:

(1) aumentar o controle físico sobre a oferta;(2) focar no poder de mercado;(3) adaptar estratégias internas de negócio para reduzir ou lograr riscos de oferta.

Dentro da primeira categoria para aumentar o controle físico sobre a oferta, estratégias individuais de fornecimento incluem investimentos em terras, integração de programas que dão prioridade ao agricultor e diversificação regional. Especialmente nos segmentos de cerveja e cacau, programas que priorizam o agricultor são usados para garantir a qualidade do produto e a sua oferta, por oferecer assistência ativa no processo de produção em trabalho direto com os agricultores. Usualmente esses programas são acompanhados por investimentos em infraestrutura local. Exemplos específicos incluem serviços de extensão e treinamento para agricultores, negociação de insumos agrícolas (para aumentar o rendimento), financiamento de capital de giro, e entrega das commodities agrícolas que saem da fazenda (logística). As estratégias de diversificação regional se tornaram cada vez mais importantes para empresas de grãos e sementes oleaginosas.

Outro meio de aumentar o controle e mitigar os riscos de oferta é focar nas estratégias de poder de mercado. Estas incluem as estratégias individuais de oferta e contratação, parceria horizontal, integração à frente na cadeia, confiança no poder da marca para passar preços mais altos para o próximo elo da cadeia ou para os consumidores, e adoção de ferramentas de gestão de risco com base no mercado, como contratos futuros ou outras variações financeiras para cobrir o risco de variação de preços. Dentro da terceira categoria de estratégias adaptáveis, empresas adaptam sua estrutura interna para mitigar riscos de oferta com o descobrimento de novos nichos de mercado, ingredientes substitutos, ou por oferta de serviços especializados. Esta última consiste em oferecer serviço em alguma etapa do processamento com contrato de reembolso de despesas sem lucro direto e sem perder a exposição ao fluxo de matéria-prima.

Em um mundo cada vez mais complexo e interconectado, é improvável que uma única estratégia de fornecimento funcione em todas as circunstâncias e para todas as empresas. É fundamental entender que há muitas opções de estratégias de fornecimento disponíveis para as diretorias das empresas de financiamento e contabilidade. É esperado, de um modo geral, que as diversas formas de integração vertical e cooperação aumentem para garantir o fornecimento em época de escassez e assegurem uma gestão de risco.

NENHUMA AÇÃO TOMADA

CONTROLE FÍSICO SOBRE A OFERTA

PODER DE MERCADO

ADAPTAR ORGANIZAÇÃO

RISC

OS

DE

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RISCOS D

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ÓCIO

• investir em terras• integração para trás

• prioridade para o agricultor• diversificação (regional)

• oferta e contratação• parcerias horizontais

• risco com base no mercado • ferramentas de gerenciamento• confiança no poder da marca

• integração para frente

• encontrar nichos de mercado• substituição

• cobrança (reembolso) por serviços especializados

Continuidade das estratégias de suprimento

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O QUE ISSO SIGNIFICA PARA OS AGRICULTORES?Os produtores estão claramente vulneráveis a essas mudanças. Comumente, eles são os tomadores de preço lá no início da cadeia de suprimentos e ficam com a margem disponível pela diferença dos preços pagos pelos seus produtos e dos custos dos insumos comprados. A boa notícia é que as empresas de financiamento e contabilidade estão mais dispostas a dar apoio e a trabalhar com agricultores, afinal de contas, sem a produção primária, não há mercado para essas empresas. Fazendas familiares maiores estão mais bem localizadas e o movimento para a grande produção continua progredindo. Os agricultores maiores terão o poder de conseguir melhores ofertas de clientes e fornecedores; terão a capacidade de investir no crescimento da sua produtividade, e terão economia de escala para trabalhar com margens mais baixas e volumes mais altos.

Um bom exemplo pode ser dado pela cadeia de suprimentos de laticínios na Holanda. Durante a década passada, a média do tamanho de uma fazenda de leite na Holanda cresceu em cerca de 50%. Embora em outros níveis, tendências parecidas foram observadas na Nova Zelândia (+55%), Estados Unidos (+61%) e Argentina (+34%). Na próxima década, a média do tamanho das fazendas de leite na Holanda é prevista para dobrar, simulação feita para o sistema de abolição das cotas leiteiras da Europa em 2015. Com relação à estrutura da cadeia de suprimentos, 90% de todo leite produzido é entregue a cooperativas, entre as quais a Royal Friesland Campina recebe a maior porção (cerca de 80%). Essa estrutura de cooperativas forte e consolidada têm beneficiado produtores de leite na Holanda. Comparado com outros setores agrícolas na Holanda, os retornos do negócio com leite tem sido maiores e positivos. Enquanto que a oferta de leite da Holanda representa menos que 10% da oferta total de leite na Europa, ela ainda responde por 20% do total das exportações de laticínios da Europa para o mercado mundial. A Europa é o maior exportador de derivados do leite do mundo e o produtor mais inovador, representando cerca de 60% das inovações presentes no mercado mundial de leite e alimentos. A significativa consolidação do mercado de leite holandês resultou numa poderosa cadeia de suprimentos “desde a grama até a garrafa” com uma forte posição internacional e foco no consumidor para inovação, sustentabilidade e desenvolvimento de marcas.

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O agricultor perspectiva

CADEIA DE SUPRIMENTOS

O LADO BOMEntão, a boa notícia é que o crescimento mínimo geral de 70% da demanda por alimentos a partir de recursos limitados faz com que os agricultores se tornem fornecedores de produtos mais escassos e com preços maiores. Isso estimula mais gastos com P&D para aumentar a produtividade e melhorar as práticas agrícolas. Além disso, as empresas de finanças estão cada vez mais reconhecendo a importância de se trabalhar com agricultores, dando a eles suporte para créditos, acesso a mercados, melhores práticas, etc.

O LADO RUIMPor outro lado, os agricultores ainda continuam sendo os tomadores de preço. Suas margens têm aumentado muito menos do que o que os preços crescentes das commodities sugerem. Por quê? Porque os preços dos insumos sobem tanto quanto ou mais do que os das commodities; uma nova terra não pode ser convertida à agricultura da noite para o dia; e a concentração do poder de mercado está nas extremidades da cadeia de valor. Os agricultores ficam espremidos entre os fornecedores de insumos (sementes, fertilizantes, defensivos e máquinas agrícolas), os quais são altamente consolidados no mercado e buscam aumentar seus lucros por meio de investimentos em alta produtividade, e entre as empresas de processamento e traders, que buscam aproveitar a forte demanda forçando para baixo a margem do agricultor. Os produtores, sem o poder de mercado de uma economia de escala e sem a força de um balanço patrimonial adequado, ficam mais vulneráveis. Além disso, os preços mais altos resultam em um aumento da valorização dos ativos, o que resulta em um aumento no custo de produção, deixando a atividade difícil de ser iniciada pela próxima geração de agricultores.

AS ESCOLHAS – EM QUE CADEIA OPERAR?Para lidar com essas mudanças, os agricultores precisam agir. Existe um amplo espectro de opções que equilibram liberdade com cooperação no canal, e também possibilidades de estratégias com foco no balanço entre custo de produção e eficiência de distribuição. Em continuidade, opções de estratégias variam de redução de custo e risco de gerenciamento (alta liberdade) até comakership (alta cooperação no canal).

Em uma extremidade do espectro, aumentar a liberdade significa focar a estratégia agrícola em diminuir os custos e melhorar a gestão de risco, por vezes através da diversificação. Opções de redução de custos incluem aumentar a escala de produção da fazenda e terceirizar atividades não essenciais. Por exemplo, na Argentina, surgiu o sistema de arrendamento, onde terras são arrendadas a terceiros e as atividades de plantio, pulverização e colheita são terceirizadas. Redes especializadas de serviço otimizam o uso de bens capitais prestando serviços durante o ano todo em diferentes regiões. É como uma agricultura sem ativos. Opções de gestão de risco incluem bloqueio das margens por meio de cobertura de preços e distribuição de risco por meio da diversificação.

“Faça o que sabe fazer de melhor e terceirize o resto.” Carel van der Hamsvoort

Maximizar a cooperação dentro da cadeia pode consistir em adaptar produção às necessidades de cadeias de valor específicas. Nessa extremidade do espectro, as opções incluem abastecer as cooperativas que processam e vendem produtos, comaking e oferta de serviços, por exemplo, para processos de produção específicos de produtos especiais. Em vez de focar em baixar os custos para vender commodities em mercados abertos, essa estratégia foca em um maior valor agregado para um produto diferenciado que será vendido a compradores específicos em cadeias verticalmente estruturadas. Por exemplo, a otimização da cadeia por meio do uso de medidas para reduzir a presença de resíduos alimentares nos intestinos de porcos no abate e aumentar a uniformidade da carcaça. Isso resultou em uma economia de cinco centavos de euro por kg de carcaça na cadeia de carne suína na Holanda, ou seja, três centavos para o agricultor e dois centavos para o processador de carne.

