14
SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros CUPOLILLO, E., BOITÉ, M.C., and PORROZZI, R. Considerações sobre a Taxonomia do Gênero Leishmania. In: CONCEIÇÃO-SILVA, F., and ALVES, C. R., comps. Leishmanioses do continente americano [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2014, pp. 39-51. ISBN 978-85-7541-568-9. https://doi.org/10.7476/9788575415689.0003. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International license. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribição 4.0. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento 4.0. Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ultraestruturais de parasitos do gênero Leishmania 2. Considerações sobre a Taxonomia do Gênero Leishmania Elisa Cupolillo Mariana Côrtes Boité Renato Porrozzi

Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ...books.scielo.org/id/dgkx2/pdf/conceicao-9788575415689-03.pdf · A aplicação de taxonomia numérica a partir dos dados obtidos

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ...books.scielo.org/id/dgkx2/pdf/conceicao-9788575415689-03.pdf · A aplicação de taxonomia numérica a partir dos dados obtidos

SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros CUPOLILLO, E., BOITÉ, M.C., and PORROZZI, R. Considerações sobre a Taxonomia do Gênero Leishmania. In: CONCEIÇÃO-SILVA, F., and ALVES, C. R., comps. Leishmanioses do continente americano [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2014, pp. 39-51. ISBN 978-85-7541-568-9. https://doi.org/10.7476/9788575415689.0003.

All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International license.

Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribição 4.0.

Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento 4.0.

Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ultraestruturais de parasitos do gênero Leishmania

2. Considerações sobre a Taxonomia do Gênero Leishmania

Elisa Cupolillo Mariana Côrtes Boité

Renato Porrozzi

Page 2: Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ...books.scielo.org/id/dgkx2/pdf/conceicao-9788575415689-03.pdf · A aplicação de taxonomia numérica a partir dos dados obtidos

Considerações sobre a Taxonomia do Gênero Leishmania 39

Considerações sobre a Taxonomia do Gênero Leishmania

Elisa Cupolillo | Mariana Côrtes Boité | Renato Porrozzi

2

A taxonomia reúne organismos em grupos definidos, promove nomenclatura apropriada para os grupos formados e

sistematiza a identificação de organismos previamente desconhecidos. O termo tem sua origem na palavra grega

táxis – que significa ordem, arranjo – e nomos (lei, ciência). Assim, a taxonomia de um organismo é a prática e a ciência

da classificação, usando unidades taxonômicas, chamadas taxa, para analisar e formular uma estrutura hierárquica.

Tipicamente, tal formulação obedece a relações de tipo e subtipo, que por definição devem apresentar as mesmas

propriedades e comportamentos. Como se trata de uma abordagem criada pelo homem, e não uma regra natural, deve

ser constantemente revista e submetida à validação.

Leishmania é um gênero de protozoários parasitas, notável pelo grande número de espécies descritas. Estudos

empregando métodos moleculares para análises filogenéticas têm sugerido que realmente existe uma variabilidade

elevada para esse gênero. Entretanto, a validade taxonômica de várias espécies de Leishmania tem sido constantemente

discutida. Um estudo recente de análise filogenética do gene que codifica a proteína de choque térmico de 70 kDa

(hsp70) analisou 17 espécies definidas por eletroforese de enzimas (análise de zimodemas), tendo os resultados obtidos

suportado a existência de apenas oito dessas espécies (Fraga et al., 2010). Portanto, uma revisão da nomenclatura

desse gênero se mostra de fundamental importância. Neste capítulo apresentaremos a situação atual da nomenclatura

utilizada para o gênero Leishmania, as controvérsias a respeito do tema e aspectos que indicam a importância de

estudos taxonômicos focando esse grupo de parasitos.

O gênero Leishmania foi descrito primeiramente por Ross em 1903, após sir William Boog Leishman atender,

no hospital em que trabalhava, a um paciente proveniente da Índia. O mesmo apresentava febre, esplenomegalia e

anemia. Sir Leishman já havia desenvolvido anteriormente um método de coloração (coloração de Leishman), e então,

entre outros exames, ele optou por realizar uma punção do baço e submeter o material à coloração. Após observação

em lâmina, identificou um grande número de corpúsculos ovais nas células do baço e do sangue. Meses depois ele

observou as mesmas formas em fígado e baço de um rato com tripanossomíase. Após a publicação de tais achados,

outro médico, Charles Donovan, confirmou essas observações, e os corpúsculos ficaram conhecidos como corpúsculos

Leishman-Donovan. Entretanto, foi Ronald Ross (1903) quem propôs que tais corpúsculos representavam estágio

intracelular de um novo parasito, o qual ele nomeou como Leishmania donovani. A partir daí várias espécies de

Page 3: Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ...books.scielo.org/id/dgkx2/pdf/conceicao-9788575415689-03.pdf · A aplicação de taxonomia numérica a partir dos dados obtidos

40 Leishmanioses do Continente Americano

Leishmania foram descritas e diversos sistemas de classificação foram adotados, usando categorias taxonômicas

como a classificação em subespécie (Pessôa, 1961), ou classificações em complexos (Shaw & Lainson, 1972) e seções

(Cupolillo et al., 2000). Uma excelente revisão histórica sobre a descrição das espécies neotropicais de Leishmania foi

recentemente publicada (Lainson, 2010). No entanto, tal revisão não considera alguns trabalhos mais recentes que

usam metodologias bioquímicas e moleculares em estudos de taxonomia de Leishmania e, portanto, a manutenção de

algumas classificações antigas pode estar equivocada.

A classificação de Leishmania foi inicialmente baseada em critérios clínicos, bioecoepidemiológicos, tais como

relação com vetores, distribuição geográfica, tropismo tissular, propriedades antigênicas e as manifestações clínicas

(Bray, 1974; Lumsden, 1974; Pratt & David, 1981; Shaw et al., 1987). Contudo, análises imunológicas, bioquímicas

e moleculares mostraram que tais critérios eram muitas vezes insuficientes. Assim, outros aspectos, tais como

análises por reatividade com anticorpos monoclonais (análise de serodemas), padrões observados por eletroforese

de isoenzimas (análise de zimodemas) e padrões de polimorfismo observados, tendo por base a digestão do DNA

do cinetoplasto (kDNA) por enzimas de restrição, foram bastante utilizados para contribuir com a classificação de

Leishmania (Chance, Peters & Shchory, 1974; Kreutzer & Christensen, 1980; Arnot & Barker, 1981; Miles et al.,

1981; Pratt & David, 1981; Handman & Curtis, 1982; Wirth & Pratt, 1982; Anthony et al., 1985; Saravia et al., 1985;

Barker et al., 1986).

