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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Sérgio Aparecido Rodrigues Pereira Sustentabilidade e Abastecimento Alimentar nas Metrópoles Contemporâneas: O caso de São Paulo Dissertação de Mestrado São Paulo 2017

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Sérgio Aparecido Rodrigues Pereira

Sustentabilidade e Abastecimento Alimentar nas Metrópoles

Contemporâneas: O caso de São Paulo

Dissertação de Mestrado

São Paulo

2017

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Sérgio Aparecido Rodrigues Pereira

Sustentabilidade e Abastecimento Alimentar nas Metrópoles

Contemporâneas: O caso de São Paulo

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Arquitetura e Urbanismo, na linha de pesquisa de Arquitetura Moderna e

Contemporânea: Representação e Intervenção da Universidade

Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção de título de

Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Profª. Drª. Maria Augusta Justi Pisani

São Paulo

2017

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P436s Pereira, Sérgio Aparecido Rodrigues Sustentabilidade e abastecimento alimentar nas metrópoles contemporâneas: o caso de São Paulo / Sérgio Aparecido Rodrigues Pereira. – 2017. 178 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2017.

Bibliografia: f. 169-178. Orientadora: Maria Augusta Justi Pisani

1. Sustentabilidade. 2. Centrais de abastecimento. 3. CEAGESP. 4. Responsabilidade socioambiental.

I. Título.

CDD 363.80981

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Sérgio Aparecido Rodrigues Pereira

Sustentabilidade e Abastecimento Alimentar nas Metrópoles

Contemporâneas: o caso de São Paulo

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Arquitetura e Urbanismo, na linha de pesquisa de Arquitetura

Moderna e Contemporânea: Representação e Intervenção da

Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à

obtenção de título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Aprovado em:

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AGRADECIMENTOS

À minha companheira Camila, pelo interesse no trabalho e pela ajuda nas

correções e traduções de textos. E a seu filho;

À minha família, principalmente mãe e filha, por compreenderem algumas

ausências e pelo incentivo constante. E ao meu filho, pela ajuda na formatação

de algumas figuras;

À minha orientadora, Professora Doutora Maria Augusta Justi Pisani, pela

clareza nas proposições, na orientação e pela dedicação constante;

À Professora Doutora Heliana Comin Vargas e ao Professor Doutor Rafael

Antônio Cunha Perrone, pelas sugestões e direcionamentos feitos durante a

banca de Qualificação;

À Professora Doutora Nádia Somekh, por suas contribuições a este trabalho;

A todos os professores que lecionaram nas disciplinas por mim cursadas ao

longo do mestrado;

Aos funcionários da CEAGESP que sempre colaboraram com o presente

trabalho com fornecimento de projetos, informações e documentos da Central;

Aos funcionários das Centrais visitadas por sua disposição e profissionalismo;

À CONAB e à ABRACEN em Brasília, por toda a colaboração;

Aos funcionários da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Aos colegas do curso de Mestrado, pela vivência e pela troca de informações.

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A estas pessoas devo a realização da presente dissertação, e a elas dedico este

trabalho, em singela homenagem.

Muito Obrigado

RESUMO

O mundo contemporâneo apresenta desafios em diversos ramos de atividades.

A aglomeração de habitantes nas metrópoles indica a necessidade de um

redirecionamento nas tomadas de decisões e de apresentação de soluções para

o atendimento destas demandas. No Brasil, um setor a ser repensado é o do

abastecimento alimentar, cujas Centrais atacadistas encontram-se obsoletas em

seu desenho ou implantação urbanística e em suas práticas cotidianas, hoje

distantes de conceitos modernos de logística, acessibilidade, sustentabilidade e

responsabilidade socioambiental. Com o objetivo de discutir o tema do

abastecimento alimentar e propor diretrizes para a reformulação conceitual

destes equipamentos urbanos, pesquisamos o histórico do abastecimento,

mercados de bairro que ajudaram a criar centralidades urbanas, diversas

Centrais atacadistas e estudamos o caso da Companhia de Entrepostos e

Armazéns Gerais de São Paulo – CEAGESP. Analisamos suas qualidades e

deficiências e estabelecemos comparações com outras Centrais da Europa, com

a finalidade de explicar e descrever as diferenças levantadas. No estudo

apresentamos diretrizes e parâmetros para a formatação de uma Central

adaptada à atualidade, discutimos os planos urbanísticos a serem implantados

na Vila Leopoldina, caso ocorra a saída da CEAGESP, e analisamos as

propostas existentes de sua mudança para outro local, à luz de diretrizes

técnicas e urbanas, visando minimizar o impacto a ser causado pela Central

alimentar na região onde será implantada.

Palavras Chave: sustentabilidade; centrais de abastecimento; CEAGESP;

responsabilidade socioambiental.

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ABSTRACT

The contemporary world presents challenges in many kind of activities. The

population increasing in the metropolis indicates the necessity for a redirection in

the decision making and presentation of solutions to the fulfillment of these

demands. In Brazil, one sector to be rethought is food supply, whose wholesalers

are obsolete in their design or urban setting and in their daily practices, today far

from modern concepts of logistics, accessibility, sustainability and socio-

environmental responsibility. With the purpose of discussing the food supply

issue and proposing guidelines for the conceptual reformulation of these urban

equipments, we researched the history of supply, neighborhood markets that had

push to create urban centralities, several Central Wholesale and studied the case

of the Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo - CEAGESP.

We analyze its qualities and deficiencies and establish comparisons with other

European Centers in order to explain and describe the differences pointed. In this

work we present directives and parameters for the format of a Central adapted till

the present, we discussed the urban plans to be implemented in Vila Leopoldina,

in case the CEAGESP leaves there and we analyze the existing proposals of their

relocation to another place, based on technical and urban guidelines and in order

to minimize the impact to be caused by the Central Food in the region where it

will be implemented.

Keywords: sustainability; Central supply; CEAGESP; socio-environmental

responsibility.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 Mercado de Covent Garden – Londres (1828). 28

Figura 1.2 Mercado Municipal Seiko Onozaki Kataoka, Jau – SP, (1899). 29

Figura 1.3 Mercado medieval em madeira e telha. Lorris. 33

Figura 1.4 O primeiro pavilhão de pedra, conhecido como “Forte de La Halle” 34 Figura 1.5 La Halle au Blé (cúpula em ferro). 35

Figura 1.6 Les Halles, Paris em 1956. 35

Figura 1.7 Plano do entorno de Les Halles com seus alinhamentos e vias 37 Figura 1.8 Interior de Les Halles e sua grandiosidade. 39

Figura 1.9 Localização dos mercados metálicos na Espanha. 43

Figura 1.10 Mercado Central de Barcelona em construção 45

Figura 1.11 Vista geral do mercado de Lanuza, Zaragoza, 1898-1903. 46

Figura 1.12 Plano de mercados em Madri – 1944 e suas áreas de influência. 49 Figura 1.13 Plano de Mercados em Barcelona, elaborado em 1978. 50

Figura 1.14 Mapa da Central de Rungis – Paris. 56

Figura 1.15 Vista aérea da Central de Rungis - Paris 56

Figura 1.16 Mapa da Central de Barcelona. 57

Figura 1.17 Vista aérea da Central de Barcelona 58

Figura 1.18 Expansão ferroviária (1870 a 1900). 59

Figura 1.19 Mercado Municipal de Mogi das Cruzes. 60

Figura 1.20 Mercado de São Carlos. 1903. 60

Figura 1.21 Mercado Municipal de Campinas, 1908. 61

Figura 1.22 CEAGESP Ribeirão Preto. 240 mil ton/ano. 1981. 61

Figura 1.23 CEASA Campinas. 720 mil ton/ano. 1972. 61

Figura 1.24 Mapa de localização das Centrais de Abastecimento no Brasil. 67 Figura 1.25 Mercado dos Caipiras, por volta de 1867. 71

Figura 1.26 Produtores de batata, no Largo da Batata, (1920). 72

Figura 1.27 Implantação e planta do térreo do mercado municipal de São Paulo. 73

Figura 1.28 Foto do Mercado Municipal. 76

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Figura 1.29 O mezanino do Mercado em 2007. 76

Figura 1.30 Mapa de localização dos postos da CEAGESP no Estado de SP. 78

Figura 2.1 Foto parcial da CEAGESP. Quantidade de caminhões. 81

Figura 2.2 Cenas dos protestos ocorridos na CEAGESP em mar de 2014. 82

Figura 2.3 Cenas dos protestos ocorridos na CEAGESP em mar de 2014. 82

Figura 2.4 Portaria da central de Rungis, na França. 82

Figura 2.5 O talude do terreno foi ocupado por células fotovoltaicas. 83

Figura 2.6 Caixas plásticas retornáveis. Economia e Segurança Alimentar. 84

Figura 2.7 Iluminação natural por claraboia no cruzamento dos pavilhões. 84

Figura 2.8 A grande “praça” de comercialização da Central de Bolonha. 85

Figura 2.9 A cobertura da Central de Milão interna. 86

Figura 2.10 A cobertura da Central de Milão externa. 86

Figura 2.11 Empilhadeira de carga e descarga na praça de comercialização. 87

Figura 2.12 A estrutura da cobertura da Central de Berlim. Iluminação Natural. 88

Figura 2.13 A ligação entre o MERCANORTE e os EUA. 89

Figura 2.14 As vendas de rua e a precariedade do comércio de alimentos. 90

Figura 2.15 Interior de uma das alas do mercado de Havana. 92

Figura 2.16 Fachada do mercado cuatro camiños restaurada. 93

Figura 2.17 Estacionamento e comercialização sobre rodas. Santiago 94

Figura 2.18 MERCAMADRI. A foto mostra a área disponível da gleba. 96

Figura 2.19 La Boqueria, atualmente: mercado e ponto turístico. 97

Figura 2.20 Pavilhões da central. Arquiteturas diferentes orientam os clientes. 98

Figura 2.21 A central de reciclagem do mercado de Barcelona. 99

Figura 2.22 Shangqiu – China. A maior Central atacadista do mundo. 100

Figura 2.23 Estação de trem para carga e descarga de produtos. 101

Figura 2.24 Docas climatizadas no pavilhão de legumes. 103

Figura 2.25 Pavilhão de carnes. 103

Figura 2.26 Vista aérea da Central de abastecimento de Rungis. 104

Figura 2.27 A proposta para renovação da Central de Nantes. 105

Figura 2.28 Projeto de implantação da nova Central de Nantes 105

Figura 2.29 O pavilhão sem o corredor central. 108

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Figura 2.30 O pavilhão com o corredor central. 109

Figura 2.31 Planta do pavilhão BP na CEAGESP 110

Figura 2.32 Corte do pavilhão BP. 110

Figura 2.33 Elevação lateral do pavilhão BP. 110

Figura 2.34 Planta do pavilhão AP na CEAGESP. 111

Figura 2.35 Elevação do pavilhão AP. 111

Figura 2.36 Mapa da Vila Leopoldina: as estradas e a CEAGESP. 115

Figura 2.37 Comparativo da quantidade de empreendimentos residenciais. 119

Figura 2.38 Implantação da CEAGESP e a setorização por produtos na central. 121

Figura 2.39 Vista aérea da CEAGESP. 121

Figura 2.40 Máquina para triturar coco verde. 127

Figura 3.1 Maquete Eletrônica com as propostas da OUC. 131 Figura 3.2 Mapa do zoneamento do Arco Pinheiros, com a OUC proposta. 132