COO

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DE

PRODUTO A GRANEL COMPETITIVO

PRODUTOS ESPECIAIS SOB ENCOMENDA

ADAPTAR ORGANIZAÇÃO

• gerenciamento de risco de preço• Redução de custos

• Diversificação

• Contratos de longo prazo• Cooperativas de comércio

• Especialização

• Cooperativas de processamento• Cobrança (reembolso) por serviços

especializados• Comaking

• Desenvolver novas fontes de renda

Estratégias de continuidade para agricultores

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“Não venda o que você pode fazer, mas faça o que você pode vender.”

Entre liberdade e otimização da cadeia, as opções vão desde contratos diretos com consumidores, venda conjunta de produtos (por exemplo, cooperativas), rateio dos riscos de preço, até o firmamento de relações comerciais de longo prazo com fornecedores de insumos ou consumidores mais seletivos. A especialização também considera “abrir um pouco mão da liberdade” por reduzir custos para manter-se competitiva. Por exemplo, produtores de batata da Holanda trocam e alugam suas terras anualmente para poderem produzir somente batatas em todos os anos, respeitando as normas de rotação de culturas. A especialização em uma única cultura dá melhores rendimentos e vantagens de custo para maquinário, armazenamento, compra de insumos e negociação de preço (no caso, para batata).

Na próxima década, os agricultores terão que escolher em qual cadeia operar.

“Apresse-se enquanto tem tempo, e então terá tempo quando tiver que se apressar.” Carel van der Hamsvoort

UNINDO FORÇAS – EM DIREÇÃO DA COOPERAÇÃO NA CADEIATodos nós fazemos parte do sistema alimentar. Há cerca de três séculos foi considerado um luxo servir 200 pratos em um dia para o “Sun” do Rei Luis XIV da França. Hoje, pelo menos no mundo desenvolvido, todos nós podemos escolher entre mais de 2.000 opções de refeições em supermercados locais. O sistema de abastecimento de alimentos atingiu esse sucesso. Entretanto, isso não deve ser considerado como um

privilégio, pois o problema de escassez está cada vez maior e a agricultura de subsistência ainda é fortemente presente ao redor do mundo. Além do mais, a sociedade está confusa e assustada com a questão da segurança alimentar e da sustentabilidade. Precisamos reconectar a grande distância que existe entre consumidores e agricultores e restabelecer confiança. Precisamos nos unir... para chegar lá.

“Entre todos os “6 S” o da cadeia de suprimentos parece ser o mais desafiador. A cadeia de suprimentos é frequentemente desconectada e há pouco diálogo por meio dela, o que é assustador. Precisamos unir todas as partes interessadas dentro da cadeia para atingirmos o progresso e o sucesso.”

COM

ERCIANTES

PROCESSAD

ORES

VAREJISTAS

O que escolher?

Prêmio por eficiência na

cadeia2. Cooperação

1. Liberdade

Prêmio por redução de custo na fazenda

AGRICULTORES

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O futuro da agricultura

CADEIA DE SUPRIMENTOS

A cadeia de suprimentos é fundamental para resolver a questão da segurança alimentar. Um clichê, porém, verdadeiro: “uma corrente é tão forte quanto o seu elo mais fraco”. É crucial que a cadeia seja consolidada fortalecendo a posição do agricultor. Concluímos que os agricultores se encontram espremidos entre os fornecedores de insumos altamente consolidados e querendo aumentar os seus lucros, e os clientes compradores querendo aproveitar a forte demanda. Isso impacta negativamente a economia da agricultura, faz com que a atividade não seja atrativa para as próximas gerações de agricultores e não favorece a inovação; todos os desafios interligados.

Então, como resolver isso? Não pode ser somente uma questão de “trabalho duro” como Gerjan Snippe caracteriza parte da comercialização da agricultura em sua abordagem de senso comum. Porém, Gerjan já tomou uma iniciativa pensando no futuro: ele começou a cooperar com outros agentes da cadeia.

1. COOPERARAgricultores não conseguem resolver a questão de segurança alimentar sozinhos. Outros agentes da cadeia terão que cooperar. Por exemplo, agricultores e varejistas devem conhecer o comportamento dos consumidores finais para determinar e planejar o que oferecer nas prateleiras, descobrir nichos e explorar inovações. Os agricultores precisam firmar colaboração dentro da cadeia para atingirem um maior valor agregado, produzindo e vendendo produtos diferenciados para compradores específicos em uma cadeia estruturada verticalmente, etc.

2. MAXIMIZAR LIBERDADEAtingir eficiência de custo com foco em economia de escala e produção a granel. Essa estratégia é especialmente relevante para grandes fazendas corporativas, como, por exemplo, as da Austrália e do Brasil.

3. CONSOLIDAR E CONCENTRARConsolidação não é necessariamente o mesmo que concentração, mas, de qualquer forma, os maiores agricultores e aqueles que juntaram suas forças por meio de cooperativas podem aumentar seu poder de compra e de barganha e, então, fortalecer sua posição na cadeia de

suprimento. Assim, terão mais recursos para investir em uma maior produtividade e aumentar a lucratividade.

4. INOVARConsiderar os processos de melhoria contínua. Fazer revisões contínuas de seus processos e negócios, conectar-se com seus colegas e aprender com eles as melhores práticas, trabalhar com outros agentes da cadeia, informar-se sobre descobertas recentes na agricultura para inovar e aumentar a produtividade. 5. RECONECTARAo longo das décadas passadas, consumidores finais foram perdendo de vista a beleza da agricultura e a origem dos produtos que compõem diariamente as suas mesas. Procure, então, maneiras de reconectá-los. Compartilhe sua história de modo autêntico, demonstre habilidade, mostre sua paixão. O consumidor final com certeza estará receptivo e você ajudará a restabelecer a imagem do setor agrícola ao longo do caminho.

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MÍDIAS SOCIAIS

- Introdução - Trajetória inspiradora - Fatos e números - A perspectiva mais ampla - A perspectiva do agricultor - O futuro da Fazenda 2.0

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MÍDIAS SOCIAIS

Introdução

A próxima década mostrará uma grande transferência de fazendas para produtores rurais da próxima geração. Uma geração que é usuária experiente de internet e usa cada vez mais a rede e seus dispositivos móveis para pesquisa, atividades sociais e negócios. As mídias sociais mudaram muitas indústrias e estão aqui para ficar, em ambos os contextos, tanto pessoal quanto no de negócio.

Mas mídias sociais ou o conceito de Fazenda 2.0 são relevantes para a produção agrícola e os desafios em torno de segurança alimentar? A Apple parece ótima, mas você jamais tentaria consumi-la diretamente do seu iPad, certo? Provavelmente não, mas muitos consumidores são influenciados por revisões de outras pessoas na web sobre qual hotel se hospedar, qual restaurante escolher ou qual comida cozinhar. Em primeiro lugar, as redes sociais permitem que agricultores se conectem diretamente com os seus consumidores. Inicialmente, isso pode ser para informar o consumidor sobre uma marca ou produto, mas ao longo do tempo isso pode resultar em transações on-line diretas entre o agricultor e o consumidor por meio dessas redes. Comprar vinho pela internet já é bastante comum em muitos países. Portanto, por que não vender também frutas ou cestas de hortaliças on-line? Muitos agricultores estão experimentando o conceito “on-line”, com um misto de sucessos e claras lições aprendidas. Nós todos lembramos o impacto da Amazon.com na indústria do livro. Com muita desconsideração por parte das grandes lojas de livros no começo, porém, agora, com seu reconhecimento. No final de 2012, a Amazon também começou a vender vinho pela web; obviamente que não foi pioneira, mas isso confirma claramente como a tendência on-line pode diversificar e obter o feedback direto do consumidor.

Em segundo lugar, a mídia social permite acesso a financiamento por agricultores por conectá-los a bancos on-line ou redes ponto a ponto (peer-to-peer) como a Kiva.org. O relacionamento pessoal deve sempre permanecer como chave, porém as conexões on-line com bancos em áreas remotas podem facilitar muitas transações bancárias.

Terceiro, as mídias sociais permitem acesso ao conhecimento global. Não há dúvidas de que existem muitos dados sem utilidade na web, mas uma plataforma global para levar os agricultores a compartilharem

“A mídia social mudou muitas indústrias e está aqui para ficar, em ambos os contextos, o pessoal e o de negócio.”