Representantes do gênero Leishmania causam uma variedade de síndromes clínicas que incluem a forma visceral

da doença, assim como lesões cutâneas com cura autorresolutiva ou que podem evoluir para formas metastáticas,

envolvendo a infecção da mucosa orofaríngea. A gravidade do quadro clínico em pessoas imunocompetentes depende

da resposta do hospedeiro e também da espécie de Leishmania responsável pela infecção. Distinguir entre as espécies

é, portanto, crucial para o correto diagnóstico e prognóstico da doença, bem como para a tomada de decisões a respeito

do tratamento e medidas de controle. Desde a primeira descrição do gênero Leishmania, o número de espécies tem

variado, com muitas sendo descritas e algumas sendo consideradas como sinonímias.

Todos os membros do gênero Leishmania são parasitos heteroxênicos, sendo os flebotomíneos os hospedeiros

invertebrados e tendo como hospedeiros vertebrados diversos répteis e mamíferos. Esse grupo de parasitos encontra-

se então dividido em três subgêneros. O subgênero L. (Sauroleishmania) inclui apenas as espécies parasitas de répteis,

que embora para alguns autores seja considerado como outro gênero (Lainson et al., 1987), estudos moleculares

corroboram sua classificação como subgênero (Saf ’janova, 1982). As espécies de Leishmania de mamíferos são

classificadas em dois subgêneros, L. (Leishmania) e L. (Viannia). De maneira geral, as espécies classificadas no

subgênero L. (Viannia) apresentam desenvolvimento pobre em meio de cultura, desenvolvimento lento em hamsters

experimentalmente infectados e desenvolvem-se no intestino posterior do flebotomíneo, ficando os parasitos aderidos

à parede, na região do piloro; este grupo inclui apenas espécies que são encontradas nas Américas e por isso

correspondem à maioria das espécies referidas como do Novo Mundo. Já as espécies do subgênero L. (Leishmania)

geralmente crescem facilmente em cultura, provocam grandes lesões nodulares em hamsters, com metástase para as

extremidades, e se desenvolvem no intestino médio e anterior de flebotomíneos; estão incluídas neste grupo espécies

que circulam nas Américas, África, Ásia e Europa, o que justifica as referências às espécies desse subgênero como do

Novo e do Velho mundos, dependendo da região geográfica onde são observadas.

Um conceito ainda bastante utilizado, e que por isso merece destaque, é o da classificação das espécies de

Leishmania em complexos. Com base em critérios extrínsecos, tais como comportamento do parasito em cultura e

em hamster, Shaw e Lainson (1972) reuniram as espécies de Leishmania em três complexos: complexo Leishmania

braziliensis, Leishmania mexicana e Leishmania donovani. Tal classificação pôde ser validada pelo ‘método-ouro’

atual para tipagem de Leishmania: o ensaio isoenzimático, ou eletroforese de isoenzimas.

Page 4: Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ...books.scielo.org/id/dgkx2/pdf/conceicao-9788575415689-03.pdf · A aplicação de taxonomia numérica a partir dos dados obtidos

Considerações sobre a Taxonomia do Gênero Leishmania 41

A aplicação de taxonomia numérica a partir dos dados obtidos pela eletroforese de isoenzimas e análise por

marcadores moleculares, associadas aos conceitos que foram utilizados para descrição de cada espécie, resulta no

sistema atual de classificação das leishmânias (Figura 1). Por análise de isoenzimas, por exemplo, foram definidos

complexos de espécies dentro dos subgêneros (Cupolillo, Grimaldi & Momen, 1994). Além disso, análises de isoenzimas,

corroboradas por análises de filogenia molecular, foram utilizadas para organizar esses parasitos em duas seções:

Euleishmania, que inclui todas as espécies classificadas nos subgêneros mencionados anteriormente, e Paraleishmania,

na qual estão agrupadas espécies que não podem ser classificadas nestes subgêneros e que são filogeneticamente

próximas a outro gênero da família Trypanosomatidea, o gênero Endotrypanum (Cupolillo et al., 2000).

A descrição de algumas espécies antes do advento de técnicas moleculares, tendo como base apenas critérios

extrínsecos, é marcante. Por exemplo, a localização geográfica foi determinante para descrever L. guyanensis e

L. peruviana, ambas causando leishmaniose cutânea, mas representando um novo relato da presença do parasito

na Guiana e na região dos Andes, no Peru, respectivamente. L. infantum foi isolada de uma criança na Tunísia e,

embora associada com leishmaniose visceral, a sua história de isolamento foi determinante para sua descrição. Da

mesma forma, foi denominada de L. chagasi o parasito associado à leishmaniose visceral isolado pela primeira vez

no Brasil.

Hoje, são conhecidas cerca de trinta espécies de Leishmania, das quais em torno de vinte são patogênicas para

seres humanos. É importante destacar que o gênero Leishmania é caracterizado por uma grande diversidade genética

inter e intraespecífica. Sabe-se que as espécies descritas no subgênero L. (Viannia) variam enormemente em seu grau

de diversidade: enquanto L. braziliensis, assim como L. naiffi, apresenta um alto grau de polimorfismo isoenzimático

intraespecífico (ou seja, com diversos zimodemas), L. guyanensis é notavelmente homogênea.

