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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE VETERINRIA
METODOLOGIA APLICADA CONCLUSO DE CURSO
REVISO DAS DOENAS QUE PODEM ACOMETER APIS MELLIFERA.
Autor: Felipe Silveira da Silva
Matrcula: 1201026
PORTO ALEGRE
2010/2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE VETERINRIA
METODOLOGIA APLICADA CONCLUSO DE CURSO
REVISO DAS DOENAS QUE PODEM ACOMETER APIS MELLIFERA.
Autor: Felipe Silveira da Silva
Matrcula: 1201026
Monografia apresentada Faculdade de
Veterinria como requisito parcial para
obteno do ttulo de graduao em
Medicina Veterinria.
Orientador: Aroni Sattler
PORTO ALEGRE
2010/2
DEDICATRIA
Agradeo e dedico este trabalho a minha famlia, em especial ao meu pai, me e av,
pela dedicao e ajuda para comigo durante toda a minha vida, e nesta etapa difcil que foi a
Faculdade de Veterinria. Aos meus queridos irmos, agradeo as ajudas prestadas, sempre
que me foi necessrio. Aos meus pequenos sobrinhos, agradeo os momentos de alegrias, que
como crianas, me proporcionaram em perodos de grandes tenses.
Aos meus amigos de adolescncia, em especial os dois Gustavos (o Braga e o Chaves),
bem como o Diego, agradeo pelo companheirismo, as noites de farras, discusses e
conversas que muito contriburam para moldar a minha percepo sobre as coisas tanto boas
como ruins. Aos meus colegas de faculdade, em especial ao Tenyson Pires e ao Carlos
Eduardo agradeo pelos momentos de estudos, de descontraes e de caronas,
proporcionados. Agradeo a minha filha Mariana, que ao nascer deu sentido a minha vida, e
mais fora me deu para concluir essa etapa da vida.
A vice Diretora do Gabinete do Departamento de Produo Animal da Secretaria
Estadual de Agricultura, Dra. Valria, ao meu patro Dr. Moussalle, ao meu chefe direto Dr.
Rodrigo Nestor, agradeo a flexibilidade de horrios para seguir meus estudos, a renda que
me foi proporcionada, sem a qual eu no teria conseguido auxiliar o sustento da minha filha e
realizar a concluso desse curso de graduao. Dedico tambm esse trabalho e a aquisio
desse ttulo de graduao ao meu chefe de estgio, Dr. Luiz Carlos Falco, o qual contribui
muito para meus aprendizados na rea de registros de produtos e rtulos e que muito anseio
teve para que eu conclusse minha formao em medicina veterinria.
A todos os professores agradeo o conhecimento que me foi repassado e que de muito
contribuiu para minha formao profissional com qualidade.
AGRADECIMENTOS
Ao professor Aroni Sattler, uma verdadeira referncia em apicultura, tanto no estado
do Rio grande do Sul, como no Brasil, agradeo a aceitao para orientao, reviso e
correo deste trabalho de concluso do curso de graduao.
RESUMO
As abelhas apresentam um importante papel em nosso meio. Suas atividades de
polinizao potencializam a reproduo das culturas vegetais melhorando a qualidade e
quantidade dos frutos gerados nos cultivos. Os produtos e subprodutos gerados pelas abelhas
podem ser empregados em diferentes ramos do mercado econmico, como indstria de
alimentos, farmacuticas, qumicas e de cosmticos. Dada a importncia econmica desses
insetos, em especial a Apis mellifera, o presente trabalho objetiva promover uma reviso das
doenas que afetam a espcie.
Dentre as enfermidades que podem se instalar num apirio, algumas so mais restritas
as crias, outras afetam mais as abelhas adultas, mas todas atingem a colmia causando
varivel grau de morbidade, mortalidade e queda de produo. Didaticamente as enfermidades
que acometem as abelhas estaro divididas em Principais doenas que afetam as crias e
principais doenas que afetam indivduos adultos. Dentre as mais comuns que afetam as crias
temos, a Loque Europia e Americana, a Cria Giz, a Cria Ensacada, as Crias Anmalas,
algumas viroses e a Cria Careca. Quanto s categorias adultas referenciamos a Acariose, a
Nosemose, o Mal de Outono, a Piolhose, algumas viroses, a infeco por larvas de Leptus
Ariel, e algumas intoxicaes. A Varroatose atinge tanto crias como indivduos adultos, no
se restringindo a uma dessas categorias. Agentes que no causam doenas, mas que afetam as
colmias por serem inimigos que pilham ou predam as mesmas, tambm sero relatadas por
causarem diminuio da populao e/ou da produo.
A colheita de amostras para envio a laboratrio para fins diagnsticos foi abordada
baseada no Manual Veterinrio de colheita e envio de Amostras, do Ministrio da Agricultura
[2010]. Cada enfermidade foi descrita discriminando-se o que, no presente momento se sabe
sobre agente causal (diagnstico), tratamento, e controle. Algumas das doenas presentes
neste trabalho ainda no esto bem esclarecidas quanto causa e o tratamento que deva ser
usado, como o caso do Mal de outono, Crias Carecas, Anmalas, dentre outras. Logo,
deve ser intensificado os estudos e pesquisas na rea.
As doenas relatadas tm sua propagao potencializada pelo despreparo dos
apicultores em identific-las e pelo advento de uma apicultura migratria na busca por
melhores floradas. As deficientes aes de fomento na rea e a inespecificidade de uma
fiscalizao ou legislao sanitria que controle o trnsito e os produtos das abelhas, tambm
contribuem para o surgimento de diferentes enfermidades em diferentes regies.
ABSTRACT
The bees have an important role in our midst. Their activities pollination potentiate the
reproduction of crops by improving the quality and quantity of fruit produced in cultures. The
products and byproducts generated by the bees may be employed in different branches of the
economic market, as the food industry, chemical, pharmaceutical and cosmetic industries.
Given the economic importance of these insects, especially Apis mellifera, the present study
aims to provide a review of diseases affecting the species.
Among the diseases that can be installed in an apiary, some are more restricted
offspring, others affect more adult bees, but all reach the hive causing variable degree of
morbidity, mortality and declining production. Didactically the diseases that affect bees will
be divided into major diseases that affect the young and the major diseases that affect adults.
Among the most common affecting the offspring have the European and American foulbrood,
the Chalk Creates the brood, the Cubs Anomalous, and some viruses Creates Bald. As for the
adult categories referenced acariosis the Nosemose, "Evil Autumn," a lousy, some viruses,
infection with larvae Leptus ariel, and some poisonings. The Varroatose affects both young
and adults, not restricted to one of these categories. Agents that do not cause disease, but that
affect the hives because they are "enemies" to plunder or prey on them, also are reported to
cause population decline and / or production.
The collection of samples to be sent to the laboratory for diagnostic purposes was
discussed based Veterinary Manual harvesting and shipping of samples, the Ministry of
Agriculture [2010]. Every disease has been described what is broken in the present moment is
known about the causative agent (diagnosis), treatment, and control. Some of the diseases in
this work are not well informed as to the cause and treatment that should be used, such as the
"Evil of fall," Cubs bald, Anomalous, and others. It must therefore be intensified studies and
research in the area.
