2
Geografia A - Apostila 03 geografia GEOGRAFIA a APOSTILA 03 33 Colonialismo e Descolonização na África Fonte: Almanaque Abril 2003 A África pode ser dividida em duas partes: a parte setentrional (África Branca) e a parte da África situada ao sul do Saara (Subsaariana ou África Negra). A colonização europeia se deu a partir de meados do século XIX, quando atividades de exploradores e cientistas europeus no continente africano despertaram a atenção das potências da Europa para essa parte da Terra, anteriormente tocada apenas perifericamente por portugueses, espanhóis e outros. O continente, em pouco tempo, foi sendo repartido entre alguns Estados europeus, partilha esta praticamente sancionada internacionalmente pelo Congresso de Berlim em 1885. Durante as quatro primeiras décadas do século passado, a África apresentou-se como um continente colonial - verdadeiro quintal da Europa. Suas terras encontravam-se repartidas, praticamente na sua totalidade, entre alguns Estados europeus. A partilha da África ocorreu numa época em que o continente era ainda praticamente desconhecido. Os territórios foram sendo abrangidos por este ou aquele império colonial, praticamente sem nenhuma atenção às condições naturais do continente, às diferenças étnicas e às tradições de sua população. As fronteiras, frequentemente traçadas arbitrariamente, em face das condições locais, e atendendo tão-somente às resultantes dos conflitos de interesses entre as potências europeias, expressas por suas características, particularmente por seus traçados quase sempre artificiais, soluções de grande instabilidade. Essas fronteiras são eventualmente corrigidas, porém sempre em função dos referidos interesses. Sob esse aspecto talvez a África conheça seu maior drama. No momento em que se emancipa politicamente, percebe a possibilidade de se desenvolver economicamente, como seria de se desejar, sem que houvesse qualquer forma de auxílio externo. No entanto, a emancipação passa a significar, em muitos casos, outras formas de dependência. África Meridional e o fim do Apartheid As guerras de independência de Angola e Moçambique tiveram início nos anos 60 e só terminaram em 75 com a saída dos portugueses. No entanto, a emancipação política não trouxe para estes países a paz tão esperada. A luta contra os portugueses foi substituída pela Guerra Civil entre as várias facções que haviam combatido as tropas coloniais e, agora disputavam o poder. Em Angola, lutavam o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) que ocupava o governo e era apoiada pela então União Soviética e por Cuba, e a UNITA (União Nacional pela Independência Total de Angola) apoiada pelos Estados Unidos e África do sul. Em Moçambique, a Guerra Civil envolvia a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) que governava o país e recebia ajuda da união Soviética, e a RENAMO (Desistência Nacional Moçambicana) auxiliada pela África do Sul. No início dos anos 90, já no contexto da passagem para a nova ordem mundial, a FRELIMO abandonou sua proposta de instalação do Socialismo e promoveu a abertura econômica e política do país. Reconheceu os partidos de oposição e abriu negociações com a RENAMO, tentando alcançar a paz. Outro fator que agrava a situação civil nesses dois países é a forte epidemia de AIDS que assola a região. Estima- se que em Moçambique, 14% da população têm AIDS e a expectativa de vida projetada para 2005 é de apenas 35 anos. Aliás, em relação à África subsaariana (parte da África situada ao sul do deserto do Saara) estima-se que existam 25 milhões de casos de pessoas portadoras do vírus HIV ou pessoas que já desenvolveram a doença. Esta situação, associada aos altos índices de miséria e a guerra civil transforma essa parte da África em uma das mais sensíveis e que mais merecem atenção em todo o mundo. Ali está presente a pior faceta do flagelo humano: a fome associada à doenças e confrontos civis. A república Sul-Africana é o mais rico país africano, com mais de 41 milhões de habitantes e um agropecuária bastante diversificada, mecanizada, que muito se difere os seus vizinhos, e uma indústria razoavelmente sofisticada que responde pela metade da renda nacional. No entanto, existem duas “Áfricas” do Sul, sendo que uma é de primeiro mundo, semelhante à Austrália ou ao Canadá, rico e com padrões salariais elevados, além de ótimos indicadores sociais: a África do Sul dos brancos. A outra é comparável aos piores países africanos, onde a mortalidade infantil, o analfabetismo e a expectativa de vida são só menos piores que os salários e a qualidade das habitações: é a África do Sul dos negros.

