Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Este trabajo presenta un análisis sobre las posibilidades del cooperativismo de
vivienda, principalmente a través de aquellas cooperativas que entienden la
vivienda desde la propiedad colectiva y el derecho de uso, como herramienta que
facilita el acceso a una vivienda asequible para el desarrollo de una vida digna.
Se exponen los elementos que caracterizan el sistema de provisión de vivienda en los
países del sur de Europa, y más concretamente, en los territorios del
Algarve, Alentejo y Andalucía; la función de la economía social y transformadora como
instrumento útil que satisfaga la necesidad de vivienda; las características y tipos de
cooperativas de viviendas; el ejemplo de la experiencia uruguaya; la evolución del
cooperativismo de vivienda en Portugal y, por último, se recogen algunos ejemplos de
diferentes tipos de cooperativas de viviendas en el Estado español.
No solo es un modelo teórico, son experiencias prácticas que demuestran que
hay alternativas, que otro modelo residencial es posible y necesario. Se trata de pasar de un sistema de producción de la
vivienda guiado por la especulación y el máximo beneficio, a un sistema de
producción cooperativo, colectivo, donde prime el valor de uso de la vivienda sobre el
valor de cambio.
Este trabalho apresenta uma análise sobre as possibilidades do cooperativismo habitacional, principalmente por meio das cooperativas que compreendem a habitação coletiva e o direito de uso, como ferramenta facilitadora do acesso à habitaçao digna e acessível.São expostos os elementos que caracterizam o sistema de provisão de habitação no sul da Europa, nos territórios do Algarve, Alentejo e Andaluzia; o papel da economia social e transformadora como um instrumento útil para satisfazer a necessidade de habitaçao; as características e tipos de cooperativas habitacionais; o exemplo da experiência uruguaia; a evolução do cooperativismo habitacional em Portugal e, finalmente, alguns exemplos de diferentes tipos de cooperativas habitacionais no estado espanhol.Não só é um modelo teórico, são experiências práticas que mostram que existem alternativas, que outro modelo residencial é possível e necessário. O objetivo é passar de um sistema de produção habitacional guiado por especulação e benefício máximo para um sistema cooperativo de produção coletiva, onde o valor de uso da habitaçcao prevaleça sobre o valor de troca.
la v
ivie
nda
en
an
dalu
cía
, alg
arv
e y
ale
nte
jo ·
HABI
TAÇ
ÃO N
O A
NDA
LUZÍ
A, A
LGA
RVE
E A
LEN
TEJO LA VIVIENDA EN ANDALUCÍA, ALGARVE Y ALENTEJOLa eración para el acceso y uso de la vivienda
HABITAÇÃO NO ANDALUZÍA, ALGARVE E ALENTEJO eração para o acesso e uso da habitação
La vivienda en Andalucía, Algarve y Alentejo
La cooperación para el acceso y uso de la vivienda
Habitaçao no Andaluzia, Algarve e Alentejo
Cooperação para acesso e uso da habitação
Coordinación / Coordenação:
Autonomía Sur, cooperativa andaluza
La vivienda en Andalucía, Algarve y Alentejo. La cooperación para el acceso y uso de la vivienda.
Habitaçao no Andlauzia, Algarve e Alentejo. Cooperaçao para acceso e uso da habitaçao
Abril de 2019.
Autoría / Autoria: Marina Lora Chapela, Marta Solanas Domínguez, Antonio Echaves García, Óscar García Jurado y José Manuel Betanzos Martín.
Edición / Edição: Autonomía Sur, cooperativa andaluza
Traducción / Tradução: Lamedina, cooperativa andaluza
Corrección de textos / Correcção de textos: Asociación Periferia
Diseño y maquetación / Desenho gráfico: Lamedina, cooperativa andaluza
Colaboración / Colaboração: Glocal Faro, Alice Pisco.
Impreso en Trastamara (Sevilla, Andalucía) / Impresso em Trastamara (Sevilha, Andaluzia)
Depósito legal: SE-921-2019
La edición y publicación de este libro ha sido financiado por la subvención para el fomento de la cooperación transfronteriza en la Eurorregión Alentejo-Algarve-Andalucía, de la Consejería de Presidencia, Administración Pública e Interior.
A edição e publicação deste livro foram financiadas pela subvenção para a promoção da cooperação trans-fronteiriça na Eurorregião Alentejo-Algarve-Andaluzia, da Consejería de Presidencia, Administración Pública e Interior.
Obra registrada bajo una licencia Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0
Código de registro en Safe Creative: 1907231509281
Índice
Notas previas ..............................................................................11
Capítulo 1: El sistema residencial sureuropeo ..................................13
1. Regímenes de provisión de vivienda en el sur de Europa: loscasos de España y Portugal ........................................................ 15
2. Provisión de vivienda en el Alentejo, Algarve y Andalucía: elementos básicos y reproducción del modelo ........................... 25
Capítulo 2: Economía transformadora y vivienda ........................... 41
3. Introducción ...................................................................... 43
4. Economías sociales y la economía social transformadora .. 45
5. Vivienda, valor de uso y soberanías .................................... 60
6. Conclusiones: economía social transformadora y el derechoa la vivienda digna ..................................................................... 67
Capítulo 3: La vivienda cooperativa ................................................. 71
7. Aspectos generales sobre las cooperativas de viviendas ..... 73
8. El derecho a la vivienda en las cooperativas ....................... 76
9. La participación social ....................................................... 87
10. La recualificación de la ciudad existente ............................ 92
Capítulo 4: Un referente internacional en vivienda cooperativa:
Uruguay ......................................................................................... 97
11. Funcionamiento general del sistema actual de cooperativasde vivienda en Uruguay .............................................................. 99
12. El proyecto cooperativo en la actualidad .......................... 107
13. Casos ilustrativos del cooperativismo de vivienda enUruguay .................................................................................... 110
14. Claves del cooperativismo de vivienda en Uruguay ........... 117
Capítulo 5: El cooperativismo de vivienda en Portugal .................. 125
15. Marco legal, conceptualización y tipología de cooperativasde viviendas en Portugal ........................................................... 127
16. Evolución del cooperativismo de vivienda: de la CooperativaPopular de Construção Predial al cooperativismo tras la Revolución de 1974 ..................................................................................... 135
17. Situación actual ................................................................ 144
18. A modo de resumen ......................................................... 148
Capítulo 6: Algunas experiencias de vivienda cooperativa en el
Estado español y Andalucía .......................................................... 151
19. Las cooperativas juveniles de gestión de vivienda pública enalquiler de Madrid ..................................................................... 153
20. Las experiencias de senior cohousing: la cooperativa de vivienda Los Milagros ............................................................... 157
21. Las nuevas iniciativas intergeneracionales: la cooperativa de vivienda en cesión de uso La Borda ........................................... 161
Conclusiones ................................................................................ 167
Sumario
Notas previas ............................................................................ 175
Capítulo 1: O sistema residencial no sul da Europa ........................ 177
1. Regimes de alojamento no sul da Europa: os casos de Espanha e Portugal ................................................................... 179
2. Prestação de habitação no Alentejo, Algarve e Andaluzia:elementos básicos e reprodução de modelos ........................... 189
Capítulo 2: Economia transformadora e habitação ....................... 205
3. Introdução ....................................................................... 207
4. Economias sociais e a economia social transformadora ... 209
5. Habitação, valor de uso e soberania ................................. 224
6. Conclusões: a transformação da economia social e o direito ahabitação decente .................................................................... 231
Capítulo 3: Habitação cooperativa ................................................ 235
7. Aspectos gerais das cooperativas habitacionais ................ 237
8. O direito à moradia em cooperativas ............................... 247
9. Participação social ............................................................ 257
10. A requalificação da cidade existente ................................ 262
Capítulo 4: Uma referência internacional em habitação cooperativa:
Uruguai ........................................................................................ 267
11. Funcionamento geral do atual sistema de cooperativashabitacionais no Uruguai ......................................................... 269
12. O projeto cooperativo hoje em dia ................................... 277
13. Casos que ilustram o caminho do cooperativismo habitacional no Uruguai ........................................................... 280
14. Chaves de cooperativas habitacionais no Uruguai............ 287
Capítulo 5: A cooperativa de habitação em Portugal .................... 295
15. Marco legal, conceito e tipologia das cooperativashabitacionais em Portugal ........................................................ 297
16. Evolução do cooperativismo habitacional: da CooperativaPopular de Construção Predial ao cooperativismo após a Revolução de 1974 ....................................................................304
17. Situação atual .................................................................. 313
18. Como resumo ................................................................... 317
Capítulo 6: Algumas experiências de habitação cooperativa no
Estado espanhol e na Andaluzia .................................................... 321
19. Las cooperativas juveniles de gestión de vivienda pública enalquiler de Madrid ..................................................................... 323
20. As experiências de cohousing sênior: a cooperativa de habitação Los Milagros ............................................................. 327
21. As novas iniciativas intergeracionais: a cooperativa de habitação em transferência de uso La Borda ............................. 331
Conclusões ................................................................................... 337
Bibliografía ................................................................................... 343
Castellano
Castelhano
Notas previas
Este trabajo presenta un análisis sobre las posibilidades
del cooperativismo de vivienda, principalmente a través de
aquellas cooperativas que entienden la vivienda desde la
propiedad colectiva y el derecho de uso, como herramienta
que facilita el acceso a una vivienda asequible y digna.
Se exponen los elementos que caracterizan el sistema de
provisión de vivienda en los países del sur de Europa, y más
concretamente, en los territorios del Algarve, Alentejo y
Andalucía; la función de la economía social y transformadora
como instrumento que satisfaga la necesidad de vivienda; las
características y tipos de cooperativas de viviendas; el
ejemplo de la experiencia uruguaya; la evolución del
cooperativismo de vivienda en Portugal y, por último, se
recogen algunos ejemplos de diferentes tipos de cooperativas
de viviendas en el Estado español.
No solo es un modelo teórico, son experiencias prácticas
que demuestran que hay alternativas, que otro modelo
residencial es posible y necesario. Se trata de pasar de un
sistema de producción de la vivienda guiado por la
especulación y el máximo beneficio, a un sistema de
producción cooperativo, colectivo, donde prime el valor de
uso de la vivienda sobre el valor de cambio.
11
Capítulo 1:
El sistema residencial
sureuropeo
Antonio Echaves García
1. Regímenes de provisión de vivienda en el sur
de Europa: los casos de España y Portugal
Las conexiones entre vivienda y sociedad, y la producción
científica que se ha realizado al respecto, son abundantes,
variadas y han sido fundamentales para la creación de
aproximaciones teóricas y marcos interpretativos que han
ayudado a posicionar y comprender ciertos fenómenos
residenciales, siendo cada formación social la que
determinará un entorno habitacional con características
específicas (Echaves y Navarro, 2018; Echaves 2017;
Martínez del Olmo, 2013). Serán mencionados atributos
delimitados los que permitirán hablar de una problemática
de la vivienda y de la prioridad justificada que esta representa
(o debería representar) en el conjunto de la sociedad.
Existen diversos enfoques para interpretar y medir la
relevancia de la vivienda como fenómeno constitutivo de un
contexto concreto. Uno de ellos es el institucional o político,
que asigna a las estructuras económicas y políticas capacidad
para ejercer influencia en el hecho residencial (Bassett y
Short, 1980; Cortés, 1995). Constata la relación entre
acusados desequilibrios residenciales; necesidades de
vivienda no satisfechas y la actuación de un mercado que,
alejado de la neutralidad, persigue intereses propios en un
15
entorno de conflicto, lo que hace necesario la intervención
estatal de los modos de producción y de acceso a la vivienda.
Esto es, un punto de vista institucional en el análisis de la
vivienda resulta del todo acertado, pues lejos de considerar el
mercado como elemento neutral, representa el «campo de
batalla» de unos intereses que surgen en el momento en que
se definen unas políticas institucionales. Serán factores con
carácter estructural los que podrían delimitar las diferentes
conductas en torno a la realidad habitacional.
El análisis de la producción de viviendas y políticas
residenciales representa un escenario fundamental para
ahondar en las causas de los procesos de desigualdad
residencial y para determinar cómo los regímenes de
provisión de vivienda fijan los distintos comportamientos
residenciales. La vivienda es el espacio en el que transcurre la
vida cotidiana y en la que tienen lugar los procesos de
transformación que convierten a cada individuo en un «ser
social». La vivienda es vital para para lograr la socialización y
estabilidad social (Leal y Cortés, 1995), dado que sin esta no
se podrían cumplir una serie de exigencias sociales.
Si se entiende la vivienda y su acceso como necesidad
social, se admite que esta juega un papel clave en la
organización de la sociedad y que la satisfacción de dicha
necesidad es un requisito imprescindible para vivir de
manera integrada y normalizada, los regímenes de provisión
de vivienda se convierten de esta manera en un elemento
básico que debe garantizar este proceso de inserción de la
forma más adecuada. Pero, ¿qué se entiende por regímenes
de provisión de vivienda? Dicho régimen está conformado
por un conjunto de opciones disponibles en cada sociedad
para conseguir un lugar en el que residir. Su objetivo final
16
sería el de lograr que todo individuo que necesite un
alojamiento lo pueda tener (Cortés y Martínez, 2009). Para
Boelhouwer y Heijden (1994) es un sistema (housing system) de
relaciones mutuas de los contextos demográfico, social, y
territorial con los mercados y estructuras residenciales. Este
sistema «reúne unidades residenciales, actores e instituciones
que explican la producción, el consumo y la relación de la
vivienda como fenómeno» (Bourne, 1981 en Módenes y
López-Colás, 2012, p. 2).
Existen importantes diferencias en los modos en que
cada sociedad satisface sus necesidades de alojamiento.
Estos modos se desarrollan en contextos determinados y
han ido evolucionando con el tiempo, por tanto guardan una
estrecha relación con el tipo de estructura social existente; la
organización política y territorial; las formas o modos de
convivencia dominantes, etc. Son (los regímenes de
provisión de vivienda) un producto social que evoluciona y
se transforma, y su comprensión pasa por el estudio del tipo
de régimen o estado de bienestar en los que se encuentran.
Al analizar los diferentes regímenes de bienestar en los
países de nuestro entorno se suelen establecer una serie de
agrupaciones en tipos ideales, siendo la más conocida la que
estableció Esping-Andersen (1990) a través de tres modos de
intervención del Estado: liberal, socialdemócrata y
conservador-corporativista. Pero no son pocas las críticas a
la propuesta. Muchas de ellas están relacionadas con el
excesivo carácter formal del modelo y su grado de
aplicabilidad. Es necesario percatarse que las ya mencionadas
clases de regímenes de bienestar social son, en definitiva,
formalidades, lo que supone en algunos casos la
17
imposibilidad para comprender y clasificar de manera
adecuada algunos contextos determinados.
A pesar de la relevancia de los criterios que el autor
empleó para identificar los distintos regímenes que han
definido y, en parte, siguen definiendo el sistema capitalista
(a través de la relación público-privada en la previsión social,
de un lado, y el grado de des-mercantilización de los bienes y
servicios sociales y sus efectos en la estratificación social, por
otro) no siempre resultará fácil y alcanzable hablar de
atributos generales para un proceso dado, intentando captar
atributos propios de casos específicos. En esas «otras»
posibles realidades nos encontramos con una serie de países
que conjugan características propias que, aun considerándose
regímenes de bienestar, no pueden englobarse en las
propuestas clásicas. Es el caso de los países del sur de
Europa, entre ellos España y Portugal, los cuales, tras ser
escasamente referenciados en los primeros análisis
comparativos sobre los regímenes de bienestar, han
permitido teorizar un modelo distintivo (Ferrera, 1995) que
ha venido a denominarse el régimen mediterráneo del
bienestar-vía media (Moreno, 2001) o los estados de bienestar
meridionales (Flaquer, 2002). Estos trabajos y otros muchos
(Draibe y Riesco, 2006; Rodríguez, 2009) han demostrado la
veracidad del modelo y la existencia de un régimen de
bienestar característico sureuropeo con unos atributos
particulares.
El régimen de bienestar de los países del sur de Europa,
de España y de Portugal reproduce socialmente, y de manera
diferenciada, patrones específicos relacionados con la
vivienda; los modos de habitar y las características
residenciales. Pero al mismo tiempo, la vivienda,
18
determinada por el mercado y por ciertas políticas de
provisión, «conforma la naturaleza de los regímenes de
bienestar en los distintos países» (Moreno, 2001, p.74). Su
relevancia y efectos en el tipo y calidad de vida de los
individuos y sus repercusiones, deberán considerarse básicos
para el porvenir del bienestar. De esta manera, nos
encontramos ante regímenes de provisión de vivienda que
conforman, y a su vez son conformados, por los regímenes
de bienestar en los que se hallan inmersos. Y si es posible
establecer tipologías diferenciales sobre regímenes de
bienestar, también será viable realizar clasificaciones de los
diversos regímenes de provisión de vivienda.
A pesar del aumento del stock de viviendas en propiedad
en toda Europa a partir de la segunda mitad del siglo XX, lo
que sirvió de base para el desarrollo de contribuciones
teóricas en torno a la tesis de la convergencia residencial
(Harloe, 1995; Pareja, 2010), la oferta de vivienda y sus
características es la variable que resulta más relevante para
establecer comparativas entre las estructuras residenciales
(Kemeny, 1995; Allen et al., 2004; Haffner et al., 2009) y, en
definitiva, la que posibilita el acceso a la vivienda bajo
determinadas situaciones y ofrece, pero también limita,
ciertas oportunidades a los demandantes (Echaves, 2017).
España y Portugal ocupan un lugar muy concreto en las
clasificaciones de los regímenes de provisión de vivienda
(Ronald, 2007; Módenes y López-Colás, 2012), con la
propiedad como forma característica (con elevada
bancarización y la financiación de la compra a través de
crédito). Lo que unido a bajas tasas de viviendas principales
en alquiler y a costes elevados (predomino del mercado
privado en detrimento del alquiler social); altos porcentajes
19
de vivienda secundaria y el rol de la familia en la provisión
de vivienda (Guadalupi, 2011), permitiría apoyar la tesis de la
divergencia para los países del sur de Europa y podría
explicar ciertas trayectorias residenciales y las condiciones de
acceso a la vivienda.
En general existen dos modelos de regímenes de
provisión residencial: un modo con una lógica más
mercantil, y basado en el mercado residencial, y otro más
político (aunque también económico) con regulación y
basado en actuaciones con protección pública, cuyo objetivo
es edificar viviendas con precios por debajo del mercado y
destinadas a hogares con escasos recursos. En España y
Portugal la vivienda se organiza mayoritariamente por los
mecanismos que establece el mercado (Cortés, 1995;
Vasconcelos, 2003), quedando la intervención pública
subordinada. El predominio de la visión de la vivienda como
una mercancía ha dado lugar a un mercado de vivienda
especializado. Una situación de monopolio y especialización
que se traduce en incrementos considerables de la
producción de viviendas, en su mayoría libres y en el que la
proporción de viviendas protegidas ha ido disminuyendo, no
llegando a suponer, en el caso español, más del 13% de las
viviendas iniciadas año a año en el periodo 2000-2014 (datos
del Ministerio de Fomento).
Este modelo de crecimiento (predomino de vivienda libre
y escasez de vivienda protegida), no obstante, no ha
significado necesariamente la satisfacción de necesidades
residenciales de todas aquellas personas que realmente
necesitaban una vivienda, sino que en ocasiones ha estado
orientado a satisfacer parte de la demanda de viviendas
secundarias, vacacionales o turísticas. Esta es otra
20
característica del sistema residencial sureuropeo, y
concretamente de España y Portugal: la elevada proporción
de viviendas no destinadas a un uso principal, y vacías
durante gran parte del año. En España las viviendas
desocupadas representan un 28,3%; en Portugal el
porcentaje es aún mayor, el 32% aproximadamente respecto
del total de viviendas convencionales.
Tabla 1. Distribución de viviendas convencionales según su estado de ocupación. Distintos países de la Unión Europea, 2011.
País % viviendas
convencionales ocupadas
% viviendas convencionales
desocupadas
Bélgica 86,0 14,0
Dinamarca 87,3 12,7
Alemania 91,0 9,0
Irlanda 82,7 17,3
Grecia 64,7 35,3
España 71,7 28,3
Francia 83,2 16,8
Italia 77,3 22,7
Luxemburgo 92,8 7,2
Países Bajos 93,0 7,0
Austria 82,1 17,9
Portugal 68,1 31,9
Finlandia 90,4 9,6
Suecia 83,0 17,0
Reino Unido 95,7 4,3
Fuente: Eurostat Database.
La elevada proporción de viviendas principales en
propiedad (de las más elevadas de Europa) es otro de los
rasgos diferenciales que alejan las estructuras residenciales de
España y Portugal de la de otros países europeos,
especialmente de aquellos en donde el porcentaje de la
propiedad es claramente inferior a la media europea.
21
Gráfico 1. Distribución del parque de viviendas según régimen de tenencia en distintos países de la Unión Europea, 2011 (%).
Fuente: Eurostat Database.
Además es posible establecer diferencias en el alquiler, no
únicamente en función de mayores o menores tasas de este
régimen de tenencia, sino también en base al predominio del
alquiler privado o del alquiler social1. Mientras que en Países
Bajos, Austria o Reino Unido el porcentaje de viviendas con
alquiler social (respecto al total de viviendas en alquiler) en
2010 se situaba por encima del 20%, en Portugal y España
este porcentaje apenas representa el 3% (gráfico 2).
A su vez, es en España (42,3%) y en Portugal (35,2%),
junto a Grecia, donde un mayor porcentaje de población
tiene que afrontar un coste de acceso a la vivienda en alquiler
de más del 40% de los ingresos totales del hogar, según
datos de Eurostat de 2013. Un porcentaje bastante elevado si
tenemos en cuenta la media para la Unión Europea: 25,7%
(gráfico 3).
1Por alquiler social se entiende aquellas viviendas cuyo alquiler está regulado
(precio por debajo del mercado o gratis) o que reciben subsidios por parte de la Administración.
22
Gráfico 2. Alquiler social (% sobre el total de viviendas en alquiler). Distintos países de la Unión Europea, 2010.
Fuente: Eurostat Database.
Gráfico 3. Porcentaje de población que asume un coste de la vivienda en alquiler de más del 40% de los ingresos del hogar. Distintos países de la Unión Europea, 2013.
Fuente: Eurostat Database.
23
España y Portugal, por tanto, y dentro de las
clasificaciones europeas, se situarían en aquel grupo de
países en los que hay un predominio abrumador de la
vivienda en propiedad, escaso stock de vivienda en alquiler y
en su mayoría perteneciente al régimen privado (con costes
elevados), lo que dificulta el acceso a la vivienda.
La comprensión del significado de la vivienda pasa por
estudiar el modo en el que esta se configura y sus
implicaciones de cara al comportamiento residencial. Por
este motivo, es necesario analizar los modos de producción y
su conexión con las condiciones y formas de acceso a la
vivienda. Como se ha visto, España y Portugal ocupan un
lugar muy concreto en las clasificaciones europeas acerca de
los regímenes o sistemas de provisión de vivienda. Pero, más
allá de la comparativa entre países, ¿qué sucede si el análisis
se lleva a una escala de mayor detalle, entre regiones dentro
de los propios países? Aquí tomaremos como referencia
Andalucía y las regiones portuguesas del Alentejo y Algarve.
Como se tendrá ocasión de comprobar, pese a ciertos
matices, las distintas regiones citadas reflejan patrones y
condiciones de acceso comunes que responden a la misma
dinámica del sistema de provisión residencial en donde se
integran.
24
2. Provisión de vivienda en el Alentejo, Algarve
y Andalucía: elementos básicos y
reproducción del modelo
A finales del siglo XX y comienzos del XXI, en España
aumentó considerablemente la demanda de vivienda por un
crecimiento sostenido de la población, consecuencia del
aumento de la esperanza de vida y a la llegada de población
inmigrante. Ya en pleno siglo XXI, el ritmo de crecimiento
de vivienda superaba el registrado por la población y por los
hogares. En el periodo comprendido entre el 2000 y el 2008,
se terminaron cerca de tres millones y medio de viviendas en
el estado español (que supusieron un incremento cercano al
80% respecto a las que se construyeron en el periodo 1991-
2001), situando al parque actual en 25.218.536 millones,
según datos del último Censo de 2011. Habría que
remontarse a finales de los sesenta y principios de los setenta
del pasado siglo, cuando la construcción de viviendas se
aceleró de forma extraordinaria como respuesta a la
necesidad de ellas en la áreas urbanas que venía provocando
el éxodo rural de aquellos años, para encontrar cifras
semejantes.
El parque de viviendas en España ha crecido tanto en los
últimos 20 años que en la actualidad podemos calificarlo de
25
sobredimensionado en relación al número de hogares, con
cerca de 1,5 viviendas por hogar, y elevado en relación a su
población, con 50 viviendas por cada cien habitantes. Pero
esto no quiere decir que las necesidades habitacionales de la
población estén resueltas. Evidentemente, y para la
resolución de tales necesidades, el requisito básico y
fundamental es la existencia de una cantidad de vivienda
ofertada suficiente para responder a las nuevas necesidades
que cualquier sociedad va generando a medida que avanza y
se desarrolla, pero en España, al igual que Portugal, este
requisito no está del todo resuelto. El problema, no
obstante, no tiene que ver con la producción inmobiliaria, de
hecho se ha construido por encima de las necesidades, sino
más bien con el cómo se han producido estas viviendas (el
modelo de crecimiento), su gestión y hacia quien han estado
dirigidas.
En Portugal, el crecimiento del parque de vivienda por
encima del experimentado por la población también es un
hecho. De esta forma, si de 2001 a 2011 (según los censos
del Instituto Nacional de Estadística de Portugal) la
población pasa de 10.356.117 a 10.562.178, lo que supone un
incremento relativo del 2%, para ese mismo periodo el
número de alojamientos pasa de 5.054.922 en 2001 a
5.878.756 en 2011, lo que representa un incremento del
16,3%.
Esta dinámica, un ritmo de crecimiento de las existencias
de vivienda que supera el registrado por la población y por
los hogares, también tiene lugar en las regiones que aquí nos
ocupan: Alentejo, Algarve, y Andalucía, tal y como puede
apreciarse en la siguiente tabla.
26
Tabla 2. Evolución de la población y del parque de viviendas en el Alentejo, Algarve y Andalucía, 2001 y2011.
Indicador Alentejo Algarve Andalucía
Población (2001) 776.585 395.218 7.357.558
Población (2011) 757.302 451.006 8.371.270
Incremento relativo (%) -2,5 14,1 13,8
Viviendas/Alojamientos (2001) 349.946 278.418 3.531.124
Viviendas/Alojamientos (2011) 383.866 380.126 4.353.146
Incremento relativo (%) 9,7 36,5 23,3
Fuente: Censos de Población y Viviendas 2001 y 2011; Institutos Nacionales de Estadística de España y Portugal.
De esta forma, tanto en las regiones del Alentejo y
Algarve como en la comunidad autónoma andaluza, el
crecimiento del parque de viviendas, expresado en términos
relativos, es mucho mayor que el incremento
experimentando por la población; incluso en el Alentejo,
mientras las viviendas crecieron en el periodo intercensal un
9,7%, la población no solamente no crece sino que
disminuye un 2,5%. En el Algarve y en Andalucía, por su
parte, el incremento del número de viviendas en este periodo
se sitúa en el 36,5% y 23,3 % respectivamente, mientras que
la población crece en torno a un 14% en ambas regiones.
Pero no siempre se han iniciado y terminado viviendas
allí donde realmente eran necesarias, al contrario, muchas de
estas viviendas construidas se han localizados en áreas con
menores necesidades básicas, como localidades costeras o
municipios próximos a las áreas metropolitanas (Leal, 2006),
dando así respuesta a un tipo de demanda muy concreta, de
inversión (Cortés y Martínez, 2009), y que nada tiene que ver
con las necesidades básicas de alojamiento y con el acceso
garantizado para todos los individuos a una vivienda digna y
bajo condiciones asequibles. Esta demanda de inversión en
27
vivienda ha dado respuesta a aquellos sectores de la
población que, contando ya con una residencia propia,
aspiraban a poseer otra, ubicada en un lugar distinto al de la
principal, aumentando así el patrimonio y entendiendo la
vivienda como una inversión. Esto, como se ha dicho antes,
se ha traducido en un parque sobredimensionado y con un
peso relativo muy elevado de viviendas secundarias, a lo que
habría que añadir (también como peculiaridad del modelo
sureuropeo) la existencia de una gran proporción de
viviendas vacías.
En España, según el Ministerio de Fomento, en el año
2011 únicamente se utilizaba como vivienda principal el
68,8% del parque, quedando el resto del stock (31,2%) como
segunda residencia o vivienda vacía. Si bien es cierto que los
datos pueden estar sobrerrepresentados (especialmente las
vacías, debido al método para censarlas), se trataría en
cualquier caso de cifras muy importantes que nos hablarían
de la existencia de una inversión en vivienda con fines
estrictamente especulativos. En las últimas décadas,
especialmente hasta el año 2008 (comienzo de la crisis
económica), se prefirió retener la vivienda de inversión en
situación de vacía, a venderla o alquilarla, por la rentabilidad
que ya de por sí puede tener en ese estado (Martínez y
Echaves, 2015). En Portugal esta situación de
infrautilización del parque de viviendas también es común.
De esta forma, y siguiendo datos del censo de viviendas de
2011 del Instituto de Estadística portugués, el 19,3% de las
viviendas son secundarias y el 12,6% se mantienen vacías, lo
que sumadas supone un 32% del total de viviendas.
En el Alentejo, Algarve y Andalucía, los datos arrojados
por los censos evidencian un parque residencial altamente
28
infrautilizado, con porcentajes de viviendas secundarías y
vacías elevados. Así, y para Andalucía, el porcentaje total de
vivienda no principal es del 30% aproximadamente, tanto en
2001 como en 2011. En el Alentejo este porcentaje es
ligeramente mayor, del 32,1% en 2001, aumentando hasta el
36,4% para 2011 (21,5% de vivienda secundaria y 14,9% de
vivienda vacía). En el Algarve las cifras son muy reveladoras;
sin duda esta región portuguesa es un foco turístico y
vacacional de primer orden, lo que se traduce en porcentajes
de viviendas secundarias cercanos al 40%, desde el 38,5% en
2001 hasta el 39,5% en 2011. A estos porcentajes hay que
sumarles el peso relativo de la vivienda vacía, nada
despreciables y en aumento desde el 2001 hasta el 2011; del
9,4% al 13,2%.
Tabla 3. Evolución de las viviendas según uso: secundarias y vacías (% respecto del total de viviendas). Alentejo, Algarve y Andalucía, 2001 y 2011.
Indicador Alentejo Algarve Andalucía
Viviendas secundarias (2001) 19,7% 38,5% 14,6%
Viviendas vacías (2001) 12,4% 9,4% 15,5%
Total no principales (2001) 32,1% 47,9% 30,1%
Viviendas secundarias (2011) 21,5% 39,5% 14,5
Viviendas vacías (2011) 14,9% 13,2% 14,6
Total no principales (2011) 36,4% 52,7% 29,1%
Fuente: Censos de Población y Viviendas 2001 y 2011; Institutos Nacionales de Estadística de España y Portugal.
Más allá del fuerte crecimiento de construcción de
vivienda, que no siempre se ha traducido en la satisfacción
de necesidades de vivienda básicas pues muchas de ellas se
mantienen vacías y otras están destinadas a viviendas
vacacionales y turísticas, otro de los rasgos característicos del
sistema de provisión de vivienda sureuropeo es la elevada
29
proporción de viviendas en propiedad (desde la oferta), lo
que se traduce, desde el lado de la demanda, en un
porcentaje muy importante de individuos y hogares
propietarios de sus viviendas. Ahora bien, en un contexto
residencial en el que prima el régimen en propiedad (siendo
el alquiler escaso y con precios también elevados) la
solvencia económica es clave para poder hacer frente al pago
de las hipotecas. Pero esta solvencia por parte de los
individuos y de los hogares es sumamente compleja de
alcanzar en coyunturas económicas desfavorables y con tasas
de desempleo tan elevadas, especialmente para ciertos
colectivos como son los jóvenes u hogares con menos
rentas, lo que acaba generando verdaderas desigualdades en
el acceso a la vivienda.
Aunque es cierto que en el último periodo intercensal
(2001-2011) han descendido las viviendas principales en
propiedad tanto en España como en Portugal, sin embargo y
para el año 2011, el porcentaje que suponen respecto al total
de viviendas principales según régimen de tenencia es
cercano al 80%, lo que permite mantener la tesis de que
continúa siendo (la propiedad) el régimen de tenencia
mayoritario en estos países. Todo ello a pesar de que en un
contexto como el actual, de crisis económica y social, sería
aconsejable un reforzamiento estructural del régimen de
tenencia en alquiler y su fomento a precios asequibles desde
los poderes públicos.
Es común pensar que el monopolio de la propiedad del
parque de viviendas en estas sociedades es consecuencia de
una «cultura» de la propiedad muy extendida, en la que se
prefiere adquirir una vivienda y no alquilar, dado que la
compra supone seguridad (en contexto marcado por la
30
flexibilidad y la sensación de riesgo) y constituye una forma
de inversión y de ahorro futuro (Gaviria, 2007). Es
indudable que la incertidumbre está presente en ciertos
sectores sociales, pero defender la «cultura» de la propiedad
implica aceptar el esquema analítico que sostiene que las
preferencias determinan la demanda, y que esta a su vez,
determinaría la oferta de viviendas. Evidentemente este
esquema analítico algo de verdad conlleva, ya que muchos
estudios y encuestas sobre jóvenes y vivienda han mostrado
cómo este colectivo se inclina claramente en sus preferencias
por la vivienda en propiedad a la hora de emanciparse
residencialmente (INJUVE, 2016; CIS, 2010).
Según una encuesta del CIS del año 2010, del total de
jóvenes de entre 18 y 34 años que aun residían con sus
padres (y muestran la pretensión de emanciparse), cuando se
les pregunta que «porqué tienen la intención de residir en
una vivienda independiente a la de los padres», el 63%
afirma que es «por el deseo de independizarse y tener una
vivienda propia», seguido de «espera casarse o irte a vivir en
pareja» (27,8%), pero ¿bajo qué forma de tenencia? el 78,9%
preferiría una vivienda en propiedad en el momento de
independizarse residencialmente, mientras que el porcentaje
de ellos que lo haría en alquiler es del 16%
aproximadamente. Entre los motivos aducidos por los
jóvenes del porqué se prefiere una vivienda en propiedad, el
56% afirma que es «por ahorro y seguridad para la vejez». En
esa misma pregunta del cuestionario ¿Por qué motivo preferirías
una vivienda en propiedad? (pregunta 25), cerca del 40% de los
jóvenes de 18 a 34 años contestaron que preferían la
propiedad porque el alquiler es «igual o más caro que pagar
una hipoteca». En este sentido, el dominio de la propiedad
31
en el estado español podría deberse a las preferencias de los
individuos, pero también y sobre todo, a las desventajas que
presenta el alquiler; existe pues, cierta racionalidad
económica en base a los costes de acceso a la vivienda
(Jurado, 2006; Echaves 2017 y 2018).
De esta manera, la oferta residencial determina la
demanda, o si se prefiere, que las necesidades residenciales
no están satisfechas por la oferta de viviendas y sus
características.
Más allá de este debate, en la siguiente tabla se muestran
datos en evolución sobre el régimen de tenencia de las
viviendas principales en las regiones estudiadas. Tanto en el
Alentejo, el Algarve como en Andalucía, en 2001, hay un
predominio claro de las viviendas en propiedad, más elevado
en Andalucía (82,7%) y ligeramente menor en el Alentejo
(78,6%) y en el Algarve (75,7%). Aunque es cierto que los
censos 2011 muestran un ligero descenso del porcentaje de
viviendas bajo este régimen de tenencia, no lo es menos que
continúan siendo cifras elevadas, lo que hace que el alquiler
se sitúe en una horquilla que va desde el 10,0% en Andalucía
hasta el 19,6% en el Algarve.
Tabla 4. Evolución de las viviendas principales según régimen de tenencia: propiedad y alquiler (% respecto del total de viviendas). Alentejo, Algarve y Andalucía, 2001 y 2011.
Tipología Alentejo Algarve Andalucía
Viviendas en propiedad (2001) 78,6% 75,7% 82,7%
Viviendas en propiedad (2011) 76,4% 70,6% 81,7%
Viviendas en alquiler (2001) 15,3% 19,6% 9,2%
Viviendas en alquiler (2011) 14,8% 20,3% 10,0%
Fuente: Censos de Población y Viviendas 2001 y 2011; Institutos Nacionales de Estadística de España y Portugal.
32
El problema de acceso a la vivienda en España y
Portugal, evidentemente, no se deriva de una falta, en
términos cuantitativos, de viviendas, sino que se debe, como
se ha dicho en otra ocasión, al «cómo», esto es, al modelo de
crecimiento o modelo productivo.
Otra manera de analizar el modelo productivo y de
responder al cómo, es a través del número de viviendas que
se han ido construyendo en nuestro país diferenciando el
tipo de promoción (libre y protegida). Las variaciones en los
últimos 60-70 años en las cuotas de participación de uno y
otro tipo de promoción es considerable, y así lo han
mostrado algunos estudios para el caso de España. Carme
Trilla (2010), basándose en los visados de los colegios de
arquitectos, reconstruye una serie desde mediados del siglo
pasado. Los datos que la autora maneja evidencian cambios
significativos en la trayectoria constructiva del país. Así, si a
finales de la década de los cincuenta del siglo XX la escasa
producción de vivienda se distribuía casi por igual entre
viviendas protegidas y viviendas libres, y a mediados de los
sesenta la clara protagonista es la vivienda protegida (con
cuotas de participación del 70% e incluso del 90%, tal y
como sucedió en el año 1963), desde finales de la década de
los 60 (ya en plena etapa expansionista) la vivienda libre
comienza a tomar empuje frente a la moderación de la
presencia de la protegida, aunque es cierto que hasta
mediados de los ochenta el peso relativo de esta respecto a la
construcción total no fue nunca inferior al 30% (Trilla,
2010). Tras la crisis del sector inmobiliario (1975-1984), en el
que se produce un nuevo equilibrio entre ambas
modalidades de promoción a causa de la caída de la vivienda
libre, tiene lugar una explosión de la demanda que hace
33
incrementar considerablemente el ritmo de la producción a
finales de los ochenta y primeros de los noventa, una
explosión de la producción que no obstante, está
protagonizada en su mayoría por el sector privado libre,
representando la vivienda de protección en el año 1991 tan
solo el 13% de la construcción total. Después de un pequeño
repunte entre 1991 y 1995 de la vivienda protegida
(nuevamente coincidente con una breve fase recesiva en el
sector y en la economía), a partir de este último año
comienza el último ciclo expansivo conocido hasta el
momento y que durará aproximadamente hasta el bienio
2006-2008.
Como indicador del ritmo de producción de viviendas en
los últimos 20 años para España, se ha optado por mostrar
los datos proporcionados por el Ministerio de Fomento
sobre viviendas iniciadas y que se muestran en el gráfico 4.
De dicho gráfico se pueden destacar varios aspectos. En
primer lugar, como ya se ha dicho, se constata el
desproporcionado crecimiento en la construcción de
viviendas (total viviendas iniciadas), que supuso un
incremento en pleno boom inmobiliario, 1996-2006, cercano
al 150% (desde las 308.915 viviendas iniciadas en 1996 a
762.540 en 2006). Efectivamente, a partir de 1996 en nuestro
país, el aumento que presentan los datos de viviendas
iniciadas (y terminadas) cada año, según datos del actual
Ministerio de Fomento, no tiene parangón: desde el
comienzo del último ciclo expansivo del mercado
inmobiliario, en 1996 y hasta 2006 aproximadamente, se han
iniciado en España más de tres millones de vivienda
(terminándose alrededor de 2,6 millones). Se evidencia de
34
esta forma, el gran potencial de la oferta residencial
producida en estos años.
A partir de 2006 el ritmo de viviendas que se inician
desciende bruscamente (aquí el efecto de la recesión
económica es claro), situándose en 2013 en niveles propios
de principios de los noventa del siglo XX, esto es,
característico de antes del comienzo del ciclo expansivo del
mercado inmobiliario. No obstante, no significa que haya
menos oferta, sino simplemente que se inician y terminan
menos viviendas. De hecho, todas las viviendas que se han
ido construyendo a los largo de estos años se han ido
acumulando en el parque residencial y forman parte de
actual stock, que como ya se ha apuntado, tiene una
dimensión tal que teóricamente podría responder a gran
parte de las necesidades residenciales de nuestro país.
Gráfico 4. Evolución del número de viviendas iniciadas anualmente en España según tipo de promoción, 1995-2013.
Fuente: Ministerio de Fomento.
La segunda cuestión que se evidencia es la dramática
situación, y escasa importancia, de la vivienda de protección
respecto a la vivienda libre en estos veinte años. Pese a la
35
fuerte expansión inmobiliaria (1996-2006), los altos precios
dejaron fuera del mercado a colectivos como el de los
jóvenes, un colectivo que ha acudido en proporciones
bastante elevadas a la compra de vivienda libre, pero quizá
requiriesen de un mercado con protección pública para
poder acceder, dado su menor poder adquisitivo y mayores
tasas de desempleo. Sin embargo, la producción de vivienda
protegida (o al menos el porcentaje que estas representan
respecto al total de viviendas según tipo de promoción) ha
descendido en los últimos años. Si nos remontamos al año
1995, se producían 117.212 viviendas protegidas frente a
234.583 libres, lo que supone un 33% respecto del total de
viviendas iniciadas. Sin embargo, a partir de 1996 el ratio de
la vivienda protegida desciende paulatinamente a lo largo de
los años a la par que aumentan considerablemente las
viviendas libres, hasta alcanzar un mínimo en 2002 del 8,7%
respecto del total de viviendas que se inician. A partir de
2003 tiene lugar un pequeño repunte en cierta manera
sostenido, lo que hace que en 2006 la proporción de
vivienda protegida respecto al total se sitúe en un 12,8%.
Pero nuevamente a partir de 2006 las viviendas protegidas
iniciadas comienzan a caer, algo que es también extensible a
las viviendas libres que se inician.
Más allá de la fuerte expansión de la vivienda libre, que
condiciona por sí misma un menor peso de la protegida
sobre el total, la baja actividad en la promoción de este
último tipo de viviendas probablemente tiene su origen en la
escasez y carestía del suelo, que ha transformado en poco
realista el límite superior establecido como precio básico por
metro cuadrado a nivel estatal para las viviendas protegidas.
El problema reside, en primer lugar, en que el número de
36
nuevas viviendas protegidas es claramente insuficiente, a
pesar de que una mayor promoción de este tipo de viviendas
podría implicar un efecto positivo en la contención de los
precios de la vivienda libre. Esto se debe a un sistema de
producción de la vivienda protegida que es de los más
liberales de Europa (Trilla 2001 y 2010), que ha delegado en
los promotores privados la potestad de llevar a cabo o no
programas de vivienda protegida, y en el que no se han
establecido convenios duraderos que garantizasen una
provisión suficiente de este tipo de vivienda. De esta forma,
los promotores privados han ido abandonando la
producción de viviendas protegidas en fases alcistas del ciclo
económico (incluso se ha permitido en momentos de
«bonanza» económica la descalificación), argumentando que
el precio base o «módulo» no es rentable y que no se
revaloriza de la misma manera que los precios del mercado.
De esta forma, como señala Carme Trilla (2010), se
produce la «paradoja del módulo», es decir, si la razón de ser
del «modulo» debiera ser el establecimiento de precios
máximos obligatorios que tuvieran una repercusión final en
los suelos evitando procesos inflacionistas, en la realidad
tiene lugar incrementos anuales del precio base que no hacen
sino evidenciar la volatilidad de la vivienda de protección.
Unido a esto último, el control de plusvalías inmediatas que
implica la posesión de una vivienda protegida en contextos
de precios muy elevados en el mercado, se ha convertido en
objeto de debate en las reflexiones actuales sobre este tipo
de vivienda. La vivienda protegida se convierte así en un
producto de altísima cotización ante la expectativa de su
posible revalorización, y todo ello repercutirá en el precio
final de venta.
37
Si el primer problema del modelo de crecimiento, como
se ha visto, es la escasez del número de viviendas protegidas,
el segundo, efectivamente, es el precio que alcanzan en el
mercado. Son viviendas, para el caso de España, cuyo precio
se sitúa en horquilla que va de los 60.000 a los 120.000 euros
(según los datos del Ministerio de Fomento), dependiendo
de la localización y del año de referencia (un precio que en
muchas ocasiones no es asumible). Así, si teóricamente la
vivienda de protección debe estar destinada
mayoritariamente a población con menos recursos (que no
deben superar un nivel de ingresos en relación al IPREM),
en la práctica ha sido destinada y demandada también por
sectores de rentas medias, con más poder adquisitivo y con
una mayor capacidad de esfuerzo en el acceso.
Este panorama, predominio de vivienda libre y escasa
importancia de vivienda protegida; la escasa promoción
social y pública de viviendas; y los elevados precios que en el
mercado alcanzan las viviendas de protección, no facilita el
acceso a la vivienda (Rodríguez, 2010).
Tal y como se ha argumentado, la vía de acceso a la
vivienda predominante en España y en Portugal es a través
de la compra, acudiendo la mayoría de las veces al mercado,
con elevada bancarización y financiación a través del crédito,
lo que ya de por sí genera desigualdades en dicho acceso a
un derecho tan necesario como es la vivienda. Unas
desigualdades y dificultades que se agravan en contextos de
crisis económica. Ahora bien, ¿existen alternativas a este
modelo? El cooperativismo de vivienda bien puede
representar esa alternativa.
En los últimos años el número de viviendas construidas
en España bajo la figura de cooperativa de vivienda ha
38
aumentado, según el Registro de demandantes de vivienda
en cooperativa, elaborado por la Confederación de
Cooperativas de Viviendas. No obstante, todavía es un
sistema de promoción poco extendido si se compara con
otras experiencias, como la uruguaya (Solanas, 2017). Aun
así, las cooperativas de vivienda han demostrado ser un
sistema eficaz para facilitar el acceso a la vivienda (Díaz,
2008), además de ser un referente entre aquellos individuos,
organizaciones populares, profesionales y responsables de
políticas que defienden el derecho a la vivienda y a la ciudad.
Se trata de una agrupación de personas que comparten
básicamente la necesidad de vivienda y se unen para acceder
a ella mediante la autopromoción en las mejores condiciones
posibles de habitabilidad, calidad y precios. En este sentido,
lo más característico de las cooperativas es la ausencia de
ánimo de lucro, debido a que su finalidad fundamental es la
adquisición de una vivienda a precio de coste, es decir, aquí
radicaría la principal ventaja: el coste final de la vivienda.
Las cooperativas de vivienda conformarían conjuntos
habitacionales con viviendas y espacios de uso colectivo; se
realizan sumando los esfuerzos y recursos de sus futuros
habitantes, la administración pública (préstamos y terrenos) y
equipos técnicos interdisciplinares (asesoramiento). La
cooperativa es de propiedad colectiva y autogestionada por
sus socios.
A este modelo alternativo de acceso a la vivienda, y a
diversas experiencias, están dedicados los siguientes
capítulos, en el marco de la economía social y
transformadora.
39
Capítulo 2:
Economía transformadora y
vivienda
Óscar García Jurado
3. Introducción
La economía se define en los cursos de introducción
como la ciencia que trata sobre la gestión de los recursos
escasos susceptibles de usos alternativos. ¿Para qué? Para
satisfacer las necesidades de las personas. Sin embargo, el
objetivo de la economía en capitalismo, actual sistema
hegemónico, es generar beneficios empresariales. Hoy día la
economía subordina la satisfacción de las necesidades de la
gente a la acumulación de capital.
Para intentar revertir esta situación surge la economía
social y el cooperativismo. La economía social comprende al
conjunto de iniciativas socioeconómicas que priorizan la
satisfacción de las necesidades de las personas por encima
del lucro, de los beneficios. O sea que la economía social no
es más que la economía, antes de confundirse con la
crematística propia de la economía capitalista.
Así pues, la economía para ser útil debe avanzar en
satisfacer las necesidades materiales de toda la gente y aspirar
a ser un conjunto de saberes que tenga como finalidad
máxima mantener y enriquecer la Vida. Para ello es preciso
entender la actual economía y algunos elementos
fundamentales de la misma. Así, la economía capitalista se ha
basado en unos determinados tipos o conceptos de
43
propiedad, trabajo y valor, a saber: la propiedad privada de
los medios de producción y pago; el trabajo asalariado; y el
valor de cambio o valor otorgado por la demanda solvente.
En este sentido, la economía social deberá avanzar hacia
otros modos de entender los mismos conceptos, como son
la propiedad colectiva, el valor de uso y el trabajo
emancipado.
La cooperativa es el principal agente de la economía
social, al menos en las sociedades de nuestro entorno. La
Alianza Cooperativa Internacional define cooperativa como
«una asociación autónoma de personas que se han unido de
forma voluntaria para satisfacer sus necesidades y
aspiraciones económicas, sociales y culturales en común
mediante una empresa de propiedad conjunta y de gestión
democrática». En este sentido, la cooperativa es un
instrumento útil para poder satisfacer la necesidad de
vivienda.
44
4. Economías sociales y la economía social
transformadora
Los diversos tipos de economía social
La economía social aparece vinculada históricamente a las
asociaciones populares y a las cooperativas, que constituyen
su eje vertebrador. El sistema de valores y los principios de
actuación del asociacionismo popular, sintetizados por el
cooperativismo histórico, son los que han servido para
articular el moderno concepto de economía social
estructurado en torno a las cooperativas, las mutualidades,
las asociaciones y las fundaciones (CIRIEC, 2017).
Aunque las entidades de la economía social actúan en
gran medida de forma muy diferente a las empresas
mercantiles privadas, no son pocas las cooperativas,
asociaciones, fundaciones, etc. que reproducen prácticas de
la empresa convencional. Por eso es muy relevante hablar de
economía social utilizando el plural.
A continuación se va a realizar una breve muestra de las
diferentes economías sociales existentes (Porro, 2017). En
primer lugar se encuentran las «Economías cooperativas». El
cooperativismo es un elemento esencial de la economía
social. En su origen parte de una visión de los objetivos y los
medios de la economía distinta a la empresa capitalista
45
convencional. Aunque las formas de funcionamiento
cooperativas en la producción han sido utilizadas por
muchos pueblos del planeta desde hace siglos, no se
denominará como tal hasta la llegada de la Revolución
Industrial y como reacción a la brutalidad de las relaciones
de explotación en la fábrica capitalista. A lo largo del siglo
XIX, en toda Europa, muchas personas se agruparán para
producir, consumir y prestarse dinero, dando lugar al
nacimiento de las cooperativas de trabajo, consumo y
crédito. Las cooperativas se constituyen como empresas o
agrupaciones gestionadas democráticamente por sus
miembros, que son propietarios por igual del capital, al
mismo tiempo que productores o beneficiarios de los bienes
y servicios generados por el colectivo.
Dentro de la economía social también se encuentra la
denominada «economía de inserción sociolaboral». Se trata
de las empresas de inserción, fundaciones o centros
especiales de empleo cuyo objetivo principal es la inserción
socio laboral de colectivos en riesgo de exclusión.
