[MO-CHILE] Duarte L. Relacao Entre Maloclusao e Mastigacao - Leer Discusión Teórica Pag. 10-30 (1)

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    CEFACCENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA

    MOTRICIDADE ORAL

    RELAÇÃO ENTRE MALOCLUSÃO EMASTIGAÇÃO

    LIA INÊS MARINO DUARTE

    LONDRINA2000

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    RESUMO:

     A mastigação bilateral, alternada com movimentos amplos e irrestri-

    tos é considerada fundamental para manter o equilíbrio oclusal.

    Este estudo tem como objetivo verificar o padrão mastigatório nos in-

    divíduos portadores de maloclusões (CLASSE I, CLASSE II e CLASSE III associ-

    adas a outras alterações: apinhamentos, mordidas cruzadas, sobremordidas, so-

    bressaliências, mordidas abertas).

    Pesquisou-se o padrão mastigatório em 38 sujeitos, todos pacientes

    de clínicas ortodônticas, na faixa etária de 11 a 29 anos, com maior ocorrência

    entre 12 e 14 anos. Todos deveriam apresentar dentição permanente e saudável,

    ser portador de algum tipo de maloclusão e não ter realizado tratamento ortopédi-

    co dos maxilares, ortodôntico ou fonoterapia.

    Observou-se a predominância do padrão bilateral de mastigação com

    movimentos verticais nestes indivíduos, independente do tipo de maloclusão apre-

    sentada. Apesar do padrão bilateral, a grande maioria referiu a preferência por um

    dos lados.

    Observou-se também que nos indivíduos com padrão unilateral de

    mastigação, nem sempre este padrão estava associado a uma maloclusão.

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     ABSTRACT:

    The bilateral and alternate pattern of mastication with wide and un-

    limited movements is considered fundamental to maintain the occlusion balance.

    The purpose of this study is to verify the mastication pattern in the in-

    dividuals with malocclusion (ANGLE malocclusion: CLASS I, CLASS II and CLASS

    III associated to other alterations: crossbite, overbite, overjet, open bite).

    Thirty eight patients between 11 and 29 years of age, mainly between

    12 and 14 years old, were evaluated about their mastication pattern. They were all

    patients in an orthodontic clinic and all of them should have permanent and healthy

    teething, some malocclusion and not have accomplished any orthopedical treatment

    of the maxillaries, orthodontist treatment nor myofunctional therapy yet.

    The predominance of the bilateral pattern of mastication was observed

    with vertical movements in these individuals, independent of the malocclusion. In

    spite of the bilateral pattern most people showed preference for one side.

    It was also observed that in the individuals with unilateral pattern of 

    mastication, this pattern, not always, was associated to a malocclusion.

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    Aos meus pais, Orlando eAos meus pais, Orlando e

    Ondina, que sempre me iOndina, que sempre me inn--

    centivaram e cultivaram emcentivaram e cultivaram em

    mim o gomim o gossto pelos estudos.to pelos estudos.

    Ao meu marido Roberto e filhos RAo meu marido Roberto e filhos Roo--

    drigo e Maria Fernanda, obrigadadrigo e Maria Fernanda, obrigada

    pelo apoio, paciência e compreepelo apoio, paciência e compreenn--

    são constantes, fundamentais para asão constantes, fundamentais para a

    conclusão desta mconclusão desta moonografia.nografia.

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    A vocês dedico este trA vocês dedico este traabalho.balho.

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     AGRADECIMENTOS:

     Aos professores e assistentes do curso de Especialização em Orto-

    dontia (RICKETS) da Universidade do Oeste Paulista, pelo apoio, incentivo e co-

    laboração.

     Aos ortodontistas Luis Rotta e Sérgio Vilhegas, pela colaboração

    com pacientes para serem avaliados.

     A Mirian Goldenberg, minha orientadora, sem a qual não seria possí-

    vel realizar esta monografia.

     A amiga e mestra Irene Marchesan, pela orientação na elaboração

    da pesquisa prática.

     Ao meu filho Rodrigo, pela dedicação e disposição na elaboração

    das tabelas.

     A ortodontista e amiga Eloá Coelho de Castilho pela atenção e in-

    centivo constantes.

     A todos os pacientes que possibilitaram que este estudo fosse reali-

    zado.

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    SUMÁRIO:

    1. INTRODUÇÃO 1

    2. DISCUSSÃO TEÓRICA 3

      2.1. Fisiologia da Mastigação 3

      2.2. Eficiência Mastigatória 7

      2.3. Mastigação Bilateral X Unilateral 10

      2.4. Oclusão X Maloclusão 15

      2.5. Classificação das Maloclusões 19

      2.6. Alterações Mastigatórias e Maloclusões 21

    3. AVALIAÇÃO DA MASTIGAÇÃO 24

      3.1. Material e Método 24

      3.2. Resultados 25

    4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 31

    5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 36

    6. ANEXOS 39

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    1. INTRODUÇÃO:

     A função de deglutir pareceu ser, durante anos, para os dentistas e

    também fonoaudiólogos, a mais prejudicial para o sistema estomatognático, ape-

    sar de a literatura fazer referência aos prejuízos causados não só pela deglutição,

    mas também pela mastigação, respiração e fala quando alteradas (PLA-

    NAS,1987; SIMÕES,1985; MARCHESAN,1984; DOUGLAS,1988 e outros).

    Pude constatar tal fato em minha experiência clínica como fonotera-

    peuta há 21 anos, dos quais 12 anos atuando com motricidade oral na cidade de

    Presidente Prudente/SP.

    Nesta trajetória, atribuí atenção especial aos problemas relativos à

    deglutição, porém não me sentia satisfeita com os resultados obtidos nas terapias,

    em especial quanto à automatização do novo padrão.

    Na busca de respostas, comecei a procurar maiores informações e

    conhecimentos na literatura especializada e também com os profissionais da área:

    ortodontistas, fonoaudiólogos e otorrinos, para compreender melhor a complexi-

    dade e o dinamismo do sistema estomatognático.

    Nesse processo, maior atenção foi dada às outras funções (respira-

    ção, sucção, mastigação e articulação), mudando-se o olhar no trabalho em tera-

    pia, dando relevo especial à respiração e mastigação.

    O objetivo maior da terapia fonoaudiológica em motricidade oral é o

    restabelecimento ou a viabilização das funções estomatognáticas: sucção, respi-

    ração, mastigação, deglutição e articulação da fala) visando ao equilíbrio miofun-

    cional.

    Considerando o caráter positivo que a terapia fonoaudiológica exe r-

    ce sobre o aparato oral, será enfatizada neste trabalho a importância da função

    mastigatória para o desenvolvimento e funcionamento do sistema estomatognáti-

    co.

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    Uma grande parte da população apresenta problemas mastigatórios,

    com predominância do padrão unilateral. (PLANAS,1972; AHLGREN,1966; MO-

    LLER,1966).

    Há concordância entre os autores pesquisados que, embora a masti-

    gação possa ser realizada com movimentos unilaterais, esta realização não cons-

    titui uma função oclusal ideal. A mastigação bilateral alternada, ampla e irrestrita é

    de fundamental importância para manter o equilíbrio oclusal. (BEYRON,1954;

    RAMFJORD & ASH,1984; PLANAS,1987; SIMÕES,1985).

    Os ortodontistas como também os fonoaudiólogos têm como objetivo

    reestabelecer o equilíbrio do sistema estomatognático.

    No trabalho fonoaudiológico com a função mastigatória, respeitando-

    se as condições de cada indivíduo (tipo facial, padrão de oclusão ou maloclusão,

    condições respiratórias, conservação dos dentes) e suas possibilidades terapêuti-

    cas, visa-se a aprendizagem de um padrão mastigatório mais competente, bilate-

    ral e alternado.

      O objetivo do presente trabalho é discutir a relação existente entre

    maloclusão e alterações mastigatórias, verificando o padrão mastigatório encon-

    trado em indivíduos portadores de maloclusão e, com os dados obtidos, auxiliar 

    ortodontistas e fonoaudiólogos quanto à possibilidade ou não de terapia com a

    função mastigatória antes de corrigida a maloclusão.

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    2. DISCUSSÃO TEÓRICA:

    Uma das funções importantes do Sistema Estomatognático é a masti-

    gação. Os mecanismos mastigatórios são bastante flexíveis, bem como as defici-

    ências são prontamente compensadas. Isso explica parcialmente as consideráveis

    variações das características do ciclo mastigatório (amplitude, duração, movimen-

    tos) observadas entre indivíduos saudáveis como também em indivíduos com pro-

    blemas oclusais.

     A literatura sobre o tema mastigação é vasta. O interesse em relacio-

    nar os padrões mastigatórios encontrados nas diferentes maloclusões levou a sele-

    cionar alguns pontos específicos na literatura ortodôntica e fonoaudiológica. Para

    tanto, será enfocado neste estudo como se processa a função mastigatória, consi-

    derações sobre oclusão e maloclusão e quais os padrões mastigatórios encontra-

    dos em indivíduos portadores de maloclusão.

    2.1. Fisiologia da Mastigação.

     A mastigação é o ato de cortar e triturar o alimento preparando-o

    para a deglutição.

