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JAY CROWNOVER TRADUÇÃO Carolina Caires Coelho

tr a d ução Carolina Caires Coelhovreditoras.com.br/wp-content/uploads/2017/05/Trecho-do-livro-Amor... · Crownover, Jay Amor aprisionado / Jay Crownover; tradução Carolina Caires

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  • J A Y C R O W N O V E R

    t r a d u ç ã o

    C a r o l i n a C a i r e s C o e l h o

    AmorAprisionado#MIOLO.indd 2-3 4/25/17 10:53

  • título original Leveled: A Saints of Denver Novella© 2016 by Jennifer M. Voorhees© 2017 Vergara & Riba Editoras S.A.

    edição Paolla Oliver editora-assistente Sandra Rosa Tenóriopreparação Luciana Soaresrevisão Juliana Bormio de Sousadireção de arte Ana Soltcapa e projeto gráfico Pamella Destefiimagem de capa Stefano Cavoretto / shutterstock.com

    Todos os direitos desta edição reservados à VERGARA & RIBA EDITORAS S.A.Rua Cel. Lisboa, 989 | Vila MarianaCEP 04020-041 | São Paulo | SPTel.| Fax: (+55 11) 4612-2866vreditoras.com.br | [email protected]

    Este livro é dedicado ao amor... independentemente de sua aparência ou posição,

    ou da forma, como ele chega a você com toda a sua beleza, complexidade e desafios.Todo mundo merece amar e ser amado.

    Este livro é dedicado também a um ruivo adorável, que eu considero um sujeito muito doce e

    especial... estou falando de você, Matt Dellisola. Obrigada por ser meu fã homem número 1... e meu amigo.

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Crownover, JayAmor aprisionado / Jay Crownover; tradução Carolina Caires Coelho. ‒ São Paulo: Vergara & Riba Editoras, 2017. ‒ (Série Saints of Denver)

    Título original: Leveled.ISBN: 978-85-507-0095-3

    1. Ficção erótica 4. Ficção norte-americana. 5. Homens gays ‒ Ficção I. Título II. Série.

    17-03174 CDD-813

    Índices para catálogo sistemático:1. Ficção: Literatura norte-americana 813

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  • título original Leveled: A Saints of Denver Novella© 2016 by Jennifer M. Voorhees© 2017 Vergara & Riba Editoras S.A.

    edição Paolla Oliver editora-assistente Sandra Rosa Tenóriopreparação Luciana Soaresrevisão Juliana Bormio de Sousadireção de arte Ana Soltcapa e projeto gráfico Pamella Destefiimagem de capa Stefano Cavoretto / shutterstock.com

    Todos os direitos desta edição reservados à VERGARA & RIBA EDITORAS S.A.Rua Cel. Lisboa, 989 | Vila MarianaCEP 04020-041 | São Paulo | SPTel.| Fax: (+55 11) 4612-2866vreditoras.com.br | [email protected]

    Este livro é dedicado ao amor... independentemente de sua aparência ou posição,

    ou da forma, como ele chega a você com toda a sua beleza, complexidade e desafios.Todo mundo merece amar e ser amado.

    Este livro é dedicado também a um ruivo adorável, que eu considero um sujeito muito doce e

    especial... estou falando de você, Matt Dellisola. Obrigada por ser meu fã homem número 1... e meu amigo.

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Crownover, JayAmor aprisionado / Jay Crownover; tradução Carolina Caires Coelho. ‒ São Paulo: Vergara & Riba Editoras, 2017. ‒ (Série Saints of Denver)

    Título original: Leveled.ISBN: 978-85-507-0095-3

    1. Ficção erótica 4. Ficção norte-americana. 5. Homens gays ‒ Ficção I. Título II. Série.

    17-03174 CDD-813

    Índices para catálogo sistemático:1. Ficção: Literatura norte-americana 813

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  • seguir em frente e encontrar o amor. Fiquei feliz em dar essa histó-ria a ele. Além disso, alguns rostos familiares aparecem neste livro, com o qual, apesar de não ter exatamente meu estilo habitual de escrever, acredito que todos os fãs da série original ficarão bem felizes, e desejo que os leitores que começarem a ler meus livros a partir deste gostem também.

    Espero que vocês curtam ver os rapazes vivendo seus amores e seus medos; e, se por acaso quiserem saber a história deste livro e de praticamente toda a série Saints of Denver, ela acontece no período entre o fim de Riscos da paixão e o epílogo..., passando pe-los seis meses que levam ao casamento... bem, vocês terão de ler a série Homens Marcados para saber de que casamento eu estou falando.J

    Mas, antes de vocês mergulharem neste livro, preciso avisar que tomei certa liberdade ao relatar alguns procedimentos da polícia e uma reintegração depois de uma lesão, e que fiz isso pensando no enredo. Às vezes, a realidade torna a ficção entediante, e é preciso alterar um pouco os fatos para levar a história aonde ela precisa ir.

    Sinto muito respeito e admiração pelos homens e pelas mu-lheres que escolhem proteger e servir. É uma honra dar voz a eles e falar a seu respeito em meu trabalho.

    O sucesso não é definitivo, o fracasso não é decisivo: o que importa é a coragem de seguir em frente.

