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TESE_JMR e a actividade científica da FAC & OAUC_1772-1820

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  • Faculdade de Cincias e Tecnologia

    da

    Universidade de Coimbra

    Jos Monteiro da Rocha e a actividade cientfica da

    Faculdade de Mathematica e do Real Observatrio da

    Universidade de Coimbra: 1772-1820

    Tese de Doutoramento de

    Fernando Jos Bandeira de Figueiredo

  • Faculdade de Cincias e Tecnologia da Universidade de Coimbra

    Departamento de Matemtica

    Jos Monteiro da Rocha e a actividade cientfica da

    Faculdade de Mathematica e do Real Observatrio da Universidade de

    Coimbra: 1772-1820

    Dissertao apresentada por:

    Fernando B. Figueiredo

    Orientadores:

    Antnio Jos Esteves Leal Duarte

    Artur Soares Alves

    Coimbra, 2011

  • Dissertao apresentada Faculdade de Cincias e

    Tecnologia da Universidade de Coimbra, para a obteno

    do grau de Doutor em Matemtica, na especialidade de

    Matemtica Aplicada.

  • Este trabalho foi desenvolvido com o apoio e do co-financiamento

    do POPH/FSE atravs de uma Bolsa de Investigao no mbito

    do QREN POPH.

    Tipologia 4.1 Formao Avanada, comparticipado pelo Fundo

    Social Europeu e por fundos nacionais do MCTES.

  • Para a Marta

    Fica com um beijo que no passe

  • Agradecimentos

    Um trabalho de investigao desta natureza no , obviamente, um trabalho solitrio. So muitas so as pessoas que de forma diferente nele acabam por estar envolvidas. A todas elas gostaria de deixar j registado o meu mais sincero agradecimento. H, no entanto, algumas dessas pessoas que me merecem um reconhecimento muito especial. Ao Professor Doutor Leal Duarte, que esteve sempre presente neste longo processo, que para alm de um orientador atento, sempre disponvel e dedicado, se tornou um amigo inspirador. A ele um franco e forte abrao. Ao Professor Artur S. Alves que sempre depositou confiana no meu trabalho. Ao Professor Joo Fernandes que sempre me ajudou e manifestou um apoio constante, o meu profundo reconhecimento pela sua empatia e entusiasmo. Aos Professores Henrique Leito, Joo F. Queir, Jaime Carvalho e Silva, Natlia Bebiano, o meu sincero agradecimento pelas palavras de constante incentivo que sempre me dirigiram. Um abrao para o meu amigo Carlos Moura Martins pela constante e imprescindvel ajuda e pela documentao fundamental que me forneceu. Ao CMUC pela possibilidade que me facultou e que me permitiu participar em vrios congressos. Fundao para a Cincia e Tecnologia que me concedeu uma bolsa de doutoramento (SFRHBD/27668/2006), sem a qual no teria sido possvel a realizao de todo o trabalho. Por fim, quero deixar expresso o meu reconhecimento minha famlia em especial aos meus pais pelo amor e carinho , e amigos, que sempre me ajudaram e animaram durante este perodo. Dois abraos especiais, um para o meu grande amigo Filipe Costa (Xipa), que sempre acreditou, e outro para Mrio Rui (Zeta). E claro, como no podia deixar de ser, um muito obrigado Marta: sem ela tudo isto no seria com toda a certeza possvel.

  • Resumo

    O trabalho que apresentamos debrua-se, como o prprio ttulo indica, sobre Jos

    Monteiro da Rocha (1734-1819), a Faculdade de Mathematicae o Observatrio As-

    tronmico da Universidade de Coimbra.

    No de todo novidade na historiograa da cultura e da cincia portuguesa a

    importncia de Monteiro da Rocha em todo o processo de institucionalizao da cincia

    moderna ocorrida no ltimo quartel do sc. XVIII. Uma institucionalizao que a

    Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra inicia em Portugal, nomeadamente

    da matemtica e da astronomia.

    Monteiro da Rocha foi um dos principais responsveis pela concepo de um pro-

    grama curricular moderno para o ensino da matemtica e da astronomia no seio da

    Reforma Pombalina da Universidade, desempenhando um importantssimo papel, con-

    sensualmente reconhecido, em toda a subsequente actividade lectiva, cientca e ad-

    ministrativa no s na Faculdade e no Observatrio mas tambm no seio da prpria

    Universidade. Um desses papis foi o de professor das cadeiras de Foronomia (1772-

    1783) e Astronomia (1783-1804) e por isso mesmo que a historiograa o reconhece

    e responsabiliza como sendo um dos directos e principais responsveis pela formao

    dos matemticos e astrnomos formados no seio da Universidade.

    Com este nosso trabalho pretendemos analisar a contribuio de Monteiro da Rocha

    na cincia portuguesa, que, como veremos, na astronomia, ser fundamental para a

    futura actividade cientca do Observatrio Astronmico. Jos Monteiro da Rocha foi

    o mentor cientco da elaborao e do clculo das Ephemerides Astronomicase a

    ele que se deve o projecto, construo, regulamentao e apetrechamento instrumental

    do referido Observatrio. Estudaremos tambm a obra matemtica deste cientista

    que, durante este perodo, se conna matemtica aplicada, na qual bem evidente a

    preocupao com a preciso e rigor dos resultados numricos, bem com o modo como

    estes so obtidos.Porm, a obra cientca de Monteiro da Rocha vasta, compondo-se de tradues

    de livros de texto franceses, trabalhos de matemtica aplicada e trabalhos de astrono-

    mia terica e prtica, perfazendo 23 trabalhos impressos, 12 manuscritos conhecidos e

    cerca de 20 referenciados.

    O objectivo deste nosso trabalho o de estudar e fundamentar o valor e a im-

    portncia da obra matemtica e astronmica de Jos Monteiro da Rocha e, partindo

    dela, esclarecer alguns aspectos respeitantes dimenso institucional e cientca da

    Faculdade de Matemtica e do Observatrio Astronmico.

  • Abstract

    As the title shows the work here described concerns Jos Monteiro da Rocha (1734-

    1819), the Faculty of Mathematics and the Astronomical Observatory of the University

    of Coimbra.

    The relevance of Monteiro de Rocha in the whole process of institutional imple-

    mentation of modern science in Portugal, during the last quarter of the 18th century, is

    well-known in the Portuguese historiography of culture and science. This institutional

    implementation was initiated in 1772 with the introduction of the Pombals Reform in

    the University of Coimbra, namely in the elds of mathematics and astronomy.

    The establishment of the Faculty of Mathematics and of the Astronomical Obser-

    vatory by Monteiro da Rocha granted him broad recognition for his work and impact

    in the development of the University. Monteiro da Rocha was one of the main de-

    signers of modern curricula for mathematics and astronomy within the framework of

    Pombals Reform. He played also a central role in all subsequent teaching, scientic

    and administrative activities, not only for the Faculty of Mathematics and of the As-

    tronomical Observatory, but for the whole University as well. He was the lecturer in

    charge of the courses of Phoronomy (1772-1783) and Astronomy (1783-1804), and as

    such he is recognized by the historiography as the lead mentor of the mathematicians

    and astronomers trained at the University.

    With our work we aim to analyze the contribution of Monteiro da Rocha to the

    Portuguese astronomy, which, as we shall see, become very important in the future of

    the scientic activity of the Astronomical Observatory. Jos Monteiro da Rocha was

    the scientic mentor behind the development and calculation of the Ephemerides As-

    tronomicas(astronomical ephemeris) and the responsible for the design, construction

    and instrumentation of the Observatory. We also examined his mathematical work,

    which, during that period, was conned to applied mathematics. His regard for rigor

    and numerical precision of the results, and the methods used to accomplish that, isparticularly evident in his work.

    However, the scientic work of Monteiro da Rocha is vast and comprises trans-

    lations of French textbooks, essays on applied mathematics and in theoretical and

    practical astronomy, making a total of 23 printed documents, plus 12 known manu-

    scripts and about 20 other cited.

    The aim of our work is to study and investigate the mathematical and astronomical

    legacy of Monteiro da Rocha and, based on it, uncover key historical aspects of the

    institutional life of the Faculty of Mathematics and the Astronomical Observatory of

    the University of Coimbra (particularly on its scientic dimension), in the time elapsed

    between the years of 1772-1820.

  • Contedo

    1 Introduo 1

    2 Jos Monteiro da Rocha (1734-1819): vida e obra 132.1 Biograa de Monteiro da Rocha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132.2 A actividade cientca de Jos Monteiro da Rocha . . . . . . . . . . . 212.3 A actividade administrativa Jos Monteiro da Rocha . . . . . . . . . . 272.4 A biblioteca pessoal de Jos Monteiro da Rocha . . . . . . . . . . . . . 29

    2.4.1 Os livros cientcos na biblioteca de Monteiro da Rocha . . . . 352.4.2 Ttulos relacionados com as cincias matemticas . . . . . . . . 37

    I JOSMONTEIRODAROCHAEAREFORMAPOMBALINADA UNIVERSIDADE DE COIMBRA 43

    3 A Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra: ideologia epanorama geral 453.1 Antecedentes da Reforma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 453.2 Os Novos Estatutos da Universidade: a Reforma dos estudos e a cri-

    ao das Faculdades de Sciencias Naturaes . . . . . . . . . . . . . . . 48

    4 A nova Faculdade de Mathematica: sua organizao administrativa 57

    5 Monteiro da Rocha e o programa curricular do Curso Mathematicoe os compndios adoptados na Faculdade de Mathematica 655.1 Introduo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 655.2 O programa curricular do Curso Mathematico . . . . . . . . . . . . . . 66

    5.2.1 1o ano Geometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 685.2.2 2o ano lgebra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 725.2.3 3o ano Foronomia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 745.2.4 4o ano Astronomia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 825.2.5 A cadeira extraordinria de Desenho e Arquitectura . . . . . . 865.2.6 As cadeiras de Filosoa Racional e Moral, Histria Natural e

    Fsica Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 875.3 Os compndios adoptados na Faculdade de Mathematica . . . . . . . . 92

    5.3.1 Os compndios para a cadeira de Geometria . . . . . . . . . . . 985.3.2 Os compndios para a cadeira de lgebra . . . . . . . . . . . . 105

    i

  • ii CONTEDO

    5.3.3 Os compndios para a cadeira de Foronomia . . . . . . . . . . 1185.3.4 Os compndios para a cadeira de Astronomia . . . . . . . . . . 1315.3.5 Os compndios para as cadeiras de Histria Natural e Fsica

    Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135

    6 Monteiro da Rocha e as tradues dos compndios adoptados para aFaculdade de Mathematica 1376.1 Anlise dos Elementos de Arithmetica por M. Bezout, Traduzidos do

    Francez (1773) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1396.2 Anlise dos Elementos de Trigonometria Plana por M. Bezout, Traduzi-

    dos do Francez (1774) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1486.3 Anlise dos Elementos de Analisi Mathematica por M. Bezout, Traduzi-

    dos do Francez (1774) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1526.3.1 volume 1: lgebra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1536.3.2 volume 2: clculo diferencial e integral . . . . . . . . . . . . . . 154

    6.4 Anlise do Tratado de Mechanica, de Marie (1775) . . . . . . . . . . 1566.5 Anlise do Tratado de Hydrodynamica, de Bossut (1775) . . . . . . . 158

    II A FACULDADE DE MATHEMATICAE OS TRABALHOSMATEMTICOS DE MONTEIRO DA ROCHA 161

    7 Os primeiros 50 anos da Faculdade de Mathematica: uma viso di-acrnica 1637.1 O corpo discente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1687.2 O corpo docente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1747.3 Os doutoramentos da Faculdade de Matemtica . . . . . . . . . . . . . 1797.4 A produo cientca junto da Academia das Cincias . . . . . . . . . 181

    7.4.1 As memrias cientcas publicadas . . . . . . . . . . . . . . . . 1847.4.2 As memrias no publicadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1857.4.3 Concursos e prmios da ACL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187