Em contraste com taxonomistas que trabalham com protozoários como, por exemplo, o Trypanosoma cruzi, aqueles

que trabalham com Leishmania tendem a não ser conservadores no que se refere à descrição de novas espécies. Usando

o mesmo método de identificação (no caso, Random Amplified Polymorphic DNA – RAPD), a distância observada

entre cepas de T. cruzi é, algumas vezes, maior do que aquela observada entre espécies de Leishmania (Bañuls et

al., 1999a). Qual seria então a razão para a descrição de tantas espécies em Leishmania? As diversas espécies de

Leishmania geralmente apresentam diferenças epidemiológicas e clínicas. No entanto, a validade de algumas espécies

e dos esquemas de classificação de Leishmania tem sido questionada por vários autores. Alguns exemplos clássicos

se referem à validade de L. panamensis, L. peruviana, L. shawi, L. chagasi, L. infantum, L. archibaldi, L. garnhami,

L. pifanoi, L. venezuelensis e L. forattinii (Bañuls et al., 1999b; 2000; Mauricio, Stothard & Miles, 2000; Mauricio et

al., 2001; Cupolillo et al., 2001). Dentre essas, a sinonímia de L. chagasi e L. infantum está bem evidenciada e tem

sido aceita por vários autores (Mauricio, Stothard & Miles, 2000; Lukes et al., 2007), embora L. chagasi ainda seja

uma nomenclatura utilizada. O caso das demais espécies é ainda mais complexo. Por exemplo, por meio de análises

bioquímicas e moleculares, L. peruviana foi validada como espécie (Bañuls et al., 2000), embora estudo de filogenia

molecular indique que esta deva ser considerada como uma subespécie de L. braziliensis (Fraga et al., 2010).

Page 5: Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ...books.scielo.org/id/dgkx2/pdf/conceicao-9788575415689-03.pdf · A aplicação de taxonomia numérica a partir dos dados obtidos

42 Leishmanioses do Continente Americano

Figura 1 – Esquema da classificação taxonômica atual de espécies de Leishmania, considerando a descrição original das espécies e classificações propostas com base em critérios extrínsecos e a partir dos resultados obtidos por métodos bioquímicos e moleculares

Núm

eros

sobr

escr

itos i

dent

ifica

m a

s esp

écies

em q

ue h

á di

scus

são q

uant

o à va

lidad

e tax

onôm

ica (p

ossív

eis si

noní

mia

s).

**Es

pécie

que

stion

ada

quan

to à

sua

val

idad

e ta

xonô

mica

den

tro d

o gê

nero

.

Page 6: Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ...books.scielo.org/id/dgkx2/pdf/conceicao-9788575415689-03.pdf · A aplicação de taxonomia numérica a partir dos dados obtidos

Considerações sobre a Taxonomia do Gênero Leishmania 43

AS ESPÉCIES DE LEISHMANIA, SUA DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA E A DIVERSIDADE DOS CICLOS DE TRANSMISSÃO

As leishmanioses, em geral, são antropozoonoses. Os ciclos de transmissão podem ser silvestres e, neste caso, a

infecção humana em geral é acidental, como ainda acontece em algumas infecções por L. guyanensis e L. braziliensis

em áreas como a região amazônica. Muitas espécies já estão adaptadas a ciclos secundários ou peridomésticos, com

animais sinantrópicos ou domésticos participando do ciclo de transmissão, que envolve flebotomíneos antropofílicos;

este é o caso, por exemplo, do ciclo de transmissão de L. braziliensis em algumas áreas endêmicas de colonização

humana antiga e também de L. infantum. Como mencionado anteriormente, L. donovani é transmitida em um

ciclo antroponótico, sem aparente participação de um animal doméstico ou silvestre e envolvendo flebotomíneos

totalmente antropofílicos.

Uma das características do ciclo de transmissão de Leishmania spp. é sua associação com vários ecótopos.

Apesar de não haver indícios diretos de associação estrita entre espécie e ambiente específico, algumas espécies

eram descritas em regiões cobertas pela Floresta Amazônica, como é o caso de L. lainsoni e L. naiffi. Espécies como

L. infantum, L. braziliensis e L. guyanensis são observadas em vários ambientes e, logo, podem ser transmitidas

por diferentes espécies de flebotomíneos, embora possa existir uma restrição em virtude de um ambiente propício

ao vetor. Por exemplo, o principal vetor de L. infantum nas Américas é Lutzomyia longipalpis. Da mesma forma,

na região amazônica brasileira existe uma forte associação entre L. guyanensis e Lutzomyia umbratilis, embora na

região andina do Peru esse parasito pareça ser transmitido por Lutzomyia peruensis. O caso de L. braziliensis é ainda

mais interessante, já que em uma mesma área observa-se a participação de diversas espécies de flebotomíneos no

ciclo de transmissão dessa espécie do parasito (Souza Rocha et al., 2010). Tais informações apontam para o fato

da adaptação do vetor a um ecótopo determinar a distribuição de algumas espécies de Leishmania. São observadas

espécies do parasito com aparente adaptação a uma espécie de vetor, porém outras são capazes de infectar diversas

espécies de flebotomíneos. Exemplo ilustrativo pode ser citado para L. naiffi. Até recentemente essa espécie havia sido

descrita em áreas cobertas pela Floresta Amazônica (Naiff et al., 1991; Pratlong et al., 2002; Figueira et al., 2008;

Van der Snoek et al., 2009), com pelo menos três espécies de flebótomos como vetor. Em estudo recente (Azpurua et

al., 2010), parasito bastante semelhante à L. naiffi foi isolado pela primeira vez na região do canal do Panamá, em

Lu. trapidoi e Lu. gomezi. Tais observações indicam que o parasito apresenta plasticidade quanto ao ambiente, e que

a distribuição geográfica observada está mais relacionada à adaptação aos vetores e hospedeiros presentes no local

do que ao bioma. Por isso a ocorrência de espécies de Leishmania deve ser tratada como dinâmica, e não restrita às

informações existentes sobre alguns isolados.

A dispersão das espécies de Leishmania em vários ambientes também favorece a adaptação deste parasito a

diferentes mamíferos (Rotureau, 2006a; 2006b). É conhecido que o mesmo parasito se comporta diferentemente

em regiões distintas, isso não só em termos de relação parasito-hospedeiro, mas também no que diz respeito à

sensibilidade a fármacos (Laurent et al., 2007).

Em um mesmo ambiente podemos encontrar espécies de Leishmania distintas, infectando os mesmos hospedeiros

vertebrados e invertebrados (Lucas et al., 1988; Saravia et al., 1998; Martinez et al., 2002; Antoniou et al., 2004;

Madeira et al., 2006; Rotureau, 2006a; Azpurua et al., 2010). Essas características certamente têm um importante papel

na diversidade de Leishmania, assim como em um possível processo de especiação destes organismos (Shaw, 1997).