Figura 3.3 O perímetro do PIU e a área de influência. O zoneamento proposto. 133

Figura 3.4 Projeto de implantação do CAISP do Governo do Estado. 142

Figura 3.5 Maquete do CAISP. 143

Figura 3.6 Projeto do NESP da iniciativa privada. 146

Figura 3.7 Projeto do NESP da iniciativa privada. 146

Figura 3.8 Mapa da Região Metropolitana de São Paulo. 147

Figura 3.9 Produto sendo retirado no BCA por ONG cadastrada 150

Figura 3.10 A mini Central em São José do Rio Pardo. 152

Figura 3.11 O interior do Banco de Caixas. Higienização e estocagem 154

Figura 3.12 Ilustração do funcionamento do Banco de Caixas 154

Figura 3.13 Caixas de papelão utilizadas para vários produtos 156

Figura 3.14 Carregador em ação na CEAGESP 161

Figura 3.15 O tripé da sustentabilidade 163

LISTA DE TABELAS

Tabela 0.1 Crescimento populacional em São Paulo de 1950 a 1970. 17

Tabela 0.2 Exemplos de Estrutura de estudo de caso. 26

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Tabela 1.1 CEASAS construídos entre 1972 e 1974. 64

Tabela 1.2 CEASAS construídos entre 1975 a 1982 65

Tabela 1.3 Demonstração do tipo de gestão e quantidade Centrais Brasileiras 67

Tabela 1.4 Classificação das Centrais por volume comercializado em toneladas 68

Tabela 1.5 Comparativo entre a CEAGESP e mercados internacionais. 69

Tabela 1.6 Evolução das vendas na CEAGESP em cinco décadas. 77

Tabela 2.1 Composição acionária da central atacadista de Rungis. 101

Tabela 2.2 Distância entre a CEAGESP e as estradas que chegam a Capital. 113

Tabela 2.3 Crescimento da população da Região da Lapa. 118

Tabela 2.4 Volume comercializado em toneladas, na CEAGESP 119

Tabela 2.5 Evolução da Compostagem dos resíduos da CEAGESP. 126

Tabela 3.1 Projeção de vendas da CEAGESP para os próximos 35 anos. 137

Tabela 3.2 Comparação entre Receitas e Despesas Gerais e o seu resultado 139

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1.1 Arrecadação por mercado em Pesetas, 1902. 52

Gráfico 2.1 Média das vendas por varejo e por atacado. República Dominicana. 90

Gráfico 2.2 Percentuais dos materiais recicláveis no mercado de Barcelona. 99

Gráfico 2.3 Tratamento de resíduos em Rungis, Paris. 102

LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS

ABRACEN Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento

AMAB Actas Municipales del Ayuntamento de Barcelona.

AP Armazém do Produtor

APEX Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos

BCA Banco CEAGESP de Alimentos

BGM Berliner Großmarkt GmbH

BP Boxe do Produtor

CAAB Centro Agro Alimentare Bologna

CEAGESP Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo

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CEASA Centro Estadual de Abastecimento Sociedade Anônima

CENESA Centrais de Abastecimento do Nordeste S/A

COBAL Companhia Brasileira de Alimentos

CODERP Companhia de Desenvolvimento de Ribeirão Preto

CODSU Coordenadoria de Sustentabilidade

COMPHAP Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural, Artístico e Paisagístico de Mogi das Cruzes

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

CONDEPHAAT Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo

COSAN Coordenadoria de Segurança Alimentar e Nutricional

CUC Pesos Cubanos Convertibles

CUP Pesos Cubanos

ETSP Entreposto Terminal São Paulo

FAO Food and Agriculture organization of the United Nations

FEPASA Ferrovia Paulista Sociedade Anônima

FFMIN Fédération Française des Marchés d'Intérêt National

FLV Frutas, Legumes e Verduras

GmbH Gesellschaft mit beschränkter Haftung

IACSI Instituto Agrícola Catalão de São Isidro

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MARL Mercado Abastecedor da Região de Lisboa

MFE Mercado de Frutas Estacionais

MERCABARNA Mercado de Barcelona

MERCAMADRI Mercado de Madri

MERCAMURCIA Mercado de Murcia

MERCANORTE Mercados do Norte

MERCASA Mercados Centrales de Abastecimiento S.A.

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MERCAVALENCIA Mercado de Valência

MINAG Ministério de la Agricultura de Cuba

MIP Manifestação de Interesse Privado

MLP Mercado Livre do Produtor

OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

OUC Operação Urbana Consorciada

PIU Programa de Intervenção Urbana

PMSP Prefeitura do Município de São Paulo

PND Plano Nacional de Desenvolvimento

PROHORT Programa Brasileiro de Modernização do Mercado Hortigranjeiro.

PURA Programa de Uso Racional da Água

PURE Programa de Uso Racional da Energia Elétrica

SABESP Companhia do Saneamento Básico do Estado de São Paulo

SEMMARIS Société d'Économie Mixte du Marché de Rungis

SEPI Sociedad Estatal de Participaciones Industriales

SINAC Sistema Nacional das Centrais de Abastecimento

SMDTE Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo

SMDU Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano

SOGEMI-SPA Societá per l'Impianto e l'Esercizio dei Mercati Annonari all'Ingrosso di Milano – Societá per Azioni

SVMA Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo

UMC Universidade de Mogi das Cruzes

WUWM World Union of Wholesale Markets

ZEIS Zona Especial de Interesse Social

ZEM Zonas Eixo de Estruturação da Transformação Metropolitana

ZEMP Zonas Eixo de Estruturação da Transformação Metropolitana Previsto

ZM Zonas Mistas

ZOE Zona Especial

ZPI Zona Predominantemente Industrial

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SUMÁRIO

RESUMO

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

LISTA DE GRÁFICOS

LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS

INTRODUÇÃO 15 1 HISTÓRICO 27

1.1 O protagonismo europeu e o abastecimento alimentar no Brasil 30

Modelos seguidos

1.2 O protagonismo Paulista e Paulistano. 58 Modelos implantados

1.3 Ações Sustentáveis esparsas. 79 2. AS CENTRAIS DE ABASTECIMENTO E A QUESTÃO URBANA 80

2.1 Experiências relevantes – Nacionais 80

2.2 Experiências relevantes – Internacionais 83

2.3 O Projeto das Centrais: diagnóstico e problematização 106

2.4 A CEAGESP e a Vila Leopoldina – Operação Urbana. 112

2.5 A Sustentabilidade possível. 124 3. A COMPLEXIDADE DA CENTRAL DE ABASTECIMENTO 129

3.1 O Plano de Intervenção Urbana proposto – PIU. 129

3.2 Viabilidade Técnica e Econômica. 135

3.3 A nova CEAGESP: parâmetros e diretrizes. 140

3.4 A Sustentabilidade como Meta. A Central de Abastecimento 148 Alimentar como geradora de Oportunidades

3.5 Logística e Movimentação inibindo a Poluição Ambiental. 161 CONSIDERAÇÕES FINAIS 166 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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INTRODUÇÃO

O termo Central de abastecimento, refere-se a um equipamento urbano que

comercializa produtos hortifrutigranjeiros em larga escala, valendo-se, portanto,

do modelo específico de vendas por atacado. Nestas centrais, em raros casos,

ocorrem vendas a varejo, direto ao consumidor. (CONAB1, 2013, s.p.). Nas Centrais

brasileiras, em geral, acontecem os “varejões” aos finais de semana.

As Centrais, em alguns textos, ou mesmo entre seus dirigentes, são tratadas

pelo nome de “Mercado” e embora este nome esteja ligado a equipamentos de

comércio varejista no Brasil, em inglês é muito utilizado, com a distinção entre

Mercado atacadista (Wholesale Market) e Mercado varejista (Retail Market) e em

Portugal a Central atacadista de Lisboa é conhecida pelo nome de “Mercado

Abastecedor da Região de Lisboa – MARL”.

A sigla mais utilizada no Brasil para definir estes equipamentos deriva dos

termos: “Centro Estadual de Abastecimento Sociedade Anônima – CEASA”,

embora a maior Central Brasileira seja Federal: a “Companhia de Entrepostos e

Armazéns Gerais do Estado de São Paulo, a CEAGESP” e a maior Central do

interior do Estado de São Paulo seja municipal, a “CEASA Campinas”.

A CEAGESP possui 13 unidades no Estado de São Paulo e todas são chamadas

de Entrepostos, incluindo o da Capital que é conhecido como Entreposto

Terminal de São Paulo - ETSP e o projeto de mudança da Central da Vila

Leopoldina que se encontra em estágio mais avançado de negociação tem o

nome de Novo Entreposto de São Paulo – NESP.

Várias nomenclaturas são admitidas, porém, neste trabalho, mantivemos

prioritariamente os termos “Central de abastecimento” ou simplesmente “Central”

ou “Centrais”, para melhor clareza.

Nos países europeus, a partir do final dos anos 1950, as Centrais de

abastecimento alimentar passaram a ter o formato atual de grandes plantas para

comercialização no atacado, como resposta ao constante aumento de

1 Companhia Nacional de Abastecimento, ligada ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA do Governo Federal.

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concentração populacional e o consequente crescimento do consumo de

mercadorias pelos habitantes dos grandes centros urbanos. (GREEN, 2003).

Neste trabalho estudaremos, com foco na sustentabilidade ambiental, social e

econômica, o desenvolvimento do tema do abastecimento em São Paulo e as

origens do conceito do mercado atacadista, com os primórdios das Centrais no

continente Europeu onde a França e posteriormente a Espanha passaram por

experiências tão significativas que se espalharam pelo mundo influenciando a

construção de espaços de comercialização de alimentos em todos os

continentes.

Mercados estabelecidos nestes países desde a idade média (em sua maioria,

descobertos), propiciaram o surgimento de novas centralidades em cidades que

estavam em formação, estimulando o seu crescimento. Com o advento destes

equipamentos, os quais a partir do século XIX passam a ter dimensões e

quantidades de mercadorias comercializadas expressivas, percebe-se na

sociedade, a necessidade de se iniciar a discussão de questões urbanísticas,

que deem conta da circulação dos alimentos, com o cumprimento de exigências

sanitárias e de qualidade, abre-se o caminho para a criação de redes de

mercados como veremos que ocorreu em Paris e Barcelona. (GUÀRDIA e OYÓN,

2010).

OBJETO - O abastecimento no Brasil e em São Paulo

Em solo brasileiro, no final dos anos 1950 e durante os anos 1960, a

industrialização ocorrida nos grandes centros urbanos fez com que se

intensificasse a migração interna, o que contribuiu para o aumento da população

destas cidades de maneira rápida, segundo o censo demográfico do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

Na cidade de São Paulo, verificou-se que a população praticamente triplicou em

20 anos, à época, conforme observa-se na Tabela 0.1.

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Tabela 0.1 - Crescimento populacional em São Paulo-SP de 1950 a 1970. Elaborada pelo autor, a partir de: IBGE – Censos Demográficos: 1950, 1960 e 1970, [2011?].