Por otro lado, las denominadas «Economías populares
y/o comunitarias» forman parte de la economía social y
solidaria, además de estar estrechamente ligadas a la
economía feminista y las economías de los cuidados. Se
entiende por economías comunitarias a todas las
articulaciones colectivas donde se busca satisfacer
necesidades y donde, generalmente, el peso del trabajo
voluntario (no asalariado) es primordial y el acceso no es
tanto el pago como la pertenencia y participación en una
comunidad o grupo. Este tipo de economías se manifiestan
en el sur de Europa a través de los huertos comunitarios,
46
grupos de consumo, redes de intercambio, monedas sociales,
bancos del tiempo, grupos de crianza compartida, etc.
Por otro lado, surge la denominación o concepto de
«Economías colaborativas». Estas hacen referencia a
proyectos, empresas, entidades, comunidades y plataformas,
normalmente con base digital, que permiten compartir,
intercambiar, vender o alquilar bienes, servicios o
conocimientos. Dentro de estas actividades aparecen
actividades que pueden ser catalogadas como sociales
(cuando no hay ánimo de lucro) y otras que están muy lejos
de la economía social y que es más preciso denominar como
«capitalismo de plataformas» (Srnicek, 2018). Además, es
muy relevante señalar la «producción de procomún» como
proyectos con una clara vocación transformadora, con
dimensión horizontal y donde lo producido dispone de
licencias libres y/o de libre acceso.
Es muy relevante el impulso de las «Economías
feministas». Tiene una íntima relación con la economía social
y solidaria, tal y como plantea Alicia Rius: «Los feminismos
son al patriarcado lo que la economía social y solidaria es al
capitalismo». Uno de los elementos esenciales de estas
prácticas es poner en el centro del debate en la invisibilizada
economía de los cuidados.
Por último, la Economía del Bien Común surge con un
mayor vínculo al mundo empresarial convencional. Pone el
énfasis en los impactos sociales y ecológicos de las empresas
y no tanto en la distribución de la propiedad o el poder.
Mientras para unas personas es un avance más dentro de la
Responsabilidad Social Corporativa, para otras es un
planteamiento del nuevo paradigma económico
transformador.
47
La economía social transformadora: definición,
principios, objetivos y valores
En el marco de las economías sociales, es la economía
social transformadora el elemento que vamos a considerar
como configurador del Desarrollo Local transformador y de
los procesos de construcción de soberanías necesarias para
avanzar en la mejora de la vida de la gente. Que esta y no
otra debiera ser la finalidad de la economía (sin adjetivos).
La aproximación a las economías sociales puede realizarse
desde el equilibrio entre dos racionalidades. Por un lado se
encuentra la racionalidad económica-instrumental, cuyo
objetivo consiste en la mejor adaptación funcional posible de
la acción económica-empresarial a las reglas del mercado, en
alcanzar el crecimiento económico de la organización
mediante la obtención de resultados económicos. A esta
racionalidad atienden fundamentalmente las entidades de la
economía social de mercado o adaptativas. Las
organizaciones cooperativas y de la economía social
transformadora se guían, por otro lado, por la «racionalidad
valorativa», desde la que se pretende hacer economía con
unos valores y principios democráticos, con una ética
económica fundamentada en una ética comunitaria. A partir
de la segunda racionalidad, la economía social y solidaria se
representa como una acción productiva o económica inserta
en una visión más amplia de la sociedad y con vocación
social y transformadora (Azcárraga, 2007).
Existe un difícil equilibrio entre estas dos racionalidades.
Gran número de entidades cooperativas y de la economía
social representan, a pequeña escala, la búsqueda de una
racionalidad integral, de un equilibrio o armonización entre
la eficacia propia de los sistemas instrumentales (tecnocrático
48
y mercantil), con el sentido personal y colectivo. La ruptura
del equilibrio puede producirse en las dos direcciones: por
una parte, una economía social con sólida base ideológica
pero que fracasa en la capacidad de ser viable en el actual
sistema capitalista; por otra, el cooperativismo o entidades
de la economía social y solidaria que únicamente atiende los
objetivos estrictamente relacionados con la adaptación al
mercado.
En el fondo, lo que está en juego es la propia posibilidad
de la soberanía o autonomía humana; la posibilidad real de
construir experiencias socioeconómicas alternativas, sobre la
base de valores conscientemente elegidos. Se trata de saber si
con la expansión de la economía capitalista, las personas y
las comunidades pueden desviarse de la uniformización que
le impone la unidimensionalidad de la razón instrumental y
capitalista-neoliberal; hasta qué punto es posible avanzar en
la transformación del sistema capitalista actuando desde
dentro (aunque en sus márgenes), agrandando sus grietas,
peleando a la contra desde un «ejército de mosquitos» que
hacen economía (producen, consumen, distribuyen,
financian) equipados con valores cooperativos y solidarios.
Para ir acotando lo que puede definirse como economía
social transformadora son útiles acudir a una serie de
principios sobre los que se asientan las entidades de la
misma, a saber: la búsqueda del bien común y la creación y
distribución equitativa de la riqueza; la primacía del trabajo
sobre el capital y los intereses colectivos sobre los
individuales; la democracia económica y la voluntad de
transformación social; el fomento de la calidad y la
sostenibilidad de la vida y del medio ambiente; la equidad de
género y el reparto de las tareas de cuidado; el respeto a la
49
identidad cultural propia y el fomento de la interculturalidad;
el arraigo territorial y la economía de proximidad; la creación
de mercado social a partir de la intercooperación entre: la
producción cooperativa, el ahorro y las finanzas éticas, la
distribución y comercialización justa y el consumo
responsable; las prácticas de la autogestión, el trabajo
colaborativo, la ayuda mutua, la solidaridad, la donación, la
reciprocidad.
La economía social transformadora se distingue del resto
de economías sociales en que, además de priorizar la
satisfacción de las necesidades de las personas por encima
del lucro, busca la transformación del sistema económico. Es
decir, pretende avanzar en una economía social que sirva
como alternativa, y no como legitimadora, del Capitalismo.
En este sentido pretende avanzar hacia, tomando palabras de
Marx, una «economía del trabajo emancipado», o siguiendo a
Michael Lebowitz, una economía basada en «la relación de
productores asociados» 2 . David Harvey (2014) indica al
respecto que «la oposición de clase entre capital y trabajo se
disuelve por medio de productores asociados que deciden
libremente qué, cómo y cuándo producirán en colaboración
con otras asociaciones y con el objetivo de la satisfacción de
las necesidades sociales comunes».
La economía social transformadora debe establecer otro
modo de funcionar en cada fase del proceso económico.
2 Michael Lebowitz respecto «al problema de los trabajadores y la gestión» indica que «hay mucho que aprender de los esfuerzos hechos por construir el socialismo en el siglo XX. Sugiero tres propuestas: 1. Cuando los trabajadores no dirigen, otro lo hace; 2. Cuando los trabajadores no desarrollan sus aptitudes mediante la praxis, otro lo hace. 3. Por mucho que creamos haber expulsado al capitalismo, cuando la producción no se basa en una relación de productores asociados, tarde o temprano este retorna».
50
Mientras en la producción se debe avanzar hacia una
economía del «trabajo emancipado», desde el punto de vista
del consumo se trataría de cambiar el actual modo de
proceder según el cual se incentiva el consumismo con el
objetivo de producir para generar beneficios. En este caso, la
producción se pondría de nuevo al servicio de un consumo
consciente. Además, las finanzas y la intermediación
financiera deben convertirse en actividades al servicio de la
vida, actuando como una herramienta para financiar
proyectos que sirvan para producir bienes y servicios que
soluciones los problemas materiales de la gente. De este
modo, las finanzas se convierten en meras herramientas o
medios para un fin mayor, y dejan de ser una actividad que
tiene como objetivo único la acumulación de beneficios a
través de la mera especulación.
En conjunto, la economía social transformadora debe
convertirse en una herramienta para alcanzar una sociedad
alternativa poscapitalista. Siguiendo a Jordi García Jané, este
poscapitalismo se entiende como anticapitalismo pues «no
confía en que el capitalismo sea capaz de satisfacer las
necesidades básicas de todas las personas y, al mismo
tiempo, preservar las condiciones biofísicas de supervivencia
de la especie humana sobre la Tierra; por eso mismo quiere
sustituirlo por otro modo de producción más justo,
democrático y sostenible». Además la adopción de este
poscapitalismo implica «la convicción de que resulta factible
una economía no capitalista, que garantice un nivel aceptable
de bienestar para todos los seres humanos presentes y para
las generaciones futuras».
Así, tras todo lo dicho, se entendería que la economía
social transformadora engloba al conjunto de iniciativas
51
económicas alternativas, legales y alegales, que investigan y
trabajan en nuevas formas de vivir y satisfacer las
necesidades económicas de modo distinto al que ofrece la
lógica capitalista. Este tipo de experiencias están regidas por
valores alternativos a los existentes en la realidad económica
y empresarial capitalista convencional, es decir, se guía por
ideas y valores como la propiedad común, la cooperación, la
democracia, la equidad, el compromiso social o la
sostenibilidad. Se trata de unidades económicas cuyos
principios están basados en el apoyo mutuo y la
cooperación, frente a la competencia y al lucro.
La creación de entidades de economía social
transformadora requiere, por tanto, tener como base un
conjunto de valores que permitan generar otro tipo de
iniciativas económicas. Los valores de los jornaleros
andaluces nos pueden servir como principios para el buen
funcionamiento cooperativo (analizados por Joan Martínez
Alier o Isidoro Moreno en multitud de estudios sobre
nuestra cultura). Los mismos los podemos englobar en los
tres siguientes (Martínez Alier, 1965): «el cumplir», frente al
parasitismo social del señorito andaluz, la dignidad del buen
trabajo de quien cumple por respeto a sí mismo y a los
demás; «la unión» que hace la fuerza posible de los
estructuralmente desposeídos, condenados a alquilar su
fuerza de trabajo bajo condiciones que los dominadores
controlan; «el reparto» como sistema legítimo de devolución
de la tierra a aquéllos con los que realmente ésta mantiene un
vínculo («la tierra para el que la trabaja»). Entendemos que
son valores vigentes y generalizables, también en contextos
modernos y urbanos: tenemos que dar pasos desde el
sistema de acumulación a un sistema de reparto (de riqueza,
52
poder, tiempo y propiedad). Así, se trata de pasar de la
competitividad al cumplir (ser competente); del
individualismo a la unión (cooperación); y de la acumulación
al reparto (distribución justa).
Trabajo, propiedad y valor en la economía social
transformadora
La economía capitalista se ha basado en un modo de
entender conceptos clave como el trabajo, la propiedad o el
valor. En este sentido, la economía social transformadora
deberá avanzar hacia otros modos de entender los mismos
conceptos. Así, el trabajo libre asociado, la propiedad
colectiva y el valor de uso son referencias en la búsqueda de
una economía social transformadora y que sea un
instrumento para la soberanía y el desarrollo local
transformador. Es decir, una economía que dote de
capacidad de tomar decisiones a las personas y comunidades
frente al capital.
El trabajo libre asociado
El trabajo asalariado es uno de los pilares del sistema
capitalista. La economía social transformadora debe guiarse,
por el contrario, por relaciones laborales donde aumente la
autonomía y la capacidad de las personas para tomar
decisiones en su ámbito laboral y productivo (y
reproductivo). De este modo, no estaremos hablando de
otra cosa sino de la soberanía del trabajo (frente a la del
capital).
El elemento transformador se encuentra en pasar del
trabajo asalariado al trabajo libre asociado (autoempleo
colectivo), así como en dar pasos para la consideración plena
de las diferentes formas de trabajo no remunerado
53
monetariamente si el objetivo es el sostén de la vida. Se trata
de sustituir la fuerza de trabajo o la consideración de recurso
humano contratado/comprado por una persona empleadora
o empresaria, por el impulso y fomento de las personas
productoras libres asociadas, sin diferenciar entre
producción y reproducción, para así poder considerar al
trabajo reproductivo como igual de «productivo» que
cualquiera de los tipos remunerados monetariamente.
En resumen, del trabajo asalariado como pilar del sistema
capitalista, hay que avanzar hacia un régimen de producción
comunitario; de una economía donde el trabajo es
considerado como mercancía y las personas son recursos
humanos, hay que avanzar hacia una economía del «trabajo
emancipado», hacia entidades productivas y reproductivas
donde las personas se conviertan y productoras libres
asociadas.
La propiedad colectiva de los medios de producción y vida
La búsqueda de otro trabajo no asalariado está
completamente relacionada con la eliminación de la
propiedad privada de los medios de producción. La
privatización de la tierra y los medios de producción fue un
elemento esencial en la acumulación primitiva, el origen del
capitalismo y la implantación del trabajo asalariado. Por
tanto, la transformación social requiere optar por alguna
forma concreta de gestión y propiedad de los medios de
producción y vida distinta a la propiedad privada.
La economía social transformadora debe propiciar un
nuevo sistema productivo comunitario que busque
alternativas a la propiedad privada, base esencial del
capitalismo como sistema de explotación de unas personas
54
por otras. Es preciso pasar del cercamiento de los bienes
comunes, de la exclusión del uso de los recursos colectivos, a
mecanismos de usos compartidos.
El valor de uso
En tercer lugar, se trata de producir bienes y servicios en
función del valor de uso. El capitalismo tiene como base
otorgar a los bienes y servicios el valor que marca la
demanda solvente, es decir, lo que se está dispuesto a pagar
en el mercado. Se atiende por tanto al valor de cambio y no
al valor de uso. Si alguien no tiene poder de compra, es decir
dinero, no podrá satisfacer sus necesidades.
El valor de uso es la aptitud que posee un bien o servicio
para satisfacer una necesidad. En este sentido, el valor de los
bienes y servicios no estará en función del precio que se está
dispuesto a pagar y de los beneficios monetarios que se
pueden obtener, sino de la capacidad o aptitud que tiene el
bien o servicio para satisfacer una necesidad.
Las propuestas de la economía social transformadora
consisten esencialmente en desmercantilizar la vida. Ni las
personas ni la naturaleza son comprables, apropiables,
mercantilizables. Cuando se producen estos procesos se está
yendo en contra precisamente de los procesos que el
capitalismo introdujo tanto en la acumulación primitiva
como en la Revolución Industrial y el mercado
autorregulador. Una mercancía pasa a ser una cosa; que se
compra y se vende. El capitalismo ha convertido la vida en
cosas. Transformar hoy día puede que sea que esas cosas
vuelvan a ser consideradas vidas.
Es preciso avanzar en una asignación de los recursos al
margen del mercado, el valor de cambio y la demanda
55
solvente. Es el único modo de hacer que la producción se
guie por la satisfacción de las necesidades de la gente, y no
solamente de aquella que podía pagar y, por tanto, generar
beneficios.
Aparece aquí la el tema de la visión alternativa de la
eficiencia que se asocia a la discusión sobre los fines que
deben ser alcanzados a través de la actividad económica y
también con las posibilidades de alcanzarlos. Los fines tienen
que ver con la satisfacción de las necesidades de las personas
(actuales y futuras). Este modo de entender la eficiencia
apela a otra racionalidad diferente a la capitalista, siempre
vinculada a la maximización de los beneficios y no a la
satisfacción de las necesidades de las personas. Se trata de
lograr resultados económicos vinculados con la satisfacción
de las necesidades de (todas) las personas y no únicamente
de los gestores y propietarios del capital.
Por ello, hay que ir mucho más allá del precio o valor de
cambio como indicador único a seguir. La economía social
transformadora debe avanzar en una valoración alternativa
de los bienes y servicios más enfocada hacia el valor de uso,
hacia la subordinación de los intereses del capital a la
satisfacción de las necesidades de la personas. Para Luis
Razeto (1994, p. 164), hacer economía solidaria es «ir dando
forma y contenido al valor, ir definiendo objetivos
específicos, ir estructurando modelos de relación al interior
de las empresas, y hacia fuera cuando los productos se
transfieren hacia otros, marcado todo por la solidaridad, en
este caso. Así como la economía capitalista, todo queda
marcado por el dinero, por el valor de cambio de los
productos».
56
Factores y retos de la economía social
transformadora
La economía social transformadora debe tener como
factor central y efectivo a la solidaridad, la cooperación o la
ayuda mutua (denominado por Luis Razeto como «factor
C»). En este sentido, la solidaridad puede definir una
racionalidad económica alternativa y su integración en la
forma de hacer economía provocar la transformación de la
misma (Razeto, 1994).
La autogestión y la cooperación en el trabajo provocan
efectos más positivos a medida que es mayor el grado de
colectivización. Los principales efectos beneficiosos son los
siguientes: a) inhibe la división social del trabajo y la
adopción de prácticas no igualitarias; b) eleva el grado de
compromiso, cohesión y confianza entre las personas
asociadas; c) y predispone a una mayor optimización del
proceso productivo. Sin embargo, y al mismo tiempo, no
son pocas las entidades en las que surgen debilidades
vinculadas a las competencias técnico-profesionales. Estas
mejoras y capacidades provocadas por la solidaridad
promueven un cierto «margen de maniobra» respecto a la
«dictadura del mercado capitalista» (valor de cambio); la
capacidades y el buen hacer generado por la solidaridad
pueden aproximar a estas entidades al objetivo propio de
alcanzar las mayores cotas de satisfacción de las necesidades
humanas (valor de uso).
En definitiva, el factor C indica la complementariedad
que existe entre el principio de cooperación (la «unión») y la
capacidad de ser «competente» (el «cumplir»). El factor
trabajo puede ser llevado a su pleno rendimiento como
trabajo asociado en la medida que la comunidad misma de
57
trabajo funcione como determinante de la racionalidad
económica. Los principios de autonomía y solidaridad que
surgen del trabajo asociado se convierten así en la «ventaja
competitiva» (en términos netamente capitalistas) para
alcanzar el objetivo de reproducción de la vida (objetivo
completamente no-capitalista o poscapitalista).
El avance de la economía social transformadora se
enfrenta a un buen número de retos. Así, en primer lugar, la
economía social transformadora convive de forma desigual
con el modo de producción capitalista en un mercado
altamente competitivo y globalizado. Estas experiencias se
ven obligadas a luchar por su desarrollo de acuerdo con su
lógica en un contexto muy adverso, marcado por la lógica de
acumulación, las reglas de intercambio y las políticas
económicas impuestas por una minoría poderosa. Sin
embargo, la adaptación a un entorno tan hostil no mejorará
asumiendo estrategias propias de las empresas capitalistas. La
capacidad de trabajo (cumplir) y la cooperación (unión) son
las principales fortalezas de la economía social
transformadora. Como señala De Melo Lisboa (2004) para
afrontar esta situación la economía social transformadora
deberá «estar basada en un proceso económico
metabólicamente distinto del capitalista, en un control
genuinamente social sobre los medios de producción,
realizado por individuos cooperativamente asociados». Por
todo ello, es muy importante expandir cuantitativamente y
perfeccionar cualitativamente los recursos comunitarios
susceptibles de convertirse en factor C. Para convertir estos
recursos comunitarios en factores transformadores se
necesitan procesos que implican «un desarrollo de la
subjetividad, un proceso de expansión de la conciencia
58
interpersonal y social, por el cual la comunidad, asociación o
grupo humano de cualquier tipo, desarrolla su capacidad de
iniciativa emprendedora y descubre lo que puede hacerse
aunando conciencias y voluntades tras un proyecto
compartido» (Razeto, 2001, p. 273).
Para que de la solidaridad surja un nuevo modo de hacer
economía o una racionalidad económica alternativa, esta
debe ocupar un lugar central en los comportamientos
económicos. La cooperación, ayuda mutua o solidaridad
deben ser inherentes a la forma de satisfacer las necesidades.
Para ello hay que desarrollar agentes que asuman estos
principios en todas las fases del ciclo económico
(producción, comercialización, consumo, finanzas) y
conformar así un «sector solidario» (en palabras de Razeto).
Para la integración y conformación de una economía social
transformadora potente es necesaria la intercooperación
entre estas experiencias. La capacidad de cooperación en el
interior de un agente económico es precisa extenderla más
allá del mismo y avanzar en procesos de intercooperación
entre entidades y proyectos de economía social
transformadora. La «unión» debe trascender a las iniciativas
concretas. Se trata, por tanto, de establecer alianzas
estratégicas entre los agentes del sector, y entre estos y los
movimientos sindicales, sociales y políticos transformadores,
para avanzar en la consolidación de una realidad de
economía social transformadora.
59
5. Vivienda, valor de uso y soberanías
El valor de uso y el valor de cambio como
contradicción: el ejemplo de la vivienda
David Harvey (2014) establece una serie de
contradicciones del capitalismo. A partir de las mismas
delimita unas orientaciones y directrices sobre las que puede
definirse una alternativa a la economía capitalista. De entre
las mismas, es de especial interés la existente entre el valor
de uso y el valor de cambio, y su vinculación con la vivienda.
En una sociedad capitalista todas las mercancías
compradas tienen un valor de uso y un valor de cambio. La
diferencia entre ambas formas del valor es significativa, y,
como señala David Harvey, en la medida en que a menudo
se enfrentan una con otra constituye una contradicción que
puede dar lugar ocasionalmente a una crisis.
Este autor se basa en el ejemplo del valor de uso y el
valor de cambio de una vivienda. Como valor de uso, esta
ofrece cobijo; es un lugar donde la gente puede construirse
un hogar y una vida afectiva. El valor de cambio, por su
parte, queda determinado por los costes reales de
producción más el beneficio, el coste del endeudamiento y la
renta capitalizada (precio de la tierra). El objetivo de los
productores (empresarios constructores) es obtener valores
60
de cambio, no valores de uso. La creación de valores de uso
para otros es un medio para ese fin.
La provisión de viviendas bajo el capitalismo se ha
desplazado, de una situación en que dominaba la búsqueda
de valores de uso, a otra en la que lo primordial es el valor
de cambio. El valor de uso de la vivienda se convirtió cada
vez más, primero en un medio de ahorro, y después en un
instrumento de especulación para obtener ganancias de la
situación de boom en el mercado inmobiliario. La provisión
de valores de uso de vivienda adecuados para la gran
mayoría de la población es rehén de esa concepción cada vez
más arraigada del valor de cambio. Las consecuencias para la
provisión de viviendas adecuadas y asequibles han sido
desastrosas para un sector cada vez mayor de la población.
A partir de la década de 1970 se ha ido imponiendo la
política económica neoliberal según la cual el Estado de
economías como las europeas se inhiben de las obligaciones
de provisión pública en áreas tan diversas como la vivienda,
la sanidad, la educación, el transporte o los servicios
públicos, con el fin de abrirlos a la acumulación privada de
capital y a la primacía del valor de cambio. De este modo,
durante las últimas décadas este tipo de cambios ha
condicionado radicalmente en buena parte del mundo
capitalista la participación del Estado y otras
administraciones menores en la provisión pública de
viviendas. Esta situación ha tenido consecuencias específicas
en la gestión de la contradicción valor de uso-valor de
cambio.
La crisis de 2008 fue una crisis en el lado del valor de
cambio que negó a cada vez más gente el valor de uso
adecuado de una vivienda, además de un nivel de vida
61
decente. Lo mismo sucede en la sanidad y la educación a
medida que las consideraciones del valor de cambio
predominan cada vez más en la vida social sobre los aspectos
del valor de uso.
Soberanías y prácticas socioeconómicas
transformadoras
La economía en capitalismo no funciona para satisfacer
las necesidades de las poblaciones. Lo hace, por el contrario,
en beneficio de una minoría cada vez más pequeña que
controla las formas predominantes de hacer dinero. Esta
situación va en contra de una mayoría cada vez más amplia
que se ve excluida también de manera creciente de los
procesos de toma de decisiones. Para cambiar esta situación
es preciso tomar las riendas de los procesos de toma de
decisiones. Como manera de transitar hacia un horizonte
poscapitalista, parece necesario recuperar la soberanía,
«entendida como capacidad de cubrir las necesidades
materiales y espirituales fundamentales para el desarrollo
humano, al margen del circuito de valoración del capital»
(Delgado, 2018, p. 16).
Frente a la situación que provoca la existencia de «gente
sin casas y casas sin gente», es preciso poner en marcha
prácticas socioeconómicas transformadoras. En principio,
esta economía social, tal como se señaló más arriba, debe
estar conformada por entidades socioeconómicas que
antepongan los intereses de las personas a las del capital y
que apuesten por otras formas de trabajar (diferentes al
trabajo enajenado), de establecer la propiedad de los medios
de producción (distintos a la propiedad privada) y de tomar
decisiones respecto a lo que se produce (subordinando el
62
valor de cambio al valor de uso). Se trata de conformar un
marco y unas prácticas socioeconómicas capaces de redefinir
las formas y modos de producir, distribuir, financiar y
consumir, fundadas en categorías radicalmente democráticas
y ecológicas.
En gran medida, la economía social transformadora
tendrá su base en la autonomía de la actividad laboral de las
personas o «soberanía del trabajo». Esta autonomía deberá ir
tejiendo de forma colectiva la «soberanía económica
territorial», así como la alcanzada en los diversos ámbitos
estratégicos de asunción de capacidad de decisión popular
(«soberanías sectoriales»).
La soberanía puede entenderse como la capacidad de
decisión popular en diversos ámbitos estratégicos como son
la vivienda, la alimentación, las finanzas, la tecnología, la
energía, etc. Se hace referencia en este caso a la soberanía en
plural, como soberanías que deben ser conquistadas, en
algunos casos recuperadas, por y para la ciudadanía, a partir
de desarrollar procesos y proyectos. En la mayoría de las
soberanías ya existen multitud de procesos abiertos y en
marcha, que en su práctica proponen una superación de los
valores del capitalismo.
La soberanía residencial
Desde determinados enfoques, la soberanía residencial se
aborda como proceso de lucha contra un modelo de gestión
neoliberal de las ciudades y de urbanización capitalista
(AA.VV., 2018). Las ciudades se han convertido en espacio
de negocio y generación de plusvalías; lugares donde invertir
excedentes extraídos de otros lugares o sectores. Este
modelo está generando exclusión social y refleja escenarios
63
donde se expresan físicamente las desigualdades económicas,
pero también las estructuran (Harvey, 1979).
La vivienda es un elemento esencial para que cualquier
persona o unidad de convivencia pueda desarrollar su
proyecto vital en las actuales sociedades occidentales. Se
trata de un elemento fundamental para la reproducción de la
fuerza de trabajo, un satisfactor de necesidades humanas y
un elemento imprescindible para la sostenibilidad de la vida.
Con el concepto de soberanía residencial se pretende
recuperar el valor de uso de la vivienda y poner el énfasis en
el hecho social de residir, de vivir. La soberanía residencial
no puede dejarse ni a la acción o reacción de los poderes
públicos, ni a la acción del mercado capitalista y la
especulación. La soberanía sobre la vivienda, que se
encuentra encuadrada en las estructuras de propiedad
históricas de las ciudades, solamente se puede ejercer desde
los movimientos sociales y ciudadanos, desde las luchas
colectivas. Por tanto, la soberanía residencial requiere de la
organización de la población para denunciar y exigir el
derecho a la vivienda, así como de la generación de prácticas
transgresoras que propicien experiencias alternativas que
permitan cubrir necesidades residenciales de la población en
la práctica y realidad cotidianas.
Por tanto, la soberanía residencial es el proceso de
apropiación y transformación colectiva de la ciudad; la
expresión del derecho de la población a una vivienda digna y
adecuada y el derecho a decidir sobre su propio sistema de
provisión residencial. Esto pone las personas y sus
necesidades residenciales en el centro de la producción,
distribución, consumo y financiación de las viviendas. De
este modo, las clases populares participan en la elaboración
64
del modelo de provisión residencial que quiere satisfacer
plenamente sus necesidades residenciales, poniéndolas como
fin último de la acción. En definitiva, la soberanía residencial
será la expresión del derecho de la población a una vivienda
digna y adecuada y el derecho a decidir sobre su propio
sistema de provisión residencial para satisfacer las
necesidades de alojamiento.
Desde estas perspectivas que unen las economías
transformadoras y la soberanía residencial, las bases de un
nuevo sistema de provisión residencial debe romper el mito
de la propiedad privada, del suelo y de la vivienda. La
función social de la propiedad de la vivienda está por encima
de la propiedad privada. La propiedad privada ha de estar
sometida a los límites del derecho público y de la protección
del interés general. La vivienda se debe entender como
servicio público, y no como producto de mercado.
Desde el punto de vista de la producción, es preciso tener
en cuenta que producir vivienda social no necesariamente
tiene que implicar nueva construcción, sino que puede ser
generación mediante reconversión de usos de viviendas o
rehabilitaciones de viviendas ya existentes. La generación de
vivienda social implica desarrollar la fuerza de trabajo
capacitada para hacerlo. Hay que crear cooperativas de
trabajo y gestoras de vivienda de propiedad colectiva de
forma asamblearia y autogestionada. Las cláusulas sociales
respecto a las empresas de inserción pueden ser un camino
para incluir como objeto la economía social y cooperativa,
dado que son empresas de propiedad colectiva y gestión
democrática donde el excedente será reinvertido en la
comunidad. Por otro lado, las comunidades cooperativas o la
vecindad deben implicarse en el proceso de planificación,
65
decisión, producción y evaluación. Además, es necesario
fomentar la ciudad construida frente a la nueva
construcción, es decir, fomentar la rehabilitación respetuosa
con la población que ya vive, evitando los procesos de
gentrificación. En este sentido, la administración pública
puede fomentar la autogestión, cediendo solares, edificios o
viviendas para proyectos comunitarios o cooperativos, cosa
que tiene un efecto multiplicador de la acción pública para
fomentar la producción de un parque de vivienda social.
Desde el punto de vista de la distribución, hay que pasar
de la provisión residencial mediante el mercado de la
vivienda, tanto de alquiler como de compra, a sistemas
especiales de distribución de viviendas para atender la
urgencia y la emergencia residencial. Este mecanismo de
distribución se puede recoger en un reglamento municipal o
se puede elevar a rango de ley de escala autonómica, con
obligaciones de resultados.
Respecto al consumo, hay que pasar de la compra y el
alquiler a figuras intermedias de tenencia basadas en la cesión
de uso o la aparcería urbana. De este modo, los municipios
se podrían convertir en laboratorios para desarrollar
experiencias prácticas transformadoras o, cuando menos,
que ofrecen una nueva oportunidad para desarrollar
relaciones sociales de consumo de la vivienda diferentes.
Por último, la financiación, si no se desea que el derecho
a la vivienda esté en manos de la banca especulativa, debe
realizarse mediante una banca pública o instrumentos
financieros solidarios, cooperativos y autogestionados. Así, la
cooperativa de servicios financieros Coop57, está
financiando diferentes proyectos relacionados con la
vivienda, como cooperativas de vivienda en cesión de uso.
66
6. Conclusiones: economía social
transformadora y el derecho a la vivienda
digna
Los pueblos y las ciudades de hoy tienen siglos de historia
por lo que transformar la realidad no es inmediato, y menos
cuando hablamos del sector de la construcción y la vivienda.
Ahora bien, frente al discurso del «no hay alternativa», es
necesario ofrecer y visibilizar instrumentos y experiencias
reales que tienen la intención de difundir una nueva
concepción del hecho residencial. La transformación de las
bases del sistema de propiedad, producción, distribución,
consumo y financiación de la vivienda es inseparable de un
proceso de reproducción social que ponga en el centro la
satisfacción de las necesidades residenciales de forma
colectiva a partir de la recuperación del vínculo social.
Para alcanzar el derecho a la vivienda digna es preciso
avanzar en una economía social transformadora. La
alternativa a la economía capitalista debe orientarse hacia los
valores de uso y no hacia los valores de cambio. La
producción debe organizarse racionalmente a fin de
suministrar los valores de uso necesarios para ofrecer un
nivel material de vida adecuado para toda la gente. La
producción debe atender a una demanda basada en carencias
67
y necesidades, y no en el poder adquisitivo. Se trata de
asegurar la provisión para todas las personas de valores de
uso apropiados (vivienda, educación, seguridad alimentaria,
etc.). La producción debería organizarse para satisfacer esas
necesidades sociales. La gradual desmercantilización de la
satisfacción de necesidades básicas es un proyecto realizable
a largo plazo, que se adecúa claramente a la idea de que el
impulso básico de la actividad económica debería ser el
disfrute de los valores de uso, y no la perpetua pretensión de
aumentar los valores de cambio.
Por otro lado, es preciso contrarrestar la capacidad de las
personas privadas de apropiarse la riqueza común. Un
objetivo inmediato es la abolición del poder de la propiedad
inmobiliaria para extraer rentas de la inmovilidad que
controla. Hay que poner freno a la capacidad de los rentistas
de negociar títulos legales sobre la tierra y otros bienes
inmuebles. La tierra, los recursos y el entorno construido ya
amortizado deben ser registrados y gestionados como pro-
piedades comunes de las poblaciones que los usan y
dependen de ellos.
La oposición entre propiedad privada y poder del Estado
se desplaza tanto como sea posible por medio de regímenes
de derechos sobre lo común –haciendo especial hincapié en
el conocimiento humano y la tierra como los bienes
comunes más cruciales que poseemos– cuya creación,
gestión y protección queda en manos de asambleas y
asociaciones populares.
En gran medida, el derecho a la vivienda digna requiere
de una nueva orientación para la producción de la misma,
que no sea el beneficio privado y el intercambio en el
mercado sino la satisfacción de las necesidades materiales
68
básicas de la población y, en tanto en cuanto posible, sus
deseos. En este sentido, la alternativa debe optar por alguna
forma concreta de propiedad de los medios de producción y
los bienes básicos para vivir como es la vivienda.
Las bases de un nuevo sistema de provisión residencial
debe romper el mito de la propiedad privada, tanto del suelo
como de las viviendas. La función social de la propiedad de
la vivienda está por encima de la propiedad privada. La
vivienda se debe entender como servicio público, y no como
producto de mercado. En este sentido, se tendrían que
impulsar diversas medidas en varios ámbitos distintos.
Ante la situación a la que avoca la economía capitalista,
cada día es más realista y tiene mayor futuro la creación de
cooperativas que tengan por objetivo satisfacer las
necesidades de vivienda de la población. Buscar la unión
voluntaria de personas que mediante la propiedad conjunta y
la gestión democrática se unen para satisfacer el «derecho a
techo».
69
Capítulo 3:
La vivienda cooperativa
Marina Lora Chapela
7. Aspectos generales sobre las cooperativas de
viviendas
Una cooperativa de vivienda es una asociación jurídica
formada para procurar a sus miembros, de forma continuada
y segura, el acceso a viviendas y a espacios complementarios.
La organización cooperativa permite a sus miembros
autopromover -construir, rehabilitar, adquirir o arrendar-,
conjuntos habitacionales, manteniendo el control a lo largo
del proceso y optimizando los recursos empleados. Se
pueden abordar por tanto proyectos más complejos que los
que se lograrían de manera individual, y las viviendas
resultan más asequibles y de mayor calidad. La organización
colectiva facilita la autogestión de estos conjuntos,
permitiendo su adecuación a las necesidades y expectativas
del grupo, y garantizando su buena administración y
mantenimiento (Lora, Solanas y De Manuel, 2015, p. 87).
Las cooperativas de vivienda comienzan a surgir a finales
del siglo XIX en Suecia y en Alemania, tomando la forma en
un principio de sociedades de construcción de vivienda. Ya
en 1916, una organización obrera de gran influencia política
y económica de Suecia, funda la Sociedad Cooperativa de
Estocolmo, que introdujo el principio que marcaría el
movimiento cooperativo de vivienda que se iniciaría poco
73
después: para evitar los fines lucrativos que habían tenido
otras sociedades, la cooperativa conservaría la propiedad del
inmueble, otorgando a los socios un derecho de uso sobre
las viviendas por tiempo indefinido.
La extensión definitiva de este movimiento cooperativo
se produce en los países escandinavos -Suecia, Dinamarca y
Finlandia-, y en Alemania tras la primera guerra mundial,
cuando ante la carestía de vivienda y las malas condiciones
de las existentes, los gobiernos correspondientes decidieron
intervenir a favor de las cooperativas.
En el modelo de cooperativa de vivienda que se ha
desarrollado habitualmente en España, una vez acabada la
promoción, se traspasa la propiedad individual de las
viviendas a los socios. Con esto lo más usual, es que la
cooperativa, sin más razón de existir, se deshaga, y que por
tanto las viviendas pueden incorporarse al libre mercado.
Este tipo de cooperativas de vivienda no son consideradas
por algunos expertos, propiamente como tal (OIT, 1964, p.
163; Solanas, 2016, p. 48).
Por contra, los modelos de cooperativas de vivienda de
tenencia colectiva, mantienen en manos de la cooperativa la
propiedad y gestión del inmueble de manera permanente,
adquiriendo los socios un derecho de uso y disfrute sobre la
vivienda que ocupan, al tiempo que son copropietarios del
conjunto habitacional. Esto, a la vez que asegura la
permanencia y posibilita la movilidad residencial, impide que
las viviendas se puedan vender de forma individual, y por lo
tanto, que puedan entrar en procesos especulativos.
Además, la organización cooperativa se mantiene de
manera permanente, lo que permite establecer espacios y
74
servicios comunitarios en beneficio de los socios y de la
comunidad, posibilita la conservación y el mantenimiento
continuos del edificio y contribuye a la creación de una masa
crítica de socios de cooperativas de viviendas, los cuales se
pueden agrupar en entidades mayores para defender y
reivindicar sus derechos y sus necesidades.
Cooperativas de vivienda de tipo integral
Dentro de este modelo, el acceso a la vivienda es
considerado como un elemento de conexión con el resto de
los que intervienen en la vida y desarrollo de la persona,
atendiendo a una concepción de desarrollo integral, donde la
vivienda se extiende al entorno del que se rodea,
asimilándose a la idea de hábitat, promoviendo la cultura
comunitaria en base a los valores de la ayuda mutua, la
igualdad, la equidad y la solidaridad, y haciendo de la
democracia participativa la principal herramienta de gestión y
de canalización de los intereses de la población.
Como señala la Organización Internacional del Trabajo
(1964, p. 163) «la experiencia demuestra que, entre los
diferentes tipos de cooperativas de vivienda, el que más
contribuye a crear un espíritu cooperativo es aquel en que la
sociedad conserva la propiedad de los inmuebles
reconociendo a los socios la condición de usuarios. Esto
implica una relación permanente entre la cooperativa y los
socios y la creación de múltiples servicios colectivos en los
grupos de viviendas, donde se forman comunidades
organizadas cooperativamente, con guarderías, salas y
campos de juegos, biblioteca, establecimientos comerciales,
etc. Éstas son las cooperativas de vivienda propiamente
dichas».
75
8. El derecho a la vivienda en las cooperativas
A continuación vamos a abordar las distintas formas en
que las cooperativas hacen valer el derecho a la vivienda.
Para ello vamos a centrar la atención en los mecanismos que
se emplean para que se salvaguarde el valor de uso de las
viviendas frente al valor de cambio, se garantice la seguridad
de permanencia, se cubra a los miembros en caso de
situaciones adversas, y las viviendas sean asequibles y se
facilite la replicabilidad del modelo para que puedan ser una
opción para mayores segmentos de población.
Tipos de cooperativas de viviendas según la tenencia
Antes de hacer un acercamiento tipológico a las
cooperativas de viviendas según el régimen de tenencia, nos
gustaría aclarar algunos conceptos. Por un lado, es
conveniente distinguir entre el dominio de un inmueble,
referido a quien tiene su propiedad -dueño-, y la tenencia,
referido a la persona o entidad -tenedor- que tiene el
derecho a disfrutarlo y conservarlo. La tenencia puede ser en
propiedad, coincidiendo con el dominio, o en cesión de uso,
arrendamiento, o cualquier otra forma acordada entre las
partes.
76
De otro lado, también debemos distinguir entre la
tenencia del inmueble en su conjunto, y la tenencia de cada
una de las viviendas, ya que uno y otras pueden
corresponder a diferentes personas o entidades.
Cuando una cooperativa de viviendas se constituye para
construir o rehabilitar un conjunto habitacional, esta será la
propietaria unívoca mientras dure el proceso de promoción.
Pero una vez finalizado y entregadas las viviendas, existen
dos opciones: o bien se determina la propiedad horizontal
del inmueble y cada vivienda pasa a ser propiedad de cada
una de las personas socias, o bien el inmueble se mantiene
en su totalidad como propiedad colectiva de la cooperativa.
En este último caso, las personas socias son copropietarias
del conjunto mediante una participación sobre la propiedad
colectiva, y cada uno habita su vivienda bajo un título que,
dependiendo del tipo de cooperativa, puede ser tanto un
derecho de uso y disfrute, como un contrato de alquiler. Con
esto se pretende evitar la especulación con las viviendas, ya
que las personas socias, al no ser propietarias, no las pueden
vender. También es una fórmula que permite mantener la
organización colectiva para gestionar el inmueble y los
espacios comunitarios y que apuesta por la permanencia en
el movimiento cooperativo.
Además estarían las cooperativas que no promueven ni
adquieren el dominio del inmueble, sino que o bien lo tienen
en régimen de alquiler, o bien llegan a un acuerdo para su
gestión interesada con el propietario. En ambos casos los
miembros de la cooperativa son arrendatarios a su vez de las
viviendas que habitan.
Por tanto, en la práctica se desarrollan distintas
modalidades de tenencia:
77
a) Las cooperativas de propietarios, que se unen para
promover y una vez finalizadas las viviendas se
determina la propiedad horizontal del conjunto. Cada
miembro pasa a ser propietario de una de ellas.
b) Las cooperativas de usuarios, donde la cooperativa es
dueña del conjunto residencial, y los miembros
ocupan las viviendas con un derecho de uso y
disfrute, y son dueños de acciones en la cooperativa.
c) Las cooperativas de inquilinos, donde la cooperativa
es igualmente dueña del conjunto residencial -aunque
también puede compartir la propiedad con una
tercera entidad- y los miembros tienen un contrato
de alquiler con la cooperativa, siendo copropietarios
del inmueble.
d) Las cooperativas de gestión por inquilinos, donde el
conjunto habitacional pertenece a un tercero que se
lo cede a la cooperativa para su gestión durante el
tiempo y en las condiciones que se determinen
mediante contrato.
Tabla 5. Tipos de cooperativas y tenencia del conjunto habitacional y las viviendas.
TIPO DE COOPERATIVAS CONJUNTO
HABITACIONAL VIVIENDAS
Cooperativa de propietarios Propiedad horizontal Propiedad individual
Cooperativa de usuarios Propiedad colectiva Cesión de uso
Cooperativa de inquilinos
Propiedad colectiva
de la cooperativa o de la cooperativa + otra entidad
Alquiler indefinido
Cooperativa de gestión por inquilinos
Propiedad de un tercero
con el que la cooperativa tiene un contrato de alquiler
o de gestión interesada
Alquiler
78
Salvaguardas en el marco jurídico
La regulación de las distintas modalidades de cooperativas
de vivienda tiene como finalidad establecer un marco de
seguridad jurídica entre las partes y proteger los valores con
los que se han generado y que han podido motivar y
condicionar la participación de los distintos agentes sociales,
incluidos los propios cooperativistas.
Como estamos viendo, con las modalidades de tenencia
colectiva se pretende fundamentalmente desarrollar la
organización social y la gestión democrática, así como
defender el valor de uso de las viviendas. Sin embargo, estas
premisas también tienen sus detractores, que pueden
aparecer tanto desde los gobiernos de corte más liberales,
conservadores o paternalistas, que ven como los valores del
modelo entran en fuerte contradicción con el sistema socio-
económico que profesan, hasta en el interior de las propias
cooperativas, en la que algunos miembros con el tiempo,
comienzan a considerar mermados sus derechos al no poder
disponer de la vivienda con total libertad, ni poder
beneficiarse del incremento de su valor en el mercado.
Desde estas posiciones, hay ocasiones en las que se ejerce
toda la presión posible para pasar al sistema de propiedad
individual. Por ello es habitual, que una de las cuestiones que
más preocupe a la hora de diseñar el marco jurídico sobre las
fórmulas de tenencia colectiva, sea impedir la división
horizontal que lleva a la disolución del grupo y posibilita la
venta de las viviendas en el libre mercado. También, con el
fin de evitar la especulación, en el caso de las cooperativas de
usuarios, se establecen habitualmente límites en el valor de
transferencia de las participaciones.
79
Por otra parte, cuando existen ayudas públicas dirigidas a
estas modalidades, se regulan específicamente, estableciendo
al tiempo las condiciones que deben cumplir las
organizaciones y sus miembros, y diferenciando el marco de
acceso a las ayudas para la demanda colectiva, del relativo a
la demanda individual. También las organizaciones de
segundo grado -y las propias cooperativas en sus estatutos-
intentan proteger y defender los valores y principios que les
lleva a organizarse colectivamente y establecen un marco
común que debe quedar reflejado en los estatutos de cada
una de las asociadas.
La regulación de las cooperativas se puede determinar
desde distintos niveles dependiendo también del objeto de la
reglamentación. Por una parte estaría la legislación
establecida por los poderes públicos; por otra, el marco
regulador concerniente a la organización de segundo grado
con la que, en su caso, se puede vincular la cooperativa; y en
tercer lugar estarían el conjunto de normas establecidas en
los propios estatutos de la cooperativa. Por último
podríamos hablar de aquellas donde se superpone la
regulación entre varios de estos niveles de forma que el
cambio que se procure realizar a partir de uno de ellos tendrá
que contar con el acuerdo de los demás.
Aspectos principales del marco económico y
financiero
La promoción de una vivienda, ya sea en régimen de
cooperativa o de cualquier otra forma, es una operación que
supone un elevado coste económico, especialmente cuando
de forma general se viene permitiendo la especulación con el
valor del suelo y que este multiplique varias veces su precio.
80
Cualquier familia que carezca de unos ingresos elevados,
difícilmente podrá ahorrar una cantidad cercana al coste total
de la vivienda a la que precise acceder. Si como suele ser
habitual, el grupo promotor carece de los recursos
económicos suficientes, tiene la opción de formar una
cooperativa de gestión de inquilinos y acceder al inmueble
mediante un contrato de alquiler o gestión interesada. Pero si
lo que pretende es configurar un conjunto socio-habitacional
bajo una modalidad que le garantice la permanencia
indefinidamente, entonces va a requerir la participación de
alguna entidad de crédito que cubra los costes de la
promoción. No obstante, como la cantidad que se concede
en la hipoteca no suele llegar al 100% del coste total, la
cooperativa deberá aportar en cualquier caso al inicio la parte
restante. El préstamo habitualmente es devuelto a largo
plazo, entre 20 y 30 años, de forma que las cuotas mensuales
a abonar no sean muy superiores a lo que se pagaría por el
arrendamiento del mismo inmueble.
A la hora de cuantificar el coste total de la operación, se
consideran dos aspectos principales, el valor del suelo y el
coste de ejecución de la obra, que incluye la mano de obra y
los materiales. Además estaría el importe del beneficio del
promotor, partida de gran magnitud que en muchas
ocasiones llega a equiparar al valor del suelo. Sin embargo,
una de las ventajas de las cooperativas de viviendas, es que al
tratarse de autopromoción, no aparece este concepto.
El acceso al suelo o inmueble
Es una de las partidas más importantes y también de las
más variables, ya que es con diferencia la que más denota los
procesos especulativos. Su importe puede oscilar entre el
15% y el 40% de los costes totales de la promoción,
81
dependiendo fundamentalmente de su ubicación, de la
tenencia con la que se adquiera, y de los mecanismos de
protección que hayan podido desarrollar las administraciones
públicas.
Tanto suelos como inmuebles pueden estar sujetos a
precios de mercado, cuando se trata de bienes libres cuyo
titular es una persona o entidad privada, o tener un precio
reducido que guarde una proporción más ajustada con el
coste total de la promoción. Este caso se da
fundamentalmente cuando hay una intervención de las
administraciones públicas estableciendo reservas y poniendo
a disposición suelos e inmuebles asequibles para la
promoción de viviendas de carácter social. Paralelamente, en
los países que han alcanzado un gran desarrollo, las mayores
cooperativas matrices llegan a formar sus propias reservas de
suelo para la promoción de sus filiales.
En cualquier caso la cooperativa se puede plantear tanto
adquirir un suelo donde construir, como un inmueble que
rehabilitar. Además estaría la opción, vinculada
principalmente a las cooperativas de inquilinos, de acceder a
un inmueble que solo requiera una intervención menor o
que directamente está listo para entrar.
También nos encontramos distintas formas de acceder al
suelo o al inmueble en cuanto a la tenencia. Aunque la
fórmula más habitual es que la cooperativa lo adquiera en
propiedad, también se extienden otras modalidades en las
que el titular original es el que mantiene la propiedad y cede
a la cooperativa la tenencia durante un periodo de tiempo
determinado. Esto se puede realizar mediante un derecho de
superficie, cuando la permanencia va a ser prolongada y/o se
va a intervenir sobre el suelo o el inmueble, o mediante un
82
contrato de alquiler o gestión, cuando la permanencia está
más limitada. Otro modo de acceso, que no por falta de
regulación deja de presentarse, es la okupación. Bajo esta
alternativa se agrupan personas con un doble objetivo, el
acceso a la vivienda y la recuperación de edificios
abandonados.
Tipos de financiación
Existen distintos tipos de entidades que pueden facilitar el
acceso a crédito y en distintas modalidades. En las
cooperativas de usuarios e inquilinos, que mantienen la
propiedad colectiva del inmueble, es muy importante que la
hipoteca también sea colectiva y no se subrogue a cada una
de los socios ni que estas aparezcan como prestamistas
subsidiarias. Esto es una de las grandes dificultades con las
que se encuentra el grupo de autopromotores a la hora de
obtener financiación, ya que habitualmente las entidades
prestatarias prefieren que se respondan de la deuda de
manera individual y sea respaldada con los bienes personales.
Sin embargo, la mayoría de las cooperativas entienden que la
hipoteca colectiva supone una garantía tanto para sus
miembros como para la entidad financiera, ya que las
cooperativas pueden acumular fondos para responder ante
situaciones imprevistas. Además, la diferencia de escala entre
una persona y una entidad bancaria es lo suficientemente
grande como para preferir presentarse agrupado, ya que la
organización colectiva siempre permite dar una respuesta
más eficaz y contundente ante posibles abusos.
En cuanto al plazo para la devolución de los créditos, se
suele procurar que sea lo más prolongado posible, de forma
que al imputarle la parte correspondiente a los socios en la
cuota mensual, esta no supere el 20-30% de sus ingresos.
83
Mientras más largo sea el periodo de devolución, más
coherencia tendrá el modelo, ya que lo que se paga en
concepto de uso se asemejará en mayor medida a repartir los
costes del edificio a lo largo de su vida útil. Pero esto
cuando se puedan conseguir intereses reducidos, acordes al
objeto social de la empresa, y que mantengan una relación
constante con los salarios para que no dejen de ser
asequibles con los movimientos del precio del dinero.
Las entidades que más adecuadamente ofrecen este tipo
de financiación son las entidades públicas, ya que a
diferencia de la banca tradicional, su objetivo no sería la
obtención de beneficios económicos, sino promover el
bienestar social, en este caso a través del acceso a la vivienda.
También es cada vez más frecuente que las entidades
bancarias y cooperativas de créditos, conocidas como banca
ética y caracterizada por su compromiso con la
sostenibilidad social, económica y medioambiental, aporten
financiación a las cooperativas de propiedad colectiva.
Por otra parte, en algunos casos se opta por la fórmula de
los préstamos directos o participativos, mediante los cuales
las personas del entorno cercano a los miembros de las
cooperativas, pueden prestar dinero para la promoción a
través de la adquisición de participaciones sobre la
cooperativa.