AS ESPÉCIES DE LEISHMANIA E AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Independentemente da espécie de Leishmania, a infecção por este parasito em humanos pode ser assintomática, assim como pode produzir um amplo espectro de manifestações clínicas, como: leishmaniose cutânea, cutâneo

Page 7: Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ...books.scielo.org/id/dgkx2/pdf/conceicao-9788575415689-03.pdf · A aplicação de taxonomia numérica a partir dos dados obtidos

44 Leishmanioses do Continente Americano

difusa, cutâneo-mucosa e visceral. Tais manifestações podem ser causadas por diversas espécies, no entanto, algumas

relações podem ser feitas. Por exemplo, a forma mucosa é comumente observada em infecções causadas por L. (Viannia),

mais frequentemente por L. braziliensis; esta espécie também apresenta forte associação com a forma disseminada,

caracterizada clinicamente pela presença de múltiplas lesões. No caso da manifestação difusa, forma distinta da

disseminada, caracterizada pela presença de múltiplas lesões nodulares ricas em parasitos e que produz uma resposta

anérgica, as infecções são causadas pelas espécies L. mexicana e L. amazonensis. No caso da leishmaniose visceral,

observa-se uma alta relação entre esta manifestação clínica e infecções por espécies do complexo L. donovani.

Uma característica comum em infecções causadas pelas diversas espécies é a ocorrência de cura espontânea

em lesões cutâneas, sugerindo que as diversas espécies devem compartilhar moléculas envolvidas em processos de

virulência e patogênese (Chang & McGwire, 2002). Entretanto, a despeito de vários estudos tentando associar espécies

e cepas com manifestações clínicas produzidas, pouco se tem concluído.

CARACTERÍSTICAS GENÔMICAS DAS ESPÉCIES DE LEISHMANIA

Considerando as informações existentes para algumas espécies de Leishmania, sabemos que as espécies do

Velho Mundo apresentam 36 cromossomas (Wincker et al., 1996), enquanto as do Novo Mundo têm 34 ou 35, com

os cromossomas 8 e 29, e 20 e 36 fundidos no grupo L. mexicana e os cromossomas 20 e 34 em L. braziliensis

(Britto et al., 1998).

Sabe-se que a organização dos genes é conservada entre as espécies de Leishmania (Ravel et al., 1999). Contudo,

observa-se um alto nível de polimorfismo nas sequências de DNA (Ravel et al., 1999; Beverley, Ismach & Pratt, 1987).

Uma análise comparativa dos genomas de três espécies, L. major, L. infantum e L. braziliensis, indicou

relativa conservação no que tange ao conteúdo de genes, sintenia e arquitetura, embora tenham sido identificadas

aproximadamente duzentas diferenças em nível de conteúdo de genes ou pseudogenes, incluindo 78 genes que

estavam restritos a uma determinada espécie (Peacock et al., 2007). Até o presente, apenas um lócus foi diretamente

relacionado com o tropismo de Leishmania spp. No caso de L. donovani, a expressão dos produtos do gene A2 é

fundamental para a sobrevivência do parasito nas vísceras. Sabe-se que L. major contém apenas pseudogenes A2.

A despeito das diferenças observadas com relação ao fenótipo de manifestações clínicas causadas pelas diversas

espécies, poucos genes parecem ser espécie-específicos: cinco genes são específicos de L. major, 26 de L. infantum

e aproximadamente 47 de L. braziliensis, o que corrobora o fato de que esta é a espécie mais divergente dentre as

três estudadas. Análises com outras espécies deveriam ser realizadas para determinarmos, por exemplo, se os genes

específicos de L. braziliensis são observados entre as outras espécies do subgênero L. (Viannia).

A comparação do genoma de L. major, L. braziliensis e L. infantum também indicou que aproximadamente 8% dos

genes apresentam taxas evolutivas distintas e estão envolvidos em um espectro de processos essenciais, incluindo

transporte, e metabolismo de diversas moléculas, que podem influenciar na sobrevivência do parasito no hospedeiro

e também na produção da doença.

Uma das diferenças marcantes está relacionada com o fato de que apenas em L. braziliensis foram observadas

evidências da existência de maquinaria de RNA de interferência (RNAi) e elementos transponíveis (Smith, Peacock &

Cruz, 2007). Logo, parece que poucos genes espécie-específicos devem ser importantes na patogênese. A observação

contrassensual da variedade de sinais clínicos causados perante a conservação de genótipos entre as espécies de

Leishmania e a ausência de genes específicos relacionados ao fenótipo apontam para uma regulação gênica baseada

predominantemente em número de cópias dos genes e em modificações pós-traducionais (Scheltema, 2010).

Page 8: Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ...books.scielo.org/id/dgkx2/pdf/conceicao-9788575415689-03.pdf · A aplicação de taxonomia numérica a partir dos dados obtidos

Considerações sobre a Taxonomia do Gênero Leishmania 45

ABORDAGENS DE FILOGENIA MOLECULAR E GENÉTICA DE POPULAÇÕES APLICADAS À TAXONOMIA DE LEISHMANIA

Durante as últimas décadas, estudos de filogenia molecular de Leishmania por meio da análise de sequências de

DNA de diversos genes têm sido conduzidos, servindo como parâmetros importantes na taxonomia desses parasitos.

Sequências inteiras ou parciais de vários genes têm sido utilizadas, incluindo genes que codificam para DNA

polymerase a (polA), a subunidade maior da RNA polimerase II (rpoIILS) (Talmi-Frank, 2010) e 7SL RNA (Azmi, 2010),

espaçadores internos transcritos do rDNA (ITS) (Gelanew et al., 2010) e genes mitocondriais como citocromo b (cytb).

Mais recentemente, sequências do gene hsp70 foram analisadas (Fraga et al., 2010; Da Silva et al., 2010) e os

resultados obtidos corroboram a divisão em subgêneros, assim como as evidências de que L. (Sauroleishmania) deve

ser considerada como um subgênero de Leishmania e não como outro gênero da família Trypanosomatidae. Esses

estudos indicam que algumas espécies de Leishmania não são válidas filogeneticamente, considerando as sequências

analisadas. De acordo com o conceito filogenético, espécie deve constituir um grupo monofilético, sendo este um grupo

basal de organismos, diagnosticavelmente diferente de outros grupos, e intimamente ligado a um modelo parental de

ancestralidade e descendência. Isso assumido, tendo por base estudos analisando sequências de hsp70, não é possível

validar espécies como, por exemplo, L. infantum, L. archibaldi, L. aethiopica, L. amazonensis, L. panamensis, L. shawi e

L. peruviana. É evidente que não se pode fazer uma revisão taxonômica de um grupo com base em apenas um marcador.

No caso de considerarmos hsp70 como alvo, por exemplo, é esperado que a filogenia resolva apenas os maiores grupos

(como subgêneros e complexos) e não auxilie nas conclusões acerca de espécies, em razão da alta similaridade desse

gene entre as diversas espécies (Schonian, Mauricio & Cupolillo, 2010). No entanto, a validade taxonômica de L.

archibaldi, L. panamensis, L. shawi e L. peruviana também tem sido discutida com base em resultados obtidos por

marcadores que apresentam taxa evolutiva mais rápida e, logo, maior divergência entre as sequências.

