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Delza Anaïs Nin, infinitamente feminina Henry Miller, infinitamente masculino A Força do Erotismo

PPS Delz@- A Força Do Erotismo - Anaïs Nin e Henry Miller

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Apresentação sobre Anais Nin e Henry Miller. Sobre a força do erotismo.

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Delza

Anaïs Nin, infinitamente feminina

Henry Miller, infinitamente masculino

A Força do Erotismo

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Anaïs Nin: o diabo no corpo e na alma

Por ocasião de uma entrevista, foi perguntado a Deirdre Bair, que havia escrito biografias de dois dos maiores vultos da cultura e literatura, Simone de Beauvoir e Samuel Beckett, por que escolheu Anaïs Nin – principalmente por já ter dito dela que se tratava de “uma grande escritora menor”. Respondeu:

“Penso que quanto mais o tempo passar, mais os Diários irão se tornar um documento histórico, pois quando as pessoas nos séculos 21 e 22 quiserem saber quem éramos, e como vivíamos, irão encontrar um bom bocado de pano de fundo e informação nos Diários de Anaïs Nin. Creio que irão se tornar uma espécie de texto de referência para o século 20, começando na década de 1920, quando ela fala o quão relevante foi a revista Delineator, que era uma importante publicação do início do século, chegando até os anos 20 com “Prufrock” de T.S. Eliot e “Ulisses” de Joyce, e aos anos 30 com Lawrence, e mais, e mais, e mais. Ela escreveu, extensivamente, sobre tudo que realmente teve importância em cada década do século.”

Seus livros foram traduzidos em uma dezena de línguas.

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Anaïs Nin - escritora francesa nascida em 1903 e uma das pré-revolucionárias feministas do início do século passado. De Henry Miller, foi amante e profunda colaboradora; de Otto Rank (discidente de Freud e instituidor da Psicanálise na França), analisanda, amante e por ele supervisionada quando também se tornou uma psicanalista. Teve estreita amizade com Antonin Artaud, Lawrence Durrel, D.H. Lawrence _ sobre quem escreveu seu primeiro livro, e inúmeros intelectuais da época. Em dezembro de 1931, Anaïs, com 28 anos de idade, conheceu Henry Miller, que contava 40. Depois de ter identificado o grande artista que havia nele, passou a admirá-lo e se tornaram grandes amigos. Todavia, muito rapidamente, eles se desejaram...

Anaïs Nin, como dançarina espanhola em Paris, sob o nome de Anita Aguilera

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Henry Valentine Miller, escritor americano que era, anos mais tarde tornou-se um clássico após publicar a trilogia "Sexus, Plexus, Nexus“ – que ele chamou "A Crucificação Encarnada". Como nos trabalhos anteriores, esses romances narram trechos de sua própria vida, ainda que ele negasse. Sobre seu processo, declarou: "fiz uso, ao longo desses livros, de irruptivos assaltos ao inconsciente, tais como sonhos, fantasia, burlesco, trocadilhos pantagruélicos, etc., que emprestam à narrativa um caráter caótico, excêntrico, perplexo".

“Para mim o livro é o homem e meu livro é o homem que eu sou, o homem confuso, o homem negligente, o homem imprudente, o luxurioso, obsceno, violento, escrupuloso, mentiroso, diabolicamente homem verdadeiro que eu sou."

Henry Miller, ao tempo em que conheceu Anaïs.

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Ao tempo em que se conheceram, Anaïs estava prestes a ter seu primeiro trabalho literário publicado, enquanto Henry Miller havia chegado na França há pouco vindo dos EUA, totalmente desprovido de recursos financeiros, para se dedicar à redação de seu primeiro livro, iniciado em Nova York. Anaïs

passou a contribuir para seu sustento e até lhe deu de presente sua própria máquina de escrever.

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Delza Anaïs Nin era então casada com seu primeiro marido, Hugo Guiler.

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DelzaDesde 1930, era nesta casa em Louveciennes - não longe de Paris - que Anaïs Nin morava com seu marido, Hugh Guiler. Foi aqui também que conheceu Henry Miller quando este, em dezembro de

1931, fez uma visita a Hugo.

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Da mesma forma que chegou a primeira vez, sempre que vinha vê-la fazia o trajeto Paris-Louviciennes em sua inseparável bicicleta.

Tão inseparável que, pouco mais de 40 anos mais tarde, escreveu um livro com o título:“Minha bicicleta e meus outros amigos” (My Bike and Other Friends).

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Anaïs e Henry Miller estavam tentando abraçar a Literatura como forma de expressão e foi essa identidade que os aproximou e desenvolveu uma admiração recíproca, reforçada pela curiosidade que um nutria pelas experiências do outro.

Começaram uma troca de correspondência que evitava uma maior aproximação entre eles – Miller também era casado. Sua esposa, June, havia ficado nos EUA para que ele tentasse desenvolver sua carreira na Europa.

