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1 Jandaíra Voa, Zarazilda Comenta Pantoja Ramos Maio de 2017

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Jandaíra Voa,

Zarazilda Comenta

Pantoja Ramos

Maio de 2017

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Agua de manantial Um fuego encendido que olvide apagar,

Necessito agua de um manantial.

Manantial de olvido, de mi viejo hogar Crecen los guayabos y las cocolías

Junto a la charquita.

Sonia M. Rosa – Rep. Dominicana

(do livro Siembras del buen vivir: entre utopias y dilemas posibles)

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Prefácio

Este prefácio tem sua escrita no meio do rio. Nada mais apropriado para mim, que de antemão não tinha intenção de arriscar ser poeta, porém estas vistas de mata, casas, igarapés e pássaros me acalmam a alma e por outro lado me despertam as loucuras pontuais de apresentar o que sinto em forma de palavras, de poemas, de mensagens.

Entre ilhas.

Na terapia que me impus nesses últimos tempos, creio ter superado a fase radical que crescera em mim diante do absurdo momento de retirada sistemática de conquistas da população. Como fomos ficando cruéis sem perceber? Como deixamos a semente do fascismo vingar? Como acreditei em um país que teima em não ser nação e que não reconhece as inúmeras nações que nele existem? Talvez o motivo seja sempre darmos as costas à História, e pior, à própria Verdade, amantes que se olham, flertam, mas dificilmente casam. Enquanto isso, mais uma mãe chora a perda do seu filho pela falta de rumo, seja na cidade, seja no campo.

Por tais perguntas, vejo no voo de Jandaíra a busca pela justiça e na luta de Zarazilda o questionamento que devemos fazer sempre sobre nossa condição de vida. Pobres, somos a maciça maioria de pobres. Esperançosos, somos todos esperançosos que um dia alcançaremos o Bem-Viver. Nós, os injustiçados teimosos, carregamos os argumentos da espécie humana de ainda ser sapiens e não demens. É este o nosso ofício. O registro, uma forma importante de reação.

Eu assim reajo.

Bagre, no meio do rio rumo a Portel, 03 de maio de 2017.

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Sumário

Curriculum Vitae do Resgate ................................................................................................. 5 Jandaíra e o Rei-Patrão ........................................................................................................... 8

Julgo ..................................................................................................................................... 19 O Castelo da Alteridade ........................................................................................................ 21 Caverna do Dragão ............................................................................................................... 23 Estudantes, Ocupai Meu Coração... ...................................................................................... 25 Futurista ................................................................................................................................ 29

O Mérito da Questão, Suman@s .......................................................................................... 31 Enquanto o café não sai... ..................................................................................................... 33 Rio Voador ........................................................................................................................... 35

Porto Certo ............................................................................................................................ 37 Contramaré ........................................................................................................................... 38 Canção Travada .................................................................................................................... 40

Onda-Baía ............................................................................................................................. 41 Para Vós ................................................................................................................................ 43 Cabelo Mulher ...................................................................................................................... 45

Poema do Joelho ................................................................................................................... 47 Testamento Marajoara .......................................................................................................... 48

Aos Domingos de Arrependimento ...................................................................................... 49 Salmo Responsorial para Noam ........................................................................................... 51 O que é a Ciência? ................................................................................................................ 53

LasCAR ................................................................................................................................ 54

Jê-Nacional ........................................................................................................................... 55 Se estivesse na formatura de Ribeiros, assim seria minha oração ........................................ 57 Justa Causa ........................................................................................................................... 59

Mais Valia ............................................................................................................................ 62 Hipocricida (Cantiga de Roda Para Indignados) .................................................................. 65

A Poronga de Seu Diógenes ................................................................................................. 67 Anajás ................................................................................................................................... 70 A Ponte que Virou Carta ...................................................................................................... 71 Aquarela Estuarina ............................................................................................................... 73

No Dia em que Inspirei o Mundo ......................................................................................... 75 Assim Falou Zarazilda, a Bombozeira Geógrafa do Paar-Ver-O-Peso ................................ 77 Todo Ano Maria e Bené ....................................................................................................... 79

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Curriculum Vitae do Resgate

Belém, 30 de janeiro de 2017.

“...Afinal, para além dos gregos que traímos, vamos pelo menos respeitar os latinos,

para os quais curriculum vitae significava o percurso da vida,

e não a vida em correria...”.

Não Nascemos Prontos! - Mário Sérgio Cortella.

Sou um Homo sapiens Mas nem tão sapiens Formei-me na escola Nota dez Tudo decorei Na tabuada Duque de Caxias Irretocável Que paraguaio! Tantos elementos Tão periódicos Fechei aquela prova Biologia Setas, acetonas, Nas equações Foi subordinada Minha oração Vil crossing-over! Curriculum vitae: Joguei tanta bola Roubei tanto jambo Protestei na escola Alguma hora fui santo

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Fui estagiário Vaidade alheia Modo tão asséptico Puro éter Sei falar inglês Cosmopolita Pra sobreviver “Tem bread aí?” É o que sei falar Fui um engenheiro Sei mil programas Metas planilhadas Objetivos Fui dissertativo Fiz a hipótese Nada pessoal Pra Testemunha Que título tenho? Curriculum vitae: Viajei pelo Grande Rio Vi a cruel carestia Vi também Deus em anil Que uma criança vestia Fui coordenador E relatórios Quis melhor gestão Do teu relógio Bora tenha pressa! Agenda cheia

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O papel da luz Quase cortam O papel-moeda Foi triturado Pra servir de ração Para Tio Sam Quer teu currículo Percurso da Vida: Uma carta eu fiz Acreditei na senhora Conheci Dom Luiz A terra é deles agora Surfei na grama Plantei um maracujá Cai de cara na lama Comprovei o verbo amar Curriculum vitae: Vi nascer meus filhos Imitei guitarra zoeira Corri no meio dos trilhos Conclui que sou Cósmica Poeira... *****

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Jandaíra e o Rei-Patrão

Rio Piriá (concepção e primeiros versos), Curralinho, 06 de novembro de 2016.

De repente uma estória Pra ajeitar tua memória Confundir se é verdade Espantar a mocidade Irei contar e terminar Das bandas do Piriá Lá dos tempos do patrão Tempo sendo escravidão Certo homem investiguei Que até se achava rei Rei contrário à Salomão Maltratava meus irmãos Era mesmo coronel De manhã servia fel Fel salgado de suor Nem em novena tinha dó Todo dele eram os peixes Toda lenha lhe eram os feixes Comandava na madeira Comandava na carteira Do colhido eram três quartos Pro Patrão tudo anotado Na fila da Eucaristia Primeirão na hipocrisia Dizia samaritano Só que era um pé de pano E os marido humilhado Se sabiam tudo calado Caladinho pro açaí Pro Rei-Patrão ir dividir Tal tristeza das famílias Entregar a própria filha Patrão-Rei deitou Zulmira