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“NÃO TENHA DÚVIDA DE QUE EXISTEM MUITOS DADOS SEM UTILIDADE NA WEB, MAS UMA PLATAFORMA GLOBAL PARA LEVAR OS AGRICULTORES A COMPARTILHAREM AS INOVAÇÕES MAIS RECENTES OU A SE CONECTAREM COM SEUS COLEGAS PODERIA SER MUITO EFETIVA. TAMBÉM UMA PLATAFORMA DE FAZENDA VIRTUAL PARA OS AGRICULTORES POBRES DA ÁFRICA PODERIA FAZER UMA DIFERENÇA REAL.”

as inovações mais recentes ou a se conectarem com seus pares poderia ser muito efetiva. Também, a plataforma de fazenda virtual para os agricultores pobres da África, apoiada pelo escritor australiano Julian Cribb1, poderia fazer uma diferença real. Observe apenas o sucesso atual do mobile banking na África – que tal se nós pudéssemos compartilhar as melhores práticas agrícolas com os produtores rurais de subsistência através dos celulares deles ou organizar e conectar ainda mais as cooperativas?

E, por último, mas não menos importante, as mídias sociais são ferramentas importantes para gestão da percepção; existem muitos grupos ativos de apoio na web tentando influenciar consumidores. Muitos agricultores mostraram frustração com relação à forma com que a produção agrícola foi desacreditada na web por conta de informações duvidosas. Milhões de agricultores ao redor do mundo poderiam se unir pela web e compartilhar a sua perspectiva com consumidores e colegas, ajudando o consumidor a tomar decisões de forma bem informada, e agricultores, a entenderem melhor as necessidades do consumidor e aumentar a produção sustentavelmente.

Mas, antes de mergulhar a fundo na Fazenda 2.0, apresentaremos o engenheiro de computação Ricardo Rios, o qual está gerenciando uma das maiores propriedades de produção de leite do Chile.

“Que tal se nós pudéssemos compartilhar as melhores práticas agrícolas com os produtores rurais de subsistência através dos celulares deles ou organizar e conectar ainda mais as cooperativas?”

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Trajetória inspiradora

MÍDIAS SOCIAIS

“Todo agricultor tem um problema diferente. No meu país, a principal questão é falta de conhecimento sobre sistemas de produção de leite de baixo custo. Com este conhecimento, a produção pode ser muito lucrativa.”

ENSINANDO A PRÓXIMA GERAÇÃO COMO FAZER AGRICULTURA Ricardo Rios é um engenheiro de computação que se tornou produtor de leite no Chile. Por uma década, Ricardo trabalhou na indústria da computação, viajando para os Estados Unidos onde a tecnologia da informação é pesquisada e desenvolvida. Entretanto, a sua educação, treinamento e experiência como engenheiro de computação, embora muito úteis, não foram necessários para tornar Ricardo um produtor de leite no Chile.

“No começo da minha vida de casado, minha esposa sempre me impulsionava para que eu me tornasse um produtor de leite. Ela queria uma fazenda e eu não queria falhar com ela. Com a ajuda do meu irmão, nós compramos um pedaço de terra e iniciamos o desenvolvimento de nossa fazenda de produção de leite no sul do Chile. Depois de alguns anos sem ir a lugar nenhum, e com um futuro duvidoso no negócio, eu percebi que havia uma coisa que nós precisávamos e que ainda estava faltando: conhecimento.”

FALTA DE CONHECIMENTO “Todo agricultor tem um problema diferente. No meu país, a principal questão é a falta de conhecimento para trabalhar com sistemas de produção de leite de baixo custo. Com esse conhecimento, esse tipo de produção pode ser muito lucrativo. Também, se todo mundo estiver fazendo a mesma coisa, será muito mais fácil para aprender, para compartilhar e para melhorar. Mas sem esse conhecimento e suporte é quase impossível começar.”

“Enquanto eu estava na Holanda, um agricultor holandês disse para mim, ‘conhecimento não é um problema para nós. Todo mundo sabe como fazer. O problema que nós temos é que a terra é muito cara e os produtores rurais jovens não conseguem pagar para começar’.”

A terra não era um problema para Ricardo. Ele tinha um pedaço invejável de terra, mas pouco conhecimento de um sistema de produção de leite de baixo custo que fosse eficiente. Um amigo contou para ele de um país no meio do Oceano Pacífico que tinha um sistema de produção de leite top no mesmo tipo de terra e clima do Chile.

Ricardo admite que ele nunca tinha ouvido nada sobre a Nova Zelândia, mas pensou, “se lá existe conhecimento de um sistema de baixo custo, então nós precisamos descobrir como trazer esse conhecimento para o Chile”.

TUTORIA DA NOVA ZELÂNDIA Durante a sua vida de agricultor, Ricardo teve sorte suficiente para encontrar dois mentores da Nova Zelândia com muita experiência em produção leiteira. O seu atual mentor vem instruindo Ricardo há mais de 10 anos. “Você tem que encontrar o que você precisa, para fazer o

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que você gosta. Se você precisa de terra, você encontra terra. Se você precisa de conhecimento, você vai em busca de conhecimento”, disse Ricardo. Sem a generosa transferência de conhecimento e a tutoria dos produtores de leite da Nova Zelândia, Ricardo acredita que certamente sua fazenda não teria sobrevivido.

CRESCIMENTO COM COMPARTILHAMENTO DE CONHECIMENTO “Desde que nós começamos com o processo de treinamento da Nova Zelândia, nossa companhia começou a crescer e crescer. Agora, nós estamos alcançando do sistema de produção tanto quanto os neozelandeses. Neste período, nós iremos ordenhar 4.700 vacas alimentadas com pasto,” disse Ricardo. “Nós atingimos quase o mesmo nível de produção de leite que a Nova Zelândia tem. Tudo baseado em conhecimento, busca de um sonho e fazendo a minha esposa feliz.”

CONHECIMENTO E SUCESSÃO Em sua vida, Ricardo gostaria de ver a região onde ele mora tornar-se mais desenvolvida, começando pelas áreas rurais e, então, estendendo para as áreas urbanas, como consequência do crescimento da economia rural local, resultando em um sistema melhor de educação, melhores oportunidades de emprego para os jovens locais e padrões de vida mais altos.

“Eu gostaria de ver o sistema de produção que nós trouxemos para o nosso país e para a nossa companhia, que nos ajudou a ter sucesso, disponível para todo mundo. Eu gostaria de ver mais pessoas, especialmente pessoas jovens, querendo aprender e se tornar especialista. Eu quero que o Chile desenvolva uma indústria de laticínios que tenha tanto sucesso quanto a da Holanda e a da Nova Zelândia,” disse Ricardo.

“O que o nosso país precisa é promover e desenvolver um sistema de produção de leite de baixo custo como existe na Nova Zelândia, para trazer aquele conhecimento e compartilhá-lo em nossa região, usando, por exemplo, as mídias sociais para ensinar a próxima geração a produzir, a ser inovadora e a ter lucro. Nós precisamos passar para a próxima geração o conhecimento e as habilidades para assumir a fazenda, de tal forma que essa nova geração, e as próximas, possa ter sucesso em um futuro sustentável e seguro,” disse Ricardo.

“Você tem que encontrar o que você precisa, para fazer o que você gosta. Se você precisa de terra, você encontra terra. Se você precisa de conhecimento, você vai em busca de conhecimento.”

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Fatos e números

MÍDIAS SOCIAIS

As mídias sociais estão mudando o modelo de comunicação de uma via da internet para comunicação de duas vias, incluindo múltiplas interações com usuários e comunicações dirigidas por conteúdo. Os canais de mídias sociais oferecem aos consumidores a possibilidade de moldar os meios de comunicação por eles mesmos. Os consumidores são habilitados, conectam-se facilmente pela web e criam conteúdo em conjunto. O consumo de conteúdo on-line está crescendo rapidamente. É difícil de ignorar a quantidade de tempo que consumidores gastam nas mídias sociais, começando nos mercados privados com os jovens e passando agora pelo público sênior e comunidades de negócios.

Globalmente, existem mais de 1,5 bilhão de usuários de mídias sociais e, em 2012, um bilhão esteve ativo no Facebook por, em média, 40 minutos por dia. Todo cliente de uma empresa está nas mídias sociais e ela deveria querer estar onde os seus consumidores estão. Cerca de 72% das companhias usam mídias sociais de alguma forma – comumente para agrupar insights, vender ou comprar bens de mercado e serviços, e para servir consumidores. Gerações jovens (futuros agricultores e consumidores) estão todos em redes sociais. Tendências em serviço ao consumidor indicam um crescimento acentuado do uso de canais virtuais, um forte crescimento de possibilidades técnicas e uma importância crescente de colegas influenciando na tomada de decisão.

FATOS CURIOSOS SOBRE MÍDIAS SOCIAIS • A palavra ‘fazenda’ tem 5,2 bilhões de resultados no Google e

mostra 3,9 bilhões de figuras.

• Usuários gastam 700 bilhões de minutos por mês no Facebook.

• Mais de 250 milhões de usuários acessam o Facebook através do seu dispositivo móvel.