    RAMFJORD & ASH (1984) definem o Sistema Mastigatório como

    uma unidade funcional composta pelos dentes e suas estruturas de suporte, ma-

    xilares, articulações temporomandibulares (ATMs), músculos inseridos na mandí-

    bula, lábios e língua e sistemas vascular e nervoso desses tecidos.

     A atividade funcional desse sistema é realizada pelos músculos que

    são guiados pelos impulsos nervosos. A harmonia entre esses componentes é de

    maior importância na manutenção da saúde e capacidade funcional do Sistema

    Mastigatório.

    DOUGLAS (1988) completa , definindo mastigação como o conjunto

    de fenômenos estomatognáticos que visa à trituração e moagem dos alimentos,

    reduzindo-os em partículas pequenas que se ligam pela ação misturadora da sali-

    va, para obter o bolo alimentar apto para ser deglutido.

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     A mastigação parece ser uma função condicionada, adquirida e au-

    tomática (POSSELT,1973).

    O aparelho mastigador surgiu como uma resposta a exigências parti-

    culares de função. Sua constituição depende da frequência e magnitude de estí-

    mulos funcionais para o desenvolvimento e manutenção de um estado fisiológico

    adequado, com uma resistência máxima à injúria (RAMFJORD & ASH,1984).

    Ontogeneticamente, a mastigação surge cedo, porém não junto com

    a vida humana. O Sistema Nervoso necessita amadurecer reflexos, estabelecer 

    sinapses, construir caminhos adequados para os músculos desenvolverem força e

    movimento dos ossos e articulações, ou seja, o organismo precisa de um determi-

    nado tempo para que o indivíduo consiga mastigar. Esse tempo está completo

    depois da primeira dentição inteiramente estabelecida : 4 a 5 anos de idade (SI-

    MÕES,1985).

    PLANAS (1988) enfatiza a importância da amamentação para o des-

    envolvimento da mastigação, pois no ato de "ordenhar" o peito com sua boca, o

    bebê necessita de um enorme esforço muscular. Cita três fatores importantes que

    ocorrem no ato de mamar no peito:

    a) o bebê respira pelo nariz, pois não solta o peito.

    b) o bebê é obrigado a morder, avançar e retruir a mandíbula, estimulando

    todo o sistema muscular, principalmente masseteres, temporais e pterigói-

    deos, que vão adquirindo seu desenvolvimento, necessário na chegada da

    primeira dentição.

    c) o movimento protrusivo e retrusivo excita, ao mesmo tempo, as partes

    posteriores dos meniscos e superior das ATMs.

    Com a estimulação proporcionada pela amamentação e, principal-

    mente, com a maturação do Sistema Nervoso Central processa-se o desenvolvi-

    mento de novas funções que serão desencadeadas pela erupção dos dentes.

    Um dos fatores mais importantes da mastigação é o aspecto senso-

    rial dos dentes, recentemente irrompidos. Os músculos que controlam a posição

    mandibular são influenciados pelos primeiros contatos oclusais dos incisivos anta-

    gonistas. No momento em que, acidentalmente, os incisivos superiores se tocam

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    com os incisivos inferiores, a musculatura dos maxilares começa aprender a funci-

    onar, acomodando-se com o contato dos dentes. Assim, o padrão de fechamento

    torna-se mais preciso antero-posteriormente do que médio-lateralmente

    (MOYERS,1979).

     Ainda MOYERS (1979) afirma que os primeiros movimentos de mas-

    tigação são irregulares e precariamente coordenados, como o aprendizado de

    qualquer habilidade motora.

     À medida que a dentição decídua se completa, o ciclo mastigatório

    torna-se mais estável e o padrão oclusal individual de intercuspidação é usado

    com maior eficiência. As trocas dentárias vão se processando de tal forma que é

    mantida a eficiência mastigatória suficiente para cada idade, até atingir a idade

    adulta, com a dentição permanente.

    Denomina-se ciclo mastigatório cada golpe que a mandíbula executa

    contra a maxila para triturar o alimento. Consiste em três fases:

    - fase de abertura da boca: a boca abre o necessário para que o bolo alimentar 

    possa entrar.

    - Fase de fechamento da boca: onde o alimento é comprimido e fragmentado. É

    nessa fase que se tem o primeiro contato dentário (do lado do balanceio,

    oposto ao alimento).

    - Fase oclusal ou intercuspidária: é caracterizada pela intercuspidação máxima

    das superfícies de oclusão dos dentes, portanto, é a fase crucial da mastiga-

    ção.

     Os movimentos de corte (incisão) são definidos como aqueles onde o

    alimento é esmagado por golpes, principalmente verticais, entre as bordas inci-

    sais.

      A língua, coordenadamente com as bochechas, posiciona o alimento

    entre as superfícies oclusais dos dentes posteriores (pré-molares e molares) que,

    pelas suas características anatômicas oclusais, realizam os movimentos de tritu-

    ração. Esses movimentos transformam as partes grandes do alimento em meno-

    res e ocorrem principalmente nos pré-molares, uma vez que sua pressão intercus-

    pideana é mais intensa que a dos molares.

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      A última etapa é a pulverização, onde o alimento é transformado em

    partículas muito reduzidas, que não oferecem resistência nenhuma ao nível das

    superfícies oclusais ou da mucosa bucal.

      A mandíbula executa, durante a mastigação, os movimentos de ro-

    tação ( ocorre giro do côndilo em torno de seu próprio eixo) e translação( ocorre o

    deslizamento do côndilo ao longo da cavidade condilar, até a eminência articular 

    do osso temporal).

     Os movimentos retrusivos raramente deveriam estar presentes du-

    rante a mastigação e deglutição, uma vez que os contatos dentários durante estes

    movimentos mandibulares não participam da mastigação (PLANAS,1988).

     No movimento de lateralidade, os côndilos executam padrões moto-

    res diferentes: movimento para o lado direito, o côndilo direito realiza um discreto

    movimento para fora e pequeno deslocamento para trás e para cima; já o côndilo

    esquerdo desliza para frente e para baixo, levemente em direção à linha mediana.

    Em todos os movimentos da mandíbula, o disco articular acompanha o côndilo,

    tornando-os mais harmônicos (BIANCHINI,1998).

     Esses movimentos mandibulares são possíveis devido a ação dos

    músculos mandibulares inseridos, em sua maioria, na mandíbula. São eles:

    - músculos mastigatórios: temporal, masseter, pterigóideo lateral, pterigóideo

    medial e ventre anterior do digástrico.

    - músculos da mastigação (que incluem todos os músculos que participam do

    processo mastigatório): músculos mastigatórios, todos os supra-hióideos (ge-

    nio-hióideo, milo-hióideo, digástrico, estilo-hióideo), os infra-hióideos estabili-

    zando o osso hióide, a musculatura da língua, bucinador e musculatura da mí-

    mica facial.

     Podemos classificar esses músculos de acordo com os movimentos

    de abertura e fechamento da mandíbula, assim temos:

    - os músculos levantadores da mandíbula: temporal, masseter e pterigóideo me-

    dial.

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    -  os músculos depressores da mandíbula: pterigóideo lateral, musculatura supra-

    hióidea (especialmente o ventre anterior do digástrico, gênio-hióideo e milo-

    hióideo).

     Na criança, com a dentição decídua completa, as relações mastigató-

    rias são ótimas, uma vez que todos os três sistemas (osso, dente e músculo) ain-

    da apresentam a adaptabilidade característica do desenvolvimento.

     Na dentição decídua, a altura da cúspide e a sobremordida são mais

    baixas, o crescimento ósseo é mais rápido e adaptativo e o aprendizado neuro-

    muscular é guiado com mais facilidade, uma vez que os padrões de atividade não

    estão ainda bem estabelecidos.

     Em idades mais avançadas, as adaptações à mudança mastigatória

     já são mais difíceis. Cada vez que a posição de um dente se altera ou perde-se

    um dente, ou surge uma desarmonia oclusal, deve ocorrer o aprendizado de no-

    vos padrões mastigatórios (MOYERS, 1979).

     

    2.2. Eficiência Mastigatória:

      A principal função da mastigação é diminuir o volume do alimento,

    fragmentando-o em partículas cada vez menores, preparando-as para a deglutição

    e digestão.

     Uma segunda função é prover uma certa ação bactericida (pela en-zima da saliva) sobre os alimentos colocados na boca quando são fragmentados,

    para formar o bolo.

     Uma terceira função do ato mastigatório é proporcionar a força e fun-

    ção indispensáveis para o desenvolvimento normal dos ossos maxilares (MOLI-

    NA,1989).

     Portanto, a trituração do alimento não é um mero aspecto mecânico,

    mas também biomecânico, bacteriológico e enzimático (POSSELT,1973).

     Segundo SIMÕES (1985), a eficiência mastigatória é a realização

    adequada de ciclos mastigatórios, oferecendo mecanismos compensatórios fisio-

    lógicos, ou seja, aqueles que resultam da erupção e atrição dos dentes e de um

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    mecanismo sensorial propriamente elaborado para cada idade, colocando as arti-

    culações temporomandibulares e os músculos em perfeita adaptação funcional.

      A duração e frequência do ciclo mastigatório variam de acordo com o

    tipo e consistência do alimento, bem como estão relacionadas com a qualidade

    neuro-muscular e o tipo facial do indivíduo.