    — Winston Churchill

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  • I N T R O D U Ç Ã O

    Surpresa! É o livro de Lando... bem antes do planejado!É o seguinte... Eu precisava de uma ponte entre o velho e o novo. Terminei a série Homens Marcados e estou morrendo de orgulho de meus meninos, e de meus leitores, pelo modo como deixamos as coisas. E logo comecei a cuidar do Built, que é a história de Sayer e de Zeb e deveria ter sido o primeiro volume da série Saints of Denver. É um livro incrível. Também estou mais do que satisfeita com a forma como ele dá o pontapé inicial na nova série, mas eu precisava de um jeito de ligar as duas histórias, e aí entra Leveled.

    Lando e Dom são a mistura perfeita de velho e novo, o combo magistral do antes e do depois. Ao mudar a data da pu-blicação, pude fechar todas as portas que tinham ficado abertas e amarrar todas as pontas que ficaram soltas na série Homens Marcados. Achei melhor. Foi uma narrativa que fluiu, muito sen-sual e divertida de escrever. Esses meninos são demais... juntos ou separados... é sempre um prazer dar vida a eles.

    De todo o elenco original de Homens Marcados, ninguém mais do que Orlando merecia uma conclusão e a possibilidade de

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  • seguir em frente e encontrar o amor. Fiquei feliz em dar essa histó-ria a ele. Além disso, alguns rostos familiares aparecem neste livro, com o qual, apesar de não ter exatamente meu estilo habitual de escrever, acredito que todos os fãs da série original ficarão bem felizes, e desejo que os leitores que começarem a ler meus livros a partir deste gostem também.

    Espero que vocês curtam ver os rapazes vivendo seus amores e seus medos; e, se por acaso quiserem saber a história deste livro e de praticamente toda a série Saints of Denver, ela acontece no período entre o fim de Riscos da paixão e o epílogo..., passando pe-los seis meses que levam ao casamento... bem, vocês terão de ler a série Homens Marcados para saber de que casamento eu estou falando.J

    Mas, antes de vocês mergulharem neste livro, preciso avisar que tomei certa liberdade ao relatar alguns procedimentos da polícia e uma reintegração depois de uma lesão, e que fiz isso pensando no enredo. Às vezes, a realidade torna a ficção entediante, e é preciso alterar um pouco os fatos para levar a história aonde ela precisa ir.

    Sinto muito respeito e admiração pelos homens e pelas mu-lheres que escolhem proteger e servir. É uma honra dar voz a eles e falar a seu respeito em meu trabalho.

    O sucesso não é definitivo, o fracasso não é decisivo: o que importa é a coragem de seguir em frente.

    — Winston Churchill

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  • C A P Í T U L O 1

    DominicDerrotado.Derrubado.

    Perdido.Atropelado.Sem ar e sem rumo.Já me senti sem chão mais de uma vez nesses vinte e cinco

    anos de vida. A primeira foi quando o parceiro do meu pai apare-ceu na minha casa chorando sem parar. Meu pai tinha levado um tiro em uma blitz de rotina, e, em um piscar de olhos, passei de menino a homem da casa. Era meu dever cuidar da minha mãe e de duas irmãs mais novas, e foi o que fiz.

    A segunda foi quando minha melhor amiga quis aprender a beijar comigo perto de começarmos o ensino médio. Royal Hastings era tudo o que um adolescente poderia querer, linda, en-graçada e doce, com peitos enormes. Beijá-la deveria ter sido um prazer, não uma obrigação. Eu a adorava, então, quando nos beija-mos e eu não senti absolutamente nada, nadinha, me senti forçado a parar e pensar no porquê. Naquele verão, fui a um campo de

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    beisebol muito exclusivo e conheci um rapaz chamado Riley, que também queria me beijar, e aí ficou mais do que claro por que tocar a Royal não havia mexido comigo. Eu gostava de meninos, gostava muito, muito mais do que só como amigos. No começo, essa descoberta me assustou, me deixou confuso, e comecei a ne-gar a realidade, mas eu era muito próximo de todo mundo em casa e bastante grudado na Royal para guardar segredo por muito tempo. E, como sempre, acabei aceitando. Aceitei que, além de ser protetor da minha família e melhor amigo da Royal, eu era assim. Ser gay era apenas mais uma faceta do homem que eu me tornaria. Então isso se tornou secundário, já que o principal era terminar os estudos, deixar meu falecido pai orgulhoso e me tor-nar um policial como ele.

    Consegui conquistar todos os objetivos que estabeleci para mim. Eu era focado e aplicado e sempre me esforçava mais do que todo mundo, pois achava que, além de ter um legado a cumprir, tinha mais a provar. Quando tomei um tiro no trabalho e precisei me jogar de um prédio, me prejudicando muito fisicamente, é ób-vio, a incerteza em relação ao futuro quase me paralisou durante o período de recuperação. Acabei me tornando ressentido, encren-queiro, um pé no saco. Minha família se cansou de mim, e fiquei muito mal ao ver Royal, que tinha se tornado minha parceira na polícia e continuava sendo minha melhor amiga, mergulhar de ca-beça em um poço de culpa: ela achava que eu havia me machucado por um erro seu. Foi horrível. Fiquei física e mentalmente péssimo.