• Mais de 2,5 milhões de endereços da web (websites) foram integrados ao Facebook.

• 30 bilhões de conteúdos são compartilhados no Facebook a cada mês.

• Atualmente, o Facebook é o maior banco da Austrália, com a combinação única de uma licença de banco e aproximadamente 11 milhões de membros declarando 20% de sua receita por meio de créditos do Facebook.

• 300.000 usuários ajudaram a traduzir o Facebook para 70 línguas.

• O YouTube tem 490 milhões de usuários únicos todo mês.

• O espaço de redes sociais para compartilhamento de fotos Flickr.com hospeda mais de 5 bilhões de imagens; algo como 3.000 ima-gens sendo carregadas a cada minuto.

• O Twitter adiciona 500.000 usuários todos os dias.

• O Google+ alcançou 10 milhões de usuários em 16 dias; o que o Twitter gastou 780 dias e o Facebook 852 dias.

• O LinkedIn dá as boas-vindas a 1 milhão de novos usuários toda semana.

Mas existe mais: a casa do futuro terá uma cozinha interativa inteligente, dispositivos de limpeza e outros que reagem às suas ações do celular e emitem instruções de fora de casa. Como, por exemplo, avisos para atualização de alimentos na geladeira, preparo de refeições prontas no micro-ondas, e aspiração e aquecimento de sua casa pouco antes da sua chegada. Produtores rurais usarão dados de satélite e GPS recebidos nos aplicativos de seus smartphones ou enviados diretamente para seus tratores inteligentes para melhor aproveitamento da terra e manejo de culturas, como, por exemplo, aplicar a quantidade exata de água e fertilizante em uma polegada, se necessário, e não em um hectare ou em um campo todo. Depois da era industrial mecanizar nossos hectares, a era da digitalização irá liderar a próxima revolução verde 2.0 nas fazendas.

“Em uma população mundial de 6.976.120.288 habitantes, existem 1.663.632.361 usuários de internet.”

“Com mais de 1 bilhão de usuários, o Facebook se tornou a terceira maior população do mundo.” Danny Mekic, empresário de internet. Em 2009, eleito o melhor empresário holandês com menos de 25 anos.

“Em uma população mundial de 6.976.120.288 habitantes, existem 1.663.632.361 usuários de internet.”

“Com mais de 1 bilhão de usuários, o Facebook se tornou a terceira maior população do mundo.”

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Perspectiva mais ampla

MÍDIAS SOCIAIS

Como se conectar, interagir e verdadeiramente se comunicar com consumidores em um mundo virtual?

“O quanto seria legal, se um consumidor pudesse examinar, por meio de um QR (código de referência rápida), uma maçã e começar a ver o pomar de onde ela cresceu e qual agricultor a colheu?” Esse é um dos muitos exemplos que o empreendedor de internet Danny Mekic mostrou ao público de produtores rurais para exemplificar como conectá-los de volta aos consumidores. Usar códigos QR é simples e barato, e as possibilidades são muitas, conforme conseguimos os links. Por exemplo, um suéter de lã com uma ovelha Merino em uma fazenda da Austrália, ou um suco de fruta com um fazendeiro do Paraguai ou do Brasil. Porém, mais do que apenas o envio de informações para educar ou entreter o mercado-alvo com estrelas de classificação nos links permitidos entre websites por QR, o uso desses códigos permite que agricultores obtenham uma resposta direta dos consumidores sobre seus produtos. Como análises ponto a ponto (P2P) são fundamentais no processo de tomada de decisão de muitos consumidores, isso pode agregar valor extra para os produtores de qualidade e suas marcas. Obviamente, isso abre um canal para o feedback negativo, mas não é melhor estar ciente e agir sobre a questão, em vez de ver uma redução nas vendas?

No Reino Unido, uma iniciativa da National Trust chamada MyFarm pretende reconectar as pessoas com a origem dos alimentos2 (http://www.nationaltrust.org.uk/what-we-do/big-issues/food-and-farming/myfarm/). MyFarm é uma experiência on-line de agricultura e produção de alimentos, com duração de 18 meses, e que permite que 10.000 participantes deem sua palavra para o gerenciamento de uma fazenda real. Na plataforma MyFarm, agricultores juntam suas forças para discutir e decidir cada aspecto da fazenda: as culturas que cultivam, a linhagem dos animais que confinam, as novas instalações que investem e as máquinas que usam. O objetivo da fazenda é ser lucrativa e manter altos padrões de bem-estar e sustentabilidade. As pessoas que pagam 30 libras esterlinas podem se tornar agricultoras em 12 meses. Suas decisões estão sendo realizadas por um agricultor de verdade. No outono de 2012, a variedade de trigo escolhida pelos usuários esteve disponível na loja de sementes. Os usuários escolheram e ainda decidiram como o produtor rural deveria plantá-las.

Curiosidade: Guinness World Records declarou a fazenda da família Kraay como a proprietária do maior código QR do mundo (309.570 pés quadrados! Isso se iguala a 29.000 metros quadrados). Ligando os telespectadores para o site da fazenda http://www.kraayfamilyfarm.com/

COMO A FAZENDA 2.0 PERMITE O ACESSO AO CONHECIMENTO E AO FINANCIAMENTO?Conhecimento: disponível “a qualquer hora e em qualquer lugar”.

As mídia sociais, seu conceito e seu rápido desenvolvimento afetam o agronegócio de diversas maneiras. A mídia on-line fez o mundo virar uma vila global. Conhecimento, conexões e troca de experiências acontecem aos cliques dos mouses. As pessoas podem aproveitar o conhecimento combinado da massa instantaneamente. Férias, carros, eletrônicos, dicas de tarefas domésticas, problemas com computador, qualquer coisa que alguém pode querer saber virtualmente pode ser encontrada no vasto mundo da web. “To Google” é o novo verbo que o levará às opiniões dos consumidores, dicas e truques, os “sins”

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e “nãos” de pessoas do mundo todo com apenas uma coisa em comum: as mesmas necessidades por informação e por superação de desafios semelhantes. Esse conceito pode ser facilmente aplicado ao setor agrícola; produtores rurais profissionais do mundo todo, não importando de onde são e suas diferenças, podem aprender uns com os outros. Neste capítulo, você leu sobre o engenheiro de computação chileno que se tornou fazendeiro, Ricardo Rios Pohl. Ele viajou o mundo atrás do conhecimento que precisava para fazer o seu negócio suceder. Na vila global de hoje, Ricardo, e todos os outros profissionais ansiosos por aprendizado, pode ter uma alternativa para buscar conhecimento de uma forma menos demorada e uma busca física.

Uma possível desvantagem do conceito e natureza das mídias sociais é que há pouco espaço para nuances em áreas cinzentas. Questões complexas são resumidas em uma linha com 140 caracteres. A reputação das pessoas, marcas e empresas tem sido esmagada por campanhas on-line. A indústria de alimentos e agronegócios também pode ser e já é sujeita aos sentimentos do público on-line. Hoje, a ligação entre produção e consumo não é tão estreita quanto era há poucas centenas de anos. Naquele tempo, quase todos eram fazendeiros. A comunicação e o entendimento sobre agricultura era simples e fácil.

Hoje, as cadeias de valor esticadas, longas e globalizadas, com diversas fases entre a semente e o alimento na mesa, aumentaram a distância entre produtores e consumidores finais, literalmente e figurativamente falando. Isso faz a comunicação ficar mais difícil e dá espaço para discordâncias. E os mal-entendidos que se espalham rapidamente são difíceis de combater.

Felizmente, sempre onde há uma ameaça, há uma oportunidade. As mídias on-line podem ajudar a fortalecer a reputação da agricultura: para profissionais potenciais, empreendedores, ONGs, governos, consumidores e a sociedade como um todo. Considerando que, globalmente, um de cada três trabalhadores é contratado na agricultura, esse grupo tem muito potencial para usar o poder da web para ganhar voz.

Sem dúvida, as mídias sociais contribuíram para preencher as lacunas de comunicação, visto que as regras da web são respeitadas e os agricultores proativamente participam das conversas. Por exemplo, a linguagem do Twitter já nos ensina como nos comunicar claramente e efetivamente: de forma simples e concisa (da expressão em inglês Keep it Short and Simple – KISS). Se você conseguir colocar sua mensagem em um tweet, de forma curta e simples, é mais provável que as pessoas leiam e repassem a informação (retweet). Uma estratégia de mídias sociais bem definida e partilhada por organizações de fazendeiros pode ajudar agricultores a contarem melhor as suas histórias distinguindo fatos de sentimentos, ou conectando bons sentimentos aos fatos certos. Mas além de postar, também é importante ouvir a voz do consumidor para tornar o setor mais forte e orientado ao cliente.

