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revista sazonal de poesia TRANSVISTA! poemas + artes + entransvista com a artista Aline Binns. ano dois - estação do outono

Transvista de Outono - Ciclo II

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Transvista de Outono 2015.

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revista sazonal de poesia

transvista!

poemas + artes + entransvista com a artista Aline Binns.

ano dois - estação do outono

O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.

É preciso transver o mundo.

Manoel de Barros

vento de outonoa silenciosa colinamuda me responde

Matsuo Bashô

vento de outonoa silenciosa colinamuda me responde

Matsuo Bashô

Núcleo de Poesia, colaboradores

compartilham suas poesias mais verdadeiras, pois inventadas, a cada estação do ano, buscando um encontro entre temporalidades e afetos não passíveis de cronometragem, um arranjo singelo de cores (cromos), carinhos e temporais!.

Bem-vindos à edição de OUTONO:dedicada aos ventos, aos astros, janelas, lunetas, pulmões, peito, voz, ao decantar e ao silêncio.

Nesta, o projeto Transvista inicia seu segundo ciclo de estações.

Como novidade, inauguramos a sessão Entransvista, espaço para mergulhar em trajetos e processos criativos de um artista colaborador convidado.A voz da vez é Aline Binns.

Boa leitura!ilustraç

ão d

a ca

pa:

Marc

ella

Bri

otto

Colaboradores desta edição:

Alex SimõesAline BinnsAna BrandãoAnaluzAndrea LopesAnita VazBobby BaqBruno FagundesCamila de SáCecília de SantarémCledson BauhausCristiane PrudencianoDaniela LisboaDante HoroiwaFran DiazGabriela MorenoGiovanna MalaquiasJanaína MoitinhoJô FreitasJoão VermelhoJuliana BazanelliKate ArabeKim CavalcanteLaurinha GuimarãesLivia Akemi

Lucas GemelliLucas LopesLucas VieiraLuiza FerreiraMaércio FadiniMaga ClaraMarcella BriottoMarcelo BorgesMarcus QuaresmaMarilia ZamilianMarina MarináMarina PupoMateus JuzéPaulo de MedeirosPriscila RibeiroRafa CarvalhoRafa RianiSamuel Sampaio CastroStephanie CardosoThássia MoroThiago CohenThyago Bezerra Yasmin NariyoshiYasmin Rocha

1. Ser Poesia

2. Janela adentro (aflora)

3. (A)MAR ~LUNETAS

4. Fazer morada:do âmago à matéria

5. Deixar a asa crescer ~ vento ~

6. Saudade ~ espera

7. Regresso: fertilizar

1. Ser Poesia

Lucas Lopes

Rafa Carvalhoinfinição

poeta[pô! é! tá!]

ser universal

que costuma falar pelas estrelinhas

Samuel Sampaio CastroSer poesia...

Aprende no solo da vida,No chão nosso de cada dia, a ser poesia.A misturar o tempero que dá sabor e cor.A experimentar o gosto das palavras,A força que carregam consigo.Hoje desnudei-me no silêncio do meu ser,Quero compreender,Despertar a minha consciência.As palavras desapareceram,Se foram com o cair da tarde.Agora posso observar a noite e,Com ela,Contemplar a poesia.Escutar com o coração,Os sentimentos que poetizam a minha canção.

Juliana Bazanelli

Alex Simões

haikai bashô e.e.cummings em mimbrisa no a(r)qui(pé)lagorã salta três (redond)ilhas

mor entre as m(en)ores

Lucas Vieira

Dent

ro de u

m olho havia um espelho. Dentro desse esp

elho haviam palavras que só poderiam ser lidas

de m

uito perto.De muito pe

rto alg

uém lê: - Quero ver a minha poesia dando volt

as dentro de

você.

Thyago Bezerra da Silva

Nasci prematuro, todo troncho, tão feio, mas tão feioque me esconderam de minha mãe, pra ela não entrar em depressão pós-parto.Sobrevivi! Meio torto, um olho mais baixo que o outroa coluna toda corcunda, alto déficit de atençãoe uma ideia meio fora do comum: A maneira de ManoelCriei um gosto pelas coisas que não pres-tam para nada.Admiro os pintores que nunca venderam quadro nenhumOs cineastas que nunca terminaram um filmeE dos poetas que não são publicados.