A par da relação que surgiu entre eles, a correspondência iniciada em fevereiro de 1932 e finda em outubro de 1953, muitos anos mais tarde deu origem ao livro – “A Literate Passion: Letters of Anaïs Nin and Henry Miller“ .

Trecho de carta de Anaïs - em 2 de março de 1932:

“A mulher vai sentar-se eternamente numa alta poltrona preta. Eu vou ser a única mulher que você nunca terá... Viver em excesso diminui a imaginação: não vamos

viver, vamos apenas escrever e conversar para crescer.”

Resposta de Miller em 4 de março de 1932 , na íntegra, a seguir:

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 Chez les Vikings, Taverne Scandanave

rua Vavin, 29 e 30 - Paris VI4 de março de 1932

“Querida Anaïs:Três minutos depois de você ter ido. Não eu não posso prender isso. Direi o que você já sabe - eu te amo. É

isso o que eu estraguei vezes seguidas. Em Dijon, escrevi a você longas cartas apaixonadas - se você tivesse permanecido na Suíça eu as teria enviado - mas como eu poderia tê-las enviado para Louveciennes?

Anaïs, não posso dizer muita coisa agora – estou com febre. Não pude falar direito com você porque eu estava o tempo todo a ponto de me levantar e jogar meus braços em volta de você. Eu tinha esperança de que você não precisaria ir pra casa para jantar – que talvez pudéssemos ir a algum lugar para jantar e dançar.

Você dança – sonhei com isso várias vezes – eu dançando com você ou você sozinha dançando com a cabeça jogada para trás e os olhos quase fechados. Você precisa dançar desse jeito para mim. Esse é o seu lado

espanhol – seu sangue andaluz.

Agora estou sentado no seu lugar e levei o seu copo aos meus lábios. Mas estou com a língua presa. O que você leu para mim está nadando sobre mim. Sua linguagem é ainda mais avassaladora que a minha. Eu sou

uma criança comparado a você, porque quando o útero em você fala, ele envolve tudo – é a escuridão que eu adoro. Você estava errada ao pensar que eu gosto do valor literário por ele mesmo. Aquela era a minha hipocrisia falando. Não ousei até agora dizer o que eu penso. Mas eu estou mergulhando – você abriu o

vazio para mim – não há retorno. Sem você perceber, tenho vivido com você constantemente. Mas tenho tido medo de admitir isso – achei que isso fosse aterrorizar você. Hoje planejei trazê-la para o meu quarto e

mostrar as aquarelas. Mas pareceu tão sórdido, levar você até o meu hotel miserável. Não, não posso fazer isso. Você me levará para algum lugar – para o seu barraco, como você o chama. Conduza-me para lá para

eu poder te envolver com meus braços.

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E eu minto, Anaïs, quando eu te digo que eu não quero adorá-la. Você esperava que eu dissesse essas coisas? Quando eu vi “Marius”, eu estava sonhando com você – você é como o barco saindo para o mar, suas velas completamente abertas e a luz do sol está brincando sobre você. E como Marius, juntei-me ao

barco na décima primeira hora – pulei da janela de trás e corri para o cais.Ainda não sei o quanto me atrevo a escrever para você apesar de sua permissão. Tenho a impressão de que possa estar cometendo sacrilégio, mas não pode ser. Meus instintos devem estar certos. Contudo, espero ansiosamente uma palavra sua. Sim, você me disse diversas vezes, de cem maneiras diferentes,

mas sou lerdo, Anaïs, lerdo talvez porque isso é uma deliciosa tortura. É como esperar para ver você se levantar do trono.

E sobre o Hugo – Anaïs, não posso pensar no Hugo. É impossível pensar nele em você. Por favor, não minta para você mesma agora. Não diante de mim!

Poderia ligar amanhã para você saber o que te espera. Eu ligaria imediatamente, mas o Hugo vai estar aí.

Tem um telefone no meu hotel, mas eu não sei o número e receio que não esteja na lista. De qualquer forma, se você conseguir ligar, o número do meu quarto é 40.

Então não vou vê-la no domingo. Isso é difícil, também. Mas é melhor – você está certa.

Henry”

 

(continuação)

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Trecho de carta de Miller de 10 de março de 1932, logo depois de se terem conhecido como homem e mulher:

“Você me faz tremendamente feliz ao me abraçar por inteiro – por me deixar ser artista, como se eu fosse, sem esquecer o homem, o animal, o faminto, amante insaciável. Nenhuma mulher nunca me concedeu todos os privilégios de que eu

precisava – e você, porque você anuncia tão alegremente, tão corajosamente, até com uma risada – sim, você me convida a seguir em frente, a ser eu mesmo, a arriscar qualquer coisa. Eu te adoro por isso. Aí é que você é realmente verdadeira,

uma mulher extraordinária. Que mulher você é! Eu rio sozinho agora quando penso em você. Não tenho medo da sua

feminilidade.”