     Nos indivíduos com face curta (crescimento predominantemente ho-

    rizontal) observa-se maior vigor, potência e força mastigatórios. Nos indivíduos

    com face longa (crescimento predominantemente vertical) nota-se uma mastiga-

    ção com menor força de mordida, menos potente (PROFFIT, 1995 ; BIANCHINI,

    1995).

     Já a força mastigatória depende do treino, do “status” da dentição e

    da língua. Ela é somente uma pouco maior no homem que na mulher, no adulto

    que na criança, na dentição natural que na artificial, na área de molares e pré-

    molares que na dos incisivos, no lado da mastigação viciosa e na posição de má-

    xima intercuspidação (SIMÕES,1985).

     Essa força mastigatória representa um fator importante para o cres-

    cimento não só dos maxilares, mas de toda a face.

     Segundo POSSELT (1973) o número de vezes que o bolo alimentar 

    pode ser mastigado até a realização da deglutição, varia entre os indivíduos. Po-

    rém, o número e tempo de golpes mastigatórios são constantes no mesmo indiví-

    duo. Algumas pessoas mastigam mais demoradamente que outras, entretanto os

    hábitos mastigatórios individuais parecem ser tão estáveis que mesmo diante da

    perda de dentes, o número de movimentos mastigatórios permanece inalterado,

    ou seja, o efeito da perda de dentes não é compensado por uma mastigação mais

    prolongada.

     Na mastigação, os contatos dentários são muito mais intensos no

    lado do trabalho (LT) ou Ativo do que no lado do balanceio (LB). É no LT que se

    concentra toda a força mastigatória devido a atividade muscular ser mais intensa

    (SIMÕES,1985).

      Ainda segundo SiMÕES (1985), os músculos pterigóideo médio,

    masseter e temporal anterior são ativados em 50% de sua capacidade durante a

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    mastigação, principalmente o masseter, que age mais sobre a força mastigatória,

    tem atividade três vezes maior no LT do que no LB. Já o pterigóideo lateral tem

    maior atividade no LB, onde o movimento mandibular é maior.

      AHLGREEN (1966) observou eletromiograficamente que na mastiga-

    ção de chicletes, o músculo temporal do LT era ativado primeiramente, sendo que

    os outros três músculos ( masseter, pterigóideo medial e pterigóideo lateral) eram

    ativados 60 ms mais tarde. Já na mastigação de amendoim os quatro músculos

    eram ativados simultaneamente.

     MOLLER (1966) também observou eletromiograficamente na masti-

    gação unilateral de chicletes que o músculo temporal do LT era ativado cerca de

    10 a 20 ms antes do músculo temporal do LB (lado oposto), enquanto o masseter 

    do LT era ativado cerca de 30 ms depois do masseter do lado oposto (LB).

     RILO, SILVA, GUDE E SANTANA (1998) concluem que a ordem da

    atividade muscular na mastigação depende das características do alimento,

    constatando eletromiograficamente, em seu estudo com indivíduos que apresen-

    tavam mastigação unilateral, não haver diferença na atividade muscular do LT e

    do LB.

     Quanto maior o número de ciclos com contatos dentários durante a

    mastigação, maior a eficiência mastigatória.

     Como o Sistema Estomatognático é um sistema integrado de variá-

    veis que dependem umas das outras, é óbvio que uma disfunção pode ser gerada

    por qualquer agressão originalmente aplicada a um de seus três componentes

    (ATM, músculos mastigatórios e complexo dento-periodontal). Assim, as lesões

    traumáticas, inflamatórias, degenerativas ou neoplásicas dos músculos ou da ATM

    podem ser uma causa imediata da disfunção (MONGINI,1988).

     Pode-se citar como causas mais frequentes que podem provocar 

    uma ineficiência mastigatória:

    - diminuição da área dentária de oclusão, provocando uma redução no corte e

    trituração dos alimentos;

    - falhas ou perdas dentárias;

    - reabilitação protética (próteses removíveis);

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    - cáries;

    - trocas dentárias;

    - desgaste dental;

    - relações oclusais anormais;

    - problemas nos músculos da mastigação, mímica facial e/ou cervicais;

    - movimentos mandibulares anormais provocados por problemas na ATM;

    - respiração bucal;

    - dieta muito mole.

     RAMFJORD e ASH (1984) acrescentam que as interferências de

    equilíbrio produzem respostas de impedimento mais rapidamente, enquanto as

    interferências no lado do trabalho são aceitas mais passivamente. Sendo assim, o

    condicionamento pode ocorrer muito rápido, levando a alterações dos movimentos

    funcionais.

     Entretanto, os padrões oclusais de impedimento estabelecidos po-

    dem criar outras disfunções e impor desequilíbrios sobre outros elementos dentro

    do Sistema Mastigatório, os quais não podem compensar tão rapidamente.

     Como a atividade dos músculos mastigatórios está sob controle dos

    centros corticais e tronco cerebral, o stress emocional pode modificar suas carac-

    terísticas, aumentar sua atividade muscular na posição postural e facilitar o início

    de hábitos parafuncionais (MONGINI,1988).

     Temos, então, que um fator psicogênico pode gerar fadiga e espas-

    mo muscular, sozinho ou em conjunto com fatores oclusais, levando a alterações

    anatômicas dos músculos (MONGINI,1988).

     

    2.3. Mastigação bilateral X unilateral:

      A função mastigatória é significativa no crescimento e desenvolvi-

    mento dento-facial, pois atua como estímulo de erupção dentária e aumento das

    dimensões dos arcos osteodentários. Com uma mastigação equilibrada, serão

    produzidos estímulos alternados nas diversas estruturas do Sistema Estomatog-

    nático (BIANCHINI,1998).

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     Nos autores pesquisados não há divergência quanto ao padrão de

    mastigação bilateral.

      A mastigação bilateral alternada multidirecional (onde o alimento é

    distribuído homogeneamente nos dentes tanto direitos quanto esquerdos) é ideal

    para o estímulo de todas as estruturas de suporte, para a estabilidade da oclusão

    e para a limpeza dos dentes. Nesse padrão há uma distribuição uniforme das for-

    ças mastigatórias, intercalando períodos de trabalho, repouso musculares e arti-

    culares, o que leva a uma sincronia e equilíbrio muscular e funcional.

     POMMERENKE (1928), citado por RAMFJORD e ASH (1984), mos-

    tra através de estudos clínicos e eletromiográficos combinados, que a função

    bilateral é assumida sempre que uma relação oclusal bilateral não restrita e con-

    veniente é proporcionada, com guia cuspídea bilateral igual bem como capacidade

    funcional. Embora a mastigação possa ser realizada satisfatoriamente com movi-

    mentos unilaterais ou mesmo não laterais, esta realização não constitui uma fun-

    ção oclusal ideal (RAMFJORD e ASH,1984).

     POSSELT (1973) analisando registros eletromiográficos, afirma que

    os três ou quatro primeiros golpes mastigatórios do alimento determinam uma ati-

    vidade igual e sincrônica em ambos os lados. As partículas grandes dos alimentos

    são distribuídas e trituradas em ambos os lados simultaneamente. Depois a ativi-

    dade muscular bilateral torna-se desigual e assincrônica, o que muitas vezes indi-

    ca que o indivíduo mastiga unilateralmente.

     PLANAS (1988) acredita que a mastigação bilateral alternada (livre

    de interferências oclusais, com maior número de contatos dentários durante os

    ciclos mastigatórios) condiciona o correto desenvolvimento da mandíbula e maxilar 

    superior.

      A mastigação deve ocorrer tanto do LT (onde o alimento está sendo

    quebrado em partículas menores) quanto do LB (onde há o relaxamento da mus-

    culatura). Essa alternância é a base da mastigação bilateral.

     PLANAS analisa ainda, que o desenvolvimento ósseo se produz no

    LB e o movimento dentário no LT. Neste, o plano oclusal tende a levantar-se em

    sua parte anterior e, simultaneamente, tende a descer na mesma zona no LB.

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    Com o “sobe e desce” alternado, a correta e equilibrada situação do plano oclusal

    vai se formando, condição imprescindível para manter um equilíbrio permanente

    do sistema estomatognático.

     MOLINA(1989) acrescenta que, embora grande parte da população

    possa desenvolver a capacidade mastigatória unilateral sem necessariamente

    apresentar sinais e sintomas significantes, a função normal é aquela em que os

    dentes e as estruturas de suporte são estimuladas alternadamente, permitindo

    uma tranferência balanceada de forças.

      A mastigação unilateral é um mecanismo de adaptação para assegu-

    rar o mínimo de trauma para o periodonto, dentes e articulações. Nesse padrão

    mastigatório, estimulam-se apenas as estruturas do lado do trabalho, impedindo

    no lado inativo, o desgaste fisiológico das cúspides dentárias, possibilitando inter-

    ferências oclusais e favorecendo a instalação de placas bacterianas, cáries e dis-

    túrbios do periodonto (MOLINA,1989).

     RAMFJORD & ASH (1984) acrescentam que modelos de mastigação

    unilaterais habituais são o resultado de adaptação a interferências oclusais. Enfa-

    tiza que tais modelos são comumente vistos em pessoas que viveram alimentan-

    do-se com alimentos moles não abrasivos, ou cujo modelo oclusal normal foi per-

    turbado por doença dentária, periodontal ou perda de dentes.