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Desgraçado pegou Elvira Tão inocente que era ela Da idade tão quimera Que o seu pai não suportou Pegou o cano e se armou Quando o Patrão o encontrou Um capanga o tocaiou Pai ó pai de Elvira Do couro tiraram envira Seu resto foi pendurado Pra ter o medo reforçado O Patrão sumiu com Dora Até hoje sua mãe chora Negou-se ao Rei -Patrão Jogada agora sem pão O pão não viu Ananias O teto não viu a Maria O lápis não viu José Só um tabaco rapé Sobras vestiam Aninha Sobras vinham da farinha Deus um dia a Justiça Domingo tudo na missa No azul os periquitos No chão gemem os aflitos De escape um camarão De escape uma oração Reparava vil patrão Proibido o sermão Justos bem aventurados Sedentos mal saciados No dia de todos os santos Os céus ouviram os prantos E chegou uma família Do outro lado, outra ilha Mas não veio só pobreza Veio também uma beleza Da jovem amorenada Com vista amendoada Adocicada a retina De postura tão fina

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Os rapazes na querência Se batiam com frequência Presentes ramos de flor Tantas cartas de amor E a bela Jandaíra Só olha pouco suspira Inspira sua leitura Expira sua candura Boceja e sai doçura Sorriso os males cura Patrão-Rei quis conhecer Tal donzela e se valer Ser-lhe estreia de homem Satisfazer sua fome Mas tal rosto bonito O deixou meio esquisito Um Patrão não patrão Naquela situação Diante de uma mulher Domina-o sem querer Patrão-Rei a cobiçava Tomar ela pra sua casa Jandaíra tão gentil Sua porta então abriu Seu pai cedeu a cadeira A mãe lá na cristaleira Pegou um copo do melhor Foi água, café em pó Com bolacha mas nem tanto "Vai chazinho capim santo?" E uma cuia de açaí Quase um litro tinha ali Do açaí que maravilha Tudo veio bem tuíra E uma rede bem montada Com cantiga assoviada Da mocinha Jandaíra Caiu o Patrão na pipira "Jiboiou Jiboiou Esse homem jiboiou O açaí lhe fartou

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Escapei do não-amor Jiboiou Jiboiou Esse homem jiboiou O açaí lhe fartou..." Jandaíra assim cantou Quando o Patrão acordou Tudo em volta estranhou Tava na sua casona Pois lhe deram uma carona Foi dormida de três dias Chega a costa lhe doía A cabeça que pulsava A barriga que roncava Os braços de tão dormente A raiva rangia os dentes "Cadê aquela pequena To com a gota serena To reinando com aquela Quero judiar com ela Pega um rolo de sisal Que a faço um animal!" Desce o rio o Patrão-Rei Ele era a grande lei Pisou na ponte de tábua Expôs toda a sua mágoa Deu um tapa no paizinho E escutou um sussurrinho No olhar de Jandaíra Pára tudo e se admira Senta brabo neste banco Um chazinho capim santo? Açaí naquele balde Com peixinho pois se esbalde O Patrão desconfiado Come tudo beliscado Mas o açaí em uma caneca Deu-lhe vontade a soneca "Jiboiou Jiboiou Esse homem jiboiou O açaí lhe fartou

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Escapei do não-amor Jiboiou Jiboiou Esse homem jiboiou O açaí lhe pesou..." Jandaíra assim cantou Na cantiga da cigarra As guaribas na sua farra Acordaram o Patrão-Rei Sete tardes eu contei Só num pulo que sacode Numa raiva que explode "Peguem tudo a espingarda Botem até a sua farda Que hoje o sangue espirra Não quero em pé a vila Metam fogo toda roça E arder até as fossas Não dispensa nem o tatu Pro banquete do urubu Arrancando as meninas Destinar pra libertina!" Os jagunços tudo bruto Iam fazer da vida um luto Casa em casa não acharam Os sofridos não estavam Movimento se fizera Mas não era na capela Não eram daquele mato Vinham sons de um barraco Quando entraram a surpresa Uma teba de uma mesa Com moças na cabeceira Umas caras bem faceiras Jandaíra toda bela E um monte de tigelas Num oferecer sorrir Cem tigelas de açaí "Não adianta formosura Nem tudo isso de fartura O mandado foi bem posto

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Ninguém vive tenho gosto Patrão-Rei verá o sangue Fazer lama fazer mangue Eita cheiro de tuíra Açaí meu olho mira Nós num quer se acalmar Pra que ofertar esse chá? Nessas mãos tão pequeninas Que pena ser suas sina A minha alma tão medonha Pra diminuir a vergonha Vamo beber do mel Do açaí que é um céu" "Jiboiaram Jiboiaram Esses homens jiboiaram O açaí lhes fartara Nossas carnes escaparam "Jiboiaram Jiboiaram Esses homens jiboiaram O açaí lhes pesara..." Moçarada assim cantara... Jagunçada acoitada Já se viu paralisada? Duas luas céu riscado Levantaram abobados No meio do buçuzal Acauã cantando o mal Uma cruz ali fincada E uma imagem retratada Foto que se admira Foto do pai de Elvira Justiça Elvira o pai Dizendo "na mata entrai" "Convido pro rumo loucura Fazer comigo a misura Pagar as mortes matadas Cês devem às almas penadas A conta é andar ao léu Sem casa, sem pátria, só fel Na boca a pena afinal

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Açaí com gosto parau Pitiú meio ensanguentado Daquele meu corpo lembrado" Fugidos os capangas Patrão-Rei na vingança Só tinha na mente a cuíra Possuir sua Jandaíra Era certo tal gastura De uma raiva tão pura Que sua posse definhou Que o cupim se alastrou Que seu barco encalhou Que sua gota inflamou Sua barba ser branca Agora só uma carranca Não tinha mais moral Sozinho não era o tal Foram embora os escravos Que sorriam libertados "Desgraçados de vocês Se não são mais meu freguês Vou mandar a maldição Vez em quando um patrão Vem a vocês perturbar Vem para azucrinar Para sempre um poderoso Com dinheiro e garboso Pra ir pegar seus filhos Tirar eles dos trilhos Tentação mil promessas Ensinar o que não presta De querer endinheirar E aos outros dominar Que repete o meu refrão De querer ser Rei-Patrão" "Mas antes de eu partir Meu orgulho foi ferir Vou amarrar numa envira Aquela tal de Jandaíra Pra nunca uma mulher Se falar e bem-dizer

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Que domou o Patrão-Rei Essa fama manterei Vou esperar na butuca Se os pais baixarem a nuca Vou pegá-la e esconder E maldades vou fazer Para sempre uma escrava Só comer Mandioca-brava Só dormir numa ripeira Só beber água de beira" E num é que vacilaram? Os pais que passearam Jandaíra assim sozinha Ajeitando a unhinha De repente um agarrão "Calada se não se não!" Uma faca na cintura Na donzela fez ranhura Por meio do aturiá Das tobocas e ingá Pra uma canoa batelão A noite de luarzão Patrão-Rei em sua fúria "Tira água com essa cuia!!" E partiram canoando Devagar quase parando Finalmente o Tapiri Só os dois que por ali Eram gente duma mata Sendo virgem intocada Pra servir de cativeiro Rei-Patrão que altaneiro Esbraveja em ameaça "Tua família minha caça Tua vila meu brinquedo Pra eu fazer de todo medo Caso tu negar meu fogo Escangalho o teu povo!!" Jandaíra olhou séria Refletiu sua miséria Posição da bem ereta Uma linda silhueta