 

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“…Terrível, terrivelmente vivo, afligido, absolutamente consciente de que te necessito.…

......................

Ah, ver-te embriagada alguma vez, que privilégio! Tenho quase medo de te propor; porém, Anaïs, quando penso como te apertas contra mim, quando abres as pernas e quão úmida estás, Deus, me torno louco de pensar em

como serias ao acontecer o clímax. Ontem pensei em ti, em como cinges as pernas em torno de mim, de pé, cambaleante na sala, em como cair sobre ti

na escuridão sem ver nada. Estremeci e gemi de prazer.Penso que se passar todo o fim de semana sem ver-te será intolerável. Sim preciso ir a Versailles no domingo – o que seja, porem hei de ver-te. Não temas me tratar com frieza. Bastará para mim estar perto de ti, olhar-te

admirado. Te amo, isto é tudo.Henry”

11 de março de 1932

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A paixão entre ambos já havia iniciado um incontido crescendo:

Henry em 21 de março de 1932:

“Anaïs, não sei como expressar-te o que sinto. Vivo numa expectação constante. Tu chegas e o tempo escoa-se como num sonho. É só quando partes que eu entendo completamente a tua

presença. E, então, é tarde demais. Atordoas-me. [...] Isto está um bocadinho bêbedo, Anaïs. Estou a dizer para mim «aqui está a primeira mulher com quem posso ser absolutamente sincero». Lembro-me de dizeres: «Tu podias enganar-me.

Eu não o saberia». Quando passeio pelos «boulevards» e penso nisso... Não posso enganar-te... E no entanto gostaria de fazê-lo. Quero dizer que nunca posso ser absolutamente leal... Não

está em mim. Adoro mulheres, ou a vida, demasiado... Não sei de que gosto mais. Mas ri, Anaïs, adoro ouvir-te rir. És a única mulher que tem tido um sentido de alegria, uma sábia

tolerância... Já não mais pareces querer fazer com que eu te traia. Amo-te por isso. [...] Não sei o que esperar de ti, mas é algo parecido com um milagre. Vou exigir tudo de ti... Mesmo

o impossível, porque tu o encorajas. És realmente forte. Até gosto da tua falsidade, da tua traição. Parece-me aristocrática.”

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... a que Anaïs respondeu em 26 de março de 1932:

“Isso é estranho, Henry. Antes, assim que eu chegava em casa vindo de todo tipo de lugar, eu sentava e escrevia no meu diário. Agora eu quero

escrever para você, falar com você. [...]Eu adoro quando você diz que tudo que acontece é bom, isso é bom. Eu digo que tudo que acontece é maravilhoso. Para mim tudo é sinfônico. E eu fico tão excitada por viver - deus, Henry, em você sozinho eu encontrei

o mesmo entusiasmo crescente, a mesma subida rápida do sangue, a plenitude, a plenitude ...

Antes, eu quase costumava pensar que havia algo errado. Todo mundo parecia ter o freio puxado. [...] Eu nunca sinto os freios. Eu transbordo. E

quando eu sinto o seu entusiasmo pela vida cintilando, perto do meu, então isso me atordoa.” 

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Carta de Anaïs para Henry de 6 agosto de 1932 :

“Oh Henry, eu estava tão chocada com a sua carta de hoje de manhã. Quando eu a recebi, todos os sentimentos reprimidos artificialmente vieram à tona. O

toque da carta era como se você tivesse me tomado em seus braços, e agora você pode entender o que senti ao ler. Você disse que tudo que podia me tocar e me ganhar e eu estava molhada e tão impaciente que eu vou fazer de tudo para

ganhar um dia.O bilhete que estou incluindo, que escrevi ontem à noite duas horas depois que enviei minha carta, irá ajudá-lo a entender o que está acontecendo. No entanto, você deve ter recebido o telegrama quase ao mesmo tempo. Eu pertenço a você! Teremos uma semana como nunca aconteceu de sonharmos. "O termômetro vai

estourar!" Eu quero ouvir outra vez o pulsar tumultuado dentro de mim, o sangue correndo, queimando, o ritmo lento e suave e o impulso súbito e violento, o frenesi das pausas quando ouço o som da chuva... como salta na minha boca,

Henry. Oh, Henry, eu não posso suportar escrever-lhe - Eu o quero desesperadamente, eu quero abrir tanto as minhas pernas, estou derretendo e palpitante. Eu quero fazer coisas tão selvagens com você que eu não sei nem

como dizer.Hugo está me chamando. Vou responder o resto da carta esta noite.

Anaïs.”

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14 de agosto de 1932  - Miller escreveu sobre sua ambivalência:

“Anaïs,

Não esperes que continue são. Não vamos ser sensatos. Foi um casamento, em Louveciennes — não podes negá-lo. Voltei com pedaços de ti pegados a mim. Estou a andar, a nadar num oceano de sangue, o teu sangue andaluz,

destilado e venenoso. Tudo o que faço e digo e penso tem a ver com o casamento. Vi-te como a senhora do teu lar, uma moura de cara pesada, uma negra com um corpo branco, olhos por toda a tua pele, mulher, mulher, mulher.

