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Brazilian natives
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Maio de 2008
Maranhão. Na calada da noite, dois homens armados invadem a aldeia Anajá, dos índios guajajaras, e começam a atirar aleatoriamente. Uma menina índia, de 6 anos, chamada Maria dos Anjos Paulino Guajajara, é atingida e morre com um tiro na cabeça.
O ocorrido não ganha espaço nem tem repercussão na grande mídia.
Esta apresentação é dedicada à pequena Maria dos Anjos.
Onde quer que estejas, pequenina índia,
brinque em paz...
- Índios -
Para se mudar o presente, faz-se necessário olhar para o passado.
Estar disposto a enxergar os erros
cometidos,
a reconhecê-los, de modo a garantir que não
mais se repitam...
Ao desembarcar, há cinco séculos, nas terras brasileiras,
os navegantes portugueses depararam-se com comunidades
indígenas firmemente estabelecidas.
Neste Novo Mundo, os colonizadores brancos encontraram uma cultura
que até então não conheciam:
As comunidades indígenas com suas tradições milenares,
ritos, danças, idiomas.
Uma outra espiritualidade, um outro modo de vida...
Os indígenas perguntaram-lhes com o olhar o que ali faziam,
o que queriam.
Os invasores não se deram ao trabalho de responder.
Os colonizadores, à época do descobrimento, nem sequer admitiram a condição de seres humanos
aos povos indígenas,considerando-os
selvagens sem alma, a serem escravizados, humilhados e utilizados como mão-de-obra nos canaviais e engenhos.
As tribos que mostraram resistência, que não se deixaram
subjugar, foram dizimados.
Mulheres, homens e crianças, corpos trêmulos,
rostos angustiados, mãos erguidas
implorando misericórdia.
Antes do ano 1.500, no Brasil, os povos indígenas somavam 5 milhões,
espalhados em 900 etnias.
Hoje, passados cinco séculos, foram reduzidos a 540 mil em 206 etnias remanescentes.
Antes do ano 1.500, no Brasil, os povos indígenas somavam 5 milhões,
espalhados em 900 etnias.
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, havia em torno de 1.300
línguas indígenas. Hoje restam cerca de 170.
As comunidades indígenas, com suas concepções igualitárias,
solidárias, com o seu culto à Vida e à Natureza, apresentavam-se
tão distantes dos interesses que moviam os colonizadores.
Tão distantes se apresentam até hoje dos interesses
que movem a nossa sociedade moderna.
Segundo o presidente da Funai, - Fundação Nacional do Índio -, o historiador Márcio Meira, o preconceito contra índios está passando
por uma fase de recrudescimento.
Um dos principais fatores para esta nova onda de
preconceito é a expansão econômica, especialmente do agronegócio, em direção às
regiões onde vivem os índios.
De acordo com Meira, ainda impera no País uma visão de progresso segundo a qual
tudo que impede o seu avanço deve ser destruído, - seja a Natureza, sejam seres
humanos.
Ainda de acordo com o presidente da Funai,
o preconceito também deve-se em parte ao desconhecimento da realidade indígena.
Muitas vezes, associamos os índios a antigos
estereótipos, como se ainda vivessem no
passado, constituindo um povo preguiçoso, incapaz e inferior.
É o caldo de cultura propício ao preconceito.
Quinhentos anos passados, ainda não aprendemos a
valorizar a valiosa herança cultural indígena, que levou
milhares de anos para chegar até nos.
E as nossas escolas a ensinar às
nossas crianças muito pouco, quase nada,
sobre a cultura indígena.
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Roraima
Estados com os maiores índices de desmatamento.
Biocombustíveis –
etanol, metanol, biodiesel
Crescimento desordenado das áreas urbanas
Agronegócios –
aumento do preço da soja e da carne no mercado internacional, expansão da fronteira agrícola
Especulação fundiária
Indústria madeireira
Empresários com sede insaciável de lucro
Deputados e Senadores da bancada ruralista
Prefeitos madeireiros
Governadores latifundiários
Desmatamento
Devastação
Sofrimentos
Injustiças...
Empresários com sede insaciável de lucro
Deputados e Senadores da bancada ruralista
Prefeitos madeireiros
Governadores latifundiários
(triste novo progresso dos nossos tempos...)
Vista aérea de queimada em área florestal Município de Novo Progresso, Pará
Em breve, mais uma plantação de soja, ou mais um pasto para pecuária.
Mais um carregamento de madeira extraída ilegalmente, apreendido pelo Ibama
Carreta sem placa passa tranqüilamente numa estrada do Pará, carregando uma tora de madeira nobre.
mais um acréscimo à conta bancária de algum rico empresário madeireiro da região.