2. Janela adentro (aflora)

Bruno Fagundes

Quando os homens dormemas árvores respiram

Priscilla Ribeiro

Anita VazFim de tarde

um dentro do fora e um fora do dentro,... algo do sentir.

Priscilla Ribeiro

Cecília de Santarém

frio e ventolevam longe

meu pensamento

Fran Diaz

Marina Mariná

E juro que vi um etê e juro que vi a lua e juro que vi seu rosto refletido na

janela e ele me sorria.

E as folhas das árvores pendem como umas gentes cansadas e as gentes cansadas

voltam sempre voltam como folhas secas a despregar dos galhos mães.

Todo dia nasce um bebê e em todo bebê deve nascer um dia.

Não nos deixam lembrar do nascimento porque é muito difícil desmergulhar.

Quando eu tinha sete anos as brincadeiras eram de ouro juro que de ouro ou de

outras preciosidades tolississíssimas.

É muito divertido dar a mão às nuvens e girar girar.

Lucas Lopes

Bobby Baq

Sentiu por cima

a sensaçãodo que é serabraçado:

o casaco aindamorno.

Acabou de ser passado.

3. (A)MAR ~ LUNETAS

Lucas Gemelli

Naquela tarde de paz e frio em Brasíliapassou por mim um casal de velhinhos.Ele insistia pra que ela aceitasse seu casaco, jurando que sentia um calor digno de Cuiabá.Acompanhei os dois com os olhos até que ela acabou aceitando.Por mais que ele disfarçasse bem,vi que deixou escapar umas três batidas de queixoenquanto ela olhava as vitrines.Se isso não é o amor,

o que mais poderia?

Marina PupoVelei mar

Emaranhei no teu seioRio entre os dedosNossos cabelos fozDesaguam e fogem

Nascentes de me velejarNa maré que me mareou

Porque na nossa maresiaAmar é heresia

...Tão clara areiaQue me clareou...

Vem, atraca em mimQue viajei e vim beirarVeloz feito mar e eiraEnfim na tua orla.

Thiago Cohen

Thássia Moro

Embarco em ti.

Aqui euem ti.Mergulhada nessa imensidão,costas, pernas.Rendida.

Não mais remar seiflutuo.O pensamento em mãosmisturo.E lá se vai mais uma frase.

Entre esses barcossou apenas naufrágio. Perdida em contornosem voltas,curvas.Sem direção.

Não é preciso mapa,essa direção não é exata.

Perdida é onde queria estar.E lá se vai mais uma frase.

Mudo de ladote virote agarro.Te uso de leme.Te faço de bússola.

Mergulhoao fundo.Meu rasono teu.E aqui se faz mais uma frase.

Kim Cavalcante

Laurinha Guimarães (Des)conhecidos

Era ainda um moleque quando a viu pela primeira vez. Bem lá no fundo sentiu uma pontada, um sopro, algo entre a inquietude e o medo. Era ainda tão intacto. Não sabia dos crimes, não lia sobre as guerras, não conhecia o desamor. Ela era toda dele, mesmo sem o ser. Mais tarde aprenderia que ter e ser eram apenas verbos vazios. Assim como, naquele dia, amar o seria.Olharam-se. Ela logo sentiu um arrepio que desconhecia. Ainda hoje se lembra de como os olhos dele pareciam feitos de pedra, dessas que carregam consigo as intermitências das marés. Desconhecia o tanto de vida que teria pela frente. Não. O aqui era o aqui, e o agora, já. Toda ela era urgência. Na certa quebrariam o silêncio, pensou. Não chegou a cogitar a possibilidade de quebrá-lo primeiro. Nem teve tempo de se arrepender.Olhou para a ponta dos sapatos. Procurou reforçar a imagem dela na retina, com receio de que perdesse a habilidade de descrevê-la a quem quer que fosse. Mal sabia que, mesmo anos e anos depois, ainda se recordaria do barulho intrincado

dos carros passando, do cinza carregado das ruas, do medo de errar. Ela não coube em seus livros, nem nas músicas.

Algo a prendia ao chão.

Ele já sabia voar.

Thiago Cohen

Mateus Juzé UM ESTRELA E ESTRALA O OUTRO

A partir de então meus olhos são dois telescópios castanhos te avistando

cometa que orbita o estrelário da minha pupila.