    7.5 A publicao de livros entre 1770-1820 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1887.6 Os pareceres cientcos da Faculdade de Matemtica . . . . . . . . . . 1907.7 A viagem de Manuel Pedro de Melo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 196

    8 Os Elementos de Mathematica de Monteiro da Rocha: Elementosde Arithmetica e Elementos de Algebra 2018.1 Elementos de Mathematica: Prolegomenos . . . . . . . . . . . . . . . 2048.2 Elementos de Arithmetica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2118.3 Elementos de Algebra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 216

    9 Monteiro da Rocha e o problema das quadraturas 2239.1 A polmica entre Monteiro da Rocha e Anastcio da Cunha . . . . . 2249.2 Uma viso sobre os mtodos de integrao no sculo XVIII . . . . . . 2329.3 Alexis Fontaine e o seu Nouvelle Mthode dapproximation [...] aux

    Quadratures . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236

  • CONTEDO iii

    9.4 Manuel Coelho da Maia e a "Soluo do Problema proposto pela Acad-emia" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237

    9.5 A Demonstrao do tetragonismo aproximado universal de Mr. Fontaine,e reexes sobre alguns lugares de certa obra prima [Lisboa, 9 de Maiode 1785] , de Jos Anastcio da Cunha . . . . . . . . . . . . . . . . . 240

    9.6 As quadraturas em Jos Monteiro da Rocha: o Additamentos regrade M. Fontaine para resolver por approximao os Problemas que sereduzem s Quadraturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2429.6.1 Demonstrao da Regra de M. Fontaine . . . . . . . . . . . . 2439.6.2 Indagao e consequncias da convergncia da regra de Fontaine246

    10 Monteiro da Rocha e a medio de pipas e toneis 25910.1 Introduo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25910.2 Breve histria do problema da medio das vasilhas . . . . . . . . . . 26210.3 A memria: Soluo Geral do Problema de Kepler sobre a medio das

    Pipas e Toneis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 265

    III O REAL OBSERVATRIO ASTRONMICO DA UNIVER-SIDADE DE COIMBRA E OS TRABALHOS ASTRONMICOSDE JOS MONTEIRO DA ROCHA 275

    11 O Real Observatrio Astronmico da Universidade de Coimbra: ar-queologia de um espao cientco 28311.1 As vicissitudes da sua construo: do Castelo ao Ptio das Escolas . . 28311.2 O apetrechamento instrumental e a constituio da biblioteca . . . . . 305

    11.2.1 Os instrumentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30511.2.2 A biblioteca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 310

    12 O ensino e a investigao cientca no Real Observatrio Astronmicoda Universidade de Coimbra 31312.1 O arsenal tcnico do OAUC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31312.2 O ensino da astronomia na Faculdade e no OAUC . . . . . . . . . . . 317

    12.2.1 Uma breve anlise dos contedos dos compndios adoptados . 31912.2.2 A criao da Cadeira de Astronomia Prtica (1801) e as aulas

    prticas no Observatrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33412.3 A produo astronmica em Coimbra (1772-1820): objectivos e alcances

    da investigao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33712.3.1 Os ecos alm-fronteiras da actividade cientca do OAUC . . . 343

    13 AS Ephemerides Astronomicas do Real Observatrio da Universi-dade de Coimbra 34713.1 Introduo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34713.2 Breve introduo aos problemas astronmicos enfrentados pelos astrnomos

    e navegadores do sculo XVIII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34813.3 Tabelas e Efemrides Astronmicas: contextualizao histrica . . . 355

  • iv CONTEDO

    13.3.1 O Connaissance des Temps . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35813.3.2 O Nautical Almanach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36213.3.3 As Ephemerides Nauticas ou Diario Astronomicoda Academia

    das Cincias de Lisboa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36513.4 As Ephemerides Astronomicas do OAUC . . . . . . . . . . . . . . . . 371

    13.4.1 Catalogo das estrelas principais . . . . . . . . . . . . . . . . . 37513.4.2 Taboa da diferena dos meridianos dos Lugares principais da

    Terra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37613.4.3 Taboa Cosmogrca dos Portos, Cabos, Ilhas, e Lugares das

    Costas Martimas... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37713.4.4 As folhas mensais nas Ephemerides Astronmicas do OAUC . 37813.4.5 O Calendrio Nutico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38413.4.6 As Taboas Auxiliares para uso destas Ephemerides . . . . . . 386

    13.5 Exposio dos mtodos particulares de que se faz uso no clculo dasEphemerides . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38813.5.1 Parte 1: vericao e correco das tabelas . . . . . . . . . . . 39113.5.2 Parte 2: mtodo de interpolao . . . . . . . . . . . . . . . . . 394

    13.6 Sobre a elaborao das Ephemerides Astronmicas do OAUC . . . . . 401

    14 Os trabalhos de Monteiro da Rocha sobre a determinao das Lon-gitudes 40714.1 O problema das longitudes: de Ptolomeu a Borda, uma sinopse histrica 408

    14.1.1 mtodo dos eclipses dos satlites de Jpiter . . . . . . . . . . . 41014.1.2 mtodos lunares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 411

    14.2 O manuscrito: Methodo de achar a Longitude Geograca no Mar e naTerra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41814.2.1 Os 5 Methodos [propostos] de achar a Longitude . . . . . . . . 429

    14.3 O Calculo das Longitudesapresentado nas Ephemerides Astronomicasdo OAUC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 439

    14.4 A Taboada Nautica para o clculo das Longitudes . . . . . . . . . . . 444

    15 Clculo dos Eclipses de Monteiro da Rocha 45315.1 Os eclipses e o ciclo de Saros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 454

    15.1.1 eclipses da Lua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45615.1.2 eclipses do Sol . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 459

    15.2 Calculo dos Eclipses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46015.3 Additamento ao Calculo dos Eclipses . . . . . . . . . . . . . . . . . . 467

    16 Duas memrias de Monteiro da Rocha sobre instrumentos: o Usodo Instrumento de passagens e o Uso do reticulo rhomboidal 46916.1 O Instrumento de passagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47016.2 O Retculo romboidal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 476

    17 Monteiro da Rocha e a Determinao das orbitas dos cometas 48317.1 A problemtica da determinao de rbitas dos cometas . . . . . . . . 48717.2 O Systema Physico Mathematico dos Cometas . . . . . . . . . . . . . 492

  • CONTEDO v

    17.3 A Determinao da Orbita dos Cometas . . . . . . . . . . . . . . . . 495

    18 Consideraes nais 507

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 513

  • Captulo 1

    Introduo

    Quando em 2003 inicimos o estudo da memria a Determinao das Orbitas dos

    Cometas, de Jos Monteiro da Rocha (1734-1819) [Monteiro da Rocha 1799], e que

    deu origem nossa dissertao de mestrado [F. Figueiredo 2005], depressa intumos,

    e mais tarde conrmmos, que estvamos perante um trabalho de grande relevncia

    cientca. Com este trabalho, Monteiro da Rocha o primeiro astrnomo da sua poca

    a propor um mtodo de fcil aplicao na resoluo de um dos problemas mais intrin-

    cados com que se debateu a astronomia do sculo XVIII a determinao de rbitas de

    cometas. Infelizmente a publicao tardia deste seu trabalho publicado pela Academia

    das Cincias de Lisboa (ACL) apenas em 1799, como nunca se tornou conhecido pela

    comunidade astronmica internacional da sua poca, f-lo perder para H. Wilhelm Ol-

    bers (1758-1840)1 a possibilidade de ver inscrito o seu nome na Histria da Astronomia

    como o primeiro autor de uma soluo satisfatria para o referido problema. Emb-

    ora na historiograa da cincia em Portugal este trabalho de Jos Monteiro da Rocha

    fosse frequentemente citado como um dos seus trabalhos mais importantes o seu es-

    tudo completo estava por fazer deve-se a Duarte Leite [Duarte Leite 1915] o primeiro

    estudo analtico do mtodo de Monteiro da Rocha, onde conclui da semelhana e pri-

    oridade face ao trabalho de Olbers. Como tambm por estudar est qualquer um dos

    1Heinrich Wilhelm Matthias Olbers, mdico e astrnomo alemo cou na histria da astronomiapelos seus trabalhos e estudos desenvolvidos sobre os cometas. Ao longo da sua actividade astronmicadescobriu vrios cometas, bem como os asterides Pallas (1802) e Vesta (1807). A ele se deve aformulao do clebre paradoxo que tem o seu nome: se o Universo innito e cheio de estrelas, porque razo a noite escura? Sobre Olbers veja-se [Martin Solc 2007, pp.848-849]. O trabalho de Olberssobre a determinao de rbitas parablicas de cometas Ensaio sobre o mtodo mais fcil e maisconveniente para se calcular a rbita de um cometa atravs de observaes, foi publicado por vonZach em 1797 [Olbers 1797]. O trabalho de Monteiro da Rocha embora tenha sido publicado 2 anosdepois, em 1799, j havia sido apresentado e lido ACL no ano de 1782 (a 27 Janeiro) veja-se onosso captulo 17.

    1

  • 2 1. Introduo

    seus outros trabalhos da sua vasta obra cientca!2 no captulo seguinte listamos a

    totalidade da sua obra cientca: 23 trabalhos impressos, 11 manuscritos conhecidos e

    cerca de 20 referenciados.

    Em Portugal, o estudo da cincia nas suas dimenses histrica e losca comeou

    recentemente a dar passos mais rmes, sustentados por grupos de trabalho cada

    vez mais interdisciplinares, ligando vrios departamentos e instituies universitrias.

    Muito est ainda por investigar, existindo reas da histria das cincias que ainda so

    embrionrias em Portugal. o caso, por exemplo, da Histria da Astronomia. Os estu-

    dos histricos especcos de Astronomia so em nmero bastante reduzido estando na

    sua generalidade inseridos em projectos mais amplos. A Histria da Astronomia tem

    sido estudada como uma rea subsidiria da Histria da Matemtica e, curiosamente,

    entre as cincias fsicas e matemticas a astronomia a cincia h mais tempo estu-

    dada no nosso pas3. Podemos situar a historiograa da matemtica portuguesa em

    dois patamares distintos: um, de obras gerais da Histria da Matemtica, de grandes

    vultos desta cincia, de carcter descritivo, contudo notveis, e que se resumem a um

    pequeno nmero; outro, de artigos, teses de mestrado e doutoramento que tm vindo

    a ser publicados, em nmero crescente e sobre os mais diversos ramos desta cincia,

    na tentativa de contribuir para o conhecimento da produo matemtica enquanto

    disciplina cientca e da sua histria (veja-se por exemplo [Leal, Silva e Queir 2000]

    e [Tavares & Leito 2006]).

    Neste quadro de obras gerais sobre a Histria da Matemtica justica-se a ausncia

    de estudos especcos acerca dos trabalhos matemticos e astronmicos de Monteiro

    da Rocha, embora a seja abertamente reconhecido como um grande vulto da nossa

    histria cientca. Este reconhecimento deve-se a ser evidente a importncia do pa-

    pel que desempenhou na criao, organizao e vida da reformada Universidade de

    Coimbra, onde foi um dos primeiros professores e o primeiro director do Observatrio

    Astronmico da Universidade de Coimbra (OAUC).

    O primeiro autor a salientar a importncia da obra cientca de Monteiro da Rocha

    foi Garo Stockler [Stockler 1819] ao referir-se-lhe, assim como a Anastcio da Cunha,

    como merecedor do ttulo de Gemetra [Stockler 1819, p.67]4. Mais tarde, Castro

    2Gomes Teixeira [Gomes Teixeira 1905] estudou uma emenda feita por Monteiro da Rocha equaoda catenria apresentada por Marie na traduo que fez do seu Tratado de Mecnica [Tratado deMechanica 1775] e que havia sido criticada por Anastcio da Cunha (veja-se o nosso captulo 6.4).