The diseases reported, have enhanced their spread by the unpreparedness of the
beekeepers in identifying them and the advent of a migratory beekeeping in the search for
better flowering. The poor development actions in the area and the specificity of a supervisory
or health legislation to control traffic and bee products, also contribute to the emergence of
different diseases in different regions.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Modelo de colmia primitiva (idealizada por Francis Huber) 19
Figura 2 Modelo de colmia americana (idealizada por Langstroth) 19
Figura 3 Morfologia externa de operria de Apis mellifera 21
Figura 4 Morfologia da cabea de Apis mellifera 21
Figura 5 Anatomia interna da Apis mellifera (glndulas da cabea e outras estruturas) 22
Figura 6 Castas de Apis mellifera (Rainha, Operria e Zango) 24
Figura 7 Colmias (dispostas em um Apirio) 25
Figura 8 Favos de cria (alvolos operculados e no operculados) 25
Figura 9 Favos falhados e rodos 28
Figura 10 Filamento viscoso entre larva morta e palito 28
Figura 11 Escamas (restos cadavricos aderidos ao alvolo) caso de Loque
Americana
29
Figura 12 Fragmento de favo sendo coletado para exame laboratorial 29
Figura 12.1 Esterilizao de colmia pelo calor 31
Figura 12.2 Teste de comportamento higinico de abelhas para melhoramento gentico 32
Figura 12.3 Colmia com timo ndice de comportamento higinico (98%) 33
Figura 13 Favos falhados (caso de Loque Europia) 34
Figura 14 Larvas doentes e em posio anormal nos alvolos (caso de Loque Europia) 35
Figura 14.1 Amostras de contaminao em apirios de So Gabriel /RS 37
Figura 15 Favos com falha de ecloso e oprculos perfurados 38
Figura 16 Crias mumificadas com colorao branca e cinza escuro 38
Figura 17 Planta Barbatimo causadora de Cria Ensacada Brasileira 39
Figura 18 Cria ensacada com colorao marrom e ensacada 40
Figura 19 Aparncia ensacada ou de vescula aquosa da pr pupa (Cria Ensacada) 40
Figura 20 Cria com asa deformada (ao do vrus DWV e/ou Varroa destructor) 42
Figura 21 Alterao de colorao e corpo flcido (caso de Crias Anmalas) 43
Figura 22 Diferentes fases de cria ectoparasitadas pelo caro Varroa destructor 46
Figura 23 Aspergillus fumigatus 46
Figura 24 Aspergillus flavus 47
Figura 25 Padro saudvel do favo e das crias 50
Figura 26 Quadro de cria falhado ou salteado 50
Figura 27 Diferentes estgios de vida de crias doentes ou alteradas 51
Figura 28 Corte de pedaos de favos com crias suspeitas 52
Figura 29 Corte de favos com crias operculadas 53
Figura 30 Amostras em papel jornal (pesquisa de Varroatose) 53
Figura 31 Colheita de crias anormais com pina 54
Figura 32 Acondicionamento individual de crias suspeitas em tubos tipo Eppendorf 54
Figura 33 Acondicionamento e disposio das crias em papel ofcio 55
Figura 34 Corte de fragmento de mel operculado entre arame e o quadro 56
Figura 35 Amostra de mel operculado e plen (pesquisa de P.larvae e Barbatimo) 56
Figura 36 Protozorios N.apis e N. ceranae (respectivamente fotos esq. e dir.) 57
Figura 37 Sintoma ou comportamento inespecfico, abelha cada (caso de N.
ceranae)
58
Figura 38 Acmulo de lquido no trato digestivo 59
Figura 39 Afeco de pnis (provvel infeco por Nosema sp.) 60
Figura 40 Acarapis woodi (agente da Acariose) 61
Figura 41 Acarapis woodi parasitando trato respiratrio de abelha 62
Figura 42 Abelha com asas separadas, sem possibilidade de vo (caso de Acariose) 63
Figura 43 Buchas de esponja com Timol e maravalha com soluo de Hichard Frow
(Nitrobenzeno) tratamento de caros como no caso de Varroatose e Acariose
64
Figura 44 caro Varroa destructor ligada ao trax , sugando a hemolinfa 65
Figura 45 Tiras de Apistan (tratamento contra Varroatose) 67
Figura 46 Cria com asa deformada (ao do vrus DWV e/ou Varroa destructor) 68
Figura 47 Abelhas mortas em grandes quantidades (provvel contato com defensivos) 71
Figura 48 caro ectoparasita das abelhas e outros insetos (Leptus sp.) 72
Figura 49 Larvas de caros concentradas no trax 73
Figura 50 Larvas em diferentes regies do corpo da Apis mellifera 73
Figura 51 Braula coeca ou piolho da abelha 75
Figura 52 Visualizao e diferenciao de Varroa sp. e Braula sp., pelo n de patas 75
Figura 53 Valkamfia mellificae Prell 77
Figura 54 Pseudomonas apiseptica 79
Figura 55 Serratia sp 79
Figura 56 Spiroplasma sp 80
Figura 57 Diferentes estgios de vida de gregarinas 82
Figura 58 Colheita de abelhas adultas no solo (amostra para remessa ao laboratrio) 84
Figura 59 Frasco de plstico, tipo universal, perfurado para acondicionar abelhas 85
Figura 60 Colheita de abelhas com auxlio de pincel, para recipiente com lcool 70% 85
Figura 61 Colheita de abelhas com auxlio de equipamento sugador 86
Figura 62 Frasco tipo universal contendo amostra de abelhas 86
Figura 63 Colheita de abelhas que esto cobrindo reas de crias 87
Figura 64 Isopor com gelo refrigerador contendo amostras de abelhas congeladas 88
Figura 65 Colheita de abelhas adultas com pote de 500 ml contendo lcool 70% 89
Figura 66 Pote ensacado para remessa de amostra 4 90
Figura 67 Local de colheita (amostra 5) 90
Figura 68 Colheita com auxlio de pina ou luva descartvel 91
Figura 69 Mariposa Galleria mellonela (adulto da traa grande da cera) 92
Figura 70 Larvas de Galleria mellonela 93
Figura 71 Indivduo adulto de Achroia grisella 94
Figura 72 Larvas de Achroia grisella 94
Figura 73 Formigo (Camponutus rufipes) 98
Figura 74 Apiomerus sp. 97
Figura 75 Cascudo causador da Aethinose 97
Figura 76 Larvas de Aethina tmida 98
Figura 77 Rato (Microtus arvalis) 100
Figura 78 Irara 100
Figura 79 Tatu (Priodontes giganteus e Tolypeutes tricinctus) 101
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Taxionomia da Apis mellifera 20
Tabela 2. Principais doenas, intoxicaes que afetam as crias de abelha 26
Tabela 3 Principais doenas, intoxicaes que afetam as abelhas adultas 26
Tabela 4. Lista dos inseticidas mais utilizados em agricultura 70
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a.c. antes de cristo
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria
g grama
h hora
hs horas
kg quilograma
Km quilmetro
MAPA Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento
mm milmetro
mg miligrama
C grau Celsius
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
13
SUMRIO
1 INTRODUO 17
2 HISTRICO 18
3 IDENTIFICANDO A Apis mellifera 20
3.1 Cabea 21
3.2 Trax 23
3.3 Abdmen 23
4 AS DOENAS DAS ABELHAS 24
4.1 Principais doenas, intoxicaes e parasitoses que afetam as crias das abelhas 27
4.1.1 Cria Ptrida Americana ou Loque Americana 27
4.1.1.1 Sintomas e sinais 28
4.1.1.2 Diagnstico 29
4.1.1.3 Tratamento 30
4.1.1.4 Controle 30
4.1.2 Cria Ptrida Europia ou Loque Europia 33
4.1.2.1 Sintomas e sinais 34
4.1.2.2 Diagnstico 35
4.1.2.3 Tratamento 36
4.1.2.4 Controle 36
4.1.3 Cria Giz 36
4.1.3.1 Sintomas e sinais 37
4.1.3.2 Diagnstico 38
4.1.3.3 Tratamento 38
4.1.3.4 Controle 39
4.1.4 Cria Ensacada 39
4.1.4.1 Sintomas e sinais 39
4.1.4.2 Diagnstico 41
4.1.4.3 Tratamento 41
4.1.4.4 Controle 41
4.1.5 Cria da Asa Deformada 42
4.1.6 Crias Anmalas 42
4.1.6.1 Diagnstico 43
14
4.1.6.2 Tratamento 43
4.1.6.3 Controle 44
4.1.7 Cria Careca 44
4.1.7.1 Sintomas e sinais 44
4.1.7.2 Diagnstico 44
4.1.7.3 Tratamento 45
4.1.7.4 Controle 45
4.1.8 Varroatose 45
4.1.9 Cria Pedra 46
4.1.9.1 Sintomas e sinais 47
4.1.9.2 Diagnstico 47
4.1.9.3 Tratamento 48
4.1.10 Postura Saciforme 48
4.1.10.1 Sintomas e sinais 48
4.1.10.2 Diagnstico 49
4.1.10.3 Tratamento 49
4.1.10.4 Controle 49
4.1.11 Identificao das alteraes e forma de remessa de amostra ao laboratrio. 50
4.1.11.1 Amostras para diagnsticos das principais doenas que afetam as crias de abelhas 51
4.1.11.2 Colheita de crias para anlise 51
4.2 Principais doenas, intoxicaes e parasitoses que afetam abelhas adultas 57
4.2.1 Nosemose 57
4.2.1.1 Sintomas e sinais 58
4.2.1.2 Diagnstico 60
4.2.1.3 Tratamento 60
4.2.1.4 Controle 61
4.2.2 Acariose 61
4.2.2.1 Sintomas e sinais 62
4.2.2.2 Diagnstico 63
4.2.2.3 Tratamento 63
4.2.3 Varroatose 64
4.2.3.1 Sintomas e sinais 66
4.2.3.2 Diagnstico 66
15
4.2.3.3 Tratamento 67
4.2.3.4 Controle 67
4.2.4 Viroses 68
4.2.4.1 Sintomas e sinais 68
4.2.4.2 Tratamento 68
4.2.4.3 Controle 69
4.2.5 Mal de Outono 69
4.2.5.1 Sintomas e sinais 69
4.2.6 Intoxicaes 70
4.2.6.1 Sintomas e sinais 71
4.2.6.2 Controle 71
4.2.7 Parasitismo por larvas de Leptus ariel 72
4.2.7.1 Sintomas e sinais 73
4.2.7.2 Tratamento 74
4.2.7.3 Controle 74
4.2.8 Piolhose ou Piolho da Abelha 74
4.2.8.1 Sintomas e sinais 76
4.2.8.2 Diagnstico 76
4.2.8.3 Tratamento 76
4.2.8.4 Controle 76
4.2.9 Amebase 76
4.2.9.1 Sintomas e sinais 77
4.2.9.2 Diagnstico 78
4.2.9.3 Tratamento 78
4.2.9.4 Controle 78
4.2.10 Septicemia 78
4.2.10.1 Sintomas e sinais 80
4.2.10.2 Diagnstico 81
4.2.10.3 Tratamento 81
4.2.11 Protozoose por Gregarinas 81
4.2.11.1 Sintomas e sinais 82
4.2.11.2 Diagnstico 83
4.2.11.3 Tratamento 83
16
4.2.12 Identificao das alteraes e forma de remessa ao laboratrio. 83
4.2.12.1 Amostras para diagnsticos das principais doenas que afetam as abelhas adultas 83
5 PRAGAS QUE ACOMETEM A COLMIA 91
5.1 Traas 92
5.1.1 Galleria mellonela 92
5.1.2 Achroia grisella 93
5.1.2.1 Controle 94
5.2 Formigas 95
5.2.1 Controle 96
5.3 Hempteros do gnero Apiomerus 96
5.4 Aethinose 97
5.4.1 Sintomas e sinais 98
5.4.2 Diagnstico 99
5.4.3 Tratamento 99
5.4.4 Controle 99
5.5 Outros inimigos 100
6 CONCLUSO 102
REFERNCIAS 103
ANEXO A - MONITORAMENTO SANITRIO DE APIRIOS 105
17
1 INTRODUO
As abelhas tm um importante papel em nosso meio. Graas a elas e a outras espcies
animais, ocorre o melhor desenvolvimento de muitas culturas vegetais, atravs da eficiente
atividade de polinizao que realizam. Esse evento facilita a reproduo e potencializa a
produo de frutos das mais diversas plantas. Alm disso, esses insetos produzem produtos
variados que podem ser utilizados como matria prima na indstria farmacutica, no comrcio
de cosmticos, bem como serem consumidos como alimentos pelo seu alto valor nutricional.