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Jandaíra assim falou "Do amor que eu te dou Só tem condicionado Ir buscar no almoçado Açaí que eu não largo Café do bem amargo Roupa de médio linho Chá de capim marinho Põe aqui que eu disponho Aquilo que te faz sonho Meu cheiro te embriaga A pele pedaço cada Um gosto de tracajoa A curva que te é boa Qual chuva pra te esfriar O sol pra te esquentar" Patrão-Rei se animou Açaizal então trepou Buscou só do bom cacho Mostrar como era macho Caçou tatu bem gordo Carvão de tronco morto Assava para sua musa Não podia ter recusa A esperar no Tapiri Vinte cuias de açaí Uma vasilha fumegante Ambiente tão amante "Tudo pronto tudo enfim A sustança para ti Até que o galo canta e evitar a cara branca" Rei-Patrão se benzeu Até uma vela acendeu Jandaíra a luzir Desde o rio Ituxi Desde rio Araguari Desde o rio Arari Que tarde boa aquela No Piriá foi a mais bela Patrão-Rei mal reparou

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As cuias que tomou O chá que embicou Farinha que emborcou Que o fardo até secou A donzela se abaixou Seu perfume exalou Cabelão escorregou Um sono mais profundo Maior que houve no mundo Rei-Patrão pesca pra cá Patrão-Rei pesca pra lá Nublada a sua vista Enxerga sua benquista Jandaíra sentada na rede Um canto bonito sucede Patrão dá o seu bote Mas erra a sua sorte Jandaíra tão corisca Se sai, sorri e pisca Patrão agora um nada Na rede tão amaciada Punho ali balançante Ninou a voz sussurrante E o calango estopô A cabeça enfim cambou "Jiboiou Jiboiou Esse homem jiboiou O açaí lhe fartou Escapei do não-amor Jiboiou Jiboiou Esse homem jiboiou O açaí lhe pesou..." Jandaíra assim cantou De repente a estória Pra ajeitar a memória Confundir se é verdade

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Desafiar mocidade Todo ano se arruma Jandaíra se apruma E num certo Tapiri Chega a rede a puir No balanço de uma vida Manter aquela dormida Rei-Patrão e sua siesta Eternizada a festa Eternizado o sono "Não mais temos dono!! E se estamos acordados Nunca mais uns dominados!!" "Crescer no mais ativo Crescer tudo coletivo" A moral que se refira No voo da Jandaíra "Liberdade, Liberdade Minha gente Liberdade! !" *****

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Julgo

Belém, 13 de dezembro de 2016. Juízo julgamos julgado e Justo? Justiça o jogo jogado Julgo Eu julgo mas sem a certeza Juiz? Juramento mas não juramento Tu juras? O júri sem tão fundamento Julgamento Juristas talvez inocentes Julguemos Jornais não são meus juízes Que julgam Julgai o trigo e o joio Não Junco No jogo nós somos joguetes O Jugo Jurisdição sem dita justeza Não justo A justa de nossa nação Justiceiros? Jusantes jurados, justiça Injustos Os Juros do Jugo Jogado

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Não jazem E jus da guerrilha escrita Juízos *****

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O Castelo da Alteridade

Costa do Mazagão, 02 de dezembro de 2016.

Em Versalhes tudo ia bem a cortina escondia desespero transeunte tudo perfeitinho no dia da madame até o transito seguia reto como sempre fazia até o gato esquecia de pegar aquele rato até o rato escolhia qual queijo sem queixa e ali o piloto sem plano era o mais sádico Alteridade Alteridade Ô Poliça Alteridade Vamos juntos invadir o castelo? Neste Eldorado a mesma História também os mesmos vassalos os mesmos infantes de novo a piada da maneira infame mas quão preguiçosos trabalhos faziam mas quão rigoroso precisam no trato até a sua mata se mostra desleixa escutem o mago e seu jeito tão mágico Alteridade Alteridade Ô sabe-tudo Alteridade Vamos juntos construir um castelo? Na terra de Kafka os novos mestres do outrem não sentem nem calor nem o frio mais cortante tenentes juízes com câmeras o futuro ditame cartas da prisão nem sequer seguiriam e réus sonâmbulos "descurtiam" os contatos

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baixavam os dedos tal qual nas arenas leões esperavam por novos Espártacos Alteridade Alteridade Ô insensível Alteridade Vamos juntos morar neste castelo?

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Caverna do Dragão

Ponta de Pedras, 22 de abril de 2017.

Certo Cabral chegou no Monte Pascoal Ao Panamá, crachá, riqueza e um canal Solano Lopes um tirano animal Duarte Pacheco de fininho pelo Rio "Os Miseráveis" panamenho ninguém viu um contrabando na fronteira do Brasil um busto estátua embuste solta meia Verdade meia História uma coisa é a Verdade a outra é a História decorar pra não errar Memória curta vem a calhar um holandês queria ser um recifense um militar da roubalheira descontente um banco-estado que apóia toda gente o holandês Mariocay de Gurupá o general, o Jari-ouro e o garimpar a castanheira solitária a pagar e quem te salva? a torre alta? meia Verdade meia História uma coisa é a vista a outra é a Memória

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decorar pra não errar a minha História apagar telejornal e o recorde de audiência o empresário um exemplo de decência o Evangelho narrado com eloquência a emissora, os recursos e o fisco um pobre jovem quando sabe é um risco a verdadeira missão de Jesus Cristo lá vem a onda lá vem a ronda meia memória meia História uma coisa é a Verdade a outra é História *****

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Estudantes, Ocupai Meu Coração...

Belém, 28 de outubro de 2016. Caríssimos e caríssimas que lutam por uma educação cidadã, Esta noite sonhei com vocês. Vocês que ocupam o IFPA, na luta por seus direitos. Sonhei que escutava alegremente uma festança em roda feito por vocês. Era batuque, canto, dança, apito, uma festa, um verdadeiro carnaval, naquele refrão: “Ocupei, Ocupei seu coração, E sou dono Da minha própria razão Sempre jovem É ver na Educação A saída Pra uma justa Nação”. “Ocupa! Ocupa!”. Eis que vieram uns homens de paletó acompanhados de senhoras chiques reclamando da barulheira. Apontavam pra vocês e diziam: “Vocês não tem o que fazer? Atrapalhando o país com sua algazarra? Vocês não têm com o que se ocupar??” Vocês se entreolharam, riram e festejaram... “Ocupei, Ocupei seu coração, E sou dono Da minha própria razão Sempre jovem É ver na Educação A saída Pra uma justa Nação”.