Ano População % ano anterior % acumulado

1950 2.151.313 0 0

1960 3.667.899 70,50 70,50

1970 5.924.615 61,53 175,40

Fenômeno similar ocorreu no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto

Alegre e Recife2, para citar alguns exemplos.

Com este quadro de crescimento populacional nos meios urbanos, percebeu-se

a necessidade de se organizar o sistema de abastecimento até então baseado

em pequenos mercados varejistas/atacadistas centrais ou de bairros3, e em

feiras livres ou mercados a céu aberto, surgindo as iniciativas para que

acompanhássemos a tendência mundial, que indicava a necessidade de uma

maior concentração de itens do gênero alimentício em um mesmo local como

solução para a citada desorganização do setor. (MOURÃO e MAGALHÃES, 2011).

No final da década de 1960, o Governo Federal identificou um

grande estrangulamento no sistema de comercialização de

hortigranjeiros. Era uma atividade praticamente marginal. Tão

marginal que a comercialização se dava na rua literalmente.

(MOURÃO e MAGALHÃES, 2011, p. 17).

Por um lado, com a intenção de exercer um efetivo controle de qualidade e, por

outro, com a necessidade de determinar os critérios para a formação de preços

de produtos, surgiram no país duas grandes centrais atacadistas: no Recife o

Centro Estadual de Abastecimento Sociedade Anônima de Pernambuco

(CEASA – PE) em 1962 e em São Paulo a Companhia de Entrepostos e

Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) em 1969, que visavam atender ao

2 A população de Belo horizonte triplicou no período. Recife e as grandes capitais nordestinas seguiram a mesma tendência de crescimento. (IBGE, [2011?], s.p.). 3 O nome “mercado” pode ser aplicado tanto para mercados varejistas quanto para atacadistas. Já o nome “central de abastecimento” é utilizado para distinguir os espaços destinados a concentrar um volume maior de mercadorias que serão vendidas preferencialmente no atacado. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB, 2013, são consideradas como “grandes centrais de abastecimento” as de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná que comercializam mais de 1 milhão de toneladas por ano de produtos cada. As outras centrais não chegam a 1 milhão de toneladas por ano. O mercado municipal de São Paulo, um dos maiores varejistas do país, comercializa cerca de 360 mil toneladas por ano, segundo informações do “Portal do Mercadão”, 2016.

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aumento de demanda por produtos frescos do ramo hortifrutigranjeiro. Ambas se

tornaram referências para estruturar o abastecimento alimentar no Brasil.

Ambas seguiram exemplos de redes de mercados em adiantado processo de

implantação e funcionamento na Europa, sendo que seus primeiros estudos

foram desenvolvidos por técnicos daquele continente trazidos ao país com a

finalidade específica de orientar a implantação e a operação destas Centrais, as

quais foram instaladas em locais afastados dos centros das duas cidades, em

uma perspectiva de que a evolução da indústria automobilística, naquele

momento, facilitaria o deslocamento de seus operadores e compradores. Assim,

o CEASA-PE foi instalada no bairro do Curado em Recife (11 km do centro) e a

CEAGESP na Vila Leopoldina em São Paulo (22 km do centro), visando causar

o menor impacto possível na vida das cidades. (MOURÃO, 2007).

Os dois projetos, inspirados em modelos europeus, foram adaptados à realidade

local de cada centro urbano onde foram inseridos. Esta adaptação, que tem

maior expressão nos edifícios da Centrais, apresentou algumas diferenças na

distribuição dos boxes pelos pavilhões, todos voltados para as plataformas

laterais externas, onde todas as atividades ocorrem simultaneamente, um de

seus principais problemas. Sendo assim, em termos de especificidades

arquitetônicas dos edifícios, as Centrais brasileiras, desde sua origem,

apresentaram problemas de desenho de seus pavilhões. A implantação destes

pavilhões na área das Centrais, em pouco tempo, já apresentaria problemas de

logística, de fluxos internos de produtos e de circulação de pessoas, os quais

prejudicaram a boa operacionalidade das mesmas. O agravamento destes

problemas, com o passar do tempo, contribuiu para o aumento do desperdício

de mercadorias. (ZEITUNE, 2011)

Além das perdas que muito desestimulavam o produtor, havia

também problemas relacionados ao lixo produzido e à

necessidade de alterações no trânsito das imediações de onde

ocorria a distribuição de alimentos. Devido a isso, com apoio de

organismos internacionais, como o Órgão das Nações Unidas

para a Agricultura e Alimentação (FAO), o Governo buscou a

resolução do problema. Além disso, buscou também a ajuda de

outros países que já tinham experiência em técnicas de

planejamento, construção e operação de mercados atacadistas

(LUCCI, 2013, s. p.).

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As Centrais atacadistas são uma grande fonte de estudos para a questão

ambiental por serem polos geradores de tráfego de veículos, grandes geradoras

de resíduos sólidos, tendo, portanto, um enorme potencial para propostas e

soluções criativas neste campo (PEREIRA, 2011). Elaboramos nosso estudo a partir

do exemplo da CEAGESP em São Paulo na intenção de mostrar que cinquenta

anos depois o modelo adotado precisa ser revisado em face dos desafios que

se apresentaram às Centrais atacadistas tornando o seu projeto antiquado,

revelando inconformidades de implantação e de projeto dos edifícios, antes não

percebidas.

O setor necessita que se retome a discussão de conceitos importantes voltados

à infraestrutura física e à interação urbanística das Centrais de abastecimento

alimentar metropolitanas, que as devolva à condição de espaços ideais para a

distribuição de alimentos com segurança e para a definição do valor justo dos

produtos, mas que leve em conta o seu redesenho a partir da inclusão nesta

discussão de pontos que apresentem novas diretrizes ao projeto arquitetônico e

a sua inserção no território urbano, de tal modo que seja um instrumento que

alavanque a viabilidade econômica das Centrais de abastecimento e possibilite

que estes atendam aos novos princípios de sustentabilidade socioambiental e

às exigências de acessibilidade e logística.

A desarticulação e desorganização das ações nas Centrais resultou em um

enfraquecimento deste modelo de comercialização que tornou-se antiquado e

que atualmente encontra inúmeras dificuldades e resistências para se

modernizar e a cada ano torna-se mais defasado em relação às grandes redes

de comércio varejista (supermercados) ou mesmo de atacadistas privados.

Essas redes, ao perceberem a abertura de um flanco de oportunidades, iniciaram

um processo de negociação direta com fornecedores, oferecendo modernas e

melhores condições de trabalho, carga e descarga, melhores acessos, horários

mais flexíveis, causando grande queda no volume de vendas em todos os

setores das Centrais, tonando-se o seu mais forte concorrente e em muitos

casos diminuindo a hegemonia das Centrais públicas como articuladoras das

relações entre o produtor e o consumidor final. (GREEN, 2003).

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Para ZEITUNE (2011, p. 11):

Na maioria dos mercados brasileiros, o conceito usual de gestão

se mantém na esfera operacional, muito longe de uma gestão

voltada para as estruturas de base logística, ambiental e de

segurança alimentar, como ocorre nos principais mercados do

mundo.(...) Assim, o novo papel a ser exercido pelas CEASAS

transcende sua esfera geográfica e deverá estar direcionado,

além da sua competência institucional, para o exercício de sua

capacidade de interagir e formalizar parcerias com todos os

setores que compõem a estrutura do agronegócio de frutas e

hortaliças frescas através do desempenho de um papel articulado

entre as demandas e expectativas apresentadas pelo sistema de

distribuição final.

Para melhorar a sua organização (comparação em nível mundial) e para retomar

o papel de articulador da cadeia de distribuição de alimentos (no Brasil) de

maneira contemporânea, as Centrais de abastecimento, em geral, necessitam

de uma releitura conceitual, que se por um lado pode extrapolar a questão

geográfica, não deve, por outro, através de seus gestores, ignorar que possui a

obrigação de favorecer, a partir de seus novos edifícios e de sua nova

implantação, a segurança dos alimentos, a manipulação de produtos para

agregar valor a estes, a sua circulação operacional interna, a logística de sua

distribuição, o manejo correto de resíduos, a construção de edifícios inteligentes

que propiciem economia de energia e de recursos hídricos. O projeto

arquitetônico e urbanístico de uma Central precisa refletir estes conceitos,

assimilando a evolução tecnológica de manejo e conservação de alimentos e de

circulação de mercadorias, bem como aspectos sociais e ambientais.

Desenvolveremos neste trabalho uma abordagem histórica do tema do

abastecimento alimentar, seguida pela discussão da questão urbana e ambiental

atuais e buscaremos atingir com nossa pesquisa a proposição de um novo

desenho do espaço ocupado por uma Central atacadista de grande porte e de

como os diversos agentes nela se relacionam. Restabelecer a importância desta

nas suas funções primordiais, o abastecimento urbano com qualidade e

segurança e a formação e controle de preços, qualificando este espaço como

um sinônimo de urbanidade onde a sustentabilidade, o seu alcance social e o

bem estar do usuário, a acessibilidade, o tratamento adequado e correto de

resíduos e efluentes, com logística reversa das embalagens sejam um novo

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marco que regule estas relações entre as Centrais e seu público interno e

externo. Esta proposta de apontar diretrizes para um redesenho das Centrais

inclui a discussão de transformá-las em órgãos geradores de receitas que

possibilitariam a sua sustentação econômica, e modernização para enfrentar em

melhores condições a concorrência externa e em constante evolução de novas

formas de comercialização, como ocorreu na França e na Espanha, nas Centrais

atacadistas de Rungis e Mercabarna, onde dentre outros fatores, a gestão é feita

por uma sociedade mista, com participação minoritária, da iniciativa privada

(França) ou pela união da administração pública direta com a indireta (Espanha),

o que possibilitou avanços importantes às Centrais.

Após um período de crises e de reorganização comercial, os

mercados atacadistas seguem vigentes e ativos. Na França, onde

a distribuição moderna está fortemente implantada, a parte de

produtos hortifrutícolas que passa pelos mercados atacadistas

representa cerca de 45 % dos volumes totais das vendas. Os

dados já citados do MercaBarcelona mostram forte evolução no

tipo de clientes e também demonstram um acréscimo no volume

total operado. Assim, conclui-se que se as respostas são

adequadas, os resultados são bons”. (GREEN, 2003, p. 36. Tradução

nossa).

Novamente a Europa, com seu protagonismo, iniciou o processo de recuperação

das Centrais de abastecimento, há mais de vinte anos, e estas voltaram a ter

destaque no setor de alimentos frescos. Reavaliar as Centrais em todos os seus

aspectos faz-se necessário para chegarmos às propostas de diretrizes de

planejamento e projeto que pretendemos, de uma Central contemporânea e

sustentável para São Paulo.

JUSTIFICATIVA

A partir da promulgação da Emenda Constitucional nº 64/2010 o artigo 6º da

Constituição Federal passou a ter a seguinte redação:

Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,

o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social,

a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos

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desamparados, na forma desta Constituição. (Diário Oficial da União

- DOU 04/02/2010).

Com a inclusão da alimentação como um direito fundamental do cidadão

brasileiro e, portanto, um dever do Estado, as centrais de abastecimento passam

a ter novas demandas, voltadas para a promoção de políticas públicas de

combate à fome e outras como de redução de desperdício de alimentos, devendo

incorporar ao seu dia a dia, ações que apontem nessas direções.