Fotografia debaixo dos cílios.

passo a te medir com sextantes lúmens e volts .

satélites sondas espaciais da NASA sequer lunetas

não conseguem captar a estrela que gira a galáxia castanha da sua retina.

todos os sismógrafos e placas tectônicas se agitam quando a gente se abraça.

todos barômetros enlouquecem quando chove dentro da gente.

O ganso e a hélice da usina eólica decolam quando a gente passa.

Tens os mesmos traços de um poema

nave de igreja barroca

que deixa meus cupins estupefatos atônitos e encantados.

haste de jurema terapia mousse bolo tonel de umburana da minha cachaça

lareira e meia de crochê

quando anoiteço

risca arisca relâmpagos e trovoadas no céu da boca.

Se a palavra despenca da voz como queda de andaimes

blocos de ardósia

Thiago Cohen

Thiago Cohen

sua frase cai dentro do meu ouvido

rio negro mergulhando no boto rosa

chuviscos escalando as parabólicas

líquens de encontro ao tronco do meu angico

Poema que me pega pelo braço e me leva para um sítio dentro da palavra sossego

Onde sobra eucalipto

para alimentar a caldeira da usina de açúcar e álcool

instalada nas cavidades do corpo da gente.

Thiago Cohen

Thiago Cohen

4. Fazer morada:do âmago à matéria

Rafa Riani

tem coisas que são difíceis de explicar,algumas são difíceis de entender;

mas outras não precisa nem explicar, nem entender

simplesmente se sabe...

um saber que transcende a mente,sabe-se com o sentir do coração,

sabe-se com toda a intensidade da leveza da alma

Aline Binns

Analuz

Reflexões sobre a árvore que se vê da janela do meu quarto – parte I Da janela do meu quarto se vê uma paisa-gem interessanteÉ uma árvore de tronco fino, com múlti-plos galhos também fininhos, todos apon-tando pro céu.Está seca, seca de tudoE se mistura no verde das árvores ao re-dorMas o curioso disso tudo é que ela tom-bou, sem tombarMantém-se viva numa mágica diagonalComo se estivesse suspensa por uma forte convicçãoQue não a deixa tombar de vez Tenho vontade de trazer pra casa todos os meus irmãosGostaria que dormissem em minha camaE sonhassem seus velhos sonhosPara no dia seguinte acordarE dar de cara com elaEntão eu perguntaria que impressão tal paisagem lhes causouSe sentiram, como eu, que talvez aquela árvore entre tantas

Possa às vezes estar direitaE todo o resto do mundo,Inclusive a cama, nós e a janela,Torto.

Rastelando as tardes de Priscilla Ribeiro

Stephanie Cardoso

sem ter testemunhavou te acompanharassim, grudada.

entre carne e unhaou no calcanharfazer morada

escondidinha alientre o maxilare a arcada

onde você sorrilá eu vou ficarilhada

no meio do nadafaço a experiência:

transformo seu corpo em minha querência

Stephanie Cardoso

sem ter testemunhavou te acompanharassim, grudada.

entre carne e unhaou no calcanharfazer morada

escondidinha alientre o maxilare a arcada

onde você sorrilá eu vou ficarilhada

no meio do nadafaço a experiência:

transformo seu corpo em minha querência

Marcella Briotto

Yasmin Rocha

tirei as camadas que me eram em excessome pergunto diariamente: será a busca

pelo equilíbrio, eterna?

cada vez maissou

recebo e aceito o que de mim vem naturaleu sou

sou carne, pêlos, gozo,mutação

do âmago à matéria: sou amor.[sobre jorrar o sê]

Luiza FerreiraAbril despedaçado

CansadaHumilhada Caminha a mulher pretaNa calada da quebrada

Chega na casa - ocupada -E dizem - Está invadida, VENDIDA!

Despedaçaram Sua florEstupraram Sua dor

Cansada, HumilhadaCaminha com seu corpo - sua única morada -Na calada da quebrada

Jô FreitasCorpo Escudo

Minha alma encendeia o corpo com um fogo digno de revoltaSe eu luto É pra não ficar de luto pelos meus irmãos que se foiE se assim foi, não será mais Porque em minhas veias corre venenoVeneno de esperançaMinha voz ecoará um grito que ensurdecerá quem quiser me calarMeus olhos serão fuzis que atingirá o senhorzinho brancoque acha que preto tem que fugir e da bala escaparMeu cabelo medusa fincará no solo toda vez que pedir raizMeu corpo escudo mandará pra bem longe quem quiser me boicotarAgora você, capitão do mato!Da minha terra, do meu povo e do meu corpo vou exterminarPorque preto que é preto sabe que lado LUTAR.