Não consigo ver como conseguirei viver longe de ti — estas interrupções são uma morte. Como te pareceu quando o Hugo voltou? Eu continuava aí? Não consigo imaginar-te a moveres-te com ele como fizeste comigo. Pernas

fechadas. Fragilidade. Doce, traiçoeira aquiescência. Docilidade de pássaro. Tornaste-te uma mulher comigo. Isso quase me aterrorizou. Não tens só trinta anos de idade... Tens mil anos de idade.

Aqui estou de volta e ainda fervilhando de paixão, como vinho a fermentar. Não uma paixão apenas da carne, mas uma completa fome por ti, uma fome devoradora. Leio no jornal acerca de suicídios e homicídios e compreendo-o

perfeitamente. Sinto-me assassino, suicida. Sinto talvez ser uma desgraça nada fazer, passar o tempo à espera, encará-lo filosoficamente, ser sensato. Para onde foi o tempo em que homens lutavam, matavam, morriam por uma luva, um olhar, etc.? (Uma grafonola está a tocar aquela terrível ária da Madame Butterfly - "Algum dia ele virá!")

Ainda te ouço a cantar na cozinha — uma leve e negra qualidade na tua voz, uma espécie de gemido cubano inarmónico, monótono. Sei que estás feliz na cozinha e que a refeição que preparas é a melhor que alguma vez

comemos juntos. Sei que, se te queimasses, não te queixarias. Sinto a maior paz e alegria sentado na sala de jantar ouvindo-te atarefada, com o teu vestido, como a deusa Indra, ataviado de mil olhos.

Anaïs, eu só achava que te amava antes; não era como esta certeza que está em mim agora. Foi isto tão maravilhoso apenas porque foi breve e roubado? Estávamos a representar um para o outro, até o outro? Era eu menos eu, ou mais eu, e tu menos ou mais tu? E loucura pensar que isto pode continuar? Onde e quando os momentos mortos

começariam? Estudo-te tanto para descobrir as possíveis falhas, os pontos fracos, as zonas de perigo. Não os encontro — nem eu! Isso significa que estou enamorado, cego, cego. Ser cego para sempre! (Agora cantam "Céu e

Mar" de La Gioconda.) (cont.)

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(cont.)

Vejo-te a tocar discos, um atrás de outro — os discos do Hugo. "Parlez moi d'amour." Dupla vida, duplo gosto, dupla alegria e infelicidade. Como deves estar sulcada e arada por ela! Sei tudo isso, mas nada posso fazer para

evitá-lo. Desejo, na verdade, que fosse eu que tivesse de suportá-lo. Sei agora que os teus olhos estão bem abertos. Há certas coisas em que nunca acreditarás outra vez, certos gestos nunca repetirás, certas dores,

suspeitas, nunca mais sentirás. Uma espécie de fervor criminoso e branco na tua ternura e crueldade. Nem remorso, nem vingança; nem dor, nem culpa. Um viver tudo, sem algo que te salve do abismo, a não ser uma

esperança maior, uma fé, uma alegria que provaste, que podes repetir à vontade.  Toda a manhã estive nas minhas notas, farejando através dos registros da minha vida, pensando onde começar, como marcar o início, vendo não apenas outro livro defronte de mim mas uma vida de livros. Mas não começo. As paredes estão completamente nuas... Tinha tirado tudo antes de ter ido encontrar-me contigo. É como se me

tivesse apontado para partir de vez. As manchas nas paredes salientam-se... onde as nossas cabeças descansaram. Enquanto troveja e relampeja, estou deitado na cama e atravesso sonhos desvairados. Estamos em

Sevilha e depois em Fez e depois em Capri e depois em Havana. Estamos eternamente em viagem, mas existe sempre uma máquina e livros, e o teu corpo está constantemente perto de mim e o teu olhar nunca muda. As

pessoas dizem que seremos infelizes, que nos arrependeremos, mas nós estamos alegres, estamos sempre a rir, estamos a cantar. Falamos espanhol e francês e árabe e turco. Somos admitidos em toda a parte e atapetam o

nosso caminho com flores. Eu digo que este é um sonho desvairado — mas é este sonho que quero concretizar. Vida e literatura

combinadas, o amor o dínamo, tu com a tua alma de camaleão dando-me mil amores, ancorada sempre não importa qual a tempestade, em casa onde quer que estejamos. Nas manhãs continuando onde interrompemos;

ressurreição após ressurreição. Tu confirmando-te, conseguindo a rica, variada vida que desejas; e, quanto mais te confirmas, mais me queres e precisas de mim. A tua voz tornando-se mais rouca, mais funda, os teus olhos mais negros, o teu sangue mais espesso, o teu corpo mais cheio. Uma servitude voluptuosa e uma necessidade

tirânica. Mais cruel agora do que antes... Conscientemente, intencionalmente cruel. A insaciável delícia da experiência.