No mesmo ano com a instauração da lei nº 12.305/2010, que instituiu a Política

Nacional de Resíduos Sólidos, as Centrais, por suas características de grandes

geradoras de resíduos orgânicos, passaram a ter novos desafios neste campo,

devendo fazer adaptações, correções de procedimentos e implantação de

programas que buscassem o atendimento das novas exigências legais.

Discutir um projeto que atenda satisfatoriamente a estas demandas e amplie o

patamar de qualidade operacional das centrais atacadistas no campo social e

ambiental, com possibilidades de geração de receitas que o tornem

economicamente sustentável é o que nos move e justifica este trabalho de

pesquisa, pois as demandas apresentadas a estes espaços públicos se

ampliaram ao longo dos anos e a sua atualização faz-se extremamente

necessária.

QUESTÃO CENTRAL DA PESQUISA. PROBLEMATIZAÇÃO.

O projeto arquitetônico, por si só, ou mesmo a sua discussão ou a formulação

de diretrizes não promove mudanças políticas ou de comportamento coletivo,

porém, pode ser um dos eixos indutores, quando adequado, da necessidade de

promoção destas mudanças.

Esta pesquisa percorrerá uma trajetória de proposição e de questionamento ao

que já foi produzido sobre o objeto em questão em nosso país, o qual abriga hoje

setenta e duas Centrais atacadistas de diversas dimensões e complexidades.

(CONAB, 2013).

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Trata-se de um trabalho com um viés inovador em território nacional, pois

pretende desenvolver uma visão inédita de ocupação e de funcionamento

operacional de uma central, não do ponto de vista utilitário, mas principalmente

da eficiência e desenvolvimento de relações, com conceitos de urbanidade, os

quais buscarão a sensibilização dos dirigentes das centrais existentes e sua

entidade nacional, a Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento -

ABRACEN, para a necessidade de se discutir a sua complexidade. Para tanto

será necessário que coloquemos em discussão:

a) A necessidade de existir apenas uma única Central de abastecimento, por

região, como premissa para a formação de preços das mercadorias. Será

mesmo uma obrigação, uma vez que existem avanços nesta questão que

incluem o incipiente comércio eletrônico atuando neste segmento?

Acreditamos na hipótese de que a implantação de uma nova central, em uma

metrópole contemporânea, possa ser dividida em duas plantas, levando-se

em conta a proximidade desta com os eixos de chegada e de escoamento de

mercadorias e a interligação de diferentes modais de transporte;

b) Como as questões levantadas no âmbito social e ambiental seriam

determinantes na definição da implantação de uma Central e do seu projeto

arquitetônico para que o mesmo cumpra a sua função quanto ao atendimento

destas e de outras questões relevantes? Tais diretrizes interferirão de

maneira direta na configuração interna do espaço (galpões) de

comercialização dos produtos, restituindo-lhes o conceito de praça de

compra e venda, perdido nos atuais sítios e interferirão no fluxo dos edifícios,

pois partirão de uma inversão na priorização de setores com prédios que

terão funções definidas;

c) É necessária uma revisão na composição acionária das Centrais de

abastecimento uma vez que as mesmas necessitam de investimentos para

atingirem a sua sustentabilidade econômica. Para isso a presente proposta

de diretrizes deverá levar em conta, áreas ou espaços que serão destinados

a parceiros privados, seguindo-se modelos europeus, ainda que seja mantida

a predominância estatal na gestão.

Cremos que será necessário aprofundarmos o segundo item, por ser relevante

e que possivelmente trará ao presente projeto de pesquisa, um maior grau de

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problematização e de respostas que poderão refletir em mudanças de conceitos

e de paradigmas atualmente em uso, porém, notadamente ultrapassados.

OBJETIVOS

O objetivo principal deste trabalho é propor diretrizes para a formulação de um

projeto contemporâneo de uma Central de abastecimento de grande porte que

responda às novas exigências do abastecimento alimentar nas metrópoles

brasileiras.

O objetivo secundário é demonstrar, por meio da sistematização das

informações de fontes primárias e secundárias e da prática profissional, que

essas diretrizes projetuais apontarão para soluções e conceitos modernos nos

campos de circulação e logística, de redução de desperdício, reciclagem de

resíduos e recuperação energética, segurança alimentar e vigilância sanitária,

higienização de embalagens e otimização de fluxos, inclusão social e

acessibilidade e tecnologia operacional. Para isso será necessário um minucioso

planejamento urbanístico em uma área de no mínimo dois milhões de metros

quadrados (dimensionada para uma metrópole), que possua uma distribuição de

atividades setorizadas coerentemente e hierarquizadas por grau de importância,

buscando a unificação de modais de transportes que facilitem o manejo de

cargas.

Todos estes elementos serão necessários para a proposição pretendida que

estudará uma alternativa de implantação de uma nova Central atacadista para a

cidade de São Paulo, a qual possui, atualmente, a segunda maior Central

atacadista do mundo localizada em uma área adensada (Vila Leopoldina – São

Paulo), com setenta hectares de área de terreno, causando transtornos enormes

à sua vizinhança e constantes insatisfações aos seus usuários que diariamente

se confrontam com toda ordem de dificuldades e problemas. (CEAGESP, 2010).

Nossa pesquisa consistirá em discutir essa problemática visível, interpretar seus

aspectos não tão visíveis, rever a dinâmica de relacionamento entre seus

diversos públicos através da remodelação da ocupação dos espaços das

Centrais e propor uma nova implantação para este complexo que contemple a

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sua sustentabilidade econômica, social e ambiental, pensando a CEAGESP do

futuro.

MÉTODO

Abordaremos a questão a partir de nossa experiência adquirida em sete anos de

prestação de serviços na CEAGESP, a maior Central atacadista do Brasil e uma

das maiores do mundo em volume de alimentos comercializados, produzindo um

diagnóstico da atual situação desta Central que servirá de base para novos

questionamentos e respostas para o desenvolvimento da presente pesquisa.

Esta experiência, o conhecimento adquirido em levantamentos em campo em

outras Centrais brasileiras, o relacionamento com dirigentes de Centrais de

vários países, através da participação em congressos da União Mundial dos

Mercados Atacadistas – WUWM (sigla em inglês), a visita a Centrais europeias

e da América do Sul, a nossa participação em proposições de melhorias em

mercados públicos e feiras em Havana, Cuba e a nossa participação na definição

de diretrizes de desenvolvimento de um mercado atacadista na República

Dominicana, na América Central compõem a parte imaterial, porém fundamental

que nos motivou a elaborar este trabalho sobre o tema proposto.

A isto somaremos a pesquisa em todas as áreas pertinentes como bibliografia

disponível, pesquisar a maior Central atacadista do mundo, na província de

Henan, na China e a Central de Paris, considerado como a Central que mais

investiu em sua modernização, e a partir dos dados obtidos produzir uma análise

crítica, comparando-as com a Central paulistana e com o que entendemos ser

hoje uma Central contemporânea, incluindo nesta análise a sua inserção no

tecido urbano, a sustentabilidade, a acessibilidade e a responsabilidade

socioambiental.

Conduzimos a presente dissertação dentro de duas estruturas composicionais

de estudo de caso: a Estrutura Analítica Linear e a Comparativa (Tabela 0.2) que

na visão de YIN (2015) direcionam o estudo de caso para as seguintes

finalidades:

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Tabela 0.2 - Exemplos de Estruturas de Estudo de Caso. Elaborada pelo autor, a partir de dados de: YIN, 2015, p. 191.

Explicativa Descritiva Exploratória

Analítica linear sim sim sim

Comparativa sim sim sim

Tipo de Estrutura

Composicional

Finalidade do Estudo de Caso

Em ambas as estruturas utilizamos uma narrativa explicativa e descritiva, porém

em alguns tópicos, nos valemos da narrativa exploratória, no tocante às

propostas de implantar uma nova Central. Em outros momentos da dissertação

nos utilizamos de uma terceira estrutura que vem a ser a cronológica.

Esta é a base metodológica adotada em nossa pesquisa, para um melhor

entendimento das proposições de parâmetros e diretrizes, para definição de um

projeto tecnicamente adequado, atendendo à legislação pertinente ao tema

alimentação, bem como a toda normatização técnica específica criada no âmbito

de uma Central de abastecimento, visando à obtenção de um novo desenho para

estes equipamentos urbanos que impacte positivamente os seus resultados.

Com esta visão histórica, permeada pela questão urbana e ambiental é que

apresentamos o presente trabalho que busca, através da proposição de

diretrizes para o espaço ocupado por uma Central de abastecimento e de como

os diversos agentes se relacionam com a mesma, restabelecer a importância

destas nas suas funções primordiais, o abastecimento alimentar com qualidade

e segurança e a formação e controle de preços, qualificando este espaço como

um sinônimo de urbanidade onde a sustentabilidade, o seu alcance social e o

bem estar do usuário, a acessibilidade, o tratamento adequado e correto de

resíduos e efluentes, com logística reversa das embalagens sejam um novo

marco que regule estas relações entre as Centrais e seu público interno e

externo. Esta proposta de apontar diretrizes para um redesenho das Centrais

inclui a discussão de transformar tais equipamentos em órgãos geradores de

receitas que possibilitariam a sua sustentação econômica, fator este que nos

levaria a rever a condição exclusiva de agente púbico, baseados em

experiências adquiridas em visitas a mercados em outros países.

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CAPÍTULO 1. HISTÓRICO.

Neste primeiro capítulo demonstramos o percurso do tema relacionado às

Centrais de abastecimento alimentar e sua relação com a organização espacial

de cidades. Nos valemos de pesquisas sobre o desenvolvimento de redes de

mercados em cidades europeias e a sua evolução arquitetônica e espacial,

primeiramente ocupando livremente as ruas ou espaços específicos (praças ou

logradouros mais largos), posteriormente suplantados pelo surgimento de

mercados cobertos na metade do século XVIII, com o surgimento de novas

técnicas construtivas. O fenômeno é observado concomitantemente em diversos

países e cidades do continente europeu.

Estes mercados, cujas dimensões variavam de acordo com o plano estabelecido

podiam ser Centrais ou de bairros, eram em sua grande maioria do setor varejista

e não do setor atacadista, porém, é necessário estuda-los para chegarmos à

compreensão de nosso tema de dissertação, uma vez que os mercados

atacadistas de grandes proporções vem sendo “desenhados” desde estes

remotos tempos, na Europa, onde, em muitos casos, a preocupação com um

atendimento à uma área geográfica mais abrangente, com um público mais

concentrado e amplo já era notada.

No Brasil ocorreu, uma concentração de esforços e iniciativas de produtores,

comerciantes de alimentos, autoridades estaduais e municipais no sentido de

desenvolver plataformas de comercialização de produtos para o varejo, com

forte tendência e vocação para o comércio atacadista, nos centros urbanizados,

com duas décadas de defasagem, em relação à Europa.

Nesta primeira fase de análise histórica detectamos o protagonismo e a

influência da experiência europeia na busca de empregar melhores métodos

construtivos visando à excelência nas soluções projetuais e espaciais, quesitos

em que o mercado de Londres (Figura 1.1) é referência. Havia preocupações

com a localização e concentração de mercados em uma mesma cidade já

anunciando os rudimentos das modernas soluções que apareceriam, mais tarde,

nos ramos da distribuição e logística.