Gabriela MorenoSou seresta

o andar de minha moradamemoria viva de meu tempo

silêncio de retina adentroamor, presença e mais nada

abraco e orifícios sempre abertos

para tantos que bem-quero

um grande mar de búziose tantas historias para

guiar

Que seja euo que hoje sou:

o ontem que fuihoje estou sendo

e amanhã.... que serei eu?

sereimar, sereiterra, sereiar?

Thiago Cohen e Ana Brandão

5. Deixar a asa crescer ~ VENTO ~

Daniela Lisboa

amadurecer édeixaraasa

c r e s c e r.

Priscilla Ribeiro

Camila de Sá

onde já se viucaminhar sem sutiãpra sentir o tempo?

meu movimentonão faz respeito ao vício, rapazmas ao vento..

~

Lucas Lopes

Maércio Leandro FadiniUm tom de outono

Acalanto folhagens caídas,as árvores com seus encantos,pistas das quais reencontrovida por entre suas trilhas:sinais de limo e de esperançano orvalho, a lágrima ínfima,numa folha e outra oscilaa entrega á queda vívida;A um passo do perene espaço,silêncio ao sentir o som tênue, na folha seca o contentamento,sobe aos céus pelo sopro do vento.

Lívia Akemi

Cores da Infância de Marcus Quaresma

Cristiane PrudencianoO balanço

Naquela tarde luminosaEstava sentada no balanço amarrado na árvoreEnquanto você empurrava minhas costas E ríamos feito duas criançasQue se divertem genuinamente

Cada vez mais alto

Com os toques enérgicos O balanço e eu subíamosO coração disparava As mãos seguraram com força as cordasE vento tocando o rosto gentilmente

Cada vez mais alto

Naquele dia no vai e vem do balançoSenti algo estranhoAlgo que ainda não sabiaQue muito anos depois descobriO que era ser amada por alguém.

Giovanna

Malaqui

as

O rodopi

ar

As esqui

nas entr

e vielas

.

As crian

ças sorr

indo com

o rostog

rudado

nas jane

las

Vendo os

tons de

pastel

e dourad

o

encherem

o céu

O vento

soprava

frio, so

bre cada

fio.

Do cabel

o da men

ina

Ela sorr

ia distr

aída ent

re garga

lhadas

de alegr

ia.

Enquanto

outono

surgia,

fazendo

as folha

s caírem

e dança

rem

uma louc

a coreog

rafia

Bruno Fagundes

Giovanna

Malaqui

as

O rodopi

ar

As esqui

nas entr

e vielas

.

As crian

ças sorr

indo com

o rostog

rudado

nas jane

las

Vendo os

tons de

pastel

e dourad

o

encherem

o céu

O vento

soprava

frio, so

bre cada

fio.

Do cabel

o da men

ina

Ela sorr

ia distr

aída ent

re garga

lhadas

de alegr

ia.

Enquanto

outono

surgia,

fazendo

as folha

s caírem

e dança

rem

uma louc

a coreog

rafia

Andrea Lopes Troca?

Estava pronta para trocar a folhagemDespia-se devagarAo som de vento sereno.Trocar roupas.Trocar amores.Trocar de sonhos.Dançava com os pés no chãoVestindo-se de beleza com folhas mais leves e menos suicidas.

Cecília de Santarém

6. Saudade ~ Espera

Marilia Zamilian

Agora a chuva resolveu cair. Pingou em mim. Pingou saudade.

Eu bem que sabia que a chuva quando molha, não é apenas gotas de água sem fim.

Por isso cuidado, se chover, chovo junto.

Se pingar em você, sou eu.