Numa terra sem lei nem fiscalização, menos uma árvore centenária na floresta,
A fumaça que cega.
A terra devastada.
No olhar, o sofrimento,a espera...
Índias da etnia MakuxiReserva Raposa Serra do Sol, Roraima
Ao ignorarmos e destruirmos o que resta
da cultura indígena,
talvez estejamos ignorando e destruindo a parte mais bela do
mosaico que compõe a nossa essência
humana.
a verdadeira união,- seja com o nosso
próximo, seja com a Natureza...
A inocência,
a docilidade,
a pureza,
Coração
Alma
Corpo físico
(quando e como foi que consentimos com a sua ruptura?...)
E o que sabemos sobre a vida que aqui existia
antes das tantas cidades
erguidas?O que sabemos sobre as nossas raízes mais profundas?
E o que sabemos sobre a vida que aqui existia
antes das tantas cidades
erguidas?O que sabemos sobre as nossas raízes mais profundas?
O que sabemos sobre os segredos
do Universo?
O que sabemos sobre os cheiros
primordiais da terra?...
O que sabemos sobre a cultura de cada uma das 200 etnias indígenas
que ainda existem?
E o que sabemos sobre a história das 700 etnias
para sempre extintas?
O que sabemos sobre a nossa
própria alma?...
Cores, Sonhos,
Desenhos,
O vermelho do
urucum...
Mitos, Ritos, Significados,
Sentido.
...e o azul, quase negro, do jenipapo.
Olhar, Ver, Reparar
Ter ouvidos para outros cantos, outros idiomas, outras histórias...
Pintar não somente o rosto, mas a alma, com as cores
do urucum e do jenipapo.
Banhar no rio da Compaixão e do Amor
Universal.
Na aldeia dos guajás, um antigo costume da tribo é a adoção de pequenos
animais órfãos.
Porcos-do-mato, quatis, macacos, preguiças e aves
são criados como se fossem da família.
Conforme acreditam, esta é uma forma de se retribuir à Natureza por
tudo o que ela nos oferece.
Uma forma de se reverenciar a Vida.
É preciso pôr-se de joelhos, reverente, para poder escutar o Silêncio.
O Silêncio que nos possibilita reparar as coisas mais simples, e
valorizar o que é belo...
E o que nós, “civilizados”, sabemos sobre a Bondade, a Compaixão,
sobre a grandeza espiritual,...
...sobre o Amor genuíno manifestado pelos
puros de coração,
- amor este que faz o
mundo girar?
Os animais adotados pela tribo se tornam intocáveis,
jamais sendo mortos, ganhando a condição de bichos de estimação.
Breve é a nossa
passagem por esta vida terrena. Ontem chegamos,
hoje nos banhamos no Rio da Vida,
amanhã partiremos.
O Rio da Vida já corre há muito antes do nosso nascimento,
e continuará a fluir, indiferente, após
a nossa partida.
Uma breve fatia de tempo nos é destinada.
Aquilo que plantamos, colheremos.
Ontem chegamos, hoje sonhamos,
amanhã onde estaremos?
E qual será a colheita que o dia de amanhã
nos reserva?
Basta olhar o que hoje fazemos...
Para que servirão os nossos olhos,
caso desviemos o olhar do
sofrimento do nosso próximo?
De que terá servido a nossa
breve vida terrena,se não formos capazes de enxergar a centelha divina
que reluz em cada ser vivoe que nos remete ao
nosso Criador único?...
Aldeia Kamayura, Xingu, Mato Grosso
Crianças da etnia Yawanawa, Amazonas
Pajé da etnia Kuikuro,Mato Grosso
Índia da etnia Kaxinawa,Acre, Região Amazônica
“O mundo espiritual deles, algo misterioso e milenar, simplesmente os rodeia. É tangível. Não dá para
explicar mais do que isso...
“A vida do índio é de certo modo uma ininterrupta cerimônia espiritual.”
“O índio não acredita no sobrenatural porque não conhece essa divisão entre natural e sobrenatural.
É tudo uma coisa só, físico e espírito.
“São um povo para o qual o idoso é o dono da história,
o homem adulto é o dono da aldeia,
a mulher, a dona da prática das tradições no
dia-a-dia e da casa,
e a criança...
...e a criança, a dona do mundo.
Uma criança de uma aldeia índia goza da
mais plena liberdade que já pude testemunhar.
E isso está no seu rosto o tempo todo.”
Orlando Villas Boas(1914 – 2002)
a criança, a dona do mundo
Crianças da etnia KuikurosRegião do Alto Xingu Mato Grosso
Formatação: [email protected]
Tema musical: Nothing Compares to You (versão instrumental)