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Depois vieram uns empresários saídos de carrões caros, com caras de desprezo balançavam em sinal de negativo para os moços: “vão trabalhar quié, arruaceiros. Isso é falta de ter o que fazer, vem, eu te dou um salário e aí vocês se aquietam”. Os rapazes olharam pra cara um do outro e... “Ocupei, Ocupei seu coração, Sou a planta Da minha própria razão Meu torrão Junto com a Educação Deus me livre Ir depender do patrão”. Passaram outros que avistaram as moças naquele movimento e as intimidaram: “Ei meninas, saiam daí, vocês tem que ser apenas belas, recatadas e do lar! O lugar de vocês não é aí!! Pra que estudar?”. As estudantes riram alto, começaram a pular e cantar: “Ocupei, Ocupei seu coração, Sou a flor Da minha própria razão Meu direito É igual ó meu irmão! Sou Ternura! Mas também sou furacão!”. Eis que chegaram homens fardados, com a ordem de expulsar vocês de seus direitos. O capitão da tropa gritou: “Vocês têm 2 horas para desocupar o recinto, pois tenho ordens do Presidente da República, da Televisão, dos Banqueiros e de todos aqueles que não querem que vocês se libertem e cresçam!! Estão avisados!”. E o que vocês fizeram? “Ocupei, Ocupei seu coração,

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Sou a Força A Fé de uma Nação! Poderosos Cedo ou tarde passarão! Sou eterno Sendo Estudante então!”. Quando vocês estavam sozinhos, trazendo somente às mãos cópias da Constituição Brasileira, punhados de terra, flores, cadernos, lápis, canetas, apareceram seus pais, seus amigos, seus avós, seus filhos, aqueles que possuem Coração de Estudante para juntarem-se naquela ocupação. Vendo aquilo, o comandante assustado se retirou. E aquele movimento, que crescera em todo o país, chegou até Brasília. Os corruptos, temerários, misóginos, homofóbicos, fascistas, os vis fugiram que nem ratos do medo da Juventude Critica. Uma corrente que se uniu a todos os estudantes da América. Depois com os da Europa. Com os da África. Com os da Ásia. Com os da Oceania. Porque todos eles escutaram o canto. E o mundo dançou: “Ocupei, Ocupei seu coração, Olha o Mundo Canta a Paz e a União Acordei De minha perturbação Quando os homens Creem na Educação”. “Ocupei, Ocupei seu coração, E sou dono Da minha própria razão Sempre jovem É ver na Educação A saída Pra uma justa Nação”.

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E o bloco de carnaval seguiu gerações afora... *****

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Futurista

Belém, 23 de setembro de 2016.

Quem inventou o mundo? Quando nasceu a esperança? Vai lá criança perguntar Quem inventou o mundo? Resposta pra coragem que há Quem inventou a coragem? Quando nasceu a bonança ? Vai lá criança perguntar Quem inventou a coragem? Só da questão responderás Solidão Ingratidão Mesuras que te deixam nervoso Que coisa! De um dia que já passou A ganância Intolerância Sentimentos que tu viste Que chato! Correndo pra te intimidar Mas pousou borboleta Uma coisa é certa Pra flor desta hora Só o bom da tua alma Te voa Quem inventou o mundo? Quando nasceu a esperança?

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Vai lá criança perguntar Quem inventou o mundo? Resposta pra coragem que há Quem inventou a coragem? Quando nasceu a bonança ? Vai lá criança perguntar Quem inventou a coragem? Só da questão responderás Tão confuso Parafuso Um trovão causou - te medo Que assombro! Ralhou que não farias Só que é só um trovão Sístole coração O dono do medo És tu, então que vais fazer? Quem inventou o mundo? Quando nasceu a esperança? Varella a indagar Quem inventou o mundo? Resposta pra coragem que há Quem inventou a coragem? Quando nasceu a bonança ? Vai lá criança perguntar Quem inventou a coragem? Só da questão responderás *****

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O Mérito da Questão, Suman@s

Belém, 7 de novembro de 2016. Oh Sumana, vê que frio! caiu o botão de tua camisa, coitada era a única destes tempos, lembra do auge de tuas roupas belos bordados a rodopiar a iluminar o salão roda roda roda Ei Sumano, que que foi? o preço da farinha não tá bom? lembra da época que a casa quase mantinha-se sozinha apesar da injustiça de fora o custo da vida nem sei torra torra torra Êh suprimo, teu filho tá na TV parece que é celebridade de cara pro chão colorada lágrima beija a terra dos sem fim imagina a serra Ou a várzea cigarras cigarras cigarras Por mais que eu deseje ó comadre

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que teu futuro te bem sirva um teto um gesto sem a letra não decidirás qual céu sem a letra não contarás a chuva sem o amor à palavra te chegará o NUNCA sem a letra não terás bom abrigo sem a letra não irás colher sem a letra não evitarás o furto Uns óculos escuros disseram que tens que sair ou nem mesmo entrar sem a letra não irás enfrentar tais óculos sem o número não saberás o quanto podes sem a frase certa não saberás o caminho das pedras sem a boa carta não brigarás pelo pão não pularás pelo mundo sem a letra, o número sem o amor sem o caderno sem um risco que te avises para onde vais E sereno o mundo gira E serenos outros terrenos Terrenos sem sangue irrigados E sim uma água inocente Inodora, insípida, incolor Que o sol produz arco - íris A íris de olhar tranquilo Para uma outra civilização Sem ódio sem classe Sem hipocrisia Com a utopia prática Dos bem aventurados Amém Oxalá Quem Odera *****

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Enquanto o café não sai...

Belém, 07 de janeiro de 2016.

Eu sou, Porque nós somos Mandioca Eu sou, Porque nós somos Mandioca Tera Porã Guarani Ubuntu nos foram raiz Pra fazer o pão Assim crescer Ninguém coou a Verdade Eu sou, Porque nós somos Florada Eu sou, Porque nós somos Florada Dona Mee me pintou Urucum festejou Pra fazer a cor Enternecer Ninguém coou a Verdade Eu sou, Porque nós somos Abelhudos Eu sou, Porque nós somos

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Abelhudos O ferrão mel da Apis O beijo mel melipona Pra fazer a fruta Satisfazer Ninguém coou a verdade Eu sou, Por que nós somos Verdade Eu sou, Por que nós somos Verdade Queria ser bem mais Abel Queria ser bem menos Caim Pra criatura e a prosa Permanecer Ninguém coou a Verdade Eu sou, Por que nós somos Semelhança Eu sou, Por que nós somos Semelhança Da escolha viver De Jesus parecer Qual juízo afinal Merecer? Só Ele coou a Verdade *****

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Rio Voador

"...Num típico dia ensolarado na Amazônia, uma árvore grande chega a colocar

mil litros de água através de sua transpiração...Esse rio de vapor que sai da floresta amazônica é maior que o rio Amazonas..."

Antônio Nobre.

Belém, 08 de março de 2017. Se o rio é voador então vou ser Explorador vou devagar remando nas nuvens minha canoa O vento é maresia a Liberdade a minha quilha o Amor da gente o nosso leito Imensidão aves são peixes arribação Olha lá embaixo as cidades tão pequeninas formigas vi mão amiga não vejo maldade tão tenra a idade da Humanidade Passou um avião trazendo saudade na velocidade e o Sol ilumina tão Nobre o barco

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que singra a mata de onde foi que vim mesmo? onde embarquei? Se o rio é voador então que chova nosso amor espalha perfume Um patchouli da Amazônia Fonte da Vida e deste rio que vamos Frutificou nos germinou e o Rio dos Céus nunca mais secou

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Porto Certo Costa de Almeirim, 03 de dezembro de 2016.