    3Sobre a histria da astronomia no nosso pas o grosso dos estudos existentes debrua-se essen-cialmente sobre a astronomia nutica de Quinhentos e Seiscentos. O perodo ps-Newton, do sculoXVII em diante, est pouco estudado. Sobre o sculo XVIII temos o singular estudo de Rmulo deCarvalho [Rmulo de Carvalho 1985].

    4No obiturio de Monteiro da Rocha, publicado na Gazeta de Lisboa (1820), colocado em relevotoda a sua actividade acadmica e social e a se refere ainda o seu papel na redaco dos EstatutosPombalinos da Universidade (1772) foi[-Ihe] incumbida a Parte dos Estatutos respectiva as trs

  • 1. Introduo 3

    Freire na Memria Histrica da Faculdade de Matemtica [Castro Freire 1872] e In-

    ocncio da Silva no seu Dicionrio Bibliogrco [Inocncio da Silva 1858-1923] ev-

    idenciaram com mais pormenor a natureza dessa mesma obra, revelando tambm a

    contribuio de Monteiro da Rocha na redaco dos Estatutos (1772) e na vida admin-

    istrativa da Universidade em virtude de ter ocupado o lugar de Vice-Reitor durante

    cerca de 20 anos.

    Nos nais da dcada de 1880 Antnio Jos Teixeira escreve um importante estudo

    bio-bibliogrco sobre Monteiro da Rocha [A. Teixeira 1889-90], e noutro [A. Teixeira

    1888-90] d a conhecer a famosa polmicaque havia sido travada com Anastcio da

    Cunha, nos anos de 1785-865. Estes trabalhos constituram um enorme contributo

    para uma melhor e mais ampla compreenso do homem e do cientista. O texto de An-

    tnio Jos Teixeira sobre a polmicair marcar de forma decisiva toda a historiograa

    posterior sobre Monteiro da Rocha ao retrat-lo como o denunciante Inquisio de

    Jos Anastcio da Cunha e possuidor de um esprito pequeno, mesquinho e invejoso

    da putativa superioridade intelectual de Anastcio. Aquilino Ribeiro no seu romance

    Anastcio da Cunha, o Lente penitenciado [Aquilino Ribeiro 1932] refora esta per-

    spectiva com enorme virulncia.

    Telo Braga, na sua Histria da Universidade de Coimbra [Telo Braga 1898-

    1902, v.3 e 4] oferece-nos informaes precisas e signicativas sobre a actividade ad-

    ministrativa de Monteiro da Rocha desenvolvida enquanto vice-reitor (1786-1804)6, tal

    como tambm o faz Silvestre Ribeiro na sua Histria dos Estabelecimentos Cientcos

    [Silvestre Ribeiro 1871-1914].

    No sculo XX o exaustivo levantamento e estudo da bibliograa cientca que se

    produziu em Portugal levados a cabo por Rodolfo Guimares [Rodolfo Guimares

    1911]7, seguindo a tradio historiogrca vinda do sculo anterior, refora, ao listar e

    comentar alguns dos seus trabalhos, a imagem de importante cientista, no deixando

    apesar de tudo de criticar o modo de ser de Monteiro da Rocha [Rofolfo Guimares

    1909, pp.39-40]. Porm o primeiro estudo crtico de um trabalho cientco de Mon-

    Faculdades, Medicina, Matemtica, e Filosoa, para a Universidade Reformada .5A questo da polmica entre Monteiro da Rocha e Anastcio da Cunha ser abordada no nosso

    captulo 9.6No que diz respeito polmicaTelo Braga na sua Histria da Literatura sugere uma certa

    m vontade de Monteiro da Rocha para com Anastcio da Cunha com a fama de esprito genial,devia despertar uma certa malevolncia secreta no nimo do autoritrio e ex-jesuta Jos Monteiro daRocha, que era ento o brao direito do Reitor Reformador [Telo Braga 1901, p.409] , segundoTelo, Monteiro da Rocha no teria sido indiferente ao plano da runa de Anastcio o qual o levaria priso pela Inquisio [Telo Braga 1901, p.411]. Contudo, sugere tambm que no princpio daconvivncia estes dois homens at cultivariam uma certa amizade [Telo Braga 1818, p.351].

    7Em 1900 Rodolfo Guimares j havia publicado uma 1a edio [Rodolfo Guimares 1900] ondefaz um levantamento da produo bibliogrca respeitante apenas ao sculo XIX e refere muito sucin-tamente o papel de Monteiro da Rocha [Rodolfo Guimares 1900, p.12].

  • 4 1. Introduo

    teiro da Rocha deve-se, como j referimos, a Duarte Leite e que ns recentemente

    aprofundmos e desenvolvemos no nosso trabalho de mestrado.

    Gomes Teixeira outro relevante autor que, pelos importantes comentrios obra

    de Monteiro da Rocha, produzidos no quadro da histria da matemtica do sculo

    XVIII, contribuiu para o seu reconhecimento ([Gomes Teixeira 1934], [Gomes Teix-

    eira 1934b] e [Gomes Teixeira 1925, pp.85-119])8. Mais tarde o estudo de Rmulo de

    Carvalho [Rmulo de Carvalho 1985], que se debrua sobre a astronomia portuguesa

    desse mesmo sculo, refora o papel que Monteiro da Rocha desempenhou no estab-

    elecimento do OAUC e na elaborao das suas Ephemerides Astronomicas.

    H ainda alguns textos genricos para dicionrios e enciclopdias onde o papel de

    Monteiro da Rocha tambm valorizado. O pequeno livro de J. Tiago de Oliveira,

    que embora evidencie o papel de Monteiro da Rocha na organizao da Faculdade de

    Matemtica e na criao do OAUC, refere-se sua obra como tendo sido centrada

    em torno de questes de Astronomia e certos pontos de Geometria e de ndole

    mais aplicada do que terica [Tiago de Oliveira 1989, p.20].

    De h vinte anos a esta parte a importncia da obra de Monteiro da Rocha tem

    vindo a ser marcadamente reconhecida em diversos artigos (veja-se [Leal, Silva e Queir

    2000]). Recentemente surgiram dois estudos que se debruam especicamente sobre

    a obra de Monteiro da Rocha ([Valter Roque 2003] e [Mafalda Pedroso 2004]) e que

    permitem entrever a dimenso e a natureza da mesma, porm nenhum deles se debrua

    com pormenor sobre a sua produo e sobre a sua qualidade matemtica e astronmica.

    Embora nos dando pistas sobre a sua importncia e pertinncia, deixam contudo difuso

    tanto o quadro dos problemas e questes cientcas do sculo XVIII e XIX em que essa

    obra se centra, como o quadro das questes nacionais em que a mesma produzida.

    Neste contexto, considermos ser oportuna uma dissertao que, estudando e

    centrando-se na investigao e anlise da produo cientca de Monteiro da Rocha,

    a enquadrasse e esclarecesse alguns aspectos respeitantes vida institucional da Uni-

    versidade de Coimbra da qual ele foi um dos principais eixos em torno do qual toda a

    dinmica universitria girou.

    A Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra (1770-1772) (re)inicia um

    processo de institucionalizao da cincia em Portugal, nomeadamente da Matemtica

    e Astronomia, que no caso desta ltima se realiza, de certa forma, com a entrada em

    funcionamento em 1799 do Real Observatrio Astronmico da Universidade de Coim-

    bra (OAUC)9.

    8Gomes Teixeira, tal como j o havia feito Castro Freire, recusa a imagem de delator de Monteiroda Rocha.

    9No estamos a armar que antes da Reforma no houve actividade astronmica alguma em Portu-

  • 1. Introduo 5

    Em todo este processo, Monteiro da Rocha, para alm de desempenhar o papel

    de fundador, sendo um dos principais responsveis pela concepo de um programa

    curricular moderno para o ensino destas disciplinas no seio da Universidade. Ser

    uma gura incontornvel, enquanto professor das cadeiras de Foronomia (1772-1783)

    e Astronomia (1783-1804), na formao acadmica e cientca dos astrnomos que iro

    trabalhar no OAUC, assim como na gesto da Universidade como vice-reitor. A sua

    contribuio no que diz respeito Astronomia ser, como veremos, fundamental para

    actividade futura do prprio OAUC, tanto a nvel administrativo como (e principal-

    mente) a nvel cientco. J a sua actividade meramente matemtica, que se conna

    especialmente matemtica aplicada (com excepo da elaborao dos Estatutos, da

    tradues dos compndios que viriam a ser adoptados nas aulas da Faculdade e de

    dois manuscritos de um putativo compndio), ser, se assim o podemos armar, mais

    circunstancial.

    Face ao que foi dito o objectivo deste nosso trabalho pois o de fundamentar

    o valor e a importncia da obra cientca de Jos Monteiro da Rocha. Para tal

    organizmo-lo em trs partes. A primeira dedicada claricao da contribuio e do

    papel desempenhado por Monteiro da Rocha na Reforma Pombalina da Universidade,

    nomeadamente no estabelecimento e organizao do Curso Mathematico (PARTEI); a segunda ao estudo da sua obra matemtica (PARTE II); e a terceira ao estudoda sua obra astronmica (PARTE III). A preced-las integrmos dois captulos: oprimeiro que, sendo esta introduo, constitui uma espcie de guio de leitura do nosso

    trabalho (captulo 1) e o segundo, intitulado Jos Monteiro da Rocha (1734-1819):vida e obra (captulo 2), que compreende uma biograa, onde sistematizamos e pre-cisamos algumas datas marcantes da sua vida e elencamos, de forma o mais completa

    possvel, o conjunto dos trabalhos da sua obra cientca. Este captulo termina com

    um estudo da sua biblioteca pessoal, deixada em testamento ao Prncipe D. Pedro

    e que hoje integra a Biblioteca da Ajuda, permitindo-nos compreender melhor a sua

    personalidade cientca. A sua biblioteca impressiona no s pela quantidade e di-

    versidade de ttulos e autores (cerca de 1300 ttulos) mas tambm pela qualidade e

    actualidade dos mesmos, destacando-se de imediato os livros cientcos (cerca de 38%

    do total), seguidos dos livros de religio (19%) e literatura (14%). No que diz respeito

    aos livros de matemtica e astronomia Monteiro da Rocha tinha uma coleco muito

    actualizada dos autores mais signicativos da sua poca, da qual constam, por exem-

    plo, obras de Newton, Euler, Bernoulli, DAlembert, Delambre, Bailly, Bion, Lalande,

    Clairaut, Halley, Lacaille, Lagrange, entre outras.

    gal, bem pelo contrrio (veja-se por exemplo [Rmulo de Carvalho 1985a]). O que sustentamos quefoi a partir de 1772 que o ensino e a actividade astronmica portuguesa se organizou e estabeleceu emmoldes formais semelhantes aos que se j haviam estabelecido em muitos pases da Europa Iluminista.

  • 6 1. Introduo

    Na PARTE I Jos Monteiro da Rocha e a Reforma Pombalina da Universi-dade de Coimbra , estudaremos, como atrs referimos, o papel desempenhado por

    Monteiro da Rocha na Reforma Pombalina o qual foi marcado por duas fases que,

    embora distintas, esto estreitamente ligadas. Uma, diz respeito elaborao dos

    Estatutos da nova Faculdade de Matemtica, nomeadamente ao plano de estudos do

    curso mathematicoe a outra, respeitante aos compndios adoptados para o ensino

    das diversas matrias, alguns dos quais traduzidos por si (seis no total).