    MANNS (1988), DUBNER (1978), POND(1986) e WILDING (1993),

    citados por MEJÍA VANEGAS et al (1996), afirmam que os fatores oclusais não

    têm uma correlação significante com o lado preferencial de mastigação. POND

    (1986) enfatiza que os fatores oclusais influenciam somente quando o padrão

    mastigatório está sendo desenvolvido nas crianças. Uma vez que o padrão está

    estabelecido, somente a estimulação dolorosa poderá produzir uma troca, mesmo

    assim, após retirado o estímulo doloroso, o indivíduo retornará ao seu padrão ha-

    bitual de mastigação.

      POSSELT (1968), citado por DOUGLAS (1988), estabeleceu que

    entre pessoas saudáveis, com dentadura natural completa, somente 10% apre-

    sentam mastigação bilateral simultânea, enquanto 75% apresentam um padrão

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    mastigatório bilateral alternado. Nos 15% restantes, a mastigação é somente uni-

    lateral, direita ou esquerda.

     Já AHLGREN (1966), LARATO (1970), MOLLER(1966), PLANAS

    (1972) e WICTORIN & HEKDEGARD (1968),citados por SANTIAGO JR. (1994)

    afirmam que nas populações civilizadas, o número de indivíduos que executam

    mastigação unilateral é bastante elevado. Atribui-se esse fato principalmente à

    consistência da alimentação atual bastante macia, devido à grande facilitação dos

    métodos de cocção que vieram depois da revolução industrial.

     Essa pré-moagem dos alimentos faz com que seja aceito nos dias de

    hoje o movimento mastigatório com toque dentário apenas em canino durante a

    excursão lateral da mandíbula (AHLGREN, 1982).

     O contato dos dentes posteriores só ocorre em posição de intercus-

    pidação máxima (PIM). Este tipo de desoclusão não é encontrado em nenhum

    grupo de indivíduos que vivem em contato íntimo com a natureza (BEYRON,

    1964; BROWN, 1965). Não existe moagem sem o deslizamento das faces oclusais

    dos dentes posteriores da posição mais lateral até PIM.

     Embora exista evidência recente de que a frequência dos contatos

    laterais não seja significantemente alterada pelo tipo de alimento que está sendo

    ingerido, é possível que alimentos duros (frutas e vegetais naturais, carne fibrosa)

    propiciem menor influência de interferências oclusais no guia oclusal total do que

    alimentos mais moles (RAMFJORD & ASH,1984).

     Em seu estudo sobre os possíveis fatores predisponentes da masti-

    gação unilateral, com 39 crianças com padrão unilateral, MEJÍA VEGAS et al

    (1966) concluem que o hábito de morder lápis ou outros objetos duros foi o único

    que mostrou significância estatística na escolha do lado da mastigação. Analisam

    considerando a seguinte situação: como este hábito se realiza durante o dia, por 

    um tempo mais prolongado que o ato mastigatório, estimularia a fundo as diferen-

    tes estruturas. Portanto, um hábito pode induzir a algum tipo de reforço contínuo e

    repetitivo aos receptores periodontais, articulares e neuromusculares, criando-se

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    reflexos condicionados para que o indivíduo inconscientemente mastigue por um

    só lado.

     FRANCO (1997) verificou, numa pesquisa com 51 estudantes uni-

    versitários adultos, que a grande maioria afirmou mastigar voluntariamente de ma-

    neira bilateral alternada. Os demais fazem uso de um padrão unilateral, sem por-

    tanto, apresentar prejuízo ou incômodo.

     RILO, SILVA, GUDE e SANTANA (1998) demonstram em uma pes-

    quisa com 40 adultos saudáveis, de ambos os sexos, com completa ou quase

    completa dentição natural e nenhum sintoma de disfunção crânio mandibular, a

    atividade mioelétrica durante a mastigação unilateral. Concluem neste estudo que

    não há diferenças significantes entre a atividade mioelétrica dos músculos masti-

    gatórios entre o lado do trabalho e o lado do balanceio num padrão unilateral. Dis-

    cutem ainda que as assimetrias faciais muitas vezes justificadas devido ao padrão

    unilateral de mastigação, deveriam ser mais estudadas para se encontrar a ver-

    dadeira origem.

     BISHARA (1994), citado por MEJÍA VANEGAS et al (1996), afirma

    que algumas assimetrias direita e esquerda na cavidade oral podem ser resultan-

    tes de fatores externos, como hábitos assimétricos de mastigação causados por 

    cáries, extrações ou trauma, e geralmente os estudos sugerem como a maloclu-

    são pode afetar o padrão de mastigação, mas não como a mastigação unilateral

    pode, de alguma forma, criar algum tipo de de maloclusão, mesmo considerando

    que a atividade dos músculos mastigatórios pode ter um efeito importante na

    morfologia facial.

     Pode-se perceber que a maioria dos autores pesquisados enfatizam

    o padrão bilateral e alternado de mastigação para manter o equilíbrio do sistema

    estomatognático. Neste estudo pretendo discutir a relação entre mastigação e

    maloclusões. Torna-se necessária, portanto, uma pesquisa mais específica sobre

    oclusão e maloclusão.

     

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     2.4.Oclusão X Má oclusão:

      O termo oclusão é definido como uma relação estática de contato

    entre os dentes antagonistas (POSSELT,1973).

     Na odontologia, oclusão tem uma implicação funcional que envolve

    os dentes e partes outras do Sistema Mastigatório. Uma oclusão fisiológica tem

    sido definida como aquela na qual o conjunto de forças que atuam sobre os den-

    tes está em estado de equilíbrio e conservando um estado de saúde e função

    normal entre os dentes e as estruturas de suporte (AMSTERDAM &

     ABRAMS,1973) in MOLINA (1989).

     POSSELT (1973) acrescenta que as maloclusões podem ser consi-

    deradas do ponto de vista morfológico e funcional. As maloclusões morfológicas

    não conduzem necessariamente a perturbações funcionais, já nas funcionais há a

    possibilidade de alterações no padrão normal da função. Comenta ainda que não

    é fácil classificar as maloclusões que conduzem mais frequentemente à disfunção.

     Já para MOLINA (1989) uma oclusão normal ou fisiológica é aquela

    que precisa de mínimas adaptações entre os diversos componentes e apresenta

    um mínimo de sinais e sintomas no sistema estomatognático.

     PLANAS(1988) diferencia a oclusão em cêntrica e funcional.

     Obtém-se a oclusão cêntrica no primeiro contato oclusal ao fechar a

    boca lenta e relaxadamente. Porém, pode ocorrer que o primeiro contato oclusal

    não seja o da máxima intercuspidação, e a mandíbula se desloca para frente, di-

    reita ou esquerda, a fim de ir reduzindo a dimensão vertical, ainda que infinita-

    mente pouco. Essa será a oclusão funcional.

     Se a oclusão cêntrica coincidir com a oclusão funcional, esta será

    uma oclusão normal.

     Historicamente, o conceito de oclusão dentária pode ser dividido em

    três períodos (ARAÚJO ,1986):

    - Período de ficção (empirismo), que se estende até o final do século passa-

    do(1900).

    - Período das hipóteses, (1900 até 1930), onde se tentaram formular princípios

    mais exatos sobre diagnóstico e tratamento dos distúrbios da oclusão. Em

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    1907, ANGLE apresentou sua descrição detalhada das relações anatômicas

    dos dentes, postulando a famosa “Chave de Oclusão”. Descreveu, ainda, a im-

    portância dos primeiros molares permanentes no próprio desenvolvimento da

    oclusão e como base para sua classificação, desenvolvida a partir de 1899 e

    até hoje utilizada pelos ortodontistas.

      As descrições estáticas de ANGLE foram complementadas por BENNET

    (1908), LISCHER (1921), SIMON (1921) e TURNER (1913), que defendiam a

    hipótese das influências da ação muscular tanto na face quanto na oclusão

    dentária. HELLMAN (1921) relacionou e evidenciou as variações raciais na

    oclusão dentária.

    - Período dos fatos: de 1930 em diante. Os trabalhos de PLANER (1930) e

    BROADBENT (1931) introduziram definitivamente os termos de fisiologia e

    função às definições já existentes. A tríade: dentes, músculo e articulação

    temporomandibular passou a ser considerada fundamental. Portanto, passou-

    se a ter uma idéia dinâmica da oclusão dentária, considerando-a não como um

    resultado final ou uma ação concluída, mas uma fase momentânea do ciclo

    mastigatório.

     A adaptação funcional, estrutural e mesmo psicológica do Sistema

    Mastigador é um aspecto importante na manutenção da estabilidade oclusal. Por-

    tanto, a oclusão deveria sempre ser avaliada com base no potencial funcional, do

    que na base simples das classificações morfológicas comum, frequentemente uti-

    lizadas na ortodontia (RAMFJORD e ASH, 1982).

    Os autores completam, ainda, que a ausência de manifestações pa-

    tológicas e a presença de movimentos funcionais desimpedidos são de importân-

    cia maior na avaliação da oclusão que o padrão de relações cuspídeas usado

    como base para o diagnóstico de maloclusão.