Hora incerta qual caminho seguir? Vai pelo rio Pessoa perdida qual rumo partir? Vai pelo rio Lá tem um porto E tem um alguém Que te recebe e quer o teu bem Quando no porto Alguém te abraçar Orientando Aponta onde rumar Na tempestade aonde parar? Lembras do porto Tanta maresia aonde parar? Lembras do porto Lá tem café e até lençol tem e um prosear que tanto faz bem Quando teu porto não mais existir Finque o esteio Quando a saudade te persistir Finque o esteio Sejas o porto de outro viajando Na homenagem de quem te foi tanto Sejamos porto ao longo dos tempos no rio da vida eternos seremos *****

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Contramaré Macapá, 11 de novembro de 2016.

Depois do trocado A senhora pensou "Que eu faço mesmo aqui? Viver de esmolado?" Pensou na sarjeta E no cara que apontou Pra sua filha Pra sua neta Ó cidade braba Que aos pobres maltrata Carapanãzada Depois da enchente Tanto lixo nos seus pés Pouca renda nada Deseja voltar Pro riacho doce Pro frescor da tarde Para o velho lar Não encontrou aqui O motivo de sempre sorrir "Mas será que volto?" Vão dizer que vergonha Tu não é tão assim forte "Mas será que volto?" A coragem perceber Que ao voltar tu possas ter sorte Quase levou tiro Lhe levaram a bolsa Matagal um cemitério Sabe a quem refiro?

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Vai calar a boca Vai calar a alma Ver netinha Nessa vida louca Ó criança inocente Será que um dia a gente vira gente? "Mas será que volto? Pra enchente que um dia Encheu os meus sonhos?" "Mas será que volto? Borboleta e açaí Para uns dentes risonhos" E bateu umas palmas Na cabeça da ponte Vieram ali pessoas Vieram assim tão calmas "Nos deram abraços Recebemos afeto E a netinha Amarrou meus laços" Andou de canoa Disse "ó vó, mas que vida boa!" E bateu palminhas Vó bateu palminhas Sua filha bateu palminhas Todas bateram palminhas *****

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Canção Travada

Belém, 23 de setembro de 2016.

A carambola rola que nem uma bola A Naza tem em casa a base da rasa Vem um colibri que eu descobri De uma Sapucaia cai não cai me caia Lançou tua lançante Redou a tua vida redante Estrela cintilante estrelada estrada Honesta é tua cesta que ficou restada Bem te vi vendo a visão de vós Na cama a comadre camarão comeu De um matapi tapagem Mirou milhares miragem Centelha e espelha a te olhar Cuamba culmina escutar Quando o quati quase quedou O bambo bambu dobrou A lontra longarina logrou alongar O ipê imperador impressão pro par Mariscar é missa no Rio - Mar Escalda a costela a cauda era jacaré Um disco discrepante Tatu tão bem atuante Quisera a quimera teu abraço Descansando de seu cansaço Considerando o caso conciso O sumo de ti somou sumiço A várzea verdejante valorou a vez Ternura te tocou e tatuou sua tez Palmas pras palmeiras e tu pasmou O fim do firmamento eu firmei a ti Loucura tão eloquente Rimou remando a gente... *****

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Onda-Baía Belém, pensando no Rio Amazonas, 04 de fevereiro de 2017.

Minha Terra Amiga quem diria me explica: "era uma vez as conversas que o ódio traz".

"País estranho sem dialogia um deserto onde havia selvageria poucas almas entrelaçar"

Mundo real Mesmo pedreira Me afastaria Deste enredo Sem Alice Sem Maravilha Sem consciência

No horizonte Avistaria Minha Esperança Onda - Baía

Vindo com o vento Eu sentiria A sua paz Onda - baía

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Onda - baía Onda -baía

A chuva me cairia E o Sol me curaria Onda - baía

A Natureza Me é bem-vinda Com suas águas Onda-baía

E num batismo Sem hipocrisia Eu me alegrava Onda-baía

Onda - baía Onda -baía

Braços eu levantaria A mente entregaria Pra Onda-Baía

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Para Vós

Belém, 7 de outubro de 2016. Sou uma folha que sonha em voar por aí pra pousar solene lá no teu lar beira da janela ver-te acordar não há vento que me roube sem que o amor eu lhe prove Sou a flor que cai miúda sobre seus cabelos pra pegar o perfume desta tua aura quanto sol assim quanto me acalma não há chuva que me tire preso assim me sinto livre Sou o estudioso de seu planeta sua orbita faz-me um cometa Sou aquela garrafa jogada ao mar da temperança dentro uma mensagem pra te dizer "quando houver escuro vou te proteger" mapa do tesouro te buscarei chave da riqueza um dia terei sou a folha que sonha desprender do galho ou uma flor vermelha

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ou uma mensagem para me guardares além de uma imagem *****

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Cabelo Mulher

Costa do Mazagão, 03 de dezembro de 2016. A escova vai trabalhar Com um detalhe ajeitar E a mão mais doce e forte O espelho vai retocar A moldura vai coroar Tá bom tá linda boa sorte Bateu daqueles um sopro gigante Ajusta o fio por entre a fonte Do jeito que for cabelos a Natureza cabelos a intenção cabelos de uma mulher qual seu humor? cabelos Muito ocupada cabelos agora mais prática cabelos de uma mulher no girassol da vida no carrossel que convida se soltos girar decidida se a flor acabou de brotar ou a pétala começou a voar a mesma beleza mantida Escorreu os fios correndo a história o cheiro bom na gente a sua memória

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A juventude cabelos maturidade cabelos aprendizagem cabelos de uma mulher se acidente cabelos se adoecer cabelos recuperar cabelos de uma mulher agora entendi como funciona o universo ele é feito de mulher, cabelos e versos qual um cometa cabelos tal qual o sol cabelos tal qual o rio cabelos de uma mulher qual um sorriso cabelos olha esse charme cabelos ama o vento os cabelos de uma mulher marca uma era os cabelos corte mil cores cabelos libertação cabelos de uma mulher *****

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Poema do Joelho

Belém, 09 de abril de 2017. Ah meu joelho por quê escangalhas agora? logo tu que eras a peraltice logo tu que eras a confiança de pulos pulados da cama de saltos saltados na rua no agachar do frevo nas noitadas alcova eras Joelho! do impacto do esporte não temias na alavanca do ônibus emergíamos bom joelho irmão do outro joelho primo do tornozelo cunhado da canela casado com a coxa assim unidos mas a parte feminina é mais resistente e joelho tu baqueias primeiro culpa da rótula ah, agora é patela só que dor independe dos nomes dados atemporal culpa do trabalho tá bem, não se pode culpar o trabalho faz parte da vida faz parte do tempo faz parte do caminho faz parte do peso faz parte do terreno faz parte da genética quanto esforço feito joelho, nobre joelho pois agora eu te cuidarei como cuidaste de mim em todos estes anos de percalços de precisões e de carimbós. *****

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Testamento Marajoara

Curralinho, julho de 2016. Quando eu nasci Foi lá no Marajó Quando nasci Foi lá no Marajó O meu cueiro Mamãe lavou No igapó O caribé Quem fez pra mim Foi minha avó Se eu cresci Ali no Marajó Se eu cresci Ali no Marajó Meu pai ensinou Fazer uma casa Do meu suor Meu avô falou Pra eu cuidar bem Do meu xodó Se eu morrer Eu vou pro Marajó Se eu morrer Eu vou pro Marajó Pra ser batuque Ou chique - chique De um carimbó Pra ser cantante E no eterno Não ficar só *****