    A Reforma da Universidade de Coimbra pretende ser a concretizao de um pro-

    jecto que tem por nalidade sintonizar Portugal com as ideias iluminadas da Europa e

    encaminh-lo na direco do progresso e das cincias. Como mostraremos, todo o ar-

    ticulado estatutrio que estrutura o curriculum do curso mathematico concretiza de

    uma forma vincada o corpus cientco iluminista de matriz francesa do sculo XVIII,

    reectindo, por conseguinte, as prprias ideias de DAlembert, bem como de outros

    autores franceses seus condiscpulos, paradigmticas desse Iluminismo, e do qual os

    Estatutos se revelam ser herdeiros. Esta inuncia, como veremos, foi tanto directa,

    como indirecta. Directa, por via dos prprios escritos de DAlembert, e indirecta,

    por via dos autores dos manuais que viriam a ser escolhidos para o ensino das vrias

    matrias (Bezout, Lacaille, Marie, Bossut e Lalande). Por outro lado, a inuncia

    dos manuais de Bezout e de Lacaille articula-se to intimamente com o estipulado nos

    Estatutos que nos leva a crer que estes tero servido priori de matriz elaborao

    do prprio currculo e organizao dos contedos programticos das vrias cadeiras

    da Faculdade de Matemtica. Como se ver, o programa curricular das cadeiras lec-

    cionadas nos 1o, 2o e 3os anos fortemente inspirado nos livros de texto que Bezout

    escreveu para os alunos da marinha francesa [Bezout 1764-69] e no de Lacaille [Lacaille

    1750]. Apesar do Cours de Bezout no ter sido adoptado para o ensino das matrias

    de Foronomia (3o ano) foram adoptados: [Lacaille 1750], [Bossut 1771] e [Marie 1774]

    , a verdade que tambm para esta cadeira os Estatutos nele se inuenciaram. Para

    a cadeira de Astronomia (4o ano) foi adoptado o compndio de astronomia de Lacaille

    [Lacaille 1746], cujos contedos e organizao das matrias os Estatutos seguem de

    perto.

    Assim, esta PARTE I est dividida em 4 captulos. No captulo 3 estudaremosos antecedentes da Reforma da Universidade e a ideologia que a suporta no contexto

    do pensamento intelectual nacional e estrangeiro, olhando com especial ateno para a

    reforma do ensino cientco e a criao das trs Faculdades de sciencias naturaes. No

    captulo 4 debruar-nos-emos sobre a organizao administrativa da nova Faculdadede Matemtica e no captulo 5 abordaremos o seu programa curricular e a relao quetem com os compndios adoptados. No captulo 6 analisaremos as tradues feitaspor Monteiro da Rocha desses mesmos compndios e que a historiograa arma terem

  • 1. Introduo 7

    melhorado signicativamente os originais com importantes aditamentos, questo que

    a nossa anlise vem claricar.

    A PARTE II dedicada quase em exclusivo ao estudo dos trabalhos matemticosde Monteiro da Rocha, contudo o captulo 7 dedicado anlise da vida institucionalda Faculdade de Mathematica durante um perodo relativamente longo (quase 50

    anos: 1772-1820) e complexo da vida poltica, social e econmica do pas. Para tal

    seleccionmos e estudmos uma srie de indicadores respeitantes ao corpo discente,

    docente e actividade cientca (doutoramentos, memrias e concursos acadmicos,

    produo compendiria e pareceres cientcos), no sentido de perceber em que medida,

    durante o perodo em questo, a Faculdade idealizada nos Estatutos Pombalinos se

    concretizou ou no. Esta questo no de todo linear, como se compreende desde

    logo, e, por isso mesmo, de difcil resposta; porm, o empenho de Monteiro da Rocha

    na prossecuo desse ideal pombalino no levanta qualquer dvida, sendo inegvel a

    sua responsabilidade na dinmica e na vida da Universidade.

    No que diz respeito aos trabalhos matemticos de Monteiro da Rocha, estudaremos

    no captulo 8 os seus Elementos de Mathematica, compostos por dois manuscritos:Elementos de Arithmetica (8.2) e Elementos de Algebra (8.3). Estes dois, jun-tamente com uns elementos de geometria e trigonometria e um mao dedicado ao

    clculo innitesimal (hoje desconhecidos mas referenciados entre os seus papeis pes-

    soais) fariam parte de um suposto compndio de matemtica que Monteiro da Rocha

    escrevia por volta de 1765-1770.

    O captulo 9 dedicado ao trabalho de Monteiro da Rocha sobre as quadraturas(integrao) publicado no 1o volume das memrias da ACL (1797) e que data de 1786.

    Este foi escrito em resposta aos comentrios negativos feitos por Jos Anastcio da

    Cunha (1744-1787) a um trabalho de Manuel Joaquim Coelho da Costa Vasconcelos e

    Maia (1750-1817), que havia sido premiado em 1785 pela ACL, sobre a demonstrao

    da regra de quadraturas de Alexis Fontaine (1704-1771). Os comentrios crticos de

    Anastcio da Cunha estenderam-se ao prprio Monteiro da Rocha gerando uma famosa

    polmicaque, embora centrada no problema das quadraturas, vai muito para alm

    desta questo, originando uma severa troca de acusaes de carcter pessoal de parte

    a parte, o que gerou partidrios de ambos que assumiram severas posies adversrias.

    No que diz respeito s quadraturas, as crticas feitas por Anastcio da Cunha so em

    parte sem fundamento. Neste captulo revisitaremos, luz de nova documentao,

    este famoso episdio da nossa histria da matemtica.

    Para alm do estudo do trabalho de Monteiro da Rocha (9.6), analisaremos tam-bm o de Coelho da Maia (9.4), bem como a demonstrao dada por Anastcio daCunha (9.5) referenciada em vrios documentos mas at agora desconhecida e por

  • 8 1. Introduo

    ns encontrada em 2009 na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

    No captulo seguinte (captulo 10) estudaremos uma outra memria Soluogeral do problema de Kepler sobre a medio das pipas e toneis, tambm publicada

    no mesmo 1o volume das memrias da ACL e que versa um tema am ao anterior, pois

    a soluo terica do clculo de volumes obtida atravs de integrais de volume; porm,

    ao contrrio do trabalho das quadraturas, um trabalho terico, este eminentemente

    prtico. Nele, Monteiro da Rocha pretende dar soluo a um problema bem real

    no quotidiano do comrcio de bebidas e, de certa maneira, de toda a mercadoria de

    substncias lquidas que se faziam transportar em pipas e tonis, problema que se

    revestia de maior diculdade quando no era propriamente o volume de uma pipa

    cheia que se pretendia saber mas sim o volume parcial de lquido que ela continha.

    Monteiro da Rocha elabora uma tabela que permite aos comerciantes estimar com boa

    preciso o volume parcial de uma pipa sabendo apenas os seus dimetros maior, menor

    e mdio, bem como o seu comprimento e a altura do lquido nela contido.

    Na PARTE III O Real Observatrio Astronmico da Universidade de Coimbrae os trabalhos astronmicos de Jos Monteiro da Rocha , organizada em 7 captu-

    los, estudaremos a obra astronmica de Jos Monteiro da Rocha e o papel que de-

    sempenhou na criao e estabelecimento do denitivo Observatrio Astronmico da

    Universidade de Coimbra (OAUC).

    A contribuio de Monteiro da Rocha no que diz respeito astronomia bem

    mais vasta que a sua contribuio matemtica, sendo vrios os trabalhos de astrono-

    mia terica e prtica que publica. Grande parte deles, escritos enquanto professor da

    cadeira de astronomia (1783-1804) e Director do Observatrio (1795-1819), so funda-

    mentais para o estabelecimento dos mtodos matemticos e das prticas astronmicas

    que permitiram o clculo e a elaborao das emblemticas Ephemerides Astronomicas

    (EAOAUC) que o OAUC comea a publicar logo a partir de 1803 (os vrios volumes

    das EAOAUC publicaro a maior parte desses trabalhos de Monteiro da Rocha).

    Os dois primeiros (captulos 11 e 12) so dedicados ao Observatrio Astronmico.No captulo 11 O Real Observatrio Astronmico da Universidade de Coimbra:arqueologia de um espao cientco , fazemos uma reexo sobre as vicissitudes da

    sua construo e analisaremos o seu apetrechamento instrumental e a constituio da

    sua biblioteca.

    A criao do Observatrio foi fundamental, na segunda metade do sculo XVIII,

    para a institucionalizao da cincia astronmica em Portugal, durante o perodo em

    que a astronomia, sustentada pelos grandes avanos tericos da mecnica celeste e da

    matemtica aplicada, tenta, por m, resolver as grandes questes que desde Newton

    vinha enfrentando. Estas questes, ligadas aos problemas de navegao, geodesia e

  • 1. Introduo 9

    cartograa, determinao de rbitas de planetas e cometas, medies de tempo, e que

    faziam parte do programa de trabalho de qualquer observatrio da poca esto tam-

    bm na base da criao e planicao do OAUC, o primeiro observatrio astronmico

    do pas ligado Universidade mas com profundas caractersticas de um observatrio

    nacional.

    A criao do Observatrio Astronmico instituda desde logo nos Estatutos como

    fazendo parte dos estabelecimentos cientcos da Faculdade Mathematica. Pretendia-

    se um estabelecimento para o ensino e para a investigao, onde os estudantes tivessem

    aulas de astronomia prtica e os professores se dedicassem pesquisa cientca. A con-

    struo do referido Observatrio esteve planeada inicialmente para o stio do Castelo

    da cidade de Coimbra. Guilherme Elsden (?-1779), o primeiro arquitecto responsvel

    pelas obras da Reforma, desenvolve duas verses de projecto para esse observatrio.

    Em Abril de 1773 inicia-se a construo deste vasto equipamento e em 1775 estava

    realizado o essencial do primeiro piso. A partir desta data a obra praticamente pra!

    Entretanto edica-se (ca. 1775), por ordem do Reitor, um pequeno observatrio in-

    terino, no terreiro do Pao das Escolas para suprir as necessidades lectivas. Este

    observatrio de carcter temporrio acabaria por funcionar provisoriamente durante

    15 anos!, pois s em meados da dcada de 1780 se regressava e encarava denitivamente

    o problema da inexistncia de um verdadeiro observatrio astronmico. atravs da

    estreita colaborao entre Monteiro da Rocha e Manuel Alves Macomboa (?-1815), o

    arquitecto que substituiu Elsden, que surgir, com o apoio do segundo governo mar-

    iano, o projecto denitivo para o OAUC, que aprovado pela Universidade em 5 de

    Fevereiro de 1791 se v concludo em 1799.

    No que diz respeito sua dotao instrumental (desde logo estabelecida nos Es-

    tatutos) (11.2 e 12.1), os primeiros instrumentos chegariam de Lisboa logo no nalde 1772 provenientes do Colgio dos Nobres. Ao longo dos anos seguintes Monteiro da

    Rocha encarrega-se de encomendar de Frana e Inglaterra muitos outros instrumen-

    tos, estando nos meados da dcada de 80, praticamente, reunido o ncleo principal.

    Ser precisamente, como veremos, a questo dos instrumentos conjugada com uma

    mudana de ministro na pasta dos Negcios do Reino que acabar por solucionar em

    denitivo a questo do OAUC, visto que o observatrio interino construdo em 1775

    s comportava a valncia lectiva.

    O papel e a prtica astronmica que se requeria para o OAUC (traada desde logo

    nos Estatutos de 1772 e depois reforada no seu regulamento de 1799 elaborado por

    Monteiro da Rocha, prende-o a uma dicotomia muito prpria: por um lado, como

    observatrio universitrio, nomeadamente na investigao cientca dos seus profes-

    sores e no papel pedaggico como estabelecimento de ensino das aulas de astronomia

    e, por outro, como observatrio nacional, envolvendo-o na elaborao das efemrides

  • 10 1. Introduo

    astronmicas para uso da Navegao Portuguesa .

    No captulo 12 analisaremos precisamente o ensino ministrado na cadeira deAstronomia (olharemos com especial ateno para o conjunto dos livros que se adop-

    taram) e a sua articulao com a investigao cientca que o OAUC veio a desenvolver.