geografia APOSTIL 3 · 2019-10-03 · Na parte setentrional da África estende-se, com amplas ondulações, entre cerca de 12° e 20° Na zona conhecida pelo nome de Sahel, que vai

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: geografia APOSTIL 3 · 2019-10-03 · Na parte setentrional da África estende-se, com amplas ondulações, entre cerca de 12° e 20° Na zona conhecida pelo nome de Sahel, que vai

Geografia A - Apostila 03

geografia GEOGRAFIA aAPOSTILA 03

33

Colonialismo e Descolonização na África

Fonte: Almanaque Abril 2003

A África pode ser dividida em duas partes: a parte setentrional (África Branca) e a parte da África situada ao sul do Saara (Subsaariana ou África Negra).A colonização europeia se deu a partir de meados do século XIX, quando atividades de exploradores e cientistas europeus no continente africano despertaram a atenção das potências da Europa para essa parte da Terra, anteriormente tocada apenas perifericamente por portugueses, espanhóis e outros. O continente, em pouco tempo, foi sendo repartido entre alguns Estados europeus, partilha esta praticamente sancionada internacionalmente pelo Congresso de Berlim em 1885.Durante as quatro primeiras décadas do século passado, a África apresentou-se como um continente colonial - verdadeiro quintal da Europa. Suas terras encontravam-se repartidas, praticamente na sua totalidade, entre alguns Estados europeus.A partilha da África ocorreu numa época em que o continente era ainda praticamente desconhecido. Os territórios foram sendo abrangidos por este ou aquele império colonial, praticamente sem nenhuma atenção às condições naturais do continente, às diferenças étnicas e às tradições de sua população.As fronteiras, frequentemente traçadas arbitrariamente, em face das condições locais, e atendendo tão-somente às resultantes dos conflitos de interesses entre as potências europeias, expressas por suas características, particularmente por seus traçados quase sempre artificiais, soluções de grande instabilidade. Essas fronteiras são eventualmente corrigidas, porém sempre em função dos referidos interesses.Sob esse aspecto talvez a África conheça seu maior drama.

No momento em que se emancipa politicamente, percebe a possibilidade de se desenvolver economicamente, como seria de se desejar, sem que houvesse qualquer forma de auxílio externo. No entanto, a emancipação passa a significar, em muitos casos, outras formas de dependência.