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O propósito dos mercados públicos havia sido, desde a Idade

Média, facilitar o acesso aos alimentos procedentes do campo.

Estes aconteciam em momentos e lugares predeterminados das

cidades. Normalmente utilizavam-se de mercados ao ar livre,

ainda que, as vezes, usavam de pequenas tendas ou edificações

semicobertas para a venda de alguns produtos perecíveis como

ovos ou manteiga. Em algumas ocasiões, as autoridades locais

controlavam a qualidade e os preços de alguns produtos. Não se

faziam grandes distinções entre a venda por atacado ou por

varejo; apenas se garantia o acesso de todos aos produtos, o que

implicava exercer certo controle sobre os especuladores e os

intermediários [...]. (SCHMIECHEN, 2010, p. 75. Tradução nossa).

Figura 1.1 - Mercado de Covent Garden – Londres inaugurado em 1828. Fonte: Visit London, 2015, s.p.

Mas, será no final do século XIX e início do XX que este acúmulo de experiências

desempenhará um papel fundamental no desenvolvimento do setor em todo o

mundo, quando devido: às novas exigências das populações cada vez mais

concentradas; à melhoria de produtividade no campo; às necessidades de

escoamento das mercadorias, por parte dos produtores e outras questões como

a formação de preços de produtos, sua qualidade e a higiene dos locais, foi que

o protagonismo Europeu se fez presente em vários países e passou a influenciar

também países do novo mundo em processo de industrialização e com

metrópoles em formação, chegando ao Brasil que por mais de uma ocasião

recebeu técnicos e projetos provenientes do continente europeu. Entendemos

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que se, no passado, os mercados de abastecimento foram fundamentais para a

formação de novas centralidades nas cidades, atualmente, deixaram de ter a

mesma importância, ainda que tenham experimentado um aumento de

complexidade como equipamento urbano de grande porte entrelaçado pelo

desenvolvimento das cidades pós industrialização.

Os mercados e as Centrais ainda desempenham um papel relevante no contexto

das cidades, porém, com menor força, mas não deixam de apresentar desafios

novos ao tecido urbano em que está inserido e a seus governantes.

Neste capítulo também nos referimos ao que chamamos de protagonismo

paulista e paulistano, demonstrando como o fenômeno do abastecimento foi se

estruturando de forma definitiva ao longo do século XX, tendo, porém, partido de

iniciativas e núcleos comerciais do século XIX, na região central da Capital e em

algumas regiões do Estado de São Paulo, como Jaú no interior, cujo mercado

municipal é retratado na figura 1.2.

Figura 1.2 - Mercado Municipal Seiko Onozaki Kataoka, Jaú – SP, inaugurado em 1899. Fonte: Jornal Comércio de Jahu, 2016, s.p.

O mercado em Jaú é resultado do desenvolvimento da cidade e região,

observados a partir da chegada da linha férrea ao município entre os anos de

1871 e 1880. (MATOS, 1990).

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Com o estudo da experiência europeia, trazida ao Brasil através de consultorias

especializadas de técnicos franceses e espanhóis, até os dias atuais,

verificamos a importância destes equipamentos no cotidiano de uma cidade e

mais ainda o quanto se tornam estratégicos quando se trata de grandes

equipamentos que abastecem metrópoles como é o caso do Município de São

Paulo. Porém, no caso brasileiro a escassez de recursos que ocasiona a falta de

investimentos no setor, retarda, a princípio, o processo de desenvolvimento das

Centrais e no momento seguinte retarda também a modernização dos mesmos,

ainda que estes apresentem um constante incremento nas vendas ano após ano.

A relevância do presente trabalho consiste na indicação de que a Central de

Abastecimento, uma vez transformada em um modelo de negócio sustentável, a

partir da concepção de sua implantação até a sua localização em relação ao

espaço urbano, que leve em conta questões ambientais e que gere

oportunidades socioeconômicas, tem plenas condições de viabilidade

integrando-se a estes fatos, o redesenho das praças de comercialização.

1.1 O protagonismo europeu e o abastecimento alimentar no Brasil.

Modelos seguidos.

França

No livro Hacer ciudad a través de los mercados, os autores Manuel Guàrdia e

José Luis Oyón, (2010), estudam o desenvolvimento de mercados varejistas

centrais e de bairros em diversas cidades da Europa ao longo dos séculos XIX

e XX e defendem que estes influenciaram o desenvolvimento urbano. Fazem,

constantemente digressões ao período medieval, citando iniciativas de criação

de centros de vendas a partir do século XII e outros anteriores ao período

estudado na obra em referência. Descrevem ocorrências de mercados (como

núcleos urbanos) em vários países europeus, os quais com maior ou menor

velocidade formaram suas malhas comerciais de varejo e demonstram com

grande riqueza de detalhes e exemplos o quanto este desenvolvimento nuclear

foi mais acelerado primeiramente na França e na Inglaterra e posteriormente na

Espanha, após a diminuição do ritmo de expansão de mercados na Inglaterra.

Na Espanha se desenvolve uma sólida rede de mercados que em pouco tempo

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passa a dividir com a França o papel de difusora de equipamentos voltados ao

abastecimento alimentar, com a criação de mercados urbanos para vendas

diretas aos consumidores.

Nos exemplos citados destes países vê-se que desde o século XVIII existe um

forte empenho, por parte de autoridades em criar e fixar mercados para organizar

as questões do abastecimento das populações das cidades e ao mesmo tempo

para criar novas centralidades nos municípios com a expansão destes mercados

para vários bairros, antecipando-se de maneira vanguardista em soluções

construtivas, de higiene e saneamento, bem como de distribuição.

Porém, para contarmos a história dos mercados de abastecimento, de maneira

abrangente é necessária uma introdução que passe obrigatoriamente por Paris,

onde os primeiros registros do mercado de Les Halles, são do século XII.

A história dos mercados cobertos de Paris se remonta ao início da

Idade Média, porém, se vê profundamente marcada pela

construção do célebre complexo de pavilhões metálicos erigidos

em pleno século XIX conhecido como Les Halles de Paris.

Recorrendo a esta história ao longo de seus dez séculos,

observamos dois recursos que se sobressaem: em primeiro lugar,

a estreita relação que mantém o sistema de mercados com a

centralidade da cidade e o papel estruturante que estes

desempenharam na escala de Paris e de seus bairros; e em

segundo lugar, a definição de uma tipologia original que surge da

reinterpretação dos modelos clássicos, porém, que integra as

novas tecnologias da Revolução Industrial. O êxito da tipologia

definida por Les Halles de Paris foi considerável, posto que foram

contados várias centenas de mercados cobertos metálicos

construídos na França, além de um expressivo número de

mercados em outros países, inspirados pelo modelo parisiense. (LEMOINE, 2010, P. 141. Tradução nossa).

BAILLY e LAURENT, 2010 ressaltam o quanto as cidades tratavam (e tratam)

de atrair aos produtores de hortaliças, legumes e gêneros de primeira

necessidade para o seu meio, abrindo espaços para que se estabelecessem em

“áreas livres, praças e campos de feiras, o quanto oferecesse a organização

urbana”. E prosseguem: “Se lhes facilitava a instalação, melhorando as

condições do exercício de sua atividade, mediante a construção de pequenos

galpões fixos ou móveis, temporários ou permanentes”. (Op.Cit, p.105. Tradução nossa).

Obviamente que para cada situação e para cada grau de evolução das relações

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entre a produção e o consumo a quantidade e dimensões das instalações

variavam e o desenvolvimento das construções e suas características

tecnológicas acompanhavam as tendências. O que nos parece evidente é que

na França primeiramente houve uma sensibilidade inigualável no tratamento

desta questão, tanto no que tangia aos avanços da produção alimentar, quanto

na questão das edificações de espaços para acomodar estas relações em

condições ideais.

Desde o mercado original, com estrutura de madeira e cobertura

de telha, até os “guarda chuvas” metálicos ou de concreto,

passando pelos “templos” de pedra, a arquitetura do comércio

sedentário tem se renovado constantemente, do mesmo modo

que tem feito o comércio. Estas construções que até datas

recentes se consideravam meros locais utilitários, tem adquirido

amiúde, expressões monumentais e representativas. (BAILLY E

LAURENT, 2010. p. 105. Tradução nossa).

Esta sensibilidade parece vir da percepção das autoridades de que o tema da

alimentação necessitava de cuidados sanitaristas e de espaços viáveis para sua

distribuição e comercialização, mas principalmente pelo entendimento de que é

um assunto vinculado à existência das pessoas, à sobrevivência das

comunidades, individual e coletivamente, envolvendo questões sanitárias e de

saúde pública. “A edificação de um mercado tem por finalidade favorecer o

comércio, oferecendo vantagens na questão de comodidade e um maior controle

das transações”. (BAILLY E LAURENT, 2010. p. 106. Tradução nossa).

No século XII, por ação do rei Luís VI o Gordo, vários espaços destinados ao

comércio de mercadorias foram construídos na França, a partir dos quais

surgiram vários municípios. “Este mesmo rei implanta em Lorris, onde tinha uma

residência, um município cuja carta de fundação (...) estabelece, dentre outras

decisões, as feiras e os mercados” (BAILLY E LAURENT, 2010, p. 109. Tradução nossa).

Modelos destes mercados, incluindo o da cidade de Lorris são demonstrados na

figura 1.3.

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Figura 1.3 - Mercado do século XII em madeira e telha. Lorris. Fonte: BAILLY e LAURENT, 2010 p. 109

Ao se referir ao pioneirismo da França na questão das construções dos

mercados de abastecimento, LEMOINE, 2010 cita que a “o bairro de Les Halles

de Paris se desenvolve a partir do ano de 1137 quando Luís VI decide criar um

mercado ao ar livre imediatamente ao oeste da muralha de Paris.

Neste pequeno núcleo criado, com o tempo, vão se agregando mercados

especializados como o de trigo, de pães, de pescados e carnes. Em continuidade

aos atos do rei Luís VI, citados acima, o rei Felipe Augusto iniciou a construção

dos primeiros mercados cobertos, tendo autorizado inclusive em 1183 a

construção de coberturas para finalidades comerciais no mesmo bairro de Les

Halles, onde séculos depois nasceria o embrião do conceito de mercados de

comercialização de alimentos em grande escala.

Durante um longo período, a arquitetura habitual dos mercados é

uma simples armação de madeira que sustenta a cobertura. A

maioria destes edifícios correspondem a um tipo comum. Se trata

de um edifício de planta alargada, com quatro fileiras de pilares

que delimitam três naves de larguras diferentes. (BAILLY e

LAURENT, 2010, p. 112. Tradução nossa)

Durante a Guerra dos Cem Anos nos séculos XIV e XV, houve uma decadência

do mercado de Les Halles que teria um novo auge em meados do século

seguinte quando foi reformado, o que “consagra o lugar Central que este

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mercado ocupa desde então dentro da cidade, como o centro de um bairro

animado e populoso” (BOUDON; CHASTE et. al., 1977, apud LEMOINE, 2010, p. 141. Tradução Nossa).