Análises de filogenia molecular têm indicado a necessidade de revisão da nomenclatura do complexo L. donovani.

Estudos mais recentes mostram que apenas L. donovani e L. infantum devem ser incluídas neste complexo, não

sendo L. archibaldi uma espécie válida. Além disso, foi reforçada a ideia de que os parasitos do complexo L. donovani

que causam leishmaniose visceral na Europa e nas Américas devem ser classificados como L. infantum (Lukes et

al., 2007). De fato, talvez esse seja um bom exemplo para o uso do conceito de subespécie em Leishmania, já que

estes parasitos, hoje denominados como espécies distintas, têm diferentes vetores e, possivelmente, reservatórios,

bem como circulam em diferentes áreas geográficas. Com base nesses argumentos é que os nomes subespecíficos L.

(L.) infantum infantum e L. (L.) infantum chagasi foram propostos (Shaw, 2002).

Porém, se a definição de espécies em Leishmania é problemática, imagine a de subespécie. Se monofilia é um

pré-requisito para definir qualquer grupo taxonômico, todos os grupos monofiléticos distinguíveis dentro de uma

espécie deveriam ser considerados como subespécie.

Ao aplicarmos análises de filogenia molecular em taxonomia de Leishmania, é fundamental que o conceito

filogenético de espécie seja aceito. Mais ainda, a filogenia molecular deve ser associada a estudos de genética

de população (Tibayrenc & Ayala, 1999). De fato, a associação dessas abordagens, hoje essenciais para estudos

epidemiológicos, tem contribuído muito para elucidar diversas questões relacionadas à taxonomia de Leishmania.

A diversidade intraespecífica observada nesse grupo é marcante e, logo, é difícil chegar a conclusões quando

apenas um ou poucos representantes de uma espécie são analisados. Vale ressaltar que a distância genética

observada entre isolados de uma mesma espécie às vezes é maior do que aquela detectada entre espécies distintas

(Cupolillo et al., 2001).

O uso de ferramentas moleculares e a interpretação dos dados por abordagens evolutivas auxiliaram, por exemplo,

a entender a diversidade do complexo L. donovani, definindo L. chagasi como isolados provenientes de regiões das

Page 9: Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ...books.scielo.org/id/dgkx2/pdf/conceicao-9788575415689-03.pdf · A aplicação de taxonomia numérica a partir dos dados obtidos

46 Leishmanioses do Continente Americano

Américas, associados principalmente a leishmaniose visceral e que corresponde a uma sinonímia de L. infantum.

Abordagem multilocus, seja por sequenciamento de genes de interesse ou por análise de microssatélites, certamente estão

entre as abordagens que recentemente mais contribuíram para a compreensão da complexidade do gênero Leishmania.

Tais estudos têm discutido a validade de espécies e a presença de populações e subpopulações de Leishmania spp. em

algumas áreas endêmicas (Mauricio et al., 2006; Zemanova et al., 2007; Schwenkenbecher et al., 2006; Kuhls et al.,

2008; Al Jawabreh et al., 2008; Tsukayama, Lucas & Bacon, 2009).

Ferramentas moleculares associadas à interpretação dos dados por métodos filogenéticos e de análises de

populações têm sido também bastante valiosas para a compreensão do mecanismo de reprodução de Leishmania,

o que certamente tem fortes implicações com a definição de espécies nesse grupo de parasitos. Classicamente, tais

organismos são considerados como apresentando um modo de propagação clonal (Tibayrenc, Kjellberg & Ayala,

1990). No entanto, além de observações de possíveis híbridos entre espécies de Leishmania por eletroforese de

enzimas, assim como por outros métodos, foi demonstrado que algumas espécies de Leishmania são potencialmente

automíticas, com frequente troca genética. Ao que tudo indica, após recombinação esses possíveis híbridos se

propagam por clonalidade (Bastien, Blaineau & Pages, 1992; Rougeron et al., 2009; Schwenkenbecher et al., 2006;

Bañuls et al., 1997; Belli, Miles & Kelly, 1994; Dujardin et al., 1995a; 1995b; Delgado et al., 1997). É interessante

ressaltar que as linhagens híbridas são possivelmente resultado de troca genética dentro da mesma espécie ou entre

espécies bastante relacionadas filogeneticamente.

DEFINIÇÃO DE ESPÉCIES E O GÊNERO LEISHMANIA

O conceito de espécie é certamente um ponto muito debatido e longe de ser completamente definido. Embora as

classificações taxonômicas sejam esquemas propostos pelos cientistas e por isso não representam fielmente eventos

da natureza, a classificação dos organismos em categorias taxonômicas é de fundamental importância.

Eventos de recombinação genética acontecem em Leishmania spp. (Akopyants et al., 2009), mas o processo de

clonalidade é essencial para a propagação desses parasitos (Tibayrenc, Kjellberg & Ayala, 1990). Dessa forma, é

evidente que não se podem definir espécies nesse grupo de organismos com base no conceito biológico de espécies.

Existem vários outros conceitos de espécie (Futuyama, 1998), mas no caso de Leishmania é difícil identificar qual

conceito está sendo ou deve ser seguido. Desse modo, a definição de espécies é muito arbitrária, baseada em uma

diversidade de caracteres extrínsecos e intrínsecos, na maioria das vezes considerados em conjunto. Isso certamente

acarreta controvérsias e falta de consenso no que diz respeito à definição de espécies, levando a um número exagerado

daquelas que são descritas e muitas classificações propostas.