    POSSELT (1973) concorda e acrescenta que todas as classificações

    atuais têm a desvantagem de serem morfológicas, não dando nenhuma informa-

    ção sobre suas origens funcionais ou suas sequelas.

    Na literatura ortodôntica existem várias classificações, de diferentes

    autores, sobre os fatores etiológicos das maloclusões.

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    KORKHAUS (1939), citado por ARAÙJO (1986), descreve fatores de

    origem endógena e exógena como etiologia das maloclusões.

    - origem endógena (ou sistêmica): hereditariedade, fatores constitucionais, ra-

    quitismo e influências nutricionais.

    - origem exógena (provenientes de fatores externos ao organismo): influências

    sofridas pelo embrião na vida intra-uterina; pseudo função ou função insufici-

    ente do órgão mastigador; transtornos da respiração nasal; hábitos nocivos;

    perdas precoces de dentes decíduos; outras influências locais de natureza físi-

    ca (traumas, tumores, etc.).

    GRABER (1974), citado por SCHWARTZ (1992), em sua classifica-

    ção acrescenta outros fatores locais que poderão dar origem a um desequilíbrio da

    oclusão:

    - Anomalias de número de dentes.

    - Anomalias dimensionais dos dentes.

    - Anomalias morfológicas dos dentes.

    - Freio labial anormal (quando hipertrofiados ou com inserção muito baixa pro-

    vocam alterações oclusais).

    - Perdas prematuras de decíduos.

    - Retenção prolongada de decíduos.

    - Sequência anormal da erupção dentária.

    - Atraso de erupção de dentes permanentes.

    - Anquiloses dento-alveolares.

    - Cárie dentária.

    - Restaurações dentárias inadequadas.

    DOCKELL (1952), citado por MOYERS (1979), elaborou a seguinte

    equação ortodôntica:

    CAUSAS agem no TEMPO sobre TECIDOS produzindo EFEITOS.

    Muitos autores citam outros fatores que teriam alguma função na eti-

    ologia das maloclusões.

    ENLOW (1979), citado por MARCHESAN (1998), enfatiza que

    a ausência de alimentos ásperos e duros na dieta moderna, os quais requerem

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    uma mastigação completa, é um fator na produção do mau desenvolvimento dos

    arcos dentários, podendo ocasionar uma maloclusão.

    BROWN (1985), citado por MARCHESAN (1998), relata que desor-

    dens oclusais são frequentemente acompanhadas por uma suscetibilidde a cáries

    dentárias e doenças periodontais devido a padrões alimentares atuais, que não

    exigem uma demanda maior do aparelho mastigador.

      VAN DER LANN (1995) enfatiza que a alimentação não-consistente,

    levando a uma falta de mastigação, é apontada como causadora de problemas de

    oclusão. Acrescenta que os dois primeiros anos de vida da criança, em relação a

    hábitos alimentares, seriam de extrema importância para o desenvolvimento cra-

    niofacial, principalmente no que diz respeito à amamentação e aos hábitos orais

    inadequados.

      Já MARCHESAN (1998) conclui através dos dados de sua pesquisa

    sobre a consistência da alimentação atual em crianças de 4 anos e 7 meses a 7

    anos, que a alimentação atual é bem diferente da de antigamente, principalmente

    quanto à consistência. Porém, evidencia que os problemas relativos à oclusão são

    antigos, questionando o quanto, na realidade, a alimentação está relacionada com

    os dentes e com o crescimento da face. Enfatiza, portanto, que tais alterações já

    existiam na presença de outros padrões alimentares, os quais se imagina fossem

    mais adequados que os atuais.

      ROSSI (1986) destaca alguns hábitos deletérios como sucção de

    polegares, uso prolongado da chupeta, interposição de objetos (lápis, adornos de

    metal, etc), onicofagia como fatores determinantes de maloclusões.

    PRADO, GHERSEI, PETERS & OLIVEIRA (1996) , citados por 

    ROSSI (1986), concordam que esses hábitos podem produzir efeitos nocivos na

    oclusão, instalando maloclusões leves ou severas, que serão determinadas pelo

    tempo, duração e intensidade do hábito.

    LINO (1992) acrescenta além desses fatores a predisposição indivi-

    dual, idade e também as condições de nutrição e saúde do indivíduo.

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    KRAKAUER (1997) cita a observação de ANGLE (1907) onde a res-

    piração bucal seria a causa mais potente e constante da maloclusão, com atuação

    mais efetiva entre 3 e 14 anos de idade.

    RUBIN (1979) citado por KRAKAUER (1997) enfatiza os efeitos da

    respiração bucal sobre as estruturas dentofaciais, entre eles: alongamento facial,

    mordida aberta anterior, palato duro alto, ângulo do plano mandibular aumentado,

    maloclusão de Classe II de ANGLE.

    Considerando esses fatores como potencialmente causadores de

    maloclusões , ARAÚJO (1986) salienta a importância que deve ser dada a res-

    peito da predisposição ou resistência individuais.

    Haverá sempre indivíduos que, mesmo expostos às condições que

    supostamente levariam ao surgimento de uma maloclusão, não chegam a apre-

    sentar qualquer anomalia significante. Por outro lado, a recíproca também pode

    acontecer: indivíduos que aparentemente apresentam todas as condições para

    desenvolver uma oclusão dentária normal, diante da mínima ação de fatores etio-

    lógicos apresentam uma maloclusão.

    É importante salientar que poucas maloclusões têm uma única causa

    específica. A maloclusão é o resultado da interação de diversos fatores que afe-

    tam um sistema em desenvolvimento, o qual possui seu próprio padrão de cresci-

    mento.

    Como cita MOYERS (1979): “ As más oclusões se originam devido

    aos desequilíbrios entre os sistemas em desenvolvimento que formam o complexo

    craniofacial, desequilíbrios com os quais a face em crescimento não pode lutar”.

     2.5. Classificação das Maloclusões:

     A classificação de ANGLE(1907) tem sido utilizada até hoje pelos

    ortodontistas, por ser uma classificação fácil e abranger genericamente quase

    todos os tipos de maloclusões. ANGLE classifica-as em:

    a) Classe I: quando a cúspide mésio-vestibular do primeiro molar permanente

    superior oclui no sulco vestibular do primeiro molar permanente inferior (se-

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    melhante à oclusão normal). Caracteriza-se por apresentar caninos e incisivos

    severamente apinhados.

    b) Classe II: caracteriza-se principalmente pela posição distal dos primeiros mola-

    res inferiores em relação aos superiores. É subdividida em:

     Classe II divisão 1, quando os quatro incisivos superiores se encontram à

    frente dos inferiores, criando uma sobressaliência.

     Classe II divisão 2, quando somente os incisivos laterais se encontram à frente

    dos inferiores, estando os incisivos centrais superiores numa posição bem ver-

    tical em relação aos inferiores.

     Poderá ser encontrada em ambas as divisões, a relação distal de molares infe-

    riores apenas de um lado, estando o outro com uma relação normal. A esses

    casos ANGLE acrescentou a denominação “sub-divisão”.

    c) Classe III, quando o primeiro molar inferior relaciona-se mesialmente com o

    superior, estando toda a arcada inferior colocada mesialmente em relação aos

    dentes superiores. Os incisivos superiores apresentam também severa inclina-

    ção lingual. Pode ser encontrada apenas de um lado, neste caso temos Classe

    III sub-divisão.

    Existem outras anomalias de oclusão, as quais ANGLE não descre-

    ve. ARAÚJO (1986) cita as mais comuns:

    a) Apinhamento dentário que pode ser devido a discrepância ósseo-dentária ne-

    gativa ou a perdas de espaço nas arcadas.

    b) Sobremordida (overbite): quando há um excessivo trespasse dos incisivos, no

    sentido vertical. Pode estar presente em quaisquer das classes da classifica-

    ção de ANGLE.

    c) Sobressaliência (overjet): caracteriza-se por um excessivo trespasse horizontal

    dos incisivos, estando os superiores à frente dos inferiores ou os inferiores

    atrás dos superiores. Aspecto típico nas maloclusões classe II, divisão 1 de

     ANGLE.

    d) Mordida aberta anterior: quando há falta de contato entre os incisivos no senti-

    do vertical. Pode ocorrer em quaisquer das classes de ANGLE, mais raramente

    na classe II, divisão 2.

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    e) Mordida aberta posterior: mais rara, quase sempre decorre de colapsos de

    desenvolvimento alveolar na área dos premolares, porém podem advir de há-

    bitos como interposição de língua, objetos (cachimbos) e uma macroglossia.

    f) Cruzamentos: podem ser anteriores, posteriores, unilaterais e bilaterais, unitá-

    rios e setorias. Os fatores desencadeantes são diversos, podendo citar nas

    mordidas cruzadas anteriores: falta de desgaste fisiológico dos caninos decí-

    duos, hábitos de interposição do lábio inferior, uso incorreto de chupetas, trau-

    matismos na área anterior da maxila entre outros. Nas mordidas cruzadas

    posteriores: atresia maxilar, respiração bucal, erupção ectópica, interferência

    de cúspides, retenção prolongada de decíduos entre outros.

    Considerando esta classificação das maloclusões, alguns autores

    relacionam algumas alterações mastigatórias decorrentes de maloclusões.