É tão significativa esta centralidade de Les Halles em Paris que mesmo com o

aumento da densidade demográfica da cidade e o surgimento de novos

mercados de bairro, se considera reconstruir o mercado principal ou ainda

deslocá-lo, prevalecendo a primeira opção com ampliação das instalações.

Se constroem pontualmente vários edifícios, sem que um

planejamento global venha a prevalecer, apesar das distintas e

ambiciosas propostas que chegaram a se efetuar como: proposta

de Germain Bofrand em 1748; La Halle au Blé, edifício circular

desenhado por Nicolas le Camus de Mézières em 1769, cujo pátio

central só viria a ser coberto em 1783; Les Innocents também de

1787 com vários postos de comércio pela praça e que substitui

um cemitério com o mesmo nome. (LEMOINE, 2010, p. 142. Tradução Nossa)

A seguir, as figuras 1.4 e 1.5 trazem ilustrações de fases anteriores a estas

descritas acima e destas expansões do mercado central de Paris com sua

diversidade arquitetônica, a figura 1.6 mostra a sua versão final (anos 1890) em

foto de 1956.

Figura 1.4- O primeiro pavilhão de pedra, conhecido como “Forte de La Halle” de 1854. Fonte: LEMOINE, 2010, p. 147

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Figura 1.5 - La Halle au Blé (cúpula em ferro de 1811). Fonte: LEMOINE, 2010, p. 143

Figura 1.6 - Les Halles, Paris, inaugurado em 1850, em foto de 1956. Fonte: Life Magazine, 2016, s.p. Fotógrafo: Thomas McAvoy

O plano inicial de construção de Les Halles foi entregue aos arquitetos Victor

Baltard e Felix Callet que conceberam um projeto com 10 pavilhões, todos de

estrutura metálica, “com pilares de dez metros de altura a cada seis metros de

distância, que suportam uma estrutura coroada por um lanternim de cristal”.

(LEMOINE, 2010, p. 147. Tradução nossa).

Nos estudos desenvolvidos pelos arquitetos já se delineavam as preocupações

com a setorização dos produtos a serem comercializados, bem como com a

fluidez destes entre os pavilhões.

Os pavilhões estão agrupados em dois grandes corpos separados

por uma grande rua norte – sul: o corpo leste, formado por seis

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pavilhões que cobrem 21.080 m² e o corpo oeste, com quatro

pavilhões que ocupam 12.400 m². Cada pavilhão está destinado

a um tipo de produto alimentar: a oeste, a carne em venda por

atacado e por varejo, a fruta e a verdura; a leste, as batatas, as

cebolas e os cogumelos e a venda ao varejo de manteiga, de ovos

e de queijo; e nos dois grandes pavilhões centrais de 2.900 m², o

pescado e a venda no atacado de manteiga, ovos e queijo. (LEMOINE, 2010, p. 147. Tradução nossa).

À configuração descrita acima que, após construída, permaneceu idêntica por

um longo período, se adicionou um setor de flores, junto à Praça dos Inocentes.

O projeto do mercado central buscava atender a todas as necessidades de

abastecimento e distribuição dos produtos levando em conta “as razões

geográficas (por exemplo, o pescado chega do norte pelas ruas Montmartre e

Montorgueil)”, mas atendia prioritariamente o peso dos costumes da época que

“perduram para além das transformações espaciais” (op. Cit. p. 148. Tradução nossa).

“Dentro de cada um dos pavilhões destinados a venda ao varejo, uma trama de

6 metros divide o espaço de venda. A dimensão das tendas assim dispostas é

variável: 2 x 2 metros em geral, 3 x 3 metros para os açougues”. (LEMOINE, 2010, p.

148. Tradução nossa).

Em meio a estes cuidados com a arquitetura e com a operação do mercado

demonstrados na descrição acima, o que fez de Les Halles de Paris o marco

principal da história dos mercados de abastecimento alimentar no mundo, os

arquitetos iniciaram a construção pelo extremo leste da área com dois pavilhões,

inaugurados em outubro de 1857, número este elevado para seis pavilhões em

dois anos, sendo que em um deles, Baltard, “propõe alojar as aves de curral para

venda no atacado, o viveiro de ostras, os artigos de casa e os tecidos” (tradução

nossa), segundo Guàrdia e Oyon (Op. Cit.), o que sugere que os arquitetos

acompanharam, revisaram e adaptaram o plano inicial, por eles previsto. Com

esta conformação a superfície ocupada por Les Halles chega a 9.080 m², mas

os pavilhões não são totalmente implantados devido a diversos problemas com

as desapropriações das construções do entorno.

Com isso, em 1859 “se edita um novo plano de conjunto de Les Halles e seu

entorno. Os arredores de La Halle au Blé devem renovar-se e o conjunto de

edifícios de 1769 é substituído por quatro novos pavilhões separados por amplas

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ruas”. Dois pavilhões são destinados ao comércio e dois são pensados para

atividades administrativas. “Para o restante do bairro se adotam as definições do

Plano Haussmann de 1854 e com estas configurações finais o mercado

perdurará por mais de um século”. (LEMOINE, 2010. p. 151. Tradução nossa). Como

mostra a figura 1.7.

Figura 1.7 - Plano do entorno de Les Halles com alinhamentos e vias projetadas. 1859. Em consonância com o Plano Haussmann. Fonte: LEMOINE, 2010, p. 152

Com o alargamento das avenidas de Paris, uma grande quantidade de recursos

públicos é consumida e o fato retarda a continuidade das obras, diminuindo o

ritmo da expansão do mercado. Mesmo assim em outubro de 1860 outro

pavilhão é inaugurado e se habilita a praça dos Inocentes e a região do mercado

passa a sofrer os efeitos de atração de moradores aos seus arredores, e sendo

assim já “em 1861, um conjunto de casas separa a praça dos Inocentes de Les

Halles”. (LEMOINE, 2010, p. 152. Tradução nossa).

Ao longo dos anos, outros pavilhões vão ganhando forma e espaço no complexo

comercial, sendo que “o de número 5 vem a substituir o pavilhão de pedra de

1851 (Figura 1.4), o de número 6 ocupa o local dos pilares de La Tonnellerie

destruídos em 1858” e é inaugurado em abril de 1874. (LEMOINE, 2010, p. 152. Tradução

nossa).

Les Halles - corpo leste

Igreja de Santo Eustáquio

Les Halles Au Blé

Antigo Pavilhão de pedras

Museu do Louvre

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Assim, são necessários vinte anos para terminar os dez pavilhões previstos em

1854. “A reforma da rede viária requer mais ou menos o mesmo tempo”. O custo

estimado das construções foi reduzido em um terço graças ao uso exclusivo de

estruturas metálicas. Levando-se em conta o conjunto da obra, desde as

primeiras desapropriações (realizadas em 1812) e demolições das construções

pré-existentes, os custos foram estimados pelo próprio arquiteto Baltard “em uns

35 milhões” de francos. (LEMOINE, 2010, p. 153. Tradução nossa).

LEMOINE, 2010, apresenta uma descrição do mercado cuja concepção e

construção foi um divisor de águas na história do setor, tanto do ponto de vista

da arquitetura, da engenharia e do urbanismo, por ser contemporâneo ao plano

Haussmann, quanto do ponto de vista da operação e comercialização, pois, por

todos os ângulos que possa ser analisado, por suas dimensões e importância

para a época a resposta a qualquer demanda a ser adotada, exigia grandes

estudos e planejamento até então não usuais para equipamentos desta

categoria. (Figura 1.8). A citada descrição inicia-se com um lamento dos autores,

devido a demolição do mercado em 1972.

Hoje em dia Les Halles desapareceu e desgraçadamente (sic) é

impossível observá-las in situ. Porém, um dos pavilhões (o

número 8) foi salvo e reconstruído com algumas modificações em

Nogent-sur-Marne. Por outro lado, a maquete de um pavilhão

conservada no museu de Le Vieil Argenteuil permite ter-se uma

ideia do conjunto. Também se fizeram muitas fotografias. E

finalmente, as plantas, as elevações e outros detalhes foram

publicados em distintas ocasiões: pelo próprio Baltard em uma

imponente monografia com bonitas lâminas cuidadosamente

gravadas; e distintas recopilações de arquitetura, especialmente

a editada por Narjoux; e em várias revistas de arquitetura da

época. (LEMOINE, 2010, p. 154. Tradução nossa).

O que permite, segundo o autor, que seja feita uma precisa descrição da maneira

em que foi construído o complexo de abastecimento Les Halles.

Globalmente foram utilizadas quantidades impressionantes de

material. Só para o corpo leste: 2.000.000 de ladrilhos, 600

toneladas de fundição para os porões, 200 toneladas de colunas

de fundição, 700 toneladas de ferro para a armadura, 200.000

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lâminas de persianas (...). Foi necessário fechar os poços

abandonados, as fossas sépticas, os porões duplos, os vestígios

de edifícios comerciais e as vivendas. (op. Cit. p. 154. Tradução nossa).

Figura 1.8 - Interior de Les Halles e sua grandiosidade. Fonte: LEMOINE, 2010, p. 155.

Para GUÀRDIA e OYÓN:

Se algo identificou o mundo urbano europeu a partir na Idade

Média, se algo deu sentido ao que se chamava de cidade, foi o

privilégio de existirem feiras ou mercados”. “O modesto comércio

canalizado pelos mercados locais desde os anos mil foi o que

impulsionou o grande crescimento da Europa medieval” (GUÀRDIA

E OYÓN, 2010, p.14. Tradução nossa).

A preocupação com o abastecimento alimentar urbano com a perspectiva de um

amplo atendimento da população das cidades existe há tempos e contribuiu

diretamente para a organização e desenvolvimento urbano destas, pois, os

mercados, no passado, e as Centrais de abastecimento, no presente, sempre

apresentaram questões complexas de ocupação e alteração de espaços com

transformações diretas nas regiões em que se fizeram presentes e indiretas no

cotidiano de toda a cidade.

Nos estudos realizados por Donatella Calabi em Il Mercato e la Città. Piazze,

strade, architetture d’Europa in età moderna, temos a seguinte compreensão:

Por volta dos séculos X e XI, era relativamente frequente que a

atividade de troca e de controle se estabelecesse em um posto

periférico em relação a um primeiro núcleo habitado, (próximo a

um portão de entrada, de uma via de ligação importante, ao canto

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de uma muralha ou do outro lado do rio). Com o tempo,

frequentemente, tornavam-se centrais. As áreas de colheita que

nas descrições de antigas crônicas eram consideradas marginais,

assumem, quase sempre, na idade moderna uma posição muito

mais central, graças também a uma ampliação consistente da

área edificada (em Veneza, em Paris, em Nuremberg, em Sevilha,

em Londres ...). (CALABI, 1993. p. 63. Tradução nossa).

Ao longo da história do abastecimento na Europa percebemos que houve uma

estreita relação entre os espaços voltados à comercialização de alimentos e a

formação ou expansão das cidades, novas centralidades e novos núcleos

urbanos. E nestes estudos sempre são citados os exemplos ocorridos na França

e na Espanha, que como veremos mais adiante, influenciaram diretamente a

evolução do setor em solo brasileiro. Por este motivo, neste capítulo, fazemos a

digressão necessária para resgatar esta influência e nos detivemos um pouco

mais no estudo destes dois países. E tendo já estudado a França e

especificamente o fenômeno Les Halles de Paris, passaremos agora ao estudo

da Espanha que a partir de Barcelona e Madri, desenvolveram extensas e sólidas

redes de mercados principais e de bairros, expandindo-se interna e

externamente pelo país.