HVM”

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Carta de Miller - Clichy – 14 de agosto de 1932

“Eu não sei o que eu espero de você, mas é algo no caminho de um milagre. Vou exigir tudo de você - até mesmo o impossível, porque você encoraja a isto...

Sim, Anaïs , fiquei pensando como eu poderia traí-la , mas eu não posso. Eu quero você. Eu quero despi-la , vulgariza-la um pouco - ah, eu não sei o que estou dizendo . Estou um pouco bêbado

porque você não está aqui . Eu gostaria de ser capaz de bater palmas e eis, Anaïs! Eu quero possuir você, usar você, eu quero te foder , eu quero ensinar-lhe coisas. Não, eu não aprovo você - Deus me

livre ! Talvez eu queria mesmo humilhá-la um pouco - por que , por quê? Por que não caio de joelhos e simplesmente a adoro? Eu não posso, eu te amo rindo . Você gosta disso?

E querida Anaïs , eu sou muitas coisas. Você vê apenas as coisas boas agora - ou pelo menos que me levam a crer que sim. Eu quero que você para um dia inteiro , pelo menos. Eu quero ir a lugares

com você - possuir você. Você não sabe quão insaciável eu sou. Ou quão covarde. E quão egoísta!Eu estive em meu bom comportamento com você. Mas eu aviso-a, eu não sou nenhum anjo. Eu acho

principalmente que estou um pouco bêbado. Eu te amo. Eu vou para a cama agora - é doloroso demais para ficar acordado. Eu sou insaciável. Vou pedir-lhe para realizar o impossível. O que é isto, eu não sei. Você provavelmente vai me dizer. Você está mais rápida que eu. Eu amo seu sexo

(tradução eufemista), Anaïs - que me deixa louco. E o jeito que você diz meu nome! Meu Deus, é irreal. Ouça, eu estou muito bêbado. Eu estou

machucado por estar aqui sozinho. Necessito de você. Posso dizer tudo para você? Eu posso, eu não posso? Então venha depressa para me comer. Atire comigo. Enrole suas pernas em volta de mim.

Goze comigo. Aqueça-me.”

22 de março de 1932

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“Eu quero te amar selvagemente. Eu não quero palavras, mas inarticulados gritos, sem sentido, do fundo do meu mais primitivo ser, que flui de meu ventre como mel. Uma penetrante alegria, que me esvazia, conquistada, silenciada.” Anaïs

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Enquanto se desenrolava o romance entre ambos, os tórridos amantes construíram suas carreiras literárias. Miller terminou seu primeiro livro “Trópico de Câncer”, obra autobiográfica, onde se

encontram suspiros de surrealismo, filosofia nietzschiana, influências de escritores “eróticos” como Céline e DH Lawrence – a quem inicialmente ele rejeitou. Não é pornográfico, é

demasiadamente humano. É um homem em busca de si mesmo, uma descoberta a cada página, uma canção de libertação... É preciso que se destaque que sua busca era também por dinheiro e

sexo como formas de sobrevivência, cuja única alternativa é a vida. E essa, Miller viveu com tesão!

Foi com a ajuda de Anaïs que Miller conseguiu publicá-lo em Paris no ano de 1934, enquanto em todos os países de língua inglesa ficou proibido por quase 30 anos.

“Enquanto falta aquela centelha de paixão, não há nenhum significado humano no desempenho.”

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Anaïs Nin – aos 11 anos de idade iniciou uma espécie de diário, que na idade adulta veio a se constituir na mais importante de suas obras literárias – “Diários”, cujos originais chegaram a 15.000 páginas.

A parte que constitui propriamente a obra “Diários” da idade adulta abrange de 1934 a 1975, e tem por temas básicos: o eu, a feminilidade, a neurose, a liberdade, as relações interpessoais e a confluência da arte e a vida.

Seus Diários são um afresco pelo qual desfilaram os intelectuais e artistas mais famosos de sua época, desde Dalí e Gala, Carpentier, Chaplin, Cortázar, Blaise Cendrars e Tanguy, entre outros.

Anaïs Nin estudou psicanálise com Otto Rank e por pouco tempo praticou como terapeuta leiga em Nova York. Ela foi paciente de Carl Jung por um tempo também.

Anaïs Nin é conhecida, também, por seus amantes: além de Henry Miller, Edmund Wilson, Gore Vidal e Otto Rank. Seu marido Hugh Guiler jamais tolheu o que fazia de sua vida particular.

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DelzaConsta de seus Diários que sua versatilidade em erotismo criava surpresas como, certa vez em que seu marido estava em viagem, ter esperado por Henry Miller em

sua casa coberta tão somente por uma renda preta.

Anaïs em vestido e mantilha espanhola de renda preta.