Bruno Fagundes

João VermelhoYosiento saudade

SíTú lo sabes

Tú sabes mi obsesión por la SaudadeNo por bom diaNo por beijos

No por el muito apaixonadoNo por la rua

Yo vivo saudadeYo siento saudade

Brasil es mi saudadeElla es mi saudade

No me pidas resumir su definiciónNo me pidas cercenar mis versos

Quizás malos versosPero versos que nacen de mi sublime saudadeEu não tenho palavras para definir Saudade

Apelo a tu compresiónDéjame llenarme de letras y versos

Para sobrellevar mí sublime saudade.

Marcella Briotto

Yasmin Nariyoshi barco de notaso meu amor é o solé um só

eu deixo tudo pra cima da horafaço jogoperco a provamas não adiantao meu momento é atrasadoenquanto o passo eu divagoe devagarvou repassandoo que não foiparticipado

não procuro entendereu só quero te encontrar

a minha buscapode ser loucapode ser roucamas é certeira

são dois barcospra uma só proaem todos os ladospra todos os mares

eu escolho jogar a minha âncorano teu oceanoazul

não importa quandonem o dianem a hora

mas prometo,

tudo issonão passadesse (pl)ano

nosso cronometrose baseia no ventoou no riolentovermelho &branco

e no céurisonhoe límpidocom a únicaluaque temluz própriabrilhaem todosos possíveisespaçose tempos

no teu universona nossa vitória.

Marcelo BorgesOu Nada Esperei com sorrisoA cada folha que caíaO encontro do outono Mas eis que não vinhaA ida do verãoÁgua teimando o chãoO amarelo do sonho

Agora o tempo ardeEm vento de passagemdas viagens às paragensCores ocres componho

FOTO: Céus de Outono

de Priscilla RIbeiro

Dante Horoiwa

regresso: fertilizar

Priscilla Ribeiro

Janaína Moitinho

caemfolhascaemfrutos

a árvoresabe a hora

quando pesaquando sobraderruba

do altopode vera decomposição

novo destino do lançado

alimentar raizincorporar-sede novoonde nasceu

o tempodo alimentoadubovoltar a brotar

eterno ciclo

meu

Cledson Bauhaus

Carlos Bressansanta morte

quando o ar seco do chãose tornou ferroeu pude sentir

quando a quentura do corpose tornou febreeu pude sentir

quando olheia cara marrom de minha terrajá não era mais só sensação

era certeza

come meu corpo, vida,come!

o verme me rói e sou galho,tronco, pedra

o corpo se destrói para criar

expandir, libertar

ê! fé, povo meu, eia fé!

é hora do cantosem espanto

vamos todos cantar

Paulo de Medeiros

Vanessa RosiresTenue

La vida no basta solo ser vivida.La vida es la orden de los sabios en orbita.La vida y enigmática, sublime, pervesa!La vida es um individuo ...a mirar el outro.La vida puede ser la base,el cimiento,la estructura,la escalera,el muro,la silla,la puerta,el suelo simplemente.Los quitem tan quão la caída sentiremos.Y tan quão percibiremos el caer.Lejos Del que creemos ser imposible acon-tecer.La vida acontece, es así somos.La vida pierde la tonicidad.La vida parte del fin.El comienzo.El medio, en la cual no sentimos

los errores.El cambio.El visto.El no dicho.El dicho solo.La vida trae el ensinamento.La vida quita el sossego,El suenõ,La alegriaEl coraje,Turva lo brillo,Refuerza lo contraste,Clareia los hechos,Muere al punto,Y veamos...Lo que podría ser de hecho el acto.La vida nace dulce encanto.La vida es sonoro como esquina.La vida es usted simplemente en el centro,De las tubulencias,De los diálogos,De la família,De los amigos,A dos íntimamente.

En toda parte.No en la parte que le cabe entender los porquês!La vida se deshace y se renueva.La vida es exacta.La vida es uma belleza triste.La vida es un concepto.Ella es,Lo que le hizo ser.Em lo retoques.En la continuidad de los trazos.Que ni todo, y ni todos,es,Tendrá,yserá para siempre!