Segundo Dobzhansky (1937), a classificação biológica dos organismos é, simultaneamente, um sistema

de escaninhos concebido pelo homem com a proposta pragmática de registrar as observações de uma maneira

conveniente e de reconhecer um fato de descontinuidade biológica. Não só no caso de Leishmania, debates acerca

de conceitos de espécie em microrganismos têm sido muito frequentes e é consenso que critérios filogenéticos

devem ser enfatizados. O fato é que fatores implicados no processo de especiação estão presentes em Leishmania,

como propagação por clonalidade e por mecanismos de recombinação genética, restrição geográfica e ecológica e

diferenças em propriedades genéticas.

Apesar da descrição de diversos métodos que se propõem a auxiliar a taxonomia de microrganismos, a definição de

espécies continua, muitas vezes, arbitrária e artificial (Staley, 1997). Para muitos microrganismos é também pragmática,

operacional e universalmente aplicável: uma espécie é uma categoria que circunscreve um grupo de isolados/cepas

genomicamente coerente, que compartilham um alto nível de similaridade em características distintas.

Page 10: Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ...books.scielo.org/id/dgkx2/pdf/conceicao-9788575415689-03.pdf · A aplicação de taxonomia numérica a partir dos dados obtidos

Considerações sobre a Taxonomia do Gênero Leishmania 47

Pelo que foi exposto nos tópicos anteriores, fica evidente que não é simples definir o conceito de espécie e um sistema de classificação para ser adotado em organismos que apresentem características semelhantes às que observamos no gênero Leishmania. Por isso, os estudos de sistemática desses organismos são tão essenciais. Destacamos a importância dos estudos de biologia evolutiva, associando as informações obtidas pelos estudos filogenéticos e de genética de populações. Não podemos deixar de transcrever uma colocação de Avise e Wollenberg (1997), adaptada de uma observação feita por Dobzhansky (1937: 7748): “population genetics has so profound a bearing on the problem of the

mechanisms of speciation that any speciation theory that disregards established population genetic principles is faulty

at its source” .

Dessa forma fica evidente que, mais do que apresentar uma definição de espécie mais apropriada para o gênero Leishmania, é fundamental definir uma metodologia-consenso que permita identificar Leishmania, e que seja comparável interlaboratorialmente, além de fornecer resultados que possam servir nas investigações epidemiológicas, usando como base as análises de genética populacional e de filogenia. Nesse sentido, assim como já proposto para outros microrganismos patógenos (Baldo et al., 2006; Maiden, 2006), uma abordagem sistemática incluindo análises multilocus contribuirá de forma ímpar com estudos taxonômicos de Leishmania.

REFERÊNCIAS

AKOPYANTS, N. S. et al. Demonstration of genetic exchange during cyclical development of Leishmania in the sand fly vector. Science, 324(5.924): 265-268, 2009.

AL-JAWABREH, A. et al. Identification of geographically distributed sub-populations of Leishmania (Leishmania) major by microsatellite analysis. BMC Evolutionary Biology, 8: 183, 2008.

ANTHONY, R. L. et al. Subcellular and taxonomic specificity of monoclonal antibodies to new world Leishmania. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, 1985; 34(6):1085-1094.

ANTONIOU, M. et al. Short report: treatment failure due to mixed infection by different strains of the parasite Leishmania infantum. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, 71(1): 71-72, 2004.

ARNOT, D. E. & BARKER, D. C. Biochemical identification of cutaneous Leishmanias by analysis of Kinetoplast DNA. II. Sequence homologies in Leishmania Kdna. Molecular and Biochemical Parasitology, 3(1): 47-56, 1981.

AVISE, J. C. & WOLLENBERG, K. Phylogenetics and the origin of species. Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA, 94(15): 7.748-7.755, 1997.

AZMI, K. et al. Identification of Old World Leishmania species by PCR-RFLP of the 7 spliced leader RNA gene and reverse dot blot assay. Tropical Medicine and International Health, 15(8): 872-880, 2010.

AZPURUA, J. et al. Lutzomyia sand fly diversity and rates of infection by Wolbachia and an Exotic Leishmania species on Barro Colorado Island, Panama. PLoS Neglected Tropical Diseases, 4(3): e627, 2010.

BALDO, L. et al. Multilocus sequence typing system for the endosymbiont Wolbachia pipientis. Applied and Environmental Microbiology, 72(11): 7.098-7.110, 2006.

BAÑULS, A. L. et al. Evidence for hybridization by multilocus enzyme electrophoresis and random amplified polymorphic DNA between Leishmania braziliensis and Leishmania panamensis/guyanensis in Ecuador. The Journal of Eukaryotic Microbiology, 44(5): 408-411, 1997.

BAÑULS, A. L. et al. A phylogenetic analysis by multilocus enzyme electrophoresis and multiprimer random amplified polymorphic DNA fingerprinting of the Leishmania genome project Friedlin reference strain. Folia Parasitologiva (Praha), 46(1): 10-14, 1999a.

BAÑULS, A. L. et al. Genetic analysis of leishmania parasites in Ecuador: are Leishmania (Viannia) panamensis and Leishmania (V.) Guyanensis distinct taxa? The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, 61(5): 838-845, 1999b.

Page 11: Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ...books.scielo.org/id/dgkx2/pdf/conceicao-9788575415689-03.pdf · A aplicação de taxonomia numérica a partir dos dados obtidos

48 Leishmanioses do Continente Americano

BAÑULS, A. L. et al. Is Leishmania (Viannia) peruviana a distinct species? A MLEE/RAPD evolutionary genetics answer. The Journal of Eukaryotic Microbiology, 47(3): 197-207, 2000.

BARKER, D. C. et al. The Potential of using recombinant DNA species specific probes for the identification of tropical Leishmania. Parasitology, 92: S139-S174, 1986.

BASTIEN, P.; BLAINEAU, C. & PAGES, M. Leishmania: sex, lies and karyotype. Parasitology Today, 8(5): 174-177, 1992.

BELLI, A. A.; MILES, M. A. & KELLY, J. M. A putative Leishmania panamensis/Leishmania braziliensis hybrid is a causative agent of human cutaneous leishmaniasis in Nicaragua. Parasitology, 109(Pt 4): 435-442, 1994.

BEVERLEY, S. M.; ISMACH, R. B. & PRATT, D. M. Evolution of the genus Leishmania as revealed by comparisons of nuclear DNA restriction fragment patterns. Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA, 84(2): 484-488, 1987.

BRAY, R. S. Leishmania. Annual Review of Microbiology, 28: 189-217, 1974.