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Em 1939 Durrell, que viveu em Corfu - Grécia, convidou Miller para uma estada. Miller descreveu a visita em seu livro “O Colosso de Marússia” (1941), que ele considerava sua

melhor obra literária. George Orwell - em seu ensaio de 1940 "Dentro da Baleia" – foi um dos primeiros autores a reconhecer Henry Miller como um grande escritor moderno.

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A respeito dos Diários – Em 1941, Henry Miller, seu grande amigo, amante e colega:

''Creio que seu Diário seja realmente mais importante que toda a minha obra junta. E, se não, certamente tão importante. Eu deixaria de pensar

em editores e editoras. Devemos fazer isso nós mesmos. Mais adiante virão até você, você vai ver.”

'‘E as críticas também não significam nada. Só uma coisa conta: a estima de nossos iguais. Se tivermos fé e vontade, com o tempo os outros

terão também.”'‘Você erra ao se iludir sobre a atitude dos americanos. Você será muito bem aceita, magnificamente, quando surgir sua obra prima, quer dizer,

o diário. O restante dos seus escritos despista as pessoas. Não livre nenhuma batalha para defender sua obra.”

Também em 1941 ela recebe outra entre tantas cartas de Henry Miller: '‘Você erra ao se iludir sobre a atitude dos americanos. Você será muito bem aceita, magnificamente, quando surgir sua obra prima, quer dizer, o diário. Você deve acreditar em sua obra, em seu valor conjunto. Quero ajudar você. Creio que seu diário seja mais importante que toda a minha obra junta. Durante toda a sua vida você se dedicou à composição dessa obra e, queira ou não, não pode adiar indefinidamente sua publicação.”

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O sucesso de Anaïs

Mas, quando começam a aparecer os diários, lá pelos anos 60, Anaïs vê despontar toda uma legião de admiradores e começa a sentir uma atenção que nunca havia recebido:jantares, conferências e flores estavam por toda a parte.

O alemão Gunther Stuhlmann foi o principal editor de seus diários, foi quem escreveu todos os prólogos, nos quais conta, em detalhes, como foram redigidos. Muito se escreveu sobre Anaïs Nin, mas seria Deirdre Bair quem mais perfeitamente desvendou a sua vida em uma monumental biografia.

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Quando teve um breve encontro com a famosa escritora francesa Marguerite Duras, na primavera de 1964, ela escreveu: "O encontro com Marguerite Duras em Paris foi caloroso e espontâneo. Nós nos abraçamos como velhas amigas. É pequena, de aspecto oriental, com o cabelo curto e preto, e uns brilhantes olhos negros. Ela diz que ama meu romance "A Spy in the House of Love“ (Um espião na casa do amor), que é um belo livro e que está prestes a ser adaptado para a tela. O que impressiona em Duras são seus sapatos baixos, sua blusa incolor, seu pulover manchado, a jaqueta de couro marrom, sua naturalidade e franqueza, a falta de faceirice. É realmente simples e adorável.“

Em 1944 surge seu livro de contos "Under a Glass Bell“ (Debaixo de uma Redoma), e Edmund Wilson, talvez a pena mais autorizada da crítica norte-americana, escreveu na famosa revista "The New Yorker": “os contos reunidos neste livro pertencem ao peculiar gênero que às vezes cultivava a já falecida Virginia Wolf. São metade contos, metade sonhos, e combinam poesia, às vezes requintada, com uma observação realista e simples. As historias se passam num mundo especial, o mundo da percepção e da fantasia feminina, e se tornam mais encantadoras e curiosas pelo fato de serem inocentemente intencionais.”

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Como descobri Anaïs e Henry Miller

Desde minha juventude, Trópico de Câncer e de Capricórnio; Sexus, Plexus e Nexus, eram nomes de livros necessária e automaticamente ligados a um escritor chamado Henry Miller. Pra mim, isso era tudo.

Por volta do início dos anos 90, numa Marie Claire de edição portuguesa, li aproximadamente 9 páginas que condensavam vida e obra de uma escritora chamada Anaïs Nin. Chamou-me bastante a atenção mas esqueci na gaveta da mesa de trabalho. Ao me aposentar, em 1996, encontrei as ditas folhas arrancadas da revista e fazendo parte de meus guardados. Levei-as comigo, com a sensação de que aquela mulher tinha algo mais a me dizer...

Depois da aposentadoria dediquei-me à procura de sua obra não ficcional – Diários que, no Brasil, tinha editado somente o primeiro de seus 8 volumes – e então foi preciso recorrer a um amigo espanhol que me trouxe parte deles da Espanha e, os faltantes, de uma viagem à Argentina.

Além de toda a riqueza de seus enfoques sobre o feminino antes mesmo de meados do século passado, com o que foi considerada uma das pioneiras da revolução sexual naquele período centenário, passei a dever pessoalmente a ela o ápice de minha libertação iniciada através da psicanálise.

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Delza

Em meio a uma dilacerante crise de identidade, Eureka!