Dada a importncia desses animais este presente trabalho de concluso tem por
objetivo promover uma reviso sobre as doenas que podem acometer as nossas amigas
abelhas. Existem inmeras espcies de abelhas, mas para efeito dessa reviso o
desenvolvimento do assunto ficar restrito a espcie Apis mellifera, por ser a mais difundida e
comercializada, apresentando, portanto maior importncia econmica e sanitria. Para tanto
ser realizado um apanhado que promova a descrio da doena, os meios de diagnstico,
tratamento e controle.
18
2 HISTRICO
As abelhas so descendentes das vespas que deixaram de se alimentar de pequenos
insetos e aranhas para consumirem o plen das flores quando essas surgiram, h cerca de 135
milhes de anos. Durante esse processo evolutivo, surgiram vrias espcies de abelhas. Hoje
se conhecem mais de 20 mil espcies, mas acredita-se que existam umas 40 mil espcies
ainda no-descobertas. Somente 2% (dois por cento) das espcies de abelhas so sociais e
produzem mel. Entre as espcies produtoras de mel, as do gnero Apis so as mais conhecidas
e difundidas.
O fssil mais antigo desse gnero que se conhece da espcie j extinta Apis
ambruster e data de 12 milhes de anos. Provavelmente esse gnero de abelha tenha surgido
na frica aps a separao do continente americano, tendo posteriormente migrado para a
Europa e sia, originando as espcies Apis mellifera, Apis cerana, Apis florea, Apis
korchevniskov, Apis andreniformis, Apis dorsata, Apis laboriosa, Apis nuluensis e Apis
nigrocincta.
Pesquisas arqueolgicas mostram que as abelhas sociais j produziam e estocavam
mel h 20 milhes de anos, antes mesmo do surgimento do homem na Terra, que s ocorreu
poucos milhes de anos atrs. O mel, que usado como alimento pelo homem desde a pr-
histria, por vrios sculos foi retirado dos enxames de forma extrativista e predatria, muitas
vezes causando danos ao meio ambiente, matando as abelhas. Entretanto, com o tempo, o
homem foi aprendendo a proteger seus enxames, instal-los em colmias racionais e manej-
los de forma que houvesse maior produo de mel sem causar prejuzo para as abelhas. H,
aproximadamente, 2.400 anos a.c., os egpcios comearam a colocar as abelhas em potes de
barro. A retirada do mel ainda era muito similar "caada" primitiva, entretanto, os enxames
podiam ser transportados e colocados prximo residncia do produtor.
Apesar de os egpcios serem considerados os pioneiros na criao de abelhas, a
palavra colmia vem do grego, pois os gregos colocavam seus enxames em recipientes com
forma de sino feitos de palha tranada chamada de colmo. Alguns anos depois, surgiu a idia
de se trabalhar com recipientes sobrepostos, em que o apicultor removeria a parte superior,
deixando reserva para as abelhas na caixa inferior. Embora resolvesse a questo da colheita do
mel, o produtor no tinha acesso rea de cria sem destru-la, o que impossibilitava um
manejo mais racional dos enxames.
Em 1851, o Reverendo Lorenzo Lorraine Langstroth verificou que as abelhas
depositavam prpolis em qualquer espao inferior a 4,7 mm e construam favos em espaos
19
superiores a 9,5 mm. A medida entre esses dois espaos Langstroth (1851) chamou de
"espao abelha", que o menor espao livre existente no interior da colmia e por onde
podem passar duas abelhas ao mesmo tempo. Essa descoberta simples foi uma das chaves
para o desenvolvimento da apicultura racional. Inspirado no modelo de colmia usado por
Francis Huber (fig.1), que prendia cada favo em quadros presos pelas laterais e os
movimentava como as pginas de um livro, Langstroth (1851) resolveu estender as barras
superiores j usadas e fechar o quadro nas laterais e abaixo, mantendo sempre o espao abelha
entre cada pea da caixa, criando, assim, os quadros mveis que poderiam ser retirados das
colmias pelo topo e movidos lateralmente dentro da caixa (fig.2).
A colmia de quadros mveis permitiu a criao racional de abelhas, favorecendo o
avano tecnolgico da atividade como a conhecemos hoje.
Figura 1 - Modelo de colmia primitiva
(idealizada por Francis Huber) Fonte: Feeburg, J.B. tcnica e prtica de apicultu ra, 2ed. [1989].
Figura 2 - Modelo de colmia americana (idealizada por
Langstroth) Fonte: , [2010].
20
3 IDENTIFICANDO A ESPCIE Apis mellifera
As abelhas compem um dos maiores clados de Hymnoptera, apresentando cerca de
16.000 (dezesseis mil) grupos em gneros e subgneros, estimando-se que exista no mundo
mais de 20.000(vinte mil) espcies (MICHENER, 2000), dentre as quais 3.000(trs mil)
ocorrem no Brasil (SILVEIRA; MELO; ALMEIDA, 2002). A espcie Apis melfera
tambm conhecida como Abelha do Reino. Como a referida espcie ser o objeto alvo desse
presente trabalho, cabe caracterizar a sua taxionomia (tabela 1) para especific-la, visto que
h diferentes espcies apcolas existentes, e o termo abelhas compreende de forma genrica
todas elas.
As abelhas, como os demais insetos, apresentam um esqueleto externo chamado
exoesqueleto. Constitudo de quitina, o exoesqueleto fornece proteo para os rgos internos
e sustentao para os msculos, alm de proteger o inseto contra a perda de gua. O corpo
dividido em trs partes: cabea, trax e abdmen (Fig. 3). A seguir, sero descritas
resumidamente cada uma dessas partes, destacando-se aquelas que apresentam maior
importncia para o desempenho das diversas atividades das abelhas.
Tabela 1. Taxionomia da Apis mellifera.
Reino: Animalia (animal)
Filo: Invertebrata (invertebrados)
Classe: Insecta (insetos)
Ordem: Hymnoptera
Famlia: Apidae
Gnero: Apis
Espcie: melfera
21
Figura 3 - Morfologia externa de oper
ria de Apis mellifera Fonte: , [2010].
3.1 Cabea
Na cabea esto localizados os olhos - simples e compostos - as antenas, o aparelho
bucal (Fig.4) e, internamente, as glndulas. Os olhos compostos so dois grandes olhos
localizados na parte lateral da cabea. So formados por estruturas menores denominadas
omatdeos, cujo nmero varia de acordo com a casta, sendo bem mais numerosos nos zanges
do que em operrias e rainhas (DADE, 1994). Eles possuem funo de percepo de luz,
cores e movimentos.