La ayuda mutua y otras aportaciones y recursos de la cooperativa
Independientemente del tipo de financiación que obtenga
la cooperativa, pocas veces abarcará el monto total de la
inversión económica necesaria. Hay cierto porcentaje,
habitualmente entre un 10-30% de los costes totales que ha
de ser cubierto directamente entre los miembros de la
84
cooperativa y que de alguna forma sirve como aval ante la
entidad prestataria. La aportación se puede realizar en
capital, bien sea por el ahorro previo de las personas socias,
o también realizarse por ayuda mutua, mediante su propio
trabajo en la obra de construcción.
La ayuda mutua se diferencia de la autoconstrucción en
que todas las personas socias aportan mano de obra para
todo el conjunto, sin diferenciarse qué vivienda será
adjudicada a quién, hasta que se van a habitar. Requieren de
un proyecto adecuado tipológicamente y con un sistema
constructivo adaptado para mano de obra no profesional,
aunque también cuentan con la contratación de maestros de
obra, albañiles y otros oficios que apoyen los trabajos. Se
puede trabajar tanto en la construcción de nueva planta
como en la rehabilitación de inmuebles.
Además se puede intentar reducir los costes de la
promoción poniendo en valor los propios recursos de
gestión y apoyándose en la economía de escala,
especialmente cuando hay organizaciones de segundo grado
capaces de coordinar las necesidades y recursos comunes.
De esta forma se puede asumir la gestión completa de la
obra, organizar bancos de materiales e incluso desarrollar
cooperativas de construcción asociadas a las cooperativas de
viviendas.
Por otra parte, la financiación con la que se ha contado
para la promoción, se retorna habitualmente con las cuotas
mensuales que abonan los miembros de la cooperativa.
Además es frecuente que se hayan previsto locales para
actividades económicas en el conjunto habitacional, con el
objeto de que las rentas contribuyan a disminuir la deuda.
85
En cualquier caso, la cuota de los socios no se destina
íntegramente al pago de la hipoteca, sino que una parte
queda reservada para fondos cooperativos, que son una de
las principales herramientas para asegurar la solvencia de la
cooperativa y de sus miembros ante situaciones adversas, así
como para garantizar la conservación y mantenimiento
continuos del conjunto habitacional, y en el caso de estar
asociados en organizaciones de segundo grado, para
respaldar la defensa de los intereses comunes y apoyar la
promoción de nuevos proyectos.
86
9. La participación social
Deme esa mano señora, esa mano vecino, no vayan a olvidar que levantar nuestras casas
es el principio y no el final.3
…el desarrollo sostenible, si nos lo tomamos de verdad en serio, implicaantes que nada la exigencia de reinventar lo colectivo (Riechmann, 2006).
Hemos visto cómo las experiencias de cooperativas de
vivienda de tenencia colectiva pretenden recuperar el valor
de uso de la vivienda y evitar la especulación con lo que
consideran bien social necesario. Pero además tienen en
común la búsqueda del desarrollo de la organización
colectiva y de la gestión democrática, a través de la
participación de las personas socias a lo largo de las distintas
fases del proceso socio-habitacional. Se trata de dar
respuesta a sus necesidades personales y comunitarias, y de
mejorar el entorno que les rodea, enfrentándose al
individualismo y la competencia del sistema socioeconómico
en el que se encuentran inmersos. Como declaran desde la
cooperativa Entrepatios (2017):
«Llevábamos mucho tiempo con ganas de poner piedra sobre
piedra a todo ese caudal de ideas, anhelos y esperanzas en
3 Del himno de las cooperativas uruguayas por ayuda mutua, de Rubén Olivera.
87
forma de casa, pero también con ganas de materializar ese vivir
junt@s, nuestro proyecto para cambiar las cosas y demostrar
que desde lo colectivo, la ecología, el respeto, la solidaridad se
consigue más que desde los maravillosos búnkeres que
tenemos por casa y que no reproducen sino el individualismo
del sistema económico imperante».
Fases del proceso socio-habitacional
A diferencia de cuando se accede a la vivienda a través de
la producción del mercado o de la promoción pública, en la
que las personas actúan habitualmente como meros
consumidores, en la producción social de cooperativas de
tenencia colectiva, las personas socias tienen la posibilidad
de ser protagonistas de su propio proceso de producción
habitacional. Este proceso pasa por distintas fases,
comenzando por la de promoción e integración hasta la de
uso. Durante el proceso, el grupo aprende a trabajar
conjuntamente y comienza a desarrollarse comunitariamente,
de forma que cuando entran a vivir al conjunto residencial
que ellos mismos han originado, hayan podido adquirir una
serie de capacidades sobre la participación y la gestión
colectivas. Por eso en la mayoría de los modelos estudiados,
el acceso a la vivienda no se entiende como la meta a la que
llegar, sino como el inicio de un proyecto de desarrollo
sociocomunitario
Según el caso, la participación del grupo puede variar en
cada una de las fases del proceso, pudiendo existir otra
entidad que lidere o comparta alguno de estos espacios.
Como hemos visto, se puede contar con el apoyo de otras
organizaciones sociales y/o la facilitación de las
administraciones públicas, lo cual posibilita que sea una
88
opción abordable por mayores sectores de población y
multiplica las probabilidades de éxito.
Para detallar las fases del proceso habitacional que siguen
las cooperativas, seguiremos a Enrique Ortiz en la definición
de fases y actividades implicadas en la producción social del
hábitat, que como el propio autor describe, es aquella que se
produce sin fines de lucro bajo el control de
autoproductores individuales u organizados y de empresas
sociales. La descripción del autor la hemos complementado
basándonos en lo observado en los distintos referentes
analizados.
Fundamentalmente, distinguiremos cinco fases en el
proceso de producción socio-habitacional: la fase de
promoción e integración, en la que se comienza a conformar
el grupo y se le va dando forma al proyecto; la fase de
planificación, que comprende todos los pasos y trámites
necesarios previos al inicio de las obras; la fase de
construcción, en la que se levanta o se rehabilita el conjunto
residencial; la fase de distribución, en la que se adjudican las
viviendas; y la fase de uso, en la que se habitan, disfrutan y
gestionan las viviendas y el restos de los espacios previstos
en los inmuebles (Ortiz, 2012, p. 43).
En cualquier caso no se trata de un proceso lineal, sino
que, como proceso complejo de producción social, responde
más bien a un desarrollo en espiral, donde las interrelaciones
entre los distintos actores y los distintos aspectos del
proyecto exigen en muchas ocasiones avanzar de a poco en
cada campo para poder continuar.
89
El papel de los distintos agentes sociales
Las cooperativas de viviendas alcanzan diferente
desarrollo en función del papel que desempeñe cada actor y
de las relaciones que se establezcan entre ellos. Pensamos
que una intervención adecuada se da cuando existe
participación intersectorial -políticos, técnicos y
organizaciones sociales-, interinstitucional -desde los
distintos niveles y departamentos de las administraciones
públicas-, e interdisciplinar -que aborde de forma integral los
distintos aspectos que implican estas empresas-.
A nivel Estatal es necesario establecer un marco
regulador y financiero capaz de aportar estabilidad y
seguridad, tanto jurídica como económica, al proyecto.
Desde el ámbito municipal las administraciones puede
trabajar directamente con las organizaciones sociales y otros
agentes implicados, definir conjuntamente las necesidades y
posibilidades sociales y urbanísticas de la localidad, elaborar
propuestas y apoyarse en los recursos de planificación
urbanística que tiene a su alcance, para facilitar el acceso a
suelos e inmuebles asequibles y bien ubicados.
La población organizada como empresa, puede asumir la
promoción y gestión de los proyectos dándole continuidad
una vez ocupadas las viviendas.
Para ello, además de la facilitación de las administraciones
públicas pueden contar con el apoyo de las organizaciones
de segundo grado, que atesoran el conocimiento acumulado
de cada experiencia para asesorar a las siguientes, defienden
los intereses comunes ante el resto de agentes implicados, y
refuerzan la base política e ideológica del movimiento.
90
Además precisan asistencia técnica interdisciplinar como
acompañamiento en los distintos aspectos y a lo largo del
proceso, de forma que cuenten con la información necesaria
para tomar las decisiones que más les interesen y estén
capacitados para gestionar su propio proyecto socio-
habitacional.
En los últimos años, algunas experiencias que no cuentan
con financiación pública para la promoción de sus
proyectos, se están viendo respaldadas por las entidades de
banca ética. Estas sociedades están aumentando su presencia
en el sector y pueden convertirse en un agente fundamental
para el desarrollo de estos modelos, con los que comparten
los mismos principios y valores sobre los que se sustentan.
También es fundamental el trabajo que se hace desde los
departamentos de algunas universidades, en los que por una
parte se forma a los técnicos para que puedan acompañar
adecuadamente estas iniciativas, y por otra se analizan y
evalúan las experiencias en marcha, extrayendo conclusiones
que sirven para la mejora y enriquecimiento de las distintos
modelos y propuestas
Complementariamente, en las experiencias y modelos
donde se pretende una articulación de actores adecuada,
suele ser clave la definición de los espacios de participación
y mesas de trabajo donde conjuntamente se puedan analizar
las necesidades y posibilidades de cada sector, concertar
criterios, desarrollar propuestas, realizar el seguimiento de
los proyectos en marcha y evaluar las medidas adoptadas.
91
10. La recualificación de la ciudad existente
El espacio público y los espacios comunes
Los servicios y equipamientos colectivos son uno de los
distintivos de identidad de las cooperativas de vivienda de
tenencia colectiva, ya que en base a la organización
cooperativa con la que se cuenta desde el inicio, se pueden
disponer los espacios para el uso comunitario que se
requieran, apoyándose en la autogestión para su
mantenimiento.
Es destacable en las cooperativas, el uso y el buen
mantenimiento de los espacios libres. Cuando el terreno lo
permite, se crean jardines y huertos que se conservan en
excelentes condiciones. También abundan los parques
infantiles.
Habitualmente en las cooperativas estos espacios se
proyectan y mantienen abiertos al entorno, como ámbito de
relación vecinal y aportación a la construcción de ciudad. El
mantenimiento se asegura por la organización cooperativa,
que además vela por el buen uso de los mismos.
Los espacios comunes pueden variar mucho en superficie
y programa de usos, en función del tamaño, las necesidades
y los deseos del colectivo.
92
Lo mínimo con que se dotan las cooperativas de vivienda,
es de un espacio o local social para las reuniones de los
socios y la celebración de eventos. A partir de ahí, en
función del tamaño de la cooperativa, del número de
viviendas, de las necesidades funcionales del grupo y de la
disposición de los socios a la convivencia, se seguirán
incrementando las superficies, pudiendo llegar a
complementarse con un amplio espectro de espacios para
actividades sociales, culturales y deportivas, disponer locales
para actividades comerciales e incluso incorporar dotaciones
educativas y sanitarias cuando se precisaba en la zona y la
escala lo permite.
Los espacios más habituales son: salón de usos múltiples -
que puede tener incorporado un bar y un office-, biblioteca,
gimnasio y locales para talleres, pero pueden aparecer otros
usos cómo cines, sala de conciertos, guarderías, colegios,
policlínicas o cualquier otra función que el grupo decida.
Los espacios comunes complementarios a los de las
viviendas permiten que estas puedan reducir su tamaño
respecto a las viviendas habituales, ya que algunos usos,
especialmente los de carácter eventual, pueden derivarse a
estos lugares.
Optimizando el uso de los recursos
Las cooperativas de vivienda pueden promover a precios
bastante más bajos que los del mercado, por una parte
porque la autopromoción del conjunto habitacional, al
eliminar los beneficios de los intermediarios, disminuye los
costes de ejecución, y por otra porque la autogestión permite
hacer un uso más eficiente de los recursos. Esto permite
93
aumentar la calidad de la edificación respecto a otras
promociones que tengan el mismo presupuesto.
En esta línea, la autopromoción también permite tomar
decisiones sobre el proyecto del edificio que, aunque puedan
implicar un mayor gasto en su ejecución, supondrán un gran
ahorro durante la vida del edificio. Es el caso del empleo de
materiales, sistemas constructivos e instalaciones que
optimizan la eficiencia energética de los conjuntos
residenciales. En la misma dirección, la propiedad y la
organización colectivas facilitan la implementación de
sistemas centralizados de instalaciones o de producción local
de energía que, además de la reducción de los gastos,
resultan más sostenibles ambientalmente.
Por otra parte la autogestión permite compartir recursos
que habitualmente tenemos infrautilizados y/o
multiplicados, con las implicaciones que esto tiene a nivel
ambiental, económico y espacial. En muchas cooperativas se
comparte el uso de herramientas, lavadoras o de coches,
reduciendo considerablemente su proporción respecto al
número de hogares. También es frecuente que los cuartos de
invitados sean compartidos, de forma que no se pierda un
espacio en cada vivienda para un uso eventual.
Además la participación de los usuarios en el proceso de
producción permite que las viviendas sean adecuadas y
asequibles a sus posibilidades económicas. Como
consecuencia de ello, en las cooperativas no hay vivienda
vacía, sino que por el contrario, es habitual que se
encuentren con largas listas de espera de socios expectantes.
94
La organización colectiva consolidada, además favorece la
conservación y el mantenimiento de los conjuntos
habitacionales de forma permanente.
La posibilidad de trabajar con la flexibilidad espacial de la
vivienda, como respuesta a los cambios en la composición
del hogar, se ven complementados en las cooperativas,
gracias a la propiedad y la organización colectiva, con la
posibilidad de permutar viviendas entre las personas socias.
Dentro de un mismo conjunto, se puede acceder a una
mayor o menor superficie según las necesidades, o cambiar
una vivienda de planta alta por una de planta baja cuando la
edad lo requiera en inmuebles sin ascensores. En
organizaciones de segundo grado, que pueden contar con
cooperativas asociadas en distintas barrios y en distintas
ciudades, las permutas además facilitan la movilidad laboral.
95
Capítulo 4:
Un referente internacional en
vivienda cooperativa:
Uruguay
Marta Solanas Domínguez
11. Funcionamiento general del sistema actual
de cooperativas de vivienda en Uruguay
Contexto histórico y Ley Nacional de Vivienda
(1968-2011)
Es posible reconocer en el cooperativismo uruguayo
algunos elementos coincidentes: vinculación con
organizaciones o gremios con una marcada pluralidad y
autonomía y el rol determinante del Estado, tanto en su
fomento como en la obstaculización de su desarrollo a lo
largo de la historia.
El cooperativismo de vivienda se inicia con tres
experiencias pioneras en Florida, Salto y Río Negro,
realizadas a partir de 1966, con el impulso y asesoramiento
del Centro Cooperativista Uruguayo (CCU). En 1968 se
aprueba la Ley Nacional de Vivienda (Ley 13.728), en cuyo
Capítulo X se desarrolla y precisa el funcionamiento de las
Cooperativas de Vivienda. En esta ley se define también la
función y composición de los Institutos de Asistencia
Técnica (IAT); se crea el Fondo Nacional de Vivienda y, en
general, se realiza el diseño institucional de la política de
vivienda.
El momento en que se aprueba la Ley 13.728 estaba
marcado por la profundización de una crisis social,
99
económica y política, iniciada a mediados de la década de
1950. Las condiciones laborales y económicas de la clase
trabajadora habían empeorado progresivamente. La
movilización social, las huelgas y el conflicto en las calles
aumentaban. En el gobierno, la presidencia de J. Pacheco
Areco estuvo marcada por las casi constantes «medidas
prontas de seguridad» (equivalente al «estado de excepción»,
lo que le permitía dictar leyes obviando al Parlamento).
Las condiciones de acceso (y permanencia) a la vivienda
también habían empeorado. Durante las décadas anteriores,
la población de recursos medios y bajos tenía capacidad de
pago para vivir de alquiler o bien dar el salto a «la casa
propia». El imaginario colectivo contiene un pasado de
emigrantes españoles o italianos que, cuando estabilizaban su
situación, compraban un terreno que podían ir pagando en
pequeñas cuotas mensuales y en el que iban construyendo
sus viviendas poco a poco. La ciudad de Montevideo fue
creciendo a base de estos «loteos» que realizaban algunos
conocidos especuladores. Esto significa, además, que los
barrios habían crecido a partir de la autoproducción –en
gran medica autoconstrucción– de las viviendas por sus
habitantes, que se brindaban apoyo los unos a los otros
cuando era necesario.
Los tres casos que se iniciaban en el interior del país
empezaron a conocerse en Montevideo por la difusión en
prensa. Al mismo tiempo, el CCU realizaba una labor de
difusión de la propuesta en distintos lugares, entre ellos en
distintas fábricas, incluso meses antes de que la Ley de
Vivienda se aprobase. Es así que en el tiempo que duró la
obra de «los casos piloto» ya se había armado la
coordinación entre los grupos cooperativos: en mayo de
100
1970 se inauguraba la primera cooperativa terminada, pero
también se presentaba la Federación Uruguaya de
Cooperativa de Viviendas por Ayuda Mutua (FUCVAM).
Cooperativas: definición y tipos
«Las cooperativas de viviendas son aquellas sociedades
que, regidas por los principios del cooperativismo, tienen
por objeto principal proveer de alojamiento adecuado y
estable a sus asociados, mediante la construcción de
viviendas por esfuerzo propio, ayuda mutua, administración
directa o contratos con terceros, y proporcionar servicios
complementarios a la vivienda» (artículo 114, Ley 13.728).
A partir de esta definición, la ley establece distintos tipos
de cooperativas de vivienda. Una clasificación se realiza en
función del modo de tenencia (cooperativas de «usuarios» o
de «propietarios») y otra diferencia según la aportación de
mano de obra o de ahorros de los cooperativistas
(cooperativas de «ayuda mutua» o de «ahorro previo»)
Figura 1. Esquema básico de interrelación y responsabilidades de los actores.
Fuente: elaboración propia.
101
Las cooperativas de usuarios son aquellas que mantienen
en el tiempo la propiedad colectiva del conjunto edificado.
La propiedad del conjunto edificado es de la cooperativa.
Cada uno de los núcleos familiares aporta un socio a la
cooperativa. Cada uno de estos socios es propietario de una
determinada cantidad de «partes sociales», que le serán
reembolsadas en caso de salida de la cooperativa (salvo un
10% que se queda la cooperativa, en condiciones normales).
En este caso, la relación de los habitantes con su vivienda se
establece a través de un «contrato de uso y goce», sin límite
en el tiempo y que es transferible a los herederos (junto con
las partes sociales).
Estas partes sociales están integradas por todos los
aportes realizados por cada socio al capital social de la
cooperativa: en general, se trata de los ahorros vertidos antes
o durante la obra; las horas de «ayuda mutua» realizadas
durante la obra; las cuotas aportadas para la amortización del
préstamo.
Las cooperativas de propietarios son aquellas en las que
las viviendas que pasan a ser propiedad individual de sus
habitantes una vez terminada la construcción del conjunto
habitacional.
Cooperativas de ahorro previo. Las personas socias
realizan la aportación económica necesaria para cubrir el
15% del coste. La mitad de esa cantidad deben aportarla
antes del inicio de la obra, la otra mitad la pueden acumular
mientras se realiza la obra. Estas cooperativas pueden
realizar la obra por administración directa, de manera que
todas las gestiones (compras de materiales, contratación de
102
trabajadores, etc.) las realizan a partir de su organización en
torno a la asamblea y comisiones necesarias.
Cooperativas de ayuda mutua. Las personas socias
aportan el 15% del coste en mano de obra durante la
construcción del conjunto. Esto implica una participación
obligatoria de 21 horas semanales por núcleo familiar,
durante los alrededor de 24 meses que dura la obra. Nos
referimos a «ayuda mutua» porque todas las personas
aportan mano de obra para todo el conjunto, sin
diferenciarse qué vivienda será adjudicada a cada persona
hasta que se van a habitar.
La ley limita el destino de las viviendas cooperativas a su
uso por las personas cooperativistas, impidiendo la
posibilidad de alquiler a terceros.
La vinculación de cada grupo familiar a su vivienda (y a la
cooperativa, por tanto) tiene carácter indefinido, el contrato
de uso y goce es vitalicio. Asimismo, es heredable.
Financiación
El financiamiento (Nahoum y Vallés, 2011) se resuelve
mediante la complementación de: préstamo + subsidio +
aporte propio:
-Préstamo: se devuelve en cuotas, con un cierto interés
que ha ido variando, y en un plazo de 25-30 años.
-Subsidio: es una cantidad que no se devuelve; es
aportado por el Fondo Nacional de Vivienda para que quien
no pueda pagar la cuota consiga acceder a la vivienda. Puede
ser de capital, de interés, o de cuota. En el caso de las
cooperativas lo recibe esta para trasladarlo al socio.
103
-Aporte propio: es lo que completa el financiamiento; en
el caso de las cooperativas es el 15% y se integra en trabajo,
ahorro, especie o una combinación de ellos.
El coste global incluye el coste de los materiales, del
terreno, de la mano de obra, costes sociales (seguridad social
de las personas empleadas en la obra) e impuestos, de las
obras de las viviendas, espacios comunes e infraestructura
interna al predio; honorarios del IAT (entre el 7% y el 9%
del total, según los servicios contratados); costes de
conexiones de servicios, permisos, y el aporte propio.
Aunque el coste del suelo está contemplado en el valor
total del préstamo, se da la paradoja de que no se puede
solicitar el préstamo sin contar con el terreno.
Acceso al suelo urbano
Cartera de tierras, Montevideo (desde 1989)
A partir de esta paradoja, se produjeron bloqueos
importantes para las cooperativas que querían desarrollar su
proyecto. Las ocupaciones de tierras en Montevideo, en
1989, provocaron la posterior conformación de la «Cartera
Municipal de Tierras para Vivienda», con la aprobación del
decreto 24654 en 1990.
Asesoramiento técnico
La Ley de 1968 establece en el mismo capítulo X la
obligatoriedad de que las cooperativas contraten a un IAT e
indica las características de estos equipos de profesionales.
Fundamentalmente, debe tratarse de grupos
interdisciplinares y sin ánimo de lucro.
104
El Instituto tiene que asesorar a la cooperativa a lo largo
de todo su proceso: desde la conformación, solicitud de la
personería jurídica y todos los primeros pasos, hasta la
búsqueda de terreno, realización del proyecto arquitectónico
y social, y finalmente la propia construcción del complejo
cooperativo.
En FUCVAM señalan las necesidades propias de cada
uno de esos momentos.
Durante la conformación del grupo destaca la necesidad
de la cooperativa por funcionar en colectivo y contar con
conocimientos básicos acerca del cooperativismo y sus
valores, así como cuestiones concretas ligadas a la propia
administración y gestión de la empresa cooperativa.
Durante la formulación del proyecto y solicitud del
préstamo destacamos la importancia de la elección del
terreno o edificación donde se desarrollará la cooperativa, el
conocimiento del contexto, la comprensión de los valores e
interacciones urbanas del sitio, al tiempo que la búsqueda en
relación con las necesidades y voluntades del grupo, de cara
a la elaboración de un proyecto social a medio y largo plazo.
También este momento es el de elaboración del proyecto
arquitectónico, por lo que cabe esperar del IAT que
coordinen y dinamicen instancias de diseño participado con
la asamblea.
Federaciones de cooperativas de viviendas
La Ley preveía la existencia de «cooperativas matrices»,
que serían el germen de nuevas «unidades cooperativas» y el
lugar, en definitiva, de apoyo a los nuevos grupos que se
fueran conformando. Esta previsión estaba en consonancia
con un momento histórico en que los sindicatos eran fuertes
105
y una de las vías más consolidadas de agrupación de la gente,
de sociabilidad y organización colectiva. Estas matrices,
efectivamente, se conformaron en los distintos sindicatos
(COVIMT, COVIOSE, COVISAG, etc.).
Con el tiempo, esa función de apoyo a los nuevos grupos
y de aglutinador de las cooperativas existentes la asumió
FUCVAM, en el caso de las cooperativas de ayuda mutua, y
FECOVI, en el caso de las cooperativas realizadas por
ahorro previo.
FUCVAM tiene implantación nacional, con una fuerte
presencia en Montevideo. Se organiza con la asamblea
general, que se reúne al menos una vez al año. Para la
gestión cotidiana, cuenta con una Dirección Nacional.
Existen comisiones de distinto tipo (han ido cambiando con
el tiempo en función de las necesidades de las cooperativa),
destacando la Comisión de Desarrollo Social y Fomento
Cooperativo y los Plenarios (de cooperativas sin tierra, de
cooperativas en obra, etc.).
Un grupo de interés es el DAT (Departamento de
Asesoramiento Técnico), que apoya fundamentalmente a las
cooperativas en preobra y obra. Los miembros del DAT
dinamizan y coordinan esta instancia colectiva, atendiendo a
las consultas y preocupaciones de cada cooperativa, aunque
priorizando que los aprendizajes se realicen entre las
personas que están en una etapa similar.
Por otra parte, una de las innovaciones más recientes es la
Escuela de Formación ENFORMA, que aglutina todas las
actividades, cursos y talleres, que realiza la federación para
las cooperativas en formación u otras.
106
12. El proyecto cooperativo en la actualidad
Proceso tipo
El proceso tipo que se sigue para conformar una
cooperativa y construir un conjunto habitacional tiene, en
general, el siguiente recorrido:
1. Se reúne un grupo de personas (generalmente en
FUCVAM).
2. Tramitan y obtienen la personería jurídica: son
formalmente una cooperativa.
3. Se registran en el Ministerio de Vivienda.
4. Eligen un IAT.
5. Obtienen un terreno en comodato. Asesorados por
IAT; el terreno se consigue a partir del convenio
FUCVAM/IM o bien mediante la cartera estatal,
CIVIS, por concurso.
6. Elaboran el proyecto arquitectónico y el proyecto
social.
7. Se entrega el proyecto en el MVOTMA (Ministerio
Vivienda).
8. Cada 6 meses: sorteo entre las cooperativas aceptadas.
9. Consiguen el préstamo.
107
10. IAT completa y entrega el proyecto ejecutivo.
11. Realizan pre-obra: «entrenamiento».
12. Comienza la obra: ayuda mutua. 24 meses.
13. Inauguración: se sortean las viviendas. ¡HABITAN!
Durante todo el proceso, las cooperativas participan en
los distintos plenarios de FUCVAM: de cooperativas «sin
tierra», cooperativas «en trámite» y cooperativas en
construcción.
Órganos de funcionamiento, administración y
gestión de la cooperativa
La asamblea general es el espacio en el que participan
directamente todas las personas socias de la cooperativa. Es
el órgano máximo de toma de decisiones. En las
cooperativas visitadas, la frecuencia con que se convoca la
asamblea general depende de muchos factores, sobre todo el
momento en que se encuentra la cooperativa y si existe un
objetivo concreto que requiera la discusión y toma de
decisiones relevantes.
El Consejo Directivo lo conforman un mínimo de tres
personas (presidencia, secretaría, tesorería). Es responsable
de la gestión cotidiana de la cooperativa (seguimiento de
cuentas, cobro de recibos, pago de salarios si hay
trabajadores, atención de las incidencias o propuestas de los
socios).
En las cooperativas pequeñas, suelen asumir la
responsabilidad de solucionar las incidencias en lo que
respecta a mantenimiento, patologías leves de los edificios,
etc. En cooperativas de mayor tamaño y con más
108
antigüedad, suele haber una Comisión de Mantenimiento
específica.
La Comisión Fiscal tiene la tarea de controlar las cuentas
de la cooperativa. Sus miembros pueden (deberían)
participar en las reuniones del Consejo Directivo.
La Comisión de Fomento Cooperativo, tal como queda
descrito en el art. 122, se encargaría de «todo lo referente a la
educación, integración y fomento cooperativo, de los socios
y de terceros». De alguna manera se trataría de mantener
vivo el cooperativismo entre el grupo de habitantes de la
cooperativa.
109
13. Casos ilustrativos del cooperativismo de
vivienda en Uruguay
Había un espíritu muy fuerte de que había que ayudar a ese compañero porque juntos iban a hacer la revolución (Di Paula, J., 2011).
Barrios cooperativos pioneros en Montevideo
El barrio cooperativo conocido como Zona 3 aglutina a 7
cooperativas y un total de 839 viviendas. Conforma, así, el
barrio de mayor tamaño realizado en el país mediante la
modalidad de ayuda mutua. Forma parte una entidad mayor:
el Complejo José Pedro Varela, del que son parte también las
Zona 1 y Zona 6.
Está ubicado en el entorno del barrio que se conoce
como La Cruz de Carrasco. El barrio se estructura mediante
dos tipos de edificaciones: el centro del terreno aglutina la
mayor altura y densidad, con bloques de cuatro plantas;
alrededor, viviendas de dos plantas.
Los dieciocho bloques de cuatro plantas están
conformados por apartamentos, a los que se accede a través
de un núcleo de circulaciones. Estos núcleos cuentan con
escaleras en los extremos, de las que salen galerías por cada
planta. Estas galerías centrales dan acceso a los
110
apartamentos. Existen distintos tipos de viviendas desde uno
hasta cinco dormitorios.
El salón comunal se denomina «Casa Comunal».
Conforma un edificio que se desarrolla entre planta baja,
planta primera y sótano, donde se ubica el polideportivo.
Existen 40 comercios distribuidos en las plantas bajas de
los bloques, sobre la calle principal. La diversidad de tipos de
comercios permite en gran medida a las personas residentes
abastecerse dentro del propio barrio.
Contexto
Tras la aprobación de la Ley de Vivienda en 1968 y su
reglamentación en 1969, los primeros años de su aplicación
fueron muy intensos: se construían cada vez más
cooperativas (con un pico en la cantidad de préstamos en
1975). La dirección de la DINAVI decidió priorizar las
cooperativas de usuarios, a la hora de conceder los
préstamos, de manera que las cooperativas conformadas
optaron por este régimen de tenencia. Se desarrolló una
política urbana de grandes complejos, en parte por las
características de los terrenos que la DINAVI podía poner a
disposición.
Las «Mesas» y las «Zonas» son la manera en que las
cooperativas, con el asesoramiento de sus respectivos IATs
(CCU para las Mesas; CEDAS en el caso de las Zonas),
responden al desafío de utilizar esos grandes terrenos. Se
reúnen varias cooperativas en cada uno de los casos, ya que
el límite de socios establecido en la Ley es de 200 por
cooperativa y los terrenos permitían más viviendas.
Las propuestas realizadas con el asesoramiento del IAT
CEDAS fueron proyectos con una clara intencionalidad:
111
construir la «ciudad cooperativa». El Conjunto José Pedro
Varela (JPV) se estructuraba alrededor de un parque lineal,
continuación del existente Parque Rivera. Las seis zonas que
configuraban el Conjunto JPV, estaban conformadas, a su
vez, por varias cooperativas cada una de ellas. Esta suma
permitía grandes equipamientos comunitarios que en el
proyecto se disponían junto al parque lineal. Estos
equipamientos debían estar destinados a usos diversos,
según la «zona» de que se tratase: deportivo, cultural,
educativo, etc.
Organización interna
Los distintos modos de organización puestos en marcha
también son interesantes: por la coordinación de siete
cooperativas a lo largo de todo el proceso, así como por las
particularidades en su relación con las distintas instituciones,
una vez terminada la dictadura.
Hay un elemento singular, que marca la evolución del
conjunto, tanto a nivel físico (mantenimiento, mejoras, etc.)
como en la autogestión vecinal. Las 839 viviendas están
habitadas de manera aleatoria por personas pertenecientes a
las siete cooperativas. Es decir, las sietes cooperativas no se
repartieron bloques completos y zonificaron el barrio, sino
que en una misma tira de dúplex o bloque de cuatro plantas
puede haber socios de todas las cooperativas. Cada
cooperativa es responsable del mantenimiento de las
viviendas que ocupan sus socios, pero el mantenimiento
general de los bloques, de todos los elementos que sean
comunes (fachadas, escaleras, estructuras, instalaciones
generales, etc.) les corresponde a todas como conjunto.
112
El gran tamaño del solar que comparten las siete
cooperativas, hace que el espacio no edificado sea
gestionado también por las cooperativas: calles, plazas,
cancha de fútbol, zonas con juegos infantiles, zonas
habilitadas para los mayores, etc.
A lo largo del proceso, se coordinaron con las otras
cooperativas de la zona en distintos momentos. Durante la
obra, funcionaron conjuntamente con las cooperativas de
Zona 6 para llevar adelante la planta de prefabricados que
compartían. Las tres zonas tenían locales de la policlínica, era
una policlínica conjunta que funcionaba con distintas sedes.
La relación del barrio con las instituciones ha tendido a la
cogestión en determinadas situaciones. De entrada, cuando
ANEP (la agencia encargada de la enseñanza pública) no
tenía recursos y capacidad para construir escuelas o
guarderías en los nuevos barrios, fueron las cooperativas las
que los construyeron. A continuación, la ANEP se
encargaba de la gestión.
En Zona 3, en distintas épocas, el barrio cooperativo ha
contado con apoyo de la Intendencia para dar servicio en el
polideportivo de la Casa Comunal. En general, ha consistido
en que la Intendencia aportaba el personal para los talleres
deportivos y las cooperativas aseguraban que pudieran
participar personas no cooperativistas en sus instalaciones.
Factores externos
Durante la dictadura, el convenio de FUCVAM con la
Asociación Cristiana de Jóvenes de Canadá permitió realizar
actividades de lo que llamaron desarrollo comunitario.
En un sentido más amplio, el barrio cooperativo permitía
que se dieran ciertas situaciones que en cualquier otro
113
ámbito serían más difíciles de imaginar con los sindicatos,
asociaciones estudiantiles, periódicos y medios de
comunicación, partidos políticos, etc. prohibidos. Es cierto
que las asambleas eran fiscalizadas, y que muchos espacios
de reunión de los más formales no eran espacios seguros
para opinar u organizarse contra la dictadura. Sin embargo,
la organización de este tipo de actividades de desarrollo
comunitario, los festivales, etc., pudieron ser de los pocos
espacios en los que moverse con cierta confianza.
Otra consecuencia del hostigamiento llevado a cabo por
las autoridades dictatoriales, implicó que se filtraran las listas
de quienes conformaban los órganos de gestión: había
personas que no podían estar. Esto implicó que las personas
más jóvenes, o quienes habían llegado a la cooperativa más
por la necesidad de vivienda que por una historia de vida
militante, tuvieran que dar un paso al frente y conformar
esos órganos, y asumir responsabilidades.
Ocupaciones de tierras en 1989 para reactivar el
movimiento: Tacuabé
La cooperativa Tacuabé se ubica en el barrio de El Prado.
Está conformada por 42 socios y sus respectivos núcleos
familiares, por tanto 42 viviendas. Se sitúan en un terreno
alargado, la cooperativa eligió una distribución que alinea las
viviendas, en tiras, a los bordes largos. De esta manera,
queda una calle central peatonal, a la que dan las fachadas de
todas las casas.
La tipología de las viviendas es habitual en las
cooperativas asesoradas por el IAT INVIPO. Destacan por
el volumen que sobresale en fachada: contiene el baño en
una altura intermedia, en el descansillo de la escalera. Por lo
114
demás, son viviendas desarrolladas en dos alturas, la mayoría
de ellas de 2 o 3 dormitorios, alguna de 4 dormitorios.
Contexto: Tacuabé, la importancia del nombre
FUCVAM había participado, en los primeros años 1980,
en los espacios de movilización y organización popular que
acompañaron al progresivo debilitamiento del gobierno
dictatorial y fueron empujando para que se conformara la
nueva democracia. Por su participación en esos espacios y
por su muestra de fuerza en el año 1983, se fue
consolidando como un actor social y político en el que la
sociedad movilizada confiaba.
En marzo de 1985 asumía el primer gobierno de la
democracia. Distintos colectivos (FUCVAM y otras
organizaciones por el derecho a la vivienda) e instituciones
(Universidad, Sociedad de Arquitectos), agrupados en la
COVIP (Coordinadora de Organizaciones por la Vivienda
Popular) habían elaborado un Plan Nacional de Vivienda
Popular.
Así, en 1985 se conformaron muchos nuevos grupos de
personas que querían formalizarse como cooperativas, y
acceder por esa vía a sus viviendas. Sin embargo, los años de
esa primera legislatura pasaron sin que se conformaran
apenas nuevas cooperativas, ni concediera suelo ni
préstamos. No obstante, Tacuabé fue uno de esos primeros
grupos.
La espera hizo que la mayoría de grupos fueran
desvinculándose de FUCVAM. Hacia 1989, el debate sobre
la posibilidad de ocupar tierras se había ido instalando en
algunas cooperativas y en la Federación. Era una medida
fuerte para una organización acostumbrada a moverse en los
115
espacios de la legalidad. Al mismo tiempo, la ocupación de
tierras estaba muy vinculada a los asentamientos irregulares.
Finalmente, la Federación considera que la medida es
necesaria: se aclaran objetivos, tipos de terrenos a ocupar y
duración de la medida. Se reclamarían tres cuestiones: la
aprobación de las personerías jurídicas, la concesión de
préstamos y la creación de la Cartera de Tierras. Unos días
más tarde de la primera ocupación, las cooperativas Tacuabé,
6 de Mayo, COVICEVI, COVIPASO y COVIDE ocuparon
terrenos públicos en distintos lugares de la ciudad.
Además, consiguieron uno de los objetivos planteados,
con cierta celeridad; la creación de la Cartera de Tierras en
Montevideo.
La organización interna: la historia de Tacuabé, cuestión de
mantenerse vivos y tejer alianzas
La cooperativa Tacuabé, no sin dificultades, fue de
aquellas que pudo permanecer en el terreno que habían
ocupado. Después de 12 años en que se sostuvieron, gracias
a la autogestión, consiguieron el préstamo en 1997. A partir
de una de las visitas internacionales, terminaron por realizar
un vínculo con Alemania, con el que consiguieron
financiación para realizar la cimentación en preobra. Por otra
parte, al vincularse la «institucionalidad de la zona», lograron
financiación para construir el salón comunal.
Terminaron las viviendas en el año 2000, y durante los
años siguientes participaron activamente en el Zonal 13 de
FUCVAM. Su funcionamiento es similar al de cualquier
cooperativa: con la asamblea de socios, la comisión de
fomento cooperativo, la comisión electoral y la fiscal.
116
14. Claves del cooperativismo de vivienda en
Uruguay
Partiendo de las claves consideradas por Nahoum
(2013)–la organización cooperativa, la ayuda mutua, la
autogestión, el régimen de tenencia, el financiamiento
público, la existencia y el papel de FUCVAM, el
asesoramiento técnico–, añadimos otras aportadas
directamente por FUCVAM –la independencia política, el
marco normativo y marco legal adecuado, el acceso a la
tierra con servicios–, así como otras observadas desde
nuestros criterios y con la mirada puesta en la posible
transferencia a nuestro contexto territorial y social.
La autogestión
Por un lado, la autogestión comprendida como
administración directa de recursos públicos (el préstamo
para la construcción), realizada por las personas
«adjudicatarias» del producto (en este caso la vivienda y los
espacios complementarios). Parte de ese producto estará en
muchos casos a disposición para su uso por otras personas.
La autogestión comprende la administración, uso,
gestión, mantenimiento, toma de decisiones y puesta en
117
práctica de las mismas: una vez que ya están construidos, en
los complejos habitacionales y barrios cooperativos.
Pero también entendemos que está presente la
autogestión en el sentido de búsqueda de otros recursos
necesarios para la realización del proceso y del producto
elegido.
La financiación pública
El acceso a la vivienda supone un coste difícilmente
asumible para cualquier persona con recursos muy bajos,
bajos o medios. La existencia de banca pública y el acceso al
crédito por esta vía es una de las alternativas con menos
efectos negativos.
La ayuda mutua
Para las personas con menores ingresos y menor
capacidad de ahorro, el aporte de mano de obra es la forma
de completar los recursos necesarios.
La necesidad de repartir tareas, llegar a acuerdos,
establecer criterios más o menos flexibles en función de las
características del mismo colectivo, la posibilidad de
distribuir funciones según las capacidades de cada persona,
los aprendizajes que se realizan, son elementos que aportan a
la construcción del vecindario.
La organización cooperativa
La fórmula cooperativa se adecua al modo de
funcionamiento que venimos explicando: democracia
directa, objetivo de uso y no de lucro, toma de decisiones
asamblearia, educación cooperativa, colaboración, etc.
118
El régimen de tenencia
La propiedad colectiva hace que la cooperativa
permanezca en el tiempo. Desde el punto de vista legal, la
propiedad colectiva junto con el sistema de partes sociales y
la imposibilidad de modificar el coste de las mismas en
función de los precios de mercado, permite también que los
conjuntos cooperativos realizados con financiación pública
no puedan aumentar de precio sin control.
Frente a otros modelos de tenencia colectiva, en este caso
es la cooperativa quien mantiene la autonomía con respecto
a la renovación de las personas socias, los contratos de uso y
goce. Por otra parte, la propiedad colectiva protege a los
habitantes en situaciones de conflicto: ante una situación de
crisis económica.
El hecho de que la propiedad de las viviendas, locales
comerciales, locales sociales y equipamientos sea de la
cooperativa hace que estos estén en uso, sobre todo en lo
que refiere a las viviendas. Por otra parte, los socios deben
utilizar su vivienda y no pueden alquilarla.
El asesoramiento técnico
El conjunto interdisciplinario de técnicos va
acompañando el proceso que debe realizar el grupo de
personas en su conformación como cooperativa, la búsqueda
de terreno, la relación con las administraciones, el diseño del
proyecto, la obra.
Cada uno de los casos es distinto y también se detectan
diferencias en el rol jugado por los institutos en cada una de
las épocas: en todo caso, comprobamos que siempre se
respetan las decisiones tomadas en la asamblea.
119
El acceso a la tierra con servicios
Las carteras de tierras e inmuebles (la municipal y la
nacional) son fundamentales, puesto que el coste del suelo
dificulta extremadamente cualquier otra manera de acceder a
un lugar en la ciudad.
Proyectos piloto
Podemos considerar distintos momentos en los que se
han hecho propuestas nuevas, que con la forma asimilable a
proyectos piloto, han servido para activar o renovar el
cooperativismo: desde las tres primeras cooperativas
pioneras, los grandes barrios cooperativos, las ocupaciones
de tierras y la posterior creación de la Cartera (FUCVAM e
Intendencia), las propuestas de reciclaje, innovaciones en
sistemas constructivos, cooperativas para personas de muy
bajos ingresos (1990, Intendencia), finalmente, en la
transferencia Sur-Sur también se utiliza la herramienta de los
proyectos piloto, como forma de que tanto los habitantes
como las instituciones responsables de vivienda vean que el
sistema es viable.
Puntos de apoyo
Tanto la autoconstrucción de la vivienda, como el
cooperativismo y el apoyo técnico eran conocidos por las
clases trabajadoras.
Durante las primeras décadas del siglo XX la
autoconstrucción y la ayuda mutua se producían de una
manera espontánea: los barrios crecían poco, con todas las
casas creciendo más o menos al mismo tiempo y con sus
habitantes conociéndose desde antes de llegar a habitar el
lugar.
120
Esta forma de acceso a la vivienda se apoyó por parte de
la intendencia de Montevideo a partir de 1941. El municipio
aportaba «planos de vivienda popular» y eximía de algunos
impuestos.
Con respecto al modo de tenencia la propiedad colectiva
enlaza con la idea de «vivienda propia» mejor de lo que
podría haber enlazado la vivienda en alquiler. No existía
mucha tradición de vivienda en alquiler en el caso de
políticas públicas de vivienda. Por otra parte, si bien los
trabajadores con frecuencia alquilaban, en los casos en que
tenían capacidad de comprar el terreno y autoconstruir, lo
hacían accediendo a la vivienda en propiedad.
En lo que refiere a las formas colectivas de organización
en 1968 estaba reciente todo el proceso de unidad sindical en
una sola central. Las clases populares vivían un ciclo alto de
organización.
Habitar antes de habitar
El soporte físico construido, es decir, casas, espacios
colectivos, calle, equipamientos, etc. aparece después de que
exista todo el tejido social que va a habitarlo. La cooperativa
existe antes que las viviendas, el barrio existe antes que las
casas, las calles, los equipamientos.
La existencia y el papel de FUCVAM
FUCVAM aporta una serie de puntos de apoyo al
conjunto de cooperativas que la conforman, así como en
sentido amplio a los movimientos sociales e incluso a las
instituciones.
A las cooperativas las aglutina, con lo que permite que se
sigan creando nuevas cooperativas, que las que existen
121
tengan un lugar de encuentro en el que compartir
dificultades y crear nuevas propuestas y proyectos para
mejorar su situación. Permite movilizar y realizar incidencia
política, así como elaborar propuestas de política de
vivienda.
La independencia política
Una de las características de FUCVAM es su
independencia con respecto de los partidos políticos. En el
seno de FUCVAM hay personas de todas las tendencias
ideológicas. Es cierto que FUCVAM tiene una parte
importante de miembros que se alinean con las izquierdas,
que participaron del proceso por el que los trabajadores
lograron la unidad sindical y a continuación en la unidad de
las izquierdas en el Frente Amplio.
La relación de los movimientos sociales con el Frente
Amplio ha debido reajustarse desde que esta confluencia
electoral obtuvo espacios de gobierno, desde 1990 en
Montevideo, desde 2005 en Uruguay (Castro y Menéndez,
2012).
Acumulación de historia y construcción de identidad
en las cooperativas y en FUCVAM
La propiedad colectiva de las cooperativas las hace
permanecer en el tiempo. Su agrupación en torno a la
Federación hace que las cooperativas vayan sumando
historia, desde 1965. Esto ha ido conformando su identidad,
por un lado. Por otra parte, ha permitido ir acumulando
experiencias, que han sido evaluadas a lo largo del tiempo,
con lo que existe un conocimiento elaborado en torno a
122
cuáles fueron más o menos exitosas, qué errores y aciertos se
produjeron en cada caso.
Vínculos internacionales
La vocación internacionalista de FUCVAM (apoyada a su
vez en las conexiones internacionales con las que contaba el
CCU en los años 1960), ha permitido muchos intercambios,
con resultados distintos según el momento histórico.
El marco normativo y marco legal adecuado
Pese a ciertas carencias, el hecho de que exista la Ley
Nacional de Vivienda establece una serie de bases sobre las
que los cooperativistas pueden apoyar sus demandas.
Aunque la población organizada es consciente de que la
existencia de la Ley no es elemento suficiente (de hecho,
entre 1985 y 2008 la Ley estaba pero no se disponía de
recursos suficientes ni de una buena organización
institucional), sí sirve como herramienta.
De hecho, en la actualidad, una de las luchas de
FUCVAM es que el subsidio a la permanencia pase a formar
parte de la Ley para que se estabilice su uso.
Conjunción de actuaciones dentro y fuera del marco
legal/la formalidad
Entendiendo lo dicho con respecto al marco legal, a partir
de 1980 y sobre todo desde la ocupación de tierras de 1989,
FUCVAM ha hecho uso alternativo de acciones dentro y
fuera de la legalidad vigente, en función de la movilización
necesaria para lograr los objetivos.
123
Capítulo 5:
El cooperativismo de
vivienda en Portugal
José Manuel Betanzos Martín
15. Marco legal, conceptualización y tipología de
cooperativas de viviendas en Portugal
Las primeras regulaciones sobre cooperativas
La regulación de la cooperativa en Portugal se inicia en
1867, con la conocida como Ley Basilar del cooperativismo,
que recogía como principal característica la raíz asociativa y
el espíritu mutualista de la cooperativa (Ferreira, 1976). Esta
norma fue derogada más tarde cuando se aprueba el Código
Comercial en 1888, donde se incluye un capítulo con
disposiciones especiales aplicables a las sociedades
cooperativas.
El Código Comercial se mantendrá hasta la Revolución
de 25 de abril de 1974 que derroca el Estado Novo y abre un
nuevo régimen jurídico que conllevará numerosas reformas
de la legislación cooperativa. Como señala Fajardo (2016, p.
4) «estas reformas se consagran principalmente en la
Constitución de 1976 y en el Código Cooperativo de 1980».
La Constitución de la República
En la Constitución de la República de Portugal de 1976 se
otorga a las cooperativas un papel importante en la
economía y la sociedad.
127
La Constitución portuguesa en su artículo 82 distingue
tres sectores de propiedad de los medios de producción: el
público, el privado y el cooperativo y social. La propia
Constitución recoge que este último está formado por los
subsectores cooperativo, comunitario, el autogestionario y el
solidario.
Se consigna que «El Estado estimula y apoyará la creación
y la actividad de las cooperativas» (art. 85), debiendo definir
los beneficios fiscales de las cooperativas, así como las
condiciones más favorables para la obtención de crédito y
ayuda técnica. Todo ello reconociendo que «el Estado
apoyará las experiencias viables de autogestión».
A mayor abundamiento en el artículo 61 se reconoce «a
todos el derecho a la libre constitución de cooperativas,
siempre en base a los principios cooperativos» y continúa
reconociendo el derecho a la autogestión. Asimismo, declara
que las cooperativas podrán desarrollar libremente sus
actividades y pueden agruparse en uniones, federaciones o
confederaciones.
Además, la Constitución reivindica el cooperativismo en
diferentes ámbitos como las políticas agrarias (arts. 94-95),
enseñanza (art. 75), y defensa de los consumidores (art. 60).
En el caso de la vivienda, el artículo 65 recoge el deber de
«incentivar y apoyar las iniciativas de las comunidades locales
y de las poblaciones, tendentes a resolver los respectivos
problemas de vivienda y a fomentar la creación de
cooperativas de vivienda y la autoconstrucción».
La importancia otorgada a las cooperativas en la
Constitución de la República Portuguesa es clara. En
palabras de Rui Namorado estamos ante una «constitución
128
cooperativa», como resultado de la consagración de un
fenómeno social estimulado por la Revolución de Abril
(Namorado, 2000, p. 135)
El Código Cooperativo
Al contrario de lo que ocurre en el Estado español, donde
cada comunidad autónoma tiene competencias en materia de
cooperativas, pudiéndose encontrar características
específicas según cada legislación autonómica, en Portugal la
legislación sobre cooperativas es la misma para todo el
territorio (Carreira, 2002).
La legislación que regula a todas las cooperativas de
Portugal está formada por el Código Cooperativo y el
Estatuto Fiscal Cooperativo.
El Código Cooperativo surge por primera vez en 1980.
Tras varias reformas en 1995 se aprueba un nuevo Código
Cooperativo, y por último, en 2015 se aprueba el vigente
Código Cooperativo mediante la Ley 119/2015, por el cual
se regulan todas las cooperativas.
El Código Cooperativo de 2015 comprende aspectos
generales del régimen jurídico de las cooperativas. Entre sus
novedades incorpora la posibilidad de que existan miembros
que no cooperan pero que pueden contribuir a la
cooperativa con su inversión, son los conocidos como
miembros inversores. Además, la reforma de 2015 también
contempla la posibilidad de que la administración pública
participe en las cooperativas, las llamadas cooperativas de
interés público. Otra de las principales novedades es la
reducción del número mínimo de miembros necesarios para
constituir una cooperativa de primer grado, de cinco a tres.
129
Cabe señalar que el nuevo Código Cooperativo, sin llegar
cumplirse los dos años tras su aprobación, ha sido
modificado por Ley 66/2017. No obstante, su aprobación se
refiere a enmiendas menores al Código de cooperativas, de
naturaleza esencialmente formal.
En paralelo al Código Cooperativo se desarrolla la
legislación sectorial, de aplicación a determinadas
cooperativas en función de su rama de actividad. Así, existen
normas específicas para las cooperativas agrícolas, de
crédito, de consumo, culturales, de enseñanza, de
producción obrera, de servicios, de solidaridad, de interés
público.