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Aos Domingos de Arrependimento

Rio Pará, 25 de setembro de 2016. Sinos Blem blem blem Sinos Blem meu bem Eu acho que ouvi Uma rima Eu acho que vi Minha sina A vida ensina O som que vem do sino Sino Blem tão bem Sino Blem Amém Ando a passear Rua a enlamear De uma noite Liquefeita paralelepípedo Eu falo Um som de harmonia Perfeita O sino Blem Me musicar O sino Amém Contracenar Só eu com sino

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A me arremedar Sinos Blem blem blem Sinos Blem meu bem E todos entram Menos eu Talvez eu seja Um Prometeu Religião Do som que vem do sino Sino Blem também Sino Blem blem blem *****

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Salmo Responsorial para Noam

Belém, 19 de março de 2017. Seguridade social é uma forma de solidariedade Educação pública é uma forma de solidariedade Saúde pública é também solidariedade O rico quer te privar do bem-estar Insegurança faz parte do jogo Mais alteridade, menos autoridade Mais solidariedade, menos solidão Sei que te caçaram, porém (graças) A bala nunca te achou Só não foi por falta de ódio Não das massas, mas de vis mestres Mestres do que há de mais sombrio na gente Mais alteridade, menos autoridade Mais solidariedade, menos solidão Atitude pública é maior que política pública Pois da atitude ocorre o efeito Mal-aventurados os que espalham fome São malditos que compram a tua morte E cigarro do cowboy enganou tua sorte Mais alteridade, menos autoridade Mais solidariedade, menos solidão Cidadãos de mesma classe xingam-se entre si E os sombrios mestres gargalham de seus poleiros Ah Noam! Te quiseram ilha na América Só não contavam que eras Mundo Inteiro Os abaixo da superfície os marginais obreiros Mais alteridade, menos autoridade Mais solidariedade, menos solidão

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A Democracia é alvo do dinheiro A Desigualdade é cinismo do opulento O precário é o senso comum Dos alertas e acompanhados nenhum Mas o céu é colorido, apesar de cinzento Mais alteridade, menos autoridade Mais solidariedade, menos solidão Eu me organizo, Tu compartilha Ele mobiliza, nós entendemos Vós sois semelhantes, Eles melhores serão Melhores humanos Da justificada geração Mais alteridade, menos autoridade Mais solidariedade, menos solidão

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O que é a Ciência?

Comunidade Santo Ezequiel Moreno, Portel, Marajó, 27 de maio de 2016*.

O que é a Ciência?

É o incômodo da mente diante do que é normal?

É a vontade de descobrir a América a cada acordar do dia?

É sentir-se grato por ter o pensamento como maior ferramenta?

É saber que temos o direito de perguntar sobre quem inventou o mundo?

É maravilhar-se com a natureza professora que é?

O que é a Ciência?

É a luz que afasta a escuridão da ignorância?

É a criança que ao longo da vida nos puxa para reparar o entardecer?

É o primeiro passo para o be-a-bá e o 1, 2, 3 no tentar entender Deus?

O que é a Ciência?

Talvez não saiba, Talvez não conheça a Ciência, Mas ela nasce sempre Quando a mim mesmo faço uma pergunta...

O que é a Ciência?

(*) Texto de abertura da 1ª FEIRA DE CIÊNCIAS DA GLEBA ACUTI-PEREIRA, Portel, Marajó, Pará,

realizado no período de 27 a 29 de maio de 2016, na comunidade Santo Ezequiel Moreno. *****

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LasCAR

Belém, pensando num mapa, 23 de março de 2017.

É desta vez um Cadastro Que teimam que não seja ambiental. Era uma vez o Estatuto da Terra. Do justo que é rural. Sendo talvez uma política pública Vez não é na medida da plebe. Mais uma vez dinheiro e blefe Tiram da vez natureza e verdade. Versus Temperança e ganância Versos sobre Conhecimento e ignorância Versus o vaga-lume e o breu Versos que um novo ato nasceu. Bola da vez amapaense cerrado Será que sempre vez, campo marajoara? Será que talvez? Nem pensar talvez. Vez nossa vez nossa Amazônia! Pega de vez um grilo voador Bronca de CAR Bronca de Lá E PRA completar Em vez do que é certo Vem lá um esperto Novos Pizarros Mais uma vez: LasCAR. *****

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Jê-Nacional

Belém, 01 de outubro de 2016.

Cortaram a minha árvore Gene a lógica do vil metal Tupã meu pai Sou agora o dono De um raciocínio que não sai Mataram os irmãos meus Filhos da terra que conheci Mãe que é Gaia Queria cantar justiça Ou colorir a vida como jandaia

Canta Jandaia Canta Jandaia Verde e amarelo É a vida com que há de mais belo

Rapto também eu convivi Dor da carne e sangue inocente Banto eu sinto Tendo mil cabelos Sou o que sou jamais eu minto

Voa Jandaia Voa Jandaia A Liberdade É uma Jandaia com Alteridade

Vim em grande confusão Um estrangeiro de mão tão alva Quanto medo Se eu não entendi Foram poderosos que me erraram o enredo

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Pede Jandaia Pede Jandaia Discernimento É o que nutre, melhor alimento

Somos um juntado de muitas almas Somos cantores de boas novas Passarinhada Se somos falhos É que as asas não estão saradas

Voem Jandaias Voem Jandaias Um carnaval Quando a felicidade nos é normal

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Se estivesse na formatura de Ribeiros, assim seria minha oração

Belém, 10 de setembro de 2016.

Passo assim um testemunho. Testemunho de gente que se recusa a ser ribeirinho, inho, inho, pequenininho, coitadinho. É pessoa forte, do Norte, dono de sua sorte. E certeiro lhes homenageio ser antes de tudo, Ribeiros. Corajosos e corajosas contra as difíceis condições e contrários às opiniões de incerteza se estariam ou não se formando no final. Se seriam técnicos. Se seriam cidadãos mais críticos de sua região e da globalização que os cerca. Só que sim! Se formaram técnic@s agropecuári@s no dia 09 de setembro de 2016. Porém, já eram formados. Capacitados na vida dura de serem agroextrativistas. No despeito que este Brasil despeja sobre nossa Amazônia. Que bom mais gente para dizer que não somos quintal. Mais pessoas para testemunhar que a alma existe, quem dá a pista é a coragem. Soma da luta e da fé de um outro mundo possível. Da tapioca pensante, do açaí nutriente. Da terra nativa pra mente ativa.

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Da senhora experiente que agora é técnica, por que não teria tal direito? Dos humildes rapazes que agora também são técnicos, por que não seriam? Do levante das mulheres mais cientes e confiantes de si mesmas, eu nunca duvidei. Às vezes o país duvida. Pobre país. Se Amazonizasse um tiquito mais, talvez achasse um pouco da sabedoria que tanto precisa. A sabedoria de quem é terra, rio, igarapé, mata, dia e noite numa só misturada. Como estes que se formaram. A Redenção dos que teimam.