O impacto das mídias sociais/novas mídias/internet nos celulares não está limitado somente a países desenvolvidos. A cobertura de celular tem crescido na África com uma velocidade impressionante nas últimas décadas. Em 1999, somente 10% da população africana tinha cobertura para celular, principalmente na África do Sul e do Norte. Até 2008, 60% da população (477 milhões de pessoas) já tinha cobertura de celular, e uma área de 11.2 milhões de quilômetros quadrados tinha serviço de celular – o equivalente aos Estados Unidos mais a Argentina. Os telefones celulares representam um enorme potencial econômico em locais subdesenvolvidos da África. Um estudo conduzido pela London Business School, em 2005, demonstra que, para cada 10 celulares adquiridos entre 100 pessoas em um país em desenvolvimento, o PIB sobe em 0,5%. Além de permitir a comunicação, redes celulares também podem ser utilizadas para divulgar informações vitais sobre agricultura e saúde em áreas rurais isoladas e vulneráveis a problemas

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“Uma estratégia de mídias sociais bem definida e partilhada por organizações de fazendeiros pode ajudar agricultores a contar melhor as suas histórias distinguindo fatos de sentimentos, ou conectando bons sentimentos aos fatos certos.”

de seca e doenças. Além disso, podem ser utilizadas para movimentar dinheiro. Em diversos países africanos, soluções para obtenção de dinheiro rápido foram introduzidas. Essas soluções permitem que os clientes transfiram dinheiro a partir do celular para saque em terminais de autoatendimento. Com simples mensagens de texto, os clientes podem transferir dinheiro para pessoas sem conta bancária. Esse serviço permite usuários obterem dinheiro de um caixa eletrônico sem o uso de um cartão bancário, um serviço que é baseado em códigos de segurança enviados via SMS.

Soluções para obtenção de dinheiro rápido, ou mobile banking, podem facilitar o acesso ao financiamento em países em desenvolvimento. Um exemplo de serviço de acesso ao conhecimento é o da Nokia Life Tools, um serviço que custa USD 1,20 por mês e que dá informação através de SMS sobre agricultura para pequenos produtores da Ásia. O serviço atraiu aproximadamente 17 milhões de assinantes em menos de três anos. O sucesso da Nokia é apenas um dos muitos exemplos de como o uso do celular pode facilitar o acesso à informação. Acesso a financiamento e conhecimento fazem parte dos fatores de capacitação social identificados no capítulo 4. A falta de acesso impede os países desenvolvidos de explorar seu completo potencial.

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A perspectiva do produtor rural

MÍDIAS SOCIAIS

Durante o fórum Global Farmers Master Class foi discutido com os participantes o potencial das mídias on-line e sociais. Foi realizada uma rápida introdução às sociedades digitalizadas, na qual foi pontuado que, nesse cenário, o Facebook, com mais de 1 bilhão de usuários, tornou-se a terceira maior população do mundo, que o boca a boca se tornou o meio de comunicação mais importante, que a internet móvel permite a informação a qualquer hora, em qualquer lugar e a qualquer um; e que o poder é transferido das corporações para o indivíduo, das empresas para o consumidor. Consequentemente, produtores rurais são desafiados a encontrar maneiras de utilizar os aplicativos on-line a favor do seu próprio negócio.

UNINDO A COMUNIDADE AGRÍCOLA GLOBAL ON-LINE Muitos viram valor agregado no potencial das mídias sociais em abrir o conhecimento e compartilhar as melhores práticas, ponto a ponto (P2P), em comunidades virtuais. Na Holanda, uma wiki foi desenvolvida para esclarecer os meandros da agricultura de precisão. No LinkedIn, o grupo Agriculture tem mais de 27.000 membros de todo o mundo conectados, interagindo, discutindo temas relevantes e ainda fazendo negócio. No Facebook, a página AgChatOz da Austrália (com mais de 1.000 usuários) discute como as questões atuais afetam a indústria. Agentes da cadeia de alimentos estão buscando melhorar seus serviços considerando possibilidades on-line. O Rabobank, por exemplo, está desenvolvendo uma comunidade virtual, Virtual Farm Club, com – e para – seus clientes rurais. Este conceito favorecerá esta geração de produtores rurais e a próxima a compartilhar conhecimento e melhores práticas em uma mesa de cozinha virtual. Essa plataforma possibilitará o compartilhamento de informações ponto a ponto, o benchmarking eoportunidades de inovação com agricultores, independentemente da localização, mas com base em suas reais necessidades. Isso permite que os produtores rurais se tornem membros de uma comunidade global de agricultura, onde podem facilmente encontrar levantamentos feitos pelos departamentos de pesquisa do banco, discutir com outros membros locais ou globais, trocar ideias ou pedir orientação. Webinars, blogs com feedback direto e opções de enquetes aumentam a interação e diálogo entre agricultores.

OS “DEFENSORES” DAS MÍDIAS SOCIAISDurante o Global Farmers Master Class, uma série de palestrantes abordou a importância da opinião pública e da forma como ela afeta a imagem e a reputação dos agricultores e da agroindústria em geral. Os palestrantes ressaltaram como os produtores rurais e a agroindústria, em geral, podem aprender com a forma como grupos ativistas levantam questões, selecionando e ampliando um assunto e colocando-o de modo fácil de compreender, focando na comunicação da mensagem central, acompanhada de um ponto de vista cristalino. O conselho deles é: expressar uma opinião divergente e fazê-lo de modo “muito simples” (KISS = Keep It Short and Simple).

Os fazendeiros participantes do evento estavam muito conscientes da importância da opinião pública e da maneira como isso afeta seu setor, tanto diretamente quanto indiretamente por agentes do início ao fim da cadeia. A opinião pública faz com que varejistas e processadores repensem suas políticas de aquisição, as quais, por sua vez, afetam o negócio dos agricultores. Também, a opinião pública negativa com relação ao setor agrícola, seus produtos e métodos de produção reflete na imagem e na reputação do setor, o que, por sua vez, influenciará o interesse na educação agrícola e questões de sucessão. Muitos agricultores reconhecem que a massa crítica ou alguma forma de cooperação no setor é necessária para expressar melhor a perspectiva do produtor rural.

“No LinkedIn, o grupo Agriculture tem mais de 27.000 membros de todo o mundo conectados, interagindo, discutindo temas relevantes e ainda fazendo negócio.”

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Embora a aparente falta de conexão organizacional dos agricultores, o número de iniciativas para redes sociais voltadas à agricultura tem crescido. São iniciativas que têm como objetivo formar uma ponte entre o “urbano” e o “rural”. No Facebook, o jogo World Food Game foi cocriado por jovens. O jogo aborda o possível valor agregado de cooperativas para produção de alimentos. A intenção é fazer com que jovens (16 a 20 anos) sejam conscientes sobre a questão da segurança alimentar e o papel do produtor rural. Jogadores podem cultivar culturas e manter uma produção de animais virtuais. O objetivo é alimentar a maior quantidade de pessoas possível. A antecipação aos perigos e aos riscos, assim como uma boa e inteligente cooperação, é elemento-chave. O AgChatOz da Austrália, embora discuta questões relacionadas aos tópicos que afetam suas indústrias, também visa a unir australianos dos meios rurais e urbanos. Também da Austrália vem o The Target 100 (http://www.target.100.com.au)3, iniciado por criadores de gado e ovelhas que, com uma indústria mais ampla, tem como objetivo distribuir uma pecuária sustentável de gado e ovelha até 2020. O target 100 tem o compromisso de tomar medidas positivas, tanto pequenas quanto grandes, para continuamente melhorar a maneira com que os

produtores rurais operam e melhoram seu desempenho sustentável na cadeia de suprimento de carne vermelha. Como zeladores da terra, são responsáveis por deixá-la em melhor estado do que a encontraram. Estão convencidos que podem melhorar a eficiência e reduzir recursos. Para isso, esboçaram 100 iniciativas para pesquisa, desenvolvimento e extensão para serem financiadas pela indústria.

O Target 100 quer criar uma discussão aberta entre pecuaristas e a comunidade. Quer saber das preocupações, opiniões e sugestões de como deveriam continuar a produzir alimentos de qualidade de maneira ambientalmente, socialmente e economicamente sustentável. Os membros da comunidade podem postar suas perguntas sobre carne vermelha e ambiente, ou sobre como a comida é produzida, em um dos seus fóruns. Pecuaristas com um exemplo sustentável são convidados a apresentar um miniestudo de caso para mostrar o que estão fazendo e entrar em discussão no fórum. O target 100 dá a todos os pecuaristas a oportunidade de se relacionarem com uma comunidade e vice-versa; um grande espaço para construir uma ponte entre o urbano e o rural por meio das mídias sociais. Esta é só a ponta do iceberg. O vasto mundo da web está cheio de verdadeiros “defensores”.