    Sempre achei que me recuperava depressa quando as coisas se alteravam e saíam do controle. Eu me reinventava e me adaptava

    às circunstâncias com determinação, facilidade e consciência. Só que, dessa vez, fiquei arrasado. Tudo estava fora do eixo, e eu não conse-guia encontrar um ponto de apoio, por mais que tentasse me manter firme e forte. Fiquei mais puto ainda ao perceber que minha confusão tinha pouco a ver com o fato de a perna quebrada recentemente ter me deixado manco e com meu futuro incerto na Polícia de Denver, e tudo a ver com o homem de cara séria sentado à minha frente.

    Demorei meses para conseguir uma consulta com ele, mesmo Royal tendo mexido uns pauzinhos, já que tinha amigos em comum com o sujeito. Tive que esperar vagar um horário em sua agenda lo-tada, porque ele é muito requisitado para tratar lesões complicadas. Ele era ótimo com fraturas e não aceitava qualquer paciente.

    Era muito solicitado mesmo. Parece que fazia milagres com suas mãos mágicas e seu toque perfeito. Ele era minha última es-perança de me recuperar fisicamente e me manter na polícia.

    Orlando Frederick, por acaso, também era um rapaz lindo e me deixava tenso ao me olhar fixamente com um par arrasador de olhos azuis-acinzentados. Ele me observava como se eu fosse um problema complexo de matemática a ser resolvido. Eu não gostava de ser dissecado e analisado. Estava acostumado a ter autoridade e a estar no comando. Por isso, ficar sentado ali, sem falar nada, enquanto minha última esperança de reaver minha vida decidia se ia ou não me ajudar, não foi divertido. Precisei me controlar ao máximo para não me inquietar e me contorcer de ansiedade sob seu olhar frio e inabalável.

    Decidi observá-lo de um jeito diferente do modo distante e calculista com que ele parecia me analisar. Ele era ruivo. Não ruivo

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    beisebol muito exclusivo e conheci um rapaz chamado Riley, que também queria me beijar, e aí ficou mais do que claro por que tocar a Royal não havia mexido comigo. Eu gostava de meninos, gostava muito, muito mais do que só como amigos. No começo, essa descoberta me assustou, me deixou confuso, e comecei a ne-gar a realidade, mas eu era muito próximo de todo mundo em casa e bastante grudado na Royal para guardar segredo por muito tempo. E, como sempre, acabei aceitando. Aceitei que, além de ser protetor da minha família e melhor amigo da Royal, eu era assim. Ser gay era apenas mais uma faceta do homem que eu me tornaria. Então isso se tornou secundário, já que o principal era terminar os estudos, deixar meu falecido pai orgulhoso e me tor-nar um policial como ele.

    Consegui conquistar todos os objetivos que estabeleci para mim. Eu era focado e aplicado e sempre me esforçava mais do que todo mundo, pois achava que, além de ter um legado a cumprir, tinha mais a provar. Quando tomei um tiro no trabalho e precisei me jogar de um prédio, me prejudicando muito fisicamente, é ób-vio, a incerteza em relação ao futuro quase me paralisou durante o período de recuperação. Acabei me tornando ressentido, encren-queiro, um pé no saco. Minha família se cansou de mim, e fiquei muito mal ao ver Royal, que tinha se tornado minha parceira na polícia e continuava sendo minha melhor amiga, mergulhar de ca-beça em um poço de culpa: ela achava que eu havia me machucado por um erro seu. Foi horrível. Fiquei física e mentalmente péssimo.

    Sempre achei que me recuperava depressa quando as coisas se alteravam e saíam do controle. Eu me reinventava e me adaptava

    às circunstâncias com determinação, facilidade e consciência. Só que, dessa vez, fiquei arrasado. Tudo estava fora do eixo, e eu não conse-guia encontrar um ponto de apoio, por mais que tentasse me manter firme e forte. Fiquei mais puto ainda ao perceber que minha confusão tinha pouco a ver com o fato de a perna quebrada recentemente ter me deixado manco e com meu futuro incerto na Polícia de Denver, e tudo a ver com o homem de cara séria sentado à minha frente.

    Demorei meses para conseguir uma consulta com ele, mesmo Royal tendo mexido uns pauzinhos, já que tinha amigos em comum com o sujeito. Tive que esperar vagar um horário em sua agenda lo-tada, porque ele é muito requisitado para tratar lesões complicadas. Ele era ótimo com fraturas e não aceitava qualquer paciente.

    Era muito solicitado mesmo. Parece que fazia milagres com suas mãos mágicas e seu toque perfeito. Ele era minha última es-perança de me recuperar fisicamente e me manter na polícia.

    Orlando Frederick, por acaso, também era um rapaz lindo e me deixava tenso ao me olhar fixamente com um par arrasador de olhos azuis-acinzentados. Ele me observava como se eu fosse um problema complexo de matemática a ser resolvido. Eu não gostava de ser dissecado e analisado. Estava acostumado a ter autoridade e a estar no comando. Por isso, ficar sentado ali, sem falar nada, enquanto minha última esperança de reaver minha vida decidia se ia ou não me ajudar, não foi divertido. Precisei me controlar ao máximo para não me inquietar e me contorcer de ansiedade sob seu olhar frio e inabalável.