Figura 4 Morfologia da cabea de Apis mellifera
Fonte: , [2010].
22
As abelhas no conseguem perceber a cor vermelha, mas podem perceber ultravioleta,
azul-violeta, azul, verde, amarelo e laranja (NOGUEIRA COUTO; COUTO, 2002). Os olhos
simples ou ocelos so estruturas menores, em nmero de trs, localizadas na regio frontal da
cabea formando um tringulo. Eles tm como funo detectar a intensidade luminosa e no a
formao de imagens.
As antenas, em nmero de duas, so localizadas na parte frontal mediana da cabea.
Nas antenas encontram-se estruturas para o olfato, tato e audio. O olfato realizado por
meio das cavidades olfativas, que existem em nmero bastante superior nos zanges, quando
comparados com as operrias e rainhas. Isso se deve necessidade que os zanges tm de
perceber o odor da rainha durante o vo nupcial.
A presena de plos sensoriais na cabea serve para a percepo das correntes de ar e
protegem contra a poeira e gua. O aparelho bucal composto por duas mandbulas e a
lngua ou glossa. As mandbulas so estruturas fortes, utilizadas para cortar e manipular cera,
prpolis e plen. Servem tambm para alimentar as larvas, limpar os favos, retirar abelhas
mortas do interior da colmia e na defesa. A lngua uma pea bastante flexvel, coberta de
plos, utilizada na coleta e transferncia de alimento, na desidratao do nctar e na
evaporao da gua quando se torna necessrio controlar a temperatura da colmia.
No interior da cabea, encontram-se as glndulas hipofaringeanas, que tm por funo
a produo da gelia real, as glndulas salivares que podem estar envolvidas no
processamento do alimento e as glndulas mandibulares que esto relacionadas produo de
gelia real e ferormnio de alarme (Fig. 5) (NOGUEIRA COUTO; COUTO, 2002).
Figura 5 - Anatomia interna da Apis mellifera (glndulas da cabea e outras es
truturas) Fonte: , [2010].
23
3.2 Trax
No trax destacam-se os rgos locomotores - pernas e asas (Fig. 3) - e a presena de
grande quantidade de plos, que possuem importante funo na fixao dos gros de plen
quando as abelhas entram em contato com as flores (NOGUEIRA COUTO; COUTO, 2002).
As abelhas, como os demais insetos, apresentam trs pares de pernas. As pernas posteriores
das operrias so adaptadas para o transporte de plen e resinas. Para isso, possuem cavidades
chamadas corbculas, nas quais so depositadas as cargas de plen ou resinas para serem
transportadas at a colmia. Alm da funo de locomoo, as pernas auxiliam tambm na
manipulao da cera e prpolis, na limpeza das antenas, das asas e do corpo e no agrupamento
das abelhas quando formam cachos".
As abelhas possuem dois pares de asas de estrutura membranosa que possibilitam o
vo a uma velocidade mdia de 24 km/h (Nogueira Couto & Couto, 2002).
No trax, tambm so encontrados espirculos, que so aberturas por onde a abelha respira; o
esfago, que parte do sistema digestivo (MEYER; WIESE, 1985) e glndulas salivares
envolvidas no processamento do alimento.
3.3 Abdmen
O abdome formado por segmentos unidos por membranas bastante flexveis que
facilitam o movimento do mesmo. Nesta parte do corpo, encontram-se rgos do aparelho
digestivo, circulatrio, reprodutor, excretor, rgos de defesa e glndulas produtoras de cera.
No aparelho digestivo, destaca-se o papo ou vescula nectarfera, que o rgo responsvel
pelo transporte de gua e nctar e auxilia na formao do mel. O papo possui grande
capacidade de expanso e ocupa quase toda a cavidade abdominal quando est cheio. O seu
contedo pode ser regurgitado pela contrao da musculatura.
Existem quatro glndulas produtoras de cera (cergenas), localizadas na parte ventral
do abdome das abelhas operrias. A cera secretada pelas glndulas se solidifica em contato
com o ar, formando escamas ou placas que so retiradas e manipuladas para a construo dos
favos com auxlio das pernas e das mandbulas.
No final do abdmen, encontra-se o rgo de defesa das abelhas - o ferro - presente
apenas nas operrias e rainhas. O ferro constitudo por um estilete usado na perfurao e
duas lancetas que possuem farpas que prendem o ferro na superfcie ferroada, dificultando
sua retirada. O ferro ligado a uma pequena bolsa onde o veneno fica armazenado. Essas
24
estruturas so movidas por msculos que auxiliam na introduo do ferro e injeo do
veneno. As contraes musculares da bolsa de veneno permitem que o veneno continue sendo
injetado mesmo depois da sada da abelha. Desse modo, quanto mais depressa o ferro for
removido, menor ser a quantidade de veneno injetada. Recomenda-se que o ferro seja
removido pela base, utilizando-se uma lmina ou a prpria unha, evitando-se pression-lo
com os dedos para no injetar uma maior quantidade de veneno. Como, na maioria das vezes,
o ferro fica preso na superfcie picada, quando a abelha tenta voar ou sair do local aps a
ferroada, ocorre uma ruptura de seu abdome e conseqente morte.
Na rainha, as farpas do ferro so menos desenvolvidas (ferro liso) que nas
operrias e a musculatura ligada ao ferro bem forte para que a rainha no o perca aps
utiliz-lo. Dado essa minuciosa identificao da espcie Apis mellifera, devemos ter em mente
que na sociedade composta por essa espcie, existem trs castas distintas anatmica e
socialmente, compreendidas por Rainha, Operria e Zango (fig.6).
Figura 6 - Castas de Apis mellifera (Rainha, Operria e Zango) Fonte: < http://www.unimel.com.br/vida_abelhas.htm>, [2010].
4 AS DOENAS DAS ABELHAS
Existem diversas doenas que podem acometer as abelhas. Dentre as enfermidades que
podemos encontrar no apirio, podemos citar as parasitrias (caros), bacterianas, fngicas,
virais e protozorias. Temos ainda as intoxicaes por uso de pesticidas que atingem as
abelhas por ocasio de suas visitas as flores e frutos das culturas vegetais. As doenas que
sero relatadas podem afetar em maiores ou menores graus as abelhas; algumas so mais
restritas as crias (larvas, pr-pupas e pupas) como Podrido Americana, Podrido Europia e
Cria Ensacada, Cria Giz; outras mais as abelhas adultas como a Varroatose, Nosemose,
Acariose, Mal de Outono e a Paralisia, mas todas afetam as colmias (fig.7), invariavelmente,
reduzindo o seu desenvolvimento e produo.
25
Figura 7 Colmias (dispostas em um Apirio) Fonte: , [2010].
vlido lembrar que dentre as doenas que acometem as abelhas, temos a Varroatose
que pode acometer ambas as categorias (abelhas adultas ou crias). A doena causada por um
caro (Varroa destructor) que pode ser encontrado parasitando as abelhas em servio ou suas
larvas e pupas dentro dos alvolos dos favos de cria sejam eles operculados ou no (fig.8).
Algumas afeces podem dizimar uma populao inteira de maneira sbita, enquanto outras
so insidiosas e vo cometendo o apirio por longos perodos resultando sucessivas produes
baixas e permanentes maus desenvolvimento dos enxames.
Figura 8 - Favos de cria (alvolos operculados
e no operculados)
Fonte: Manual Veterinrio de Colheita e Envio de Amostras, [2010].
Nem todas as doenas que acometem as abelhas, apresentam ocorrncia no Brasil, ou
em especial no Estado do Rio Grande do Sul. Nesse contexto, a busca de informaes sobre
algumas enfermidades apcolas ficam limitadas. As abelhas so insetos sensveis a uma gama
de agentes qumicos, fato que dificulta o tratamento de algumas doenas seja pela
26
possibilidade de afetar esses animais, seja pela probabilidade de contaminar seus produtos e
subprodutos, embargando o comrcio apcola.
Para efeito didtico e organizacional desta reviso das enfermidades que afetam as
abelhas, ser realizado, em separado, a descrio das principais doenas, intoxicaes que
afetam as crias das abelhas (tabela 2) e as principais doenas, intoxicaes que afetam as
abelhas adultas, como operrias, zanges e rainha (tabela 3).
Tabela 2. Principais doenas, intoxicaes e parasitoses que afetam as crias de
abelhas larva, pr-pupa e pupa.