En el caso que nos atiende, el de las cooperativas de
vivienda y construcción, estas se regulan por el Decreto-Ley
502/99. Esta norma de aplicación exclusiva para las
cooperativas de vivienda, comprende aspectos generales del
régimen jurídico de las cooperativas de vivienda (concepto y
naturaleza, constitución, capital social, cuotas,
cooperativistas, órganos, distribución de excedentes,
disolución, federaciones, etc.).
Concepto de cooperativa en la legislación
portuguesa
Según el artículo 2 del Código Cooperativo, y con base en
la definición de la Alianza Cooperativa Internacional, «las
cooperativas son agrupaciones de personas autónomas, de
libre constitución, de capital y composición variable, que a
través de la cooperación y la autoayuda de sus miembros,
con obediencia a los principios cooperativos, tienen por
objeto, sin fines lucrativos, la satisfacción de las necesidades
y aspiraciones económicas, sociales o culturales de aquellos».
130
Las cooperativas, en la «consecución de sus objetivos,
pueden realizar operaciones con terceros, sin perjuicio de los
eventuales límites fijados por las leyes propias de cada
ramo». Para Fajardo (2016, p. 7) es una noción acertada pues
«pone el acento en los valores y principios que caracterizan a
la cooperativa en su finalidad de servicio a sus miembros en
lugar de la búsqueda del lucro».
El artículo 3 complementa la definición de cooperativa al
enumerar los principios sobre la identidad cooperativa
adoptados por la Alianza Cooperativa Internacional.
Tipología de cooperativas de viviendas
Para la consecución de sus fines las cooperativas pueden
realizar cualquier actividad económica. El Código
Cooperativo divide el sector en doce ramas de actividad (art.
4), y entre ellas se recogen las cooperativas de vivienda y
construcción.
Como se ha comentado anteriormente, las cooperativas
de vivienda se regulan, además de por el Código
Cooperativo, por la legislación específica de la actividad, esto
es el Decreto Ley 502/99, de 19 de septiembre, del Régimen
Jurídico de las Cooperativas de Vivienda. Según este decreto,
las cooperativas de vivienda y construcción tienen por objeto
principal la promoción, construcción o adquisición para la
facilitar una vivienda a sus socios, así como su gestión y
mantenimiento.
Por tanto, las cooperativas de vivienda tienen el propósito
principal de construir o adquirir vivienda para sus miembros.
Sin embargo, hay cooperativas que solo participan en una de
las etapas del proceso. De esta manera, hay cooperativas que
se centran únicamente en el crédito. Otras se dedican a la
131
construcción. Hay otras que se dedican solo a la
urbanización del suelo, dando los lotes urbanizados a los
cooperativistas. También existen otras cooperativas de
vivienda dedicadas exclusivamente a la gestión de espacios
habitados y construidos.
Las uniones de cooperativas de vivienda, las cooperativas
de segundo grado, tienen una gran cantidad de funciones,
que van desde la representación social hasta la inspección de
obras, la adquisición de tierras y la promoción de viviendas.
Existen sindicatos de promotores que esencialmente tienen
como objetivo promover las viviendas de los cooperativistas.
Las cooperativas de viviendas se pueden clasificar en
función de un criterio cronológico y del régimen de
propiedad.
Cronológicamente, se pueden agrupar en cooperativas
antiguas, cooperativas SAAL, cooperativas de vivienda
económica y cooperativas modernas (Paiva, 1997). Las
antiguas cooperativas son aquellas que nacen antes de la
Revolución de 1974. En su mayoría no se ajustaban al
régimen legal de las cooperativas de vivienda económica,
creadas en diciembre de 1974. En general estas cooperativas
funcionaban como cooperativas de crédito.
Las cooperativas SAAL se refieren a las cooperativas que
resultaron de la conversión de las asociaciones de residentes
en cooperativas. SAAL fue creada en 1974 para apoyar, a
través de los ayuntamientos, iniciativas de la población que
vivía en barrios marginales. Su objetivo era resolver el
problema de la vivienda, tratando de utilizar el suelo
disponible en los propios barrios, y así evitar la segregación
residencial de estas poblaciones. La SAAL, estrechamente
132
vinculada al proceso revolucionario, estuvo operativo hasta
1976, cuando se extinguió, por razones políticas y
financieras.
Las cooperativas de vivienda económica surgen en 1975
con el apoyo del Fundo de Fomento da Habitação (FFH), para la
construcción de lo que se conocería como «viviendas a
precios controlados» y en terrenos generalmente
proporcionados por los ayuntamientos. Al principio, las
cooperativas de vivienda económica estaban dirigidas a
estratos sociales desfavorecidos, pero a partir de mediados
de la década de 1980 comenzaron a dirigirse a estratos
sociales más altos.
A partir de 1982 surgen las cooperativas modernas,
también conocidas como cooperativas para viviendas de alto
nivel. Estaban formados por pequeños grupos de gerentes
de nivel medio y superior que adquirían suelo. El coste de la
construcción, como regla general, es compartido por los
miembros; no son financiadas por el INH. Estas
cooperativas están desconectadas de los principios de la
vivienda cooperativa pero, debido a su tamaño, constituyen
un grupo importante.
Según el régimen de propiedad, las cooperativas de
viviendas pueden ser en propiedad colectiva o propiedad
individual.
En el caso de la propiedad colectiva, la propiedad es
común e indivisible. La cooperativa mantiene el derecho a la
propiedad de las viviendas, quedando reservados al socio
cooperativista el derecho de uso, o estableciendo con él un
contrato de arrendamiento, denominado inquilinato
cooperativo.
133
La modalidad de propiedad individual es la más
frecuente, ya que le otorga al socio cooperativista pleno
derecho sobre la vivienda. Después del pago completo del
precio de la vivienda a la cooperativa, el socio puede
disponer de la vivienda sin perjuicio del régimen de
transferencia de la vivienda a precios controlados.
134
16. Evolución del cooperativismo de vivienda: de
la Cooperativa Popular de Construção Predial al
cooperativismo tras la Revolución de 1974
Los orígenes
El cooperativismo en Portugal se desarrolla desde
mediados del siglo XIX, de manera casi simultánea al de
otros países europeos. En su origen surge ligado al
movimiento asociativo y mutualista como forma de
organización de las clases trabajadoras. Este movimiento fue
creciendo y diversas organizaciones fueron surgiendo en
defensa de mejores salarios y condiciones de vida para los
trabajadores.
El 2 de julio de 1867 se aprueba la primera ley de
cooperativas portuguesa, la Ley Basilar. En esta ley las
cooperativas se definen «como asociaciones de personas
organizadas para la ayuda y desarrollo de su industria, crédito
y economía doméstica». Asimismo, en su artículo 14 recoge
la posibilidad de constituir cooperativas que pretendan
construir viviendas. En palabras de Andrade (1981, p. 16)
estamos ante «asociaciones de clase», formadas «por los más
135
desfavorecidos y que tienen como principios la solidaria y la
ayuda mutua»4.
Tras la publicación de la Ley Basilar el número de
cooperativas aumenta, especialmente en las áreas urbanas de
Lisboa y Oporto. El fenómeno se desarrollaba a la vez que
crecían las ciudades. Las primeras cooperativas nacen en el
sector del consumo y la industria, aunque tendrán una corta
duración.
En el marco general del cooperativismo surgirá pronto el
cooperativismo de vivienda, gozando por tanto de una larga
tradición. Antes de la proclamación de la primera República,
a finales del siglo XIX, se crean las primeras cooperativas de
viviendas en Lisboa. Concretamente en 1894 se funda la
cooperativa Popular de Construção Predial y, cuatro años más
tarde, la cooperativa Construtora e Instrução. Estas cooperativas
surgen asociadas a movimientos sociales que reivindican
unas mejores condiciones habitacionales para las familias
trabajadoras, promovidas por asociaciones obreras,
mutualistas y sindicatos (Loureiro, 1994). Es decir, en el
origen surgen con una clara vocación de interés social.
Como recoge Andrade (1981, p. 11-12) surge en «defensa de
la población que sufría el capitalismo y la obsesión por el
ánimo de lucro».
Las cooperativas de viviendas en Portugal se desarrollarán
a lo largo de todo el siglo XX, a pesar de los altibajos en las
políticas de apoyo a las cooperativas por parte del Estado, de
4 El principio de solidaridad y ayuda mutua desaparecerá con el Código Comercial de 1888, en el que se entienden a las cooperativas únicamente como sociedades comerciales. Hasta 1980 con la publicación del Código Cooperativo no se recuperará la importancia de los principios de solidaridad y ayuda mutua.
136
importantes dificultades y limitaciones (Matos, 2011).
Durante tres cuartas partes del siglo XX el desarrollo de las
cooperativas de vivienda se producirá especialmente en las
áreas urbanas más pobladas, Lisboa y Oporto, aunque
también existirán algunas experiencias en Braga, Aveiro,
Funchal, Coimbra, Ponta Delgada, y otras ciudades, e
incluso en las por entonces colonias de Angola y
Mozambique. Algunas de estas cooperativas de crean antes
de 1974, pero el mayor desarrollo del cooperativismo de
vivienda se produce a partir de esta fecha.
Las cooperativas de viviendas tras la Revolución de
1974
Las carencias habitacionales
Hasta 1974 la población trabajadora, tanto la de ciudad
como la del campo, vivía en condiciones difíciles. Existía un
déficit de vivienda, lo que obligaba a las familias trabajadoras
a vivir hacinadas, y las viviendas que existían presentaban
grandes deficiencias. Los precios para la venta o
arrendamiento eran muy elevados, y dada la especulación
solo el 20% de la población tenía acceso a la vivienda,
aquella que tenía recursos más elevados (FFH, 1979, p. 1).
En 1974 una de cada cuatro familias portuguesas no tenía
donde vivir. Las carencias habitacionales de Portugal
sobrepasaban el medio millón de viviendas, según cifras del
FFH. A ello se le unía la llegada de la población retornada de
las colonias, y el éxodo rural hacia las ciudades. Muchas
familias se alojaban en barrios marginales, casas en mal
estado o en ruinas (en partes de casas o cuartos de alquiler) y
hacinados en ciertos vecindarios antiguos en los centros de
137
las ciudades, barrios de chabolas e infraviviendas, con
escasas condiciones de salubridad y seguridad5.
La política de vivienda social en Portugal se establece en
la década de 1960. El aumento de la inmigración interna y la
urbanización, causado por la demanda de mano de obra en
las principales ciudades, generó grandes necesidades de
vivienda a partir de los sesenta. Esta demanda será resuelta al
principio por construcciones ilegales, pero el aumento de la
escasez de viviendas y el mal estado de las existentes
provocó que se pusiera en práctica una política de vivienda
que atendiera a las necesidades de la población más
desfavorecida (Ferreira, 2013).
Por otro lado, el sector inmobiliario venía desarrollando
una actividad especulativa, tanto con el suelo como con la
vivienda. Entre 1968 y 1972, el sector inmobiliario
experimentó un periodo dorado debido a la gran demanda
de vivienda, provocada por la aceleración de la
industrialización y por el aumento de los ingresos de la alta
burguesía y la clase media. Las clases trabajadoras no podían
acceder a una vivienda digna; su participación en el sector de
la construcción se ceñía a la de servir como mano de obra.
Las grandes promociones inmobiliarias eran dominadas por
el capital financiero. Sin embargo, noviembre de 1973 marca
el comienzo de una gran crisis que se extiende a varias
actividades, incluida la construcción. En este contexto de
crisis, hay un rápido aumento en la escasez de viviendas para
las clases trabajadoras (FFH, 1979, p. 3).
5 Según el censo de 1970, la mayor escasez de viviendas se daba en los distritos de Lisboa con más de 200.000 viviendas, Oporto con 90.000 viviendas, Setúbal con 70.000 viviendas, Braga con 30.000 viviendas, y A Guarda con 13.000 viviendas.
138
A finales de los años sesenta y principio de los setenta se
produce un aumento de la intervención estatal. En el sector
de la vivienda se tradujo en un amplio desarrollo legislativo
en materia de vivienda y suelo, y la creación de organismos
estatales competentes en la materia. Sin embargo, estas
medidas solo tuvieron una aplicación práctica después de la
Revolución de 1974.
Las cooperativas de viviendas tras el 25 de abril de 1974
Tras el triunfo de la Revolución del 25 de abril de 1974,
se refuerza la intervención del Estado en la política de
vivienda. Así, el Ministerio de Equipamiento Social
anunciaba en 1975 el Programa de Política Habitacional, que
establecía cuatro vías para resolver el déficit de vivienda en
Portugal. Como recoge Bandeirinha (2007) estas líneas se
materializan en medidas como las siguientes:
- Promoción directa por parte del FFH. Su objeto
era la construcción de viviendas sociales en
arrendamiento.
- Promoción cooperativa y asociativa a través de un
nuevo esquema legal de cooperativismo de
vivienda y el Serviço de Apoio Ambulatório Local
(SAAL).
- Promoción municipal a precios controlados por
medio de préstamos a la vivienda y
arrendamientos sociales a través de promociones
compartidas.
- Los Contratos de Desarrollo de Vivienda para la
construcción de viviendas a precios controlados.
139
- Y la recuperación de viviendas degradadas a
través de financiación subsidiada para los
propietarios.
Con la Revolución de 1974 el cooperativismo, en general,
se extiende por todo el país, y proliferan las cooperativas de
viviendas. Las cooperativas ya existentes y nuevas que
surgieron, como las Cooperativas de Vivienda Económica,
«desempeñaron un papel en la solución del déficit de
vivienda de Portugal» (Fleming y Magano, 1992, p. 19-20).
Las realidades en diferentes regiones han dibujado
diferentes escenarios y diferentes fases. Pereira (2018)
distingue tres etapas principales del movimiento cooperativo
después del 25 de abril de 1974: una primera fase de 1974 a
1979, una segunda de 1979 a 1985, y una tercera de 1985 a
2010.
Primera etapa: 1974 a 1979
La etapa de expansión del cooperativismo será más fuerte
en los primeros años tras la revolución, gracias al apoyo
estatal. En esta fase (1974-1979), el Estado concedía
financiación bonificada a fondo perdido, ayudas fiscales y
acceso a terrenos públicos. Para ello contarán con el apoyo
jurídico y técnico del FFH y de la FENACHE.
Las Cooperativas de Vivienda Económica se establecen
en diciembre de 1974. Estas cooperativas traerían una
profunda reestructuración del sector (Gomes, 2011). Por un
lado se destina al arrendamiento de carácter social, y por
otro a la promoción por parte de las empresas constructoras,
destinada principalmente a la venta a precios limitados. El
Estado a través de las Cooperativas de Vivienda Económica
140
garantizaba unos parámetros de calidad y el coste de las
viviendas en base a unas reglas contra la especulación.
Por otro lado, la SAAL se encargaría de la construcción
de viviendas para personas que vivían en barrios marginales.
La construcción de nuevas viviendas en la ciudad no era
objeto del beneficio privado, sino cumplía un objetivo de
clase basado en las necesidades de los habitantes. Cuando se
extinguió la SAAL y se integraron las operaciones de la
misma en las autoridades locales, algunas comisiones de
residentes se transformaron en cooperativas. Las
cooperativas de viviendas existentes y las que se estaban
creando fueron clave en la resolución del déficit de vivienda
portugués. En este contexto se llegaron a construir una
media de 2.600 viviendas por año entre 1976 y 1979.
Segunda etapa: 1979 a 1985
A finales de los setenta se produjeron varios cambios
políticos en Portugal; el sector de la vivienda fue el primero
en sentirlo. Tras la primera etapa de expansión, en los años
siguientes, se desarrolla una segunda etapa a partir de 1979
en la que se aprecia una ralentización en el desarrollo del
cooperativismo de vivienda. Así, se constata un bloqueo de
la financiación y en 1982 cierra el FFH, que será sustituido
por el INH, que provocaría que la financiación de nuevas
promociones de viviendas por parte de las cooperativas
pasara del Estado a la banca privada. Esta ruptura del
modelo inicial de acceso a la financiación hizo disminuir el
número de nuevas cooperativas constituidas.
Por razones electorales, durante 1980 se reactivó la
promoción pública y cooperativa, utilizando para ello las
tierras y proyectos en cartera que esperaban financiación
141
pública. Sería un hecho coyuntural pues pasado ese año la
caída de la promoción pública y la que contaba con apoyo
público continuó descendiendo, estabilizándose al final de la
década.
El nuevo Ministerio de Vivienda, crearía un sistema de
crédito para la adquisición de vivienda con intereses
subsidiados por el Estado y largos periodos de pago. Esto,
tomado como una medida complementaria a las políticas de
vivienda, sería en la práctica una alternativa a la vivienda a
precio controlado, la iniciativa pública y la colaboración
público-privada, reemplazándolas por promociones a precios
libres del sector privado. La SAAL y los Contratos de
Desarrollo para la Vivienda fueron abolidos. Los préstamos
a las cámaras municipales y cooperativas descendieron.
Tercera etapa: 1985 a 2010
La década de los ochenta estuvo marcada por una
liberalización de las políticas de vivienda, y por una gran
inestabilidad institucional.
El FFH desapareció en 1982. Simultáneamente con su
extinción, se creó el Fondo de Apoyo a la Inversión en la
Vivienda (FAIH). Sin embargo, este no cumpliría sus
objetivos y posteriormente se crearían el Instituto Nacional
de Vivienda (INH) y el Instituto de Gestión y Disposición
del Patrimonio Habitacional del Estado (IGAPHE). A la
primera se le otorgarían competencias en financiación,
estudios y ejecución de normas. A la segunda, se le
atribuirían las funciones de gestión, enajenación y
conservación del parque de viviendas.
Para autores como Pereira (2018) en los ochenta se
elaboran normas que expresan claramente la liberalización
142
del sector. El Decreto-Ley 435/80 fortalecería el sistema de
crédito para vivienda en propiedad. Durante este periodo, se
aprueban diferentes leyes para varias líneas de crédito
destinadas a municipios para la promoción de viviendas
régimen de venta. En 1981, mediante el Decreto-Ley
148/81, se introducen las primeras medidas para flexibilizar
la congelación de alquileres, vigente desde 1948 y prorrogada
en 1974. También se eliminó el alquiler obligatorio de
viviendas vacías. Los arrendamientos acabaron en nuevos
contratos, con un sistema progresivo de actualizaciones de
precios hasta alcanzar valores de mercado.
A pesar de las medidas liberalizadoras promovidas la
producción de viviendas no aumentó. Como resultado la
producción hasta 1987 fue más baja que en la década de
1970. Solo a partir de entonces se produjo un aumento
significativo en la producción de viviendas aunque
acompañado por un aumento acelerado en el precio.
De forma paralela en estos años se desarrollan otras
cooperativas dirigidas a las clases medias y altas. En 1991 ya
se sentía la demanda de viviendas cooperativas por parte de
estratos sociales con mayores ingresos y con una gran
demanda de calidad. El objetivo de estos estratos sociales era
evitar el alto coste de la construcción y las dificultades
encontradas en las medidas financieras. Esta deriva ha
conducido a una cierta ruptura entre los principios de la
vivienda a precio controlado debido a las ambiciones de
estos nuevos compradores (Fleming y Magano, 1992).
143
17. Situación actual
Según las Cuentas Satélite de la Economía Social (CSES),
elaborado por el Instituto Nacional de Estadística de
Portugal, en su última edición, el número de cooperativas en
Portugal era de 2.117 en 2013. Las cooperativas de vivienda
se cifran en 314, lo que representa el 14,8% del sector
cooperativo, solo superada por el comercio y servicios
(26,8%) y las actividades de transformación (16,7%).
Gráfico 5. Distribución sectorial del cooperativismo (%). Portugal, 2013.
Fuente: CSES. INE, 2013.
Por territorios, a excepción de Bragança, todos los
distritos cuentan con cooperativas de vivienda. No obstante,
144
la mayoría de ellas se concentran en las dos mayores áreas
urbanas y poblacionales de Portugal, especialmente en
Lisboa. Con datos disponibles para 2009, en Lisboa se
concentran 179 cooperativas de vivienda, lo que representa
casi la mitad del conjunto de la actividad (45,3%). En
Oporto desarrollan su actividad 70 cooperativas de viviendas
(17,7%). En el Algarve y Alentejo se encuentran los
siguientes distritos con mayor presencia del cooperativismo
de vivienda. Destacan los núcleos urbanos y costeros, como
el distrito alentejano de Setúbal con 34 cooperativas (8,6%) y
el distrito de Faro, en el Algarve, con 30 cooperativas de
vivienda (7,6%).
Mapa 1. Cooperativas de vivienda en Portugal (número de cooperativas y porcentaje sobre el total). Distritos, 2009.
Fuente: elaboración propia a partir de CSES. INE, 2013.
Para CET-ISCTE (2008a) el movimiento cooperativo se
distanció de sus principios ideológicos iniciales y de la
145
población objetivo. Hoy son empresas que pretenden servir
a las clases con ingresos medios o altos, alejándose de servir
a la población con ingresos más bajos.
Guerra et al. (2013, p. 68) señala que la década de los
noventa supone «una ruptura visible en la promoción de
vivienda del sector cooperativo». Como resultado, tras el
primer cooperativismo de vivienda, de corte social, se
observa que la promoción de vivienda cooperativa se
traslada de estratos sociales bajos hacia estratos sociales
medios. El funcionamiento y acceso a las cooperativas de
viviendas ha cambiado, pasando de cooperativas de
viviendas asequibles a cooperativas de viviendas más caras,
en la que los miembros deben tener unos ingresos mayores
(Barszczak y Cagica, 2007).
Otros autores explican que las características y el
mantenimiento de los propósitos ideológicos de las
cooperativas a lo largo del tiempo no es resultado de la crisis
sino como un hecho que venía ocurriendo años atrás. Como
recoge Pereira (2018), citando a Baptista Coelho, antes de la
crisis había dos tipos de cooperativas: las Cooperativas de
Viviendas Económicas, que tenían objetivos sociales desde
su origen, y otras que siempre se habían dirigido a la clase
media o media-alta.
En 2008, cuando el estado del bienestar estaba en crisis,
las soluciones neoliberales ganaron terreno. El modelo de
organización de las cooperativas se asimila «a la forma de
gestión de empresas privadas, que favorecen los intereses
individuales en detrimento de los colectivos» (Pereira, 2018,
p. 276).
146
Las cooperativas se enfrentan así a una difícil situación.
Cada vez más personas se organizan en torno a objetivos y
proyectos a corto plazo, sin vocación de permanencia en el
tiempo.
Por otro lado la tenencia colectiva ha sido una figura
apenas utilizada. Las prioridades de las políticas de vivienda
se están reorientando, lo que condiciona la recomposición
del movimiento cooperativo (CET-ISCTE, 2008b, p. 81-82).
Carreira (2002) señala como las dificultades de obtención
de suelo y la falta de financiación adecuada para las familias
con rentas bajas como las causas principales del
posicionamiento de la promoción cooperativa a familias de
estratos sociales medios.
Por último, se constata una diversificación de las
actividades de las cooperativas de viviendas. La tendencia es
a «que también ofrezcan otros servicios como la gestión de
espacios alrededor las viviendas, la gestión de equipamientos
sociales, culturales, comerciales y deportivos, la educación de
los menores, servicios para ancianos» (Carreira, 2002, p. 83).
147
18. A modo de resumen
El cooperativismo de vivienda en Portugal ha tenido un
largo recorrido, desde finales del siglo XIX, si bien el mayor
desarrollo y extensión se produce tras la Revolución de abril
de 1974. Tras la Revolución el Estado adopta fuertes
medidas intervencionistas en las políticas del país y
promueve el cooperativismo.
En 1976 se aprueba la Constitución de la República en la
que se reconoce la importancia del cooperativismo y de la
cooperativa de vivienda como un promotor especial. Más
tarde se publica el Código Cooperativo de 1980 y se ponen
en marcha diferentes programas y medidas que hacen crecer
de manera importante el número de cooperativas, en general,
y de cooperativas de viviendas.
Al llegar 1974 alrededor de una cuarta parte de la
población vivía con graves problemas habitacionales, y
especialmente la de rentas más bajas. Estos problemas eran
evidentes: hacinamiento, viviendas antiguas, en estado
ruinoso, sin las mínimas condiciones de habitabilidad (sin
agua potable, sin electricidad, ni saneamiento), problemas de
seguridad e higiene. Las cooperativas de vivienda y
construcción se convierten en un instrumento básico en la
política de vivienda en Portugal, como herramienta para la
148
solución de estos problemas. Se desarrollan numerosos
programas de vivienda para las clases trabajadoras, se
interviene en los precios mediante una política de precios
controlados, se crean organismos específicos para la
promoción del cooperativismo de vivienda, se establece una
política fiscal favorable para las cooperativas (reducción del
tipo de IVA, beneficios fiscales), se pone en marcha una
cartera de suelo para estas promociones, y buenas
condiciones de financiación (préstamos subsidiados) para las
nuevas cooperativas de viviendas.
Sin embargo, la política estatal de apoyo al
cooperativismo de vivienda sufre altibajos. En los años
ochenta y noventa disminuye la intervención del Estado con
la consiguiente liberalización del sector, y el cooperativismo
pierde el impulso de años anteriores. Las cooperativas de
viviendas pierden gradualmente el apoyo público anterior. A
modo de ejemplo, entre 1981 y 1986 se congeló la
financiación para nuevas cooperativas de viviendas. Por un
lado, se sustituyen organismos estatales de apoyo para la
promoción del cooperativismo de vivienda. Por otra parte,
se empiezan a dar dificultades de acceso a terrenos públicos
con el consiguiente aumento de precios, a lo que se le une la
falta de mecanismos (financieros o de otro tipo) para
compartir los costes de la compra del suelo. El aumento del
precio del suelo encarece directamente el precio de la
vivienda.
En definitiva, estos cambios están llevando a la
modificación de las clases sociales que buscaban en la
cooperativa de vivienda una solución a sus necesidades
habitacionales. Si al principio las cooperativas de viviendas
se dirigían a personas con bajos ingresos, de los grupos
149
sociales más desfavorecidos, ahora están formadas por
personas con ingresos muchos más altos.
En cuanto al régimen de tenencia, aunque autores como
Antonio Sergio, defendieron que la propiedad colectiva es la
verdadera propiedad cooperativa, esta opción ha tenido una
aceptación muy limitada, siendo adoptada por las
cooperativas que surgieron del apoyo de la SAAL y algunas,
pero escasas, otras experiencias.
Por tanto, el cooperativismo de vivienda en Portugal se
encuentra en una situación difícil en el plano técnico, y
paradójico en lo referente a sus principios y valores. En lo
técnico, los cambios en las condiciones de financiación
ofrecidas por el Estado y las dificultades para la obtención
de suelo (antes las cámaras municipales facilitaban el suelo a
un precio bajo), provoca la disminución de la promoción de
viviendas cooperativas.
Desde el punto de vista ideológico, se puede concluir que
las cooperativas de vivienda se han alejado de los principios
y valores originarios, y de los grupos de población a las que
inicialmente se dirigía (las clases más desfavorecidas). En la
actualidad nos encontramos con cooperativas que sirven a
las clases medias, de ingresos medios o altos, y que en
algunos casos podrían acceder al mercado libre. El resultado
es la sustitución de clases sociales, en función de los
ingresos, y el alejamiento de las cooperativas de la población
con rentas más bajas, dejando de cumplir la función social
que tenía en sus orígenes.
150
Capítulo 6:
Algunas experiencias de
vivienda cooperativa en el
Estado español y Andalucía
Marina Lora Chapela
19. Las cooperativas juveniles de gestión de
vivienda pública en alquiler de Madrid
A finales de los años 60, la precariedad habitacional en la
que se encontraba la población de las zonas periféricas del
sur de Madrid, desencadenó una serie de movimientos
vecinales que reivindicaban el derecho a una vivienda digna,
así como el acceso a otros equipamientos y servicios
sociales. Con la llegada de la democracia estas luchas
encontraron respuesta institucional, poniéndose en marcha
un proceso de remodelación de barrios, por el que
construyeron más de 40.000 viviendas de promoción
pública, en sustitución de las chabolas y casas de
autoconstrucción en las que hasta entonces habitaban las
familias obreras.
A finales de los años 80 la remodelación estaba
prácticamente finalizada, pero entonces surge una nueva
dificultad: comienzan a llegar a la edad de emancipación la
generación siguiente de la población que encabezó estas
luchas, y vuelven a encontrarse sin posibilidad de acceder a
una vivienda en las condiciones adecuadas. Se trataba de
jóvenes de escasos recursos, insolventes como para comprar
una vivienda en «una España de propietarios», en palabras
del ministro Arrese, pero no tan pobres como para poder
153
optar a una vivienda pública. La vivienda protegida en
alquiler, debido a su escasez, quedaba reservada para
población más cercana a la exclusión social y además se
situaba habitualmente en zonas aún más alejadas de los
núcleos urbanos, con deficiente acceso a equipamientos y
resto de servicios (Roces, 1990; Lora y Solanas, 2013)
Con las ventajas aprendidas sobre la organización
colectiva, los vecinos se plantean dos criterios fundamentales
para enfrentar el problema socio-habitacional: la importancia
de que los jóvenes también puedan permanecer en sus
barrios y que la solución permitiese seguir desarrollándose
comunitariamente. De esta forma, las asociaciones de
vecinos lanzan una propuesta que supone un reto tanto para
las administraciones, como para los propios demandantes
implicados: Cooperativas de Jóvenes para la Gestión de
Vivienda Social en Alquiler (Lora y Solanas, 2013)
Se establece entonces una mesa intersectorial, con
representación de los vecinos, del gobierno de la comunidad
de Madrid y con técnicos que habían formado parte del
proceso de remodelación de barrios, en el que se definen los
términos del modelo de cogestión que se pondría en marcha.
Bajo un contrato de gestión interesada, las cooperativas
conformadas por los jóvenes de cada asociación se
encargarían de gestionar un conjunto residencial de
titularidad pública, adjudicando las viviendas entre sus socios
en régimen de alquiler. Entre sus funciones estaba la de
administrar económicamente, recaudar las rentas de las
viviendas y de los locales comerciales para entregárselas al
Instituto de la Vivienda de la Comunidad de Madrid (IVIMA), la
conservación y el mantenimiento de los inmuebles, velar por
el buen uso, etc.
154
Para establecer el marco regulador y financiero se incluye
esta modalidad en el Plan de Vivienda Joven de la
Comunidad de Madrid 1990-1992. Por otra parte, se define
la demanda estructurada y se estipulan las condiciones que
debían cumplir las cooperativas para ser homologadas y
acceder al programa como organización colectiva.
Se construyeron dos conjuntos residenciales, uno en
Vallecas para tres cooperativas y otro en Orcasitas para una,
con un total de 492 viviendas. La tasa de morosidad de las
cooperativas con el IVIMA era del 0%, en un momento en
que esta entidad soportaba el 40% de impagos en el resto del
parque de viviendas.
El propio IVIMA ha reconocido «que la gestión
desarrollada en Vallecas y Orcasur es la mejor de todo el
instituto, pues no existe morosidad y de las obras de
conservación y mantenimiento se ocupan las cooperativas»
(FRAVM y Covijo, 2004, p. 2).
Sin embargo el programa no se mantuvo. Apenas unos
meses después de que se habitaran los inmuebles, se produce
un cambio de gobierno y se acentúa el giro neoliberal de la
política de vivienda. Las cooperativas pasan a ser una
actuación fuera de lugar, y se les hace un vacío institucional.
Durante los diez años de duración del contrato, la
administración no muestra ninguna disposición al diálogo, ni
atiende las revisiones pertinentes, que por tratarse de una
experiencia piloto, estaban estipuladas para ir ajustando los
términos del acuerdo. Pasado este tiempo, se les ofrece a los
inquilinos la compra de las viviendas que habitaban por unos
precios muy ventajosos. Aunque la mayoría no deja pasar la
oportunidad, algunos socios, muy concienciados del valor de
lo público, deciden seguir en régimen de alquiler. Estos
155
verán tambalearse sus posibilidades de permanencia ante la
venta de viviendas públicas a los fondos buitre, llevada a
cabo por el gobierno de la Comunidad.
Durante años, varias cooperativas juveniles, tanto en
Madrid como en otros lugares de España, e incluso el
Instituto de la Juventud de España, han realizado y
presentando informes de viabilidad6 muy favorables sobre el
modelo, reclamando que vuelva a ser implementado. Hasta
el momento sin éxito.
6 Nos referimos a los siguientes informes:
- Cooperativa de Vivienda Joven en Régimen de Alqu Abellugu, S.Coop (1999). Análisis de viabilidad del Cooperativismo de Gestión de Vivienda Pública en la ciudad de Gijón.
- Consejo de la Juventud de España. Estudio sobre la viabilidad del cooperativismo juvenil de gestión de vivienda pública en España.
- FRAVM y Covijo (2004). Las cooperativas juveniles de gestión de vivienda pública en alquiler.
156
20. Las experiencias de senior cohousing: lacooperativa de vivienda Los Milagros
Las primeras iniciativas de cooperativas de tenencia
colectiva en España, desde la desaparición de las
experiencias que se desarrollaron en Madrid, tienen que ver
con lo que actualmente se denomina con el término senior
cohousing. El término senior cohousing o covivienda de personas
jubiladas corresponde, según la asociación Jubilares a:
«Una comunidad autogestionada de mayores que viven en un
entorno diseñado por ellos mismos. Se trata ante todo de un
conjunto de personas cuyo objetivo es envejecer bien, con
autonomía y dignidad, y que entienden que el mejor entorno es
una buena vecindad. Por lo tanto la prioridad es la formación
de la comunidad, entendida como grupo capaz de apoyarse
mutuamente y dar seguridad, abordando colectivamente sus
iniciativas vitales o resolviendo eficazmente sus conflictos».
Se trata de una alternativa residencial que le planta cara a
la soledad o a la falta de autonomía durante la vejez, a través
de un proyecto residencial autogestionado con el que se
pretende cubrir las necesidades relativas a la edad y facilitar
un ámbito relacional y de convivencia adecuado a las
expectativas del grupo que lo desarrolla.
157
Adoptan la fórmula de cooperativa de propiedad
colectiva, por el convencimiento del valor de uso de las
viviendas, porque la autogestión de la misma les va a
permitir mantenerse activos y porque además les facilita
disponer de espacios y servicios comunitarios adecuados a
las necesidades y expectativas que comparten.
Cada persona o pareja habita una vivienda de unos 50 m²
construidos con salón-comedor, una pequeña cocina
habitualmente integrada, un dormitorio y una amplia terraza.
Esto enfrenta la infrautilización del espacio que se da en
muchas viviendas de mayores, cuando los descendientes
abandonan el hogar y ellos permanecen en la casa familiar
con varias estancias vacías. Pero también les proporciona el
espacio necesario para contar con la intimidad de la que
carecen habitualmente en las residencias geriátricas. El
espacio privado se complementa con espacios colectivos de
todo tipo, desde el comedor común, donde optativamente se
realiza el almuerzo diario, hasta espacios de atención médica,
pasando por biblioteca, talleres, gimnasio, sala de juegos,
piscina y los espacios al aire libre, que incluyen extensas
zonas verdes para el paseo y huertos. Además, todo el
conjunto incluidas las viviendas, están diseñadas para
personas con movilidad reducida.
Al no existir aún en el Estado español estructura
financiera adecuada, cada miembro tiene que entregar el
monto total por el derecho de uso y las participaciones
correspondientes a su vivienda, antes de entrar a habitarla.
Una vez allí se paga una cuota mensual por el
mantenimiento y los servicios de los que se dispone. A pesar
de que el coste mensual es inferior a una residencia al uso,
158
requiere una gran inversión inicial por lo que se requiere
tener al menos un nivel de recursos medio.
En las dos experiencias que se han desarrollado hasta
ahora en el Estado español, las principales trabas con las que
se encontraron para su puesta en marcha fueron, por un
lado, el precio desorbitado del suelo en el libre mercado, y
por el otro, las dificultades de obtener una hipoteca sobre
una propiedad colectiva, sin que los socios tuviesen que
responder solidariamente.
La pionera fue la cooperativa andaluza Los Milagros, en
Málaga, que inicia su andadura en los años 70. Se trataba de
un pequeño grupo de personas con treinta y tantos años, que
tras haber tenido que visitar a algunos ancianos en los
antiguos asilos, comienzan a buscar una alternativa para su
vejez en la que estuvieran atendidos, pero pudiendo
mantener su autonomía, y que tuviesen privacidad al tiempo
que compartían sus vivencias cotidianas.
Con el lema «autogestiona tu futuro» comienzan a
reunirse y a darle forma al proyecto. Uno de los aspectos
más importante era adquirir un suelo adecuado, para lo cual
establecen un fondo común y una cuota mensual. Buscaban
algo cercano a su ciudad y estar cerca de su familia. En 1991
compran unos terrenos rústicos de 50.000 m², a menos de 3
kilómetros de Málaga. Allí van celebrando algunos eventos
hasta que el Ayuntamiento de Málaga, considerando el
interés social de la propuesta, permite la edificación del
conjunto residencial que se había proyectado. Las obras
comienzan en 1997 y entran a vivir en el año 2000.
No encontraron un marco regulador acorde a la
propuesta y se acabaron estableciendo como cooperativa de
159
consumo. Tampoco había una financiación adecuada, tanto
el suelo como el edificio se financia con la suma de las
aportaciones de cada uno de los socios, que algunos pueden
reunir vendiendo la casa en la que habitaban hasta entonces.
Cada miembro tiene que abonar al inicio un total de 65.000
€, con o qu adqu su pa t c pac ón sob a coop at va y
el derecho de uso de su vivienda. Estos son transferibles y
reembolsables al 85% de su valor, actualizado con el IPC. La
cuota mensual se destina a los servicios y el mantenimiento
del conjunto, de unos 1.000 € pa a p sonas so as y unos
1.500€ pa a pa jas. Tamb én c b on ayudas d Inst tuto
de Fomento Andaluz y de la Consejería de Trabajo e
Industria para mobiliario y equipamiento.
El Residencial Santa Clara, que es como se denomina el
complejo, se compone de 76 viviendas de 50 m², con 18 m²
de terraza cada una, pero la superficie llega hasta los 110 m²
si consideramos la parte de zonas comunes correspondiente.
Estos espacios incluyen comedor, gimnasio, varias salas de
usos múltiples, lavandería, peluquería, capilla y seis
habitaciones con las mejores vistas para las personas que se
encuentren más enfermas y requieran atención médica.
160
21. Las nuevas iniciativas intergeneracionales: la
cooperativa de vivienda en cesión de uso La
Borda
En los últimos años también están apareciendo otros
proyectos de cooperativas de tenencia colectiva en el Estado
español, pero en estos casos de carácter intergeneracional.
Con un componente fuertemente reivindicativo sobre el
valor de uso de las viviendas, combinan la propiedad
colectiva del inmueble con el arrendamiento de las viviendas
a los socios. De esta forma se paga una cantidad inicial en
concepto de capital social, que es reembolsable en caso de
salir de la cooperativa, y cuotas mensuales en concepto de
alquiler y por tanto sin que puedan ser capitalizadas como
participaciones.
Can Batlló era una zona industrial en desuso al sur de
Barcelona que desde 1976 estaba destinada por el Plan
General Metropolitano a zona de equipamientos, viviendas
sociales y zona verde. Sin embargo, ante la inoperancia del
Ayuntamiento a la hora de acometer las obras necesarias,
diversas organizaciones de los barrios colindantes se unieron
en una plataforma ciudadana para reivindicar la actuación
municipal. En 2009 esta plataforma coge fuerza y ya en 2011
lanza un ultimátum al gobierno de la ciudad: «Si en junio de
161
2011 las máquinas excavadoras no están en el recinto de Can
Batlló, entraremos nosotros y empezaremos a construir el
espacio público y equipamientos que necesitamos». Poco
antes de cumplirse la fecha, el Ayuntamiento cede como
equipamiento a los vecinos uno de los bloques del recinto -
Bloc11-, en el que comenzará un proceso participativo para
definir los usos y los proyectos que se quieren para la zona
industrial.
Una de las líneas de trabajo de este proceso de
participación ciudadana corresponde a vivienda, de donde
surge la cooperativa de viviendas la Borda. Se configuran
como cooperativa en cesión de uso por ser un modelo que
evita la especulación con las viviendas y que les facilita la
disposición de espacios para el uso colectivo y el desarrollo
comunitario.
Figura 2. Esquema de trabajo y actividades de la plataforma Can Batlló.
Fuente: La Borda.
162
Reivindican la implicación de la administración por el
valor social del proyecto, la cual llegará en 2015 cuando el
Ayuntamiento cede a la Borda el derecho de superficie a 75
años sobre el solar que esta reclamaba en el recinto de Can
Batlló para la construcción del inmueble. La candidatura
municipalista que había ganado el gobierno local ese año,
estaba ligada a las luchas por los derechos sociales y por el
derecho a vivienda y comparte los valores con que se
promueven estas modalidades de acceso a la vivienda. Así
que, con el objeto de impulsar las cooperativas de vivienda
en cesión de uso, creó, en octubre de ese mismo año, la
Mesa de Vivienda Cooperativa. Como explica el
Ayuntamiento en su nota de prensa7:
«Este proyecto responde a la voluntad del gobierno municipal
de promover las cooperativas de vivienda en las que las
personas que van a vivir en ningún caso serán propietarias ni
de las viviendas que ocupan ni de las zonas comunitarias. La
propiedad y la gestión de los pisos siempre permanecerá en
manos de la cooperativa, que es una entidad sin ánimo de lucro
y de iniciativa social. En sus estatutos, esta cooperativa se
compromete a buscar vivienda digna y eficiente a un precio
asequible a las familias socias, así como establecer un modelo
replicable que permita un acceso universal a una vivienda digna
a través de mecanismos que sitúan el uso, y no la propiedad, en
el centro de la actividad».
La cesión de suelo público implica que las viviendas
estarán protegidas y que quedan vinculadas a la normativa al
7 Disponible en: http://ajuntament.barcelona.cat/premsa/2015/12/01/lajuntament-lliura-el-primer-solar-en-dret-a-superficie-per-la-construccio-dhabitatge-cooperatiu-de-cessio-dus/
163
respecto. Por tanto se limitan los ingresos máximos de las
personas para que puedan ser socias de la cooperativa y la
cuota mensual se equipara a la de la vivienda protegida en
alquiler.
La financiación para la construcción se consigue
combinando el crédito de la banca ética, aportado por
Coop57, con diversas posibilidades de préstamos
participativos, más las propias aportaciones de los socios y
alguna subvención que pueden recibir. El dinero recibido se
reintegra mediante las cuotas mensuales de los socios y los
ingresos por el alquiler del local comercial previsto en planta
baja y por las plazas de aparcamiento. Las aportaciones de
los socios en concepto de renta no son reembolsables y
como cooperativa sin ánimo de lucro, todos los excedentes
que genere deben conducirse a facilitar el acceso a la
vivienda a través de este modelo. Como explica la propia
cooperativa de La Borda respecto a los ingresos, en su
página web:
«Todos ellos han de equilibrar los resultados de la cooperativa,
y generar progresivamente unas reservas irrepartibles. Como
cooperativa sin ánimo de lucro y de iniciativa social, la
cooperativa está obligada estatutariamente a destinar el
conjunto de sus excedentes a favorecer, a través del modelo
cooperativo de cesión de uso, la posibilidad de acceder a una
vivienda digna, eficiente y asequible».
El proyecto del conjunto residencial se lleva a cabo
articulando la participación de los futuros habitantes, de
forma que queden recogidas sus necesidades y expectativas
tanto personales como colectivas. Esto se realiza a través de
comisiones de trabajo y de la asamblea general, con el
acompañamiento de un equipo técnico, la cooperativa La
164
Col, cuyos miembros se integran en la propia cooperativa
como usuarios.
El conjunto residencial se compone de 28 viviendas
independientes y una gran diversidad de espacios
compartidos con los que reforzar el desarrollo comunitario,
cocina comedor y sala de estar, espacio para invitados,
espacio polivalente, salud y cuidados, aparcamiento de
bicicletas, trasteros y herramientas y objetos compartidos.
Las viviendas se proyectan con criterios de flexibilidad y una
estructura modular, con el objeto que puedan crecer con
facilidad y se puedan adaptar a los cambios vitales de las
unidades de convivencia. Además todo el edificio está
concebido con criterios bioclimáticos, tanto en el diseño,
como en el empleo de energías renovables, la reutilización
de recursos, o la gestión y utilización de recursos e
instalaciones de forma compartida.
El 17 de febrero de 2017 pusieron la primera piedra del
inicio de las obras y desde comienzos de 2019 ya habitan las
viviendas.
Para continuar con este modelo de vivienda,
posteriormente el Ayuntamiento de Barcelona adjudicó suelo
a seis nuevas cooperativas de viviendas en cesión de uso.
165
Conclusiones
El derecho a la vivienda es el derecho económico, social y
cultural a una vivienda digna y adecuada. Así queda recogido
en numerosas constituciones nacionales y en la Declaración
Universal de los Derechos Humanos. La vivienda es una
necesidad básica y un derecho de todas las personas. Más allá
de las cuatro paredes y un techo que cobija a un hogar, la
vivienda es un factor determinante para el desarrollo digno
de la vida. Garantizar el derecho a una vivienda adecuada es
esencial para optar a un desarrollo normalizado de la vida.
Sin embargo, en capitalismo la vivienda es una mercancía.
Todo lo que pueda generar lucro se mercantilizará y se
convertirá en una oportunidad de negocio, aunque se trate
de algo tan esencial para el bienestar y la dignidad de las
personas como su hogar.
El acceso a la vivienda se da principalmente a través del
mercado libre, siendo un sector basado en la especulación y
el lucro que sitúa los precios de alquiler y venta fuera del
alcance de muchas personas; no todo el mundo tiene cabida
en el «libre mercado». Es sabido que los mercados no son
equitativos distribuidores de los bienes de primera necesidad
ni de derechos sociales, y tampoco lo han sido en el ámbito
de la vivienda.
A ello se le une la insuficiencia de las políticas públicas de
vivienda para corregir los efectos negativos que «las manos
invisibles del mercado» provocan. Incluso en ocasiones la
han fomentado, apoyado y reforzado.
La vía de acceso a la vivienda predominante en el Estado
español y en la República portuguesa, y en los territorios del
Algarve, Alentejo y Andalucía, es a través de la compra,
acudiendo la mayoría de las veces al mercado, lo que genera
169
desigualdades en dicho acceso a un derecho tan necesario
como es el de la vivienda. Ahora bien, ¿existen alternativas a
este modelo? El cooperativismo de vivienda representa una
alternativa.
Frente al discurso de «no hay alternativas», queda
demostrado que existen experiencias reales que entienden el
hecho residencial como la satisfacción de las necesidades
básicas de las personas («el derecho a techo»), de forma
colectiva, poniendo el énfasis en el hecho social de habitar,
encuadrándose en un proceso social, político y económico
centrado en las personas y en la vida.
Pero para alcanzar el derecho a la vivienda digna es
preciso avanzar en una economía social transformadora. La
alternativa pasa necesariamente por primar los valores de
uso y no los valores de cambio. La producción de vivienda
debe atender a una demanda basada en las carencias
habitacionales y no en el poder adquisitivo. Se requiere de
una producción basada en la satisfacción de las necesidades
básicas de la población y no en el beneficio privado, dejando
a un lado la tenencia individual y privada, del suelo y las
viviendas, por la propiedad colectiva y la gestión democrática
de los bienes comunes.
No solo es un modelo teórico, existen experiencias
prácticas que revierten las bases del modelo establecido de
acceso y uso de la vivienda. Las cooperativas de viviendas
han demostrado ser un sistema eficaz para facilitar el acceso
a una vivienda digna y asequible.
No obstante, en el Estado español y en la República
portuguesa, y más concretamente en Andalucía, Algarve y
Alentejo las tradicionales cooperativas de viviendas, a pesar
170
de su larga tradición (desde finales del siglo XIX y principios
del XX), no siempre han representado de manera adecuada
los principios de la economía social y transformadora en el
ámbito de la vivienda. A esta situación se le une que en no
pocos casos el movimiento cooperativo se ha alejado
progresivamente de sus principios fundadores y de las
poblaciones a las que inicialmente se dirigía.
En la inmensa mayoría de las cooperativas, la propiedad
se divide una vez acabada la promoción, las unidades de
convivencia pasan a ser propietarias de su vivienda, y la
cooperativa normalmente se disuelve. Este modelo muy
extendido, por ejemplo, en la promoción de vivienda de
protección oficial, tiene como objetivo disminuir los costes
de la promoción, pero no hay otros rasgos cooperativos: no
hay propiedad colectiva, y es muy habitual que las viviendas
acaben circulando por el libre mercado.
Frente a este modelo de cooperativas, que algunos
autores denominan cooperativas de vivienda de promoción (La Col
y La Ciutat Invisible, 2018, p.14), las cooperativas en cesión
de uso, son capaces de impulsar vivienda asequible, capaz de
satisfacer las necesidades básicas de la población. Estos
proyectos mantienen el carácter social de la vivienda a lo
largo del tiempo, principalmente a través de la propiedad
colectiva y el derecho de uso. Este modelo de cooperativas
son las que se pueden considerar como verdaderas
cooperativas, más próximas a lo que se entiende por
cooperativa de vivienda en muchos países y a los principios
del cooperativismo (adhesión abierta y voluntaria, gestión
democrática, participación económica, autonomía e
independencia, educación e información, cooperación entre
cooperativas, compromiso con la comunidad). Estas
171
cooperativas mantienen la propiedad y la gestión a lo largo
del tiempo (la cooperativa no desaparece una vez entregadas
las llaves a cada unidad familiar) porque entienden que lo
importante es garantizar el valor de uso de la vivienda frente
a su valor de cambio. Es decir, prima su función como
vivienda y no su valor de cambio en el mercado. En estos
casos la propiedad es colectiva, indivisible y no se puede
obtener un beneficio económico con ella. De esta manera se
saca la vivienda del mercado especulativo.
En definitiva se trata de pasar de la competencia a la
cooperación, de la propiedad individual a la propiedad
colectiva, y de hacer primar el valor de uso sobre el valor de
cambio. Esto requiere entender la vivienda como un servicio
público, que cubre una necesidad básica, no como un
producto de mercado. Y solo desde la economía social
transformadora, y desde el ámbito del cooperativismo de
vivienda, especialmente el de tenencia colectiva y en cesión
de uso, será posible satisfacer el derecho a una vivienda
digna, y que esta deje de ser una mercancía, un medio para
obtener lucro, para convertirse en el lugar en el que poder
desarrollar una vida en comunidad.
172
Português
Portugués
Notas previas
Este trabalho apresenta uma análise sobre as
possibilidades do cooperativismo habitacional,
principalmente por meio das cooperativas que
compreendem a habitação coletiva e o direito de uso, como
ferramenta facilitadora do acesso à habitaçao digna e
acessível.
São expostos os elementos que caracterizam o sistema de
provisão de habitação no sul da Europa, nos territórios do
Algarve, Alentejo e Andaluzia; o papel da economia social e
transformadora como um instrumento útil para satisfazer a
necessidade de habitaçao; as características e tipos de
cooperativas habitacionais; o exemplo da experiência
uruguaia; a evolução do cooperativismo habitacional em
Portugal e, finalmente, alguns exemplos de diferentes tipos
de cooperativas habitacionais no Estado espanhol.