BRITTO, C. et al. Conserved linkage groups associated with large-scale chromosomal rearrangements between Old World and New World Leishmania genomes. Gene, 222(1): 107-117, 1998.

CHANCE, M. L.; PETERS, W. & SHCHORY, L. Biochemical taxonomy of Leishmania. I. Observations on DNA. Annals of Tropical Medicine and Parasitology, 68(3): 307-316, 1974.

CHANG, K. P. & MCGWIRE, B. S. Molecular determinants and regulation of Leishmania virulence. Kinetoplastid Biology and Disease, 1(1): 1, 2002.

CUPOLILLO, E. et al. A revised classification for Leishmania and Endotrypanum. Parasitology Today, 16(4): 142-144, 2000.

CUPOLILLO, E. et al. Recent advances in the taxonomy of the New World leishmanial parasites. Medical Microbiology and Immunology, 190(1-2): 57-60, 2001.

CUPOLILLO, E.; GRIMALDI, G. & MOMEN, H. A general classification of new world Leishmania using numerical zymotaxonomy. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, 50(3): 296-311, 1994.

DA SILVA, L. A. et al. Sequence analysis and PCR-RFLP profiling of the hsp70 gene as a valuable tool for identifying Leishmania species associated with human leishmaniasis in Brazil. Infection, Genetics and Evolution, 10(1): 77-83, 2010.

DELGADO, O. et al. Cutaneous leishmaniasis in Venezuela caused by infection with a new hybrid between Leishmania (Viannia) braziliensis and L. (V.) guyanensis. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 92(5): 581-582, 1997.

DOBZHANSKY, T. Genetics and the Origin of Species. New York: Columbia University Press 1937.

DUJARDIN, J. C. et al. From population to genome: ecogenetics of Leishmania (Viannia) braziliensis and L. (V.) peruviana. Annals of Tropical Medicine and Parasitology, 89, supl. 1: 45-53, 1995a.

DUJARDIN, J. C. et al. Putative Leishmania hybrids in the Eastern Andean valley of Huanuco, Peru. Acta Tropica, 59(4): 293-307, 1995b.

FIGUEIRA, L. P. et al. Isoenzymatic characterization of human isolates of Leishmania sp. (Kinetoplastida: Trypanosomatidae) from the municipalities of Rio Preto da Eva and Manaus, State of Amazonas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 41(5): 512-514, 2008.

FRAGA, J. et al. Phylogeny of Leishmania species based on the heat-shock protein 70 gene. Infection, Genetics and Evolution, 10(2): 238-245, 2010.

FUTUYMA, J. D. Evolutionary Biology. 3. ed. Sunderland: Sinauer Associates, 1998.

GELANEW, T. et al. A clinical isolate of Leishmania donovani with ITS1 sequence polymorphism as a cause of para-kala-azar dermal leishmaniasis in an Ethiopian human immunodeficiency virus-positive patient on highly active antiretroviral therapy. The British Journal of Dermatology, 163(4):870-874, 2010.

HANDMAN, E. & CURTIS, J. M. Leishmania tropica surface antigens of intracellular and flagellate forms. Experimental Parasitology, 54(2): 243-249, 1982.

Page 12: Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ...books.scielo.org/id/dgkx2/pdf/conceicao-9788575415689-03.pdf · A aplicação de taxonomia numérica a partir dos dados obtidos

Considerações sobre a Taxonomia do Gênero Leishmania 49

KREUTZER, R. D. & CHRISTENSEN, H. A. Characterization of Leishmania Spp by Isoenzyme Electrophoresis. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, 29(2): 199-208, 1980.

KUHLS, K. et al. Differentiation and gene flow among European populations of Leishmania infantum MON-1. PLoS Neglected Tropical Diseases, 2(7): e261, 2008.

LAINSON, R. The Neotropical Leishmania species: a brief historical review of their dicovery, ecology and taxonomy. Revista Pan-Amazônica de Saúde, 1(2): 13-38, 2010.

LAINSON, R. et al. American visceral Leishmaniasis: on the origin of Leishmania (Leishmania) chagasi. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, 81(3): 517, 1987.

LAURENT, T. et al. Epidemiological dynamics of antimonial resistance in Leishmania donovani: genotyping reveals a polyclonal population structure among naturally resistant clinical isolates from Nepal. Infection, Genetics and Evolution, 7(2): 206-212, 2007.

LUCAS, C. M. et al. Geographic distribution and clinical description of leishmaniasis cases in Peru. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, 59(2): 312-317, 1998.

LUKES, J. et al. Evolutionary and geographical history of the Leishmania donovani complex with a revision of current taxonomy. Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA, 104(22): 9.375-9.380, 2007.

LUMSDEN, W. H. R. Biochemical taxonomy of Leishmania. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, 68(1): 74-75, 1974.

MADEIRA, M. F. et al. Mixed infection with Leishmania (Viannia) braziliensis and Leishmania (Leishmania) chagasi in a naturally infected dog from Rio de Janeiro, Brazil. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, 100(5): 442-445, 2006.

MAIDEN, M. C. Multilocus sequence typing of bacteria. Annual Review of Microbiology, 60: 561-588, 2006.

MARTINEZ, E. et al. Co-infection by Leishmania amazonensis and L. infantum/L. chagasi in a case of diffuse cutaneous leishmaniasis in Bolivia. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, 96(5): 529-532, 2002.

MAURICIO, I. L.; STOTHARD, J. R. & MILES, M. A. The strange case of Leishmania chagasi. Parasitology Today, 16(5): 188-189, 2000.

MAURICIO, I. L. et al. Genetic typing and phylogeny of the Leishmania donovani complex by restriction analysis of PCR amplified gp63 intergenic regions. Parasitology, 122: 393-403, 2001.

MAURICIO, I. L. et al. Towards multilocus sequence typing of the Leishmania donovani complex: resolving genotypes and haplotypes for five polymorphic metabolic enzymes (ASAT, GPI, NH1, NH2, PGD). International Journal for Parasitology, 36(7): 757-769, 2006.

MILES, M. A. et al. Leishmaniasis in Brazil. XV. Biochemical distinction of Leishmania mexicana amazonensis, l braziliensis braziliensis and l braziliensis guyanensis aetiological agents of cutaneous Leishmaniasis in the Amazon basin of Brazil. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, 75(4): 524-529, 1981.

NAIFF, R. D. et al. Epidemiological and nosological aspects of Leishmania naiffi Lainson & Shaw, 1989. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 86(3): 317-321, 1991.