    Como veremos, a prpria reestruturao da cadeira de Astronomia, com a criao

    da cadeira de Astronomia Prtica em 1801, uma consequncia directa da criao

    do OAUC e da necessidade que se lhe impe de comear a desenvolver uma slida

    actividade cientca, que se centra fundamentalmente na elaborao das efemrides

    astronmicas.

    No captulo 13 estudaremos as Ephemerides Astronomicas do Observatrio As-tronmico da Universidade de Coimbra, que desde o seu primeiro volume adoptaram

    algumas particularidades face s suas congneres europeias, nomeadamente ao Con-

    naissance des Temps (Paris), ao Nautical Almanac and Astronomical Ephemeris (Lon-

    dres) e ao Berliner Astronomische Jahrbuch (Berlim) (13.2 e 13.3) e tambm dedi-caremos algum espao s Ephemerides Nuticasque a ACL comea a publicar em

    1788 e que esto, como veremos, associadas a Monteiro da Rocha. As Ephemerides

    Astronomicasdo OAUC so calculadas para o tempo mdio e no para o tempo ver-

    dadeiro, usam a medida dos 360o e no a medida comum dos signos, fornecem as

    distncias da Lua aos planetas e adoptam um mtodo particular de interpolao para

    os lugares da Lua. Ao contrrio das suas congneres estrangeiras, que calculavam direc-

    tamente a partir das tbuas astronmicas as efemrides da Lua tanto para o meio-dia

    como para a meia-noite, as de Coimbra calculavam apenas o lugar do meio-dia directa-

    mente das tbuas, sendo o lugar da meia-noite calculado por interpolao segundo um

    mtodo obtido por Monteiro da Rocha (13.5). Em 1813 Monteiro da Rocha publicaas Tbuas Astronmicas ordenadas a facilitar o clculo das Efemrides da Universi-

    dade de Coimbra, que constituiriam a base terica para a elaborao e clculo das

    efemrides at meados do sculo XIX (13.6). Em 1803, no 1o volume das EAOAUC,j havia publicado as Tbuas de Marteque, rearranjadas, sero republicadas nestas

    Tbuas Astronmicas.

    O problema da determinao das longitudes geogrcas, principalmente no alto

    mar, era um dos maiores desaos da nutica e da astronomia do sculo XVIII, e a

    sua soluo est intimamente relacionada com o surgimento das efemrides astronmi-

    cas. Monteiro da Rocha tem trs trabalhos especcos sobre este assunto, realizados

    em dois perodos distintos da sua vida. Um, nunca publicado, foi escrito ainda antes

    da Reforma Pombalina da Universidade (e s recentemente descoberto por Henrique

    Leito na Biblioteca Nacional de Portugal) e os outros dois foram escritos e publicados

    nos incios do sculo XIX quando o seu trabalho acadmico e cientco j era devi-

  • 1. Introduo 11

    damente reconhecido. O captulo 14 Os trabalhos de Monteiro da Rocha sobre adeterminao das Longitudes, -lhes dedicado.

    O manuscrito Mtodo de achar a longitude geogrca no mar e na terra (14.2) a vrios nveis interessantssimo. A relevncia deste documento decorre, por um lado,

    do facto de ser escrito numa altura (1767) em que o mtodo das distncias lunarescomo soluo satisfatria para o problema das longitudes se comeava a implementar

    na comunidade cientca internacional (14.1) e, por outro, por nos revelar o quo pro-fundamente actualizado e sabedor das grandes diculdades tericas e prticas que tal

    mtodo pressuponha estava Monteiro da Rocha, propondo algumas variantes, assim

    como uma efemride nuticapara a implementao das mesmas. O elevado conhec-

    imento astronmico que este trabalho denota mais uma prova da excelncia da sua

    formao inicial obtida com os jesutas e da sua grande preocupao, resultado de uma

    profunda convico, de que o papel da cincia o de resolver problemas concretos. Os

    outros trabalhos (14.3 e 14.4) j so escritos no contexto de uma plena adopo domtodo das distncias lunares por parte dos astrnomos e marinheiros internacionais,

    sendo que os trabalhos de Monteiro da Rocha tm a particularidade de apresentarem

    novas solues relativamente sua aplicabilidade.

    A par do mtodo das distncias lunares e do mtodo das alturas da Lua (mtodos

    rivais), tambm os eclipses do Sol e da Lua possibilitam a determinao da longitude

    geogrca. Porm estes fenmenos revelam-se no plano terico de uma importncia

    acrescida, pois esto intimamente relacionados com as leis da mecnica celeste e da

    perturbao dos movimentos da Lua e da Terra, sendo, por isso, muito teis para o

    aperfeioamento e aferio das tabelas astronmicas e, assim sendo, so importantes

    para a prpria elaborao das efemrides astronmicas. Sobre o clculo dos eclipses

    Monteiro da Rocha publica nas EAOAUC trs artigos (para alm dos eclipses tambm

    abordado o clculo dos trnsitos de Mercrio e Vnus). No captulo 15 estudaremosestes trabalhos.

    No captulo 16 estudaremos dois trabalhos de Monteiro da Rocha sobre instru-mentao: um sobre o uso do instrumento de passagens (16.1), instrumento usadopara observaes no meridiano e, outro, sobre o uso do retculo romboidal (16.2), umtipo especial de micrmetro que acoplado nos telescpios permite elevar a escala e a

    exactido das medidas das observaes. Delambre tece elogiosas consideraes a estes

    trabalhos e s frmulas propostas por Monteiro da Rocha que generalizam o uso do

    retculo para qualquer posio deste. Estes trabalhos, contextualizados no conjunto

    da sua obra astronmica, permitem-nos compreender a slida formao de astrnomo

    terico e prtico de Monteiro da Rocha.

    Por ltimo o captulo 17 essencialmente uma revisitao da memria da de-terminao das rbitas dos cometas, dando especial ateno a um facto intrigante,

  • 12 1. Introduo

    e no devidamente explorado aquando do nosso trabalho de mestrado, que se prende

    com a brevidade com que na sua memria impressa Monteiro da Rocha se refere a

    contribuies cientcas de certos autores e com a omisso notria de outros. Entre os

    seus manuscritos existentes na Academia das Cincias de Lisboa (ACL) descobrimos

    um respeitante a esta memria que nos revela que Monteiro da Rocha conhecia os tra-

    balhos mais relevantes e actuais da poca sobre o assunto. Na tentativa de perceber

    possveis inuncias que deles tenha retirado iremos estudar alguns, comparando-os

    com o seu trabalho (17.2).Para alm do trabalho anterior, Monteiro da Rocha havia, na sua juventude,

    aquando da passagem do cometa Halley em 1759, escrito um outro trabalho sobre

    cometas: o Sistema Fsico-Matemtico dos Cometas (tambm recentemente de-

    scoberto por Carlos Ziller Camenietzki, na Biblioteca Pblica de vora, e publicado

    em 2000), que foi escrito com o propsito profundamente didctico de instruir os

    leitores no clculo astronmico (ao contrrio da memria da ACL que de natureza

    cientca) e reforar a verdadeira concepo sobre a natureza dos cometas tratar-se

    de corpos celestes e, por essa razo, serem objecto da matemtica e da astronomia ,

    assumindo-se, assim, como um inequvoco e convicto newtoniano.

    Este trabalho, a par de outros da sua juventude, permite-nos uma nova viso

    da sua integrao no contexto da Companhia de Jesus, situando-o juntamente com

    outros seus companheiros, como Incio Monteiro (1724-1812), numa linha reformista

    e moderna, que antes das reformas de Pombal se comeava j a operar na Assistncia

    Portuguesa da Companhia de Jesus.

  • Captulo 2

    Jos Monteiro da Rocha(1734-1819): vida e obra

    2.1 Biograa de Monteiro da Rocha

    Jos Monteiro da Rocha, lho de Maria e Joo Teixeira, lavradores, nasce a 25 de

    Junho de 17341 em Canavazes, uma localidade perto de Marco de Canavezes2. A

    rvore genealgica de Monteiro da Rocha que se segue construida com base na

    informao constante no seu testamento [AUC Cx. 265 Processo do Professor Jos

    Monteiro da Rocha],

    1Registo de nascimento e baptismo de Jos Monteiro da Rocha, Fundo Paroquial Sobre-Tmega(Sta. Maria)/Marco de Canaveses Srie Baptismos; PMCN 23/Liv. 2, misto 2, p.75 (fotocopiadoem [Valter Roque 2003, p.145]).

    2Canavazes, ou Canaveses: vila na freguesia de Santa Maria de Sobre Tmega, Douro, comarca,concelho a 2km ao NO de Marco de Canaveses. 40km a NE do Porto [...] 150 fogos toda a freguesia(em 1757 tinha 130 fogos) [...]. De Canaveses se v a Serra do Maro que ca 12km a Este [AugustoLeal 1874, v.2 p.37]. Segundo Valter Roque a barragem do Torro fez submergir esta localidade [ValterRoque 2003, p.7].

    13

  • 14 2. Jos Monteiro da Rocha (1734-1819): vida e obra

    O perodo de juventude de Jos Monteiro da Rocha desconhecido! Sabe-se que

    ter ingressado na Companhia de Jesus em 15 de Outubro de 17523, abandon-la-

    aquando da expulso de Portugal dos Jesutas, em 1759. Os primeiros anos de

    Monteiro da Rocha dentro da Compania so ento vividos no Brasil, mais propriamente

    no Colgio de Todos os Santos da Baa onde ter obtido a sua formao [Francisco

    Rodrigues 1917, pp.441-442].

    No que diz respeito ao ensino ministrado nos colgios jesutas poca sabemo-

    lo bastante completo, seguindo no geral as disposies programticas do Ratio atque

    Instituto Studiorum (1599) que compreendia 3 cursos: o de Letras, onde se estudava

    latim, grego, lngua materna, histria, geograa, poesia e eloquncia; o de Filosoa,

    com a durao de 3 anos, onde se estudava matemtica, fsica e astronomia; e Teologia

    que inclua o estudo das sagradas escrituras, teologia e hebreu4. Pouco se sabe sobre

    esses anos de formao de Monteiro da Rocha, certo que ter estudado losoa

    com o professor brasileiro Jernimo Moniz e cincias com o alemo Joo Brewer [J.

    Pereira Gomes 1974, v.16 pp.702-704]5. O Catalogus Secundusdos alunos do Colgio

    louva-lhe o bom engenho e os progressos obtidos nos estudos:

    [...] ingenio bono, judicio et prudentia su cienti; in latinitate bene

    procit; in philosoa, quam modo incepit, bene procit; rerum experien-

    tiam nondum habet; vale tudo bona; melancholicus. [Francisco Rodrigues

    1917, pp.441-442].

    Eventuais lacunas na formao obtida no Colgio da Baa foram com toda a certeza

    colmatadas por Monteiro da Rocha com determinao e estudo. Prova disso so os seus

    trabalhos da dcada de 60 sobre cometas [Monteiro da Rocha 2000] e sobre longitudes

    [BN Ms 511], onde revela um conhecimento superior sobre duas das maiores questes

    3Na sua biograa de Monteiro da Rocha Antnio Jos Teixeira arma que Monteiro da Rocha teringressado na Companhia por volta dos seus 5, 6 anos [A. Teixeira 1889-90, p.65]. Mas tudo leva acrer que estivesse enganado: At agora os autores que tm escrito sobre Monteiro da Rocha, deixamna incerteza alguns pontos da sua biograa [...] os catlogos manuscritos que examinmos, tiram advida [...] o Catalogus primus da Provncia do Brasil, do ano 1757, tem indicao que entrou naCompanhia de Jesus em 15 de Outubro de 1752 [Francisco Rodrigues 1917, pp441-442]. FranciscodArago Morato tambm o arma: O Sr. Jos Monteiro partiu de Lisboa para o Brasil pelos anosde 1752 [ACL Processo Acadmico de Jos Monteiro da Rocha].