    2.6. Alterações mastigatórias e maloclusões:

    PLANAS (1988) e SIMÕES (1985) afirmam que as mordidas cruza-

    das unilaterais são estabelecidas em grande parte na dentição decídua, quando o

    amadurecimento dos reflexos mastigatórios já sofreu influência das interferências

    oclusais.

    Geralmente se instalam por algum transtorno postural ao dormir, ou

    pela falta de desgaste natural dos dentes devido aos padrões alimentares atuais

    (alimentos mais moles). Com isso, desenvolvem um circuito patológico de reflexos

    mastigatórios viciosos e unilaterais.

    Sempre que isso ocorre, a função mastigatória será realizada pelo

    lado da mínima dimensão vertical, que é o lado cruzado.

    Uma vez instalado esse hábito, todo o sistema vai se adaptando a

    essa função patológica: há excitação somente da articulação temporomandibular 

    do lado do balanceio (contrário ao da mastigação) e, muitas vezes pode haver 

    uma maior atividade do músculo temporal posterior do lado do trabalho, propician-

    do deslocamentos consideráveis da mandíbula desse lado.

    Nas mordidas cruzadas bilaterais posteriores, os movimentos masti-

    gatórios estão bastante alterados. Não há lateralidade, os movimentos estão tra-

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    vados de ambos os lados, há predominância de movimentos verticais. A língua

    amassa o alimento contra o palato e as partes laterais superiores da mandíbula

    (SIMÕES, 1985).

    Nas mordidas cruzadas bilaterais totais, os movimentos são predo-

    minantemente antero-posteriores. A língua amassa o alimento, pressionando mais

    de um lado que do outro, quando há desvios de linha média.

    BRANDT e RUTH (1982), citados por MONGINI (1988), observaram

    em crianças com mordida cruzada posterior unilateral, que a maioria dos choques

    mastigatórios eram anormais. O número de padrões normais era significativa-

    mente maior do lado normal do que no lado de mordida cruzada. Após a correção

    da mordida cruzada, um padrão bem mais regular de movimentos mastigatórios foi

    relatado.

     AHLGREN (1982) descreveu tipos distintos de ciclos mastigatórios fi-

    siológicos. Não foi encontrada nenhuma correlação absoluta entre os tipos de ci-

    clos mastigatórios e os diversos tipos de maloclusões, embora a oclusão e o tipo

    de alimento influenciem os movimentos mastigatórios.

    Na maloclusão Classe III de ANGLE com prognatismo, os movimen-

    tos são predominantemente verticais e têm pouco ou nenhum componente lateral.

    O mesmo padrão foi relatado por ATKINSON & SHEPHERD (1967), citados por 

    MONGINI (1988), em portadores de prótese completa.

    Nas maloclusões, os movimentos mastigatórios são irregulares. Além

    disso, o movimento de fechamento vertical frequentemente é limitado e pára antes

    de ocorrer a máxima intercuspidação.

    Pacientes portadores de disfunção na articulação temporomandibular 

    podem desenvolver uma mastigação unilateral como resultado de uma ação pro-

    tetora ou contensora dos músculos mandibulares. Tais pacientes preferem masti-

    gar no lado da articulação dolorosa, pois há mais pressão no côndilo do lado do

    balanceio do que no côndilo do lado do trabalho durante o ciclo mastigatório

    (RAMFJORD & ASH.1984).

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    Já BIANCHINI(1998) constatou, em sua pesquisa com 51 adultos

    portadores de disfunção na articulação temporomandibular, que não há relação

    significante entre a preferência mastigatória e o lado da dor.

    JARABAK(1956), SHORE(1959,1960), MURPHY(1967) e

    MORDH(1974), citados por BIANCHINI(1998), afirmam que a harmonia funcional

    deve-se ao equilíbrio de pelo menos três fatores: a oclusão, a situação muscular e

    as condições das ATMs, não se limitando apenas à última condição.

     Após esta revisão de literatura, podemos citar algumas conclusões

    sobre a mastigação:

    •  A mastigação bilateral alternada, ampla e irrestrita é fundamental para manter 

    o equilíbrio oclusal.

    •  A mastigação unilateral não é a função ideal pela tendência de desenvolver 

    desarmonia oclusal crescentemente severa e de não propiciar estímulos a to-

    dos os componentes do sistema estomatognático.

    •  O padrão unilateral de mastigação pode ocorrer sem necessariamente apre-

    sentar sinais e sintomas significantes para o indivíduo.

    •  O padrão de mastigação unilateral é o mais encontrado na população devido,

    principalmente, ao padrão da alimentação atual, que provoca menos demanda

    funcional. Pode também, estar relacionado com alterações na oclusão.

      Entre as maloclusões pesquisadas, encontram-se alterações mastigatórias nasmordidas cruzadas unilaterais e bilaterais, na CLASSI III de ANGLE com prog-

    natismo, nas disfunções temporomandibulares.

    •  A mastigação dependerá das características apresentadas pelo indivíduo (bio-

    tipo, oclusão, doenças ou tratamentos odontológicos realizados, idade) e do

    alimento que é ingerido.

    •  Por ser uma função aprendida, a mastigação uma vez instalada, torna-se au-

    tomática. O indivíduo só prestará atenção em sua mastigação diante de algu-

    ma insatisfação tal como dor ou incômodo. Diante dessa situação, ele poderá

    buscar uma solução para o problema ou realizar algum mecanismo adaptativo,

    provocando uma alteração no seu padrão mastigatório.

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    3. AVALIAÇÃO DA MASTIGAÇÃO NAS MALOCLUSÕES:

     3.1. Material e método:

    O objetivo desta pesquisa é fazer uma análise do padrão mastigató-

    rio encontrado nos diferentes tipos de maloclusão.

    Para tanto foram avaliados 38 sujeitos de ambos os sexos, todos

    pacientes de clínicas ortodônticas (a maior parte do Curso de Especialização em

    Ortodontia da UNOESTE e clínicas particulares, todas em Presidente Prudente),

    que reuniam as seguintes condições:

    - dentição permanente e saudável.

    - portador de algum tipo de maloclusão.

    - não ter realizado tratamento ortopédico dos maxilares ou ortodôntico.

    - não ter realizado terapia fonoaudiológica em motricidade oral.

     A amostra utilizada consistiu em 38 sujeitos, 21 mulheres e 17 ho-

    mens entre 11 e 29 anos de idade, com maior ocorrência na faixa etária de 12 e 14

    anos.

    Todos os sujeitos foram submetidos a um questionário (Anexo1),

    avaliação ortodôntica ( Anexo 2) e avaliação fonoaudiológica da função mastigató-

    ria ( Anexo 3).

    Os dados obtidos na avaliação ortodôntica foram coletados na do-

    cumentação odontológica do paciente e, quando necessário, através de contato

    pessoal com o ortodontista.

    Para análise das maloclusões foi utilizada a classificação de ANGLE

    (CLASSE I, CLASSE II divisão 1, CLASSE II divisão 2, CLASSE III) associadas a

    outras anomalias dentárias: apinhamento, sobremordida, sobressaliência, mordida

    aberta anterior, mordida aberta posterior e cruzamentos.

    Na avaliação fonoaudiológica, os sujeitos foram filmados por uma

    câmera de vídeo SONY HANDYCAM, na posição sentada, focalizando somente a

    região da cabeça e pescoço.

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      Os sujeitos deveriam comer a metade de um pão francês. Primeira-

    mente deveriam mastigar do modo habitual. Num segundo momento deveriam

    mastigar somente de um lado, depois somente do outro e finalmente comer nor-

    malmente. Foi perguntado se havia diferença nos diferentes momentos e se o su-

     jeito mostrava preferência por um dos lados.

    Foram analisados:

    - o padrão de mastigação: unilateral ou bilateral.

    - os movimentos apresentados durante a mastigação: verticais, laterais ou am-

    bos.

    Os pais ou responsáveis assinaram previamente uma autorização

    para a realização da filmagem.

    3.2. Resultados:

    Foram analisados 38 sujeitos, todos portadores de maloclusão, a sa-

    ber: 6 com CLASSE I; 16 com CLASSE II divisão 1; 10 com CLASSE II divisão 2;

    6 com CLASSE III.

    TABELA 1.

    Padrão mastigatório nos indivíduos portadores de CLASSE I.

    PadrãoMaloclusão

    UNILATERAL BILATERAL   TOTAL

    2 2

    Com apinhamento 2 2

    Com apinhamento +MC Anterior / Unilateral

    1 1

    MA Anterior +MC Posterior / Unilateral

    1 1

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    MovimentosMaloclusão

    VERTICAIS LATERAIS AMBOS TOTAL

    2 2

    Com apinhamento 2 2

    Com apinhamento +MC Anterior / Unilateral

    1 1

    MA Anterior +MC Posterior / Unilateral

    1 1

    Dos 6 portadores de CLASSE I ,3 apresentaram padrão bilateral de

    mastigação com movimentos verticais e laterais. Destes, os portadores de api-

    nhamento apresentaram movimentos verticais e laterais. O portador de mordida

    aberta anterior (MA Anterior) com mordida cruzada (MC) unilateral posterior ape-

    sar do padrão bilateral, demonstrou preferência pelo lado oposto ao cruzado.