Enfermidade Agente causador Fase de
desenvolvimento
afetada
Cria Ptrida
Americana
Paenibacillus larvae Pr-pupa e pupa
Cria Ptrida
Europia
Melissococus plutonis Larva
Cria Giz Ascophaera apis Pr- pupa, pupa
Cria Ensacada Vrus SBV(Sac Brood Virus) Pr-pupa
Cria Ensacada
Brasileira
Plen da planta Barbatimo
(Stryphnodendron spp)
Pr-pupa
Cria Com Asa
Deformada
Vrus DWV(Deformed Wing
Virus)
Pupa
Crias Anmalas Desconhecido Pupa
Varroatose Varroa destructor Cria operculada e
adultos*
Cria Pedra Aspergillus flavus e fumigatus Crias e adultos
Postura Saciforme Morator aetatulae Larva *Nota: o caro Varroa destructor encontrado parasitando tanto larvas, pr-pupas, pupas quanto s abelhas
adultas em servio.
Tabela 3. Principais doenas, intoxicaes e parasitoses que afetam as abelhas
adultas.
Enfermidade Agente causador
Nosemose Microspordios, Nosema apis, Nosema ceranae
Acariose Acarapis woodi, dentre outros caros endoparasitas
Viroses Vrus (BQCV, FV, DWV,CBPV, APBV, IAPV, CWV)
Varroatose Varroa destructor
Intoxicao Inseticidas, defensivos agrcolas
Mal de outono Desconhecido
Infestao por Leptus
sp.
Leptus ariel
Amebase Malpighamoeba mellificae (Valkamfia mellificae prell)
Protozoose por
Gregarinas
Monoica apis, Api gregarina stammeri, Acuta rousseaui e
Leidyana apis
Septcemia Pseudomonas sp., Serratia sp. , Spiroplasma sp.
27
4.1 Principais doenas, intoxicaes e parasitoses que afetam as crias das abelhas.
4.1.1 Cria Ptrida Americana ou Loque Americana
uma enfermidade bacteriana causada pelo Paenibacillus larvae. Esse microrganismo
mvel por flagelos e possui a forma de um basto com cerca de 2,5 a 5 micros de largura
por 0,4 0,8 micros de comprimento. Uma caracterstica fundamental de P. larvae a
formao de endsporos, extremamente resistentes ao calor (30 minutos a 100 C e 15
minutos a 120C), aos desinfetantes qumicos, ao cloro, radiao UV (20 minutos), iodados
e gua quente com qualquer aditivo.
Os espros de Paenibacillus larvae podem permanecer infectantes por mais de 40
anos, ainda que se veja diminuda a sua visibilidade logo neste perodo. Apresentam a
particularidade fsica fundamental de possuir movimento browniano, ou seja, quando se
observam ao microscpio ptico, movem-se constantemente, permitindo assim uma melhor
identificao. As larvas se infectam ao consumirem alimentos contaminados que possuem a
bactria.
A doena no acomete as abelhas adultas, mas essas podem ser fontes de
contaminao para as larvas. Logo, o uso de alimentos (mel, plen, dentre outros) ou a
introduo de rainha, ambos contaminados possibilitam a veiculao do microrganismo e a
ocorrncia da doena. Processos de compra de enxames contaminados, seguidos de diviso
e/ou unio no manejo das colmias, no devem ser descartados como fontes de transmisso ou
disseminao da doena no apirio.
A bactria resiste a uma gama de antibiticos, agentes qumicos e permanecem longos
perodos no ambiente, podendo ser introduzida no apirio por alimentadores, caixilhos e
demais utenslios utilizados em colmias que apresentaram a doena. A apicultura migratria
tambm um fator que pode contribuir na disperso e aparecimento de focos da doena.
Este patgeno foi detectado pela primeira vez no Brasil em Candelria, estado do RS,
porm, no foi observada a presena de sintomas. Posteriormente, foi detectada por um
apicultor paranaense no municpio de Quatro Barras (PR) e confirmada pelo professor Aroni
Sattler na UFRGS, neste caso com a presena de sintomas. Um programa de
contingenciamento foi deflagrado pelo Comit Consultivo Cientfico em Sanidade Apcola do
MAPA visando controlar o foco.
28
4.1.1.1 Sintomas e sinais
Quando uma colmia esta acometida por essa enfermidade, podem-se notar favos
falhados com oprculos perfurados ou rodos (fig.9), provavelmente, pela ao de operrias
faxineiras, quando da percepo que h morte ou degenerao de crias infectadas. As larvas
infectadas mudam de cor do branco prola para amarelo, ou at mesmo para marrom-escuro
de acordo com o estgio de degenerao da cria.
Figura 9 - Favos falhados e rodos
Fonte: Manual Veterinrio de Colheita e Envio de Amostras, [2010].
No raro notar, principalmente nas larvas com cor marrom, uma consistncia
viscosa. Essa caracterstica pode ser apreciada pelo teste do palito que consiste em capturar a
cria com um palito poroso e verificar a formao de filamento viscoso entre o objeto e a larva
morta (fig.10). Ocorre morte nas fases de pr-pupa ou pupa e percebe-se um cheiro ptrido
caracterstico.
Figura 10 - Filamento viscoso entre
larva morta e palito
Fonte: Manual Veterinrio de Colheita
e Envio de Amostras, [2010].
29
As pupas mortas podem apresentar distenso da lngua no interior do alvolo. Em grau
mais avanado possvel detectar a presena de escamas (fig.11), que nada mais so do que
restos cadavricos de crias secas aderidas as paredes dos alvolos, dos quais as operrias no
conseguiram fazer a remoo.
Figura 11 - Escamas (restos cadavricos aderidos ao alvolo)
caso de Loque Americana Fonte: Manual Veterinrio de Colheita e Envio de Amostras,
[2010].
4.1.1.2 Diagnstico
Os sinais e os sintomas contribuem para o diagnstico de Loque Americana, sendo o
diagnostico definitivo o isolamento e identificao laboratorial do agente no material coletado
(favos de cria) da colmia suspeita (fig.12).
Figura 12 - Fragmento de favo sendo co
letado para exame laboratorial
Fonte: Manual Veterinrio de Colheita e Envio
de Amostras, [2010].
30
As formas de coleta e remessa de material para exame laboratorial, com o objetivo de
elucidar as possveis causas das diferentes enfermidades que acometem crias e abelhas
adultas, foram retiradas do Manual Veterinrio de Colheita e Envio de Amostras, 2010 da
Organizao Pan Americana de Sade, e sero relatados mais adiante, em tpico especfico
para esse fim.
4.1.1.3 Tratamento
No h tratamento preconizado. O uso de antibiticos deve ser evitado, pois pode
levar ao aumento de resistncia do microorganismo ao frmaco, bem como mascarar os sinais
da doena, mantendo a contaminao na colmia e seus produtos, facilitando com isso a
disseminao da enfermidade.
O uso de produtos clorados age bem sobre doenas bacterianas e virais das abelhas,
sem deixar efeito residual nas instalaes da colmia devido a sua volatilidade. Produtos
iodados agem bem sobre a maioria dos microrganismos (vrus, fungos, protozorios e
bactrias), mas evita-se o seu uso por poder deixar resduos que alcancem os produtos das
abelhas.
4.1.1.4 Controle
Segundo o que preconiza os tcnicos da EMBRAPA, as seguintes medidas devem ser
tomadas para auxiliar o controle e conteno da disperso da doena, quando o apicultor
suspeitar de infeco por Cria Ptrida Americana.
Marcar as colnias com sintomas de CPA.
Realizar anotaes sobre as colnias afetadas e relatar a ocorrncia para sua
associao e autoridades competentes, tais como: instituies de ensino e pesquisa que
trabalhem com Apicultura, Confederao Brasileira de Apicultura (CBA), Delegacia Federal
de Agricultura, Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA).
Enviar amostras dos favos com sintomas para anlise em laboratrios especializados
no diagnstico de doenas de abelhas.
Limpar equipamentos de manejo (luvas, formo, fumegador, etc.) e no utiliz-los nas
colnias sadias;
Aps comprovao da doena por meio do resultado da anlise laboratorial, destruir as
colnias afetadas; para isso, pode-se optar pela queima da colmia completa ou, se o apicultor
31
quiser preservar as caixas, cuja madeira esteja em bom estado, deve matar as abelhas adultas e
depois queim-las juntamente com os favos. Para o reaproveitamento das caixas, elas devem
ser esterilizadas com vassoura de fogo ou ateando fogo conforme (fig 12.1).
Figura 12. 1 Esterilizao de colmia pelo calor Fonte: fotos cedidas pelo Prof.Aroni Sattler UFRGS, [2010].
A esterilizao das caixas tambm pode ser feita por uso de produtos qumicos de duas
maneiras: mergulhando as peas em parafina a 160C durante 10 minutos ou em soluo de
hipoclorito de Sdio a 0,5% durante 20 minutos.
Para evitar a disseminao dessa grave doena no Brasil, os apicultores devem estar
bastante atentos para nunca utilizarem mel ou plen importados para alimentao de suas
abelhas no perodo de entressafra, pois esses produtos podem estar contaminados e,
conseqentemente, contaminaro as colmias.