    4Sobre o projecto educativo dos colgios jesutas e o Ratio Studiorum, veja-se [J. Lopes 1997]. Es-pecicamente sobre o ensino na Companhia de Jesus no sculo XVIII veja-se, por exemplo: [MiguelMonteiro 2004, pp.101-115] e [Ana Rosendo 1998, pp.20-40]. Especicamente sobre o ensino damatemtica e astronomia durante os sculos XVI e XVII na famosa Aula da Esfera do Colgio deSanto Anto, veja-se [Lus Albuquerque 1972]; concretamente sobre o ensino da matemtica min-istrado na Companhia, desde 1640 at expulso veja-se [Ugo Baldini 2004]. No que diz respeito aoensino da matemtica nos colgios brasileiros, Walter Valente arma quase nada se saber [W. Valente2007, p.29].

    5Segundo Cntia Morales no Colgio da Baa estudava-se geometria euclidiana, perspectiva,trigonometria, equaes algbricas, razo, proporo e juros [Cntia Morales 2003, p.26].

  • 2. Jos Monteiro da Rocha (1734-1819): vida e obra 15

    da poca.

    Quando os colgios dos Jesutas foram fechados e estes expulsos de Portugal e dos

    seus domnios6, Monteiro da Rocha regressa vida secular7 e concorre para professor de

    Gramtica Latina e Retrica, tendo sido aprovado cou como professor em Salvador da

    Baa, onde foi professor dos lhos do Governador do Estado8. O regresso de Monteiro

    da Rocha metrpole ocorreu em 1766, o que at data era desconhecido9. Em 1767

    Monteiro da Rocha matricula-se na Universidade de Coimbra, no curso de Cnones10,

    obtendo o grau de bacharel trs anos mais tarde, a 25 de Junho de 1770, tendo como

    padrinho o Dr. Cristvo de Almeida Soares e testemunhas os Drs. Custdio Manuel

    da Silva Rocha e Joo Soares de Brito [AUC Livro de Actos e Graus (1769-1770),

    s.42, 76].

    A futura reforma do ensino universitrio iniciada pelo Marqus de Pombal em

    1770, com a criao da Junta de Providncia Literria [Jos Eduardo Franco 2008,

    p.11] que redigir o famoso libelo sobre a situao do ensino universitrio Compn-

    dio Histrico do estado da Universidade (1771) , e mais tarde os novos Estatutos

    da Universidade de Coimbra (1772) nos quais Monteiro da Rocha participa activa-

    mente11. A colaborao de Jos Monteiro da Rocha com a Junta Literria deve-se

    6Em 29 de Junho de 1759 um Alvar Rgio priva os Jesutas do direito de ensinar fechando todosos seus colgios: sou servido privar inteira e absolutamente os mesmos religiosos em todos os meusReinos e Domnios, dos Estudos [...] hei, por extintas todas as classes e escolas, como se nuncahouvessem existido nos meus Reinos e Domnios [...] , citado em [Jos Eduardo Franco 2006, v.1p.453]. Os jesutas do Brasil embarcam para Lisboa em 19 de Abril de 1760.

    7Segundo Antnio Jos Teixeira, Monteiro da Rocha ter ocupado um lugar inferior na hierarquiada Companhia de Jesus [A. Teixeira 1889-90, p.67].

    8O P. Jos Monteiro, professor pblico de Gramtica Latina e Retrica na mesma Cidade daBaa , assim assina Jos Monteiro da Rocha o seu manuscrito Sistema fsico-matemtico dos Cometas[Monteiro da Rocha 2000, p.21]. As aulas rgias de Latim, Grego, Filosoa e Retrica foram criadaspara suprir as disciplinas antes oferecidas nos extintos colgios jesutas, veja-se [Rmulo de Carvalho2001].

    9A data exacta do seu regresso (at hoje desconhecida) deu-se no ano de 1766: ano de 66 emque voltei para este Reino [ANB Cdice 807 NP, v.23 .60] (veja-se tambm o nosso captulo daslongitudes).10O seu nome consta tanto no Livro de Provas de 1768: P. Jos Monteiro da Rocha, lho de Joo

    Teixeira de Canavezes, compatriota da Baa, provou cursar 1o de Maro de 1767 at m de Maio1768, 5 de Cannes [?] Valrio de Sousa, Toms Silva, Jos Xavier da Silva bedel eu escrevi [AUCIV-1oD-II-I-37, .62v]; como nos respectivos livros de matrculas [AUC Livro de Matrculas (1767-1768) Seco de Cnones, .112v]; [AUC Livro de Matrculas (1768-1769) Seco de Cnones, .144v];[AUC Livro de Matrculas (1767-1768), Seco de Cnones, .135]. No est correcta a armao em[Eugnio dos Santos 2010] que Monteiro da Rocha tenha regressado do Brasil em 1763 e estudado nosOratorianos do Porto.11Pelo menos desde 1765 Joo Pereira Ramos de Azeredo Coutinho (1722-1799), um dos membros

    da Junta de Providncia Literria, trabalhava, incumbido pelo Marqus de Pombal, na preparaoda reforma das faculdades de Direito Civil e Cannico [Telo Braga 1898-1902, v.3 pp.390-391] eajuntando e compondo o que fosse preciso para a Reforma da Universidade, arma Cenculo [J.Gomes 1982, p.537].

  • 16 2. Jos Monteiro da Rocha (1734-1819): vida e obra

    sua amizade com Francisco de Lemos, reitor da Universidade de Coimbra (1770) e

    um dos 7 membros da referida Junta. Em 16 de Agosto de 1771 Monteiro da Rocha

    viaja para Lisboa para iniciar essa colaborao Faz hoje trinta anos que daqui parti

    para Lisboa por insinuao de V. Exa.; poca que nunca deixar de ser presente vi-

    vamente na minha lembrana [carta de Monteiro da Rocha para Francisco de Lemos,

    16-81801]. [Antnio Jos Teixeira 1888-90, v.XXXVII p.54]12. Os Novos Estatu-

    tos da Universidade de Coimbra seriam aprovados e postos em vigor pela Carta de

    Roborao de 28 Agosto de 1772 dos Estatutos Novos da Universidade de Coimbra.

    Aquando do comeo das aulas Monteiro da Rocha incorporado como lente da cadeira

    de Foronomia (fsica-matemtica) da Faculdade de Matemtica13 e ser-lhe- a ele que

    caber a honra de ler a lio inaugural da nova Faculdade de Matemtica14.12H alguns documentos coevos que reforam a participao activa de Monteiro da Rocha na

    redaco dos Estatutos. Cenculo no seu Dirio, escreve: Na Conferncia de quarta-feira, 22 deJulho [1772], se acabou de ler o quinto ano do Curso Cannico; e a este tempo j est na impressoo que pertence Medicina, Matemtica e Fsica; e foi obra do mdico Sachetti, conferida com Ciera,Franzini, Daly, professor de grego, que bom matemtico, e Monteiro da Rocha, que foi Jesuta: ej o tem preparado no conceito do Marqus para ser despachado, carta de Cenculo de 22-Jul-1772em [Telo Braga 1898-1902, v.3 p.414]; em 1795 (19-Fev.) Monteiro da Rocha em carta para GaroStockler diz: eu no plano das Sciencias Naturais da Universidade tinha unido as 3 Faculdades emuma Academia [...] [ACL Processo Acadmico de Monteiro da Rocha]; em 1800 (12-Ago.) Monteiroda Rocha em carta para Francisco de Lemos, escreve: vendo eu que a Sanches [devia estar escritoSachetti] se dera uma tena de 300$000 reis pelos apontamentos que fez para o estatuto mdico, eque no serviram de nada, resolvi-me a pedir um hbito com a tena que S. Majestade julgasse pro-porcionada ao servio do Estatuto das trs Faculdades das Cincias naturais. [...] e privou-me deuma tena competente quele servio nico e singular, que ento s eu podia fazer [. . . ] e privou-medo interesse que em 22 anos [1778 ano em que foi dada a tena a Sachetti] me viria de uma tenacompetente quele servio nico, e singular, que ento s eu podia desempenhar [A. Teixeira 1888-90,p.513 (e tambm repetida em [Telo Braga 1898-1902, v.4]). No seu obiturio publicado pela Gazetade Lisboa (7-Fev.-1820) essa participao armada: notrio, que no tempo, e por Ordem doSenhor Rei D. Jos, de gloriosa memria, lhe foi incumbida a Parte dos Estatutos respectiva as trsFaculdades, Medicina, Matemtica, e Filosoa, para a Universidade Reformada: o que desempenhoucom tanta sabedoria, e exaco, e mereceu logo a Real Aprovao do mesmo Soberano; mais tarde(11-Mar.-1825) Francisco Manuel dArago Morato (no parecer que d dos manuscritos de Monteiroda Rocha) escreve: uma das coisas em que muitas vezes me falou o Sr. Jos Monteiro, foi nos planosque zera no tempo de Sr. Rei D. Jos, ou no propriamente seguinte para completar os Estatutos daUniversidade. Deviam-se estes planos ao projecto dos Estatutos Econmicos, ao estabelecimento deuma Faculdade de Filosoa, reforma das Aulas do R. Colgio das Artes, e aos Estatutos de um Col-gio de Nobres, que ali se queira fundar. Dizia o Sr. Jos Monteiro que no tinha completado algunsdestes Planos, e que outros os tinha remetidos para a Secretaria de Estado, conservando apenas emsua posse apontamentos mais ou menos extensos [ACL Processo Acadmico de Monteiro da Rocha,p.14].13Decreto de 11 de Setembro de 1772 Atendendo s Letras de Miguel Franzini: Jos Monteiro da

    Rocha: E Miguel Antonio Ciera: Hei por bem nomear ao Primeiro para Lente da Cadeira de lgebra:ao Segundo para Lente da Cadeira das Cincias Fsico-Matemticas: E ao Terceiro para Lente daCadeira de Astronomia, que mandei novamente criar na Universidade de Coimbra . Pela portariade 7 de Outubro de 1772 Monteiro da Rocha recebe o grau de Doutor: [...] Hei por servio de SuaMagestade, que no dia Nove do Corrente Ms das nove horas da manh em diante, [...] Os lentesMiguel Franzini, Miguel Ciera, e Jos Monteiro da Rocha recebam o mesmo Grau, e se incorporem naFaculdade da Matemtica [DRP 1937-1979, v.1 p.22].14No dia 9 de Outubro (uma sexta-feira) os lentes de Matemtica e Filosoa juraram e foram

    doutorados, sem que pagassem por estes graus , e no dia seguinte tarde foram proferidas as oraes

  • 2. Jos Monteiro da Rocha (1734-1819): vida e obra 17

    No que concerne sua actividade lectiva, foi primeiro professor da cadeira de

    Foronomia (1772-1783) e mais tarde professor da cadeira de Astronomia (1783-1804)

    (C.R. de 4-6-1783 [DRP 1937-1979, v.2 pp.13-14]). Foi ainda Director e Decano da

    Faculdade de Matemtica e Director Perptuo do OAUC (nomeado por C.R. de 4-4-

    1795 [ACFM 1982-83, v.1 p.133], esta mesma Carta Rgia tambm o jubila na cadeira

    de Astronomia) e a ele se deve o projecto (5-2-1791), construo, regulamentao e

    apetrechamento instrumental do OAUC, inaugurado em 1799 (C.R. de 4-12-1799).