    Cabe aqui colocar que este sujeito apresentou queixa de dores na ATM do lado

    que mastigava mais.

    O portador de Mordida Cruzada (MC) unilateral anterior apresentou

    um padrão unilateral (do lado não cruzado) apenas com movimentos verticais.

    Este sujeito apresenta agenesia do 2o molar inferior e superior do lado cruzado, ou

    seja, oposto ao que mastiga.

    Já os que tem CLASSE I sem outra má oclusão associada, apre-

    sentaram um padrão unilateral com predominância de movimentos laterais. Cabe

    ressaltar que no momento que foi solicitado para mastigar somente de um lado e

    depois do outro, não notaram diferença .

    Nesta amostra notamos 50% com padrão unilateral e 50% com pa-

    drão bilateral de mastigação, com variação dos movimentos, predominando os

    laterais.

    TABELA 2.

    Padrão mastigatório nos indivíduos portadores de CLASSE II divisão 1.

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    PadrãoMaloclusão

    Unilateral Bilateral   TOTAL

    Sobressaliência 1 1

    MC unilateral/posterior +

    sobressaliência

    1 1

    MC bilateral/posterior 1 1

    Sobremordida 1 1

     Apinhamento +Sobremordida 1 2 3

    MA. Anterior 1 2 3

    MA. Anterior +MC unilateral/posterior 

    1 1

     Apinhamento 1 1

    Sobremordida +Sobressaliência 3

    3

     Apinhamento +MC unilateral/posterior 

    1 1

    MovimentosMaloclusão

    VERTICAIS LATERAIS AMBOS TOTAL

    Sobressaliência 1 1

    MC unilateral/posterior +sobressaliência

    1 1

    MC bilateral/posterior 1 1

    Sobremordida 1 1

     Apinhamento +sobremordida 2 1 3

    MA anterior 3 3

    MA. Anterior +MC unilateral/posterior 

    1 1

     Apinhamento 1 1

    Sobremordida +Sobressaliência

    2 1 3

     Apinhamento +

    MC unilateral/posterior 1 1

    Dos 16 portadores de CLASSE II divisão 1, 11 sujeitos apresentaram

    um padrão bilateral de mastigação , porém, 6 relatam a preferência por um dos

    lados.

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    Nas mordidas cruzadas (MC) unilaterais posteriores predomina o

    padrão unilateral, do lado cruzado, no indivíduo que apresentou padrão bilateral,

    há preferência pelo lado cruzado.

    Na mordida cruzada bilateral posterior há um padrão unilateral, po-

    rém, quando solicitado para mastigar somente de um lado e depois do outro, não

    foi relatada diferença.

    Há predomínio de movimentos verticais nas mordidas cruzadas, com

    uma exceção que apresentou movimentos laterais.

    Nas sobremordidas e também quando associadas à sobressaliência

    e apinhamentos predomina o padrão bilateral de mastigação (6), com preferência

    em 3 casos de um lado. Quanto aos movimentos, na quase totalidade, predomi-

    nam os verticais (5) contra 1 que apresentou ambos.

    Nas mordidas abertas (MA) anteriores, há padrão bilateral em 2 ca-

    sos, porém com preferência por um lado e padrão unilateral em 1 caso. Os movi-

    mentos verticais ocorreram nos 3 casos.

    Onde ocorre apinhamento, há padrão bilateral com movimentos late-

    rais; onde ocorre sobressaliência, há padrão bilateral com preferência de um lado,

    e ambos os movimentos, com predomínio dos verticais.

    Nos portadores de CLASSE II divisão 1 há predomínio do padrão

    bilateral de mastigação (69%) com movimentos verticais (69%).

    TABELA 3.

    Padrão mastigatório nos indivíduos portadores de CLASSE II divisão 2.

    PadrãoMaloclusão

    UNILATERAL BILATERAL TOTAL

    Sobremordida + Apinhamento

    1 6 7

    Sobremordida 1 1

    MA Anterior + Apinhamento

    1 1

    MA Anterior 1 1

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    MovimentosMaloclusão

    VERTICAIS LATERAIS AMBOS TOTAL

    Sobremordida + Apinhamento

    5 2 7

    Sobremordida 1 1

    MA Anterior + Apinhamento

    1 1

    MA Anterior 1 1

    Dos 10 portadores de CLASSE II divisão 2, 9 apresentaram o padrão

    bilateral de mastigação, sendo que destes, 4 relataram preferência por um lado

    (casos de sobremordida e apinhamento). Apenas um caso apresentou mastigação

    unilateral.

    Há predomínio dos movimentos verticais (7 casos). Há presença de

    ambos os movimentos em apenas 3 indivíduos, sendo que no portador de mordi-

    da aberta (MA) anterior há maior incidência dos verticais.

    Nos portadores de CLASSE II divisão 2 predominou o padrão bilate-

    ral de mastigação (90%) com movimentos verticais (70%).

    TABELA 4.

      Padrão mastigatório nos indivíduos portadores de CLASSE III.

    PadrãoMaloclusão

    Unilateral Bilateral   TOTAL

     Apinhamento 11

     Apinhamento +MC Unilateral / Posterior 

    1 1

    MC Unilateral / Posterior 1 1

    MA Anterior 2 2

    MA Anterior / Posterior +MC Bilateral

    1 1

    MovimentosMaloclusão

    Verticais Laterais Ambos TOTAL

     Apinhamento 1 1

     Apinhamento +MC Unilateral / Posterior  1

    1

    MC Unilateral / Posterior 1 1

    MA Anterior 2 2

    MA Anterior / Posterior +MC Bilateral 1 1

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    Nos 6 portadores de CLASSE III há predomínio do padrão bilateral

    de mastigação (4 casos). No apinhamento com mordida cruzada unilateral poste-

    rior, apesar de apresentar padrão bilateral, há preferência pelo lado cruzado, o

    mesmo ocorre nos portadores de mordida aberta (MA) anterior.

    Quanto aos movimentos, prevalecem os verticais (4 casos), ocorren-

    do somente movimentos laterais no portador de apinhamento e ambos os movi-

    mentos no portador de apinhamento com MC unilateral posterior.

    Nos portadores de CLASSE III predominou o padrão bilateral de

    mastigação (66,5%) com movimentos verticais (66,5%).

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    4. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

     Atualmente verificamos uma demanda muito grande de pacientes

    indicados por ortodontistas para fonoterapia.

    Na fonoterapia como na ortodontia e ortopedia funcional dos maxila-

    res, o objetivo é restabelecer o equilíbrio do sistema estomatognático.

    Trabalha-se na fonoterapia com as funções de sucção, respiração,

    mastigação e deglutição, visando restabelecer o equilíbrio.

      Em minha experiência clínica como fonoterapeuta, ao trabalhar as

    funções de sucção, respiração, mastigação, deglutição e articulação, visando res-

    tabelecer o equilíbrio do sistema estomatognático, muitas vezes me deparei com

    algumas dúvidas no trabalho com a função mastigatória:

    •  Deve-se trabalhar sempre com todos os pacientes esta função, visando a um

    padrão bilateral com movimentos alternados?

    •  Existiriam limitações oclusais que impediriam a aquisição de um padrão corre-

    to?

    •  Dever-se-ia trabalhar esta função sempre após corrigida a maloclusão?

      Poderíamos, então, considerar a mastigação atípica ou adaptada numa avalia-ção?

    Com a intenção de responder a estas perguntas, fui buscar na lite-

    ratura específica um maior aprofundamento sobre a mastigação e sua relação

    com as maloclusões, bem como tive a oportunidade de verificar em 38 sujeitos

    portadores de maloclusão o padrão mastigatório por eles apresentados. As malo-

    clusões apresentadas foram CLASSE I, CLASSE II e CLASSE III de ANGLE asso-

    ciadas a outras interferências oclusais.

     A seguir tecerei alguns comentários sobre os resultados obtidos na

    pesquisa, confrontando-os com a opinião dos autores estudados.

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      PLANAS (1972) enfatiza que nas mordidas cruzadas unilaterais

    posteriores a função mastigatória é realizada pelo lado cruzado, segundo a “Lei da

    mínima dimensão vertical”.

    Dos 6 sujeitos avaliados que apresentaram mordida cruzada unila-

    teral posterior, encontramos o seguinte padrão:

    •  No portador de CLASSE I, apesar de ter apresentado um padrão bilateral de

    mastigação, demonstrou preferência pelo lado não cruzado, com predominân-

    cia de movimentos verticais. Cabe relatar que o sujeito apresentou queixa de

    dores na articulação temporomandibular do lado que mastiga mais, ou seja,contrário ao lado cruzado.

    •  Nos três portadores de CLASSE II, predominou o padrão unilateral do lado

    cruzado, no indivíduo que apresentou padrão bilateral foi relatada a preferên-

    cia pelo lado cruzado. Os movimentos verticais foram predominantes em dois

    casos, no outro houve predomínio de movimentos laterais, porém, do lado do

    balanceio, pois a mastigação é unilateral.

    •  Nos dois portadores de CLASSE III, um apresentou padrão bilateral, com a

    presença de ambos os movimentos, porém demonstrou preferência pelo lado

    cruzado; o outro apresentou padrão unilateral do lado cruzado, com predomí-

    nio de movimentos verticais.