"... Ninguém entende que o comum não passa de uma fachada, uma persona, e que o resto está escondido e tem de ser descoberto. Outra coisa a qual não posso escrever a respeito: aqueles que fixaram suas vidas e escolheram viver na superfície, para permanecer fiel às ideias, à música, aos livros que eles conheceram aos vinte anos, que têm uma superfície encerada de humor, uma superfície esmaltada, pintada, que exclui o reconhecimento da tragédia mesmo quando ela os atinge, que têm a missão de neutralizar os distúrbios profundos, as crises, os desejos não realizados. Esses muros eu não desejo escalar. Eles são erguidos pelo medo e o que foi enterrado já está deteriorado. A órbita de tais pessoas é pequena, definida. Sou capaz de gostar deles como seres humanos, mas para mim eles são como os intocáveis. Intocados pelos grandes mistérios ou tempestades da vida, ou pelos grandes momentos. Eu não posso escrever sobre eles...” Anaïs Nin - Diários Vol. VI.

Foi quando conscientizei que precisava percorrer uma nova estrada na vida…

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O verdadeiro valor de Henry Miller chegou-me com o fato de ter sido o grande amor da vida de Anaïs Nin, cuja relação deu origem a uma cantada e decantada correspondência postumamente traduzida em muitas línguas, e que teve por objeto expor suas respectivas e recíprocas paixões.

Todavia e apesar de todo peso literário de que naturalmente era revestida, nem de longe constituiu o que de mais importante Anaïs e Miller revelaram através de suas escritas.

Da obra de ambos são admiráveis e verdadeiras fontes de aprendizado sobre o ser humano os enxertos das reflexões filosóficas que inseriam em seus livros, das quais algumas serão aqui trazidas adiante.

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Citações - Anaïs Nin:

Mentir é engendrar a insanidade, lógico! A vida é um processo de crescimento, uma combinação de situações que temos de atravessar. As pessoas falham quando querem eleger uma situação e permanecer nela. Esse é um tipo de morte.Flechas elétricas de carne atravessando o corpo. Um arco-íris atinge as pálpebras. Uma música difusa cai sobre os ouvidos. É o gongo do orgasmo.Não deixe uma nuvem encobrir o céu inteiro.Vergonha é uma mentira que te contaram sobre você mesmo.Há poucos seres humanos que aceitam a verdade, completa e surpreendente, por iluminação instantânea. A maioria a adquire fragmento por fragmento, em pequena escala, por sucessivos desenvolvimentos, celularmente, como um laborioso mosaico.Nós não crescemos absolutamente, cronologicamente. Nós crescemos às vezes em uma dimensão e não em outra, irregularmente. Nós crescemos parcialmente. Somos relativos. Somos maduros em uma esfera, infantis em outra.Eu escrevo álgebra emocional.O erotismo é uma das bases do conhecimento de nós próprios, tão indispensável como a poesia.Não temos uma linguagem dos sentidos. Sentimentos são imagens, sensações são como sons musicais. Jazz é a música do corpo.Escrevemos para saborear a vida duas vezes, no momento e em retrospectiva.Escrever é descer, escavar, ir ao subsolo.

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Citações – Henry Miller

“Nós não falamos - nós atingimos uns aos outros com fatos e teorias adquiridas a partir de leituras superficiais de jornais, revistas e resumos. O mundo é o reflexo de eu mesma morrendo.O que distingue a maioria dos homens do restante é sua inabilidade para agir de acordo com suas crenças. Afinal, a maior parte da escrita é feita longe da máquina de escrever, longe da escrivaninha. Eu diria que ela acontece nos momentos quietos e silenciosos, enquanto você está caminhando ou fazendo a barba ou jogando um jogo ou, qualquer coisa, até conversando com alguém em quem você nem está tão interessado. Todas as minhas boas leituras, poderia dizer, foram feitas no banheiro. Há passagens de Ulisses que apenas podem ser lidas no banheiro – se alguém quiser extrair todo o sabor do seu conteúdo.Todo crescimento é um salto no escuro, um espontâneo, não premeditado ato isento do benefício da experiência.Esperança não é uma boa coisa. Significa que você não é o que você quer ser. Significa que parte de você está morta, se não você inteiro. Significa que você alimenta ilusões. É um tipo de aplauso espiritual, eu diria. A imaginação é a voz da ousadia. Se existe alguma coisa de divina acerca de Deus é que ele se atreveu a imaginar tudo. Aquilo que precisa ser mantido através da força está condenado.A arte não ensina nada, exceto o significado da vida.Pecado, culpa, neurose – são uma coisa só, fruto da árvore do conhecimento.A mente desperta é a menos útil às artes.Que não podemos nos erguer da mesma forma nas situações quando estamos dentro delas – essa é a tragédia da vida.”

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Delza Embora vivendo distantes, jamais deixaram de ser grandes amigos e de se visitar, como nesta foto na casa de Henry Miller, em Los Angeles, 1970.