    O papel de Monteiro da Rocha na vida administrativa da Faculdade e da Univer-

    sidade foi desde os primeiros tempos relevante, como recompensa pelos seus prstimos

    iria receber, logo em 1774, a nomeao para uma cadeira Magistral da S de Leiria

    (Decreto de 18-2-1774 [DRP 1937-1979, v.1 p.134]), Antnio Jos Teixeira diz que por

    esta ocasio o Marqus o ter presenteado com uma medalha de ouro e um anel de

    brilhantes [A. Teixeira 1889-90, pp.70-71])15, tendo sido tambm proposto para Prin-

    cipal do Real Colgio dos Nobres das trs Provncias do Norte, por um perodo de trs

    anos [DRP 1937-1979, v.1 p.238]. No campo administrativo a sua aco foi variada e

    marcante, principalmente no trabalho que desempenhou como Vice-Reitor, cargo para

    o qual foi nomeado por Aviso Rgio de 6 de Agosto de 1786 e que ocuparia at 23 de

    Maio de 180416,

    Como vice-reitor do estabelecimento cientco, soubera acudir tanto quanto

    possvel pela disciplina acadmica, pugnar pelos melhoramentos morais e

    materiais, compor diculdades levantadas pelos professores, e castigar desvar-

    ios de rapazes e prevaricaes de empregados. (. . . ) Publicou o notvel

    edital, com que se abriu a biblioteca ao uso dos estudantes de todas as Fac-

    uldades (. . . ) Era pela ideia de engrandecer a Universidade e conserva-la

    na altura dos progressos e novos descobrimentos. [A. Teixeira 1889-90, p.

    88].

    de inaugurao das respectivas faculdades [BNP Ms. 691 PBA]. Infelizmente, apesar de todos os nossosesforos, no nos foi possvel encontrar nos vrios arquivos nenhum manuscrito sobre essa orao deabertura proferida por Monteiro da Rocha, apesar de nos seus manuscritos que foram entregues ACL ser referenciado um conjunto de Oraes latinas repetidas na Sala dos Actos da Universidade[ACL Processo Acadmico de Monteiro da Rocha], onde provavelmente estaria uma cpia do discursode 10 de Outubro de 1772.15A 22 de Abril de 1774 instituda pela Santa S a Bula Scientiarum Omnium que estabelece

    duas conezias para os lentes eclesisticos e outras duas comendas da Ordem de Cristo para os secularesda Faculdade de Matemtica.16O seu ltimo acto acadmico como vice-reitor foi ter presidido Congregao da Faculdade de

    Medicina de 15 de Maro de 1804 [JC 1815, v.8 n.XXXVIII p.72].

  • 18 2. Jos Monteiro da Rocha (1734-1819): vida e obra

    Em 16 de Janeiro de 1780 eleito membro da Academia das Cincias de Lisboa,

    ocupando o cargo de Director da Classe das Cincias Exactas17. Em 1798 foi eleito

    membro da Sociedade Real Martima, Militar e Geogrca18 e em 1799 Jos Monteiro

    da Rocha foi eleito vogal da Junta de Directoria Geral de Estudos e Escolas do Reino.

    Este organismo, criado com a incumbncia de scalizar a instruo pblica, vem sub-

    stituir o extinto Tribunal da Real Mesa da Comisso Geral sobre os Exames e Censura

    dos Livros (que havia sido criado pelo Alvar de 10-7-1771) e que tinha tido at ento

    a responsabilidade da Administrao e Direco dos Estudos das Escolas Menores do

    Reino e seus Domnios, incluindo a Administrao e Direco no Colgio dos Nobres

    e todos os Colgios e Magistrios que for servido mandar erigir para os Estudos das

    Primeiras Idades. Em 17 de Janeiro de 1791 quando a Rainha aboliu este organismo

    cou entregue Universidade de Coimbra a direco das Escolas Menores do Reino.

    A Junta de Directoria Geral de Estudos seria criada por C.R. de 17-12-1794, mas s em

    15 de Outubro de 1799 que entra efectivamente em funes quando por outra Carta

    Rgia aprovada a lista dos membros, cando o Reitor da Universidade seu presidente,

    ou seja cando assim a Junta sob alada da prpria Universidade. Monteiro da Rocha

    incumbido pelo Aviso Rgio de 15-5-1800 de elaborar o seu regulamento e conseguiu

    nessa Junta a criao de muitas cadeiras de portugus, latim, grego, geometria, lgica

    e retrica, espalhadas pelas diferentes povoaes do pas [A. Teixeira 1889-90, p.89].

    Em 21 de Maro de 1800 Monteiro da Rocha torna-se Conselheiro do Prncipe

    Regente D. Joo19, no ano seguinte (2 de Junho de 1801) receber a Comenda da Or-17A ACL havia sido formalmente estabelecida por Aviso Rgio de 24 de Dezembro de 1779. Logo

    aps o seu estabelecimento Jos Monteiro da Rocha foi sondado por Vandelli sobre o seu interesseem se tornar scio Sendo o principal motivo a escolha de mais alguns scios. Entretanto V. S. podeaveriguar se o Dr. J. Monteiro, Antnio Pereira, e os nossos lsofos querero ser dos nossos, porqueem tendo esta certeza, que V. S. ter a bondade de me procurar com toda a brevidade, sero logoconvidados com formalidade [carta do Visconde de Barbacena para Vandelli (data desconhecida, masposterior a 24 de dezembro de 1779)] ; em 8 de Janeiro de 1780 o Visconde ainda espera respostade Vandelli Eu estou esperando a resposta de V. S. a respeito do Dr. Monteiro, e dos mais, emque lhe mandei falar, e seria bom, que perguntasse ao mesmo Monteiro por alguma pessoa mais queele por c conhecesse, forte em Matemtica, e pelo Tesoureiro do Terreiro chamado Luis Jos ,nesse mesmo dia Correia da Serra escreve uma carta a Vandeli reforando o interesse em que contacteMonteiro da Rocha Peo-lhe queira falar ao Sr. P. Monteiro e dizer-lhe que todos lhe pedimosqueira ser o nosso Corifeu nas Matemticas, e dar-nos por agora as suas direces para os prmiosde este ano, e os dois seguintes porque daqui a pouco se querem publicar. Tudo esperamos conadosno seu patriotismo que todos dizem ser igual sua cincia. [Cristvo Aires 1927]. A ACL teve asua primeira sesso privada em 16 de Janeiro de 1780 e nela foram eleitos os 10 membros efectivosque faltavam (segundo os seus estatutos: 24 scios, 8 por classe), um deles foi Monteiro da Rocha.Abertura solene da ACL deu-se no dia 4 Julho de 1780. O primeiro Director da Classe das CinciasExactas foi Lus Antnio Furtado de Castro do Rio de Mendona e Faro, 6.o visconde e 1.o conde deBarbacena, (1754-1830), que ocupou o lugar de 1780 a 1788.18Este organismo foi criado por Alvar Rgio em 30 de Julho de 1798. Sobre a contribuio de

    Monteiro da Rocha para a actividade cientca desta Sociedade, veja-se 14.4.19tendo em considerao a distinta literatura do Lente Jubilado e Decano da Faculdade de

    Matemtica, [...] ao zelo e prstimo com que tem regido as diferentes cadeiras da sua Faculdade

  • 2. Jos Monteiro da Rocha (1734-1819): vida e obra 19

    dem de Cristo da S de Portalegre como reconhecimento dos seus servios20. Monteiro

    da Rocha ir abandonar a vida activa universitria em 1804 devido nomeao para

    preceptor do prncipe herdeiro, futuro rei D. Pedro IV, e de seus irmos21, passando a

    residir em Lisboa22.

    desde a Reforma da Universidade e tendo em lembrana os seus bons servios [...] farei um dos meusConselheiros [ANTT Registo Geral Mercs D. Maria I, liv.30 .291].20Na Acta da Congregao de 7-7-1801 foi lida a Carta Rgia que concedia a Monteiro da Rocha

    a referida Comenda [ACFM 1983, v.2 pp.51-52]. Ao que tendo considerao, e havendo respeitoao conhecido merecimento; teis, e distintos servios que tem feito na Universidade, e aos grandesprogressos, a que tem conduzido os Estudos, ao magistrio da dita Faculdade o mesmo Doutor JosMonteiro da Rocha: Hei por bem fazer-lhe merc da sobredita Comenda vaga de Portalegre [...], Palciode Queluz, em dois de Junho de mil, e oitocentos e um Prncipe [JC 1819, n.LXXVI-parte II pp.187-188]. No ano seguinte, em Maro, Monteiro da Rocha veste o hbito da Ordem de Cristo: Em 2de Maro de 1802 por decreto de 20 de Outubro e 24 de Dezembro de 1801 e Portaria do Ministrioe Sevios de Estado, de 31 de Agosto do mesmo ano, D. Joo VI, Prncipe Regente de Portugal, fazsaber ao Reitor do Colgio de Tomar da Ordem de Cristo (exta muros da cidade de Coimbra) que oDoutor Jos Monteiro da Rocha [...] desejava e tinha devoo de servir [...] e receber o hbito da ditaOrdem [...] na Igreja desse Colgio [ANTT Registo das Mercs de D. Joo VI, liv.2 .100v].21Nomeado por Carta Rgia de 18 de Agosto de 1804. Porm data de 20 de Maio de 1804 o

    conhecimento de Monteiro da Rocha sobre to esperada nomeao, O Prncipe Regente Nosso Senhortendo nomeado a V. S. pelas suas [??] e virtudes para mestre do Serenssimo Senhor Prncipe da Beira,e dos Serenssimos Senhores Infantes Seus Irmos, me ordena que particpe a V. S. esta honra quelhe faz, para que se dirija com a brevidade possvel Real Presena do nosso Senhor a beijar a SuaReal Mo, e principiar a exercitar a Seu ministrio: e pelo que pertencer ao seu arranjamento nestaCorte, V. S. se entender comigo, que me acho autorizado por S. A. R. para esse efeito. Deus Guardea V. S. // Palcio de Queluz em 20 de Maio de 1804 // Conde de Vila Verde. [BPA 54-XI-20(95)]. A inteno de D. Joo de o nomear tutor dos seus lhos datava pelo menos j do ano de1801, como se depreende de uma carta de Monteiro da Rocha para Francisco de Lemos Eu copasmado da concorrncia de circunstncias singulares com que a Providncia trouxe a caminho estenegcio quando menos esperava. Elas me fazem agora crer o que nunca dantes acreditei, e agoraentro mais seriamente na considerao de grande e arriscada obrigao desse emprego, consideraoque certamente viria a alterar a tranquilidade do meu esprito se no fosse acompanhada de outraque me anima a conana, esperando que como Deus foi servido dispor todas essas extraordinriascircunstncias para a execuo de tal destino, assim me h-de dar foras para o desempenhar [TeloBraga 1898-1902, v4 pp.250-251] , em 6 de Novembro de 1802 Monteiro da Rocha volta a escrevera Francisco de Lemos mostrando-se expectante sobre a nomeao Suposto o negcio e destino emque tantas vezes se tem falado, aqui e l se diria que eu e V. Ex.a nos aproveitvamos dessa ocasio[ida de Monteiro da Rocha a Lisboa] com o m de me insinuar e introduzir pessoalmente para o ditodestino. E se Sua Alteza suspeitasse o mesmo, ou lho zesse suspeitar (porque para isso nunca faltamterceiros), certamente o negcio se poria em pior estado [...] Deixando pois Sua Alteza deliberar porsi e conforme for guiado pela Providncia, sem directa nem indirectamente procurar inuir na suadeciso e escolha [...] [Telo Braga 1898-1902, v4 p.266].22Monteiro da Rocha havia manifestado a Francisco de Lemos a sua inteno, caso fosse nomeado,

    de no viver na Corte e apenas a se deslocar para as lies, Mas em tal caso sempre h-de sercom a condio de ter casa fora, e de ir somente cumprir a obrigao s horas e pelo tempo que seordenar [carta de 6-11-1802] ; mais tarde justica-se, na idade em que estou, a mudana de teatro,a sujeio de etiquetas, a inevitvel alterao de dieta, e de tudo o mais, no pode deixar de me causargravssimo dano [e sentir-se-ia] aturdido e desorientado com a utuao da Corte, a que havia de serdicultoso costumar-me [carta de 25-12-1802] [Telo Braga 1898-1902, v.4 pp.266-267]. Adquirindoassim a Quinta de Piedade, em So Jos de Ribamar (Algs).