PEACOCK, C. S. et al. Comparative genomic analysis of three Leishmania species that cause diverse human disease. Nature Genetics, 39(7): 839-847, 2007.

PESSÔA, S. B. Classificação das leishmanioses e das espécies do gênero Leishmania. Arquivo de Higiene em Saúde Pública, 26: 41-50, 1961.

PRATLONG, F. et al. Human cutaneous leishmaniasis caused by Leishmania naiffi is wide-spread in South America. Annals of Tropical Medicine and Parasitology, 96(8): 781-785, 2002.

PRATT, D. M. & DAVID, J. R. Monoclonal antibodies that distinguish between new world species of Leishmania. Nature, 291(5.816): 581-583, 1981.

Page 13: Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ...books.scielo.org/id/dgkx2/pdf/conceicao-9788575415689-03.pdf · A aplicação de taxonomia numérica a partir dos dados obtidos

50 Leishmanioses do Continente Americano

RAVEL, C. et al. High conservation of the fine-scale organisation of chromosome 5 between two pathogenic Leishmania species. Nucleic Acids Research, 27(12): 2.473-2.477, 1999.

ROTUREAU, B. Trypanosomatid (Protozoa, Kinetoplastida) parasites of sloths (Mannmalia, Xenarthra). Bulletin de la Société de Pathologie Exotique, 99(3): 171-175, 2006a.

ROTUREAU, B. Are new world leishmaniases becoming anthroponoses? Medical Hypotheses, 67(5): 1.235-1.241, 2006b.

ROUGERON, V. et al. Extreme inbreeding in Leishmania braziliensis. Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA, 106(25): 10.224-10.229, 2009.

SAF’JANOVA, V. Classification of the genus Leishmania ross. In: The Leishmaniasis Lennigrad: Academy of Sciences, USSR All Union Society of Protozoologists, 1982.

SARAVIA, N. G. et al. Mucocutaneous Leishmaniasis in Colombia. Leishmania-braziliensis subspecies diversity. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, 34(4): 714-720, 1985.

SARAVIA, N. G. et al. Epidemiologic, genetic, and clinical associations among phenotypically distinct populations of Leishmania (Viannia) in Colombia. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, 59(1): 86-94, 1998.

SCHELTEMA, R. A. et al. The potential of metabolomics for Leishmania research in the post-genomics era. Parasitology, 137(9): 1.291-1.302, 2010.

SCHONIAN, G.; MAURICIO, I. & CUPOLILLO, E. Is it time to revise the nomenclature of Leishmania? Trends in Parasitology, 26(10): 466-469, 2010.

SCHWENKENBECHER, J. M. et al. Microsatellite analysis reveals genetic structure of Leishmania tropica. International Journal for Parasitology, 36(2): 237-246, 2006.

SHAW, J. J. RAPD for the differentiation of Leishmania. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, 91(1): 93-94, 1997.

SHAW, J. J. New World leishmaniasis: the ecology of leishmaniasis and the diversity of leishmanial species in Central and South America. In: FARRELL, J. P. (Ed.). Leishmania. Boston, Dordrech, London: Kluwer Academics, 2002.

SHAW, J. J. & LAINSON, R. Leishmaniasis in Brazil .6. Observations on seasonal variations of Lutzomyia flaviscutellata in different types of forest and its relationship to enzootic rodent Leishmaniasis (Leishmania mexicana amazonensis). Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, 66(5): 709, 1972.

SHAW, J. J. et al. Leishmaniasis in Brazil: XXIII. The identification of Leishmania braziliensis braziliensis in wild-caught neotropical sandflies using monoclonal antibodies. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, 81(1): 69-72, 1987.

SMITH, D. F.; PEACOCK, C. S. & CRUZ, A. K. Comparative genomics: from genotype to disease phenotype in the leishmaniases. International Journal for Parasitology, 37(11): 1.173-1.186, 2007.

SOUZA ROCHA, L. et al. Molecular biological identification of monoxenous trypanosomatids and Leishmania from antropophilic sand flies (Diptera: Psychodidae) in Southeast Brazil. Parasitology Research, 107(2): 465-468, 2010.

STALEY, J. T. Biodiversity: are microbial species threatened? Current Opinion in Biotechnology, 8(3): 340-345, 1997.

TALMI-FRANK, D. et al. Detection and identification of old world Leishmania by high resolution melt analysis. PLoS Neglected Tropical Diseases, 4(1): e581, 2010.

TIBAYRENC, M. & AYALA, F. J. Evolutionary genetics of Trypanosoma and Leishmania. Microbes and Infection, 1(6): 465-472, 1999.

TIBAYRENC, M.; KJELLBERG, F. & AYALA, F. J. A clonal theory of parasitic protozoa: the population structures of Entamoeba, Giardia, Leishmania, Naegleria, Plasmodium, Trichomonas, and Trypanosoma and their medical and taxonomical consequences. Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA, 87(7): 2.414-2.418, 1990.

TSUKAYAMA, P.; LUCAS, C. & BACON, D. J. Typing of four genetic loci discriminates among closely related species of New World Leishmania. International Journal for Parasitology, 39(3): 355-362, 2009.

Page 14: Parte I – Questões evolutivas, taxonômias e ...books.scielo.org/id/dgkx2/pdf/conceicao-9788575415689-03.pdf · A aplicação de taxonomia numérica a partir dos dados obtidos

Considerações sobre a Taxonomia do Gênero Leishmania 51

VAN DER SNOEK, E. M. et al. Spontaneous cure of American cutaneous leishmaniasis due to Leishmania naiffi in two Dutch infantry soldiers. Clin Exp Dermatol, 34(8): e889-e891, 2009.

WINCKER, P. et al. The Leishmania genome comprises 36 chromosomes conserved across widely divergent human pathogenic species. Nucleic Acids Research, 24(9): 1.688-1.694, 1996.

WIRTH, D. F. & PRATT, D. M. Rapid identification of Leishmania species by specific hybridization of kinetoplast DNA in cutaneous lesions. Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA, 79(22): 6.999-7.003, 1982.

ZEMANOVA, E. et al. The Leishmania donovani complex: genotypes of five metabolic enzymes (ICD, ME, MPI, G6PDH, and FH), new targets for multilocus sequence typing. International Journal for Parasitology, 37(2): 149-160, 2007.