E vencem. *****

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Justa Causa

Belém, 09 de outubro de 2016.

Eu vi meu pai se arrastar eu vi um trauma tramar a chave do homem guardar compra do mês a filar eu vi o salário esgotar hora-extra que detesta álcool fez sua festa Bate o cartão ó João bate o cartão coração máquina de opinião não vejo o dia senão na novela de uma nação vai Maria que acredita que é sua vida que é liberta liberta do patrão Fugindo vou pela mata quase a boca me escapa "quanto o dinheiro maltrata" fã de um escravocrata uma cortina aparta da sociedade a nata “Agro é tudo” menos pro mundo um solo fecundo é tão estéril estéril o patrão O ônibus óbvio lotado

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de um pescoço esgotado pressinto o olho cansado de um modelo adornado Pro meu dinheiro trocado e um cobrador anulado motorista ativista freia na pista pra acordar acordar do patrão Na base de um açaí que mela o dente a sorrir que roi às vezes um mari que rasga um jaraqui a minha aldeia sentir a ameaça cair traz fome como um drone sem a alma só nome só a fama a fama do patrão Carrego o peso dos anos carrego o peso dos bancos você que era meu mano agora se diz soberano entramos os dois pelo cano Baixa classe Média classe nós daremos a face? pra bater bater o patrão? Agora o plano de aula viver a mente na jaula maneira tão dinossaura de aperta-lhe a válvula de abobar a sua lauda

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lhe colocar uma cauda do burrinho burburinho escapou um bilhetinho “Sou distinto distinto do patrão” O meu profeta era livre assim meus sonhos mantive Tenacidade decide cantar um salmo que vive comerás o pão que te grite “Sobriedade Humanidade Liberdade” quem tem coragem? pra derrotar o patrão *****

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Mais Valia

Abaetetuba, comunidade Laranjituba, 28 de abril de 2017. Sou um pobre catador de latinha Do meu esforço o feijão e farinha Te alimento Do meu suor eu sustento Só não vale dizer que não tento Sou homem que trabalha no mangue Caranguejo meu parceiro de sangue Se duvidas Repares as marcas da vida Só não digas que minha luta é perdida Sou um pobre catador de esperança Trago um fardo que a ideia me lança Espalhar Para modo de você ir juntar Meu trabalho e o seu misturar Sou o porteiro daquela escola Cumprimento o seu dia na hora Com sorriso Mesmo em casa sem lajota no piso Não ajeitei pois ando bem liso Latinha Caranguejo Esperança Sorriso

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Por que protestar? Meu trabalho valorizar Sou uma pobre a vender um biscoito Faço isso desde cedo aos dezoito Sobe e desce Cada ônibus faço uma prece Um bombom pro cobrador que merece Sou uma pobre que corrige uma prova Eu semeio e colho geração nova Novas mentes Pedacinhos de anjos emergentes E pensar que agora uso lentes Sou assim de lutar na cozinha Nesta quentura e com esta touquinha Meu tempero Cuidado com muito esmero Que esteja bom de sal eu espero Biscoito Caderno Esperança Tempero O que vou exigir? O que é justo pra mim e pra ti Nós somos lutadores de fé A igualdade nutre o homem e a mulher Tão bonita A dívida que a gente então quita A Casa Comum nos habita Nós somos despertadores do dia E travesseiros no final de uma lida

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E o cansaço Se alimenta do passo Que não recebe um abraço Então me dê um abraço Pra acabar o cansaço Dia primeiro eu quero um abraço Quem trabalha sabe bem o que eu faço *****

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Hipocricida (Cantiga de Roda Para Indignados)

Belém, 20 de março de 2017. Duas baratas transando, grudando, E sua nojo ninhada Espalhada Rápidas como nossa agonia Dia a dia Duas baratas caçoando Transando Dez baratinhas correndo Horrendo Voam do tipo cascuda Imunda A progressão desse bichos No lixo Dez baratinhas correndo Horrendo Cem baratinhas voando Antenando O lixo monte perfeito Eleito O que mais podre no vento Evento Cem baratinhas voando Antenando Quinhentas baratas coriscas Arriscam Nada a temer da pessoa Caçoam Conta que não bate, Brasil Sumiu Quinhentas baratas coriscas

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Arriscam São mil baratas de fato Não mato? Arrepiam qualquer Mulher De fé Como aquele goleiro Faceiro Como a toga e jornal Boçal Existem milhares baratas Cascatas A natureza do fato Exato A Pós-Verdade inseta De certa Na tua mente vencida Te cida *****

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A Poronga de Seu Diógenes

Belém, 11 de dezembro de 2016. No meio daquela multidão de assustados, cabeças baixas liam estupefatas as notícias naquela cidadezinha do Marajó. Tal multidão seguia como uma boiada tocada pelo próprio fazendeiro, chicoteada nos lombos sem marcas. E naquela manhã de sol, mocinhas escondiam-se nas sombras para melhor ver a tela, concordavam com a notícia que lhes chegavam às mãos, apesar da radiante estrela ofertar a vida em forma de fótons. Rapazes ajeitavam a gola das camisas com uma das mãos, a outra a continuar movendo o aparelho para visualizar o que estava escrito. Madames e bons senhores riam da piada daquela nota lida, pescoços curvados e até diria nodulados de tanto não enxergar o óbvio. Para lá e para cá circulavam as pessoas como se olhassem pro chão, mas não olhavam pra terra, antes fosse. Era para o aparelho. A notícia espalhada naquelas pupilas e que não chegavam ao cerebelo. Anedotizava-se que circulava na cidade um pobre homem, vestes rasgadas, trazendo uma poronga em pleno sol. Todos clicavam e reagiam com bonequinhos-figura de mil reações.

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De curiosidade. De espanto. De risos. De desprezo. De piscadela. De raiva. Menos de um coração. Alguém sugeriu que este homem estava apenas chamando a atenção para algum político. Outro o digitou comunista. Outro o digitou pornográfico. Outro passou direto pelo texto, mais interessado estava em uma corrente. Seu Diógenes, enquanto isso, aspecto bonachão, andava no meio das pessoas, decidido, apesar de invisível neste paradoxo. Desfilava a poronga na cabeça, fumaçando o antigo querosene, com seu pequeno sol no alto da fronte e da lamparina. Permanecia no contra-fluxo da maré. Cantava o refrão naquele pedaço de Marajó: "Procuro um Homem, Procuro uma Mulher Quem será que é? Quem será que é?" Ninguém deu bola.

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Seu Diógenes deu de ombros e caminhou para o porto. Sentou no casco, pegou o remo e não olhou para trás. Seguiria em sua busca rios afora até a poronga apagar. Que não apagava. *****

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Anajás

Rio Anajás, 05 de março de 2017. Eu prefiro o nascer do Sol de Anajás. Prefiro a gente forte de Anajás. Não falemos mais da maleita como não fosse possível combatê-la. Escolho falar da lágrima no porto para aqueles que partem. Do filtro do Tempo mais forte deste lugar para meditar na rede Na opção de estar no âmago de um território O cúmulo da várzea marajoara. Redescobrir que nada sabemos e que talvez nem o próprio Destino saiba. Prefiro pensar que Anajás é antes de tudo, um Rio E que como todo rio tem seus Altos, Médios e Baixos. Eu quero e falo da resistência anajaense No corpo e na alma que foram esquecidos pelos poderosos que foram saqueados por tantos outros Todavia um entretanto de questionadores brota da terra. Eu decidi falar do nascer do Sol de Anajás cegando-me a vista para que eu me concentre na beleza da vida na curva do rio no gosto de seu açaí no milagre de resistir. Mais um dia começou em Anajás e eu testemunhei.