  • 20 2. Jos Monteiro da Rocha (1734-1819): vida e obra

    Monteiro da Rocha morre em 11 de Dezembro de 181923. No dia 7 de Janeiro de

    1820 a Gazeta de Lisboa noticiava assim a sua morte:

    O Doutor Jos Monteiro da Rocha, Mestre de SS. AA. o Prncipe

    Real, e os Serenssimos Infantes, do Conselho de Sua Magestade, Com-

    mendador da Ordem de Christo, Vice-Reitor da Universidade de Coimbra,

    Lente de Prima Jubilado na Faculdade de Mathematica, do Conselho dos

    Decanos, Director Perptuo do Observatrio Astronmico da mesma Uni-

    versidade, Primeiro Deputado da Real Junta da Directoria Geral dos Estu-

    dos, e Escolas do Reino, Scio da Academia Real das Cincias, de Lisboa,

    e da da Marinha, Cnego Magistral da S de Leiria, Director dos Estudos

    da Provncia de Santa Maria da Arrbida, etc. etc., faleceu na sua quinta

    de S. Jos de Ribamar, subrbios de Lisboa, no dia 11 de Dezembro de

    1819 [...]. A exaco, com que o Doutor Jos Monteiro da Rocha cumpriu

    os seus deveres, a moderao verdadeiramente exemplar de que deu provas

    quando ao lado do Soberano, e elevado a grande honra de Mestre de Seus

    Augustos Filhos, o zelo, e amor, com que olhou para o ensino pblico da

    Universidade, e para o da mocidade de toda a Nao, de cuja inuncia

    na pblica felicidade estava bem persuadido, tornaram para sempre a sua

    memria digna de respeito, e de saudade; e a to insigne Varo o mod-

    elo perfeito de um Sbio zeloso do bem do Soberano, e da Nao. [M.

    Almeida 1966]24

    23Aos 11 dias do ms de Dezembro de 1819 faleceu com todos os sacramentos dos enfermos oIlustrssimo Conselheiro Jos Monteiro da Rocha, morador na sua quinta junto ao Convento de S.Jos de Ribamar, aonde foi sepultado por disposio do testamento com que faleceu de que z esteassento [Registos paroquiais, Lisboa, Oeiras, Carnaxide, Livro de bitos no7, cx.12, .71v)] [ValterRoque 2003, p.146].24Na sesso pblica da ACL de 24 de Junho de 1820 o Secretrio de ento, Sebastio Francisco de

    Mendo Trigozo, no seu Discurso Histrico lamentava assim a morte de Monteiro da Rocha: [...] resta-me to somente cumprir com o triste e penoso dever de nomear os cooperadores, e companheiros quetemos perdido durando o mesmo perodo, [...] Faleceu tambm hum Scio efectivo da Academia, que ofora desde o seu princpio, e que muito concorreu para o estabelecimento e progressos desta Sociedade,quero dizer o Sr. Jos Monteiro da Rocha, sbio cuja perda as Cincias Matemticas tero longotempo que lamentar, a quem principalmente foi devido o esplendor delas na Universidade de Coimbra,e cujo nome era pronunciado com respeito, no s no nosso Pas, mas mesmo nos Estrangeiros.[MACL 1821, t.VII p.xxvi]. Na Gazeta de Lisboa saiem uma srie de anncios da venda da Quinta deRibamar: Lisboa 25 de Fevereiro: No dia 26 do corrente ms pelas duas horas da tarde nas casasque foram da residncia do falecido Conselheiro Doutor Jos Monteiro da Rocha, junto a S. Jos deRibamar, se h-de vender em moeda uma parelha de machos, uma traquitana, e sege que caram dodito falecido. ; Lisboa 8 de Junho: Vende-se a quinta do falecido Conselheiro Jos Monteiro daRocha, sita a S. Jos de Ribamar: na dita quinta h quem a mostre todos os dias a quem a quisercomprar. ; Lisboa 17 de Agosto: Jos Forte Saraiva, Testamenteiro do falecido Conselheiro JosMonteiro da Rocha, de acordo com os Herdeiros do dito falecido, vai a fazer leilo da quinta e mveisque caram por morte do dito falecido, na tarde do dia 22 do presente ms de Agosto na mesma quintajunto a S. Jos de Ribamar, na presena do Ministro. [GL 1820].

  • 2. Jos Monteiro da Rocha (1734-1819): vida e obra 21

    O seu esplio cientco, manuscrito e demais trabalhos, foram entregues em 1825

    Academia Real das Cincias de Lisboa. A sua biblioteca deixada em testamento

    ao prncipe D. Pedro e integra hoje o acervo da biblioteca do Palcio da Ajuda25.

    2.2 A actividade cientca de Jos Monteiro da Rocha

    A obra cientca de Monteiro da Rocha relativamente vasta, compreendendo tradues

    de livros de texto franceses, trabalhos de matemtica aplicada e trabalhos de astrono-

    mia terica e prtica. Alguns desses trabalhos encontram-se publicados, tanto nas

    Memrias da ACL (MACL) como nas Ephemrides Astronmicas do Observatrio

    Astronmico da Universidade de Coimbra (EAOAUC) (e numa ou noutra publicao

    de que falaremos oportunamente), outros h que apenas se lhes conhecem verses man-

    uscritas. Antes de elencarmos a totalidade do seu trabalho, impresso e manuscrito,

    conveniente tecer algumas consideraes acerca dos seus manuscritos26.

    Sabemos o destino que Monteiro da Rocha quis dar aos livros que constituam a

    sua biblioteca pessoal. J o mesmo no se pode dizer em relao aos seus manuscritos

    e demais papeis. ideia corrente que Monteiro da Rocha os doou Academia das

    Cincias [Inocncio da Silva 1858-1923, v.5 p.76], contudo no encontrmos documento

    algum que o suporte. Sabemos, isso sim, que Jos Fortes Saraiva, seu testamenteiro,

    os fez chegar Secretaria de Estado dos Negcios do Reino que por sua vez os entrega

    em 1825 ACL [Cristovo Aires 1927, p.476]27. No dia 1 de Maro de 1825 aberto

    o caixote que transportou esses manuscritos at ACL,

    No dia um de Maro de 1825, estando presentes nesta secretaria da Acad-25Na Biblioteca da Ajuda existe um Catlogo Alfabtico [. . . ] da Biblioteca de Jos Monteiro da

    Rocha [BA: 52-XIV-35, no 42]. Este catlogo foi elaborado aquando do recebimento da referidabiblioteca na Casa Real do Pao da Ajuda. O testamento de Jos Monteiro da Rocha encontra-se noArquivo da Universidade de Coimbra [AUC cx.265, Processo do Professor Jos Monteiro da Rocha].26O primeiro inventrio dos trabalhos cientcos de Jos Monteiro da Rocha deve-se a Valter Roque

    [Valter Roque 2003, pp.34-69]. Este inventrio tem algumas lacunas pois no refere, por desconhec-imento do autor uma srie manuscritos, uns hoje perdidos certo, mas outros no e perfeitamentelocalizados.27No ANTT existe uma carta de Dantas Pereira (datada de 1825) dirigida ao Ministro do Reino:

    Ilustrssimo Senhor Gaspar Feliciano de Morais tendo recebido agora um aviso datado de 11, em quese manda formar um catlogo dos manuscritos de Jos Monteiro da Rocha, oferecidos por Jos FortesSaraiva, para se informar sobre o merecimento deles e o destino que mais convinha dar-lhes; recorriaos documentos inclusos para saber o lugar onde param aqueles manuscritos a m de se executar oreferido catlogo e se proceder ao exame respectivo: nada porm me indica o dito lugar, e portanto peoa V. Senhoria que queira noticiar-mo; e se os manuscritos existem na Secretaria de Estado remet-los a esta Academia, na qual sero mais prontamente relacionados e revistos. Aproveito com toda asatisfao a reiterar perante V. os votos da distinta considerao com que subscrevo [...], Jos MariaDantas Pereira. [ANTT Ministrio do Reino M.353]. Nessa carta pode ainda ler-se, margem docorpo de texto: PA a Jos Fortes Saraiva em 9 de Fevereiro de 1825 ; Remeteu-se um caixotecom os manuscritos que ofereceu Jos Fortes Saraiva Academia Real das Cincias em 18 de Fevereirode 1825 ; Secretaria da Academia 20 de Janeiro de 1825 .

  • 22 2. Jos Monteiro da Rocha (1734-1819): vida e obra

    emia Real das Sciencias os scios ao diante assinados, se reconheceu es-

    tando perfeitamente fechado um caixote remetido da Secretaria de Estado

    dos Negcios do Reino e procedendo-se a abrir o mesmo caixote se en-

    contraro dentro os seguintes documentos [so elencados e enumerados os

    manuscritos, do no1 ao no 48]. E no se continha mais nada no dito

    caixote, o que conrmamos com a nossa assinatura. Secretaria da Acad-

    emia Real das Sciencias em 1 de Maro de 1825. [ACL Ms. Azul 794]

    criada desde logo uma Comisso Acadmica para a anlise e estudo do esplio

    (em anos subsequentes outras sero entretanto tambm criadas). Esse acervo docu-

    mental seria numerado (um total de 48 manuscritos) e separado em dois conjuntos,

    um com os manuscritos cientcos (nos 15-43) e outro com os manuscritos literrios

    (nos 1-14 e 44-48)28. Os manuscritos cientcos so reunidos em 7 maos com a

    numerao romana , sendo elaborado um pequeno parecer de 3 pginas29.

    Hoje, infelizmente, na ACL grande parte destes manuscritos no se conseguem lo-

    calizar podero estar perdidos! No que diz respeito a outros arquivos (tanto nacionais

    como estrangeiros) apesar dos nossos esforos s encontrmos um pequeno conjunto

    de manuscritos, relacionados com a polmicacom Jos Anastcio da Cunha, na Bib-

    lioteca Nacional do Rio de Janeiro [BNRJ 19.01.026]30. Apresenta-se de seguida a

    lista completa dos trabalhos cientcos impressos e manuscritos de Jos Monteiro da

    28Os manuscritos cientcos seriam analisados pela Comisso constituda por Mateus Valente doCouto, Manuel Pedro de Melo e Rodrigo Ferreira da Costa (o relatrio enviado a Jos Maria DantasPereira em 5 de Abril de 1825). Os manuscritos no cientcos foram analisados por Manuel Trigosode Arago Morato (relatrio enviado a Jos Maria Dantas Pereira em 11 de Maro de 1825) e porRicardo Raimundo Nogueira (relatrio de 18 de Abril de 1825). Em anexo apresentamos a lista desses48 manuscritos.29No Mao I foram reunidos os manuscritos nos 16, 17 e 35 correspondentes aos tratados de Ar-

    itmtica, lgebra, Calculo Diferencial e Integral. No Mao II foram reunidos os manuscritos nos 18e 19, que versam a trigonometria esfrica e plana, respectivamente. No Mao III os manuscritos nos42 e 43: Cinco caderninhos em 8o relativos a vrios problemas matemticos, alis seis , e ummao de folhas volantes contendo vrios acentos e vrios escritos , vrios papeis avulsos com diver-sos problemas e teoremas miscelneos e papeis avulsos de censuras de algumas Memrias (massem ordem alguma); ndices de citaes de obras de vrios autores; esclarecimentos de algumas pas-sagens de compndios e de algumas questes matemticas; cartas (em francs) sobre vrios pontos queforam tratados pelo Sr. Monteiro; construes grcas de elipses e vrios problemas curiosos; teses dematemtica; e observaes astronmicas . O Mao IV continha os nos 24, 26, 29 e 40, relacionadoscom os trabalhos sobre os eclipses. No Mao V foram agrupados os manuscritos nos. 20, 22, 23, 25, 27,28, 30, 31, 32, 33, 34, 37, 38, 39 e 41, que pareceram Comisso j estar impressos nas Efemridesde Coimbra, e nas Memrias da Academia Real das Cincias de Lisboa . No Mao VI, os nos 21 e 36,manuscritos relacionados com