    Decidi observá-lo de um jeito diferente do modo distante e calculista com que ele parecia me analisar. Ele era ruivo. Não ruivo

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    alaranjado, mas os cabelos castanhos eram avermelhados, e ele tinha um corte moderno, bem curto nas laterais e cheio em cima. Tinha uma pele mais clara do que eu normalmente achava atraente e sardinhas no nariz. Quem diria que sardinhas podiam ser tão sensuais? Sobrancelhas ruivas se arqueavam de modo ele-gante acima daqueles olhos da cor do rio que desce a montanha, e ele tinha tudo para parecer simpático e receptivo, mas o efeito era o contrário. Todos aqueles traços distintos e elegantes combi-nados faziam com que ele parecesse mais refinado e sofisticado do que os homens por quem eu costumava me interessar.

    Ele usava uma camisa polo com o logotipo da clínica estam-pado e, quando se levantou para apertar minha mão, percebi que ele era um pouco mais alto do que eu, porém mais esguio e lon-gilíneo. Estava em ótima forma física, também não poderia ser diferente considerando seu trabalho, e fez com que eu me sentisse pesado e desengonçado ao me levar à sua sala. Parecia ter nascido para ser veloz e ágil, e eu parecia ter nascido para sobreviver aos trancos e barrancos. Eu não era nada sofisticado, nem gostava de ser assim. Ficava um pouco mais fácil me misturar com os rapazes da polícia. Todos sabiam que eu era gay, mas eu me esforçava para não deixar que isso virasse assunto.

    Depois de algumas perguntas e respostas sobre o acidente, as lesões causadas e o tipo de tratamento que eu tinha feito até ali, ele ficou em silêncio, e passamos uns cinco minutos olhando um para a cara do outro. Comecei a pensar que ele ia dizer que não podia fazer nada. Os médicos diziam isso. Foi o que o terapeuta do hos-pital falou. Foi o que o cirurgião ortopedista concluiu após minha

    última cirurgia. Eu sempre mancaria, e meu ombro seria sempre duro, limitando e dificultando meus movimentos. Nenhuma des-sas coisas era aceitável para quem ganhava a vida correndo atrás de bandidos.

    Ele esticou o braço, fechou o arquivo na minha frente e se recostou na cadeira. Arqueou as sobrancelhas, trançou os dedos e levou o dedo indicador ao queixo.

    – O que procura, exatamente, Sr. Voss? – sua voz saiu calma e harmoniosa. Eu estava arrasado, nervoso e ansioso, e aquele cara agia como se estivéssemos falando sobre o clima, não sobre a mi-nha vida inteira e o quanto trabalhei duro até aqui.

    De modo desafiador, abri as pernas e me recostei na cadeira à frente dele, fazendo questão de simular uma postura bem casual, enquanto a dele era bastante profissional. Eu vestia uma camiseta desbotada da Polícia de Denver e uma calça jeans com um furo no joelho, e ambas estavam um pouco largas, já que eu tinha perdido massa muscular durante o tempo em que passei internado depois do acidente. Comparando, aquele sujeito era uma Ferrari verme-lha e reluzente, e eu era um Fusca velho e enferrujado.

    – Procuro retomar minha vida, Dr. Frederick. Quero conse-guir me locomover como antes. Quero passar no exame físico que irá me permitir voltar ao trabalho. Quero andar sem muleta nem bengala. Quero ser como era antes de me machucar

    Eu estava querendo o impossível e sabia disso. – E, por favor, pode me chamar de Dom.Ele abaixou um pouco o rosto e esboçou um sorriso. Caralho,

    que homem bonito. Bufei e levantei as mãos, passando-as em meus

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    alaranjado, mas os cabelos castanhos eram avermelhados, e ele tinha um corte moderno, bem curto nas laterais e cheio em cima. Tinha uma pele mais clara do que eu normalmente achava atraente e sardinhas no nariz. Quem diria que sardinhas podiam ser tão sensuais? Sobrancelhas ruivas se arqueavam de modo ele-gante acima daqueles olhos da cor do rio que desce a montanha, e ele tinha tudo para parecer simpático e receptivo, mas o efeito era o contrário. Todos aqueles traços distintos e elegantes combi-nados faziam com que ele parecesse mais refinado e sofisticado do que os homens por quem eu costumava me interessar.

    Ele usava uma camisa polo com o logotipo da clínica estam-pado e, quando se levantou para apertar minha mão, percebi que ele era um pouco mais alto do que eu, porém mais esguio e lon-gilíneo. Estava em ótima forma física, também não poderia ser diferente considerando seu trabalho, e fez com que eu me sentisse pesado e desengonçado ao me levar à sua sala. Parecia ter nascido para ser veloz e ágil, e eu parecia ter nascido para sobreviver aos trancos e barrancos. Eu não era nada sofisticado, nem gostava de ser assim. Ficava um pouco mais fácil me misturar com os rapazes da polícia. Todos sabiam que eu era gay, mas eu me esforçava para não deixar que isso virasse assunto.