África Meridional e o fim do Apartheid

As guerras de independência de Angola e Moçambique tiveram início nos anos 60 e só terminaram em 75 com a saída dos portugueses.No entanto, a emancipação política não trouxe para estes países a paz tão esperada. A luta contra os portugueses foi substituída pela Guerra Civil entre as várias facções que haviam combatido as tropas coloniais e, agora disputavam o poder.Em Angola, lutavam o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) que ocupava o governo e era apoiada pela então União Soviética e por Cuba, e a UNITA (União Nacional pela Independência Total de Angola) apoiada pelos Estados Unidos e África do sul. Em Moçambique, a Guerra Civil envolvia a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) que governava o país e recebia ajuda da união Soviética, e a RENAMO (Desistência Nacional Moçambicana) auxiliada pela África do Sul.No início dos anos 90, já no contexto da passagem para a nova ordem mundial, a FRELIMO abandonou sua proposta de instalação do Socialismo e promoveu a abertura econômica e política do país. Reconheceu os partidos de oposição e abriu negociações com a RENAMO, tentando alcançar a paz.Outro fator que agrava a situação civil nesses dois países é a forte epidemia de AIDS que assola a região. Estima-se que em Moçambique, 14% da população têm AIDS e a expectativa de vida projetada para 2005 é de apenas 35 anos. Aliás, em relação à África subsaariana (parte da África situada ao sul do deserto do Saara) estima-se que existam 25 milhões de casos de pessoas portadoras do vírus HIV ou pessoas que já desenvolveram a doença. Esta situação, associada aos altos índices de miséria e a guerra civil transforma essa parte da África em uma das mais sensíveis e que mais merecem atenção em todo o mundo. Ali está presente a pior faceta do flagelo humano: a fome associada à doenças e confrontos civis. A república Sul-Africana é o mais rico país africano, com mais de 41 milhões de habitantes e um agropecuária bastante diversificada, mecanizada, que muito se difere os seus vizinhos, e uma indústria razoavelmente sofisticada que responde pela metade da renda nacional.No entanto, existem duas “Áfricas” do Sul, sendo que uma é de primeiro mundo, semelhante à Austrália ou ao Canadá, rico e com padrões salariais elevados, além de ótimos indicadores sociais: a África do Sul dos brancos.A outra é comparável aos piores países africanos, onde a mortalidade infantil, o analfabetismo e a expectativa de vida são só menos piores que os salários e a qualidade das habitações: é a África do Sul dos negros.

Page 2: geografia APOSTIL 3 · 2019-10-03 · Na parte setentrional da África estende-se, com amplas ondulações, entre cerca de 12° e 20° Na zona conhecida pelo nome de Sahel, que vai

geografia aapostila 03 geografia

Geografia A - Apostila 0334

Esses dois “países” tão distintos ocupam o mesmo espaço e abrigavam a mesma sociedade, separada por uma lei racista em duas partes tão distintas.Em 1908 é aprovado o sistema de “Segregation” que determina leis especiais aos grupos étnicos e impedia aos não brancos de terem poder político.O regime segregacional, o Apartheid, teve aí suas origens, já que a população de origem anglo-holandesa tinha como objetivo concentrar a população negra em bantustões, ou guetos. Ao final da concentração, esses bantustões seriam declarados independentes. O objetivo era realizar o embranquecimento, até o ponto em que só houvesse brancos na África do Sul, ainda que diversas cidades-estados negras pontilhassem no mapa do país. O Lesoto, país encravado no meio da África do Sul, é na verdade um grande gueto. O fim do regime segregacionista se deu através de pressões internas, com constantes manifestações e confrontos com a polícia, e principalmente em decorrência do isolamento internacional que enfraqueceu a economia e o regime sul-africano. O grande desafio que se coloca para a República da África do Sul é manter a estabilidade política e garantir o crescimento econômico necessário para a superação das diferenças sociais.

Conflitos na África Central

A colonização do Congo iniciou-se em meados do Século XIX, mediante a assinatura de um tratado entre o explorador francês Conde Savorcjnan de Brazza e o chefe tribal dos Batekes. O território conquistou a independência em 1960. Depois de 1998, quando explodiu a guerra civil no país, a República Democrática do Congo se viu envolvida em um dos mais sangrentos conflitos na recente história do continente africano. Naquela época, dois grupos, apoiados de um lado pela Ruanda e por Uganda se rebelaram contra o presidente Laurent Kabiia. O assassinato de Kabiia, em janeiro de 2001, só fez aumentar a violência, agora, representantes do governo do Congo, de grupos armados, de partidos políticos e da sociedade civil da RDC ratificou, na África do Sul, o armistício que coloca fim a um conflito que ameaçou se estender para outros países africanos. Organizações internacionais calculam que mais de 2,5 milhões de pessoas, em sua maioria civis, morreram nos quatro anos e meio que durou o conflito.O acordo inclui os mecanismos para a formação de um governo de unidade nacional, que administrará durante dois anos o antigo Zaire, até que novas eleições gerais sejam convocadas. As futuras eleições deverão ser as primeiras a serem realizadas no país, desde a independência da Bélgica em 1960. O processo de paz na República Democrática do Congo teve início há aproximadamente um ano. Naquela ocasião, os representantes do atual presidente congolês, Joseph Kabila, o Agrupamento Congolês para a Democracia (ACD), o Movimento Congolês de Liberação (MCL) e vários partidos políticos daquele país haviam chegado a um acordo amplo sobre o armistício, exceto rio campo militar. Somente agora isso foi possível. O acordo de paz prevê