O melhoramento gentico de abelhas, na seleo de linhagens com alto
comportamento higinico pode ser uma ferramenta que otimiza a resistncia doena. O teste
que avalia o grau de comportamento higinico pode ser obtido com a demarcao de uma rea
nos favos de crias atravs de alfinetes sinalizadores; dentro dessa rea matam-se as crias
com perfurao do oprculo, avaliando o tempo e a porcentagem de crias mortas retiradas (fig
12.2).
32
Figura 12.2 - Teste de comportamento higinico (melhoramento gentico)
Fonte: foto cedida pelo professor Aroni Sattler UFRGS, [2010].
As colmias com alto ndice de comportamento higinico (fig.12.3), devem ter
rainhas selecionadas para insero em outras colmias de baixo escore para o comportamento
de limpeza. A metodologia pode ser recomendada para selecionar e melhorar a sanidade
abelhas contra as enfermidades Cria Ptrida Americana, Cria Ptrida Europia, Cria Giz,
Varroatose e Nosemose. Essa tcnica de seleo ser descrita com maiores detalhes,
posteriormente. O anexo A (Monitoramento sanitrio de Apirios) deste presente trabalho
apresenta uma seo com os mtodos mais utilizados para avaliao do comportamento
higinico, bem como a relao de doenas que podem ter seus efeitos minimizados pela
seleo gentica de nesse sentido. Selecionar rainhas, a partir de uma ou mais matrizes de
timo comportamento higinico para posterior introduo ou troca de rainhas em colmias,
alm de selecionar para resistncia doenas, melhora o padro de postura e
conseqentemente resulta em enxames mais fortes ou populosos.
Figura 12.3 - Colmia com timo ndice de
comportamento higinico (98%)
Fonte: foto cedida pelo professor Aroni Sattler
UFRGS, [2010]
33
4.1.2 Cria Ptrida Europia ou Loque Europia
Em 1959, trabalhos realizados por L. Bailey, em Rothamsted (Inglaterra) atribuam
que a causa principal da doena seria a bactria Streptococcus pluton, qual se juntaria a
Bacterium eurydice. A etiologia desta doena no era considerada simples, pois apresentava
vrios microrganismos bacterianos que atuavam independente ou conjuntamente, segundo as
circunstncias. Estes agentes eram os Melissococus pluton e Melissococus alvei,
Acromobacter euridyce, Streptococus faecalis, Bacillus laterosporus e Bacillus orpheus.
Atualmente, sabe-se que o agente causal da doena a bactria Melissococcus plutonius, pois
a primeira bactria que se determina, enquanto os outros agentes so invasores secundrios.
Esta bactria resistente acidez da gelia real (ph=3,4), na qual no se podem desenvolver
outras bactrias. Quando a larva maior e comea a alimentar-se com papas diferentes (que
so normalmente menos cidas), aparecem os invasores secundrios.
O Melissococus pluton um coco lanceolado, de 0,6x1mm de dimetro, observado,
pela primeira vez, em 1912, por White, com clulas de tamanho variado (um mcron ou algo
mas largo), aparecem em cadeias ou formando pequenas colnias com distinta longitude. . O
microrganismo, geralmente, atinge as larvas desoperculadas (em fase de alimentao), mas
pode algumas vezes ser encontrado afetando crias operculadas. Freqentemente , quando
acomete as larvas, no permite a concluso da metamorfose pupa.
Semelhante a contaminao ocorrida na Loque Americana, a Cria Ptrida Europia
tambm se instala com a ingesto de alimentos contaminados pelas larvas. A doena tem
atingido apirios no Brasil desde 1959, sendo os perodos de agosto e setembro os de maiores
incidncia. uma doena distribuda por todo o territrio nacional. Embora altamente
contagiosa, no chega a causar srios prejuzos no sentido de apresentar alta letalidade que
dizime o apirio, pois as abelhas africanizadas apresentam uma resistncia maior do que as
raas de origem europia. Os prejuzos ficam no mbito da queda de produo, por baixo
desenvolvimento do enxame que permanecem fracos. Para que a doena dizime uma
populao, bem possvel que exista outra afeco intercorrente e conjunta acometendo o
enxame.
A pesquisa sobre o assunto revela existirem linhagens de abelhas susceptveis e
resistentes a infeco. As abelhas pretas, de origem europia, criadas em apirios regionais
ou caboclos so comumente flageladas quando surpreendidas com a doena.
34
Nesse contexto, uma alternativa ao apicultor que tiver seu apirio acometido pela
enfermidade, a seleo de linhagens de rainhas dos enxames que notoriamente resistiram
bem infeco.
4.1.2.1 Sinais e sintomas
Parecido com o que ocorre na doena da cria americana, a doena da cria europia
tambm leva a imagem de favos de crias falhados, com oprculos perfurados, rodos ou
afundados (fig. 13), devido morte das larvas depois da operculao. Essas caractersticas
ocorrem em menor intensidade na doena europia, por ser mais comum atingir e matar a
larva desoperculada, a qual ser retirada do alvolo pelas abelhas faxineiras sem
necessidade de interferncias nas estruturas das clulas.
Figura 13 - Favos falhados (caso de Loque Europia)
Fonte: Manual Veterinrio de Colheita e Envio de
Amostras, [2010].
As larvas doentes encontram-se em posies anormais, contorcidas nas paredes dos
alvolos (fig. 14). As crias acometidas podem ter alterao de cor de branco a amarelo,
chegando marrom, da mesma forma que ocorre na podrido americana. A putrefao das
crias gera um odor ptrido de carter cido ou ranoso. A grande diferenas que na Cria
Ptrida Europia a contaminao e morte ocorre na fase larval, enquanto que, na Cria Ptrida
Americana a contaminao ocorre na fase inicial de larva mas a morte s ocorre na fase de
pupa.
35
Figura 14 - Larvas doentes e em posio anormal nos
alvolos (caso de Loque Europia)
Fonte: , [2010].
4.1.2.2 Diagnstico
Para identificar a doena deve-se remeter material como, fragmentos de favos falhados
ou salteados, como tambm larvas mortas que apresentem os sinais indicativos da infeco.
No material, proceder-se- o exame, cultivo para isolamento e identificao do agente.
Antigamente, para diagnstico laboratorial, utilizava-se trs tcnicas, a saber:
1 Tcnica: triturao de larva enferma ou morta com duas gotas de gua destilada,
acrescentando o material em lmina eu ser secada ao ambiente e flambada levemente para
fixao do esfregao; usa-se uma gota de Violeta de Genciana para corar o material, e em
seguida aplica-se uma gota de gua destilada sobre a primeira, esparramando-a. Lavar em
gua corrente, deixar secar e examinar sobre imerso.
2 Tcnica: conhecida como exame de digesto do leite. Baseia-se em dissolver
quatro colheres de leite em p em um litro de gua destilada. Colocar 20 gotas de gua
aquecida a 60C num tubo de ensaio, e adicionar nele uma larva enferma. Nesse mesmo tubo
adicionar dez gotas da soluo do leite. Em outro tubo, que serve como testemunho, colocar
apenas gua aquecida e soluo de leite na mesma proporo. Se a larva estiver acometida
pela Loque, as bactrias se valem do substrato e a soluo do tubo vai se clarificando dentro
de 15 minutos; caso contrrio ambos os tubos de larva e testemunho mantm-se com a mesma
colorao opaca leitosa.
3 Tcnica: tambm chamada de Teste de coagulao do leite, pois as enzimas
produzidas pelo Bacilo geram cogulos no substrato. Tritura-se uma larva suspeita e em
lmina adicionam-se duas gotas de soluo de leite (a mesma da 2 tcnica) no macerado.
Leva-se o material para um campo de fundo escuro e observa-se a formao de cogulos
dentro de 80 segundos, o que denota a presena do agente da doena. Para a Loque
36
Americana (B. larvae) pode-se fazer o mesmo teste, mas o aparecimento de cogulos
inferior a 40 segundos, devido eficincia enzimtica desse bacilo.
4.1.2.3 Tratamento
Basicamente no h um tratamento especfico para essa enfermidade. Misturas de
antibiticos com acar de confeiteiro (na proporo de uma colher de sopa bem cheia para
um kg e meio de acar) e posterior polvilhamento dos quadros e assoalho de colmias
atingidas, foram e so muito utilizados at hoje. Contudo, a doena j apresentou ocorrncias
em diversos pontos do pas, o que caracteriza uma disseminao do agente. Embora o agente
seja sensvel a antimicrobianos de fcil aquisio como a Terramicina (TM-25),
Streptomicina, de uso humano ou veterinrio, o uso desses no uma alternativa adequada
para combater a doena, pela mesma questo de induo de resistncia, mascaramento e de
possibilidades de gerarem resduos nos produtos das abelhas, como mencionado para o caso
americano. O ideal a eliminao dos materiais contaminados (favos de crias) e desinfeco
das colmias ou substituio dessas por estruturas novas, promovendo a esterilizao e/ou
longo vazio sanitrio nas contaminadas que forem retiradas do apirio. Porm essas dicas
esto mais relacionadas aos mtodos de controle e profilaxia do que um tratamento
propriamente dito.