    Depois de algumas perguntas e respostas sobre o acidente, as lesões causadas e o tipo de tratamento que eu tinha feito até ali, ele ficou em silêncio, e passamos uns cinco minutos olhando um para a cara do outro. Comecei a pensar que ele ia dizer que não podia fazer nada. Os médicos diziam isso. Foi o que o terapeuta do hos-pital falou. Foi o que o cirurgião ortopedista concluiu após minha

    última cirurgia. Eu sempre mancaria, e meu ombro seria sempre duro, limitando e dificultando meus movimentos. Nenhuma des-sas coisas era aceitável para quem ganhava a vida correndo atrás de bandidos.

    Ele esticou o braço, fechou o arquivo na minha frente e se recostou na cadeira. Arqueou as sobrancelhas, trançou os dedos e levou o dedo indicador ao queixo.

    – O que procura, exatamente, Sr. Voss? – sua voz saiu calma e harmoniosa. Eu estava arrasado, nervoso e ansioso, e aquele cara agia como se estivéssemos falando sobre o clima, não sobre a mi-nha vida inteira e o quanto trabalhei duro até aqui.

    De modo desafiador, abri as pernas e me recostei na cadeira à frente dele, fazendo questão de simular uma postura bem casual, enquanto a dele era bastante profissional. Eu vestia uma camiseta desbotada da Polícia de Denver e uma calça jeans com um furo no joelho, e ambas estavam um pouco largas, já que eu tinha perdido massa muscular durante o tempo em que passei internado depois do acidente. Comparando, aquele sujeito era uma Ferrari verme-lha e reluzente, e eu era um Fusca velho e enferrujado.

    – Procuro retomar minha vida, Dr. Frederick. Quero conse-guir me locomover como antes. Quero passar no exame físico que irá me permitir voltar ao trabalho. Quero andar sem muleta nem bengala. Quero ser como era antes de me machucar

    Eu estava querendo o impossível e sabia disso. – E, por favor, pode me chamar de Dom.Ele abaixou um pouco o rosto e esboçou um sorriso. Caralho,

    que homem bonito. Bufei e levantei as mãos, passando-as em meus

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    J a y C r o w n o v e r A M O R A P R I S I O N A D O

    cabelos raspados. Minha sanidade estava por um fio, e minha rea-ção inesperada ao homem em quem eu estava depositando toda a esperança que ainda tinha não ajudava muito.

    – Certo, Dom. Pode me chamar de Lando. É assim que meus amigos me chamam.

    Ergui uma sobrancelha.– Vamos ser amigos?Minha intenção não era que a frase parecesse sugestiva da-

    quele jeito, só que não dava mais para consertar.Ele franziu as sobrancelhas cor de ferrugem, e o sorriso ficou

    parecendo o de uma carranca, não pude deixar de notar. Por um momento, senti pânico, achando que minha boca grande tivesse me feito estragar tudo. Eu não queria ser inconveniente de jeito nenhum, principalmente por não perceber o menor sinal de que ele também gostasse de homens. Como raramente discutia ou di-vulgava minha orientação sexual, tinha mais dificuldade em saber de imediato se um cara de quem eu estava a fim sentia o mesmo por mim. Sempre fui muito cauteloso. Ser policial já era um traba-lho difícil. Ser um policial gay tornava tudo ainda mais desafiador, por isso decidi logo cedo que não queria minha vida pessoal discu-tida abertamente. Como eu disse, não queria que virasse assunto.

    – Não, Dominic, não vamos ser amigos. Na verdade, é bem possível que você venha a me odiar. Vai se arrepender de ter entrado neste consultório e vai me considerar a pior pessoa do mundo. Mas vou fazer o melhor que puder para que você alcance os resultados desejados. Vou ficar em cima de você e, no fim, vai me agradecer por isso.

    Abri a boca prestes a responder outra coisa inadequada, para dizer que ele podia ficar em cima de mim quanto quisesse, mas me controlei a tempo. Mordi a ponta da língua e assenti, mexendo a cabeça lentamente.

    – Você acha que pode me consertar?Ele negou com a cabeça, lentamente, e uma mecha de cabelo

    avermelhado escorregou para a frente de seu rosto. Senti vontade de me inclinar sobre a mesa e tirá-la daqueles olhos azuis frios.

    Merda. Aquilo não era nada bom. O Sr. Engomadinho não precisava do meu tesão por ele, e eu não queria ter que me preo-cupar com meu pau duro enquanto estivesse me esforçando para me recuperar totalmente.

    – Acho que você pode ser consertado. A perna me preocupa menos do que o ombro. Afinal, ele ainda está bem ruim e, quando você o deslocou, rompeu todos os tendões e músculos – ele balan-çou a cabeça de modo solidário. O ombro tinha sido a pior parte da experiência toda, e era revigorante ver que o médico não me con-siderava um caso perdido. – Sei que você foi submetido à cirurgia de reconstrução, o que sempre afeta a mobilidade e a flexibilidade. Estou pensando se podemos trabalhar para fazer com que sua mão esquerda se torne a dominante, e assim você não ter que se preocu-par com o movimento limitado do lado direito.

    Olhei para ele com cara de bobo e soltei a respiração que es-tava prendendo. Por que eu não tinha pensado nisso? Eu treinava tiro de duas a três vezes por semana, na tentativa de fazer meu braço voltar ao normal, frustrado por ele ainda não estar bom. Por que eu não tinha pensado em experimentar o lado esquerdo?