Não só é um modelo teórico, são experiências práticas
que mostram que existem alternativas, que outro modelo
residencial é possível e necessário. O objetivo é passar de um
sistema de produção habitacional guiado por especulação e
benefício máximo para um sistema cooperativo de produção
coletiva, onde o valor de uso da habitaçcao prevaleça sobre o
valor de troca.
175
Capítulo 1:
O sistema residencial no sul
da Europa
Antonio Echaves García
1. Regimes de alojamento no sul da Europa: os
casos de Espanha e Portugal
As conexões entre moradia e sociedade, e a produção
científica que tem sido feita a esse respeito, são abundantes,
variadas e fundamentais para a criação de abordagens
teóricas e marcos interpretativos que ajudaram a posicionar e
compreender certos fenômenos residenciais, com cada
formação social que determinará um ambiente de habitação
com características específicas (Echaves e Navarro, 2018,
Echaves 2017, Martínez del Olmo, 2013). Serão
mencionados atributos limitados que permitirão falar de um
problema habitacional e da prioridade justificada que
representa (ou deveria representar) na sociedade como um
todo.
Existem diferentes abordagens para interpretar e medir a
relevância da habitação como um fenômeno constitutivo de
um contexto específico. Uma delas é a institucional ou
política, que atribui às estruturas econômicas e políticas a
capacidade de exercer influência sobre o fato residencial
(Bassett e Short, 1980, Cortés, 1995). Encontra a relação
entre os desequilíbrios residenciais acusados; necessidades de
moradia não atendidas e o desempenho de um mercado que,
longe da neutralidade, persegue seus próprios interesses em
179
um ambiente de conflito, o que torna necessária a
intervenção estatal dos modos de produção e acesso à
moradia. Ou seja, um ponto de vista institucional na análise
da habitação é inteiramente correto, pois longe de considerar
o mercado como um elemento neutro representa o «campo
de batalha» dos interesses que surgem no momento em que
as políticas são definidas. Fatores estruturais que poderiam
definir os diferentes comportamentos em torno da realidade
da habitação serão fatores.
A análise da produção de políticas habitacionais e
residenciais representa um cenário fundamental para
aprofundar as causas dos processos de desigualdade
residencial e determinar como os regimes de provisão de
habitação determinam os diferentes comportamentos
residenciais. A habitação é o espaço no qual a vida cotidiana
acontece e na qual os processos de transformação que fazem
de cada indivíduo um «ser social» acontecem. A moradia é
vital para alcançar a socialização e a estabilidade social (Leal
e Cortés, 1995), uma vez que, sem isso, uma série de
demandas sociais não poderia ser atendida.
Se a habitação é entendida e seu acesso como uma
necessidade social, reconhece-se que ela desempenha um
papel fundamental na organização da sociedade e que a
satisfação dessa necessidade é um requisito essencial para
viver de forma integrada e padronizada, os regimes para a
prestação de serviços. Desta forma, o alojamento torna-se
um elemento básico que deve garantir este processo de
inserção da maneira mais adequada. Mas o que se entende
por regimes de provisão de habitação? Este regime é
composto por um conjunto de opções disponíveis em cada
sociedade para conseguir um lugar para residir. Seu objetivo
180
final seria conseguir que todo indivíduo que precisa de
acomodação possa tê-lo (Cortés e Martínez, 2009). Para
Boelhouwer e Heijden (1994) trata-se de um sistema (sistema
habitacional) de relações mútuas dos contextos demográfico,
social e territorial com os mercados e estruturas residenciais.
Esse sistema «reúne unidades residenciais, atores e
instituições que explicam a produção, o consumo e a relação
da moradia como um fenômeno» (Bourne, 1981 in Modenes
e López-Colás, 2012, p.2).
Existem diferenças importantes nas maneiras pelas quais
cada sociedade satisfaz suas necessidades de moradia. Esses
modos são desenvolvidos em contextos específicos e
evoluíram ao longo do tempo, portanto, eles têm uma
relação próxima com o tipo existente de estrutura social; a
organização política e territorial; as formas dominantes ou
modos de coexistência, etc. Eles são (os regimes de provisão
de habitação) um produto social que evolui e transforma, e
seu entendimento passa pelo estudo do tipo de regime ou
estado de bem-estar em que eles se encontram.
Ao analisar os diferentes regimes de bem-estar nos países
ao nosso redor, uma série de tipos ideais é geralmente
estabelecida, sendo a mais conhecida a estabelecida por
Esping-Andersen (1990) através de três modos de
intervenção estatal: liberal, social-democrata. e conservador-
corporativista. Mas há muitas críticas à proposta. Muitos
deles estão relacionados à natureza formal excessiva do
modelo e ao seu grau de aplicabilidade. É necessário
perceber que as classes acima mencionadas de regimes de
bem-estar social são, em suma, formalidades que, em alguns
casos, supõem a impossibilidade de compreender e
classificar adequadamente certos contextos determinados.
181
Apesar da relevância dos critérios que o autor usou para
identificar os diferentes regimes que definiram e, em parte,
continuam a definir o sistema capitalista (por meio da
relação público-privada em bem-estar social, por um lado, e
grau de desmercantilização de bens e serviços sociais e seus
efeitos na estratificação social, por outro) nem sempre será
fácil e legível falar de atributos gerais para um determinado
processo, tentando capturar atributos específicos de casos
específicos. Nestas «outras» possíveis realidades,
encontramos uma série de países que combinam suas
próprias características que, mesmo considerando os regimes
de bem-estar, não podem ser incluídas nas propostas
clássicas. Este é o caso dos países do sul da Europa,
incluindo Espanha e Portugal, que, após serem pouco
referenciados nas primeiras análises comparativas sobre
regimes de bem-estar, permitiram teorizar um modelo
distinto (Ferrera, 1995) a ser chamado de regime de meio-
termo do bem-estar do Mediterrâneo (Moreno, 2001) ou os
estados de bem-estar do sul (Flaquer, 2002). Essas obras e
muitas outras (Draibe e Riesco, 2006, Rodríguez, 2009)
demonstraram a veracidade do modelo e a existência de um
regime de bem-estar típico do Sul da Europa com atributos
particulares.
O regime de bem-estar dos países do sul da Europa,
Espanha e Portugal reproduz padrões sociais e diferenciais
específicos relacionados com a habitação; os modos de vida
e as características residenciais. Mas, ao mesmo tempo, a
habitação, determinada pelo mercado e por certas políticas
de abastecimento, «molda a natureza dos regimes de bem-
estar social em diferentes países» (Moreno, 2001, p.74). Sua
relevância e efeitos sobre o tipo e a qualidade de vida dos
182
indivíduos e suas repercussões devem ser considerados
básicos para o futuro do bem-estar. Desta forma, nos
deparamos com regimes de provisão de habitação que se
conformam e, por sua vez, são moldados pelos regimes de
bem-estar nos quais estão imersos. E se for possível
estabelecer tipologias diferenciadas nos regimes de bem-
estar, também será possível classificar os vários regimes de
provisão de habitação.
Apesar do aumento no estoque de casas de propriedade
em toda a Europa desde a segunda metade do século 20, que
serviu de base para o desenvolvimento de contribuições
teóricas em torno da tese da convergência residencial
(Harloe, 1995; 2010), a oferta habitacional e suas
características é a variável mais relevante para estabelecer
comparações entre estruturas residenciais (Kemeny, 1995,
Allen et al., 2004, Haffner et al., 2009) e, em suma, a que
permite o acesso à habitação em determinadas situações e
ofertas, mas também limita, certas oportunidades para os
requerentes (Echaves, 2017).
Espanha e Portugal ocupam um lugar muito específico
nas classificações dos regimes de habitação (Ronald, 2007,
Módenes e López-Colás, 2012), com a propriedade como
forma característica (com elevada penetração bancária e o
financiamento da compra através de crédito). Isto está ligado
a baixas taxas de arrendamento primário e altos custos
(predominância do mercado privado em detrimento do
aluguel social); altos percentuais de moradia secundária e o
papel da família na provisão de moradia (Guadalupi, 2011),
apoiariam a tese da divergência para países do sul da Europa
e poderiam explicar certas trajetórias residenciais e as
condições de acesso à moradia.
183
Em geral, existem dois modelos de esquemas de provisão
residencial: um com uma lógica mais comercial, baseado no
mercado residencial, e outro mais político (embora também
econômico) com regulação e baseado em ações com
proteção pública, cujo objetivo é construir habitação com
preços abaixo do mercado e destinados a famílias com
recursos escassos. Em Espanha e Portugal, a habitação é
organizada principalmente pelos mecanismos estabelecidos
pelo mercado (Cortés, 1995, Vasconcelos, 2003), deixando a
intervenção pública subordinada. A predominância da visão
da habitação como mercadoria deu origem a um mercado
imobiliário especializado. Uma situação de monopólio e
especialização que se traduz em aumentos consideráveis na
produção de casas, na sua maioria livres e em que a
proporção de habitações abrigadas tem diminuído, não
atingindo, no caso espanhol, mais de 13% de habitação
começa ano após ano no período 2000-2014 (dados do
Ministério do Desenvolvimento).
Este modelo de crescimento (predominantemente de
habitação livre e escassez de habitação protegida), no
entanto, não significa necessariamente satisfazer as
necessidades residenciais de todas as pessoas que realmente
precisavam de uma casa, mas por vezes tem sido orientado
para satisfazer parte do demanda por residências
secundárias, turísticas ou de férias. Esta é outra característica
do sistema residencial do Sul da Europa, e especificamente
de Espanha e Portugal: a elevada proporção de habitações
não destinadas a uma utilização principal e vazias durante
grande parte do ano. Na Espanha, as casas desocupadas
representam 28,3%; em Portugal, a percentagem é ainda
184
mais elevada, aproximadamente 32% em relação ao número
total de habitações convencionais (quadro 1).
Quadro 1. Distribuição das residências convencionais de acordo com seu status de ocupação. Diferentes países da União Europeia, 2011.
País % Habitação convencional
ocupada
% Habitação desocupadas convencionais
Bélgica 86,0 14,0
Dinamarca 87,3 12,7
Alemanha 91,0 9,0
Irlanda 82,7 17,3
Grecia 64,7 35,3
Espanha 71,7 28,3
França 83,2 16,8
Itália 77,3 22,7
Luxemburgo 92,8 7,2
Países Bajos 93,0 7,0
Áustria 82,1 17,9
Portugal 68,1 31,9
Finlandia 90,4 9,6
Suécia 83,0 17,0
Reino Unido 95,7 4,3
Fonte: Eurostat Database.
A elevada proporção de habitações principais detidas (a
mais alta da Europa) é outra das características diferenciais
que afastam as estruturas residenciais de Espanha e Portugal
da de outros países europeus, especialmente aqueles em que
a percentagem de propriedade é claramente inferior à média
europeia (figura 1).
185
Figura 1. Distribuição do estoque habitacional de acordo com o regime de posse em diferentes países da União Europeia, 2011(%).
Fonte: Eurostat Database.
Também é possível estabelecer diferenças na renda, não
apenas em termos de taxas mais altas ou mais baixas desse
regime de posse, mas também com base no predomínio da
renda privada ou da renda social1 . Enquanto nos Países
Baixos, na Áustria ou no Reino Unido, a percentagem de
alojamentos com renda social (em relação ao total de
habitações arrendadas) situou-se acima dos 20% em 2010,
em Portugal e em Espanha esta percentagem representa
apenas 3% (figura 2).
Por sua vez, é em Espanha (42,3%) e em Portugal
(35,2%), juntamente com a Grécia, onde uma percentagem
maior da população tem de enfrentar um custo de acesso à
habitação por renda superior a 40% do rendimento total do
agregado familiar, de acordo com dados do Eurostat de
1Renda social refere-se àquelas habitações cujo aluguel é regulado (preço
abaixo do mercado ou livre) ou que recebem subsídios da Administração.
186
2013. Uma percentagem bastante elevada, se levarmos em
conta a média da União Europeia: 25,7% (figura 3).
Figura 2. Renda social (% do total de moradias de aluguel). Diferentes países da União Europeia, 2010. Figura 2. Renda Social (% do total de domicílios em aluguel). Diferentes países da União Europeia, 2010.
Fonte: Eurostat Database.
Figura 3. Porcentagem da população que assume um custo de aluguel de mais de 40% da renda do domicílio. Diferentes países da União Europeia, 2013.
Fonte: Eurostat Database.
187
A Espanha e Portugal, portanto, e dentro das
classificações européias, seriam colocados naquele grupo de
países em que há predominância predominante de moradias
de propriedade, estoque escasso de moradias para alugar e
principalmente pertencentes ao regime privado (com altos
custos), o que dificulta o acesso à moradia.
A compreensão do significado da habitação é estudar a
maneira como ela é configurada e suas implicações para o
comportamento residencial. Por esta razão, é necessário
analisar os modos de produção e sua conexão com as
condições e formas de acesso à moradia. Como vimos, a
Espanha e Portugal ocupam um lugar muito específico nas
classificações europeias sobre os sistemas ou sistemas de
provisão de habitação. Mas, além da comparação entre
países, o que acontece se a análise é realizada em escala mais
detalhada, entre regiões dentro dos próprios países? Aqui
vamos tomar como referência a Andaluzia e as regiões
portuguesas do Alentejo e do Algarve. Como teremos a
oportunidade de verificar, apesar de certas nuances, as
diferentes regiões mencionadas refletem padrões e condições
de acesso comuns que respondem à mesma dinâmica do
sistema de provisão residencial no qual eles estão integrados.
188
2. Prestação de habitação no Alentejo, Algarve e
Andaluzia: elementos básicos e reprodução
de modelos
No final do século XX e início do XXI em Espanha
aumentou significativamente a demanda por habitação pelo
crescimento populacional sustentado, resultado do aumento
da expectativa de vida e a chegada de imigrantes. Já no
século XXI, o ritmo de crescimento habitacional superou o
registrado pela população e pelos domicílios. No período
entre 2000 e 2008, cerca de três milhões e meio de casas
foram concluídas no Estado espanhol (o que representou
um aumento de quase 80% em comparação com aqueles
construído no período 1991-2001), colocando o parque
corrente em 25.218.536 milhões, de acordo com o último
censo 2011. Não desde o final dos anos sessenta e início dos
anos setenta do século passado, quando a construção de
habitação acelerou dramaticamente em resposta à
necessidade para eles nas áreas urbanas que vinham
causando o êxodo rural daqueles anos, encontrar números
semelhantes.
A habitação em Espanha tem crescido nos últimos 20
anos pode qualificar-se hoje de grandes dimensões em
relação ao número de domicílios com cerca de 1,5
189
habitações por família, e alto em relação à sua população,
com 50 casas para cada cem habitantes. Mas isso não
significa que as necessidades habitacionais da população
sejam resolvidas. Obviamente, e para a resolução destas
necessidades, o requisito básico e fundamental é a existência
de uma quantidade suficiente para atender às novas
necessidades que qualquer sociedade está gerando à medida
que progride e desenvolve oferecido habitação, mas em
Espanha, como Portugal, este requisito não está totalmente
resolvido. O problema, no entanto, não tem nada a ver com
a imobiliária produção foi de fato construído acima das
necessidades, mas sim com a forma como eles produziram
essas casas (modelo de crescimento), a sua gestão e a quem
eles têm foi dirigido.
Em Portugal, o crescimento do parque habitacional acima
daquele experimentado pela população também é um fato.
Assim, se 2001-2011 (de acordo com o censo do Instituto
Nacional de Estatística de Portugal) da população vai de
10.356.117 para 10.562.178, o que representa um aumento
relativo de 2% para o mesmo período, o número de O
alojamento passou de 5.054.922 em 2001 para 5.878.756 em
2011, o que representa um aumento de 16,3%.
Esta dinâmica, a taxa de crescimento do parque
habitacional que excede registrada pela população e as
famílias, também ocorre em áreas que nos interessam aqui:
Alentejo, Algarve e Andaluzia, como podem ser visto no
seguinte quadro.
190
Quadro 2. Evolução da população e do parque habitacional no Alentejo, Algarve e Andaluzia, 2001 e 2011.
Indicador Alentejo Algarve Andaluzia
População (2001) 776.585 395.218 7.357.558
População (2011) 757.302 451.006 8.371.270
Aumento relativo (%) -2,5 14,1 13,8
Habitação / Alojamento (2001) 349.946 278.418 3.531.124
Habitação / Alojamento ( 2011) 383.866 380.126 4.353.146
Aumento relativo (%) 9,7 36,5 23,3
Fonte: População e Habitação, Censos 2001 e 2011; Institutos Nacionais de Estatística da Espanha e Portugal.
Desta forma, tanto nas regiões do Alentejo e do Algarve,
como na comunidade autónoma da Andaluzia, o
crescimento do parque habitacional, expresso em termos
relativos, é muito superior ao aumento sofrido pela
população; mesmo no Alentejo, enquanto as casas cresceram
no período intercensitário em 9,7%, a população não só não
cresce, mas diminui 2,5%. No Algarve e na Andaluzia, por
seu turno, o aumento do número de casas neste período é de
36,5% e 23,3%, respectivamente, enquanto a população
cresce cerca de 14% em ambas as regiões.
Mas a moradia nem sempre foi iniciada e terminada onde
era realmente necessária, pelo contrário, muitas dessas casas
foram localizadas em áreas com necessidades básicas, tais
como cidades costeiras ou municípios próximos às áreas
metropolitanas (Leal, 2006), dando respondendo assim a um
tipo muito específico de demanda, o investimento (Cortés e
Martínez, 2009), e isso não tem nada a ver com as
necessidades básicas de moradia e com o acesso garantido
para todos os indivíduos a uma habitação decente e
condições acessíveis. Essa demanda por investimento em
habitação respondeu aos setores da população que, já com
191
residência própria, aspiravam a possuir outra, localizada em
um lugar diferente do principal, aumentando assim o
patrimônio e entendendo a casa como investimento. . Isto,
como já foi dito anteriormente, resultou num parque
superdimensionado com um peso relativo muito elevado de
habitação secundária, ao qual devemos acrescentar (também
como uma peculiaridade do modelo do Sul da Europa) a
existência de uma grande proporção de casas vazias.
Na Espanha, segundo o Ministério do Desenvolvimento,
em 2011, apenas 68,8% do parque foi utilizado como
residência principal, deixando o restante do estoque (31,2%)
como uma segunda residência ou residência vazia. Embora
seja verdade que os dados possam estar super-representados
(especialmente vazios, devido ao método usado para
registrá-los), em qualquer caso, seriam figuras muito
importantes que nos diriam sobre a existência de um
investimento em habitação para propósitos estritamente
especulativos. Nas últimas décadas, especialmente até o ano
de 2008 (início da crise econômica), preferiu-se reter a
propriedade para investimento em situação vaga, vendê-la ou
alugá-la, por causa da rentabilidade que já pode ter nesse
estado (Martínez e Echaves, 2015). Em Portugal, esta
situação de subutilização do parque habitacional também é
comum. Desta forma, e seguindo os dados do
recenseamento habitacional de 2011 do Instituto Português
de Estatística, 19,3% dos lares são secundários e 12,6%
permanecem vazios, o que acrescentou 32% do total de
moradias.
No Alentejo, no Algarve e na Andaluzia, os dados dos
censos mostram um parque residencial altamente
subutilizado, com elevadas percentagens de alojamento
192
secundário e vazio. Assim, e para a Andaluzia, o percentual
total de moradias não principais é de aproximadamente 30%,
tanto em 2001 quanto em 2011. No Alentejo esse percentual
é um pouco maior, de 32,1% em 2001, aumentando para
36,4% para 2011 (21,5% da habitação secundária e 14,9% da
habitação vazia). No Algarve os números são muito
reveladores; Sem dúvida, esta região portuguesa é um foco
turístico e de férias de primeira ordem, o que se traduz em
percentagens de residências secundárias perto de 40%, de
38,5% em 2001 para 39,5% em 2011. Nessas percentagens
existem que somam o peso relativo da casa vazia, não
insignificante e aumentando de 2001 para 2011; de 9,4%
para 13,2%.
Quadro 3. Evolução dos domicílios segundo uso: secundário e vazio (% do total habitacional). Alentejo, Algarve e Andaluzia, 2001 e 2011.
Indicador Alentejo Algarve Andaluzia
Habitação secundária (2001) 19,7% 38,5% 14,6%
Habitação desocupada (2001) 12,4% 9,4% 15,5%
Total não principal (2001) 32,1% 47,9% 30,1%
Habitação secundária (2011) 21,5% 39,5% 14,5
Habitação desocupada (2011) 14,9% 13,2% 14,6
Total não principal (2011) 36,4% 52,7% 29,1%
Fonte: População e Habitação, Censos 2001 e 2011; Institutos Nacionais de Estatística da Espanha e Portugal.
Além do forte crescimento da construção habitacional,
que nem sempre se traduziu na satisfação das necessidades
básicas de moradia, já que muitas delas permanecem vazias e
outras destinadas a casas de veraneio e turismo, outra das
características do sistema de provisão As moradias na
Europa do Sul são a alta proporção de casas de propriedade
(da oferta), que se traduz, do lado da demanda, em uma
193
porcentagem muito importante de indivíduos e famílias que
possuem suas casas. Agora, num contexto residencial em
que prevalece o regime imobiliário (sendo o aluguel escasso
e com preços também altos) a solvência econômica é
fundamental para poder enfrentar o pagamento das
hipotecas. Mas essa solvência por parte dos indivíduos e das
famílias é extremamente complexa para alcançar situações
econômicas desfavoráveis e com taxas de desemprego tão
elevadas, especialmente para certos grupos como os jovens
ou domicílios com menor renda, o que acaba gerando
desigualdades reais na população. acesso à habitação.
Embora seja verdade que no último período
intercensitário (2001-2011) as principais moradias
pertencentes tanto a Espanha como a Portugal diminuíram,
no entanto, e para o ano de 2011, a percentagem que
representam em relação ao total de habitações principais de
acordo com o regime de arrendamento está perto de 80%, o
que nos permite manter a tese de que o regime de posse
majoritária nesses países continua sendo (a propriedade).
Tudo isso apesar do fato de que, em um contexto como o
atual, de crise econômica e social, seria aconselhável reforçar
o regime de arrendamento para aluguel e promovê-lo a
preços acessíveis a partir das autoridades públicas.
É comum pensar que o monopólio da propriedade do
parque habitacional nessas sociedades é o resultado de uma
cultura generalizada de propriedade, na qual é preferível
comprar uma casa e não alugar, já que a compra implica
segurança (no contexto) marcado pela flexibilidade e
sentimento de risco) e constitui uma forma de investimento
e poupança futura (Gaviria, 2007). Indubitavelmente, a
incerteza está presente em certos setores sociais, mas
194
defender a cultura da propriedade implica aceitar o esquema
analítico que sustenta que as preferências determinam a
demanda e que isso, por sua vez, determinaria a oferta de
habitação. Obviamente, este esquema analítico é de certa
forma verdade, uma vez que muitos estudos e pesquisas
sobre juventude e habitação mostraram como esse grupo
está claramente inclinado em suas preferências para a casa
própria na época da emancipação residencial (INJUVE,
2016, CIS, 2010). .
De acordo com uma pesquisa do CIS de 2010, do
número total de jovens entre 18 e 34 anos que ainda
residiam com os pais (e mostram a pretensão de
emancipação), quando perguntados «por que pretendem morar
em uma casa independente» para os pais, 63% afirmam que é
«pelo desejo de se tornar independente e ter um lar próprio»,
seguido por «esperado para se casar ou ir viver como casal»
(27,8%), mas sob qual forma de segurar? 78,9% prefeririam
uma casa própria no momento da independência residencial,
enquanto a porcentagem dos que a alugariam é de
aproximadamente 16%. Entre as razões dadas pelos jovens
por que uma casa é preferida, 56% dizem que é «para
poupança e segurança para a velhice». Na mesma pergunta
do questionário, por que você prefere uma casa na
propriedade? (pergunta 25), cerca de 40% dos jovens de 18 a
34 anos responderam que preferiam a propriedade porque a
renda é «igual ou mais cara do que pagar uma hipoteca».
Neste sentido, a propriedade da propriedade no Estado
espanhol poderia ser devido às preferências dos indivíduos,
mas também e acima de tudo, às desvantagens apresentadas
pelo aluguel; Há, portanto, certa racionalidade econômica
195
baseada nos custos de acesso à moradia (Jurado, 2006,
Echaves 2017 e 2018).
Desta forma, a oferta residencial determina a demanda,
ou se é preferível, que as necessidades residenciais não sejam
atendidas pela oferta habitacional e suas características.
Para além deste debate, a tabela seguinte mostra dados
em evolução sobre o regime de posse das principais
habitações nas regiões estudadas. No Alentejo, no Algarve e
na Andaluzia, em 2001, há um claro predomínio de casas
próprias, mais elevadas na Andaluzia (82,7%) e ligeiramente
mais baixas no Alentejo (78,6%) e no Algarve. (75,7%).
Embora seja verdade que os censos de 2011 mostram uma
ligeira diminuição na percentagem de habitações abrangidas
por este regime, não é menos que continuem a ser valores
elevados, o que significa que a renda está localizada num
intervalo de 10% na Andaluzia até 19,6% no Algarve.
Quadro 4. Evolução das moradias principais segundo regime de posse: propriedade e aluguel (% em relação ao total de moradias). Alentejo, Algarve e Andaluzia, 2001 e 2011.
Tipología Alentejo Algarve Andalucía
Habitaçao na propriedade (2001) 78,6% 75,7% 82,7%
Habitaçao na propriedade (2011) 76,4% 70,6% 81,7%
Habitaçao para alugar (2001) 15,3% 19,6% 9,2%
Habitaçao para alugar (2011) 14,8% 20,3% 10,0%
Fonte: Censos 2001 e 2011; Institutos Nacionais de Estatística da Espanha e Portugal.
O problema do acesso à habitação em Espanha e
Portugal, obviamente, não resulta da falta, em termos
quantitativos, de habitação, mas sim, como já foi dito noutra
ocasião, o como isto é, o modelo de crescimento ou modelo
produtivo.
196
Outra maneira de analisar o modelo produtivo e
responder a como, é através do número de casas que foram
construídas em nosso país, diferenciando o tipo de
promoção (livre e protegido). As variações nos últimos 60-
70 anos nas cotas de participação de ambos os tipos de
promoção são consideráveis, e alguns estudos mostraram
isso para o caso da Espanha. Carme Trilla (2010), baseado
nos vistos das faculdades de arquitetos, reconstrói uma série
a partir de meados do século passado. Os dados que o autor
gerencia mostram mudanças significativas na trajetória
construtiva do país. Assim, se no final dos anos cinquenta do
século XX a escassa produção de habitação foi distribuída
quase igualmente entre habitação protegida e habitação livre,
e em meados dos anos sessenta o protagonista claro é
habitação protegida (com taxas de participação de 70%). % e
até 90%, como aconteceu em 1963), desde o final da década
de 60 (já em plena fase expansionista) a habitação livre
começa a se firmar contra a moderação da presença dos
protegidos, embora seja verdade que até meados da década
de oitenta o peso relativo deste respeito à construção total
nunca foi inferior a 30% (Trilla, 2010). Após a crise do setor
imobiliário (1975-1984), em que há um novo equilíbrio entre
as duas formas de promoção por causa da queda da
habitação gratuita, há uma explosão de demanda que
aumenta significativamente o ritmo de produção no final dos
anos oitenta e início dos anos noventa, uma explosão de
produção que, no entanto, é liderado principalmente pelo
setor privado livre, representando a habitação de proteção
em 1991, apenas 13% da construção total. Após uma
pequena recuperação entre 1991 e 1995 da habitação
protegida (novamente coincidindo com uma breve fase
recessiva no setor e na economia), a partir deste último ano
197
começa o último ciclo expansivo conhecido até agora e que
durará aproximadamente até o biênio 2006-2008.
Como indicador do ritmo de produção habitacional nos
últimos 20 anos para a Espanha, optou-se por mostrar os
dados fornecidos pelo Ministério de Obras Públicas sobre
habitação iniciados e apresentados na figura 4. A partir deste
gráfico, vários aspectos podem ser destacados. Em primeiro
lugar, como já foi dito, foi observado o crescimento
desproporcional da construção de moradias (total de
moradias), o que significou um aumento do boom
imobiliário, 1996-2006, próximo de 150% (dos 308.915
imóveis iniciados em 1996 a 762.540 em 2006). De fato, a
partir de 1996 em nosso país, o aumento apresentado pelos
dados de habitação iniciados (e concluídos) a cada ano,
segundo o atual Ministério de Obras Públicas, é
incomparável: desde o início do último ciclo expansivo do
mercado imobiliário, em 1996 e até aproximadamente 2006,
mais de três milhões de casas foram iniciadas na Espanha
(terminando em torno de 2,6 milhões). O grande potencial
da oferta residencial produzida nesses anos é evidenciada
dessa maneira.
A partir de 2006, o ritmo de habitação começa a diminuir
acentuadamente (aqui o efeito da recessão econômica é
claro), em 2013 em níveis do início dos anos noventa do
século XX, ou seja, característica de antes do início do ciclo
mercado imobiliário expansivo. No entanto, isso não
significa que há menos oferta, mas simplesmente que menos
casas começam e terminam. De fato, todas as casas que
foram construídas ao longo desses anos se acumularam no
parque residencial e fazem parte do estoque atual, o que,
como já foi apontado, tem uma dimensão tal que,
198
teoricamente, poderia responder em grande parte das
necessidades residenciais do nosso país.
Figura 4. Evolução do número de domicílios iniciados
anualmente na Espanha de acordo com o tipo de promoção,
1995-2013.
Fonte: Ministerio de Fomento.
A segunda questão que fica evidente é a dramática
situação e pouca importância da proteção habitacional
contra a moradia livre nesses vinte anos. Apesar da forte
expansão imobiliária (1996-2006), os altos preços foram
deixados de fora dos grupos de mercado, como os jovens,
um grupo que vem em proporções razoavelmente altas para
a compra de habitação gratuita, mas pode exigir um mercado
com proteção pública para poder acessar, dado seu menor
poder de compra e maiores taxas de desemprego. No
entanto, a produção de moradias protegidas (ou pelo menos
o percentual que elas representam em relação ao número
total de moradias de acordo com o tipo de promoção)
diminuiu nos últimos anos. Se voltarmos para o ano de 1995,
havia 117.212 casas protegidas contra 234.583 casas
gratuitas, o que representa 33% do número total de
199
residências inauguradas. Contudo, a partir de 1996, a
proporção de habitações protegidas diminuiu gradualmente
ao longo dos anos, enquanto as habitações livres
aumentaram consideravelmente, atingindo um mínimo em
2002 de 8,7% do número total de habitações que
começaram. Desde 2003, houve um pequeno aumento de
forma sustentada, o que significa que em 2006 a proporção
de moradias protegidas em relação ao total foi de 12,8%.
Mas, novamente, a partir de 2006, a habitação abrigada
começa a cair, algo que também é extensível às casas
gratuitas que são inauguradas.
Além da forte expansão da moradia livre, que por si só
determina um peso menor do protegido sobre o total, a
baixa atividade na promoção desse último tipo de moradia
provavelmente tem sua origem na escassez e escassez de
terras, que transformou o limite superior estabelecido como
preço básico por metro quadrado no nível estadual para
habitação protegida em irrealista. O problema reside, em
primeiro lugar, no facto de o número de novas habitações
protegidas ser claramente insuficiente, apesar do facto de
uma maior promoção deste tipo de habitação poder ter um
efeito positivo na contenção dos preços da habitação
gratuita. Isto deve-se a um sistema de produção da habitação
protegida que é uma das mais liberais da Europa (Trilla 2001
e 2010), que delegou aos promotores privados o poder de
levar a cabo ou não programas habitacionais protegidos, e
no que não foram estabelecidos acordos duradouros para
garantir um abastecimento suficiente deste tipo de habitação.
Desta forma, os incorporadores privados têm abandonado a
produção de moradias protegidas em fases ascendentes do
ciclo econômico (mesmo em épocas de desqualificação
200
econômica de bonança permitida), argumentando que o
preço base ou «módulo» não é lucrativo e que não é
reavaliado da mesma forma que os preços de mercado.
Desta forma, como assinala Carme Trilla (2010), ocorre o
«paradoxo do módulo», ou seja, se a razão de ser do
«módulo» deveria ser o estabelecimento de preços máximos
obrigatórios que teriam um impacto final sobre os solos
processos inflacionários, na realidade, há aumentos anuais
no preço base que apenas mostram a volatilidade da
proteção habitacional. Juntamente com este último, o
controle de ganhos de capital imediatos implicados pela
posse de uma moradia protegida em contextos de preços
muito elevados no mercado, tornou-se objeto de debate nas
reflexões atuais sobre este tipo de habitação. A moradia
protegida torna-se, assim, um produto de preço muito alto
na expectativa de sua possível reavaliação, e tudo isso afetará
o preço final de venda.
Se o primeiro problema do modelo de crescimento, como
vimos, é a escassez do número de casas protegidas, o
segundo, efetivamente, é o preço que elas atingem no
mercado. São casas, para o caso da Espanha, cujo preço é
fixado em uma faixa de 60.000 a 120.000 euros (segundo
dados do Ministério do Desenvolvimento), dependendo do
local e do ano de referência (preço que, em muitos casos,
não é aceitável). Assim, se teoricamente a proteção
habitacional deveria visar primordialmente pessoas com
menos recursos (que não devem exceder um nível de renda
em relação ao IPREM), na prática ela tem sido destinada e
demandada também por setores de renda média, com mais
poder aquisitivo e com maior capacidade de esforço no
acesso.
201
Este panorama, predominância de habitação livre e pouca
importância de habitação protegida; promoção social e
habitacional pobre; e os altos preços atingidos pela habitação
no mercado não facilitam o acesso à moradia (Rodríguez,
2010).
Como se tem argumentado, a forma predominante de
acesso à habitação em Espanha e Portugal é através da
compra, a maior parte do tempo indo para o mercado, com
financiamento através de crédito, o que já é gera
desigualdades no acesso a um direito tão necessário quanto o
alojamento. Desigualdades e dificuldades que se agravam em
contextos de crise econômica. Agora, existem alternativas
para esse modelo? A moradia cooperativa pode representar
essa alternativa.
Nos últimos anos, o número de casas construídas na
Espanha sob a figura da cooperativa de habitação aumentou,
de acordo com o registro de reclamantes de habitação em
cooperativa, preparado pela Confederação das Cooperativas
Habitacionais. No entanto, ainda é um sistema de promoção
pouco ampliado quando comparado a outras experiências,
como a uruguaia (Solanas, 2017). Mesmo assim, as
cooperativas habitacionais provaram ser um sistema efetivo
para facilitar o acesso à moradia (Díaz, 2008), além de serem
referência entre os indivíduos, organizações populares,
profissionais e formuladores de políticas que defendem o
direito à moradia. e para a cidade. É um grupo de pessoas
que basicamente compartilham a necessidade de moradia e
se unem para acessá-lo através da autopromoção nas
melhores condições possíveis de habitabilidade, qualidade e
preços. Nesse sentido, o mais característico das cooperativas
é a falta de lucro, pois seu objetivo fundamental é a aquisição
202
de uma casa a um preço de custo, ou seja, aqui a principal
vantagem seria: o custo final da habitaçao.
As cooperativas habitacionais formariam complexos
habitacionais com moradia e espaços para uso coletivo; eles
são feitos adicionando os esforços e recursos de seus futuros
habitantes, a administração pública (empréstimos e terra) e
equipes técnicas interdisciplinares (conselhos). A cooperativa
é de propriedade coletiva e autogerida por seus membros.
A este modelo alternativo de acesso à moradia, e a
diversas experiências, são dedicados os seguintes capítulos,
no âmbito da economia social e transformadora.
203
Capítulo 2:
Economia transformadora e
habitação
Óscar García Jurado
3. Introdução
A economia é definida em cursos introdutórios como a
ciência que lida com a gestão de recursos escassos suscetíveis
a usos alternativos. Para que? Para atender as necessidades
das pessoas. No entanto, o objetivo da economia no
capitalismo, atual sistema hegemônico, é gerar lucros
empresariais. Hoje a economia subordina a satisfação das
necessidades das pessoas à acumulação de capital.
Para tentar reverter essa situação, surge a economia social
e o cooperativismo. A economia social inclui o conjunto de
iniciativas socioeconômicas que priorizam a satisfação das
necessidades das pessoas com lucro, dos benefícios. Ou seja,
a economia social não é mais que a economia, antes de ser
confundida com a característica chrematista da economia
capitalista.
Assim, a economia para ser útil deve avançar em
satisfazer as necessidades materiais de todas as pessoas e
aspirar a ser um conjunto de conhecimentos que tem como
objetivo final manter e enriquecer a Vida. Para isso é
necessário entender a economia atual e alguns elementos
fundamentais dela. Assim, a economia capitalista tem se
baseado em certos tipos ou conceitos de propriedade,
trabalho e valor, a saber: propriedade privada dos meios de
207
produção e pagamento; trabalho assalariado; e o valor de
troca ou valor concedido pela demanda de solvente. Nesse
sentido, a economia social deve avançar para outras formas
de compreender os mesmos conceitos, como propriedade
coletiva, valor de uso e trabalho emancipado.
A cooperativa é o principal agente da economia social,
pelo menos nas sociedades do nosso meio ambiente. A
Aliança Cooperativa Internacional define a cooperativa
como «uma associação autônoma de pessoas que se uniram
voluntariamente para satisfazer suas necessidades e
aspirações econômicas, sociais e culturais em comum através
de uma empresa de propriedade conjunta e administrada
democraticamente». Nesse sentido, a cooperativa é uma
ferramenta útil para satisfazer a necessidade de moradia.
208
4. Economias sociais e a economia social
transformadora
Os vários tipos de economia social
A economia social aparece ligada historicamente a
associações e cooperativas populares, que constituem sua
espinha dorsal. O sistema de valores e os princípios de ação
das associações populares, sintetizados pela cooperativa
histórica, são os que serviram para articular o conceito
moderno de economia social estruturado em torno de
cooperativas, mutualidades, associações e fundações
(CIRIEC, 2017).
Embora as entidades da economia social atuem em
grande parte de maneira muito diferente das empresas
mercantis privadas, existem muitas cooperativas,
associações, fundações, etc. que reproduzem práticas
comerciais convencionais. É por isso que é muito
importante falar sobre economia social usando o plural.
Segue-se uma breve amostra das diferentes economias
sociais (Porro, 2017). Em primeiro lugar estão as «economias
cooperativas». O cooperativismo é um elemento essencial da
economia social. Em sua origem parte de uma visão dos
objectivos e os meios da economia diferentes da empresa
capitalista convencional. Embora as formas cooperativas de
209
operação em produção tenham sido usadas por muitos
povos do planeta durante séculos, ela não será nomeada
como tal até a chegada da Revolução Industrial e como uma
reação à brutalidade das relações de exploração na fábrica
capitalista. Ao longo do século XIX, em toda a Europa,
muitas pessoas serão agrupadas para produzir, consumir e
emprestar dinheiro, dando origem ao nascimento das
cooperativas de trabalho, consumo e crédito. As
cooperativas são constituídas como empresas ou grupos
geridos democraticamente pelos seus membros, que são
proprietários iguais do capital, ao mesmo tempo em que os
produtores ou beneficiários dos bens e serviços gerados pelo
coletivo.
Dentro da economia social existe também a chamada
«economia de inserção sócio-trabalhista». É empresas de
inserção, fundações ou centros especiais de emprego cujo
objetivo principal é a integração social e trabalhista de
grupos em risco de exclusão.
Por outro lado, as chamadas «economias populares e / ou
comunitárias» fazem parte da economia social e solidária,
além de estarem intimamente ligadas à economia feminista e
às economias de cuidado. As economias comunitárias são
entendidas como sendo todas as articulações coletivas onde
as necessidades são procuradas e onde, geralmente, o peso
do trabalho voluntário (não assalariado) é primordial e o
acesso não é tanto o pagamento como pertencer e participar
de uma comunidade ou grupo. Esses tipos de economias se
manifestam no sul da Europa por meio de hortas
comunitárias, grupos de consumidores, redes de troca,
moedas sociais, bancos de tempo, grupos de criação
compartilhada, etc.
210
Por outro lado, a denominação ou conceito de
«Economias Colaborativas» surge. Estes referem-se a
projetos, empresas, entidades, comunidades e plataformas,
geralmente com base digital, que permitem compartilhar,
trocar, vender ou alugar bens, serviços ou conhecimentos.
Dentro dessas atividades aparecem atividades que podem ser
classificadas como sociais (quando não há motivo de lucro) e
outras que estão muito longe da economia social e que é
mais correto chamar de «capitalismo de plataforma»
(Srnicek, 2018). Além disso, é muito importante ressaltar a
«produção de bens comuns» como projetos com uma
vocação claramente transformadora, com uma dimensão
horizontal e onde os produtos possuem licenças livres e / ou
livre acesso».
O impulso das Economias Feministas é muito relevante.
Tem uma relação íntima com a economia social e solidária,
como afirma Alicia Rius: «Os feminismos são para o
patriarcado o que a economia social e solidária é para o
capitalismo». Um dos elementos essenciais dessas práticas é
colocar o centro do debate na economia invisível do
cuidado.
Finalmente, a Economia do Bem Comum surge com uma
ligação maior ao mundo dos negócios convencionais. Coloca
a ênfase nos impactos sociais e ecológicos das empresas e
não tanto na distribuição de propriedade ou poder.
Enquanto para algumas pessoas é mais um passo à frente em
Responsabilidade Social Corporativa, para outros é uma
abordagem para um novo paradigma econômico
transformador.
211
A economia social transformadora: definição,
princípios, objetivos e valores
No âmbito das economias sociais, a economia social
transformadora é o elemento que vamos considerar como
transformador do Configurador do Desenvolvimento Local
e os processos de construção da soberania necessários para
avançar na melhoria da vida das pessoas. Que este e nenhum
outro deve ser o propósito da economia (sem adjetivos).
A abordagem das economias sociais pode ser feita a partir
do equilíbrio entre duas racionalidades. Por um lado, há a
racionalidade econômico-instrumental, cujo objetivo
consiste na melhor adaptação funcional possível da ação
econômico-empresarial às regras do mercado, na consecução
do crescimento econômico da organização pela obtenção de
resultados econômicos. A fundamentalidade serve
fundamentalmente às entidades da economia social de
mercado ou adaptativa. As organizações cooperativas e da
economia social transformadora são pautadas, por outro
lado, pela «racionalidade avaliativa», da qual se busca fazer
economia com valores e princípios democráticos, com uma
ética econômica baseada em uma ética comunitária. A partir
da segunda racionalidade, a economia social e solidária é
representada como uma ação produtiva ou econômica
inserida em uma visão mais ampla da sociedade e com uma
vocação social e transformadora (Azcárraga, 2007).
Há um equilíbrio difícil entre essas duas racionalidades.
Um grande número de entidades cooperativas e a economia
social representam, em pequena escala, a busca de uma
racionalidade integral, um equilíbrio ou uma harmonização
entre a eficiência dos sistemas instrumentais (tecnocrático e
mercantil), com significado pessoal e coletivo. A ruptura do
212
equilíbrio pode ocorrer em ambos os sentidos: por um lado,
uma economia social com uma sólida base ideológica, mas
que não é viável no atual sistema capitalista; por outro lado,
o cooperativismo ou entidades da economia social e solidária
que servem apenas aos objetivos estritamente relacionados à
adaptação ao mercado.
Basicamente, o que está em jogo é a própria possibilidade
de soberania ou autonomia humana; a possibilidade real de
construir experiências sócio-econômicas alternativas,
baseadas em valores conscientemente escolhidos. A questão
é se, com a expansão da economia capitalista, as pessoas e as
comunidades podem se desviar da uniformidade imposta
pela unidimensionalidade do raciocínio instrumental e
neoliberal capitalista; até que ponto é possível avançar na
transformação do sistema capitalista agindo a partir de
dentro (embora em suas margens), ampliando suas fendas,
lutando contra um «exército de mosquitos» que faz a
economia (produzir, consumir, distribuir, financiar) equipada
com valores cooperativos e solidários.
Para definir o que pode ser definido como uma economia
social transformadora, é útil recorrer a uma série de
princípios nos quais as entidades da mesma se baseiam, a
saber: a busca pelo bem comum e a criação e distribuição
equitativa da riqueza; a primazia do trabalho sobre o capital e
interesses coletivos sobre os interesses individuais; a
democracia econômica e o desejo de transformação social; a
promoção da qualidade e sustentabilidade da vida e do meio
ambiente; equidade de gênero e compartilhamento de tarefas
de cuidado; respeito pela própria identidade cultural e
promoção da interculturalidade; as raízes territoriais e a
economia de proximidade; a criação de um mercado social
213
baseado na intercooperação entre: produção cooperativa,
poupança e finanças éticas, distribuição e comercialização
justas e consumo responsável; as práticas de autogestão,
trabalho colaborativo, ajuda mútua, solidariedade, doação,
reciprocidade.
A economia social transformadora distingue-se do resto
das economias sociais em que, além de priorizar a satisfação
das necessidades das pessoas com lucro, busca a
transformação do sistema econômico. Ou seja, pretende
avançar em uma economia social que serve como alternativa,
e não como legitimadora, do capitalismo. Nesse sentido, ele
pretende avançar, tomando as palavras de Marx, uma
«economia do trabalho emancipada», ou seguindo Michael
Lebowitz, uma economia baseada na «relação de produtores
associados»2. David Harvey (2014) indica que «a oposição de
classes entre capital e trabalho é dissolvida por produtores
associados que decidem livremente o que, como e quando
produzirão em colaboração com outras associações e com o
objetivo de satisfazer necessidades sociais comum».
A economia social transformadora deve estabelecer outra
maneira de funcionar em cada fase do processo econômico.
Enquanto a produção deve avançar para uma economia de
«trabalho emancipado» do ponto de vista do consumo seria
para mudar a atual forma de processo em que o consumismo
2Michael Lebowitz sobre o problema dos trabalhadores e da
administração indica que «há muito a ser aprendido com os esforços feitos para construir o socialismo no século XX». Sugiro três propostas: 1. Quando os trabalhadores não se dirigem, outro faz; 2. Quando ostrabalhadores não desenvolvem suas habilidades através da práxis, outro o faz. 3. Por mais que pensemos que expulsamos o capitalismo, quando aprodução não é baseada em uma lista de produtores associados, mais cedo ou mais tarde ela retorna.
214
é incentivado com o objectivo de produzir para gerar lucros.
Neste caso, a produção seria colocada de volta ao serviço do
consumo consciente. Além disso, a intermediação financeira
e financeira deve se tornar uma atividade a serviço da vida,
atuando como uma ferramenta para financiar projetos que
servem para produzir bens e serviços que solucionem os
problemas materiais das pessoas. Desta forma, as finanças
tornam-se meras ferramentas ou meios para um fim maior, e
deixam de ser uma atividade que tem como único objetivo a
acumulação de benefícios através da mera especulação.
Tomados em conjunto, a economia social transformadora
deve se tornar uma ferramenta para alcançar uma sociedade
alternativa pós-capitalista. Após Jordi Garcia Jané, esta pós-
capitalismo é entendido como anti-capitalismo como «não
confia em que o capitalismo é capaz de satisfazer as
necessidades básicas de todas as pessoas e ao mesmo tempo
preservar as condições biofísicas da sobrevivência da espécie
humana na Terra; por isso quer substituí-lo por outro modo
de produção mais justo, democrático e sustentável». Além
disso, a adoção deste pós-capitalismo implica «a convicção
de que uma economia não capitalista é viável, o que garante
um nível aceitável de bem-estar para todos os seres humanos
presentes e para as gerações futuras».
Então, depois de tudo isso, seria entendido que a
economia social transformadora compreende todas as
alternativas, iniciativas econômicas legais e não legais que
investigam e trabalhando em novas maneiras de viver e
atender as necessidades econômicas do que como os
oferecidos pela lógica capitalista. Esses tipos de experiências
são regidos por valores alternativos àqueles existentes na
realidade capitalista e econômica convencional, isto é,
215
guiados por idéias e valores como propriedade comum,
cooperação, democracia, eqüidade, compromisso social ou
sustentabilidade. . Estas são unidades econômicas cujos
princípios são baseados em apoio e cooperação mútuos,
contra a competição e o lucro.
A criação de entidades transformadoras da economia
social requer, portanto, ter como base um conjunto de
valores que permitam gerar outros tipos de iniciativas
econômicas. Os valores dos trabalhadores diários da
Andaluzia podem servir-nos como princípios para um bom
funcionamento cooperativo (analisado por Joan Martínez
Alier ou Isidoro Moreno em muitos estudos sobre a nossa
cultura). Eles podem incluir aqueles na seguinte (Martínez
Alier, 1965) «Cumprir» contra o parasitismo social do
cavalheiro da Andaluzia, a dignidade do trabalho que faz
bom respeito por si e dos outros; A «união» que faz a força
possível dos estruturalmente despossuídos, condenada a
alugar sua força de trabalho que os dominadores controlam;
«A distribuição» como um sistema legítimo de retorno da
terra àqueles com quem ela realmente mantém um vínculo
(«a terra para quem a trabalha»). Entendemos que são
valores válidos e generalizáveis, também em contextos
modernos e urbanos: temos que dar passos desde o sistema
de acumulação até um sistema de distribuição (de riqueza,
poder, tempo e propriedade). Assim, trata-se de passar da
competitividade para o compliance (sendo competente); do
individualismo ao sindicato (cooperação); e da acumulação à
distribuição (distribuição justa).
216
Trabalho, propriedade e valor na economia social
transformadora
A economia capitalista foi baseada em uma maneira de
entender conceitos-chave como trabalho, propriedade ou
valor. Nesse sentido, a economia social transformadora deve
avançar para outras formas de entender os mesmos
conceitos. Assim, o trabalho livre associado, a propriedade
coletiva e o valor de uso são referências na busca de uma
economia social transformadora e que é um instrumento de
soberania e de transformação do desenvolvimento local. Ou
seja, uma economia que dota a capacidade de tomar decisões
para indivíduos e comunidades contra o capital.
Trabalho livre asociado
O trabalho assalariado é um dos pilares do sistema
capitalista. Economia social transformadora deve ser guiada,
pelo contrário, por relações de trabalho, onde o aumento da
autonomia e capacidade das pessoas para tomar decisões em
seu trabalho e esfera produtiva (e reprodutiva). Desta forma,
não estaremos falando de outra coisa senão a soberania do
trabalho (em oposição àquela do capital).
O elemento transformador é na mudança de trabalho
assalariado para o trabalho livre associado (auto-emprego
coletivo), bem como tomar medidas para consideração
integral dos diferentes formas de trabalho não remunerado
monetariamente, se o objetivo é a favor da vida. É para
substituir a força de trabalho ou a consideração de recursos
humanos contratados / comprados por um empregador ou
empresário, para a promoção e incentivo de produtores
livres pessoas associadas, sem diferenciação entre produção
e reprodução, a fim de considerar o trabalho reprodutivo
217
como produtivo como qualquer um dos tipos
monetariamente remunerados.
Em resumo, o trabalho assalariado como um pilar do
sistema capitalista, devemos nos mover em direção a um
regime de produção comunitária; uma economia onde o
trabalho é considerado como uma mercadoria e as pessoas
são seres humanos, temos de avançar para uma economia de
trabalho emancipado em instituições produtivas e
reprodutivas, onde as pessoas se tornam produtores livres e
associados.
A propriedade coletiva dos meios de produção e vida
A busca por outro trabalho não assalariado está
completamente relacionada com a eliminação da propriedade
privada dos meios de produção. A privatização da terra e dos
meios de produção era um elemento essencial na
acumulação primitiva, na origem do capitalismo e na
introdução do trabalho assalariado. Portanto, a
transformação social exige optar por alguma forma concreta
de gestão e propriedade dos meios de produção e de vida,
além da propriedade privada.