4.1.2.4 Controle
O controle da disseminao da doena pode ser feito basicamente por trs meios, a
saber:
Remoo dos quadros com cria doente.
Trocar rainha suscetvel por outra mais tolerante.
Evitar uso de equipamentos contaminados quando manejar colmias sadias.
4.1.3 Cria giz
Caracteriza-se por uma doena fngica causada pelo microrganismo Ascosphaera
apis. mais comumente encontrada em apirios instalados em locais quentes e midos. O
mau posicionamento das colmias em relao ao sol, a instalao do apirio em meio a matos
fechados e midos que dificultem a ventilao e a precria condio dos telhados sobre as
37
caixas que permitam entrada de gua e umidificao do interior favorecem o aparecimento da
doena. Embora sejam simples os fatores predisponentes para a ocorrncia da enfermidade, a
incidncia dessa doena no Brasil tem sido baixa. O primeiro foco no Brasil foi comunicado
por Rocha et al (1998) a partir de favos de cria com sintomas em apirio de Botucatu/SP e o
primeiro foco no Rio Grande do Sul foi comprovado por Sattler et al a partir de amostras de
favos com sintomas da doena em apirios de So Gabriel/RS (fig.14.1). Nos ltimos anos a
doena foi constatada tambm em apirios dos estados de Santa Catarina, Paran e Esprito
Santo segundo Sattler (Inf. Pessoal).
Existe a possibilidade de ser introduzida por meio da alimentao das colmias com
plen importado contaminado. Acomete as crias j operculadas em que a tenso de oxignio
diminuda favorece o desenvolvimento do fungo. A morte se d geralmente nas fases da pr-
pupa ou pupa. A atuao do agente sobre a matria orgnica das crias mortas, leva ao
dessecamento, mumificao no havendo gerao de odor pelo substrato degradado.
Figura 14.1 - Amostras de contaminao em apirios de So Gabriel /RS
Fonte: fotos cedidas pelo professor Aroni Sattler - UFRGS, [2010].
4.1.3.1 Sintomas e sinais
A exemplo de outras doenas j citadas, no caso da infeco fngica tambm pode
haver aparecimento de falhas de ecloso e oprculos perfurados (fig.15). As pupas e pr-
pupas acometidas apresentam colorao branca ou cinza-escuro e aspecto mumificado
(fig.16), caracterizando-se por apresentarem-se rgidas e secas.
38
Figura 15 - Favos com falha de ecloso
e oprculos perfurados
Fonte: Manual Veterinrio de Colheita
e Envio de Amostras, [2010].
Figura 16 - Crias mumificada com colorao branca e cinza-escuro
Fonte: Manual Veterinrio de Colheita e Envio de Amostras, [2010]. e
, [2010].
4.1.3.2 Diagnstico
Devido aos sinais de fcil identificao, o diagnstico presuntivo pode ser feito por
meio da inspeo dos favos, seus alvolos e das crias mortas. Pode ser remetido material para
exame direto com identificao do fungo, mas esse um procedimento desnecessrio pela
facilidade caracterizar a doena.
4.1.3.3 Tratamento
Para a Cria Giz no existem tratamentos eficazes, sendo o caminho mais eficaz
tambm a substituio das rainhas das linhagens susceptveis.
39
4.1.3.4 Controle
Como medida preventiva, recomenda-se no utilizar plen importado ou das regies
do Brasil onde a doena foi detectada para alimentao das colmias. Evitar que as colmias
do apirio permaneam em locais de constante umidade ou que umedeam o seu interior.
4.1.4 Cria Ensacada
Esta enfermidade causada por um vrus, denominado de SBV(Sac Brood Virus) ou
traduzido popularmente entre apicultores, como vrus da cria ensacada ou da cria no saco.
Outro agente que causa uma doena semelhante o plen da planta Stryphnodendron sp, ou
mais comumente conhecida como Barbatimo (fig.17).
Figura 17 - Planta Barbatimo causadora de Cria Ensacada Brasileira
Fonte:, [2010].
Nesse contexto, convencionou-se que a doena viral denomina-se Cria Ensacada,
enquanto que a doena causada pelo plen da planta, comum no pas, ser para tanto Cria
Ensacada Brasileira. Em ambas as afeces, a fase de cria afetada a pr-pupa, que no
consegue passar para pupa. A doena tem ocasionado prejuzos em vrias regies, exceto nos
estados do Sul do Brasil. Em alguns casos, pode provocar 100% de mortalidade de crias,
chegando a destruir uma colnia forte em menos de dois meses (MESSAGE, 2002).
4.1.4.1 Sintomas e sinais
Favos com falhas e oprculos afundados, pelos mesmos motivos j mencionados para
as doenas anteriores. As crias afetadas podem apresentar no alcanam a ecdise para pupa e
podem apresentar coloraes alteradas para cinza, marrom (fig.18) ou cinza escuro, conforme
o ponto de evoluo da doena.
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Figura 18 - Cria ensacada com colorao marrom e ensacada
Fonte: , [2010].
Em alguns casos a cria morta no est com a colorao alterada, permanecendo com a
cor branca original, mas encontra-se envolvida por uma estrutura alterada com aparncia de
saco ou vescula aquosa (fig.19). Essa alterao parece estar relacionada h uma atrofia ou
degenerao dos tecidos internos ao exoesqueleto em formao, ou seja, um acmulo de
lquido entre a epiderme da larva e da pupa por ao viral ou influncia de princpios ativos
txicos presentes no plen do Barbatimo.
Figura 19 - Aparncia ensacada ou de vescula
aquosa da pr-pupa (Caso de Cria
Ensacada)
Fonte: Manual Veterinrio de Colheita e Envio
de Amostras, [2010].
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4.1.4.2 Diagnstico
Os sinais permitem um diagnstico preciso para definir se a doena trata-se de Cria
Ensacada. O ponto de dificuldade na avaliao fica restrito ao agente causal do caso, pois
tanto a planta como o vrus levam ao mesmo quadro na populao de crias. O histrico de
presena da planta na regio ou de importao de alimento que possa estar contaminado com
o vrus ou at mesmo com plen da planta direcionam a pesquisa diagnstico. Pode ser
remetido material para laboratrio para pesquisa viral ou de identificao de plen com toxina
da planta.
4.1.4.3 Tratamento
Por se tratar de um vrus, no se deve promover uso de antibiticos, como fazem
alguns apicultores indiscriminadamente. O medicamento no ter efeito sobre o agente. No
h tratamento especfico, e a tentativa de eliminar a doena resume-se as medidas de controle
e erradicao. No caso da doena brasileira (causada pela planta) o controle seria o corte das
plantas causadoras, mas isso entra em conflito com a legislao ambiental, no sendo uma
alternativa legalmente vivel; por isso a migrao do apirio para um local o que no possua a
planta num raio de 6 km (seis quilmetros) que inclui o raio de coleta das abelhas mais uma
margem de distncia de segurana, pois em pocas de escassez algumas abelhas coletoras
podem atingir essa distncia, mesmo que raramente, isso ocorra.
Para o caso viral o tratamento, resume-se a eliminar os favos de cria contaminados,
retirada dos caixilhos e insero deles em novo ninho sem contaminao. A eliminao do
vrus difcil, e esse processo eliminao de favos e trocas de ninhos objetiva a diminuio da
carga viral. Os ninhos provenientes de colmias onde ocorreu a doena devem ser
esterilizados por imerso em produtos clorados antes da reutilizao.
4.1.4.4 Controle
Quando a doena se instala, tanto pelo tipo viral, como pelo txico o controle difcil.
Na verdade o controle dado em nvel de manejo, ou seja, controle do manejo da colmia
para evitar a ocorrncia da Cria Ensacada. Basicamente, o que se realiza ou pratica o
seguinte:
Evitar a instalao de apirios em locais com incidncia da planta barbatimo.
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Utilizar alimentao artificial das colmias na poca de florao do barbatimo,
principalmente plen para que essa condio sinalize para as abelhas uma falsa
desnecessidade da colheita desse tipo de alimento nas floradas, ficando a busca de alimento
com a tendncia de permanecer direcionada ao nctar.
No caso viral, evitar o uso de utenslios em colmias contaminadas e posteriormente
em colmias sadias. Eliminar favos de crias contaminados e esterilizar os ninhos com
hipoclorito de sdio a 0,5% para diminuir a carga viral.