Alina Coelho

Artista, vê na face a planta, o vento, o mar, vê os pés inchados de tanto andar por amar de mais a terra e não querer parar por não poder parar. Num mundo de movimento, que seria parar?. Não existe nada que pare assim, quieto, tranquilo, mudo... Mutante. Muda de arnica. Muda de guaco. Chá, cura a alma daquela menina, inquieta, complexa, pensante, pulsante, elétrica com tons magnéticos. Seduz até a hora que quer se demorar por ela. Quer que ela sinta o tempo, multi- dimensional. Roça. Uma laranja sendo descascada pelas ásperas mãos daquela trabalhadora da terra, ela inebriada, calma, já passa das dez da manhã, ela pode descansar um pouco, sorver a vitamina, o líquido amarelo - amar- elo. Seus olhos são sorrisos constantes - O verde que a circunda faz tudo parecer paraíso. Olho seus olhos demoradamente - Estou apaixonada. Ela não sabe as coisas. Ela sabe a terra.

Como plantar, quando colher. Me ensina, eu aprendo - Grata. Muda por muda. Deixa crescer a raiz. Deixa o tempo ser tempo de muda. E ninguém corre. Andamos. Constantes. Paz reparadora de idéias. Eu não consegui comer nenhuma ideia. Comida. Abóbora. Inhame. Taioba. Couve- mineira. Chuchu. Ternura da terra fértil. Carinho. Araçá maduro. Jamelão. Goiaba. Manga. Capim limão. Jabuticaba. E olhos sorrindo, palavras, não sabem pronunciar,

sabem falar a língua do sorriso grato.

Juliana Bazanelli

Kate Arabe Outornasce

Incendeia pulsa a minha veiaabstrai os meus sentidoseleva a minha temperaturaexplode acalma

Outona suas folhasfertilizaminha aridezprepara-me para primaverar

Acalma

Juliana Bazanelli

Maga Clara

(...)Agora estou caminhando de volta pra casa.....

Percebo cada “Mestre” e “Anjo” que está na mesma estrada.....

Passada a fase do VIR a SEREstou na fase do SERVIR.....

Aprendi que este é o ingresso....Para o regresso à minha casa.

A vocês que estou reencontrando,Reconhecendo, acolhendo e amando....

MEU MUITO OBRIGADA!

Lucas Lopes

Entransvista com ALINE BINNS

Minha herança artística tem passagem pelas duas linhagens que compõe meu sangue. Desde criança tive muita liberdade para desenvolver meu traço e meu canto. E demorei pra entender meus escritos como poesias, e depois como algo a ser mostrado.

Tive muitos professores mas nunca uma formação acadêmica. E percebo que para muitas coisas me faltam ferramentas, e no curso daquilo que desejo fazer vou buscando os meios e encontrando coisas que não estava procurando objetivamente.

Minha produção artística passeia livre pela veia do autoconhecimento, sem nenhuma intenção senão pela devoção à espiritualidade que vivencio, através dos passos, dos ensinos que chegam de forma também livre, muitas vezes crua, noutras suave.Observação do caminho enquanto busca.

Sigo pela vida colhendo sinais dos reflexos do que sou, através de identificação e de reverência. Junto folhas, penas, pedras, fios coloridos, galhinhos, sementes, lembranças. Gosto de fragmentos. Permitem vislumbrar o mistério.

A c o l h i com o coração muito honrado o convite de escrever sobre meu processo criativo, especialmente dentro deste espaço construído com muita cumplicidade que é esta revista. E foi em cada palavra um desafio. Escolhi caminhar por uma narrativa íntima, como uma conversa nossa.

“sei apenas pela consciência de meu corpo físiconão há outra amarra, senão esta

viver é aprender a tocar um tambor

e eu os escuto noite e dia,vem chegando,selam a paz que eu não alcanço com meus sentidos básicos,

sim, porque não existem os tambores, nem quem os toquemas os ouço e me tocam,

foram feitos com minha própria pele,banhados em meu sangue para amolecer,amarrados com as tranças dos cabelos que ainda não me vieram.

é o canto da matatodas as árvores da florestae os seres que me habitam e os souconvidando-me a lembrar (-me)

saber-me

ouvir-me”

Sou Mulher, amo ser mulher. Rastreio o que isso significa para me encontrar inteira, não como uma dádiva, mas como uma realidade. Desconstruir as imposições, especialmente as minhas. Acredito que o universo interior é um mistério a ser adentrado com cautela, sem muito alarde, e até mesmo com o cuidado de não tentar logo compreender

e rotular, porque quando colocamos um nome em algo, passamos a achar que já entendemos do que se trata. É preciso o silenciar, observar a luz natural e acolher a escuridão, desfazendo-se dos temores, despindo-se dos mitos, confiar em seus próprios ritos, e passar.