que Joseph Kabila como chefe de Estado, que terá no governo a presença de quatro vice-presidentes, cada qual a ser designado, respectivamente pelo próprio governo, pela. ACD, o MCL e a oposição política não armada. Em 1885, na Conferência de Berlim, as potências europeias dividem entre si a maior parte da África. O território que corresponde ao atual Burundi é colocado na área de influência da Alemanha. A chegada dos colonos alemães, a partir de 1906, agrava antigas rivalidades entre os hutus (a maioria da população) e a minoria tutsi, que exercia o poder em um regime monárquico. Os tutsis ganham status de elite privilegiada, com acesso exclusivo à educação, às Forças Armadas e a postos na administração estatal. O choque entre os hutus e tutsis se arrasta por vários anos, com troca de acusações e conflitos de ambos os lados. Sob intensa pressão de Nelson Mandela e dos EUA, um frágil acordo de paz é selado em Arusha, em agosto de 2000. Das 19 facções políticas presentes, cinco delas boicotam os documentos finais, que prevê a realização de eleições e a reforma do Exército (dominado pelos tutsis) num período de três anos. O conflito em Ruanda não é diferente. A região é habitada originalmente por pigmeus e, mais tarde, pelos hutus, povo banto da bacia do rio Congo. Por volta do século XV, os tutsis, pastores de grande estatura oriundos da Etiópia, chegam ao local e impõem domínio feudal aos hutus, mais numerosos. Os europeus vêm no século XIX, e em 1899 a Alemanha declara seu protetorado sobre o território. Com a derrota alemã na I Guerra Mundial, os belgas ocupam Ruanda. Num primeiro momento, reforçam o papel hegemônico dos tutsis, dotando-os de poder político, econômico e militar. Nos anos 50, favorecem a formação de uma elite hutu. Dessa forma, aguçam a antiga rivalidade entre os povos locais para dominá-los. Em 1962, a nação obtém a independência sob a liderança dos hutus. Perseguidos, os tutsis vão para os países vizinhos. Os tutsis exilados formam a Frente Patriótica Ruandesa (FPR) e, em 1990, invadem o norte de Ruanda, exigindo participação no governo e o direito de retornar ao país. A partir daí vários conflitos são deflagrados, sempre com os tutsis procurando seu espaço dentro do país e a oportunidade de retomar seu lugar em Ruanda, porém são massacrados em 1994 tanto no Burundi quanto em Ruanda, constituindo no massacre de Ruanda/Burundi com mais de 1 milhão de mortos.Sahel e Norte da ÁfricaNa parte setentrional da África estende-se, com amplas ondulações, entre cerca de 12° e 20° Na zona conhecida pelo nome de Sahel, que vai desde o Atlântico ao mar Vermelho. Para o norte dela fica o vasto deserto do Saara e para sul a zona de savanas dita Sudanesa. A região do Sahel é constituída pelos territórios dos seguintes países: Sudão, Mali, Níger, Mauritânia, Chade, Eritréia, Etiópia e Somália. Atualmente o maior problema enfrentado pela região do Sahel é a desertificação, em que o vizinho deserto do Saara avança impiedosamente ajudado pela situação da região, que pode ser apresentada como um misto de pobreza, fome, destruição de recursos naturais vitais (como água, vegetação e solo). A seca mais recente e longa teve lugar entre 1968 e 1974. As perdas de