A economia social transformadora deve promover um
novo sistema de produção comunitária que busque
alternativas à propriedade privada, base essencial do
capitalismo como sistema de exploração de algumas pessoas
por outros. É necessário passar do cerceamento de bens
comuns, da exclusão do uso de recursos coletivos, para
mecanismos de usos compartilhados.
O valor de uso
En tercer lugar, se trata de producir bienes y servicios en
función del valor de uso. El capitalismo tiene como base
218
otorgar a los bienes y servicios el valor que marca la
demanda solvente, es decir, lo que se está dispuesto a pagar
en el mercado. Se atiende por tanto al valor de cambio y no
al valor de uso. Si alguien no tiene poder de compra, es decir
dinero, no podrá satisfacer sus necesidades.
O valor de uso é a capacidade de um bem ou serviço para
atender a uma necessidade. Nesse sentido, o valor dos bens
e serviços não será baseado no preço que você está disposto
a pagar e nos benefícios monetários que podem ser obtidos,
mas na capacidade ou habilidade do bem ou serviço para
atender a uma necessidade.
As propostas da economia social transformadora
consistem essencialmente em desmercantilizar a vida. Nem
as pessoas nem a natureza são acessíveis, apropriadas,
commodificáveis. Quando esses processos ocorrem, vai
contra precisamente os processos que o capitalismo
introduziu tanto na acumulação primitiva como na
Revolução Industrial e no mercado auto-regulador. Uma
mercadoria se torna uma coisa; É comprado e vendido. O
capitalismo transformou a vida em coisas. Transformar-se
hoje pode ser que essas coisas sejam novamente
consideradas vidas.
É necessário avançar na alocação de recursos fora do
mercado, no valor de troca e na demanda por solventes. É a
única maneira de fazer com que a produção seja guiada pela
satisfação das necessidades das pessoas e não apenas daquilo
que poderia pagar e, portanto, gerar lucros.
O tema da visão alternativa de eficiência que está
associada à discussão sobre os objetivos que devem ser
alcançados através da atividade econômica e também com as
219
possibilidades de alcançá-los aparece aqui. Os objetivos têm
a ver com o atendimento das necessidades das pessoas
(atuais e futuras). Esse modo de entender a eficiência apela
para uma racionalidade diferente da capitalista, sempre ligada
à maximização dos benefícios e não à satisfação das
necessidades das pessoas. Trata-se de alcançar resultados
econômicos vinculados à satisfação das necessidades de
todas as pessoas e não apenas dos gerentes e proprietários de
capital.
Portanto, é necessário ir muito além do preço ou do valor
de troca como o único indicador a seguir. A economia social
transformadora deve avançar em uma avaliação alternativa
de bens e serviços mais voltada para o valor de uso, para a
subordinação dos interesses do capital à satisfação das
necessidades das pessoas. Para Luis Razeto (1994, p. 164),
faz conom a so dá a é “da fo ma cont údo ao va o ,
definir objetivos específicos, estruturar modelos de
relacionamento dentro das empresas e sair quando os
p odutos são t ansf dos pa a out os”. , ma cado po todos
pela solidariedade, neste caso. Como na economia capitalista,
tudo é marcado pelo dinheiro, pelo valor de troca dos
produtos ».
Fatores e desafios da economia social
transformadora
A economia social transformadora deve ter como fator
central e efetivo a solidariedade, a cooperação ou a ajuda
mútua (denominada por Luis Razeto como «fator C»). Nesse
sentido, a solidariedade pode definir uma racionalidade
econômica alternativa e sua integração no modo de fazer a
economia provocar a transformação dela (Razeto, 1994).
220
A autogestão e a cooperação no trabalho causam mais
efeitos positivos à medida que o grau de coletivização é
maior. Os principais efeitos benéficos são os seguintes: a)
inibe a divisão social do trabalho e a adoção de práticas não
igualitárias; b) aumenta o grau de comprometimento, coesão
e confiança entre as pessoas associadas; c) e predispõe a uma
maior otimização do processo produtivo. No entanto, e ao
mesmo tempo, existem muitas entidades em que surgem
fragilidades ligadas às competências técnico-profissionais,
especialmente relacionadas à capacidade de gestão. Essas
melhorias e capacidades causadas pela solidariedade
promovem certa «margem de manobra» em relação à
«ditadura do mercado capitalista» (valor de troca); as
capacidades e o bom trabalho gerado pela solidariedade
podem aproximar essas entidades do objetivo de alcançar os
mais altos níveis de satisfação das necessidades humanas
(valor de uso).
Em suma, o fator C indica a complementaridade existente
entre o princípio da cooperação (a «união») e a capacidade de
ser «competente» (o «cumprimento»). O fator trabalho pode
ser levado ao seu pleno desempenho como trabalho
associado na medida em que a própria comunidade de
trabalho funciona como um determinante da racionalidade
econômica. Os princípios da autonomia e da solidariedade
decorrentes do trabalho associado se assim a (em termos
puramente capitalista) «vantagem competitiva» para alcançar
o objetivo de reproduzir a vida (completamente não-
capitalista ou objetivo pós-capitalista).
O progresso da economia social transformadora enfrenta
vários desafios. Assim, em primeiro lugar, a economia social
transformadora coexiste desigualmente com o modo de
221
produção capitalista em um mercado altamente competitivo
e globalizado. Essas experiências são forçadas a lutar por seu
desenvolvimento de acordo com sua lógica em um contexto
muito adverso, marcado pela lógica da acumulação, pelas
regras de troca e pelas políticas econômicas impostas por
uma minoria poderosa. No entanto, a adaptação a um
ambiente tão hostil não melhorará, assumindo estratégias
específicas para as empresas capitalistas. A capacidade de
trabalhar (cumprir) e cooperação (união) são os principais
pontos fortes da economia social transformadora. Como De
Melo Lisboa (2004) aponta para enfrentar esta situação, a
economia social transformadora deve «basear-se em um
processo econômico que é metabolicamente diferente do
capitalista, em um controle genuinamente social sobre os
meios de produção, realizado por indivíduos
cooperativamente associados». Portanto, é muito importante
expandir quantitativamente e melhorar qualitativamente os
recursos da comunidade suscetíveis de se tornar um fator C.
Para converter esses recursos da comunidade em fatores
transformadores, são necessários processos que impliquem
«um desenvolvimento de subjetividade, um processo de
expansão da consciência interpessoal. e social, pelo qual a
comunidade, associação ou grupo humano de qualquer tipo,
desenvolve sua capacidade de iniciativa empreendedora e
descobre o que pode ser feito unindo consciências e
vontades após um projeto compartilhado» (Razeto, 2001, p.
273).
Para que a solidariedade possa emergir uma nova maneira
de fazer economia ou uma racionalidade econômica
alternativa, ela deve ocupar um lugar central no
comportamento econômico. A cooperação, a ajuda mútua
222
ou a solidariedade devem ser inerentes ao modo de satisfazer
as necessidades. Para isso, os agentes devem ser
desenvolvidos para assumir esses princípios em todas as
fases do ciclo econômico (produção, marketing, consumo,
finanças) e, assim, formar um «setor solidário» (nas palavras
de Razeto). Para a integração e conformação de uma
poderosa economia social transformadora, é necessária a
intercooperação entre essas experiências. A capacidade de
cooperação dentro de um agente econômico é necessária
para ir além e avançar nos processos de intercooperação
entre entidades e projetos de economia social
transformadora. O a «União» deve transcender iniciativas
concretas. Trata-se, portanto, de estabelecer alianças
estratégicas entre os agentes do setor, e entre estes e os
sindicatos transformadores, movimentos sociais e políticos,
para avançar na consolidação de uma realidade de economia
social transformadora.
223
5. Habitação, valor de uso e soberania
Valor de uso e valor de troca como contradição: o
exemplo da habitação
David Harvey (2014) estabelece uma série de
contradições do capitalismo. Deles, delimita algumas
orientações e orientações sobre as quais se pode definir uma
alternativa à economia capitalista. Entre eles, o valor
existente entre valor de uso e valor de troca e sua relação
com a habitação é de especial interesse.
Em uma sociedade capitalista, todos os bens comprados
têm um valor de uso e um valor de mudança. A diferença
entre ambas as formas de valor é significativa e, como David
Harvey aponta, na medida em que muitas vezes se
confrontam é uma contradição que pode ocasionalmente
levar a uma crise.
Este autor é baseado no exemplo do valor de uso e do
valor de troca de uma casa. Como valor de uso, oferece
abrigo; É um lugar onde as pessoas podem construir uma
casa e uma vida emocional. O valor de troca, por outro lado,
é determinado pelos custos reais de produção mais o
benefício, o custo do endividamento e o aluguel capitalizado
(preço da terra). O objetivo dos produtores (empresários
construtores) é obter valores de troca e não valores de uso.
224
A criação de valores de uso para os outros é um meio para
esse fim.
A provisão de habitação sob o capitalismo mudou de
uma situação dominada pela busca por valores de uso para
uma em que o primordial é o valor de troca. O valor de uso
da casa tornou-se cada vez mais, primeiro em um meio de
poupar, e depois em um instrumento de especulação para
obter lucros da situação de boom no mercado imobiliário. A
provisão de valores adequados de uso da habitação para a
grande maioria da população é refém desta concepção cada
vez mais arraigada de valor de troca. As conseqüências para
a provisão de moradias adequadas e acessíveis foram
desastrosas para um segmento crescente da população.
Desde a década de 1970 foi imposta a política econômica
neoliberal que o Estado de economias e europeu inibiu as
obrigações de prestação pública em áreas tão diversas como
moradia, saúde, educação, transporte ou serviços públicos, a
fim de abri-los à acumulação privada de capital e à primazia
do valor de troca. Assim, nas últimas décadas, esse tipo de
mudança condicionou radicalmente, em grande parte do
mundo capitalista, a participação do Estado e de outras
administrações menores na provisão pública de moradia.
Essa situação teve consequências específicas na gestão do
valor de troca do valor de uso da contradição.
A crise de 2008 foi uma crise do lado do valor de troca
que negou a cada vez mais pessoas o valor do uso adequado
de uma casa, bem como um padrão de vida decente. O
mesmo acontece na saúde e na educação, à medida que as
considerações de valor de troca dominam cada vez mais a
vida social em vez de aspectos de valor de uso.
225
Soberania e práticas sócio-econômicas
transformadoras
A economia do capitalismo não trabalha para atender às
necessidades das populações. Pelo contrário, beneficia uma
minoria cada vez menor que controla as formas
predominantes de ganhar dinheiro. Esta situação vai contra
uma maioria cada vez maior, que também é cada vez mais
excluída dos processos de tomada de decisão. Para mudar
essa situação, é necessário assumir o controle dos processos
decisórios. Como caminho para um horizonte pós-
capitalista, parece necessário recuperar a soberania,
«entendida como a capacidade de cobrir as necessidades
materiais e espirituais fundamentais para o desenvolvimento
humano, fora do circuito de valorização do capital»
(Delgado, 2018, p.16).
Diante da situação causada pela existência de «pessoas
sem casas e casas sem pessoas», é necessário programar
práticas sócio-econômicas transformadoras. Em princípio,
essa economia social, como foi dito acima, deveria ser
composta de entidades socioeconômicas que colocam os
interesses das pessoas diante daquelas do capital e que
apostam em outras formas de trabalhar (diferentes do
trabalho alienado), de estabelecer a propriedade dos meios
de produção (outros que não propriedade privada) e de
tomar decisões sobre o que é produzido (subordinando o
valor de troca ao valor de uso). Trata-se de criar uma
estrutura e práticas socioeconômicas capazes de redefinir as
formas e meios de produzir, distribuir, financiar e consumir,
com base em categorias radicalmente democráticas e
ecológicas.
226
Em grande medida, a economia social transformadora
será baseada na autonomia do trabalho das pessoas ou na
«soberania do trabalho». Essa autonomia deve ser tecida
coletivamente como a «soberania econômica territorial», bem
como aquela alcançada nas diversas áreas estratégicas de
assunção da capacidade popular de tomada de decisão
(«soberania setorial»).
A soberania pode ser entendida como a capacidade de
decisão popular em várias áreas estratégicas, como habitação,
alimentação, finanças, tecnologia, energia, etc. Neste caso,
faz-se referência à soberania no plural, como soberanias que
devem ser conquistadas, em alguns casos recuperados, pelos
e para os cidadãos, a partir de processos e projetos em
desenvolvimento. Na maioria das soberanias já existe uma
multiplicidade de processos abertos e contínuos, os quais, na
sua prática, propõem uma superação dos valores do
capitalismo.
A soberania residencial
De certas abordagens, a soberania residencial é abordada
como um processo de luta contra um modelo de gestão
neoliberal das cidades e da urbanização capitalista (AA.VV.,
2018). As cidades se tornaram um espaço de negócios e a
geração de ganhos de capital; lugares para investir o
excedente extraído de outros lugares ou setores. Esse
modelo está gerando exclusão social e reflete cenários em
que as desigualdades econômicas são expressas fisicamente,
mas também estruturadas (Harvey, 1979).
A moradia é um elemento essencial para que qualquer
pessoa ou unidade de convivência possa desenvolver seu
projeto de vida nas atuais sociedades ocidentais. É um
227
elemento fundamental para a reprodução da força de
trabalho, satisfazendo as necessidades humanas e um
elemento essencial para a sustentabilidade da vida.
Com o conceito de soberania residencial, o objetivo é
recuperar o valor do uso da moradia e enfatizar o fato social
da moradia, do viver. A soberania residencial não pode ser
deixada para a ação ou reação dos poderes públicos, nem
para a ação do mercado capitalista e a especulação. A
soberania sobre a habitação, que é enquadrada nas estruturas
históricas de propriedade das cidades, só pode ser exercida a
partir de movimentos sociais e cidadãos, de lutas coletivas.
Portanto, a soberania residencial exige que a organização da
população denuncie e exija o direito à moradia, bem como a
geração de práticas transgressivas que propiciem
experiências alternativas que permitam cobrir as
necessidades residenciais da população na prática cotidiana e
na realidade.
Portanto, a soberania residencial é o processo de
apropriação coletiva e transformação da cidade; a expressão
do direito da população à moradia digna e adequada e o
direito de decidir sobre seu próprio sistema de provisão
residencial. Isso coloca as pessoas e suas necessidades
residenciais no centro da produção, distribuição, consumo e
financiamento de residências. Desta forma, as classes
populares participam da elaboração do modelo de provisão
residencial que deseja satisfazer plenamente suas
necessidades residenciais, colocando-as como o objetivo
final da ação. Em suma, a soberania residencial será a
expressão do direito da população a uma moradia decente e
adequada e o direito de decidir sobre seu próprio sistema de
228
provisão residencial para atender às necessidades
habitacionais.
A partir dessas perspectivas que unem economias
transformadoras e soberania residencial, as fundações de um
novo sistema de provisão residencial devem quebrar o mito
da propriedade privada, da terra e da moradia. A função
social da casa própria está acima da propriedade privada. A
propriedade privada deve estar sujeita aos limites do direito
público e à proteção do interesse geral. Habitação deve ser
entendida como um serviço público, e não como um
produto de mercado.
Do ponto de vista da produção, é necessário ter em
mente que a produção de habitação social não precisa
necessariamente envolver novas construções, mas pode ser
geração através da reconversão de usos habitacionais ou
reabilitação de moradias existentes. A geração de habitação
social envolve o desenvolvimento da força de trabalho
treinada para isso. É necessário criar cooperativas de
trabalho e gestores de habitação coletiva de forma agregada e
autogerida. As cláusulas sociais relativas às empresas de
inserção podem ser uma forma de incluir a economia social e
cooperativa como objeto, uma vez que são empresas de
propriedade coletiva e gestão democrática onde o excedente
será reinvestido na comunidade. Por outro lado, as
comunidades cooperativas ou a vizinhança devem estar
envolvidas no processo de planejamento, decisão, produção
e avaliação. Além disso, é necessário promover a cidade
construída em frente à nova construção, ou seja, promover
uma reabilitação respeitosa com a população que já vive,
evitando processos de gentrificação. Nesse sentido, a
administração pública pode promover a autogestão, abrindo
229
mão de lotes, edifícios ou moradias para projetos
comunitários ou cooperativos, o que tem um efeito
multiplicador da ação pública para promover a produção de
um parque habitacional social.
Do ponto de vista da distribuição, é necessário passar da
provisão residencial ao mercado imobiliário, tanto de aluguel
quanto de compra, para sistemas especiais de distribuição de
moradias para atender a emergência e emergência residencial.
Este mecanismo de distribuição pode ser coletado em um
regulamento municipal ou pode ser elevado ao nível de uma
escala autônoma, com obrigações de resultados.
Em relação ao consumo, é necessário ir de compra e
aluguel para valores intermediários de posse baseados na
cessão de uso ou na parceria urbana. Desta forma, os
municípios poderiam tornar-se laboratórios para desenvolver
experiências práticas transformadoras ou, pelo menos, que
ofereçam uma nova oportunidade para o desenvolvimento
de relações sociais de diferentes consumos habitacionais.
Finalmente, o financiamento, se você não quiser que o
direito à habitação esteja nas mãos de bancos especulativos,
deve ser feito através de um banco público ou de
instrumentos financeiros solidários, cooperativos e
autogeridos. Assim, a cooperativa de serviços financeiros
Coop57, está financiando diferentes projetos relacionados à
habitação, como as cooperativas habitacionais em cessão de
uso.
230
6. Conclusões: a transformação da economia
social e o direito a habitação decente
As vilas e cidades de hoje têm séculos de história, de
modo que a realidade transformadora não é imediata,
especialmente quando falamos do setor de construção e
habitação. Agora, diante do discurso de «não há alternativa»,
é necessário oferecer e fazer instrumentos visíveis e
experiências reais que tenham a intenção de difundir uma
nova concepção do fato residencial. A transformação das
bases do sistema de propriedade, produção, distribuição,
consumo e financiamento da habitação são inseparáveis de
um processo de reprodução social que coloca no centro a
satisfação das necessidades residenciais coletivamente da
recuperação do elo social.
Para alcançar o direito à moradia decente, é necessário
avançar em uma economia social transformadora. A
alternativa à economia capitalista deve ser orientada para os
valores de uso e não para os valores de mudança. A
produção deve ser racionalmente organizada para fornecer
os valores de uso necessários para oferecer um nível de vida
material adequado para todas as pessoas. A produção deve
atender a uma demanda baseada em necessidades e
necessidades, e não em poder de compra. Trata-se de
231
assegurar a provisão para todas as pessoas de valores de uso
apropriados (habitação, educação, segurança alimentar, etc.).
A produção deve ser organizada para atender a essas
necessidades sociais. A decommodificação gradual da
satisfação das necessidades básicas é um projeto alcançável a
longo prazo, que é claramente adequado à idéia de que o
impulso básico da atividade econômica deve ser o gozo dos
valores de uso, e não a pretensão perpétua. para aumentar os
valores de troca.
Por outro lado, é necessário neutralizar a capacidade das
pessoas privadas da apropriação da riqueza comum. Um
objetivo imediato é a abolição do poder da propriedade
imobiliária de extrair rendas da imobilidade que controla.
Temos de reduzir a capacidade dos rentistas de negociar
títulos legais em terras e outros imóveis. A terra, os recursos
e o ambiente construído já amortizado devem ser registrados
e gerenciados como propriedade comum das populações que
os utilizam e dependem deles.
A oposição entre propriedade privada e poder estatal é
mudada tanto quanto possível através de regimes de direitos
sobre o comum - com especial ênfase no conhecimento
humano e na terra como os bens mais importantes que
possuímos - cuja criação, gestão e proteção está nas mãos de
assembléias e associações populares.
Em grande medida, o direito à moradia decente requer
uma nova orientação para a produção do mesmo, que não é
o benefício privado e a troca no mercado, mas a satisfação
das necessidades materiais básicas da população e, em Tanto
quanto possível, seus desejos. Neste sentido, a alternativa
deve optar por alguma forma concreta de propriedade dos
232
meios de produção e bens básicos para viver como é a
habitação.
As fundações de um novo sistema de provisão residencial
devem quebrar o mito da propriedade privada, tanto da terra
quanto da moradia. A função social da casa própria está
acima da propriedade privada. Habitação deve ser entendida
como um serviço público, e não como um produto de
mercado. Neste sentido, várias medidas devem ser
promovidas em várias áreas diferentes.
Diante da situação a que a economia capitalista se dedica,
cada dia é mais realista e tem um futuro maior a criação de
cooperativas que visem atender as necessidades habitacionais
da população. Buscar a união voluntária de pessoas que, por
meio da copropriedade e da gestão democrática, se unem
para satisfazer o «direito ao teto».
233
Capítulo 3:
Habitação cooperativa
Marina Lora Chapela
7. Aspectos gerais das cooperativas
habitacionais
Uma cooperativa habitacional é uma associação legal
formada para fornecer aos seus membros, de forma contínua
e segura, o acesso à moradia e espaços complementares. A
organização cooperativa permite que os membros
autopromover, construir, reabilitar, adquirir ou arrendar-,
complexos habitacionais, mantendo ao mesmo tempo
controlo sobre o processo e optimizar os recursos utilizados.
Portanto, projetos mais complexos podem ser enfrentados
do que aqueles que seriam alcançados individualmente, e as
residências são mais acessíveis e de maior qualidade.
organização coletiva facilita a auto-gestão desses conjuntos,
permitindo a sua adaptação às necessidades e expectativas do
grupo e garantir a boa administração e manutenção (Lora,
Solanas e De Manuel, 2015, p. 87).
Cooperativas de habitação estão começando a surgir no
final do século XIX, na Suécia e na Alemanha, tomando a
forma inicialmente das empresas construtoras. Já em 1916,
uma organização de trabalho de grande influência política e
econômica da Suécia, fundou a Sociedade Cooperativa de
Estocolmo, que introduziu o princípio de que marcaria o
movimento de moradia cooperativa que começaria logo
237
depois: para evitar o lucro que eles tinham outras sociedades
a cooperativa iria reter a propriedade do imóvel, dando aos
acionistas o direito de usar a habitação indefinidamente.
A extensão final deste movimento cooperativo ocorre
nos países escandinavos-Suécia, Dinamarca e Finlândia, e da
Alemanha após a Primeira Guerra Mundial, quando enfrenta
escassez de habitação e condições precárias de existência, os
governos relevantes decidiu intervir favor das cooperativas.
No modelo de cooperativa de habitação, que geralmente
tem desenvolvido na Espanha, promoção, uma vez
terminado, a casa individual é transferida para os parceiros.
Com isso, como de costume, é que a cooperativa, não mais
razão de existir, dispor, e, portanto, as casas podem aderir ao
mercado livre. Este tipo de habitação cooperativo não é
considerado por alguns especialistas, como tal (OIT, 1964,
p.163; Solanas, 2016, p.48.).
Por outro lado, modelos de cooperativas de habitação de
posse coletiva, mantido nas mãos de propriedade
cooperativa e gestão da propriedade de forma permanente, a
aquisição de parceiros o direito de uso e aproveitamento da
habitação ocupada enquanto eles são coproprietários
complexo habitacional. Este, assegurando a permanência ea
possível mobilidade residencial, impede a habitação pode ser
vendidas individualmente, e, portanto, eles podem entrar em
processos especulativos.
Além disso, a organização cooperativa fica
permanentemente, permitindo estabelecer espaços e serviços
da comunidade para o benefício dos membros e da
comunidade, permitindo a conservação e manutenção
contínua do edifício e contribui para a criação de uma massa
238
crítica de parceiros cooperativa habitacionais, que podem ser
agrupadas em entidades maiores para defender e reivindicar
seus direitos e necessidades.
Cooperativas habitacionais do tipo integral
Dentro deste modelo, o acesso à moradia é considerado
como um elemento de conexão com o restante daqueles que
intervêm na vida e no desenvolvimento da pessoa,
atendendo a uma concepção de desenvolvimento integral,
onde a habitação se estende ao meio ambiente. circunda-se,
assimilando-se à ideia de habitat, promovendo a cultura
comunitária baseada nos valores da ajuda mútua, igualdade,
equidade e solidariedade, e tornando a democracia
participativa a principal ferramenta para gerir e canalizar
interesses da população.
Como indica a Organização Internacional do Trabalho
(1964, p.163), a experiência mostra que, entre os diferentes
tipos de cooperativas habitacionais, aquela que mais
contribui para criar um espírito cooperativo é aquela em que
a empresa detém a propriedade da propriedade.
reconhecendo parceiros como usuários. Isso implica um
relacionamento permanente entre a cooperativa e os
parceiros e a criação de múltiplos serviços coletivos nos
grupos habitacionais, onde são formadas comunidades
cooperativamente organizadas, com creches, salas e
playgrounds, uma biblioteca, estabelecimentos comerciais,
etc. Estas são as próprias cooperativas habitacionais.
239
Cooperação e a busca pelo desenvolvimento local
alternativo
Por trás da economia Regional do Desenvolvimento
Local Neoliberal paradigma é uma hipótese sobre o sistema
produtivo, que está muito intimamente relacionada com a
descentralização produtiva, que considera o tipo mais
representativo. Neste sentido, para o Desenvolvimento
Local de neoliberal a descentralização produtiva é
principalmente endógena - em oposição a induzida - e dá
origem aos distritos industriais Marshallianos, onde não há
nenhuma relação hierárquica de poder entre
subcontratadores e subcontratados. A realidade contradiz
esta hipótese. Todos os dias são mais relevantes cadeias de
valor global, em que são grandes empresas que controlam a
geração de riqueza e que aparece mais favorecido destes
processos.
Portanto, é necessário promover a colaboração entre as
empresas locais, confiança e solidariedade social, para lidar
com essa relação hierárquica. Pequenas empresas devem
promover relações convivirían onde cooperação e
competição nas relações horizontais.
Ela é colocada ao serviço dos interesses do território os
efeitos externos do sistema produtivo Local. Combina a
aparente independência e autonomia dessas empresas com a
necessária colaboração entre eles. A empresa deve identificar
em seu respectivo agrupamento económico tanto seu
território específico. Empresa não estrelando no solo a luta
competitiva também compete o ambiente territorial e
institucional em que essas empresas são (Alburquerque,
1999).
240
Deve levar em conta, por outro lado, que nem as
empresas nem os territórios são baseados em igualdade de
condições. Há uma competição entre iguais (produtores
independentes e autónomos), como as relações de poder são
muito importantes. Portanto, globalização econômica está a
ser uma ameaça para a maioria dos agentes e territórios
como grandes e poderosos operadores económicos põem
económicas agentes e territórios. Nesta situação devemos
encontrar estratégias com o objetivo de que o potencial de
geração de riqueza está sob o controle dos actores locais.
Elinor Ostrom pensamento pode ser útil na busca de
uma alternativa de Desenvolvimento Local. Em concreto,
dois conceitos desse autor, a autoridade coletiva legítima ou
para a comunidade local e o auto-organizada ação coletiva.
A autoridade coletiva legítima é muito relevante quando
se trata de gerenciar com sucesso os recursos endógenos e
naturais do território. Da mesma forma é a auto-organizado
ação coletiva, ou seja, o fato de que tal poder ou autoridade
não é algo genérica, mas que isso se materializa em acção
estratégica e do dia a dia dos cidadãos e o tecido empresarial
do território, os responsáveis pela política parceiros sociais,
associações, instituições, cooperativas e agentes locais e
sociedade civil em geral.
O coletivo legítimo e auto-organizada ação coletiva
indicou que os membros de uma comunidade local, com
recursos endógenos comuns, têm vantagens na promoção e
gestão dos mesmos e a promoção do desenvolvimento
sócio-económico e do tecido produtivo, porque eles
possuem um conhecimento da terra e as pessoas que ajudá-
los. Este conhecimento leva à elaboração de diretrizes de
ação e regras que são testadas com a experiência e você está
241
depurando em um processo de tentativa e erro, tornar-se um
património da comunidade local, que é lar de uma
inteligência sutil no resolut íon de conflitos e na proposta de
ações e soluções e trazê-lo para explorar efetivamente os
recursos endógenos e suas possibilidades de
desenvolvimento social, produtiva e empreendedora.
Para ser capaz de gerar um tipo de desenvolvimento que
promove os interesses gerais das pessoas que habitam um
território deve produzir mudanças em torno de como é
produzido e como o excedente econômico é distribuído.
Sem tais mudanças, o verdadeiro objectivo vai continuar a
ser a acumulação e o crescimento económico, de acordo
com os interesses particulares dos proprietários do capital,
em cada vez mais estrangeiro e necessário gestão social e
sustentável dos recursos, gestão orientada de acordo com os
interesses do povo do território.
A busca por um desenvolvimento alternativo local exige
uma redefinição das relações sociais e novas formas de
produção e distribuição. Está a desenvolver novas estruturas
e formas de fazer as coisas que são essenciais, destinados a
satisfazer as necessidades das pessoas.
Desenvolvimento local alternativo e economia social
cooperativa
Além de novas atividades produtivas geradoras de riqueza
e de emprego, é necessário ter em conta o tipo de unidade
de produção da empresa, realizar tal atividade. Por falar em
novo modelo produtivo para o desenvolvimento local que
deve, portanto, falamos das unidades básicas do mesmo. Ou
seja, deve ser tida em conta se a empresa ou a unidade
económica da produção de bens e serviços é democrática ou
242
não; Se você tem como objetivo a maximização dos
benefícios ou tem outros objectivos ligados com o território
(social e ambiental); Se você considerar as pessoas como
meros recursos para alcançar um ou como o objetivo final
ou o centro de toda a atividade produtiva.
Existem extremos de ambos os lados do modelo
tradicional de negócios produtivos. Por um lado, o modelo
das transnacionais, o capital do investidor estrangeiro que
gera uma série de externalidades sociais e ambientais e que
cada vez mais estão mais ligados à especulação financeira.
Por outro lado, um modelo desenvolvido por pequenas
empresas locais, com raízes no território. Entre os últimos e
seu grau de raízes territoriais e impacto sobre o bem-estar
das pessoas de um determinado território, passam a ter um
grande impacto dentro de modelos alternativos de entidades
de economia social do desenvolvimento local. A principal
dessas formas é a cooperativa, mas também tem grande
interesse as empresas de inserção, associações ou entidades
sem espírito de lucro, sociedades laborais, etc. Todas estas
fórmulas compõem a economia social e solidária.
Portanto, um novo modelo produtivo útil para o
desenvolvimento local dos territórios como o Euroregion
Alentejo-Algarve-Andaluzia deve levar em conta ou até
mesmo rating como uma ferramenta essencial para a
economia social cooperativa. Um quadro sócio-económico
que persegue uma redefinição das relações sociais e novas
formas de produção, distribuição, financiamento e consumo,
baseado nas democráticas e sustentáveis, social e ecológica.
Cooperativas e outras empresas da economia social
contribuem para o desenvolvimento do município em que
estão situadas. Aqueles que dirigem-los tendem a viver em,
243
bem como seus fornecedores e parceiros; Além disso, os
lucros que circulam no seio da população, e são iniciativas
que ter empatia com os problemas da Comunidade. Essas
entidades, seja na produção, distribuição, consumo ou
Finanças, são organizadas de forma democrática, ou seja,
membros, diretamente ou através de seus representantes,
participarem no processo de tomada de decisão. Prevalece o
princípio de uma pessoa, um voto. Responsabilidade social
significa que é iniciativas enraizada no ambiente, tanto
natural como social, que visam fornecer externalidades
positivas (criação de empregos de qualidade, suporte para
atividades sociais e culturais, etc.) e minimize o negativo
(poluição, outros fechamentos por causa da competição
entre as atividades, etc.).
Parte de cooperativas de uma visão dos objetivos e meios
da economia que não seja a sociedade convencional.
Qualquer tipo de cooperativa tem em comum que os seus
objectivos e seu modo de funcionamento que giram em
torno de pessoas e não o capital.
A cooperativa não é uma mera máquina de gerar dinheiro
ou benefícios, mas uma ferramenta social e econômica ao
mesmo tempo. Aliança Cooperativa Internacional (ACI) define cooperativa da seguinte forma: «uma cooperativa é
uma associação autônoma de pessoas Unidas
voluntariamente para satisfazer suas necessidades e
aspirações económicas, sociais e culturais em comum através
de uma empresa de propriedade conjunta e
democraticamente controlada»3.
3 Declaração da Aliança Cooperativa Internacional sobre Identidade Cooperativa. ACI, 1995.
244
Apesar de formas cooperativas de trabalho na produção
têm sido usadas por muitos povos do planeta desde tempos
imemoriais, não será até a aurora da revolução industrial
quando surge como uma reação à brutalidade das relações de
exploração na fábrica capitalista, à empresa cooperativa
como tal. Ao longo do século XIX, na Europa, muitos
trabalhadores agrupados para produzir, consumir e dado o
dinheiro, resultando no nascimento de cooperativas de
trabalho, consumo e crédito. As cooperativas são empresas
democraticamente gerenciadas pelos seus membros, que são
proprietários iguais do capital da empresa, ao mesmo tempo
como produtores ou destinatários dos bens e serviços
gerados por isto.
As cooperativas desde a sua criação falam de uma nova
moral social, embora às vezes a sua realização tenha sido
capaz de parecer utópica. Moralidade social «União» baseia-
se em uns valores básicos que, de acordo com a declaração
sobre a identidade cooperativa adoptada em Manchester, em
1995, são, por um lado, ajuda mútua, responsabilidade,
democracia, igualdade, a equidade e solidariedade, a
honestidade, transparência e responsabilidade social. O eixo
de todos os valores é a pessoa, que se traduz a soberania do
trabalho sobre o capital. Cooperativa coloca a economia ao
serviço do ser humano, se colega de trabalho, cliente ou
fornecedor, não como um instrumento para atingir o
benefício, mas como um assunto para igualmente legítimos
direitos como ele e titular de interesse, com o concurso de
tudo o que você pode obter benefícios juntos.
Além dos valores, a moral cooperativa se consubstancia
nos seguintes princípios: gestão democrática pelos seus
membros; participação econômica dos sócios; associação
245
voluntária e aberta; autonomia e independência; educação,
formação e informação; cooperação entre cooperativas; (e) o
interesse da comunidade. Os dois primeiros, governação
democrática e participação económica distinguem-la da
empresa convencional.
246
8. O direito à moradia em cooperativas
Depois, abordaremos as diferentes maneiras pelas quais
as cooperativas afirmam o direito à moradia. Para isso,
focalizaremos a atenção nos mecanismos usados para
salvaguardar o valor do uso da moradia contra o valor de
troca, garantir a segurança da permanência, cobrir os
membros em caso de situações adversas e A moradia é
acessível e a replicabilidade do modelo é facilitada para que
possa ser uma opção para segmentos maiores da população.
Tipos de cooperativas habitacionais de acordo com a
posse
Antes de fazer uma abordagem tipológica das cooperativas habitacionais de acordo com o regime de posse, gostaríamos de esclarecer alguns conceitos. Por um lado, é útil distinguir entre o domínio de uma propriedade, com base no que tem sua propriedade -dueño- ea posse, com base na pessoa -tenedor- ou entidade que tem o direito de apreciá-lo e mantê-lo. A posse pode ser de propriedade, coincidindo com o domínio, ou em cessão de uso, arrendamento ou qualqueroutra forma acordada entre as partes.
Por outro lado, também devemos distinguir entre a locação da propriedade como um todo e a posse de cada uma das
247
casas, uma vez que uma e outra podem corresponder a diferentes pessoas ou entidades.
Quando uma cooperativa habitacional é constituída para construir ou reabilitar um complexo habitacional, ela será a proprietária unívoca da duração do processo de promoção. Mas uma vez que as casas estejam acabadas e entregues, há duas opções: ou a propriedade horizontal da propriedade é determinada e cada habitação se torna propriedade de cada um dos parceiros, ou a propriedade é mantida em sua totalidade como propriedade coletiva da propriedade. a cooperativa. Neste último caso, os parceiros pessoas são coproprietários da articulação através da participação na propriedade coletiva, e cada um habita a sua casa sob um título que, dependendo do tipo de cooperativa, pode ser tanto um direito de uso e aproveitamento, como um contrato de aluguel. Este se destina a evitar a especulação com a habitação, como os parceiros, não sendo proprietários, não podem vender. É também uma fórmula que permite manter a organização coletiva para administrar a propriedade e os espaços comunitários e que aposta pela permanência no movimento cooperativo.
Além disso, haveria cooperativas que não promovam ou adquiram a propriedade do imóvel, mas o façam em regime de aluguel, ou cheguem a um acordo para sua gerência interessada com o proprietário. Em ambos os casos, os membros da cooperativa são inquilinos, por sua vez, das habitações que habitam.
Portanto, na prática, diferentes formas de posse são desenvolvidas:
a) As cooperativas de proprietários, que se juntam parapromover e uma vez terminadas as casas, determina-se a propriedade horizontal do todo. Cada membrose torna o dono de um deles.
248
b) Cooperativas de usuários, onde a cooperativa possuio complexo residencial, e os membros ocupam asresidências com o direito de usar e desfrutar, e possuem ações na cooperativa.
c) O cooperativo inquilino, onde a cooperativa tambémé dono do residencial, embora você também podecompartilhar a propriedade com um terceiro entity- emembros têm um contrato de arrendamento com ascooperativas, sendo co-proprietários do imóvel.
d) Cooperativas de gestão de inquilinos, onde ocomplexo habitacional pertence a um terceiro que é entregue à cooperativa para sua gestão durante o tempo e nas condições determinadas por contrato.
Quadro 5. Tipos de cooperativas e posse do complexo habitacional e habitação.
TIPO DE COOPERATIVAS COMPLEXO
HABITACIONAL HABITAÇÕES
Cooperativa de Proprietários Propriedade Horizontal Propriedade individual
Cooperativa de usuários Propriedade coletiva Transferência de uso
Cooperativa de inquilinos Propriedade coletiva Aluguel indeterminado
Cooperativa de gestão de inquilinos
da cooperativa ou da cooperativa + outra entidade
Aluguer
Salvaguardas no quadro jurídico
A regulação dos diferentes tipos de cooperativas de
habitação é estabelecer um quadro de segurança jurídica das
partes e proteger os valores que foram gerados e têm sido
capazes de motivar e condicionar a participação de
diferentes atores sociais, incluindo-se cooperativistas.
249
Como estamos vendo, as modalidades de posse coletiva
são fundamentalmente destinadas a desenvolver a
organização social e a gestão democrática, bem como
defender o valor de uso da habitação. No entanto, essas
instalações também têm seus detratores, que podem aparecer
ambos os governos mais liberais, conservadora ou tribunal
paternalista, que vêem como valores do modelo entrar em
flagrante contradição com o sistema sócio-econômico que
professam, mesmo dentro das próprias cooperativas, em que
alguns membros ao longo do tempo, começam a considerar
seus direitos diminuídos por não poderem dispor da casa
com total liberdade, nem poder se beneficiar do aumento de
seu valor no mercado.
A partir dessas posições, há ocasiões em que toda pressão
possível é exercida para passar para o sistema de propriedade
individual. Por isso, é usual que uma das questões que mais
preocupam na concepção do quadro jurídico sobre as
fórmulas de posse coletiva, é para evitar a divisão horizontal
levando à dissolução do grupo e permite a venda de casas na
livre mercado. Além disso, a fim de evitar a especulação, no
caso das cooperativas de usuários, geralmente são
estabelecidos limites sobre o valor de transferência das
ações.
Por outro lado, quando há ajuda pública destinada a estas
modalidades, que regulamenta especificamente,
estabelecendo o tempo as condições a serem cumpridas
pelas organizações e seus membros, e diferenciando
contexto do acesso ao auxílio à ação de classe, o sob
demanda individual Também as organizações-e de segunda
linha cooperativas em sua tentativa charter- para proteger e
defender os valores e princípios que os leva para organizar
250
coletivamente e definir um quadro comum deve ser
reflectida nos estatutos de cada um dos parceiros.
A regulamentação das cooperativas pode ser determinada
a partir de diferentes níveis, dependendo também do objeto
do regulamento. Por um lado, haveria legislação estabelecida
pelas autoridades públicas; por outro lado, o marco
regulatório referente à organização de segundo grau com a
qual, no caso, a cooperativa pode estar vinculada; e terceiro
seria o conjunto de regras estabelecidas nos próprios
estatutos da cooperativa. Por fim, poderíamos falar sobre
aqueles em que a regulamentação é sobreposta entre vários
desses níveis, de modo que a mudança que se pretende que
seja feita a partir de um deles terá que ter o acordo dos
demais.
Principais aspectos do quadro económico e
financeiro
A promoção de um lar, seja em regime cooperativo ou de
qualquer outra forma, é uma operação que supõe um alto
custo econômico, especialmente quando, de maneira geral, é
permitida a especulação com o valor da terra e isso
multiplica sua preco Qualquer família que não tenha uma
renda alta dificilmente poderá economizar um valor próximo
ao custo total da moradia que você precisa acessar. Se, como
de costume, o grupo promotor não possui recursos
financeiros suficientes, tem a opção de formar uma
cooperativa de gestão de inquilinos e acessar a propriedade
por meio de um contrato de aluguel ou administração
interessada. Mas se o que você pretende é montar um
conjunto sócio-habitacional em uma modalidade que garanta
a permanência indefinidamente, então será necessária a
251
participação de uma instituição de crédito que cubra os
custos da promoção. No entanto, como o montante que é
concedido na hipoteca geralmente não atinge 100% do custo
total, a cooperativa deve contribuir em qualquer caso para o
início da parte restante. O empréstimo é geralmente
devolvido em longo prazo, entre 20 e 30 anos, de modo que
as parcelas mensais a serem pagas não são muito maiores do
que o que seria pago pelo arrendamento da mesma
propriedade.
Ao quantificar o custo total da operação, dois aspectos
principais são considerados: o valor da terra e o custo de
execução da obra, que inclui trabalho e materiais. Além
disso, haveria o montante do benefício do promotor, uma
partida de grande magnitude que muitas vezes chega a
igualar o valor da terra. No entanto, uma das vantagens das
cooperativas habitacionais é que, quando se trata de
autopromoção, esse conceito não aparece.
Acesso a terra
É um dos itens mais importantes e também dos mais
variáveis, pois é de longe o que mais denota os processos
especulativos. A quantidade pode variar entre 15% e 40%
dos custos totais da promoção, principalmente em função da
sua localização, a posse com a qual ela é adquirida, e
mecanismos de proteção que eles desenvolveram
administrações públicas.
Ambos os solos e propriedade podem estar sujeito a
mercado quando se trata de bens livres, cuja titular é uma
pessoa privada ou entidade, ou ter um preço reduzido para
manter uma proporção mais apertada para o custo total da
promoção. Este caso ocorre principalmente quando existe
252
uma intervenção das administrações públicas estabelecendo
reservas e disponibilizando terrenos e edifícios acessíveis
para a promoção de habitação social. Paralelamente, nos
países que alcançaram um grande desenvolvimento, as
maiores cooperativas matrizes vêm a formar suas próprias
reservas fundiárias para a promoção de suas subsidiárias.
Em qualquer caso, a cooperativa pode considerar tanto a
aquisição de uma terra para construir como uma propriedade
a ser reabilitada. Além disso, haveria a opção, ligada
principalmente às cooperativas inquilinas, de acessar uma
propriedade que requer apenas uma intervenção menor ou
que esteja diretamente pronta para entrar.
Também encontramos formas diferentes de acessar a
terra ou a propriedade em termos de posse. Embora a
fórmula mais comum é a propriedade adquire cooperativos,
outras formas de realização em que o suporte original for
manter imóvel e dá a exploração cooperativa, por um
período de tempo também se estendem. Isso pode ser feito
por um direito de superfície, quando a estadia será
prolongada e / ou se intervirá no chão ou a propriedade, ou
através de um contrato de arrendamento ou de gestão, onde
a permanência é mais limitada. Outro modo de acesso, que
não é devido à falta de regulamentação, é o agachamento.
Sob essa alternativa, as pessoas são agrupadas com um duplo
objetivo, o acesso à moradia e a recuperação de prédios
abandonados.
Tipos de financiamento
Existem diferentes tipos de entidades que podem facilitar
o acesso ao crédito e em diferentes modalidades. Nas
cooperativas de usuários e inquilinos, mantendo a
253
propriedade coletiva da propriedade, é muito importante que
a hipoteca também ser coletiva e não sub-rogado para cada
um dos parceiros ou subsidiárias que estes aparecem como
credores. Esta é uma das grandes dificuldades que o grupo é
auto-promotores na obtenção de financiamento, como
entidades geralmente preferem os mutuários que se
encontram dívida individualmente e ser apoiados por bens
pessoais. No entanto, a maioria das cooperativas entender
que hipoteca coletiva é uma garantia para ambos os seus
membros e para o banco, uma vez que as cooperativas
podem acumular fundos para responder a situações
imprevistas. Além disso, a diferença de escala entre uma
pessoa e um banco é grande o suficiente para preferir
agrupados apresentados como a organização coletiva sempre
permite uma resposta mais eficaz e contundente a possíveis
abusos.
Como o prazo para o reembolso dos empréstimos,
geralmente ele tenta ser tão longo quanto possível, de modo
que ao imputar a participação dos parceiros na taxa mensal,
este não exceda 20-30% de sua renda. Quanto mais longo
for o período de retorno, mais coerente será o modelo, uma
vez que o que é pago pelo uso será mais semelhante ao custo
do edifício ao longo da sua vida útil. Mas isto pode ser
alcançado quando, de acordo com o objeto social da
empresa, e para manter um relacionamento constante com
os salários para não ser mais acessível com movimentos de
preços reduzidos dinheiro interesse.
Entidades que fornecem mais adequadamente esse tipo
de financiamento são entidades públicas, porque ao
contrário dos bancos tradicionais, seu objetivo não seria a
obtenção de benefícios econômicos, mas também promover
254
o bem-estar social, neste caso através do acesso a uma
habitação.
Ele também está se tornando mais comum que os bancos
e cooperativas de crédito, conhecidos como bancário ético e
caracterizadas por seu compromisso com a sustentabilidade
social, econômica e ambiental, proporcionar financiamento
às cooperativas de propriedade coletiva.
Além disso, em alguns casos você optar pela fórmula de
empréstimos diretos ou de capital próprio através do qual as
pessoas no ambiente imediato aos membros de cooperativas,
pode emprestar dinheiro para a promoção através da
aquisição de ações da cooperativa.
Ajuda mútuos e outras contribuições e recursos da cooperativa
Independentemente do tipo de financiamento obtido pela
cooperativa, raramente cobrirá o montante total do
investimento econômico necessário. Há certa porcentagem,
geralmente entre 10% a 30% dos custos totais que devem ser
cobertos diretamente entre os membros da cooperativa e
que de alguma forma servem como garantia para a entidade
tomadora. A contribuição pode ser feita em capital, seja pela
poupança prévia dos membros, seja também por ajuda
mútua, através de seu próprio trabalho no canteiro de obras.
A ajuda mútua difere da autoconstrução, na medida em que
todos os parceiros contribuem com o trabalho para o todo,
sem diferenciar qual casa será concedida a quem, até que ela
viva. Eles exigem um projeto adequado tipologicamente e
com um sistema construtivo adaptado para o trabalho não
profissional, embora também tenham a contratação de
professores de construção, pedreiros e outros ofícios que
suportam o trabalho. Você pode trabalhar tanto na
255
construção de uma nova fábrica quanto na reabilitação de
edifícios.
Além disso, é possível tentar reduzir os custos da
promoção, valorizando os próprios recursos de gestão e
confiando em economias de escala, especialmente quando
existem organizações de segunda linha capazes de coordenar
necessidades e recursos comuns. Desta forma, você pode
assumir a gestão completa do trabalho, organizar bancos de
materiais e até desenvolver cooperativas de construção
associadas a cooperativas habitacionais.
Por outro lado, o financiamento com o qual foi contado
para a promoção, geralmente é retornado com os
pagamentos mensais pagos pelos membros da cooperativa.
Além disso, é comum que instalações tenham sido
planejadas para atividades econômicas no complexo
habitacional, a fim de que a renda contribua para reduzir a
dívida.
Em qualquer caso, a parte dos sócios não é inteiramente
destinada ao pagamento da hipoteca, mas uma parte é
reservada para fundos cooperativos, que são uma das
principais ferramentas para garantir a solvência da
cooperativa e seus membros em situações adversas. , assim
como garantir a conservação e a manutenção contínua do
complexo habitacional e, no caso de estar associado a
organizações de segunda linha, apoiar a defesa de interesses
comuns e apoiar a promoção de novos projetos.
256
9. Participação social
Dá-me aquela mão da moça, aquela mão do vizinho, não se esqueça de levantar nossas casas
É o começo e não o fim.3
... desenvolvimento sustentável, se realmente levarmos a sério, implica em primeiro lugar a demanda para reinventar o coletivo (Riechmann, 2006).
Vimos como as experiências de moradia coletiva na posse
coletiva visam recuperar o valor do uso da moradia e evitar a
especulação com o que consideram ser um bem social
necessário. Mas eles também têm em comum a busca pelo
desenvolvimento da organização coletiva e da gestão
democrática, através da participação dos parceiros ao longo
das diferentes fases do processo sócio-habitacional. Trata-se
de responder às suas necessidades pessoais e comunitárias e
melhorar o ambiente que as rodeia, enfrentando o
individualismo e a competência do sistema socioeconômico
em que estão imersos. Como eles declaram da cooperativa
Entrepatios (2017):
«Nós estávamos querendo colocar um monte de pedra e pedra
para toda essa riqueza de idéias, esperanças e sonhos na forma
de uma casa, mas também querendo materializar essa
3Do hino das cooperativas uruguaias de ajuda mútua, de Rubén Olivera.
257
convivência, nosso projeto para mudar as coisas e mostrar isso
do coletivo, a ecologia, o respeito, a solidariedade é conseguida
mais do que pelos maravilhosos bunkers que temos em casa e
que não reproduzem, mas o individualismo do sistema
econômico dominante».
Fases do processo sócio-habitacional
Ao contrário do acesso à moradia por meio da produção
mercantil ou de promoção pública, em que as pessoas
habitualmente atuam como meros consumidores, na
produção social de cooperativas de posse coletiva, os
associados têm a possibilidade de ser protagonistas de seu
próprio processo de produção habitacional. Esse processo
passa por diferentes fases, iniciando com promoção e
integração até o uso. Durante o processo, o grupo aprende a
trabalhar em conjunto e começa a se desenvolver
comunitariamente, de modo que, quando chegam a morar
no complexo residencial que eles mesmos originaram,
puderam adquirir uma série de capacidades de participação e
gestão coletiva. É por isso que, na maioria dos modelos
estudados, o acesso à moradia não é entendido como o
objetivo a alcançar, mas como o início de um projeto de
desenvolvimento sócio-comunitário.
Dependendo do caso, a participação do grupo pode
variar em cada uma das fases do processo, e pode haver
outra entidade que conduza ou compartilhe um desses
espaços. Como vimos, podemos contar com o apoio de
outras organizações sociais e / ou a facilitação das
administrações públicas, o que a torna uma opção acessível
para setores maiores da população e multiplica as chances de
sucesso.
258
Para detalhar as fases do processo habitacional que as
cooperativas seguem, seguiremos Enrique Ortiz na definição
de fases e atividades envolvidas na produção social do
habitat, que, como o próprio autor descreve, é aquele que é
produzido sem fins lucrativos controle de autoprodutores
individuais ou organizados e empresas sociais.