“Target 100 tem o compromisso de tomar medidas positivas, tanto pequenas quanto grandes, para continuamente melhorar a maneira com que os produtores rurais operam e melhoram seu desempenho sustentável na cadeia de suprimento de carne vermelha.”

O mundo da web está cheio de verdadeiros “defensores”.

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O Futuro da Fazenda 2.0

MÍDIAS SOCIAIS

Como separar o joio do trigo e fazer com que as mídias sociais sejam relevantes para a agricultura? Este é provavelmente o maior desafio também para a agricultura, num mundo movimentado pelas mídias sociais, em que essa nova realidade deve ser abraçada em vez de ignorada. Abaixo, cinco sugestões importantes para reflexão:

1. A MUDANÇA DE PODERDentro da nova realidade da web 2.0, o poder de comunicação está com os seus usuários, e da web, e não mais com as grandes corporações. Dar voz aos interesses dos agricultores globais será mais forte se forem por meio da cooperação e organização de comunidades on-line. Se bem executadas, as mídias sociais têm o poder de reinventar ou, pelo menos, melhor equilibrar os interesses dos produtores rurais dentro da cadeia de suprimentos.

2. INOVAR A CONEXÃO COM OS CONSUMIDORES (FINAIS)A web abre muitas novas possibilidades de desenvolvimento de marcas e distribuição para produtores rurais fortalecerem o relacionamento com os consumidores finais. Existem muitas ferramentas simples on-line que não necessitam de consultoria cara, mas de uma simples e inovadora mentalidade: “eu posso fazer isso”.

3. MAIOR ACESSO AO CONHECIMENTOPara produtores rurais ao redor do mundo, isso aumentará a produtividade, o que contribuirá para a segurança alimentar. Os diversos conceitos de construir, expandir e promover vão, sem dúvida, fazer uma diferença positiva para a agricultura. Por exemplo, fazendas virtuais do tipo plataforma de grupos agrícolas, empresas de celular como a Nokia, bancos como Rabobank, ou pessoas como Julian Cribb e muitos outros. Também, na Fazenda 2.0, precisamos semear hoje para colher amanhã.

4. ACESSO AO FINANCIAMENTOAs mídias sociais, conforme mostrado pelo Kiva.org, por exemplo, favorecem o microfinanciamento através de empréstimos ponto a ponto. Os modelos de financiamento público e de Cooperativa 2.0 também apresentam um claro potencial de fornecer fundos para agricultores. Consideramos que o relacionamento pessoal será

sempre fundamental na agricultura, mas, sem dúvida, as mídias sociais valorizarão o relacionamento com fornecedores e trará uma maior transparência na cadeia. Transparência não somente nas taxas e impostos, mas o que é mais importante: saber que os prestadores de serviços financeiros oferecem reais soluções para o longo prazo, e não um dinheirinho rápido quando a época é boa.

5. INOVAÇÃOEscrever um livro sobre inovação não vale a pena, pois no momento de sua impressão já pode estar desatualizado. Porém, compartilhar a inovação e as fontes de financiamento agrícola, e conectar agricultores e ciência são claramente um benefício da fazenda virtual ou da Fazenda 2.0.

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SOLUÇÕES

- O surgimento do empreendedor rural

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O surgimento do empreendedor rural

SOLUÇÕES

Neste livro, abordamos muitos desafios e oportunidades relacionadas aos 6 S fundamentais para o futuro da agricultura na segurança alimentar (Nota: a estrutura dos 6 S diz respeito aos itens em inglês: Sucession, Sustainability, Social Enabling Factors, Supply Chain, Science, e Social Media). Nas próximas décadas, os agricultores terão que gerenciar a escassez de terra e de água, a qualidade do solo, a sustentabilidade, a sucessão agrícola, a cadeia de suprimentos, a ciência e o desenvolvimento, entre outras questões.

Não há dúvidas de que a agricultura hoje é algo que vai além de plantar uma semente no chão. Além dos desafios macroeconômicos discutidos anteriormente, os agricultores têm que lidar com várias tarefas desafiadoras em campos altamente diversos, incluindo produção e nutrição animal, produção de culturas, tributações e regulamentos, inovação, marketing, financiamento, gerenciamento de riscos e muito mais. Sem dúvida, a agricultura é um negócio complexo e, numa situação crítica de demanda crescente, difícil oferta e atmosfera de tensão, surge o empreendedor rural. Esses novos empreendedores rurais, homens e mulheres da Austrália até a Zâmbia, são as peças-chave para a segurança alimentar. Porém, conforme já ressaltado neste livro, os agricultores não conseguem resolver as questões de segurança alimentar sozinhos. Esta é uma responsabilidade que deve

Qualidade do solo e clima

Ambiente de capacitação social

Sustentabilidade

Sucessão

Cadeia de suprimento O surgimento do

empreendedor rural

Reduzir desperdício

“NAS PRÓXIMAS DÉCADAS, OS AGRICULTORES TERÃO QUE GERENCIAR A ESCASSEZ DE TERRA E DE ÁGUA, A QUALIDADE DO SOLO, A SUSTENTABILIDADE, A SUCESSÃO AGRÍCOLA, A CADEIA DE SUPRIMENTOS, A CIÊNCIA E O DESENVOLVIMENTO, ENTRE OUTRAS QUESTÕES. NÃO HÁ DÚVIDAS DE QUE A AGRICULTURA HOJE É ALGO QUE VAI ALÉM DE PLANTAR UMA SEMENTE NO CHÃO.”

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ser dividida globalmente com consumidores, revendedores, produtores, comerciantes, governos, acadêmicos, bancos e fazendeiros. Países deveriam usar o “Triângulo Dourado”; uma contínua cooperação entre ciência, governo e todos os agentes da cadeia de valor para encontrar soluções e melhorar a eficiência e a produtividade.

“Durante a reunião do fórum econômico e Mundial e do G8, empresários, especialistas públicos e acadêmicos discutiram a questão da segurança alimentar. Porém, ao invés de falarmos sobre agricultores, deveríamos falar com agricultores, já que são eles que estão alimentando o mundo e não os banqueiros, os políticos e os cientistas.” Berry Marttin, membro do Conselho Executivo do Rabobank na Holanda.

Sem dúvidas, é necessário mais diálogo na cadeia de valor e mais conversa com os agricultores ao invés de sobre os agricultores. Não há melhor lugar do que a mesa da cozinha de uma fazenda, com tortas de maçãs frescas, para reunir produtores de alimentos e conversar sobre o futuro da agricultura. Quantos cientistas, CEOs ou políticos visitaram uma fazenda recentemente? Em um real envolvimento e diálogo, sobre a mesa da cozinha, percebe-se que a economia agrícola, na perspectiva do campo, não anda expressiva. Embora os preços estejam subindo, as margens dos produtores estão muito menores do que o sugerido pelo preço das commodities agrícolas. Os agricultores estão, de um lado, pressionados pelos fornecedores de insumos, altamente consolidados no mercado, que buscam maximizar seus retornos; e, por outro lado, pelos consumidores finais que usam a força da demanda. A escassez de alimentos irá forçar as empresas a desenvolverem novas estratégias de suprimento para as próximas décadas. Isso resultará em um grande momento para os agricultores obterem uma margem mais justa, o que já era em tempo crucial para investimentos em sustentabilidade e maior rendimento. Claro que isso não será fácil e somente o empreendedor rural de verdade irá se beneficiar e crescer. Precisamos aumentar a expressividade da economia agrícola no campo para atrair a próxima geração de fazendeiros. Conforme ilustrado no capítulo sobre sucessão, além de melhorar a economia e criar novos modelos, é fundamental melhorar a imagem da agricultura. Por último, mas não menos importante, planejar a fazenda e preparar o sucessor com antecedência.

No capítulo sobre sustentabilidade, discutimos que quanto maior for a demanda por alimentos, menor será a disponibilidade de terra arável, água, fertilizantes, defensivos, entre outros, e menor será, também, a produção com menos emissões de poluentes. Colocando de modo mais simples, há somente um mundo para se viver e precisamos

produzir mais com menos. O ganho em produtividade das principais commodities tem caído a uma taxa de 1,4% por ano. Para atender a uma demanda crescente, essa taxa deveria ser de pelo menos 1,75% até 2050. O crescimento da produtividade na cultura do trigo, nos últimos 20 anos, decresceu a uma taxa de 0,5% ao ano. Tendência parecida foi observada para o arroz, de modo que os dois alimentos básicos mais importantes do mundo apresentaram quase nenhum aumento em rendimento devido à insuficiência de investimentos. Troca de experiência e investimento em P&D serão fundamentais para aumentar os ganhos em produtividade. É preciso, também, diminuir o grande desperdício que há ao longo da cadeia de valor, visto que, atualmente, um terço dos alimentos produzidos no mundo é perdido, uma quantidade grande o suficiente para alimentar dois bilhões de pessoas.