    Nota-se, portanto, nas mordidas cruzadas unilaterais posteriores, umpredomínio do padrão unilateral do lado cruzado, de acordo com a “lei de PLA-

    NAS”, porém, deveria ser pesquisado mais sobre este padrão, uma vez que houve

    ocorrência de mastigação bilateral com a presença de movimentos laterais.

    SIMÕES (1985) analisa que na mordidas cruzadas bilaterais posteri-

    ores, não há lateralidade, uma vez que os movimentos estão travados de ambos

    os lados, predominando os movimentos verticais, o que pôde ser constatado nos

    dois portadores desta maloclusão avaliados, ambos apresentaram movimentos

    verticais, apesar de ocorrer mastigação unilateral num dos casos.

    •  No portador de CLASSE II, apesar de ter apresentado um padrão unilateral,

    houve predomínio dos movimentos verticais.

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    •  No portador de CLASSE III ocorreu o padrão bilateral com movimentos verti-

    cais, apresentando uma mastigação simultânea.

    Nas mordidas abertas anteriores ( 8 casos) verificou-se a predomi-

    nância do padrão bilateral de mastigação (apenas uma ocorrência do padrão uni-

    lateral) com movimentos verticais.

    Nas sobremordidas, em indivíduos portadores de CLASSE II, ( 15

    casos) verificou-se a predominância do padrão bilateral com movimentos verticais.

    Nas sobressaliências, em indivíduos portadores de CLASSE II, (6

    casos) verificou-se a predominância do padrão bilateral com movimentos verticais,apenas 2 sujeitos apresentaram ambos os movimentos.

    Segundo a classificação de ANGLE podemos fazer os seguintes co-

    mentários quanto ao padrão mastigatório encontrado nos indivíduos pesquisados:

    •  CLASSE I : 50% apresentaram padrão bilateral e 50% padrão unilateral, com

    predominância dos movimentos laterais ou a presença de ambos os movi-

    mentos.

    •  CLASSE II divisão 1: 69% apresentaram padrão bilateral, com predominância

    dos movimentos verticais (69%).

    •  CLASSE II divisão 2: 90% apresentaram padrão bilateral com predominância

    dos movimentos verticais (70%).

      CLASSE III : 66,5% apresentaram padrão bilateral com predominância dosmovimentos verticais (66,5%).

    Dos 38 sujeitos avaliados apenas 4 apresentaram queixa de dores

    na articulação temporomandibular.

     Destes, 2 apresentaram padrão unilateral de mastigação do lado da

     articulação dolorosa.

     Segundo RAMFJORD & ASH,1984), nos portadores de disfunção na

    articulação temporomandibular, há preferência pela mastigação do lado da articu-

    lação dolorosa como resultado de uma ação protetora ou contensora dos múscu-

    los mandibulares.

    Por outro lado, um indivíduo apresentou padrão unilateral do lado

    oposto à articulação dolorosa, e um terceiro apresentou padrão bilateral, queixan-

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    do-se de dor em ambos os lados. Este dado vem de encontro com os resultados

    obtidos por BIANCHINI (98), que não encontrou relação significante entre a prefe-

    rência mastigatória e o lado da articulação dolorosa.

     Ao final deste estudo, chama-nos atenção a grande incidência do

    padrão bilateral de mastigação apresentado nos indivíduos portadores de malo-

    clusão, levando-nos a acreditar que o padrão unilateral nem sempre é devido a

    uma alteração na oclusão, concordando com as afirmações de MANNS (1988),

    DUBNER (1978), POND (1986) e WILDING (1993) que os fatores oclusais não

    têm uma correlação significante com o lado preferencial de mastigação.

    Deve-se ressaltar que apesar do padrão bilateral, a grande maioria

    dos indivíduos avaliados mostrou um lado preferencial.

    Quanto aos movimentos mastigatórios, podemos concluir, pela gran-

    de incidência dos verticais, que as maloclusões propiciam o desenvolvimento

    deste padrão, o que é relatado por muitos dos autores pesquisados. SIMÕES

    (1985) analisa que nas mordidas cruzadas não há lateralidade nos movimentos

    mastigatórios devido ao travamento uni ou bilateral. MONGINI (1988) descreve

    que nas maloclusões CLASSE III de ANGLE os movimentos são predominante-

    mente verticais.

    Com este estudo aprofundei meus conhecimentos sobre a função

    mastigatória, compreendendo mais sobre a importância desta função no desen-

    volvimento do sistema estomatognático. Alertou-me quanto a outras causas que

    interferem no padrão mastigatório, que não a maloclusão, como a respiração bu-

    cal, ausência de movimentos laterais de língua (na presença de uma língua hipo-

    funcionante), a consistência da alimentação atual entre outros.

    Chamou-me atenção a grande incidência do padrão bilateral encon-

    trado nas diferentes maloclusões, pois até então esperava encontrar uma ocor-

    rência maior do padrão unilateral.

    Percebe-se, neste estudo, que há uma predominância por um dos

    lados na mastigação independente da maloclusão, o que nos leva a questionar:

    haveria uma dominância lateral para a função mastigatória?

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    Em minha pesquisa não encontrei relação significante quanto à late-

    ralidade manual (destro ou canhoto) e a preferência mastigatória.

     A partir deste estudo, sinto a necessidade de pesquisar mais sobre o

    padrão mastigatório encontrado nas maloclusões.

    Estou dando continuidade a minha pesquisa inicial, na qual foram

    separados 20 sujeitos portadores de CLASSE II de ANGLE, dos 38 avaliados.

    Todos iniciaram tratamento ortodôntico (técnica de RICKETS) em

    maio/99.

    Destes, 10 fazem parte de um grupo controle, os quais estão rece-

    bendo apenas tratamento ortodôntico. Os 10 restantes, além do tratamento orto-

    dôntico, estão recebendo orientação fonoaudiológica quanto às funções alteradas,

    em especial a mastigação.

     Ao término do tratamento ortodôntico (prazo aproximado de 2 anos),

    os 20 sujeitos serão novamente avaliados quanto a função mastigatória. Podere-

    mos verificar em qual grupo as mudanças foram mais significativas e, indepen-

    dente da orientação fonoaudiológica, se houve mudança no padrão mastigatório

    após corrigida a maloclusão.

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    36

    5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

     AHLGREN,J. - Movimentos mastigatórios no homem.  In: ANDERSON,D.J. & MA-

    THEWS,B. eds. Mastigação. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1982.p.127-

    39.

     AHLGREN,J. – Mechanism of mastication. Acta odontol Scand 24(Suppl 44):1-

    109, 1966.

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    6. Anexos:

    ANEXO 1:

    QUESTIONÁRIO:

    1) Nome:

    Data de nascimento: Idade:

    Sexo: M ( ) F ( ) Lateralidade: destro ( ) canhoto ( )

    2) Você costuma ir ao dentista com frequência?

    3) Você já fez tratamento ortodôntico?

    4) Você já fez tratamento fonoaudiológico em motricidade oral?

    5) Você fez obturações recentes?

    ( ) lado direito ( ) lado esquerdo ( ) ambos

    6) Você tem ou já teve dor de dente?

    ( ) lado direito ( ) lado esquerdo ( ) ambos

    7) Você tem dores ou estalos na Articulação Temporomandibular?

    ( ) lado direito ( ) lado esquerdo ( ) ambos

    8) Hábitos deletérios:

    ( ) chupeta ( ) rói unhas

    ( ) dedo ( ) suga bochechas

    ( ) lápis ( ) suga lábios

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    ANEXO 2:

    AVALIAÇÃO ORTODÔNTICA:

    1) Dentição: ( ) mista ( ) permanente

    2) Saúde bucal: ( ) boa ( ) regular ( ) deficiente

    3) Respiração: ( ) nasal ( ) bucal ( ) mista

    4) Presença de: ( ) agenesias ( ) extrações ( ) supranumerários

    5) Relação molar: ( ) Classe I ( ) Classe II 1 ( ) Classe II 2 ( ) Classe

    III

    6) Presença de: ( ) sobremordida ( ) sobressaliência ( ) apinhamentos

    7) Mordida aberta: ( ) anterior ( ) posterior 

    8) Mordida cruzada: ( ) unilateral D ( ) unilateral E ( ) bilateral

      ( ) posterior ( ) anterior 

    9) Desvios de linha mediana ( ) maxila ( ) mandíbula

    10) Tipologia facial: ( ) dolicofacial ( ) braquifacial ( ) mesofacial

    11) Apresenta problemas na Articulação Temporomandibular?

      ( ) lado D ( ) lado E ( ) ambos

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    ANEXO 3:

    AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA:

    1) Corta o alimento com: ( ) mãos ( ) dentes incisivos ( ) dentes laterais

    2) Mastigação: ( ) unilateral ( ) bilateral

    3) Movimentos: ( ) laterais ( ) verticais ( ) ambos

    4) Mastigação somente do lado direito:

    5) Mastigação somente do lado esquerdo:

    6) Apresenta ruídos ao mastigar?

    7) Quantidade de alimento: ( ) pouca ( ) muita ( ) normal

    8) Ritmo: ( ) muito devagar ( ) muito rápido ( ) normal

    9) Limitação dos movimentos de abertura?