“Nas profundezas de minhas paixões sinceras,Onde não existe o ecoar das palavras,

Mora a minha força mais bruta,Cada vez que me abala a dúvida,

Com os poros em descompasso,Eu sei que ela está viva.

Devo dizer que estou livre apenas onde não há palavras.

Devo dizer que aperto, eu mesma, minhas amarras,Cada vez que explico o que dizem os meus olhos,

Cada vez que corro para longe de mim,Cada vez que falam mais alto os contratos.

E eu,Eu sou uma selva,

Sou a mesma mata serenaQue amedronta ao cantar da lua,

Sou uma deusa plena que tem medo de ser nua.Estou procurando velas para não estar sem trilha

E apago com paixão velas e brasas,Para não deixar de ser selva,

Nunca. ”- poesia “Selva” que dá título a meu primeiro livro.

Há alguns anos iniciei um estudo intuitivamente sobre os mistérios da menstruação, através de observação, conversas muito profundas de experiências de outros seres, homens e mulheres e textos, buscando afinar a minha relação com meu corpo, com a terra, e com a Lua. Em algum momento desse processo, que enxergo ainda muito cru, por volta

de 2008 me veio o desejo de realizar pinturas com meu sangue, e é um trabalho forte que eu divulgo muito pouco porque enxergo que ainda está no campo do estudo e da observação. Mas sobre isso, o que dizer?

Sangrar, começar de onde parei, encontrar o ponto. Permitir um traço livre por onde meu sangue sussurre memórias re-nascidas, naquele ponto em que o ser se faz mãe, prenhe de si, parteira e ser que nasce. Independe do gênero, essas histórias residem na memória do sangue, na paúra de nascer, no desejo de existir. Tocar o sangue vivo de mulher, observar sua consistência, seus muitos tons, desde o aguado ao negro sem nome, e permitir o nascimento da imagem com aquilo que poderia alimentar um corpo físico, é arte, tem forma, mas não se entrega as palavras.

Diante do fogo o que é efêmero se desfaz, por isso me acerco dele. Tenho nele um grande mestre, que encurta as distâncias entre o Eu/Outro,

Feminino/Masculino, Maduro/Imaturo, permitindo pontes; e acolho o movimento de migrar, de brincar com minhas polaridades, de dançar envolta nas energias que me compõe, intentando o equilíbrio. Explorando as percepções, os filtros, as questões.

Respeito minhas dificuldades, embora às vezes pense que gostaria que elas não existissem, porque elas conversam comigo me mostrando um mapa dos cominhos internos, e muitas vezes abrem fendas pra eu ter a possibilidade de mudar o rumo.

Aí, vejo que meu processo é plural, enquanto estou cantando me vem um verso, quase sempre como se chegasse agora de viagem, cheio de histórias

pra contar, mas com a necessidade de decantar, de tempo, algumas vezes com palavras que habitualmente não uso, ou não sei o significado bem ao certo, e aí permito, escrevo, pesquiso depois pra compreender melhor.

Raramente escrevo por querer escrever sobre algo. E também no campo das artes visuais, apesar de ter um pouco de caminho trilhado em direção à ilustração de textos ou histórias, em geral eu permito que algo que eu não sei bem pra onde vai, me indique um caminho, a escolha das cores, ou a ausência de cores. Gosto de misturar minhas catanças com custuras e traços…Onde costuro uma imagem, que tece um figurino e vou por aí seguindo, deslizando nos caminhos que muitas vezes se repetem, como se, passando mais uma vez por ali eu pudesse escavar o vinco, e encontrar a quina de um baú.

E enquanto escavo, me percebo terra. Me entrego ao barro. Sou barro, assim permito que a arte me aponte o caminho. Somos obra em curso de nossa própria arte.

“Aprendizado sutil,que chega ao corpo,antes mesmo de ser assimilado pela mente consciente,um gesto, um traço, um canto ritual…a profunda delicadeza de sentir e acolher.”

Não poderia deixar de falar sobre uma grande escola que tive, e que me abriu muitas portas e trouxe muitos desafios, possibilitando que eu me construísse como poeta. Que é a Poesia Maloqueirista. Foi andando pelas ruas de

muitos lugares e entrando em bares e conhecendo muitos poetas corajosos, alguns diriam “caras de pau”, que eu pude me descobrir, e pôr meu trabalho à prova na escola da rua, que não é doce, mas que me trou-xe muitas parcerias e seres que acreditam em sonhos.