Porém, mesmo trabalhando com os melhores agricultores, solos e climas, tudo desmorona se não houver ambiente de capacitação social apropriado. Conforme discutido no capítulo sobre capacitação social, a agricultura é vital para o progresso. É o principal setor do crescimento econômico. Nenhum país conseguiu sair da pobreza sem aumentar a sua produtividade agrícola. Isso é especialmente verdadeiro na África, que combina grande necessidade com grande potencial. Devido à vasta área que pode ser convertida em produção de alimentos, com possibilidade de crescente aumento de produção, identifica-se um enorme potencial na África. Para capturar esse potencial, muitos pontos devem ser trabalhados simultaneamente, como melhorar a produtividade, consolidar a atividade, melhorar a infraestrutura, o acesso ao mercado e ao microcrédito. Educação e capacitação são fundamentais. Não somente a capacitação técnica, mas também a financeira, que começa por ter em mãos o primeiro montante para iniciar a atividade: dinheiro para a lavoura.

Neste livro nós apresentamos cinco histórias inspiradoras, exemplos reais e pragmáticos de sucesso na agricultura ao redor do mundo. Nós poderíamos ter contado as 50 histórias de todos os participantes do The Global Farmers Master Class, visto que cada uma é única e inspiradora ao seu modo. São histórias de empreendedores de verdade que, independentemente das suas diferenças culturais, apresentam questões comuns a serem trabalhadas. Porém, além dessas questões, há muita inspiração e conhecimento a ser dividido com colegas agricultores do mundo todo. Aprender uns com os outros e transferir conhecimento foi fundamental para levantar todas as soluções apresentadas em cada capítulo. O The Global Farmers Master Class foi um meio de se conseguir isso, assim como a fazenda virtual, apresentada no capítulo

“A escassez de alimentos irá forçar as empresas a desenvolverem novas estratégias de suprimento para as próximas décadas.”

“Educação e capacitação são

fundamentais. Não somente a capacitação

técnica, mas também a financeira, que

começa por ter em mãos o primeiro

montante para iniciar a atividade: dinheiro

para a lavoura.”

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sobre mídias sociais. Não somente para a porção mais expressiva do mercado, mas também para os agricultores de subsistência nos países em desenvolvimento com o uso de celular.

“Estórias, muitas vezes, dizem mais do que gráficos e números. Por exemplo, a história de um homem que conheci durante uma visita em Ruanda. Ele é cliente do Banco Popular de Ruanda (BPR) e conseguiu comprar uma vaca graças a um microcrédito. Sua vida melhorou muito depois disso. Ele foi capaz de sustentar sua família, construir sua própria casa e, mais tarde, enviar seu filho à universidade. Perguntei-lhe o que mais estava faltando em sua vida. Ele me disse que não precisava de mais nada e que agora seu único desejo era que nós continuássemos acreditando nele. Acreditar em agricultores em países em desenvolvimento foi, é e sempre será a nossa missão.”Sua Alteza Real, a Princesa Máxima da Holanda1.

No estudo de caso de Ruanda, discutimos o importante papel das cooperativas. Certamente, o modelo cooperativo apresenta desafios, porém acreditamos fortemente que é uma boa opção para reduzir a pobreza e aumentar a produtividade agrícola. Podemos dizer que há um terreno comum entre o cooperativismo e a agricultura: ambos são de planejamento para longo prazo e visam ao fortalecimento comunitário. Trata-se de plantar uma semente hoje, para colher amanhã, para um futuro sustentável, autossuficiente para nós, nossos filhos e os filhos dos outros. O cooperativismo ajuda a desenvolver bons agricultores. Bons agricultores alimentam o futuro. Bons agricultores têm o futuro nas mãos.

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AGRADECIMENTOS

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AGRADECIMENTOS

INSPIRAÇÃO O livro O Futuro da Agricultura e o Surgimento do Empreendedor Rural é inspirado nos participantes e apresentadores do Rabobank Global Farmers Master Class. Nós apreciamos muito o apoio e a contribuição de todos em fazer desse evento um sucesso e traduzir o resultado desse sucesso para este livro e também para os filmes de apoio. Um grande “obrigado” a todos os produtores rurais e apresentadores globais participantes!

Além destes, gostaríamos de fazer um agradecimento especial à Cristina, Dion, Gerjan, Koos e Ricardo, por compartilharem conosco suas histórias verdadeiras e inspiradoras de vida, mostrando como a agricultura é, acima de tudo, sobre pessoas que têm paixão pela atividade agrícola e fazem a diferença dando o seu melhor.

APRESENTADORES E/OU VISITANTES DO GFMCPeer Ederer (moderador), Aalt Dijkhuizen, Kim Lee, Joris Baecke, Danny Mekic, Ruud Huirne, Justin Sherrard, Louise Fresco, Berry Marttin, Emmo Meijer, Hans Bogaard, Rob Hansen, Paul Naar, Bruce Dick, Hans van der Loo, Wim Verzijlenberg, David Pendlington, Carel van der Hamsvoort, Renske Landeweert, Nan-Dirk Mulder, Albert Vernooij, Kevin Bellamy, Dirk Jan Kennes, Arnoud Leerling, Wim Bastiaanssen, Ad Bastiaansen, Paul Buisman, Erwin Houtzager, Reinier Smit, Gerard en Jeannet Brandsen, Johan Verbon, Erwin Bommersom, Hans van der Ster, Bart en Marco Boon, Dick Hak, Mrs Mbabazi (Embaixada da Ruanda).

Um agradecimento especial também à Universidade de Wageningen, EFAS, equipe RAG EDP, Rabobank Desenvolvimento de Bancos Parceiros, Rabobank Internacional, e à rede bancária holandesa pelo acesso à sua pesquisa abrangente e apoio.

Gostaríamos também de agradecer aos 50 agricultores holandeses que participaram do programa oferecendo estadia em suas fazendas para os participantes globais.

AS SEGUINTES PESSOAS REVISARAM A SELEÇÃO DE CAPÍTULOS PERTINENTES À SUA ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO. OBRIGADO POR TODAS AS SUGESTÕES!Um número de agricultores e as seguintes pessoas: Julian Cribb, Neil Dobbin, Carel van der Hamsvoort, Harry Smit, Ruud Huirne, Aalt Dijkhuizen, Kim Lee, Danny Mekic, Rens Dinkhuijsen, Bruce Dick, Ben Russell, Thos Gieskes, Rob van Zadelhoff, Peter Knoblanche, Suzanne Buchwaldt, Hans Loth, Lydia Koopmans, Anke van der Zanden, Hans Bogaard, Sylvie Lamborelle, Martha van den Berg, Sisca Plinck, Sanne van Bemmel (estagiário).

E por último, mas não menos importante, gostaria de agradecer Berry Marttin por seu contínuo apoio na realização deste livro e do evento Global Farmers Master Class. Sua perspicácia, inspiração e visão sobre o futuro da agricultura combinados com a sua paixão e raízes agrícolas foram fundamentais para a realização deste livro e do Global Farmers Master Class.

PRINCIPAIS AUTORES POR CAPÍTULOPrefácioPiet MoerlandIntroduçãoEdwin van Raalte, Marjan van RielSucessãoEdwin van Raalte, Bart IJntema, Rene Kester (trainee)SustentabilidadeEdwin van Raalte, Marjan van Riel, Bart IJntemaCapacitação SocialEdwin van Raalte, Tim Nieman (estagiário), Jacob Dankert(estagiário), Bart IJntemaCadeia de SuprimentoBart IJntema, Marjan van Riel, Edwin van Raalte, Tim Nieman(estagiário)Mídia SocialEdwin van Raalte, Camille van de Sande SoluçõesEdwin van RaalteEstórias InspiradorasEdwin van Raalte, Tammie Nolte

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Exceto para cadeia de suprimentosBart IJntema, Camille van de Sande, Edwin van RaalteIdeia, conceito e estruturaBerry Marttin, Edwin van Raalte

QR VÍDEOSVídeo sobre segurança alimentarTim Coomber (www.wordstructure.com), Ashley Roan(www.page2.com.au), Edwin van Raalte, Camille van deSande, Global Farmers Master Class visão geral e entrevistasAshley Roan (www.page2.com.au), Edwin van Raalte, Camillevan der Sande.