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    cabelos raspados. Minha sanidade estava por um fio, e minha rea-ção inesperada ao homem em quem eu estava depositando toda a esperança que ainda tinha não ajudava muito.

    – Certo, Dom. Pode me chamar de Lando. É assim que meus amigos me chamam.

    Ergui uma sobrancelha.– Vamos ser amigos?Minha intenção não era que a frase parecesse sugestiva da-

    quele jeito, só que não dava mais para consertar.Ele franziu as sobrancelhas cor de ferrugem, e o sorriso ficou

    parecendo o de uma carranca, não pude deixar de notar. Por um momento, senti pânico, achando que minha boca grande tivesse me feito estragar tudo. Eu não queria ser inconveniente de jeito nenhum, principalmente por não perceber o menor sinal de que ele também gostasse de homens. Como raramente discutia ou di-vulgava minha orientação sexual, tinha mais dificuldade em saber de imediato se um cara de quem eu estava a fim sentia o mesmo por mim. Sempre fui muito cauteloso. Ser policial já era um traba-lho difícil. Ser um policial gay tornava tudo ainda mais desafiador, por isso decidi logo cedo que não queria minha vida pessoal discu-tida abertamente. Como eu disse, não queria que virasse assunto.

    – Não, Dominic, não vamos ser amigos. Na verdade, é bem possível que você venha a me odiar. Vai se arrepender de ter entrado neste consultório e vai me considerar a pior pessoa do mundo. Mas vou fazer o melhor que puder para que você alcance os resultados desejados. Vou ficar em cima de você e, no fim, vai me agradecer por isso.

    Abri a boca prestes a responder outra coisa inadequada, para dizer que ele podia ficar em cima de mim quanto quisesse, mas me controlei a tempo. Mordi a ponta da língua e assenti, mexendo a cabeça lentamente.

    – Você acha que pode me consertar?Ele negou com a cabeça, lentamente, e uma mecha de cabelo

    avermelhado escorregou para a frente de seu rosto. Senti vontade de me inclinar sobre a mesa e tirá-la daqueles olhos azuis frios.

    Merda. Aquilo não era nada bom. O Sr. Engomadinho não precisava do meu tesão por ele, e eu não queria ter que me preo-cupar com meu pau duro enquanto estivesse me esforçando para me recuperar totalmente.

    – Acho que você pode ser consertado. A perna me preocupa menos do que o ombro. Afinal, ele ainda está bem ruim e, quando você o deslocou, rompeu todos os tendões e músculos – ele balan-çou a cabeça de modo solidário. O ombro tinha sido a pior parte da experiência toda, e era revigorante ver que o médico não me con-siderava um caso perdido. – Sei que você foi submetido à cirurgia de reconstrução, o que sempre afeta a mobilidade e a flexibilidade. Estou pensando se podemos trabalhar para fazer com que sua mão esquerda se torne a dominante, e assim você não ter que se preocu-par com o movimento limitado do lado direito.

    Olhei para ele com cara de bobo e soltei a respiração que es-tava prendendo. Por que eu não tinha pensado nisso? Eu treinava tiro de duas a três vezes por semana, na tentativa de fazer meu braço voltar ao normal, frustrado por ele ainda não estar bom. Por que eu não tinha pensado em experimentar o lado esquerdo?

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    Pigarreei. – Hum... certo Eu me inclinei um pouco para a frente e apoiei as mãos nos

    joelhos. – Isso significa que você vai me aceitar como paciente?Quando fiz a pergunta, não consegui esconder o alívio e a espe-

    rança que estava sentindo. Queria pular e agarrar o médico com um abraço forte. O que me impediu foi o fato de eu ainda não estar em condições de sair pulando e de não ter certeza de que, se o abraçasse, as coisas parariam no abraço. Nunca na vida eu havia sentido uma atração tão forte por alguém, e isso fazia com que eu me sentisse imprevisível e descontrolado. Precisava manter o equilíbrio a fim de que ele pudesse me ajudar, e, assim, eu pudesse voltar ao trabalho.

    Era só o que importava. Precisava dele para salvar meu futuro, não para me pegar.

    Percebi uma mudança em seus olhos claros quando ele me olhou. De repente, a impressão que ele passava havia deixado de ser clínica e passado a ser outra, algo muito mais parecido com o claro interesse que eu tinha certeza de que estava demonstrando.

    Ele voltou a esboçar um sorriso e levantou a mão para afastar os cabelos do rosto.

    – Sim, Dominic, vou aceitar você.Hesitei de novo e senti as narinas se alargarem um pouco ao

    perceber uma insinuação sutil.– Hum, certo. Obrigado – levantei uma mão e a passei na

    nuca, sentindo um nervosismo repentino e uma inquietação que não tinham a ver com a incerteza que envolvia meu futuro.

    – Em breve, você não vai mais agradecer, mas fico feliz por fazer o melhor que posso para ajudar um policial ferido no trabalho. Não posso prometer nada, porque, por mais que você se esforce ou por mais que queira, o corpo tem um modo de funcionar e tem limites. Esses limites vencerão todas as vezes, mas podemos tentar e ser otimistas.

    Porra, ainda bem! Finalmente alguém além de mim estava sendo otimista.