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Até mesmo na idade mais avançada, quando Miller já havia adquirido o hábito de usar – mais que qualquer outra vestimenta – seu famoso robe azul, Anaïs se fazia presente na vida daquele que era então seu grande amigo.

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A relação de Anaïs com a psicanálise nasceu da raiz do seu desejo de conciliar todos os matizes de sua personalidade, de sua vida: o sonho e a realidade, o sentimento e o intelecto, o compromisso e a reserva, a ação e a contemplação, o ser real e o ser simbólico. Seu primeiro psicanalista foi René Allendy, mas o tratamento foi relativamente curto, pois Allendy quis fazê-la entrar no molde da normalidade, pediu que vivesse o amor como algo agradável e leve, que o despojasse de seu aspecto trágico. Viu-a como ela não era. Posteriormente, conhecendo-o através de sua obra, recorreu a Otto Rank, que se especializou no feito artístico. A neurose, escreveu certa vez, é a manifestação de uma imaginação e de energias desencaminhadas, uma neurose é uma obra de arte falha e o neurótico é um artista falho.Ao longo do tratamento surgiu entre eles um forte sentimento de amor. Naquela época parece ter sido uma mulher feliz; não é difícil entender que encontrou no Dr. Rank um homem brilhante, que não negava seus sentimentos, mas que entendia o seu valor profundo; ele conseguiu com o seu amor e sabedoria ajudar Anaïs a superar as enormes contradições de sua cansativa existência, pois sempre procurava criar um mundo belo para os outros, oferecendo o melhor de si mesma a cada uma das pessoas com quem ela compartilhava seu espaço e seu tempo:Eu curo o sofrimento dos outros. Sim, eu me encontro sempre suavizando golpes, dissolvendo ácidos, neutralizando venenos, a cada momento do dia. Eu tento satisfazer os desejos dos outros para fazer milagres. Eu me esforço para fazer milagres (Henry escreverá seu livro, Henry não morrerá de fome, June ficará boa, etc.).Não só Otto Rank lhe devolveu a certeza de que suas contradições eram legítimas como características humanas, mas ele a fez perder o medo de "ser realizada por outro", por ter sido para ela o homem de ciência que compreendera, ao analisa-la, cada uma de suas aspirações como artista e como mulher em busca constante de sua plenitude total, e ao mesmo tempo o companheiro capaz de intensidades equivalentes às suas, tanto no aspecto físico quanto emocional. Foi ele quem, em 1934, convidou-a a Nova York para trabalhar com ele. Assim Anaïs Nin começou sua prática da psicanálise e, embora mais tarde abandonasse essa atividade, assim o fez profundamente enriquecida.

Anaïs morreu em 14 de janeiro de 1977 em sua casa de Los Angeles após lutar durante 3 anos contra um câncer.

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Em 1967 Miller casou-se pela quinta vez. Este matrimônio se deu com a pianista japonesa Hoki Tokuda, e durou cerca de dez anos.Todavia, seu último grande amor foi a atriz Brenda Venus, a quem dedicou os últimos anos de sua vida quando, ainda que minguado fisicamente, mantinha a mesma intensidade vital que tinha durante os anos loucos de Paris.

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Durante os quatro anos finais de sua vida, Henry Miller escreveu mais de 1.500 cartas de amor (mais de 4.000 páginas!) para sua musa, a bela atriz americana Brenda Venus. Ao homem de quase 90 anos - reconhecidamente uma ruína física - as boas graças da jovem atriz incentivaram o amor que nasceu à primeira vista, acendendo um ardor que o manteve vivo por mais quatro anos.

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DelzaHenry Miller não só escreveu sobre erotismo como nem mesmo alquebrado baniu-o de sua vida...

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Miller sempre teve um interesse especial pela pintura, ele se gabava de ter pintado milhares de aquarelas. E, somente após a perda da visão em seu olho direito em seus últimos anos, parou de pintar. Ele dizia que, para ele, escrever era trabalhar enquanto pintar era brincar. A relação de Miller com a pintura sempre foi muito próxima: ele exibiu suas aquarelas pela primeira vez em 1927, em Greenwich Village; em tempos de dificuldade econômica as aquarelas serviam como tábua de salvação para serem trocadas por comida, roupas ou contas de dentista. Miller também publicou um livro dedicado à pintura: “Pintar é voltar a amar” (1960).Miller faleceu em 1980, aos 89 anos de idade.

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Delza “Pintar é voltar a amar, a viver, a ver...”

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Imagens – todas tiradas da Net

Músicas : pot-pourri da trilha sonora do filme “Henry e June”

Criação, pesquisa, compilação e formatação: Delza Dias Ferreira

Versão para o Inglês – Claudia Ricci

Publicação e revisão – Claudia Ricci Para comunicação, por favor clique no link abaixo: www.culturesandart.com São Paulo, IV 2015