Há 10 anos faço parte do Coletivo “Poesia Maloqueirista”, coletivo de artistas que teve início em 2002. Movimento que tem origem na rua, da necessidade de comunicar, tendo como carro chefe as publicações independentes de livretos e zines, e como via as intervenções urbanas e assaltos poéticos, a troca de experiências, desenvolvendo saraus, oficinas, publicando livros, promovendo intervenções performáticas e eventos multimídia. Muitos artistas maravilhosos passaram pelo grupo e seguiram seus caminhos. Publicamos durante 2 anos a revista “Não Funciona”, (revista impressa de poesia e ilustração). E foi criado o selo independente “Edições Maloqueiristas” que atualmente conta com uma coleção de 26 títulos, de 21 autores de alguns cantos do país que mantém entre si uma identidade visual; o selo conta também com outras publicações que não fazem parte desta coleção. www.poesiamaloqueirista.blogspot.com.br

Gosto muito dos trabalhos manuais, e por conta disso minhas primeiras publicações foram Livretos feitos à mão, com costura, tiragens pequenas, muita delicadeza e a troca de mão em mão que não tem como mensurar o valor. Por isso sempre que tenho possibilidades, invento um livreto novo.

Livretos lançados até 2015:

- “Primeiro vôo” (2005) Primeiro livreto, modelo simples, desenhos e ilustras - 100 cópias;

- “Cigarros Poéticos” (2007) uma prece ao ar, poesias e desenhos em rolinhos com uma bordinha imitando filtros desenhados, enroladinhos e dentro de caixinhas de cigarro fei-tas à mão em tamanho natural - 200 cópias;

- “Salto” (2008)A capa era um desenho impresso em papel manteiga, com dobradura que misturava as texturas da capa. O miolo tinha dobradura e costura - 200 cópias;

- “À beira do Rio” (2010)Fiz essa tiragem em viagem por imediações do Rio Tapajós, com folha colhida por lá costurada a um papel de seda - 30 cópias;

- “Louro” (2012) Poesias e desenhos com dobradura, uma folha de Louro para atrair a prosperidade, dispostos em saquinho de papel pintado à mão - 30 cópias;

- “Compartir” (2014) Poesias e desenhos impressos em papel, dispostos avulsos em saquinho de papel com a intenção de incentivar o compartilhar - 20 cópias;

“O Tempo” (2015) Poesias e desenhos impressos em papéis especiais, variados dispostos em saquinho de papel, com eti-queta externa - 21 cópias;

O livro “Selva” - com 3 tiragens até agora somando ao todo 800 cópias, sendo a primeira tiragem em 2010, pelas “Edições Maloqueiristas”; e o Livro “Varal de Poemas” (2011) – Livro bilíngue Português/Catalão, coletânea poética dos autores Aline Binns, Caco Pontes e Berimba de Jesus, lançado no Brasil e na Espanha.

Tecendo parcerias nesse caminho intuitivo, onde a troca seja mais doce, buscando um espaço aberto ao diálogo, as rodas de cura, surge o núcleo “Terra Vermelha”, a arte como medicina. Religação com a terra, com o olhar feminino, o equilibrio das energias. União de 4 artistas que trabalham linguagens poéticas variadas, desde poesia falada e escrita, poesia visual e corporal, que se propõe a reunir em eventos e cursos livres a produção artística autoral tendo como fio condutor o princípio feminino, o coletivo existe desde 2014.

Texto gentilmente tecido pela talentosa poetisa e artista em totalidade Aline Binns, entre lua nova e crescente no ano de dois mil e quinze.

Eis que aportamos com simplicidadeem profunda gratidão.Coração-farol sempre iluminado na fluidez dos ventos e no alento dos bons encontros.Até a próxima estação: inverno.

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site: http://transvista.art.com

(webdesigner: Lucas Amaral)

idealização e organização:Camila de Sá, Lucas Lopes e Thiago Cohen

diagramação:Camila de Sá

arte editorial:

Camila de Sá e Lucas Lopes

Núcleo de Poesia

transvista! Segundo Ciclo