    Cerrei as mãos em cima das coxas tentando me controlar para não o agarrar. Queria abraçar aquele homem, aquele desco-nhecido, por muitos motivos, não só por ele estar dizendo as pala-vras pelas quais tanto esperei.

    – Vai ser bem trabalhoso. Vai doer. Vai ser frustrante, e os resultados não são garantidos, mas estarei ao seu lado o tempo todo e, se fracassarmos ou vencermos, será como uma equipe. Isso significa que você vai ter que confiar em mim e acreditar que o que eu pedir vai ser sempre para o seu bem.

    Apertei as mãos ainda mais enquanto assentia sem parar. Eu estava acostumado a sempre cuidar de tudo. Estava acostumado a ser o responsável, o pilar de força e apoio e, apesar de Royal ser minha parceira no trabalho, eu ainda sentia que era minha obrigação cuidar dela, não por ela ser mulher, mas por ser minha melhor amiga e por eu não conseguir me imaginar vivendo sem ela. Nunca ninguém tinha cuidado de mim nem do que era me-lhor para mim. Eu não soube bem como reagir. Por isso, só disse “certo” baixinho e me levantei para apertar a mão de Orlando quando ele se levantou atrás da mesa.

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    Pigarreei. – Hum... certo Eu me inclinei um pouco para a frente e apoiei as mãos nos

    joelhos. – Isso significa que você vai me aceitar como paciente?Quando fiz a pergunta, não consegui esconder o alívio e a espe-

    rança que estava sentindo. Queria pular e agarrar o médico com um abraço forte. O que me impediu foi o fato de eu ainda não estar em condições de sair pulando e de não ter certeza de que, se o abraçasse, as coisas parariam no abraço. Nunca na vida eu havia sentido uma atração tão forte por alguém, e isso fazia com que eu me sentisse imprevisível e descontrolado. Precisava manter o equilíbrio a fim de que ele pudesse me ajudar, e, assim, eu pudesse voltar ao trabalho.

    Era só o que importava. Precisava dele para salvar meu futuro, não para me pegar.

    Percebi uma mudança em seus olhos claros quando ele me olhou. De repente, a impressão que ele passava havia deixado de ser clínica e passado a ser outra, algo muito mais parecido com o claro interesse que eu tinha certeza de que estava demonstrando.

    Ele voltou a esboçar um sorriso e levantou a mão para afastar os cabelos do rosto.

    – Sim, Dominic, vou aceitar você.Hesitei de novo e senti as narinas se alargarem um pouco ao

    perceber uma insinuação sutil.– Hum, certo. Obrigado – levantei uma mão e a passei na

    nuca, sentindo um nervosismo repentino e uma inquietação que não tinham a ver com a incerteza que envolvia meu futuro.

    – Em breve, você não vai mais agradecer, mas fico feliz por fazer o melhor que posso para ajudar um policial ferido no trabalho. Não posso prometer nada, porque, por mais que você se esforce ou por mais que queira, o corpo tem um modo de funcionar e tem limites. Esses limites vencerão todas as vezes, mas podemos tentar e ser otimistas.

    Porra, ainda bem! Finalmente alguém além de mim estava sendo otimista.

    Cerrei as mãos em cima das coxas tentando me controlar para não o agarrar. Queria abraçar aquele homem, aquele desco-nhecido, por muitos motivos, não só por ele estar dizendo as pala-vras pelas quais tanto esperei.

    – Vai ser bem trabalhoso. Vai doer. Vai ser frustrante, e os resultados não são garantidos, mas estarei ao seu lado o tempo todo e, se fracassarmos ou vencermos, será como uma equipe. Isso significa que você vai ter que confiar em mim e acreditar que o que eu pedir vai ser sempre para o seu bem.

    Apertei as mãos ainda mais enquanto assentia sem parar. Eu estava acostumado a sempre cuidar de tudo. Estava acostumado a ser o responsável, o pilar de força e apoio e, apesar de Royal ser minha parceira no trabalho, eu ainda sentia que era minha obrigação cuidar dela, não por ela ser mulher, mas por ser minha melhor amiga e por eu não conseguir me imaginar vivendo sem ela. Nunca ninguém tinha cuidado de mim nem do que era me-lhor para mim. Eu não soube bem como reagir. Por isso, só disse “certo” baixinho e me levantei para apertar a mão de Orlando quando ele se levantou atrás da mesa.

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    Quando nossas mãos se tocaram, senti mais do que uma faísca. Foi uma corrente elétrica que percorreu um caminho intenso por todo o meu braço machucado e que fez minha espinha formigar. Olhei nos olhos dele e procurei abertamente qualquer sinal de que ele havia sentido alguma coisa. Era inexplicável e impressionante, mas algo estava acontecendo entre nós. Vi que ele corou de leve e que seus olhos se arregalaram um pouco. Ele conseguiu esconder a reação melhor do que eu, mas eu era treinado para perceber as me-nores mudanças de expressão e as vi naquele rosto bonito. Eu tinha mexido com ele como ele tinha mexido comigo.

    Ele soltou a minha mão e pigarreou. – Até quarta-feira. Falaremos sobre os procedimentos e ve-

    remos quais são suas condições para termos um ponto de partida para começar. Prepare-se para suar.