FOTOGRAFIASAgradecimento às seguintes pessoas:IntroduçãoCristina Kress (p. 12) and Bart IJntema (p. 12)Edwin van Raalte (p. 15)SucessãoCristina Kress (p. 21, 23, 24, 25)Edwin van Raalte (p. 34)Sanne van Bemmel (p. 38)SustentabilidadePaul van Oss (c) (p. 41) http://paulvanoss.zenfolio.comDion Tuuta (p. 46)Cristina Kress (p. 53)Edwin van Raalte (p. 63)Capacitação SocialKoos van der Merwe (p. 74, 77, 78)Edwin van Raalte (p. 89)Cadeia de SuprimentosEdwin van Raalte (p. 94, 101, 102, 103, 104)Mídia SocialPaul van Oss (c) (p. 120, 127, 129, 143)http://paulvanoss.zenfolio.comKraay Family Farm, Rachel Kraay (p. 133)Edwin van Raalte (p. 134)Maarten Korz (p. 140)AgradecimentosAshley Roan (p. 144)

À EQUIPE GLOBAL FARMERS MASTER CLASSEdwin van Raalte, Bart IJntema, Camille van de Sande, Marinda Verbakel, Iris Wortel, Marjan van Riel (Wageningen University, EFAS), Peer Ederer (EFAS moderador), Rene Kester (estagiário) e Jacob Dankert (estagiário)

Obrigado à nossa excelente equipe de suporte para o Global Farmers Master Class: Marinda Verbakel e Iris Wortel

DIREÇÃO DE ARTE E DESIGNObrigado Tim Buckley e Mairead Gleeson da AB Publishing pelo seu excelente apoio como editora e pelas obras de arte e design. AB, 24-26 Grande Suffolk Street, London SE1 0UE. www.abcomm.co.uk.

[email protected]

DIREITOS AUTORAISNenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, em qualquer forma, por impressão, foto, microfilme ou qualquer outro meio sem permissão por escrito. AVISO LEGALA AB Publishing, o Rabobank e os demais autores se isentam da obrigação de aceitar qualquer responsabilidade por qualquer dano direto ou consequência que possam advir de qualquer utilização deste documento, do seu conteúdo ou de outros que tenham conexão com este. Este livro foi escrito a partir da perspectiva mais ampla do agricultor e de contribuições combinadas e, por conseguinte, não necessariamente reflete os pontos de vistas individuais de cada agricultor, organização ou palestrante envolvido.

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REFERÊNCIAS

INTRODUÇÃO1. Breisinger, C., Ecker O. and Al-Riffai P., 2011, Economics of the Arab awakening [online].Disponível em: www.ifpri.org/sites/default/files/publications/bp018.pdf(Acessado em Novembro de 2012).

2. FAO, 2012, The state of food insecurity in the world [online]. Disponível em:www.fao.org/docrep/016/i3027e/i3027e00.htm(Acessado em Dezembro de 2012).

SUCESSÃO1. USDA, 2007, Census of agriculture, farmers by age [online]. Disponível em:www.agcensus.usda.gov/Publications/2007/Online_Highlights/Fact_Sheets/Demographics/farmer_age.pdf(Acessado em Novembro de 2012).2. ABARES, 2012, All broadacre industries selected physical and financial estimates, by state[online]. Disponível em: www.daff.gov.au/abares/surveys(Acessado em Novembro de 2012).3. Global census reports (2006-2010), recuperada a partir de sites do censo de cada país,incluindo www.census.gov, www.abs.gov.au,www.statcan.gc.ca/, www.conapo.gob.mx/,www.ibge.gov.br/english/, www.ine.cl, www.indec.gov.ar andwww.unfpa.org.pe/.4. Resource magazine (2012) Wageningen UR, 20125. Hoppe, R. and D.E. Banker, 2010, Structure and finance of US farms: family farm report,2010 edition; USDA-ERS Economic Information Bulletin No. (EIB-66) 77 pp6. ERS/USDA, 2011, EIB-9. Changing farm structure and the distribution of farm paymentsand federal crop insurance7. Global Agriculture [online]. Disponível em: www.globalagriculture.org(Acessado em Dezembro de 2012).8. Van Raalte, E., Rabobank Australia, 2010, Internal study farm performance Australia &New Zealand9. CBS, 2012, Webmagazine [online]. Disponível em:www.cbs.nl/nl-NL/menu/themas/landbouw/publicaties/artikelen/archief/2012/2012-3722-wm.htm(Acessado em Dezembro de 2012).

SUSTENTABILIDADE1. FAOstat. Food supply (kcal/capita/day) 1961 vs 20092. WWF, 2012, Living Planet Report 2012 (Summary, 24 pp)3. FAO, 2006, Livestock’s Long Shadow – environmental issues and options4. FAO, Gustavsson, et al., 2011, Global food losses and food waste; extent, causes andprevention; 30 pp

5. FAO [online]. Disponível em: www.fao.org. Water at a glance – the relationship betweenwater, agriculture, food security and poverty; 15 pp6. UN, 2012 [online]. Disponível em: www.un.org/waterforlifedecade/scarcity.shtml7. UN Water, 2012 [online]. Disponível em: www.unwater.org8. M. de Vries and I.J.M. de Boer, 2010, Comparing environmental impacts for livestockproducts: a review of life cycle assessments, Livestock Science 128; 1–119. FAO, 2012 [online]. www.fao.org/index_en.htm10. Capper, et al., 2009, The environmental impact of dairy production: 1944 comparedwith 2007; Journal of Animal Science 87: 2160-2167.11. Blonk and Kool, 2012, De duurzame voedselketen; 106-10812. Wageningen UR News 22 March 2012, Phosphate problem less urgent than expected13. EFAS Friesland Campina in-company case, 2011, Create, care, change – together14. Pohle G. and J. Hittner, IBM Institute for Business Value, 2008, Attaining sustainablegrowth through corporate social responsibility, page 4 (18 pp)15. Berns, M. et al, 2009, MIT Sloan Management Review, The business of sustainability –findings and insights from the first annual business of sustainability survey and the globalthought leaders’ research project; p21 (82 pp)16. R. Bauer and D. Hann, 2010, Corporate environmental management and credit risk,Maastricht University, ECCE, 44 pp17. Dekker, et al., 2011, Livestock science 139; 109-12118. Agri Vision (2003)

NOTAS DE RODAPÉ:i. Novos cálculos da FAO baseados em LCA, que deverão ser publicados em 2013, mostram um menor impacto global de 15%.

CAPACITAÇÃO SOCIAL1. FAO, 2009, Global Agriculture Towards 2050 [online]. Disponível em:www.fao.org/fileadmin/templates/wsfs/docs/Issues_papers/HLEF2050_Global_Agriculture.pdf(Acessado em Junho de 2012).2. USDA, 1998, Inherent land quality assessment [online]. Disponível em:http://soils.usda.gov/use/worldsoils/mapindex/landqual-map.zip(Acessado em Junho de 2012).3. World Bank, 2012, statistics [online]. Disponível em:http://data.worldbank.org/data-catalog(Acessado em Junho de 2012).4. The Economist, 2012, statistics [online]. Disponível em: http://viewswire.eiu.com/(Acessado em Junho de 2012).5. FAO, 2012 [online]. www.fao.org/index_en.htm6. Republic of Rwanda, Ministry of Finance and Economic Planning, 2012, Rwandavision 2020.

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CADEIA DE SUPRIMENTOS1. LEI, 2011, Actualisation return on equity in Dutch agribusiness chains 2000-2009 (pork,dairy, vegetables and fruits); 10 pp2. A. Martinez Palou and E. Rohner-Thielen, 2011, From farm to fork – a statisticaljourney along the EU’s food chain, EUROSTAT, Statistics in Focus 27/2011, 11 pp3. US Government Accountability Office, 2009, Concentration in agriculture. ReportGAO-09-746R4. FAO, 1995, Staple foods. What do people eat? (com respeito à ingestão de alimentos energéticos) [online].Disponível em: www.fao.org/docrep/u8480e/u8480e07.htm(Acessado em Dezembro de 2012).5. C. van der Hamsvoort et al., 2011, Rethinking the F&A supply chain – impact ofagricultural price volatility on sourcing strategies, Rabobank FAR, 46 pp

MÍDIA SOCIAL1. Cribb, J., 2011, Virtual farm project [online]. Available at:www.asc.asn.au/blog/2011/11/25/virtual-farm-project/(Acessado em Novembro de 2012).2. National Trust, 2012 [online]. Available at:www.nationaltrust.org.uk/what-we-do/big-issues/food-and-farming/myfarm/(Acessado em Dezembro de 2012).3. Target 100, 2012 [online]. Available at: www.target100.com.au(Acessado em Novembro de 2012).

SOLUÇÕES1. Sua Alteza Real, a Princesa Máxima da Holanda, no seu discurso de aberturadurante a conferência “Trabalhando juntos para a estabilidade internacional de alimentos”, realizada em01 de novembro de 2012, em Haia (The Hague) [online]. Disponível (em holandês) em:www.koninklijkhuis.nl/nieuws/toespraken/2012/november/toespraak-van-prinsesmaxima-op-het-congres-‘samenwerken-aan-internationale-voedselstabiliteit’-ridderzaal-te-den-haag/E o vídeo: http://foodandcooperatives.com/archives/2038

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