Espanha

Os mercados de ferro espanhóis do século XIX constituem um

patrimônio importante que exige especial estudo e atenção, tanto

pela grande quantidade de edifícios construídos e de projetos

realizados, como por sua qualidade e diversidade arquitetônica”. (CASTAÑER, 2010. p. 233. Tradução nossa).

No mesmo período em que na França se desenvolvia uma rede de mercados de

abastecimento alimentar, na Inglaterra também se trabalhava com a mesma

ênfase, enquanto se tratou da ocupação de espaços abertos, ruas e praças ou

pequenos galpões. Com o advento das construções de mercados em ferro por

toda a Europa, a França manteve seu ritmo acelerado na expansão da

quantidade de pontos e nas ocupações de áreas com mercados cobertos, a Grã

Bretanha diminuiu a expansão de postos de comércio e a Espanha, que já tinha

experiências acumuladas no setor, passou a assumir a liderança junto com a

França com suas inúmeras construções.

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O grande ciclo de difusão dos mercados cobertos metálicos

abarcou, no entanto, a quase totalidade dos países europeus, e

foi acompanhado de publicações diversas que fomentaram o

conhecimento mais detalhado das experiências britânica e

francesa. O epicentro foi, sem discussão, Paris, com suas

modernas Halles centrais da década de 1850 (sem esquecer os

numerosíssimos mercados de bairros que o seguiram). Pode se

falar, pois, de uma segunda geração de mercados dominada pela

construção de ferro que realmente não teria seguidores firmes em

outras grandes cidades do continente até a década de 1860. Além

de dar continuidade a construção de mercados na Grã Bretanha

(que foi perdendo peso, sobre tudo, a partir de 1880), a novidade

foi a difusão nos países latinos e na Europa Ocidental. (...) Na

Espanha, Madri discutiu seus primeiros mercados metálicos ao

final dessa década (1860), a partir de projetos franceses. Durante

os anos setenta desse século, outras grandes cidades como

Barcelona iniciaram seus mercados. Esteban Castañer

documentou cerca de noventa entre 1870 e 1920, ainda que em

realidade se construíram alguns a mais. (GUÀRDIA e OYÓN, 2010, p.

27-8. Tradução nossa).

É, portanto, necessário o destaque à Espanha nesta questão da elaboração de

uma nova conceituação do mercado alimentar devido ao rápido crescimento do

número de construções para esta finalidade, o que foi viabilizado graças ao

aproveitamento de tecnologias recém surgidas no mundo, as quais (construções

em estrutura metálica) atendiam muito satisfatoriamente às necessidades de

espaços amplos e vãos livres, itens muito importantes para o armazenamento e

movimentação de mercadorias, ainda que mercados pioneiros no país tenham

sido construídos em décadas anteriores, como vemos abaixo:

Na Espanha, a construção de edifícios e conjuntos urbanos

destinados a acolher mercados surgiu em torno das décadas de

1830 e de 1840 com o nascimento da cidade contemporânea. (CASTAÑER, 2010, p. 233. Tradução nossa).

Este período, representou um marco para o setor na Espanha e no Continente,

pela construção de mercados importantes para o país, alguns deles, ativos até

os dias de hoje, como os de Barcelona, e outros que também receberam

reformas e adaptações de estruturas em ferro, cuja utilização acelerou a difusão

de mercados, centrais e de bairros, em todo o território espanhol.

Ao longo desse amplo espaço cronológico podemos distinguir três

períodos diferenciados: entre 1840 e 1874, ou seja, desde os

primeiros regimentos liberais até o Sexenio Revolucionario, se

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desenvolveu uma primeira geração de mercados construídos com

materiais tradicionais (San Ildefonso em Madri, La Boqueria em

Barcelona, La Encarnación em Sevilha) aos quais,

paulatinamente foram adicionados elementos arquitetônicos

metálicos. (CASTAÑER, 2010, p. 234. Tradução Nossa).

Este foi um período pioneiro onde as estruturas combinavam madeira, pedra e

ferro “(como no mercado de Trascorrales em Oviedo (1862-1867) ou em edifícios

completamente metálicos de pequeno porte, (...) em sua maioria não

executados”. Edifícios que mantinham características meramente utilitárias, na

visão do autor que prossegue afirmando que “ao final deste período encontramos

também outros projetos não realizados de maior importância e complexidade (...)

em Barcelona (1865) e Madri (1868) que por sua ambição preanunciavam a

etapa das grandes realizações”. (CASTAÑER, 2010, p. 234. Tradução Nossa).

No segundo período de estudo, o autor reconhece a influência das experiências

francesas, notadamente do advento do mercado de Les Halles de Paris e o

grande desenvolvimento quantitativo e qualitativo de mercados em território

espanhol.

De 1875 até a década de 1890, a Espanha conheceu um período

de adoção e aplicação do modelo idealizado por Victor Baltard, a

partir de 1850, para a construção do mercado central de Paris:

uma arquitetura que tanto a estrutura como grande parte da

decoração eram de ferro ou fundição, e que foi concebida

seguindo critérios estritamente funcionais. Os mercados de La

Cebada e Los Mostenses (1867-1875) em Madri, El Born (1873-

1876) e Sant Antoni (1882) em Barcelona, (...) e o 19 de Outubro

em Oviedo (1882-1885) entre outros, respondem a esta categoria. (CASTAÑER, 2010, p. 235. Tradução Nossa).

Deu-se neste período um passo decisivo para a fase seguinte que seria a de

grande expansão do número de mercados pelo país, já com o abandono da

influência direta das invenções de Les Halles e com o desenvolvimento de uma

arquitetura própria, com tecnologia mista para a estrutura das construções, tanto

em ferro, quanto em concreto armado, no momento seguinte.

Finalmente podemos distinguir uma terceira etapa, que iria de

1890 a 1930, na qual a Espanha deixa para o passado a época

dos mercados de ferro construídos segundo o modelo de Baltard,

e na qual predominam as estruturas metálicas cada vez mais

avançadas, graças a universalização da utilização do aço, o uso

incipiente do concreto armado e a diversidade de linguagens

estilísticas que coexistiam ou se sucediam. Exemplos desta etapa

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foram edifícios tão diversos como o mercado de Lanuza em

Zaragoza (1898-1903), os mercados de Colón (1914-1916) e

Central (1914-1929) em Valencia. (CASTAÑER, 2010, p. 235. Trad.

Nossa).

Este breve histórico da contribuição espanhola para o setor de mercados é

necessário para entender a importância que estes espaços destinados às

atividades comerciais de gêneros essenciais tiveram para aquele país do início

do século XIX ao início do século XX, fato demonstrado pela quantidade de

construções (Figura 1.9) e a busca de uma identidade, que levou ao rompimento

com a influência do modelo francês. Percebe-se uma contínua adaptação e

modernização dos mercados existentes, revelando diferenciais técnicos e

conhecimentos operacionais que irão influenciar implantações de mercados ao

redor do mundo. (GUARDIA e OYÒn, 2010).

Figura 1.9 - Localização dos mercados metálicos na Espanha. Fonte: CASTAÑER, 2010, p. 236.

“Sustenta Giovanni Botero que a facilidade do aprovisionamento constitui um dos

principais indicadores de grandeza da cidade”. (CALABI, 1993, p. 47). Esta é a

questão central que levou ao desenvolvimento de importantes centros urbanos

no passado, pois, considerando o “fato que as mercadorias são transportadas

por vias terrestres ou por vias aquáticas (se navegável); faz com que o

cruzamento dessas duas formas de acessibilidade seja o verdadeiro

pressuposto do crescimento de importância de um assentamento urbano” e que

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a partir destas condições que favorecem o surgimento do mercado como

“centralidade física”, coexistem outras funções como “de governo, jurídica, ou de

rituais” que a reforçam. (BOTERO, 1589, p. 295, apud CALABI, 1993, p. 47).

Tal constatação se aplica a Barcelona ou a Sevilha na Espanha, bem como a

Paris na França, ou ainda a Veneza na Itália, todas cidades que reuniram estas

condições primordiais, que criaram estas centralidades físicas, porém cada uma

correspondendo às condições específicas das épocas em que aconteceram.

Uma das inovações espanholas foi a preocupação dos técnicos especializados

do setor com a questão programática da arquitetura dos mercados. Para

CASTAÑER, (2010) a adoção do programa de necessidades do mercado no país

foi o resultado da junção de duas culturas: a dos mestres de obras, empírica e

artesanal e a da acadêmica, baseada na produção teórica estrangeira”.

Uma grande gestação do programa arquitetônico do mercado não

pode se explicar unicamente pela transformação dos materiais e

os sistemas construtivos. Se bem é certo que o desenvolvimento

tecnológico industrial vinculado a construção jogou um papel

relevante, tanto ou mais importante foi a transformação das

necessidades e exigências urbanas. Desde o final do século XVIII

assistimos, como indicou Bertrand Lemoine, a transformação das

funções e os conteúdos do espaço mercantil das cidades.

(CASTAÑER, 2010, p. 241. Tradução nossa).

Neste período a arquitetura moderna já estava se desenhando no mundo, como

uma consequência da evolução dos materiais e técnicas, a partir da revolução

industrial que acontecera décadas antes. A arquitetura começava a esboçar

transformações na utilização de novos materiais. Na Espanha, no que tange à

arquitetura dos mercados de abastecimento não foi diferente e nas primeiras

décadas do século XX houve uma migração de modelo construtivo, da estrutura

metálica exposta para o fechamento de paredes.

Como já se indicou anteriormente, durante este período teve lugar

uma evolução caracterizada pela adoção do fechamento mural

completo do edifício e pelo abandono das estruturas exteriores

metálicas aparentes, inspiradas no modelo de Baltard. A utilização

construtiva e ao mesmo tempo estética do ladrilho aparente

significava não somente uma volta de tradições autóctones da

construção como também a introdução de um elemento

renovador, seguindo o exemplo de outros arquitetos. (CASTAÑER,

2010, p. 241. Tradução nossa).

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Novas propostas aparecem, com desenhos que se afastam do formato até então

idealizado de Les Halles, graças às novas tecnologias e conhecimentos

adquiridos, que proporcionam um melhor atendimento às necessidades destes

centros mercantis, período nomeado pelo autor como “influenciado pela art

nouveau internacional, cujo melhor exemplo é o mercado de “Corsini em

Tarragona (1911-1915) onde se apresenta a influência da arquitetura vienense”

e o “mercado municipal de Arenys de Mar, inspirado na linguagem da arquitetura

do edifício da Bolsa de Amsterdam de Berlage” (CASTAÑER, 2010, p. 259. Tradução

nossa).

Paradoxalmente, a maior influência do melhor modernismo

catalão na arquitetura dos mercados tem que ser procurada não

na Catalunha, mas em Valencia. Por um lado o mercado central

(1914-1929), um dos mais monumentais da Espanha (...). E, por

outro, há que se destacar o mercado de Colón (1914-1916), do

arquiteto Francisco Mora Berenguer, que reuniu neste edifício a

dupla influência de Gaudi e de Domènech e Montaner. (CASTAÑER,

2010, p. 260. Tradução nossa).