Complementamos a descrição do autor com base no que foi
observado nas diferentes referências analisadas.
Fundamentalmente, distinguiremos cinco fases no
processo de produção sócio-habitacional: a fase de
promoção e integração, na qual o grupo começa a se formar
e o projeto está sendo moldado; a fase de planejamento, que
inclui todas as etapas e procedimentos necessários antes do
início dos trabalhos; a fase de construção, na qual o
complexo residencial é elevado ou reabilitado; a fase de
distribuição, na qual as casas são adjudicadas; e a fase de uso,
em que vivem, aproveita e administra as casas e os restos dos
espaços previstos nos prédios (Ortiz, 2012, p. 43).
Em qualquer caso, não é um processo linear, mas, como
um processo complexo de produção social, responde mais a
um desenvolvimento em espiral, onde as inter-relações entre
os diferentes atores e os diferentes aspectos do projeto
freqüentemente requerem pouco em cada campo para poder
continuar.
O papel dos diferentes agentes sociais
As cooperativas habitacionais alcançam
desenvolvimentos diferentes dependendo do papel
desempenhado por cada ator e das relações que se
estabelecem entre eles. Pensamos que uma intervenção
adequada ocorre quando há participação intersetorial -
259
organizações políticas, técnicas e sociais -, interinstitucional -
dos diferentes níveis e departamentos das administrações
públicas - e interdisciplinar - que aborda de forma
abrangente os diferentes aspectos que essas empresas
implicam. .
No nível estadual, é necessário estabelecer um marco
regulatório e financeiro capaz de proporcionar estabilidade e
segurança, tanto legal quanto econômica, ao projeto. A partir
do nível municipal, as administrações podem trabalhar
diretamente com as organizações sociais e outros agentes
envolvidos, definir conjuntamente as necessidades e
possibilidades sociais e urbanas da localidade, elaborar
propostas e contar com os recursos de planejamento urbano
disponível para facilitar a acesso a terrenos e edifícios
acessíveis e bem localizados.
A população organizada como empresa, pode assumir a
promoção e gestão dos projetos dando continuidade uma
vez que as casas estejam ocupadas.
Para tanto, além da facilitação das administrações
públicas, podem contar com o apoio de organizações de
segunda linha, que acumulam o conhecimento acumulado de
cada experiência para aconselhar o seguinte, defender
interesses comuns perante os demais agentes envolvidos e
reforçar a base política e ideológica do movimento.
Eles também precisam de assistência técnica
interdisciplinar como acompanhamento nos diferentes
aspectos e ao longo do processo, para que tenham as
informações necessárias para tomar as decisões que mais
lhes interessam e sejam treinados para gerenciar seu próprio
projeto sócio-habitacional.
260
Nos últimos anos, algumas experiências que não possuem
financiamento público para a promoção de seus projetos
estão sendo apoiadas por entidades bancárias éticas. Essas
sociedades estão aumentando sua presença no setor e podem
se tornar um agente fundamental para o desenvolvimento
desses modelos, com os quais compartilham os mesmos
princípios e valores em que se baseiam.
É essencial também o trabalho que é feito nos
departamentos de algumas universidades, em que por um
lado os técnicos são treinados para que possam acompanhar
adequadamente essas iniciativas e, por outro, as experiências
em andamento são analisadas e avaliadas, extraindo
conclusões que servem para a melhoria e enriquecimento
dos diferentes modelos e propostas.
Complementarmente, nas experiências e modelos onde se
pretende uma articulação de atores adequados, a definição de
espaços de participação e de mesas de trabalho é muitas
vezes fundamental, onde juntos podem analisar as
necessidades e possibilidades de cada setor, acordar critérios,
elaborar propostas, realizar acompanhamento dos projetos
em andamento e avaliação das medidas adotadas.
261
10. A requalificação da cidade existente
Espaço público e espaços comuns
Serviços e equipamentos comunitários são uma
identidade distinta cooperativas de habitação de posse
coletiva, baseada na organização cooperativa que é contado
desde o início, você pode ter espaços para uso da
comunidade, conforme exigido , confiando no
autogerenciamento para sua manutenção.
É notável nas cooperativas, o uso e boa manutenção de
espaços livres. Quando a terra permite, jardins e pomares
são criados e preservados em excelentes condições. Há
também muitos parques infantis.
Cooperativas normalmente nesses espaços são projetados
e permanecem abertas para o meio ambiente como uma área
de relação de vizinhança e contribuição para a construção da
cidade. A manutenção é assegurada pela organização
cooperativa, que também garante o uso adequado dos
mesmos.
Os espaços comuns podem variar muito em superfície e
programa de usos, dependendo do tamanho, necessidades e
desejos do coletivo.
262
O mínimo que as cooperativas habitacionais são dotadas
é um espaço ou espaço social para as reuniões dos
integrantes e a celebração dos eventos. A partir daí,
dependendo do tamanho da cooperativa, o número de casas,
as necessidades funcionais do grupo ea vontade dos
parceiros de coexistência, continuará superfícies
aumentando, mas poderia ser complementado por um
amplo espectro de espaços para atividades sociais, culturais e
desportivas, a instalações para atividades comerciais e até
mesmo incorporar disposições educacionais e de saúde
quando necessário na área e escala o permitir.
Os espaços comuns são sala polivalente que pode
incorporar uma oficina local e sala de jantar, biblioteca,
ginásio e, mas outros usos, tais como cinemas, salas de
concerto, creches, escolas, clínicas ou outro pode aparecer
função que o grupo decide.
Complementares à habitação espaços comuns permitem
que estes para reduzir seu tamanho em comparação com as
casas habituais porque alguns usos, especialmente os de
eventual caráter, esses lugares podem ser derivados.
Otimizando o uso de recursos
As cooperativas habitacionais podem promover preços
muito inferiores aos do mercado, por um lado, porque a
autopromoção do complexo habitacional, eliminando os
benefícios dos intermediários, reduz os custos de execução e,
por outro lado, porque a autogestão permite o uso recursos
mais eficientes. Isso permite aumentar a qualidade do prédio
em relação a outras promoções que tenham o mesmo
orçamento.
263
Nessa linha, a autopromoção também permite que sejam
tomadas decisões sobre o projeto de construção que,
embora possam implicar em um maior gasto em sua
execução, significará uma grande economia durante a vida
útil do edifício. É o caso do uso de materiais, sistemas
construtivos e instalações que otimizam a eficiência
energética de complexos residenciais. Na mesma direção, a
propriedade coletiva e a organização facilitam a
implementação de sistemas centralizados de instalações ou
produção de energia local que, além de reduzir custos, são
ambientalmente mais sustentáveis.
Por outro lado, o autogerenciamento nos permite
compartilhar recursos que normalmente subutilizamos e /
ou multiplicamos, com as implicações que isso tem em nível
ambiental, econômico e espacial. Em muitas cooperativas, o
uso de ferramentas, lavadoras ou carros é compartilhado,
reduzindo consideravelmente sua proporção em relação ao
número de residências. Também é comum que os quartos
sejam compartilhados, para que nenhum espaço seja perdido
em cada residência para uso eventual.
Além disso, a participação dos usuários no processo de
produção permite que as casas sejam adequadas e acessíveis
às suas possibilidades econômicas. Como resultado, nas
cooperativas não há casa vazia, mas é comum encontrar
longas listas de espera de membros expectantes.
A organização coletiva consolidada também favorece a
conservação e manutenção dos conjuntos habitacionais de
forma permanente.
A possibilidade de trabalhar com a flexibilidade espacial
da habitação, em resposta a mudanças na composição da
264
casa, é complementada em cooperativas, graças à
propriedade e organização coletiva, com a possibilidade de
troca de moradia entre os membros. Dentro de um único
conjunto, você pode acessar uma superfície maior ou menor
de acordo com suas necessidades, ou mudar uma casa de um
andar alto para um térreo quando a idade exigir em edifícios
sem elevadores. Em organizações de segunda linha, que
podem ter cooperativas associadas em diferentes bairros e
em diferentes cidades, os swaps também facilitam a
mobilidade da mão-de-obra.
265
Capítulo 4:
Uma referência internacional
em habitação cooperativa:
Uruguai
Marta Solanas Domínguez
11. Funcionamento geral do atual sistema de
cooperativas habitacionais no Uruguai
Contexto histórico e Lei Nacional da Habitação
(1968-2011)
Pode ser reconhecido na cooperativa uruguaia alguns
elementos sobrepostos ligando com organizações ou
associações com uma pluralidade forte e autonomia, e o
papel decisivo do Estado, tanto na sua promoção e
impedindo o seu desenvolvimento ao longo da história.
O cooperativismo habitacional começa com três
experiências pioneiras na Flórida, Salto e Río Negro,
realizadas desde 1966, com o impulso e assessoramento do
Centro Cooperativista Uruguaio (CCU). Em 1968, foi
aprovada a Lei Nacional da Habitação (Lei 13.728), na qual o
Capítulo X desenvolve e especifica o funcionamento das
Cooperativas Habitacionais. Esta lei também define a função
e composição dos Institutos de Assistência Técnica (IAT); o
Fundo Nacional de Habitação é criado e, em geral, o
desenho institucional da política habitacional é realizado.
No momento em que a Lei 13.728 foi aprovada foi
marcado por um agravamento da crise social, econômica e
política, que começou no trabalho meados de 1950 e as
269
condições econômicas da classe trabalhadora tornaram-se
progressivamente pior. Mobilização social, greves e conflitos
nas ruas aumentaram. No governo, a presidência de J.
Pacheco Areco foi marcado por «medidas de segurança de
emergência» quase constantes (equivalente ao «estado de
exceção», o que lhe permite aprovar leis obviar do
Parlamento).
As condições de acesso (e permanência) à moradia
também haviam piorado. Durante as décadas anteriores, a
população de recursos médios e baixos tinha a capacidade de
pagar para viver de aluguel ou dar o salto para a própria casa.
O imaginário coletivo contém um passado de emigrantes
espanhóis ou italianos que, quando estabilizaram sua
situação, compraram terras que podiam pagar em pequenas
parcelas mensais e nas quais construíam suas casas pouco a
pouco. A cidade de Montevidéu estava crescendo com base
nessas subdivisões feitas por alguns especuladores
conhecidos. Isto significa, além disso, que os bairros
nasceram da autoprodução - em grande autoconstrução
médica - das casas por seus habitantes, que apoiavam uns
aos outros quando necessário.
Os três casos que começaram no interior do país
começaram a ser conhecidos em Montevidéu através da
cobertura da imprensa. Ao mesmo tempo, a CCU estava
trabalhando para disseminar a proposta em diferentes
lugares, inclusive em fábricas diferentes, mesmo meses antes
da aprovação da Lei da Habitação. Assim, a duração do
trabalho de casos-piloto e reforçou a coordenação entre
grupos cooperativos: em maio de 1970, a primeira
cooperativa concluída foi inaugurada, mas a Federação
270
Uruguaia de Cooperativas de Habitação também
apresentado por Assistência Mútua (FUCVAM).
Cooperativas: definição e tipos
«Cooperativas habitacionais são aquelas sociedades que,
regidas pelos princípios do cooperativismo, têm como
objetivo principal proporcionar alojamento adequado e
estável a seus membros, através da construção de moradias
por meio de esforços próprios, ajuda mútua, administração
direta ou contratos com terceiros; e prestar serviços
complementares à habitação» (artigo 114, Lei 13.728).
A partir dessa definição, a lei estabelece diferentes tipos
de cooperativas habitacionais. Uma classificação é feita de
acordo com o modo de posse (cooperativas de usuários ou
proprietários) e outra diferença de acordo com a
contribuição do trabalho ou poupança dos cooperados
(cooperativas de ajuda mútua ou poupança anterior).
Figura 5. Esquema básico de inter-relação e responsabilidades dos atores.
Fonte: elaboração própria.
271
As cooperativas de usuários são aquelas que mantêm a
propriedade coletiva da área construída ao longo do tempo.
A propriedade do complexo construído pertence à
cooperativa.
Cada um dos núcleos familiares fornece um parceiro para
a cooperativa. Cada um desses sócios possui uma certa
quantidade de ações sociais, que serão reembolsadas em caso
de saída da cooperativa (exceto por 10% da cooperativa, em
condições normais). Neste caso, a relação dos habitantes
com a sua habitação é estabelecida através de um contrato de
uso e gozo, sem limite de tempo e que é transferível para os
herdeiros (juntamente com os partidos sociais).
Essas partes sociais são compostas de todas as
contribuições feitas por cada membro para o capital social da
cooperativa: em geral, trata-se das economias liberadas antes
ou durante o trabalho; as horas de ajuda mútua realizadas
durante o trabalho; as taxas contribuíram para a amortização
do empréstimo.
As cooperativas de proprietários são aquelas em que as
casas que se tornam propriedade individual de seus
habitantes uma vez que a construção do complexo
habitacional é concluída.
Cooperativas de poupança anteriores. Os parceiros fazem
a contribuição financeira necessária para cobrir 15% do
custo. Metade desse montante deve ser contribuída antes do
início do trabalho, a outra metade pode ser acumulada
enquanto o trabalho está sendo realizado. Essas cooperativas
podem realizar o trabalho por administração direta, de modo
que todos os procedimentos (compras de materiais,
contratação de trabalhadores, etc.) sejam realizados a partir
272
de sua organização em torno da montagem e das comissões
necessárias.
Cooperativas de ajuda mútua. Os parceiros contribuem
com 15% do custo do trabalho durante a construção do
complexo. Isto implica uma participação obrigatória de 21
horas semanais por núcleo familiar, durante os 24 meses de
duração do trabalho. Referimo-nos a ajuda mútua porque
todas as pessoas contribuem com mão-de-obra para todo o
grupo, sem diferenciar qual moradia será concedida a cada
pessoa até que ela viva.
A lei limita o destino da moradia cooperativa ao seu uso
pelos cooperados, impedindo a possibilidade de locação a
terceiros.
A conexão de cada grupo familiar à sua casa (e à
cooperativa, portanto) é indefinida, o contrato de uso e gozo
é vitalício. Da mesma forma, é herdável.
Financiamento
O financiamento (Nahoum e Vallés, 2011) é resolvido
através da complementação de: empréstimo + subsídio +
contribuição própria:
-Loan: é devolvido em prestações, com certo interesse
que varia e dentro de um período de 25 a 30 anos.
-Subsídio: é uma quantia que não é devolvida; É
contribuído pelo Fundo Nacional de Habitação para que
aqueles que não podem pagar a taxa tenham acesso à
moradia. Pode ser capital, juros ou cota. No caso das
cooperativas, recebe isso para transferi-lo para o parceiro.
273
Contribuição própria: é o que completa o financiamento;
no caso das cooperativas é de 15% e está integrada em
trabalho, poupança, espécies ou uma combinação delas.
O custo global inclui o custo de materiais, terra, mão-de-
obra, custos sociais (previdência das pessoas empregadas no
trabalho) e impostos, das obras das casas, espaços comuns e
infraestrutura interna à propriedade; TAI honorários (entre
7% e 9% do total, dependendo dos serviços contratados);
custos de conexões de serviço, permissões e contribuição
própria.
Embora o custo da terra esteja incluído no valor total do
empréstimo, existe um paradoxo de que o empréstimo não
pode ser solicitado sem a terra.
Acesso a terrenos urbanos
Carteira de terras, Montevidéu (desde 1989)
A partir desse paradoxo, havia bloqueios importantes
para as cooperativas que queriam desenvolver seu projeto.
As ocupações de terras em Montevidéu, em 1989, levaram à
posterior criação da Carteira de Terras Municipais para a
Habitação, com a aprovação do decreto 24654 de 1990.
Assessoria técnica
A Lei de 1968 estabelece no mesmo capítulo a
obrigatoriedade das cooperativas de contratar um IAT e
indica as características dessas equipes de profissionais.
Fundamentalmente, deve ser grupos interdisciplinares e sem
fins lucrativos.
O Instituto deve assessorar a cooperativa ao longo de
todo o seu processo: desde a formação, solicitação de status
274
legal e todos os primeiros passos até a busca de terras, a
realização do projeto arquitetônico e social e, finalmente, a
própria construção. complexo cooperativo.
Na FUCVAM eles apontam as necessidades específicas
de cada um desses momentos.
Durante a formação do grupo, destaca-se a necessidade
da cooperativa em atuar coletivamente e ter conhecimentos
básicos sobre o cooperativismo e seus valores, bem como
questões específicas relacionadas à administração e gestão do
empreendimento cooperativo.
Durante a formulação do projeto e solicitação do
empréstimo destacamos a importância da escolha do terreno
ou edifício onde a cooperativa será desenvolvida, o
conhecimento do contexto, a compreensão dos valores e
interações urbanas do local, enquanto a busca em relação às
necessidades e vontades do grupo, em face do
desenvolvimento de um projeto social a médio e longo
prazo. Também este momento é o de elaboração do
projecto arquitectónico, pelo que é possível esperar do IAT
que coordenem e dinamizem instâncias de desenho
participadas com a montagem.
Federações de cooperativas habitacionais
A lei previa a existência de «cooperativas de pais», que
seriam o germe de novas unidades cooperativas e o lugar, em
suma, de apoio aos novos grupos formados. Essa previsão
estava alinhada com um momento histórico em que os
sindicatos eram fortes e uma das formas mais consolidadas
de agrupar pessoas, de sociabilidade e organização coletiva.
Essas matrizes, de fato, foram formadas nos diferentes
sindicatos (COVIMT, COVIOSE, COVISAG, etc.).
275
Ao longo do tempo, esta função de apoio aos novos
grupos e ao co-aglutinador das cooperativas existentes foi
assumida pela FUCVAM, no caso das cooperativas de ajuda
mútua, e pela FECOVI, no caso das cooperativas, realizadas
por meio de poupança prévia.
A FUCVAM tem presença nacional, com forte presença
em Montevidéu. É organizado com a assembleia geral, que
se reúne pelo menos uma vez por ano. Para a gestão do dia-
a-dia, tem uma Direcção Nacional. Existem comissões de
diferentes tipos (elas têm mudado ao longo do tempo
dependendo das necessidades das cooperativas), destacando-
se a Comissão de Desenvolvimento Social e
Desenvolvimento Cooperativo e as Plenárias (de
cooperativas sem terra, cooperativas no local, etc.).
Um grupo de interesse é o DAT (Technical Advisory
Department), que apoia fundamentalmente as cooperativas
na pré-construção e no trabalho. Os membros do DAT
dinamizam e coordenam essa instância coletiva, atendendo
às consultas e preocupações de cada cooperativa, embora
priorizando que os estágios sejam realizados entre pessoas
que estejam em um estágio semelhante.
Por outro lado, uma das inovações mais recentes é a
ENFORMA Training School, que reúne todas as atividades,
cursos e workshops realizados pela federação para
cooperativas em formação ou outras.
276
12. O projeto cooperativo hoje em dia
Tipo de processo
O tipo de processo que é seguido para formar uma
cooperativa e construir um complexo habitacional tem, em
geral, a seguinte rota:
1. Um grupo de pessoas se encontra (geralmente na
FUCVAM).
2. Eles processam e obtêm status legal: eles são
formalmente uma cooperativa.
3. Eles se registram no Ministério da Habitação.
4. Escolha um IAT.
5. Eles obtêm uma terra no comodato. Aconselhado pelo
IAT; a terra é obtida do contrato FUCVAM / IM ou através
da carteira estadual, CIVIS, por licitação.
6. Eles preparam o projeto arquitetônico e o projeto
social.
7. O projeto é entregue ao MVOTMA (Ministério da
Habitação).
8. A cada 6 meses: sorteio entre cooperativas aceitas.
9. Eles recebem o empréstimo.
277
10. IAT completa e entrega o projeto executivo.
11. Realizar o pré-trabalho: «treinamento».
12. O trabalho começa: ajuda mútua. 24 meses
13. Inauguração: o alojamento é sorteado. HABITAN!
Ao longo do processo, as cooperativas participam dos
diferentes plenários da FUCVAM: cooperativas «sem terra»,
cooperativas «em processo» e cooperativas em construção.
Órgãos de operação, administração e gestão da
cooperativa
A assembleia geral é o espaço em que todos os membros
da cooperativa participam diretamente. É o órgão máximo
de tomada de decisão. Nas cooperativas visitadas, a
frequência com que a assembleia geral é convocada depende
de muitos fatores, especialmente quando a cooperativa está
localizada e se há um objetivo específico que requer
discussão e tomada de decisão relevante.
O Conselho de Administração é composto por um
mínimo de três pessoas (presidência, secretaria, tesouraria).
Ele é responsável pela administração cotidiana da
cooperativa (acompanhamento de contas, cobrança de
recibos, pagamento de salários se houver trabalhadores,
atenção a incidentes ou propostas de parceiros).
Em pequenas cooperativas, elas geralmente assumem a
responsabilidade de resolver os incidentes em relação à
manutenção, patologias leves de edifícios, etc. Em
cooperativas maiores com mais antiguidade, geralmente há
uma Comissão de Manutenção específica.
278
A Comissão Fiscal tem a tarefa de controlar as contas da
cooperativa. Seus membros podem (devem) participar das
reuniões do Conselho de Administração.
A Comissão de Desenvolvimento Cooperativo, conforme
descrito no art. 122, seria responsável por «tudo relacionado
à educação, integração e desenvolvimento cooperativo,
parceiros e terceiros». De certa forma, seria manter o
cooperativismo vivo entre o grupo de habitantes da
cooperativa.
279
13. Casos que ilustram o caminho do
cooperativismo habitacional no Uruguai
Havia um espírito muito forte que você tinha que ajudar esse parceiro
porque juntos eles fariam a revolução (Di Paula, J., 2011).
Bairros cooperativos pioneiros em Montevidéu
O bairro cooperativo conhecido como Zona 3 reúne 7
cooperativas e um total de 839 residências. Assim, é o maior
bairro do país através da modalidade de ajuda mútua. Uma
entidade maior faz parte: o Complexo José Pedro Varela, do
qual também fazem parte a Zona 1 e a Zona 6.
Está localizado no bairro que é conhecido como La Cruz
de Carrasco. O bairro é estruturado por dois tipos de
edifícios: o centro da terra reúne a maior altura e densidade,
com blocos de quatro andares; em torno de casas de dois
andares.
Os dezoito blocos de quatro andares são compostos de
apartamentos, que são acessados através de um núcleo de
circulações. Esses núcleos têm escadarias nas extremidades,
das quais saem galerias para cada andar. Estas galerias
centrais dão acesso aos apartamentos. Existem diferentes
tipos de casas de um a cinco quartos.
280
A sala comunal é chamada «casa comunal». Forma um
edifício que se desenvolve entre térreo, primeiro andar e
porão, onde fica o centro esportivo.
São 40 lojas distribuídas nos andares térreos dos blocos,
na rua principal. A diversidade de tipos de negócios permite
que pessoas residentes sejam amplamente supridas dentro do
bairro.
Contexto
Após a aprovação da Lei da Habitação em 1968 e sua
regulamentação em 1969, os primeiros anos de sua aplicação
foram muito intensos: mais e mais cooperativas estavam
sendo construídas (com um pico no montante de
empréstimos em 1975). A administração da DINAVI
decidiu priorizar as cooperativas de usuários, ao conceder
empréstimos, para que as cooperativas formadas optassem
por esse regime de posse. Uma política urbana de grandes
complexos foi desenvolvida, em parte devido às
características da terra que o DINAVI poderia disponibilizar.
As «Mesas» e as «Zonas» são a maneira pela qual as
cooperativas, com o parecer de seus respectivos IATs (CCU
para as «Mesas», CEDAS no caso das Zonas), respondem ao
desafio de usar essas grandes áreas. Várias cooperativas se
reúnem em cada um dos casos, já que o limite de parceiros
estabelecido na Lei é de 200 por cooperativa e a terra
permitia mais moradias.
As propostas feitas com o parecer do IAT CEDAS foram
projetos com uma intenção clara: construir a «cidade
cooperativa». O Complexo José Pedro Varela (JPV) foi
estruturado em torno de um parque linear, uma continuação
do Parque Rivera existente. As seis zonas que formaram o
281
JPV Set, foram formadas, por sua vez, por diversas
cooperativas cada uma. Essa soma permitiu que grandes
instalações comunitárias que estavam no projeto estivessem
disponíveis ao lado do parque linear. Estes equipamentos
tiveram que ser destinados a diversos usos: esportes,
culturais, educacionais, etc.
Organização interna
Os diferentes modos organizativos implementados
também são interessantes: para a coordenação de sete
cooperativas ao longo do processo, bem como para as
particularidades em sua relação com as diferentes
instituições, uma vez terminada a ditadura.
Existe um elemento singular que marca a evolução do
todo, tanto a nível físico (manutenção, melhorias, etc.) como
na autogestão do bairro. As 839 casas são habitadas
aleatoriamente por pessoas pertencentes às sete
cooperativas. Isto é, as cooperativas sevens não distribuíram
blocos completos e zonearam a vizinhança, mas na mesma
faixa de duplex ou bloco de quatro plantas pode haver
parceiros de todas as cooperativas. Cada cooperativa é
responsável pela manutenção das habitações ocupadas pelos
seus membros, mas a manutenção geral dos blocos, de todos
os elementos comuns (fachadas, escadas, estruturas,
instalações gerais, etc.) corresponde a todos como um todo.
O grande tamanho da terra compartilhada pelas sete
cooperativas significa que o espaço não construído também
é administrado pelas cooperativas: ruas, praças, campo de
futebol, áreas com playgrounds, áreas para idosos, etc.
Durante todo o processo, eles coordenaram com as
outras cooperativas na área em diferentes momentos.
282
Durante o trabalho, eles trabalharam em conjunto com as
cooperativas da Zona 6 para realizar a planta pré-fabricada
que compartilhavam. As três áreas tinham instalações
policlínicas, era uma policlínica conjunta que operava com
diferentes locais.
A relação do bairro com as instituições tendeu a cogestão
em determinadas situações. Em primeiro lugar, quando a
ANEP (a agência responsável pela educação pública) não
tinha recursos e capacidade para construir escolas ou creches
nos novos bairros, foram as cooperativas que os
construíram. Em seguida, a ANEP foi responsável pela
gestão.
Na Zona 3, em diferentes épocas, o bairro cooperativo
contou com o apoio da Intendência para prestar serviço no
centro esportivo da Casa Comunitária. Em geral, consistia
no fato de que a Intendência provia o pessoal para as
oficinas esportivas e as cooperativas asseguravam que
pessoas não cooperativas pudessem participar de suas
instalações.
Fatores externos
Durante a ditadura, o acordo da FUCVAM com a
Associação da Juventude Cristã do Canadá permitiu
atividades do que eles chamavam de desenvolvimento
comunitário.
Num sentido mais amplo, a vizinhança cooperativa
permitiu a ocorrência de certas situações que em outras áreas
seriam mais difíceis de imaginar com sindicatos, associações
estudantis, jornais e mídia, partidos políticos, etc. proibido.
É verdade que as assembleias foram auditadas e que muitos
espaços de reunião dos mais formais não eram espaços
283
segura para expressar opiniões ou se organizar contra a
ditadura. No entanto, a organização deste tipo de atividades
de desenvolvimento comunitário, festivais, etc., poderia ser
um dos poucos espaços para se mover com alguma
confiança.
Outra conseqüência do assédio realizado pelas
autoridades ditatoriais significava que as listas daqueles que
formavam os corpos administrativos eram filtradas: havia
pessoas que não podiam estar lá. Isso implicava que os
jovens, ou aqueles que haviam chegado à cooperativa mais
pela necessidade de moradia do que por uma história de vida
militante, precisavam dar um passo à frente e moldar esses
corpos e assumir responsabilidades.
Ocupações de terra em 1989 para reativar o
movimento: Tacuabé
A cooperativa Tacuabé está localizada no bairro de El
Prado. É composto por 42 membros e suas respectivas
famílias, portanto 42 casas. Eles estão localizados em um
terreno alongado, a cooperativa escolheu uma distribuição
que alinha as casas, em tiras, às bordas longas. Desta forma,
há uma rua pedonal central, que dá as fachadas de todas as
casas.
A tipologia das habitações é habitual nas cooperativas
aconselhadas pelo INVIT IAT. Destacam-se pelo volume
que se destaca na fachada: contém o banheiro a uma altura
intermediária, no patamar da escada. Para o resto, são casas
desenvolvidas em duas alturas, a maioria delas com 2 ou 3
quartos, alguns com 4 quartos.
284
Contexto: Tacuabé, a importância do nome
A FUCVAM participara, no início dos anos 80, nos
espaços de mobilização e organização popular que
acompanhavam o progressivo enfraquecimento do governo
ditatorial e pressionavam para que a nova democracia fosse
formada. Por sua participação nesses espaços e por sua
demonstração de força em 1983, ele se consolidou como um
ator social e político no qual a sociedade mobilizada
confiava.
Em março de 1985, ele assumiu o primeiro governo da
democracia. Diferentes coletivos (FUCVAM e outras
organizações para o direito à moradia) e instituições
(Universidade, Sociedade de Arquitetos), agrupados no
COVIP (Coordenador de Organizações Populares de
Habitação) elaboraram um Plano Nacional de Habitação
Popular.
Assim, em 1985, formaram-se muitos novos grupos de
pessoas que queriam se formalizar como cooperativas e
acessar suas casas por esse caminho. No entanto, os anos
desse primeiro mandato passaram sem apenas novas
cooperativas, nem concederam terras ou empréstimos. No
entanto, Tacuabé foi um desses primeiros grupos.
A espera fez com que a maioria dos grupos se separasse
da FUCVAM. Em 1989, o debate sobre a possibilidade de
ocupação de terras havia sido instalado em algumas
cooperativas e na federação. Foi uma medida forte para uma
organização acostumada a mover-se nos espaços da
legalidade. Ao mesmo tempo, a ocupação da terra estava
intimamente ligada a assentamentos irregulares.
285
Finalmente, a Federação considera que a medida é
necessária: esclarecer objetivos, tipos de terra a ocupar e
duração da medida. Três questões seriam demandadas: a
aprovação de pessoas jurídicas, a concessão de empréstimos
e a criação da Carteira de Terras. Poucos dias após a
primeira ocupação, as cooperativas Tacuabé, 6 de Mayo,
COVICEVI, COVIPASO e COVIDE ocuparam terras
públicas em diferentes partes da cidade.
Além disso, alcançaram um dos objetivos declarados,
com certa velocidade; a criação da Carteira de Terras em
Montevidéu.
A organização interna: a história de Tacuabé, uma
questão de permanecer vivo e tecer alianças
A cooperativa Tacuabé, não sem dificuldades, era uma
das pessoas que podiam permanecer na terra que ocupavam.
Após 12 anos em que se sustentaram, graças à autogestão,
obtiveram o empréstimo em 1997. Após uma das visitas
internacionais, acabaram fazendo um vínculo com a
Alemanha, com o qual obtiveram financiamento para realizar
a fundação antecipadamente. Por outro lado, ligando a
«institucionalidade da área», obtiveram financiamento para
construir o salão comunitário.
Eles terminaram as casas no ano 2000 e durante os anos
seguintes participaram ativamente da Zonal 13 da
FUCVAM. Seu funcionamento é semelhante ao de qualquer
cooperativa: com a assembléia de sócios, a comissão de
desenvolvimento cooperativo, a comissão eleitoral e a fiscal.
286
14. Chaves de cooperativas habitacionais no
Uruguai
Nós com base nas chaves consideradas por Nahoum
(2013) - a organização cooperativa, a ajuda mútua, a
autogestão, gestão, financiamento público, a existência eo
papel de FUCVAM, o conselho técnico, adicionar outras são
fornecidos diretamente pelo FUCVAM -a independência
política, o quadro regulamentar e um quadro jurídico
adequado, o acesso à terra com serviços-, bem como outras
observado a partir de nossos critérios e com um olho na
possível transferência para o nosso contexto territorial e
social.
Autogestão
Por um lado, entendida como gestão directa dos recursos
públicos (empréstimo de construção), feitas por pessoas
'juízes' do produto (nesta habitação caso e espaços
complementares). Parte desse produto estará disponível em
muitos casos para uso por outras pessoas.
A autogestão inclui a administração, uso, gestão,
manutenção, tomada de decisão e implementação dos
mesmos: uma vez já construídos, nos conjuntos
habitacionais e nos bairros cooperativos.
287
Mas também entendemos que a autogestão está presente
no sentido de buscar outros recursos necessários para a
realização do processo e do produto escolhido.
Financiamento Público
O acesso à moradia é um custo difícil para qualquer
pessoa com recursos muito baixos, baixos ou médios. A
existência de banca pública e o acesso ao crédito desta forma
é uma das alternativas com menos efeitos negativos.
Ajuda mútua
Para pessoas com rendimentos mais baixos e menor
capacidade de poupança, a contribuição do trabalho é a
maneira de completar os recursos necessários.
A necessidade de partilhar tarefas, chegar a acordos,
estabelecer critérios mais ou menos flexíveis, dependendo
das características do coletivo, a possibilidade de distribuir
funções, dependendo das capacidades de cada pessoa,
aprendendo a ter lugar, são elementos que contribuem para a
construção do bairro.
A organização cooperativa
A fórmula cooperativa é adaptada ao modo de operação
que temos explicado: democracia direta, objetivo de uso e
sem fins lucrativos, tomada de decisão de assembléia,
educação cooperativa, colaboração, etc.
O regime de posse
A propriedade coletiva significa que a cooperativa
permanece no tempo. Do ponto de vista legal, a apropriação
coletiva, juntamente com o sistema acionário e a
288
impossibilidade de modificar o custo de acordo com os
preços de mercado, também permitem que as reuniões
cooperativas mantidas com financiamento público não
aumentem os preços não controlados.
Em comparação com outros modelos de propriedade
coletiva, neste caso, é a cooperativa que mantém a
autonomia em relação à renovação de membros, contratos
de uso e gozo. Por outro lado, a propriedade coletiva
protege os moradores em situações de conflito e crise
econômica.
O fato de que a propriedade de casas, estabelecimentos
comerciais, instalações sociais e equipamentos pertencem à
cooperativa significa que eles estão em uso, especialmente
no que diz respeito à habitação. Por outro lado, os membros
devem usar sua casa e não podem alugá-la.
O conselho técnico
O grupo interdisciplinar de técnicos seguirá o processo
que será realizado por um grupo de pessoas na conformação
como uma busca cooperativa da terra, a relação com o
governo, o trabalho de projeto do projeto.
Cada caso é diferente e as diferenças também são
detectadas no papel desempenhado pelos institutos em cada
um dos períodos: em qualquer caso, achamos que as
decisões tomadas na reunião são sempre respeitadas.
Acesso a terra com serviços
Carteiras de terras e imóveis (municipais e nacionais) são
fundamentais, pois o custo da terra dificulta enormemente o
acesso a um local da cidade.
289
Projetos Piloto
Podemos considerar diferentes momentos em que novas
propostas foram feitas, que com a forma assimilável a
projetos pilotos, serviram para ativar ou renovar o
cooperativismo: das três primeiras cooperativas pioneiras, os
grandes bairros cooperativos, as ocupações de terra e as
subseqüentes criação da Carteira (FUCVAM e Intendência),
as propostas de reciclagem, inovações em sistemas
construtivos, cooperativas para pessoas de muito baixa renda
(1990, Intendência), enfim, na transferência Sul-Sul a
ferramenta dos projetos-piloto também é utilizada, como
uma forma de os habitantes e as instituições responsáveis
pela habitação verem que o sistema é viável.
Pontos de apoio
Tanto a autoconstrução da moradia, quanto o
cooperativismo e o apoio técnico eram conhecidos pelas
classes trabalhadoras.
Durante as primeiras décadas do século XX, a auto e
ajuda mútua ocorreu de forma espontânea: os bairros
cresceu ligeiramente, com todas as famílias crescendo a
aproximadamente o mesmo tempo e seus habitantes
conhecem uns aos outros antes de vir para habitar o site.
Essa forma de acesso à moradia foi apoiada pela
intendência de Montevidéu a partir de 1941. O município
contribuiu com planos habitacionais populares.
Com relação ao modo de posse, a propriedade coletiva
liga-se à idéia de moradia própria melhor do que o que
poderia ter vinculado a moradia alugada. Não havia muita
tradição de moradia para aluguel no caso de políticas
290
públicas de habitação. Por outro lado, embora os
trabalhadores frequentemente alugassem, nos casos em que
tinham capacidade de comprar a terra e se autoconstruir, eles
o faziam acessando a propriedade.
No que diz respeito às formas coletivas de organização
em 1968, todo o processo de unidade sindical em uma única
central foi recente. As classes populares viviam um alto ciclo
de organização.
Viver antes de viver
O suporte físico construído, ou seja, casas, espaços
coletivos, ruas, equipamentos, etc. aparece depois que todo o
tecido social que a habitar existirá. A cooperativa existe
diante das casas, o bairro existe diante das casas, das ruas,
dos equipamentos.
A existência e o papel da FUCVAM
A FUCVAM contribui com uma série de pontos de apoio
ao grupo de cooperativas que o integram, bem como em
sentido amplo aos movimentos sociais e até instituições.
As cooperativas são aglutinadas, o que permite que novas
cooperativas continuem a ser criadas, para que as que
existem tenham um ponto de encontro para compartilhar as
dificuldades e criar novas propostas e projetos para melhorar
sua situação. Permite mobilizar e realizar advocacia política,
bem como preparar propostas de políticas de habitação.
Independência política
Uma das características da FUCVAM é a sua
independência em relação aos partidos políticos. Na
FUCVAM existem pessoas de todas as tendências
291
ideológicas. É verdade que a FUCVAM tem um número
significativo de membros que estão alinhados com a
esquerda, que participaram do processo pelo qual os
trabalhadores alcançaram a unidade sindical e depois na
unidade da esquerda na Frente Ampla.
A relação dos movimentos sociais com a Frente Ampla
teve que se reajustar já que esta confluência eleitoral obteve
espaços de governo, desde 1990 em Montevidéu, desde 2005
no Uruguai (Castro e Menéndez, 2012).
Acúmulo de história e construção de identidade em
cooperativas e na FUCVAM
A propriedade coletiva das cooperativas faz com que
permaneçam no tempo. Seu agrupamento em torno da
Federação faz com que as cooperativas vão acrescentando
história, a partir de 1965. Isto tem conformado sua
identidade, por um lado. Por outro lado, permitiu acumular
experiências, que foram avaliadas ao longo do tempo, com
as quais existe um conhecimento desenvolvido em torno do
qual foram mais ou menos bem sucedidas, que erros e
sucessos ocorreram em cada caso.
Ligações internacionais
A vocação internacionalista da FUCVAM (apoiada, por
sua vez, pelas conexões internacionais que a CCU teve na
década de 1960), permitiu muitas trocas, com diferentes
resultados de acordo com o momento histórico.
292
O quadro regulamentar e um quadro jurídico
adequado
Apesar de algumas deficiências, o fato de existir a Lei
Nacional de Habitação estabelece uma série de bases sobre
as quais os cooperados podem apoiar suas demandas.
Embora a população organizada esteja ciente de que a
existência da Lei não é um elemento suficiente (de fato,
entre 1985 e 2008 a Lei era, mas não havia recursos
suficientes disponíveis ou uma boa organização
institucional), ela serve como uma ferramenta.
Conjunção de ações dentro e fora do marco legal /
formalidade
Entender o que foi dito sobre o quadro jurídico, a partir
de 1980 e, especialmente, desde a ocupação de terra em
1989, FUCVAM fez uso alternativo de ações dentro e fora
da legislação em vigor, com base na mobilização necessária
para atingir os objectivos.
293
Capítulo 5:
A cooperativa de habitação
em Portugal
José Manuel Betanzos Martín
15. Marco legal, conceito e tipologia das
cooperativas habitacionais em Portugal
Os primeiros regulamentos em cooperativas
A regulação da cooperativa em Portugal começou em
1867, com o que é conhecido como a Lei Basilar do
cooperativismo, que incluiu como característica principal a
raiz associativa e o espírito cooperativo da cooperativa
(Ferreira, 1976). Esta regra foi posteriormente revogada
quando o Código Comercial foi adotado em 1888, que inclui
um capítulo com disposições especiais aplicáveis às
sociedades cooperativas.
O Código Comercial será mantido até a Revolução de 25
de abril de 1974, que derruba o Estado Novo e abre um
novo regime jurídico que envolverá inúmeras reformas na
legislação cooperativa. Como Fajardo (2016, p.4) aponta,
«essas reformas estão consagradas principalmente na
Constituição de 1976 e no Código de Cooperação de 1980».
A constituição da república
Na Constituição da República de Portugal de 1976, as
cooperativas desempenham um papel importante na
economia e na sociedade.
297
A Constituição portuguesa, no seu artigo 82º, distingue
três sectores de propriedade dos meios de produção:
públicos, privados, cooperativos e sociais. A própria
Constituição estabelece que esta última é formada pelos
subsetores da cooperação, comunidade, autogestão e
solidariedade.
Declara que «o Estado estimula e apoia a criação e a
atividade de cooperativas» (art. 85), definindo os benefícios
fiscais das cooperativas, bem como as condições mais
favoráveis para obtenção de crédito e assistência técnica.
Tudo isso reconhecendo que «o Estado apoiará experiências
viáveis de autogestão».
Além disso, o Artigo 61 reconhece «o direito de
estabelecer cooperativas livremente, sempre com base em
princípios cooperativos», e continua a reconhecer o direito à
autogestão. Também estabelece que as cooperativas podem
desenvolver livremente suas atividades e podem ser
agrupadas em sindicatos, federações ou confederações.
Além disso, a Constituição exige cooperativas em
diferentes áreas, como políticas agrícolas (artigos 94 a 95),
educação (artigo 75) e defesa do consumidor (artigo 60). No
caso da habitação, o artigo 65 inclui o dever de «incentivar e
apoiar as iniciativas das comunidades e populações locais,
que tendem a resolver seus problemas de moradia e
incentivar a criação de cooperativas de habitação e
autoconstrução».
A importância dada às cooperativas na Constituição da
República Portuguesa é clara. Nas palavras de Rui
Namorado, nos deparamos com uma «constituição
cooperativa», como resultado da consagração de um
298
fenômeno social estimulado pela Revolução de Abril
(Namorado, 2000, p. 135).
O código cooperativo
Ao contrário do que acontece no Estado espanhol, onde
cada comunidade autônoma é de responsabilidade das
cooperativas, podendo encontrar características específicas
de acordo com cada legislação regional em relação à
legislação cooperativa. Portugal é o mesmo para todo o
território (Carreira, 2002).
A legislação que regulamenta todas as cooperativas em
Portugal é constituída pelo Código das Cooperativas e pelo
Estatuto da Tributação Cooperativa.
O Código de Cooperativas apareceu pela primeira vez em
1980. Após várias reformas em 1995, um novo Código
Cooperativo foi aprovado e, finalmente, em 2015, o atual
Código de Cooperativas foi aprovado pela Lei 119/2015,
pela qual todos Cooperativas são reguladas.
O Código de Cooperativas de 2015 inclui aspectos gerais
do regime jurídico das cooperativas. Entre suas inovações
está a possibilidade de que haja membros que não cooperam,
mas que possam contribuir com a cooperativa com seus
investimentos, são conhecidos como membros investidores.
Além disso, a reforma de 2015 contempla também a
possibilidade de a administração pública participar de
cooperativas, as chamadas cooperativas de interesse público.
Outra inovação importante é reduzir o número mínimo de
membros necessários para estabelecer uma cooperativa de
primeiro grau de cinco para três.
299
Cabe ressaltar que o novo Código Cooperativo, sem
chegar a dois anos após sua aprovação, foi modificado pela
Lei 66/2017. No entanto, sua aprovação refere-se a
pequenas alterações no Código Cooperativo, que são
essencialmente de natureza formal.
Paralelamente ao Código de Cooperativas, desenvolve-se
a legislação setorial, aplicável a determinadas cooperativas de
acordo com seu ramo de atividade. Assim, existem regras
específicas para cooperativas agrícolas, crédito, consumo,
cultura, educação, produção de trabalhadores, serviços,
solidariedade, interesse público.
No caso das cooperativas de habitação e construção,
estas são reguladas pelo Decreto-Lei 502/99. Esta regra de
aplicação exclusiva para cooperativas habitacionais inclui
aspectos gerais do regime jurídico das cooperativas
habitacionais (conceito e natureza, constituição, capital
social, cotas).
Conceito de cooperativa na legislação portuguesa
De acordo com o artigo 2 do Código Cooperativo, e com
base na definição da Aliança Cooperativa Internacional,
«cooperativas são grupos de autônomos, livres de
constituição, capital e composição variável, que através da
cooperação e autoajuda de seus membros, com obediência
aos princípios cooperativos, têm por objeto, sem fins
lucrativos, a satisfação das necessidades e aspirações
econômicas, sociais ou culturais daqueles». As cooperativas,
na «consecução de seus objetivos, podem realizar operações
com terceiros, sem prejuízo de quaisquer limites
estabelecidos pelas leis de cada ramo». Para Fajardo (2016,
p.7), é uma noção apropriada porque «põe a ênfase nos
300
valores e princípios que caracterizam a cooperativa em seu
propósito de servir seus membros em vez da busca do
lucro».
O Artigo 3 complementa a definição de uma cooperativa
listando os princípios sobre a identidade cooperativa
adotados pela Aliança Cooperativa Internacional.
Tipologia de cooperativas habitacionais
Para atingir seus objetivos, as cooperativas podem realizar
qualquer atividade econômica. O Código Cooperativo divide
o setor em doze ramos de atividade (Artigo 4), e entre eles
cooperativas habitacionais e de construção.
Conforme discutido acima, as cooperativas habitacionais
são regulamentadas, além do Código Cooperativo, pela
legislação específica da atividade, este é o Decreto-Lei
502/99, de 19 de setembro, do Regime Jurídico das
Cooperativas Habitacionais . De acordo com este decreto, as
cooperativas habitacionais e de construção têm como
objetivo principal a promoção, construção ou aquisição para
facilitar a moradia de seus membros, bem como sua gestão e
manutenção.
Portanto, as cooperativas habitacionais têm como
principal objetivo construir ou adquirir moradia para seus
membros. No entanto, existem cooperativas que participam
apenas de uma das etapas do processo. Desta forma, existem
cooperativas que se concentram apenas no crédito. Outros
estão envolvidos na construção. Há outros que se dedicam
apenas à urbanização da terra, dando os lotes urbanizados
aos cooperados. Há também outras cooperativas
habitacionais dedicadas exclusivamente à gestão de espaços
habitados e construídos.
301
Os sindicatos de cooperativas habitacionais, as
cooperativas de segundo grau, possuem um grande número
de funções, que vão desde representação social até a
fiscalização de obras, aquisição de terras e promoção de
moradias. Existem sindicatos promotores que visam
essencialmente promover a habitação cooperativa.
As cooperativas habitacionais podem ser classificadas de
acordo com um critério cronológico e o regime de
propriedade.
Cronologicamente, podem ser agrupados em antigas
cooperativas, cooperativas SAAL, cooperativas econômicas
de moradia e cooperativas modernas (Paiva, 1997). As
antigas cooperativas são aquelas que nasceram antes da
Revolução de 1974. A maioria delas não se adequava ao
regime jurídico das cooperativas econômicas habitacionais,
criado em dezembro de 1974. Em geral, essas cooperativas
funcionavam como cooperativas de crédito.
As cooperativas SAAL referem-se às cooperativas que
resultaram da conversão de associações residentes em
cooperativas. A SAAL foi criada em 1974 para apoiar,
através das câmaras municipais, iniciativas da população que
vive em favelas. Seu objetivo era resolver o problema da
moradia, tentando usar a terra disponível nos bairros e,
assim, evitar a segregação residencial dessas populações. O
SAAL, intimamente ligado ao processo revolucionário,
estava operacional até 1976, quando foi extinto, por razões
políticas e financeiras.
As cooperativas de habitação econômica surgem em 1975
com o apoio do Fundo de Fomento da Habitaçao, para a
construção do que seria conhecido como «habitação a
302
preços controlados» e terras geralmente fornecidas pelos
municípios. No início, as cooperativas de habitação
econômica eram voltadas para camadas sociais
desfavorecidas, mas a partir de meados da década de 1980
começaram a atingir camadas sociais mais altas.
A partir de 1982, surgiram cooperativas modernas,
também conhecidas como cooperativas de moradias de alto
nível. Eles foram formados por pequenos grupos de
gerentes de nível médio e superior que adquiriram terras. O
custo de construção, como regra geral, é compartilhado
pelos membros; eles não são financiados pelo INH. Essas
cooperativas estão desconectadas dos princípios da moradia
cooperativa, mas, devido ao seu tamanho, constituem um
grupo importante.
De acordo com o regime de propriedade, as cooperativas
habitacionais podem ser propriedade coletiva ou individual.
No caso de propriedade coletiva, a propriedade é comum
e indivisível. A cooperativa mantém o direito à propriedade
das casas, reservando ao cooperado o direito de uso, ou
estabelecendo com ele um contrato de locação, chamado
arrendamento cooperativo.
A modalidade de propriedade individual é a mais
frequente, pois concede ao cooperado pleno direito sobre a
moradia. Após o pagamento integral do preço da casa à
cooperativa, o sócio pode dispor da casa sem prejuízo do
regime de transferência da casa a preços controlados.
303
16. Evolução do cooperativismo habitacional: da
Cooperativa Popular de Construção Predial
ao cooperativismo após a Revolução de 1974
As origens
O cooperativismo em Portugal vem se desenvolvendo
desde meados do século XIX, quase simultaneamente com
outros países europeus. Em sua origem surge vinculado ao
movimento associativo e mutualista como forma de
organização das classes trabalhadoras. Este movimento foi
crescendo e várias organizações surgiram em defesa de
melhores salários e condições de vida para os trabalhadores.
Em 2 de julho de 1867, foi aprovada a primeira lei das
cooperativas portuguesas, a Lei Basilar. Nesta lei, as
cooperativas são definidas «como associações de pessoas
organizadas para a ajuda e desenvolvimento de sua indústria,
crédito e economia doméstica». Da mesma forma, o artigo
14 inclui a possibilidade de estabelecer cooperativas que
pretendem construir moradias. Nas palavras de Andrade
(1981, p.16) estamos tratando de «associações de classe»,
304
formadas «pelos mais desfavorecidos e cujos princípios são a
solidariedade e a ajuda mútua»4.
Após a publicação da Lei Basilar, o número de
cooperativas aumenta, especialmente nas áreas urbanas de
Lisboa e do Porto. O fenômeno se desenvolveu ao mesmo
tempo em que as cidades cresceram. As primeiras
cooperativas nascem no setor de consumo e indústria,
embora tenham uma duração curta.
Dentro do quadro geral do cooperativismo, o movimento
cooperativo habitacional logo surgirá, desfrutando de uma
longa tradição. Antes da proclamação da primeira República,
no final do século XIX, as primeiras cooperativas
habitacionais foram criadas em Lisboa. Especificamente em
1894 foi fundada a Cooperativa Popular de Construção
Predial e, quatro anos depois, a cooperativa Construtora e
Instrução. Essas cooperativas estão associadas a movimentos
sociais que reivindicam melhores condições de moradia para
famílias trabalhadoras, promovidas por associações de
trabalhadores, sociedades mútuas e sindicatos (Loureiro,
1994). Ou seja, na origem surgem com uma clara vocação de
interesse social. Como Andrade (1981, pp. 11-12) reúne,
surge em «defesa da população que sofreu o capitalismo e a
obsessão pelo lucro».