4.1.5 Cria da Asa Deformada
O agente causador dessa enfermidade o vrus DWV (Deformed Wing Vrus).
Eventualmente, a doena pode ocorrer por ao fsica do caro Varroa destructor por ocasio
de espoliar a regio de insero das asas no trax. No caso pode haver um sinergismo entre os
dois agentes, resultando em considerveis quantidades de crias com a asa deformada (fig.20).
Ataca a fase de pupa, onde a estrutura afetada esta em formao, sendo a sndrome
evidenciada prximo emergncia ou nascimento.
Figura 20 Cria com asa deformada (ao do vrus DWV e/ou Varroa destructor)
Fonte: Manual Veterinrio de Colheita e Envio
de Amostras, [2010].
Teorias e concluses de apicultores afirmam que quando a ao devido ao caro,
temos uma asa deformada, e quando a origem da doena viral geralmente temos as duas asas
afetadas. Mas essa observao deve ser desconsiderada, pois nada impede que tenhamos um
ou mais caros afetando as duas asas da cria dentro do alvolo.
4.1.6 Crias Anmalas
O agente causal ainda no foi identificado. A doena assim foi denominada, por existir
um fenmeno de alterao em todo o corpo das crias afetadas por essa enfermidade ainda no
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elucidada. O corre alterao das pupas para cores amarronzadas e escurecidas e corpo flcido
(fig.21); abdmen reduzido e ressecado tambm pode ser observado com freqncia no
processo dessa enfermidade. muito caracterstico ocorrer em crias operculadas em fase de
pupa, geralmente com idade superior a 14 dias. Normalmente, colmias com estes sintomas
no se desenvolvem e ao longo do tempo se extinguem.
Figura 21 - Alterao de colorao e corpo
flcido (caso de Cria Anmala)
Fonte: Manual Veterinrio de Colheita e
Envio de Amostras, [2010].
Existem relatos de colmias que apresentavam os sinais da doena, terem sido
abandonadas pelo enxame, mas ainda no se pode atribuir o fato da fuga, com a instalao da
doena. O exame laboratorial de amostras de colmias com a doena tem apresentado a
contaminao por alguns vrus, mas nenhum foi definido como causador da doena
(MESSAGE, 2004).
4.1.6.1 Diagnstico
No h um exame especfico at o momento, por no se saber qual o agente causal da
doena. A concluso diagnstica sobre a doena pode ser feita por avaliao dos sinais e pelo
descarte de todas as demais enfermidades que acometem as crias.
4.1.6.2 Tratamento
No h tratamento especfico, e o que se pode fazer a remoo dos quadros de crias
afetadas (ou seja, estgios com alteraes anmalos) na tentativa de diminuir a infestao pelo
agente causal ainda indeterminado.
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4.1.6.3 Controle
Evitar o uso de mesmas luvas, esptulas, facas entre colmias acometidas e saudveis,
bem como reutilizao de comedouros de colmias doentes em colmias saudveis. Embora
no se saiba, qual o agente, essa uma medida que evita contaminao relativa a qualquer
doena contagiosa, sendo sempre benfica, embora laboriosa e custosa.
4.1.7 Cria Careca
O agente dessa doena no est ainda bem determinado. Acredita-se que haja um
sinergismo entre o parasitismo por larvas da traa da cera (Achroia grisella) e a ao da
Varroa destructor para ocorrncia da doena. Essa praga da cera, por vezes pode ser
confundida com a Traa grande da cera ou Galleria mellonela, que ao se instalar danifica
quadros, ninhos e faz o enxame despender energia para isolamento, propolizao ou retirada
do inimigo.
4.1.7.1 Sintomas e sinais
Os sintomas clnicos neste caso a presena, principalmente, de pupas aparentemente
normais com os oprculos removidos. A causa provvel do aparecimento dos sinais est
atribuda irritao que as traas geram ao escavar o centro (interior) do favo danificando os
alvolos e por conseqncia a clula onde alguma cria se encontre. As abelhas operrias
pressentem ou identificam o ponto onde a larva da traa est emitindo movimentos e
desoperculam as crias nesse local na tentativa de eliminar o invasor, ocasionado regies de
crias desoperculadas ou denominadamente carecas.
4.1.7.2 Diagnstico
No h um diagnstico especfico, e esse consiste na observao dos sinais de
anomalias das crias associados conjuntamente identificao da infestao por traa ou tinha
da cera, bem como a presena de Varroa nas clulas abertas na fase de pupa.
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4.1.7.3 Tratamento
Existem diversos agentes qumicos que eliminam a traa, porm esses no podem ser
administrados no interior das colmias, pois atingem as abelhas devido a sua proximidade
filogentica de inseto com o invasor.
4.1.7.4 Controle
A medida de ordem, para no ser surpreendido pela doena a manuteno de
enxames fortes que ocupem a totalidade de espao do ninho. Outra recomendao a de no
deixar restos de favos, retirados no manejo, que contenham pontos de mel e plen, pois alm
de atrair formigas, atraem mariposas transmissoras das traas que so parasitas em essencial
nos cereais armazenados. Retirar casulos do invasor, mudar os caixilhos de cria, para uma
caixa limpa, faxinando o seu permetro que pode conter traas aderidas, desopercular pontos
de crias com oprculos ralos ou danificados para emergncia da traa, que dever ser
eliminada, minimizam a infestao. Raspar as traas aderidas nas paredes e fundo do ninho.
A reduo de alvado, mantendo-o proporcional populao de operrias que assim
faro melhor a segurana contra a entrada de mariposas outra medida de controle que pode
ser realizada.
4.1.8 Varroatose
Essa uma enfermidade parasitria, causada pelo caro Varroa destructor. Os
detalhes dessa ectoparasitose ser descrito conjuntamente com as doenas das abelhas adultas,
porm aqui faremos uma apresentao do acometimento da cria, que ocorre geralmente na
fase j operculada. A (fig.22) apresenta diferentes fases de cria parasitadas pelo caro, o qual
nutre-se de sua hemolinfa.
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Figura 22 - Diferentes fases de cria ectoparasitadas pelo caro Varroa
destructor
Fonte: Manual Veterinrio de Colheita e Envio de Amostras, [2010].
A doena leva ao nascimento de abelhas fracas, midas, ou que morrem antes de
eclodir quando a espoliao intensa por um ou mais caros. Outro sinal possvel a atrofia
das asas das abelhas emergentes por ao fsica das varroas, pois essas tm predileo de
fixao ao trax prximo a insero das asas.
4.1.9 Cria Pedra
Esta doena foi descrita como sendo causada por fungos do gnero Aspergillus, em
especial as espcies fumigatus (fig.23) e flavus (fig.24). Embora a enfermidade tenha a
denominao de Cria Pedra ou Cria Dura, ela no se restringe a categoria de crias, podendo
afetar indivduos adultos. Todavia, as larvas, e por isso foi inserida didaticamente na seo de
doenas das crias.
Figura 23 Aspergillus fumigatus Fonte: , [2010].
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Figura 24 Aspergillus flavus Fonte: http://www.catchpenny.org/curse.html
No se tem muitos estudos ou relatos dessa doena, sendo possvel que a
contaminao da colmia seja pelo uso de alimentos contaminados com farinhas de cereais e
gros ou de plen contaminado oriundo da prpria natureza (ambiente) e mal armazenado, ou
plen contaminado adquirido no comrcio de produtos apcolas. No Brasil a enfermidade
ainda no foi relatada. Casos foram relatados na Europa por Bailey (1968).
4.1.9.1 Sintomas e sinais
No h muitos sinais ou sintomas, a no ser o fato de as abelhas diminurem o seu
rendimento e morrerem, ficando o cadver significativamente endurecido (SHIMANUKI,
1967). Essa caracterstica pode estar associada toxina que esses microrganismos produz,
mas no h muitos estudos de sua ao em abelhas.
4.1.9.2 Diagnstico
Presena de esporos de Aspergillus flavus e A. fumigatus em amostras coletadas de
colmias suspeitas. Dentre as amostras potencialmente propensas a apresentarem o fungo,
esto os favos que contm plen ou coroa de mel e plen, e os comedouros que apresentem
farinhas de soja ou outros suplementos utilizados na entressafra. Colheita de abelhas
infectadas e/ou mortas para identificao do corpo de frutificao do fungo, o qual tem cor
verde amarelada ou marrom, possvel mente visvel no exame microscpico. Pode-se tentar
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isolamento de toxina, porm esse procedimento mais complexo, e exige laboratrio
especializado.
4.1.9.3 Tratamento
No h um tratamento preconizado. H poucos estudos nesse sentido, pois a ocorrncia dessa
enfermidade pouco freqente.
4.1.10 Postura Saciforme
Doena viral das a