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A Ponte que Virou Carta

Belém, 08 de março de 2017.

Meu Trisavô escreveu pra mim: "era uma vez um mundo feliz quase morreu por culpa de alguns mas o amor dos bons me deu a chance de dizer: era uma vez". Porém haviam flores que venciam até as mais chatas cores nesse tempo ainda elas encantavam exércitos humanizavam os assépticos aves voavam alertavam que os sonhos não acabavam cochilamos mas mantivemos a nossa fé amor pelo futuro as nossas letras ajudaram a não ter vistas retas mil opiniões construíram esta humilde ponte Ponte para uma Carta quando crianças ainda abraçavam e queriam lembranças a memória ainda era um filme legal da própria infância matinal pesado o dolo

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se foi angústia te inspiravas um choro pra no outro dia o sol lhe aquecer dizia que renascias renascias pra escrever" trineto agora te escrevo "era uma vez um mundo feliz quase morreu por culpa de alguns mas o amor dos bons me deu a chance de dizer: era uma vez..." *****

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Aquarela Estuarina

Belém, 30 de novembro de 2016.

Pinta um Céu de Sorte Pinta um Sol que explode Meu Estuário Faz da nuvem branca Rosto bom da Santa Imaginário Verde espalhado Ao som de periquitos A imagem de dias bonitos Passou o pincel A mão do Céu Cor de Rio Sem Fim Pardo miriti Do descascado Roxo do paneiro Tuíra tinteiro Dedo melado Tela colorida Que faz e se desfaz Do Artista que oferta Paz Terra moldura Vida textura Colorindo os dias de vento A memória será um alento Se chover pra mim tudo bem Tudo que se mistura além Verde aturiá Azul tracuá Marrom maresia Preto mutum Cinza buçu Amarelo que pitia

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vermelho ucuúba Malha jacareúba Branco voo de garça Bege bacaba Cor fruta-pão Laranja camarão Pinga uma estrela e o Ouro daquela tarde Ó maravilha favor arremate Lá vem a lua Que continua São outras paletas de cores...

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No Dia em que Inspirei o Mundo

Belém, 19 de outubro de 2016.

Bateram um dia na minha porta Um carteiro com notícias do hoje "Os maus tomaram a casa" E chegou- se a mim um Homem "Me empresta uma xícara de equilíbrio ou então um pedaço de abraço Empresta um respiro fundo Tua calma" Nem sabia que podia isso oferecer Olha só que surpreso fiquei Respire fundo Respire fundo Respire fundo Nas calçadas mostram-me Deus Mas Deus não é de tão templos Acho que parece com um mendigo Que sonha com o calor do afeto Que sonha com o bom cheiro Da comida justa Do café amigo Com o perfume das rosas Com o bebê risonho Respire fundo Respire fundo Respire fundo Jogaram - me a terceira pedra Nem tinha culpa talvez não

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A raiva sombria assobiou Mas eu me ligava na frase "Perdoa mas não esqueça" "Amai - vos uns aos outros" "Quem com ferro fere..." "Conheces a ti mesmo?" Respire fundo Respire fundo Respire fundo Em nome da Paz Em nome do Bom Em honra à Ele Em honra à Ela Respire fundo Respire fundo Respire fundo

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Assim Falou Zarazilda, a Bombozeira Geógrafa do Paar-Ver-O-Peso

Rio Jaburu, Breves, 03 de março de 2017.

Me perguntas o que tem de novo eu te digo: quase a mesma coisa como assim eu não vi o jornal? Se eles falam e não me escutam eu prefiro falar pro espelho amanhã será um dia melhor Vou conversar com quem eu amo não tem risco da bateria acabar Para o universo o Homem é um nada e para o nada ele é tudo então nós somos bem na metade o artista que luta com sua vaidade o teste maior do que existe no mundo Se o Homem pisou lá na lua cheia pelo jeito pisou em nós também soldados seguem somente ordens guerrilheiros seguem causas enquanto uns tem hierarquia outros tem alma Invencível é o teu veículo cinza já pensou você na direção? mas não és o modelo ali Teu inglês é quase tão perfeito te dá asas para a turma chique uma bala recolheu teu bairro Te incluíram num novo grupo

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te excluíram se não achas justo Mundo vasto mundo se te chamassem Drummond serias poeta e a solução qual é a criatura? Inquiriu a Esfinge não é bem Homem pois hoje finge e pasta de quatro para o grão cifrão Somos tão Carlitos contra os ditadores e sendo assim sorrimos Esperança não é espera É muito menos mera quimera Esperançar é construirmos O Bem Viver Somos gente boa como um chá de canela que a nossa mãe faz memória temos de um bom abraço a sensação de um golaço pra que a lógica do moedor? Se eu sou capaz se o Homem é a medida de todas coisas é mal medido sem a Mulher patriarcado sem pais nem mães agora entendo porque faltam pães inverto o Globo para surgir O Bem Viver *****

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Todo Ano Maria e Bené

Belém, 22 de dezembro de 2016. Ei Benedito todo ano é ano tuíra Do açaí que todo tempo te admira Maria do Céu ispia vem o pingo d´água Afogando sempre que pode as suas mágoas Pra quem tu emprestaste a esperança? Bacana teu Bené te devolveu A maré agora encheu Rede chama que é hora de se aquietar Maria reparaste a mangueira como está? Riem fácil as crianças Benedito valsou-te a dança Rodopio de todo tempo o velho e o novo Ei Mariazinha todo ano assim termina Saudade do que é bom e o ruim que finaliza Seu Benedito quem provou a eternidade? Uma manta de retalhos costurada de bondade Bacuris avisam que tem fartura à vista A Mãe Terra dá mais uma chance Mais um início de romance Do engatinho à bengala um lance Maria e Benedito plantam no terreno todo ano Dezembrada pra janeiro é sorriso no olhar Comoção de quem partiu Emoção de quem nasceu Viajante da amizade que aportou

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Ei Benedito sabe que horas são? Será tempo de ir rever o seu irmão? Ei Dona Maria quanto falta e custa? A mata pede vida da mulher sendo justa Algum dinheiro vira-e-mexe é um pedido Mas pra Maria antes de tudo é a pessoa Bené concorda e prefere a alma boa Fala profética na mente ressoa Verdade que para os netos ecoa Seu Benedito abraça Maria e vê o mundo Dona Maria é abraçada e percebe tudo No seu trapiche de vista pro horizonte "Ei Ano Novo seja mais belo e bom com a gente Do ano velho quero saudade tal rio corrente" "Ei Ano Novo queria assim só um favor Sejas quebra-cabeças pra juntarmos as suas peças de amor"

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