As cooperativas de habitação em Portugal serão
desenvolvidas ao longo do século XX, apesar dos altos e
baixos nas políticas de apoio às cooperativas pelo Estado, de
4O princípio da solidariedade e da ajuda mútua desaparecerá com o Código
Comercial de 1888, no qual as cooperativas são entendidas apenas como empresas comerciais. Até 1980, com a publicação do Código Cooperativo, a importância dos princípios da solidariedade e da ajuda mútua não será recuperada.
305
importantes dificuldades e limitações (Matos, 2011). Durante
três quartos do século XX, o desenvolvimento de
cooperativas habitacionais ocorrerá especialmente nas áreas
urbanas mais povoadas, Lisboa e Porto, embora também
haja algumas experiências em Braga, Aveiro, Funchal,
Coimbra, Ponta Delgada e outras cidades, e mesmo nas
então colônias de Angola e Moçambique. Algumas dessas
cooperativas são criadas antes de 1974, mas o maior
desenvolvimento do cooperativismo habitacional ocorre a
partir desta data.
As cooperativas habitacionais após a Revolução de
1974
A falta de habitação
Até 1974, a população trabalhadora, tanto na cidade
como no campo, vivia em condições difíceis. Havia um
déficit habitacional, que obrigava as famílias trabalhadoras a
viverem em condições de superlotação, e as casas que
existiam apresentavam grandes deficiências. Preços para
venda ou arrendamento eram muito altos, dada a
especulação apenas 20% da população tinha acesso à
habitação, que teve recursos superiores (FFH, 1979, p. 1).
Em 1974, uma em cada quatro famílias portuguesas não
tinha onde morar. A escassez de moradias em Portugal
ultrapassou meio milhão de moradias, segundo dados do
FFH. Isto foi acompanhado pela chegada da população
retornada das colônias e pelo êxodo rural para as cidades.
Muitas famílias foram se hospedar em favelas, casas em
ruínas ou em ruínas (em partes de casas e quartos para
alugar) e amontoados em alguns bairros mais antigos em
306
cidades do interior, favelas e habitações precárias, com
falta de saneamento e segurança5.
A política de habitação social em Portugal é estabelecida
na década de 1960. O aumento da imigração interna e
urbanização, causado pela demanda de trabalho nas
principais cidades, gerou grandes necessidades habitacionais
a partir dos anos sessenta. Essa demanda será resolvida, a
princípio, por construções ilegais, mas o aumento da
escassez de moradias e o mau estado dos existentes fizeram
com que fosse implementada uma política habitacional que
atendesse às necessidades da população mais carente
(Ferreira, 2013).
Por outro lado, o setor imobiliário estava desenvolvendo
uma atividade especulativa, tanto com terra como com
habitação. Entre 1968 e 1972, o setor imobiliário passou por
um período de ouro por causa da alta demanda por
habitação causada pela aceleração da industrialização e
aumento da renda da pequena nobreza e classe média. As
classes trabalhadoras não puderam acessar moradia decente;
sua participação no setor de construção foi limitada a servir
como mão de obra. Grandes empreendimentos imobiliários
eram dominados pelo capital financeiro. No entanto,
novembro de 1973 marca o início de uma grande crise que
se estende a várias atividades, incluindo a construção. Nesse
contexto de crise, há um rápido aumento na escassez de
moradias para as classes trabalhadoras (FFH, 1979, p.3).
5Segundo o censo de 1970, a maior carência habitacional foi encontrada
nos distritos de Lisboa com mais de 200.000 moradias, Porto com 90.000 moradias, Setúbal com 70.000 moradias, Braga com 30.000 moradias e A Guarda com 13.000 moradias.
307
No final dos anos sessenta e início dos anos setenta, há
um aumento na intervenção do Estado. No setor de
habitação, resultou em extenso desenvolvimento legislativo
em habitação e terra, e na criação de agências estatais
competentes no campo. No entanto, essas medidas só
tiveram aplicação prática após a Revolução de 1974.
As cooperativas habitacionais depois de 25 de abril de 1974
Após ou triunfo da Revolução de 25 de abril de 1974, na
intervenção do Estado de política e reforma habitacional.
Assim, em 1975, ou Ministério do Equipamento Social
anunciou ou Programa de Política de Habitação, que
estabelece quatro formas de resolver ou déficit habitacional
em Portugal. Segundo a fila de Bandeirinha (2007), as linhas
se materializaram em medidas como:
- Promoção direta de cabelo FFH. Sua finalidade foi uma
construção de moradias sociais para locação.
- Promoção cooperativa e associativa através de um novo
regime jurídico do cooperativismo habitacional e do Serviço
Público Ambulatório (SAAL).
- Promoção municipal a preços controlados através de
moradias emprestadas e locais sociais por meio de
promoções compartilhadas.
- Contratos de desenvolvimento habitacional para a
construção de casas a preços controlados.
- E uma recuperação de casas degradadas através de
financiamento subsidiado para proprietários de casas.
Com a Revolução de 1974, o cooperativismo, em geral, se
espalha por todo o país e as cooperativas habitacionais
proliferam. Existentes e novas cooperativas surgiram como
308
Cooperativas de Habitação Econômica «que desempenhou
um papel na solução do déficit habitacional em
Portugal» (Fleming e Magano, 1992, p. 19-20).
As realidades em diferentes regiões desenharam
diferentes cenários e diferentes fases. Pereira (2018)
distingue três etapas principais do movimento cooperativo
após 25 de abril de 1974: uma primeira fase de 1974 a 1979,
uma segunda de 1979 a 1985 e uma terceira de 1985 a 2010.
Primeira etapa: 1974 a 1979
O estágio de expansão do cooperativismo será mais forte
nos primeiros anos após a revolução, graças ao apoio do
Estado. Nessa fase (1974-1979), o Estado concedeu
financiamentos não recuperáveis subsidiados, subsídios
fiscais e acesso a terras públicas. Para isso, eles terão o apoio
legal e técnico do FFH e da FENACHE.
As Cooperativas Habitacionais Econômicas foram criadas
em dezembro de 1974. Essas cooperativas trariam uma
profunda reestruturação do setor (Gomes, 2011). Por um
lado, destina-se ao leasing de natureza social e, por outro
lado, à promoção por empresas de construção,
principalmente para venda a preços limitados. O Estado, por
meio das Cooperativas Habitacionais Econômicas, garantiu
parâmetros de qualidade e o custo de moradia baseado em
regras anti-especulação.
Por outro lado, a SAAL seria responsável pela construção
de moradias para moradores de favelas. A construção de
novas moradias na cidade não estava sujeita a benefícios
privados, mas atendia a um objetivo de classe baseado nas
necessidades dos habitantes. Quando o SAAL se extinguiu e
as operações do SAAL foram integradas nas autoridades
309
locais, algumas comissões de moradores foram
transformadas em cooperativas. As cooperativas
habitacionais existentes e as que estavam a ser criadas foram
fundamentais na resolução do défice habitacional português.
Nesse contexto, uma média de 2.600 residências por ano foi
construída entre 1976 e 1979.
Segunda etapa: 1979 a 1985
No final dos anos setenta, houve várias mudanças
políticas em Portugal; O setor imobiliário foi o primeiro a
sentir isso. Após o primeiro estágio de expansão, nos anos
seguintes, uma segunda etapa é desenvolvida a partir de
1979, na qual há uma desaceleração no desenvolvimento do
cooperativismo habitacional. Assim, há um bloqueio no
financiamento e, em 1982, o FFH fecha, que será substituído
pelo INH, o que faria com que o financiamento de novos
conjuntos habitacionais por cooperativas passasse do Estado
para bancos privados. Essa ruptura do modelo inicial de
acesso ao financiamento reduziu o número de novas
cooperativas estabelecidas.
Por motivos eleitorais, durante o ano de 1980 a
promoção pública e cooperativa foi reativada, utilizando os
projetos de terras e portfólio que aguardavam financiamento
público. Seria um fato cíclico porque, depois daquele ano, a
queda da promoção pública e a do apoio público
continuaram a declinar, estabilizando-se no final da década.
O novo Ministério da Habitação criaria um sistema de
crédito para a aquisição de habitação com juros subsidiados
pelo Estado e longos períodos de pagamento. Isso, tomado
como uma medida complementar às políticas habitacionais,
seria na prática uma alternativa à moradia a um preço
310
controlado, iniciativa pública e colaboração público-privada,
substituindo-as por promoções de preços livres do setor
privado. Os contratos de desenvolvimento do SAAL e da
habitação foram abolidos. Empréstimos para câmaras
municipais e cooperativas diminuíram.
Terceira etapa: 1985 a 2010
Os anos 80 foram marcados pela liberalização das
políticas habitacionais e pela grande instabilidade
institucional.
O FFH desapareceu em 1982. Simultaneamente à sua
extinção, foi criado o Fundo de Apoio ao Investimento em
Habitação (FAIH). No entanto, isso não atenderia aos seus
objetivos e, posteriormente, seria criado o Instituto Nacional
de Habitação (INH) e o Instituto de Gestão e Disposição do
Patrimônio da Habitação do Estado (IGAPHE). Os
primeiros receberiam competências em financiamento,
estudos e aplicação de normas. Para o segundo, as funções
de gestão, alienação e conservação do parque habitacional
seriam atribuídas.
Para autores como Pereira (2018) na década de oitenta,
são estabelecidas regras que expressam claramente a
liberalização do setor. O Decreto-Lei 435/80 reforçaria o
sistema de crédito para a aquisição da casa própria. Durante
esse período, diferentes leis são aprovadas para várias linhas
de crédito destinadas aos municípios para a promoção do
regime de venda de imóveis. Em 1981, através do Decreto-
Lei 148/81, foram introduzidas as primeiras medidas para
relaxar o congelamento de aluguéis, efetivo desde 1948 e
prorrogado em 1974. O aluguel compulsório de casas vazias
também foi eliminado. As locações terminaram em novos
311
contratos, com um sistema progressivo de atualização de
preços para atingir valores de mercado.
Apesar das medidas liberalizantes promovidas, a
produção de moradias não aumentou. Como resultado, a
produção até 1987 foi menor do que na década de 1970.
Somente depois disso houve um aumento significativo na
produção de residências, embora acompanhado por um
aumento acelerado no preço.
Paralelamente nestes anos outras cooperativas voltadas
para as classes média e alta são desenvolvidas. Em 1991, a
demanda por moradia cooperativa por estratos sociais com
maior renda e alta demanda por qualidade já era sentida. O
objetivo desses estratos sociais era evitar o alto custo de
construção e as dificuldades encontradas nas medidas
financeiras. Essa deriva levou a certa ruptura entre os
princípios da habitação a um preço controlado, devido às
ambições desses novos compradores (Fleming e Magano,
1992).
312
17. Situação atual
De acordo com as Contas Satélite da Economia Social
(CSES), elaboradas pelo Instituto Nacional de Estatística, na
sua última edição, o número de cooperativas em Portugal era
de 2,117 em 2013. As cooperativas de habitação estão
estimadas em 314, o que representa 14,8% do setor
cooperativo, perdendo apenas para comércio e serviços
(26,8%) e atividades de transformação (16,7%).
Figura 6. Distribuição setorial do cooperativismo (%). Portugal, 2013.
Fonte: CSES. INE, 2013.
Por territorios, a excepción de Bragança, todos los
distritos cuentan con cooperativas de vivienda. No obstante,
313
la mayoría de ellas se concentran en las dos mayores áreas
urbanas y poblacionales de Portugal, especialmente en
Lisboa. Con datos disponibles para 2009, en Lisboa se
concentran 179 cooperativas de vivienda, lo que representa
casi la mitad del conjunto de la actividad (45,3%). En
Oporto desarrollan su actividad 70 cooperativas de viviendas
(17,7%). En el Algarve y Alentejo se encuentran los
siguientes distritos con mayor presencia del cooperativismo
de vivienda. Destacan los núcleos urbanos y costeros, como
el distrito alentejano de Setúbal con 34 cooperativas (8,6%) y
el distrito de Faro, en el Algarve, con 30 cooperativas de
vivienda (7,6%).
Mapa 1. Cooperativas habitacionais em Portugal (número de cooperativas e percentagem do total). Distritos, 2009.
Fonte: elaboração própria. CSES. INE, 2013.
314
Para o CET-ISCTE (2008a), o movimento cooperativo
distanciou-se dos seus princípios ideológicos iniciais e da
população alvo. Hoje são empresas que pretendem atender
as classes com renda média ou alta, afastando-se de atender a
população de menor renda.
Guerra et al. (2013, p.68) afirma que a década de noventa
é «uma ruptura visível na promoção habitacional do setor
cooperativo». Como resultado, após o primeiro movimento
cooperativo de habitação social, observa-se que a promoção
da moradia cooperativa passa de estratos sociais baixos para
estratos sociais médios. A operação e o acesso a cooperativas
habitacionais mudaram, de cooperativas de moradias
populares a cooperativas habitacionais mais caras, nas quais
os membros devem ter renda mais alta (Barszczak e Cagica,
2007).
Outros autores explicam que as características e a
manutenção dos propósitos ideológicos das cooperativas ao
longo do tempo não são o resultado da crise, mas como um
fato que vinha ocorrendo anos atrás. Como Pereira (2018)
recolhe, citando Baptista Coelho, antes da crise, havia dois
tipos de cooperativas: As cooperativas habitacionais
econômicas, que tiveram objetivos sociais desde o início, e
outros que sempre voltados para a classe média ou media-
alta.
Em 2008, quando o estado de bem-estar social estava em
crise, as soluções neoliberais ganharam terreno. O modelo
organizacional das cooperativas é assimilado «a forma de
gerir empresas privadas, que favorecem interesses individuais
ao longo coletivas» (Pereira, 2018, p. 276).
315
As cooperativas enfrentam uma situação difícil. Mais e
mais pessoas são organizadas em torno de objetivos e
projetos de curto prazo, sem vocação para permanência ao
longo do tempo.
Por outro lado, a posse coletiva tem sido uma figura
pouco usada. As prioridades das políticas habitacionais estão
sendo reorientado, o que condiciona a recomposição do
movimento cooperativo (CET-ISCTE, 2008b, p.81-82).
Carreira (2002) aponta as dificuldades de obtenção de
terras e a falta de financiamento adequado para famílias de
baixa renda como principais causas do posicionamento da
promoção cooperativa para famílias de estratos médios
sociais.
Finalmente, há uma diversificação das atividades das
cooperativas habitacionais. A tendência é «também oferecem
outros serviços, como espaços de gestão em torno de casas,
gestão de equipamentos sociais, cultural, comercial e
desportivo, educação das crianças, serviços para idosos»
(Carreira, 2002, p. 83).
316
18. Como resumo
O movimento cooperativo da habitação em Portugal teve
uma longa jornada desde o final do século XIX, embora o
maior desenvolvimento e extensão tenham ocorrido após a
Revolução de Abril de 1974. Após a Revolução, o Estado
adoptou fortes medidas intervencionistas nas políticas do
país promove o cooperativismo.
Em 1976, foi aprovada a Constituição da República, que
reconhece a importância do cooperativismo e da cooperativa
habitacional como promotor especial. Posteriormente, foi
publicado o Código Cooperativo de 1980, com a
implementação de diferentes programas e medidas que
fizeram com que o número de cooperativas, em geral, e as
cooperativas habitacionais crescessem significativamente.
Quando chegou em 1974, cerca de um quarto da
população vivia com sérios problemas habitacionais e,
especialmente, a renda mais baixa. Esses problemas eram
evidentes: superlotação, moradia antiga, em estado de ruína,
sem condições mínimas de habitabilidade (sem água potável,
sem eletricidade ou saneamento), problemas de segurança e
higiene. As cooperativas de habitação e construção tornam-
se um instrumento básico na política de habitação em
Portugal, como ferramenta para a solução destes problemas.
317
Numerosos programas habitacionais são desenvolvidos para
as classes trabalhadoras, os preços intervêm mediante uma
política de preços controlados, criam-se organismos
específicos para a promoção do cooperativismo habitacional,
estabelece-se uma política fiscal favorável às cooperativas
(redução da taxa do IVA, benefícios fiscais), é lançada uma
carteira de terras para estes desenvolvimentos e boas
condições de financiamento (empréstimos subsidiados) para
as novas cooperativas de habitação.
No entanto, a política estadual de apoio ao
cooperativismo habitacional sofre altos e baixos. Nos anos
80 e 90 a intervenção do Estado diminui com a conseqüente
liberalização do setor, e o cooperativismo perde o impulso
dos anos anteriores. As cooperativas habitacionais perdem
gradualmente o apoio público anterior. Por exemplo, entre
1981 e 1986, o financiamento para novas cooperativas de
habitação foi congelado. Por um lado, as agências de apoio
estatal são substituídas pela promoção de cooperativas
habitacionais. Por outro lado, há dificuldades no acesso a
terras públicas com o consequente aumento de preços, o que
é agravado pela falta de mecanismos (financeiros ou não)
para compartilhar os custos de aquisição da terra. O
aumento no preço da terra aumenta diretamente o preço da
habitação.
Em suma, essas mudanças estão levando à modificação
das classes sociais que buscavam uma solução para suas
necessidades habitacionais na cooperativa habitacional. Se
no início as cooperativas habitacionais eram dirigidas a
pessoas de baixa renda, dos grupos sociais mais
desfavorecidos, elas agora são compostas por pessoas com
renda muito mais alta.
318
Quanto ao regime de posse, embora autores como
Antonio Sergio, defendam que a propriedade coletiva é a
propriedade cooperativa real, esta opção teve uma aceitação
muito limitada, sendo adotada pelas cooperativas que
surgiram a partir do apoio da SAAL e algumas, mas escassas,
outras experiências.
Por isso, a cooperativa de habitação em Portugal
encontra-se numa situação difícil a nível técnico e paradoxal
em termos dos seus princípios e valores. Tecnicamente, as
mudanças nas condições de financiamento oferecidas pelo
Estado e as dificuldades na obtenção de terra (antes que as
câmaras municipais facilitassem o solo a um preço baixo),
provocam a diminuição na promoção de moradias
cooperativas.
Do ponto de vista ideológico, pode-se concluir que as
cooperativas de habitação se afastaram dos princípios e
valores originais e dos grupos populacionais para os quais
foram inicialmente dirigidas (as classes mais desfavorecidas).
Atualmente, encontramos cooperativas que atendem à classe
média, renda média ou alta e, em alguns casos, podem
acessar o mercado livre. O resultado é a substituição das
classes sociais, dependendo da renda, e a distância das
cooperativas da população com menor renda, deixando de
cumprir a função social que tinha em suas origens.
319
Capítulo 6:
Algumas experiências de
habitação cooperativa no
Estado espanhol e na
Andaluzia
Marina Lora Chapela
19. Las cooperativas juveniles de gestión de
vivienda pública en alquiler de Madrid
No final dos anos 60, a habitação precária em que a
população de áreas afastadas sul de Madrid foi desencadeada
uma série de movimentos de bairro que exigiu o direito à
moradia adequada e acesso a outras instalações e serviços
sociais. Com a chegada da democracia, essas lutas
encontraram uma resposta institucional, pondo em marcha
um processo de remodelação de bairros, para o qual
construíram mais de 40 mil casas de promoção pública,
substituindo os barracos e casas de autoconstrução em que
viviam até então famílias trabalhadoras.
No final dos anos 80, a renovação foi quase completa,
mas, em seguida, um novo problema surge: começam a
atingir a idade de emancipação a próxima geração de pessoas
que levaram essas lutas, e novamente encontrados sem
acesso à habitação em as condições certas. Estes eram jovens
com poucos recursos, insolventes para comprar uma casa
em «uma Espanha de proprietários», mas não tão pobres a
ponto de serem elegíveis para moradias públicas. Habitação
abrigada para aluguel, devido à sua escassez, era reservada
para a população mais próxima da exclusão social e também
era geralmente localizada em áreas distantes dos centros
323
urbanos, com pouco acesso a equipamentos e outros
serviços (Roces, 1990; Lora e Solanas, 2013)
Com as vantagens aprendidas na organização coletiva, os
vizinhos consideram dois critérios fundamentais para
enfrentar o problema sócio-habitacional: a importância de
que os jovens também possam ficar em seus bairros e que a
solução permita continuar desenvolvendo-se
comunitariamente. Desta forma, as associações de bairro
lançam uma proposta que é um desafio para ambas as
administrações, assim como para os próprios demandantes
envolvidos: Cooperativas Juvenis para a Gestão de
Habitação Social para Aluguel (Lora e Solanas, 2013)
Mesa intersetorial é então estabelecida, com
representação dos vizinhos, o governo da comunidade de
Madrid e técnicos que haviam sido parte do processo de
distritos de remodelação, em que os termos de modelo de
cogestão que provocaria definido. Sob um contrato de
gestão interessado, as cooperativas formadas pelos jovens de
cada associação seriam responsáveis pela administração de
um grupo residencial de propriedade pública, alocando as
casas entre seus membros em regime de aluguel. Entre suas
funções estava administrar economicamente, colecionar a
renda de morar e estabelecimentos comerciais para entregá-
los ao Instituto de Alojamento da Comunidade de Madrid
(IVIMA).
Para estabelecer o quadro regulamentar e financeiro esta
modalidade está incluída no Plano de Habitação Jovem da
Comunidade de Madrid 1990-1992. Por outro lado, define-se
a demanda estruturada e são estipuladas as condições que as
cooperativas deveriam cumprir para serem homologadas e
acessar o programa como organização coletiva.
324
Dois complexos residenciais foram construídos, um em
Vallecas para três cooperativas e outro em Orcasitas para
um, com um total de 492 residências. A taxa de
inadimplência das cooperativas com o IVIMA foi de 0%, no
momento em que esta entidade teve 40% de inadimplência
no restante do estoque habitacional.
O IVIMA próprio reconheceu «que a gestão desenvolvida
em Vallecas e Orcasur é o melhor na escola, porque não há
cooperativo padrão e obras de conservação e manutenção
em questão» (FRAVM e Covijo, 2004, p. 2).
No entanto, o programa não ficou. Apenas alguns meses
após a ocupação do imóvel, houve uma mudança de
governo e a virada neoliberal da política habitacional foi
acentuada. As cooperativas se tornam uma ação equivocada
e um vácuo institucional é feito. Durante os dez anos do
contrato, a administração não demonstra disposição para
dialogar, nem comparece às revisões pertinentes, as quais,
sendo uma experiência piloto, foram estipuladas para ajustar
os termos do contrato. Após este período, os inquilinos são
oferecidos à compra das casas que viviam a preços muito
vantajosos. Embora a maioria não perca a oportunidade,
alguns parceiros, muito conscientes do valor do público,
decidem continuar com o aluguel. Estes verão suas chances
de permanência vacilar antes da venda de habitação pública
aos fundos abutres, levada a cabo pelo governo da
Comunidade.
Durante anos, várias cooperativas de jovens, tanto em
Madri como em outros lugares da Espanha, e até mesmo o
Instituto da Juventude da Espanha, fizeram e submeteram
325
relatórios6 de viabilidade muito favoráveis sobre o modelo,
alegando que ele será implementado novamente. Até agora
sem sucesso.
6Nos referimos aos seguintes relatórios:
- Cooperativa de Vivienda Joven en Régimen de Alqu Abellugu, S.Coop (1999). Análisis de viabilidad del Cooperativismo de Gestión de Vivienda Pública en la ciudad de Gijón.
- Consejo de la Juventud de España. Estudio sobre la viabilidad del cooperativismo juvenil de gestión de vivienda pública en España.
- FRAVM y Covijo (2004). Las cooperativas juveniles de gestión de vivienda pública en alquiler.
326
20. As experiências de cohousing sênior: a
cooperativa de habitação Los Milagros
As primeiras iniciativas coletivas de cooperação na
Espanha, desde o desaparecimento das experiências que
aconteceram em Madri, têm a ver com o que hoje é
chamado de coabitação sênior. O termo coabitação sênior
ou coabitação de aposentados corresponde, segundo a
associação Jubilares, a:
«Uma comunidade autogerida de idosos vivendo em um
ambiente projetado por eles mesmos. É principalmente um
grupo de pessoas cujo objetivo é envelhecer bem, com
autonomia e dignidade, e que entendem que o melhor
ambiente é uma boa vizinhança. Portanto, a prioridade é a
formação da comunidade, entendida como um grupo capaz de
apoiar-se mutuamente e proporcionar segurança, abordando
coletivamente suas iniciativas vitais ou resolvendo
efetivamente seus conflitos».
É uma alternativa residencial que enfrenta a solidão ou a
falta de autonomia durante a velhice, através de um projeto
residencial autogerido com o qual se pretende atender às
necessidades relacionadas à idade e facilitar um ambiente
relacional e de convivência às expectativas do grupo que a
desenvolve.
327
Adotar a fórmula cooperativa de propriedade coletiva,
pela convicção do valor de uso das casas, pois a autogestão
das mesmas permitirá que elas se mantenham ativas e
porque também as facilita a ter espaços e serviços
comunitários adaptados às necessidades e expectativas que
partilhar.
Cada pessoa ou casal mora em uma casa de cerca de 50
m² construída com sala de estar, uma pequena cozinha
normalmente integrada, um quarto e um grande terraço. Isso
enfrenta a subutilização do espaço que ocorre em muitos
lares de idosos, quando os descendentes deixam a casa e
permanecem na casa da família com várias salas vazias. Mas
também lhes proporciona o espaço necessário para ter a
privacidade que normalmente lhes falta em residências
geriátricas. O espaço privado é complementado com espaços
coletivos de todos os tipos, desde a sala de jantar comum,
onde o almoço diário é opcional, até espaços de atendimento
médico, passando por biblioteca, oficinas, academia, salão de
jogos, piscina e espaços ao ar livre. , que incluem extensas
áreas verdes para a caminhada e pomares. Além disso, o
conjunto inteiro inclusive o alojamento, é projetado para
pessoas com mobilidade reduzida.
Como ainda não existe uma estrutura financeira adequada
no Estado espanhol, cada membro deve entregar o valor
total do direito de uso e das ações correspondentes a sua
casa, antes de entrar. Uma vez lá, uma taxa mensal é paga
pela manutenção e serviços que estão disponíveis. Embora o
custo mensal seja menor do que o de uma residência, é
necessário um grande investimento inicial, de modo que é
necessário ter pelo menos um nível médio de recursos.
328
Nas duas experiências desenvolvidas até agora no Estado
espanhol, os principais obstáculos com que foram
encontrados para a sua implementação foram, por um lado,
o preço exorbitante da terra no mercado livre e, por outro
lado, dificuldades na obtenção de uma hipoteca sobre uma
propriedade coletiva, sem que os parceiros tenham que
responder em conjunto.
O pioneiro foi a cooperativa andaluza Los Milagros, em
Málaga, que começou sua jornada nos anos 70. Era um
pequeno grupo de pessoas na casa dos trinta, que depois de
ter visitado alguns velhos nos antigos asilos, começou buscar
uma alternativa para a velhice em que foram cuidadas, mas
conseguir manter sua autonomia e ter privacidade enquanto
compartilham suas experiências cotidianas.
Com o lema «auto-gerir o seu futuro» começam a
conhecer e moldar o projeto. Um dos aspectos mais
importantes foi a aquisição de terras adequadas, para as quais
eles estabelecem um fundo comum e uma taxa mensal. Eles
procuravam algo próximo de sua cidade e estavam perto de
sua família. Em 1991, eles compram um terreno rústico de
50.000 m², a menos de 3 km de Málaga. Lá eles estão
celebrando alguns eventos até que a Câmara Municipal de
Málaga, considerando o interesse social da proposta, permita
a construção do complexo residencial que havia sido
projetado. As obras começam em 1997 e entram para viver
no ano 2000.
Eles não encontraram um marco regulatório de acordo
com a proposta e acabaram estabelecendo-a como uma
cooperativa de consumidores. Tampouco havia
financiamento adequado, tanto o terreno como o prédio é
financiado com a soma das contribuições de cada um dos
329
parceiros, que alguns podem cobrar com a venda da casa em
que viviam até então. Cada membro tem que pagar um total
d 65.000 € no níc o, com o qua adqu a sua
participação na cooperativa e o direito de usar a sua casa.
Estes são transferíveis e reembolsáveis em 85% do seu valor,
atualizados com o CPI. A mensalidade é utilizada para
s v ços manut nção do todo, m to no d € 1.000 pa a
p ssoas so t as € 1.500 pa a casa s. E s também
receberam doações do Instituto de Desenvolvimento da
Andaluzia e do Ministério do Trabalho e Indústria para
móveis e equipamentos.
A Residencial Santa Clara, que é o nome do complexo, é
composta por 76 casas de 50 m², cada uma com 18 m² de
terraços, mas a superfície chega aos 110 m², se
considerarmos as áreas comuns correspondentes. Estes
espaços incluem sala de jantar, ginásio, várias salas
polivalentes, lavandaria, cabeleireiro, capela e seis salas com
as melhores vistas para as pessoas que estão mais doentes e
necessitam de cuidados médicos.
330
21. As novas iniciativas intergeracionais: a
cooperativa de habitação em transferência de
uso La Borda
Nos últimos anos, outros projetos cooperativos de posse
coletiva também apareceram no Estado espanhol, mas
nesses casos de natureza intergeracional. Com um forte
componente de reivindicação sobre o valor de uso das casas,
elas combinam a propriedade coletiva da propriedade com o
arrendamento das casas aos parceiros. Desta forma, um
montante inicial é pago como capital social, que é
reembolsável no caso de deixar a cooperativa, e
mensalidades para aluguel e, portanto, não pode ser
capitalizado como participações.
Pode Batlló era uma área industrial em desuso ao sul de
Barcelona que desde 1976 era destinada pelo Plano Geral
Metropolitano a área de equipamento, habitação social e área
verde. No entanto, em face da ineficácia da cidade, quando
se trata de realizar os trabalhos necessários, várias
organizações dos bairros vizinhos se uniram em uma
plataforma cidadã para reivindicar a ação municipal. Em
2009 essa plataforma ganha força e já em 2011 envia um
ultimato ao governo da cidade: «Se em junho de 2011 as
máquinas escavadoras não estiverem no site Can Batlló,
331
entraremos e começaremos a construir o espaço público e
equipamentos que precisamos » Pouco antes do prazo, a
Câmara Municipal dá como equipamento aos vizinhos um
dos blocos do site -Bloc11-, que iniciará um processo
participativo para definir os usos e projetos que são
desejados para a área industrial.
Uma das linhas de trabalho desse processo de
participação cidadã corresponde à moradia, da qual surge a
cooperativa habitacional Borda. Eles se configuram como
uma cooperativa em cessão de uso, pois são um modelo que
evita a especulação com moradia e que facilita a
disponibilização de espaços para uso coletivo e
desenvolvimento comunitário.
Figura 7. Esquema de trabalho e atividades da plataforma Can Batlló.
Fuente: La Borda.
Eles reivindicam o envolvimento da administração para o
valor social do projeto, que chegará em 2015 quando a
332
Câmara Municipal der à Borda o direito de superfície a 75
anos no local que foi reivindicado no canteiro Can Batlló
para a construção da propriedade. A candidatura
municipalista conquistada pelo governo local naquele ano
esteve ligada às lutas pelos direitos sociais e pelo direito à
moradia e compartilha os valores com os quais esses tipos de
acesso à moradia são promovidos. Assim, a fim de promover
as cooperativas de habitação em transferência de uso, criou,
em outubro do mesmo ano, o Conselho de Habitação
Cooperativa. Como o Conselho da Cidade explica em seu
comunicado de imprensa7:
«Este projeto responde à vontade do governo municipal de
promover cooperativas habitacionais nas quais as pessoas que
viverão em qualquer caso serão donos das casas que ocupam
ou áreas comunitárias. A posse e gestão dos pisos
permanecerão sempre nas mãos da cooperativa, entidade sem
fins lucrativos e de iniciativa social. Em seus estatutos, esta
cooperativa está empenhada em encontrar habitação decente e
eficiente a um preço acessível para as famílias parceiras, bem
como estabelecer um modelo replicável que permita o acesso
universal a habitação decente através de mecanismos que
colocam o uso, e não a propriedade, no centro da atividade».
A cessão de terras públicas implica que as casas serão
protegidas e que estão ligadas às regulamentações a esse
respeito. Portanto, a renda máxima das pessoas é limitada
para que possam ser membros da cooperativa e a taxa
mensal é equiparada à da moradia protegida para aluguel.
7Disponível em:
http://ajuntament.barcelona.cat/premsa/2015/12/01/lajuntament-lliura-el-primer-solar-en-dret-a-superficie-per-la-construccio-dhabitatge-cooperatiu-de-cessio-dus/
333
O financiamento para a construção é conseguido através
da combinação do crédito do banco ético, contribuído pela
Coop57, com várias possibilidades de empréstimos
participativos, mais as próprias contribuições dos parceiros e
algum subsídio que eles possam receber. O dinheiro
recebido é reembolsado através dos pagamentos mensais dos
associados e da renda do aluguel das instalações comerciais
planejadas no piso térreo e pelos espaços de estacionamento.
As contribuições dos parceiros em termos de renda não são
reembolsáveis e, como uma cooperativa sem fins lucrativos,
todos os excedentes gerados devem ser realizados para
facilitar o acesso à moradia por meio desse modelo.
Conforme explicado pela própria cooperativa La Borda
sobre renda, em seu site:
«Todos eles têm que equilibrar os resultados da cooperativa e,
progressivamente, gerar reservas irreparáveis. Como uma
iniciativa cooperativa e social sem fins lucrativos, a cooperativa
é obrigada por lei a alocar todos os seus excedentes para
favorecer, através do modelo cooperativo de transferência de
uso, a possibilidade de acessar uma moradia decente, eficiente
e acessível».
O projeto do complexo residencial é realizado articulando
a participação dos futuros habitantes, para que suas
necessidades e expectativas pessoais e coletivas sejam
coletadas. Isso é feito através de comissões de trabalho e da
assembléia geral, com o apoio de uma equipe técnica, da
cooperativa La Col, cujos integrantes são integrados na
cooperativa como usuários.
O complexo residencial é composto por 28 casas
independentes e uma grande diversidade de espaços
compartilhados para reforçar o desenvolvimento
334
comunitário, sala de jantar e sala de estar, espaço para
hóspedes, espaço polivalente, saúde e cuidado,
estacionamento para bicicletas, arrecadações e ferramentas
eobjetos compartilhados. As casas são projetadas com
critérios de flexibilidade e estrutura modular, com o objetivo
de que possam crescer facilmente e se adaptar às mudanças
vitais das unidades de convivência. Além disso, todo o
edifício é projetado com critérios bioclimáticos, tanto no
projeto, como no uso de energia renovável, na reutilização
de recursos ou no gerenciamento e uso de recursos e
instalações de maneira compartilhada.
Em 17 de fevereiro de 2017, eles colocaram a primeira
pedra do início das obras e, desde o início de 2019, já
habitam as casas.
Para continuar com este modelo habitacional, a Câmara
Municipal de Barcelona subseqüentemente concedeu terras a
seis novas cooperativas habitacionais em cessão de uso.
335
Conclusões
O direito à moradia é o direito econômico, social e
cultural à moradia decente e adequada. Isso se reflete em
numerosas constituições nacionais e na Declaração Universal
dos Direitos Humanos. A moradia é uma necessidade básica
e um direito de todas as pessoas. Além das quatro paredes e
de um telhado que abriga uma casa, a moradia é um fator
determinante para o desenvolvimento digno da vida.
Garantir o direito à moradia adequada é essencial para se
qualificar para um desenvolvimento normalizado da vida.
No entanto, no capitalismo, a habitação é uma
mercadoria. Tudo o que pode gerar lucro será
comercializado e se tornará uma oportunidade de negócio,
mesmo que seja algo essencial para o bem-estar e a
dignidade das pessoas como lar.
O acesso à habitação é principalmente através do
mercado livre, sendo um setor baseado em especulação e
lucro que coloca os preços de aluguel e venda fora do
alcance de muitas pessoas; nem todo mundo tem um lugar no
«livre mercado». É bem conhecido que os mercados não são
distribuidores equitativos de bens básicos ou direitos sociais,
nem estão no setor da habitação.
Soma-se a isso a insuficiência de políticas públicas de
habitação para corrigir os efeitos negativos que «as mãos invisíveis do mercado» provocam. E ainda mais, às vezes eles
têm incentivado, apoiado e reforçado.
A via de acesso à habitação predominante no Estado
espanhol e na República Portuguesa, e mais especificamente
nos territórios do Algarve, Alentejo e Andaluzia, é através da
compra, na maior parte das vezes indo para o mercado, o
que gera desigualdades no referido acesso a um direito tão
339
necessário quanto o da habitação. Agora, existem
alternativas para esse modelo? O cooperativismo
habitacional representa uma alternativa.
D ant do d scu so d «não há a t nat vas», d monst a-
se que existem experiências reais que compreendem o fato
residencial como a satisfação das necessidades básicas do
povo («d to ao t to»), d fo ma co t va, co ocando ênfas
no fato social de viver, enquadrado em um processo social,
político e econômico centrado nas pessoas e na vida.
Mas, para alcançar o direito à moradia decente, é
necessário avançar em uma economia social transformadora.
A alternativa envolve necessariamente a priorização dos
valores de uso e não os valores de mudança. A produção de
habitação deve atender a uma demanda baseada na escassez
de moradias e não no poder de compra. A produção é
necessária com base na satisfação das necessidades básicas
da população e não no benefício privado, deixando de lado a
propriedade individual e privada, a terra e a moradia, a
propriedade coletiva e a gestão democrática de bens comum.
Não só é um modelo teórico, existem experiências
práticas que invertem os fundamentos do modelo
estabelecido de acesso e uso da habitação. As cooperativas
de habitação provaram ser um sistema eficaz para facilitar o
acesso a habitações decentes e acessíveis.
Contudo, no Estado espanhol e na República Portuguesa,
e mais especificamente na Andaluzia, no Algarve e no
Alentejo, as tradicionais cooperativas de habitação, apesar da
sua longa tradição (desde finais do século XIX e início do
século XX), nem sempre representaram adequadamente os
princípios da economia social e transformadora no campo
340
da habitação. A esta situação une-se-lhe que em não poucos
casos o movimento cooperativo se afastou progressivamente
de seus princípios fundadores e das populações às que
inicialmente se dirigia.
Na grande maioria das cooperativas, a propriedade é
dividida assim que a promoção é concluída, as unidades de
coabitação se tornam proprietárias de suas casas e a
cooperativa é geralmente dissolvida. Esse modelo muito
difundido, por exemplo, na promoção de moradias
oficialmente protegidas, visa reduzir os custos da promoção,
mas não há outras características cooperativas: não há
propriedade coletiva, e é muito comum as casas acabarem
circulando no mercado livre.
Diante desse modelo de cooperativas, que alguns autores
chamam de cooperativas de promoção habitacional (La Col
e La Ciutat Invisible, 2018, p.14), as cooperativas em cessão
de uso, têm sido e são capazes de promover moradias
populares, capazes de satisfazer as necessidades básicas da
população. Esses projetos mantêm a natureza social da
moradia ao longo do tempo, principalmente por meio da
propriedade coletiva e do direito de uso. Este modelo de
cooperativas são aquelas que podem ser consideradas
verdadeiras cooperativas, mais próximas do que se entende
por cooperativas habitacionais em muitos países e os
princípios do cooperativismo (adesão aberta e voluntária,
gestão democrática, participação econômica, autonomia e
independência, educação e informação, cooperação entre
cooperativas, compromisso com a comunidade). Essas
cooperativas mantêm a propriedade e a gestão ao longo do
tempo (a cooperativa não desaparece quando as chaves são
entregues a cada unidade familiar) porque entendem que o
341
importante é garantir o valor do uso da casa em relação ao
seu valor de troca. Ou seja, sua função como lar é a
prioridade e não seu valor de troca no mercado. Nestes
casos, a propriedade é coletiva, indivisível e você não pode
obter um benefício econômico com ela. Desta forma, a casa
é removida do mercado especulativo.
Em suma, trata-se de passar da competição à cooperação,
da propriedade individual à propriedade coletiva e priorizar
o valor do uso sobre o valor de troca. Isso requer entender a
habitação como um serviço público, que cobre uma
necessidade básica, não como um produto de mercado. E
somente a partir da economia social transformadora e da
esfera do cooperativismo habitacional, especialmente a do
arrendamento coletivo e da cessão de uso, será possível
satisfazer o direito à moradia decente, e isso não será mais
uma mercadoria, um meio de obter lucro, para se tornar o
lugar onde você pode desenvolver uma vida em
comunidade.
342
Bibliografía
AA.VV. (2018). Soberanías. Una propuesta con el capitalismo. Zambra/Baladre.
Andrade, I.R. (1981). Cooperativismo em Portugal (das origens à actualidade). Instituto António Sérgio do Sector Cooperativo.
Bandeirinha, J.A. (2007). O Processo SAAL e a Arquitectura no 25 de Abril de 1974. Coimbra: Imprensa da Universidade.
Barszczak. B. y Cagica, M. (2007). Housing cooperatives in Portugal - the end of social purposes? REVESCO, Revista de Estudios Cooperativos, Nº 91, 34-59.
Bassett, K. y Short, J. (1980). Housing and Residential Structure: Alternative Approaches. (1981). Capital & Class, 5(1), 154–160.
Boelhouwer. P. y Heijden, H. (1994). Social Housing in Western Europe in the Nineties. Netherlands journal of housing and the built environment, 1994, Volume 9, Number 4, p. 331.
Carreira, G. (2002). Las sociedades cooperativas de vivienda y construcción. El caso portugés. REVESCO, Revista de Estudios Cooperativos. Nº76, 75-87.
Castro, D., Menéndez, M., Fry, M. (2012). Desafíos para pensar los movimientos sociales uruguayos: FUCVAM y sus estrategias de formación en la era progresista. Contrapunto, nº1, 33-52.
CET-ISCTE (2008a). Contributos para o plano estratégico de habitação 2008/2013, Sumário Executivo.
CET-ISCTE (2008b). Contributos para o plano estratégico de habitação 2008/2013, Relatório 2, Políticas de Habitação.
Cortés, L. (1995). La cuestión residencial. Bases para una sociología del habitar. Madrid: Editorial Fundamentos.
Cortés, L. y Martínez, C. (2009). Los hogares jóvenes ante los retos de la independencia: el filo de la exclusión. En
343
Observatorio joven de la vivienda en España (OBJOVI), Consejo de la Juventud de la Juventud en España.
D M o sboa, A. (2004). “T c s cto ”. En Cattani, A. (org.): La Otra Economía. Buenos Aires. Fundación OSDE.
Díaz, V. J. (2008). Participación ciudadana y vivienda. El programa de autoconstrucción de la Junta de Andalucía (1988-2007) (Tesis Doctoral). Universidad de Las Palmas de Gran Canaria.
Draibe, S. y Riesco, M. (2006). Estado de bienestar, desarrollo económico y ciudadanía: algunas lecciones de la literatura contemporánea. Serie Estudios y Perspectivas, n º 55, Mexico D.F: CEPAL.
Echaves, A. (2017). Emancipación residencial y sistema de provisión de vivienda: la heterogeneidad autonómica del modelo español. Revista Española de Investigaciones Sociológicas, 159, 51- 7.
Echaves, A. y Navarro, C.J. (2018). Regímenes de provisión de vivienda y emancipación residencial: análisis del esfuerzo público en vivienda en España y efecto en las oportunidades de emancipación desde una perspectiva autonómica comparada, Política y Sociedad, 55(2), 615-638.
Entrepatios (2017). Entre patios ya tiene suelo para sembrar sus semillas. Recuperado de https://entrepatios.org/2017/01/26/entrepatios-ya-tiene-suelo-para-plantar-sus-semillas/
Esping-Andersen, G. (1990).The Three Worlds of Welfare Capitalism. Cambridge: Polity Press.
Fajardo, G. (2016). La legislación cooperativa portuguesa y su reforma de 2015. CIRIEC - España. Revista jurídica de economía social y cooperativa, 45-96.
Ferreira, A. F., (1979). Cooperativas de Habitação em Portugal. Lisboa: Fundo de Fomento da Habitação.
Ferreira, A.F. (2013). Anos de 1970-1980: do Fundo de Fomento da Habitação ao Instituto Nacional de Habitação. En Portas N. (coord.) Habitação para o maior número, Portugal os anos de
344
1950-1980. Instituto da Reabilitação Urbana e Câmara Municipal de Lisboa.
Flaquer, L. (2002). Familia y Estado de bienestar en la Europa del sur. En Flaquer, L. (ed.) Políticas familiares en la Unión Europea, 173-208. Barcelona: Institut de Ciencies Politiques i Socials.
Fleming, A., y Magano, O. (eds.) (1992). Habitação Cooperativa em Portugal: 1974 -1991. Lisboa: FENACHE.
FRAVM y Covijo. (2004). Las cooperativas juveniles de gestión de vivienda pública en alquiler.
Gaviria, S. (2007). Juventud y familia en Francia y en España. Colección Monografías nº 234. Madrid: Centro de Investigaciones Sociológicas (CIS).
Gomes Fernandes, J. (2011). Lógicas de produção habitacional e morfologia da cidade do Porto: movimento cooperativo de habitação paradigma de uma nova cultura urbana um discurso crítico. Universidade Técnica de Lisboa.
Guadalupi, C. (2011). Dinámicas espaciales de los sistemas residenciales del sur de Europa. Papers de Demografía, 392, 1-72.
Guerra, P., Loureiro, F., Sá Marques, T., y Santos, M. (2013). As cooperativas e as modalidades contemporâneas de direito à cidade. Cooperativismo e economía social, Nº 35, 67-90.
Haffner, M.; J. Hoekstra, M. Oxley y H. Van Der Heijden (2009). Bridging the gap between social and market rented housing in six European countries? Housing and Urban Policy Studies, nº33.
Harloe, M. (1995). The People’s Home: social rented housing in Europe and America. Blackwell, Oxford
Harvey, D. (1979). Urbanismo y desigualdad social. Madrid: Siglo XXI.
Harvey, D. 2014. Diecisiete contradicciones y el fin del capitalismo. Madrid: Traficantes de Sueños.
INJUVE (2016). Informe de juventud en España. Madrid: Observatorio de la Juventud de España.
345
Jurado, T. (2006). El creciente dinamismo familiar frente a la inflexibilidad del modelo de vivienda español. Cuadernos de Información Económica, 193, 117-126
Kemeny, J. (1995). From Public Housing to the Social Market, London: Routledge.
La Col y La Ciutat Invisible (2018). Habitar en comunidad. La vivienda cooperativa en cesión de uso. Madrid: Catarata y Fundación Arquia.
López-Colás, J., Módenes, J.A. (2014). Heterogeneidad sociodemográfica en la calidad de la vivienda. España en comparación europea. Boletín de la Asociación de Geógrafos Españoles, Nº. 66, 271-289.
Lora, M., Solanas, M., y De Manuel, E. (2015). Propiedad individual vs. propiedad colectiva. Valor de uso vs valor de cambio. Vivienda Popular, 27, 86–91.
Loureiro, F. (1994). Habitação cooperativa no Grande Porto (1974 /94). Revista da Faculdade de Letras — Geografia, I Série, Vol. X/XI, Porto, 1994/5, 19-38.
Martínez Alier, J. (1965). La actitud de los latifundistas de Córdoba respecto al empleo de obreros. Anales de Economía, Nº. 9-12, 377-406.
Martínez del Olmo, A. (2013). Sistemas de vivienda y comportamiento residencial: ¿hacia una convergencia europea? (Tesis Doctoral). Universidad Complutense de Madrid.
Matos, F., Natálio, A., Rocha, B. (2011.) As cooperativas de habitação e a crise – que respostas? Estudo de caso: Sete Bicas, Ceta, Sache.
Módenes, J. A. y López-Colás, J. (2012). El sistema residencial: un esquema conceptual para entender la relación dinámica entre población y vivienda en España, Papers de Demografía, 400, 1-30.
Moreno, L. (2001). La vía media española del modelo de bienestar mediterráneo. Papers, 63-64, 67-82.
346
Nahoum, B. (2013). Algunas claves. Reflexiones sobre aspectos esenciales de la vivienda cooperativa por ayuda mutua. Montevideo: Ediciones Trilce.
Nahoum, B.; Vallés, R. (2011). Cooperativismo de vivienda. Componentes, asesoramiento técnico y marco normativo. Las nuevas coordenadas. El marco normativo. (Conferencia).
Namorado, R. (2000). Introdução ao Direito Cooperativo para uma expressão jurídica da cooperatividade. Ed. Almedina. Coimbra.
Organización Internacional del Trabajo (1964). Las cooperativas de vivienda. Ginebra: Imprenta A.Kundig.
Ortiz, E. (2012). Producción social de la vivienda y el hábitat. Bases conceptuales y correlación con los procesos habitacionales. México D.F.: Hic, Hic-al.
Paiva, F. (coord) (1997). As Cooperativas de Habitação em Portugal. Documentos da Jornada sobre o Cooperativismo Habitacional.
Pareja, M. (2010). El régimen de tenencia en España. En Leal, J. (coord.) La Política de vivienda en España (pp. 94-122). Madrid: Fundación Pablo Iglesias.
Pereira, V. (2018). Habitaçao colectiva de promoçao cooperativa, criterios de autenticidades na sua conservaçao e rehabilitaçao. (Tesis doctoral). Universidade de Lisboa.
Porro, A. (2017). ¿Qué son las economías transformadoras? Recuperado de http://opcions.org/es/nos-gusta/las-economias-transformadoras/
Razeto, L. (1994). Fundamentos de una Teoría Económica Comprensiva. Ediciones PET: Santiago.
Razeto, L. (2001). Desarrollo, transformación y perfeccionamiento de la economía en el tiempo. Universidad Bolivariana: Santiago.
Riechmann, J. (2006). Biomimesis : ensayos sobre imitacio n de la
naturaleza, ecosocialismo y autocontencion. Madrid: Los Libros de la Catarata.
Roces, M. (1990). Vivienda joven en alquiler. Madrid: FRAVM.
347
Rodríguez, J. (2010). Demanda de vivienda y esfuerzo económico. En Leal, J. (coord.) La Política de vivienda en España (pp. 38-65). Madrid: Fundación Pablo Iglesias.
Rodríguez, M.J. (2009). Familia, políticas públicas y bienestar. El efecto de estrategias estatales de atención a la familia en perspectiva comparada. Buenos Aires: Ciepp y Miño y Dávila.
Ronald, R. (2007). Comparing homeowner societies: can we construct an East-West Model? Housing Studies, 22 (4), 473-493
Solanas, M. (2016). Las cooperativas de vivienda uruguayas como sistema de producción social del hábitat y autogestión de barrios (Tesis doctoral). Universidad Pablo de Olavide.
Solanas, M. (2017). FUCVAM: cooperativismo de vivienda, de los barrios en Montevideo a una alternativa contrahegemónica en otros Sures. Interface: a journal for and about social movements, Volume 9 (1), 448-476.
Solanas, M., Jaraba, M., y Lora, M. (2013). Comparativa coop_corr - aprendizajes comunes. Inédito
Srnicek, Nick (2018). Capitalismo de plataformas. Buenos Aires: Caja Negra.
Trilla, C. (2001). La política de vivienda en una perspectiva europea comparada. Fundación La Caixa, Colección Estudios Sociales n º 9.
Trilla, C. (2010). “Una f x ón sob mod o spaño d po ít ca d v v nda” n a , J. (coo d.) La Política de vivienda en España (123-159). Madrid: Fundación Pablo Iglesias.
Vasconcelos, C. (2003). Vivienda, territorios de exclusión y nuevas políticas sociales en Portugal, Scripta Nova, Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Vol. VII, núm. 146(124).
348