    Não consegui controlar a risadinha nem o olhar sacana.– Gosto de me esforçar até suar.Poderia jurar que ele tinha corado, mas não quis abusar

    ainda mais da sorte, por isso disse que voltaria na quarta e ca-minhei em direção à porta. Deixei meu olhar passear por to-dos os prêmios e certificados que decoravam as estantes e vi as fotos dispostas ali. Fiquei impressionado ao ver uma fotografia na qual ele, de pé, abraçava Peyton Manning e outra na qual ele posava com Carmelo Anthony, quando este ainda jogava no Nuggets. Lando curtia hóquei, a julgar por todas as coisas rela-cionadas ao esporte em sua sala. Vi também uma foto dele com Patrick Roy e outra com Gabriel Landeskog, provando que ele era fã de longa data.

    Parecia que, naquela profissão, ele conseguia viver o sonho de qualquer garoto aficionado, porém o que mais chamou minha atenção foi uma fotografia, obviamente pessoal, que se destacava entre os itens ostentosos e autografados. Era uma foto de Lando, muito mais jovem, ao lado de outro garoto, no fim da adolescên-cia, usando um uniforme de futebol americano do ensino médio. Lando sorria de orelha a orelha com o braço pelos ombros acol-choados do garoto de cabelos pretos, tenso e claramente descon-fortável. Aquele não era um fã feliz por conhecer um jogador. Ali não havia dois amigos felizes depois de uma grande vitória. A foto mostrava um rapaz orgulhoso de seu namorado. Havia afeto e or-gulho explícitos no rosto de Lando da foto. Os dois eram muito jo-vens e, era óbvio, apaixonados, pelo menos foi o que me pareceu. Também notei que alguma coisa naquela foto inocente deixava o garoto moreno constrangido.

    Interessante. Tentei imaginar se o jogador de futebol lindo de morrer da foto ainda estaria em cena, naquele momento da vida de Orlando.

    Mas todos os pensamentos soltos ficaram em segundo plano quando fui tomado por uma empolgação que considerei prova ir-refutável de que o Sr. Engomadinho gostava mesmo de rapazes, assim como eu, e que estávamos prestes a passar um bom tempo suando juntos e com frequência.

    Vem pra cima.

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    Quando nossas mãos se tocaram, senti mais do que uma faísca. Foi uma corrente elétrica que percorreu um caminho intenso por todo o meu braço machucado e que fez minha espinha formigar. Olhei nos olhos dele e procurei abertamente qualquer sinal de que ele havia sentido alguma coisa. Era inexplicável e impressionante, mas algo estava acontecendo entre nós. Vi que ele corou de leve e que seus olhos se arregalaram um pouco. Ele conseguiu esconder a reação melhor do que eu, mas eu era treinado para perceber as me-nores mudanças de expressão e as vi naquele rosto bonito. Eu tinha mexido com ele como ele tinha mexido comigo.

    Ele soltou a minha mão e pigarreou. – Até quarta-feira. Falaremos sobre os procedimentos e ve-

    remos quais são suas condições para termos um ponto de partida para começar. Prepare-se para suar.

    Não consegui controlar a risadinha nem o olhar sacana.– Gosto de me esforçar até suar.Poderia jurar que ele tinha corado, mas não quis abusar

    ainda mais da sorte, por isso disse que voltaria na quarta e ca-minhei em direção à porta. Deixei meu olhar passear por to-dos os prêmios e certificados que decoravam as estantes e vi as fotos dispostas ali. Fiquei impressionado ao ver uma fotografia na qual ele, de pé, abraçava Peyton Manning e outra na qual ele posava com Carmelo Anthony, quando este ainda jogava no Nuggets. Lando curtia hóquei, a julgar por todas as coisas rela-cionadas ao esporte em sua sala. Vi também uma foto dele com Patrick Roy e outra com Gabriel Landeskog, provando que ele era fã de longa data.

    Parecia que, naquela profissão, ele conseguia viver o sonho de qualquer garoto aficionado, porém o que mais chamou minha atenção foi uma fotografia, obviamente pessoal, que se destacava entre os itens ostentosos e autografados. Era uma foto de Lando, muito mais jovem, ao lado de outro garoto, no fim da adolescên-cia, usando um uniforme de futebol americano do ensino médio. Lando sorria de orelha a orelha com o braço pelos ombros acol-choados do garoto de cabelos pretos, tenso e claramente descon-fortável. Aquele não era um fã feliz por conhecer um jogador. Ali não havia dois amigos felizes depois de uma grande vitória. A foto mostrava um rapaz orgulhoso de seu namorado. Havia afeto e or-gulho explícitos no rosto de Lando da foto. Os dois eram muito jo-vens e, era óbvio, apaixonados, pelo menos foi o que me pareceu. Também notei que alguma coisa naquela foto inocente deixava o garoto moreno constrangido.

    Interessante. Tentei imaginar se o jogador de futebol lindo de morrer da foto ainda estaria em cena, naquele momento da vida de Orlando.

    Mas todos os pensamentos soltos ficaram em segundo plano quando fui tomado por uma empolgação que considerei prova ir-refutável de que o Sr. Engomadinho gostava mesmo de rapazes, assim como eu, e que estávamos prestes a passar um bom tempo suando juntos e com frequência.

    Vem pra cima.

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