A figura 1.10 apresenta a construção do mercado central de Barcelona, cidade

que segundo GUÀRDIA e OYÓN, 2010, construiu uma das maiores redes de

mercados da Europa.

Figura 1.10 - Mercado Central, Sabadell, Barcelona em construção, 1927. Inaugurado em 1930. Fonte: CASTAÑER, 2010, p.261.

Com a perda de suas últimas colônias, devido à guerra Hispano-Americana de

1898, um difícil período histórico-político se apresenta para a Espanha, o que,

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para CASTAÑER, (2010), provoca o ressurgimento de valores nacionais, através da

busca de uma “cultura renascentista, que teve também sua expressão

arquitetônica” marcada em vários exemplares das construções de então.

O autor destaca “o mercado de Lanuza, em Zaragoza (1898-1903), figura 1.11,

desenhado e construído pelo arquiteto Felix Navarro que utiliza várias

referências estilísticas desde o classicismo em interpretação livre até a evocação

da tradição mudéjar” que incorpora elementos da influência moura na península

ibérica, “que culmina com um programa decorativo abundante, com elementos

que remetem às tradições da cidade, da região e da nação e à capacidade

produtiva da natureza”, não se tratando de uma mera obra regional, mas “na

realidade o exemplo deste esforço renascentista , no qual o mercado é

interpretado como templo da abundância, da coesão nacional e da harmonia

social”. (CASTAÑER, 2010, p. 261).

Figura 1.11 - Vista geral do mercado de Zaragoza, inaugurado em 1903. Fonte: CASTAÑER, 2010, p. 260.

Na sequência destes acontecimentos, com a chegada do século XX, em um

curto período este desenho “eclético-nacionalista” foi sendo abandonado e

substituído pelas obras do Movimento Moderno Espanhol, que encerrou o ciclo

dos mercados metálicos no país.

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Barcelona

Assim como Paris na França, há na Espanha uma cidade onde a discussão do

tema do abastecimento se deu de maneira mais robusta e mais aprofundada, a

qual, portanto, merece destaque para que seja discutida e conhecida devido à

sua importância para a história dos mercados alimentares no continente Europeu

e no mundo. Este local é a cidade de Barcelona que “por sua singularidade, se

apresenta como um caso de investigação interessante no estudo da formação

dos sistemas de mercados modernos”. (GUÀRDIA, OYÓN e FAVA, 2010, p. 263).

Diferentemente de outros países a Espanha não sofreu a decadência deste tipo

de estabelecimento comercial, frente a formas mais modernas de vendas,

surgidas na segunda metade do século XX, e “acabou consolidando um notável

sistema de mercados praticamente único na Europa urbana atual”. (GUÀRDIA,

OYÓN e FAVA, 2010, p. 263).

Concorreu para este fato a visão de técnicos do município que, na década de

1880, “enxergaram o sistema de mercados existente como um ativo fundamental

para uma política de recuperação do tecido varejista dos bairros e o utilizaram

como um instrumento de desenvolvimento urbanístico”.

Entendemos ser esta combinação o fator responsável por manter a capacidade

ativa dos mercados de Barcelona, que como exposto, resistiram e sobreviveram

ao aparecimento e rápido crescimento do que GREEN, 2003, viria a chamar de

“formas modernas de comercializar”, (quitandas, supermercados, shoppings e

mais tarde os serviços de entrega e vendas eletrônicas), que combinados com o

advento e a definitiva evolução da indústria automobilística (que a princípio

facilitou os deslocamentos das pessoas) viriam a comprometer de maneira

significativa, o progresso dos mercados que não só na Europa como no mundo

sofreram uma grande estagnação, devido a migração das vendas de produtos

frescos para produtos processados e embalados.

Estudar, portanto, ainda que como informação subsidiária ao tema abordado, o

percurso dos mercados em Barcelona, somado ao estudo do caso de Paris, nos

levou a entender de maneira mais ampla a questão no Brasil e as dificuldades

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aqui enfrentadas pelas Centrais. Dificuldades estas, em sua maioria, não

superadas.

GUÀRDIA, OYÓN e FAVA, 2010, identificaram cinco momentos importantes

para estudo da rede dos mercados varejistas em Barcelona, sendo:

1 - Os mercados antigos de La Boqueria e Santa Caterina.

Os mercados urbanos são um legado histórico, uma herança,

porém a passagem do Antigo Regime à etapa contemporânea

significou uma inflexão decisiva, pela ótica funcional e cultural,

que possibilitou a sua inserção na emergente categoria dos

equipamentos. Apesar da liberalização da economia, própria da

nova etapa, se manteve uma renovada intervenção municipal. (GUÀRDIA, OYÓN e FAVA, 2010, p. 263).

A nova etapa citada se refere a liberalização da economia, porém, percebe-se

que a questão do abastecimento não sofreu tantas alterações por conta da

intervenção municipal, isto é, a fundamental presença do Estado garantindo a

sua sobrevivência, sempre estratégica para o desenvolvimento da humanidade,

seja por aglutinar comunidades e povoados em seu entorno, no princípio, seja

por questões sanitárias, comerciais ou de melhor distribuição (chegada e saída)

de produtos. Este tratamento dado a estas centralidades urbanas (ainda no ramo

varejista), mantendo-se alguns pressupostos básicos de seu funcionamento, o

cuidado com o controle de preços e os elementos citados acima, formaram a

base do que viria a ser em momentos posteriores a formação das grandes

Centrais atacadistas de abastecimento.

E a contribuição da Espanha foi fundamental para este desenvolvimento, com

destaque para a rede de mercados que se propagou pelo país, com destaque

para sua Capital, Madri. Achamos necessário citar Madri e mostrar algumas

informações a respeito desta cidade, pois, ainda que Barcelona é que tenha

demonstrado resultados mais significativos, havia uma forte relação entre ambas

e suas redes de mercados varejistas. Abaixo a figura 1.12 mostra um mapa da

distribuição de mercados em Madri.

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Figura 1.12 - Plano de mercados em Madri de 1944 e áreas de influência. São 23 mercados. Fonte: GUÀRDIA e OYÓN, 2010, p. 64

Conforme mostra a figura 1.12, Madri no século XX, estabeleceu um plano

ambicioso para formar uma rede de mercados composta por equipamentos

novos e antigos se fundindo em uma malha que se espalharia pela cidade.

Em Barcelona, Cerdà em suas pesquisas estudou o número de trabalhadores

atendentes nos mercados, separados pelo tipo de produtos em comercialização,

para aprimorar o planejamento da cidade, ao mesmo tempo que mostrava a

importância de se pensar na setorização dos mercados, a fim de, com os dois

estudos, melhorar o deslocamento das pessoas, o desempenho logístico e de

distribuição de mercadorias. (GUÀRDIA, OYÓN e FAVA, 2010).

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Havia, nos mercados listados, uma predominância de produtos frescos,

“verduras” em primeiro lugar, seguido por “carne”, “frutas maduras”, em conjunto

com “frutas secas”, “toucinho fresco e salgado”, “caça e ovos”, “pescado e

marisco”.

Por nossa experiência no setor, acreditamos que os legumes estejam somados

com as verduras, pois, não aparecem no estudo. O estudo evidencia que itens

que exigiam maiores cuidados com manuseio e higiene agrupavam mais

pessoas em sua manipulação. Vê-se, portanto que houve um pensamento

estratégico na formação desta rede de mercados.

Na cidade de Barcelona, ocorreu uma maior concentração de mercados no

século XIX, sendo os principais, os de La Boqueria, El Born e Santa Caterina

que juntos somavam 91% da força de trabalho, conforme constatou Cerdà,

durante a elaboração do planejamento urbano do município. No momento dos

levantamentos feitos por Cerdà, o mercado de Santa Caterina, recém

implantado, em poucos anos ultrapassou em tamanho e importância, o mercado

de El Born, mais antigo, ver figura 1.13. Os estudos de Cerdà buscavam cruzar

dados do crescimento demográfico de Barcelona, com o aproveitamento da mão

de obra de seus moradores. (GUÀRDIA, OYÓN e FAVA, 2010).

Figura 1.13 - Localização dos Mercados de Barcelona elaborado em 1978: Legenda: antes de

1939 (15 unidades); depois de 1939 (24 unidades). Fonte: GUÀRDIA e OYON, 2010, p. 62.

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Estes dois mercados citados, La Boqueria e El Born, ganharam importância à

época, porque foi justamente nestes dois pontos que se desenvolveram as

primeiras experiências significativas de mercados atacadistas na Espanha.

2 - Por uma política de mercados: os primeiros mercados de ferro.

Ainda que se confunda com o primeiro momento, por similaridades diversas, ou

por ser sua continuidade, por extensão, o segundo período foi menos decisivo,

por retratar um momento de mudança tecnológica e não de estratégia de

ocupação. É um momento resultante do planejamento do período anterior.

Este período traz como expoentes os mercados de El Born e Sant Antoni. O

primeiro, já existente, é adaptado à estrutura metálica e o segundo inaugurou

em 1882. Ambos apresentam “a nova tecnologia do ferro” e vieram a compor um

complexo de construções de 23.600 m² com outros três mercados a saber: La

Barceloneta. Hostafrancs e La Concepció, todos metálicos, com grandes

espaços para comercialização, planejados em função “da centralidade dos

mercados La Boqueria e Santa Caterina em suas respectivas grandes áreas de

influência urbana consolidando uma sólida e consistente rede de mercados”.

(GUÀRDIA, OYÓN e FAVA, op. Cit. pg. 270).

Para GUÀRDIA, OYÓN e FAVA, 2010, estes dois principais mercados,

construídos em ferro, foram classificados, à época, como “autênticos manifestos

da nova urbanidade”, dada a importância destes equipamentos como polos

geradores de negócios e renda e como definidores de novos traçados para as

cidades.

3 - O terceiro momento da evolução dos mercados em Barcelona, trata da

questão da ordenação das vendas por atacado, a partir da “agregação” dos

municípios da região da Catalunha, finda em 1897.

A agregação visava monitorar e regulamentar as questões da segurança

alimentar e higiene sanitárias nos mercados municipais, especialmente naqueles

que possuíam matadouros. “A agregação de municípios impunha logicamente

uma nova escala de administração, assim como uma gestão de todos os

mercados”. (GUÀRDIA, OYÓN e FAVA, 2010, pg. 275).

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Barcelona a esta época, possuía 16 mercados e o principal, que continuava

sendo o de La Boqueria, era aquele que se encontrava em pior situação de

conservação, com grandes áreas ainda descobertas, mesmo sendo o mercado

que correspondia por 40% da arrecadação do setor, seguido pelo de Santa

Caterina, cujas vendas representavam 12% do total e era considerado

“arquitetonicamente obsoleto”. (Gráfico 1.1). (GUÀRDIA, OYÓN e FAVA Op. Cit. pg. 276).

Gráfico 1.1 – Arrecadação por mercado em Pesetas, 1902. Fonte: GUÀRDIA, OYON e FAVA, 2010, p. 274

A nova escala de administração que a agregação dos municípios impôs, trouxe

novas percepções aos gestores dos mercados, que passaram a ter maiores

preocupações com a organização e operação, e novas posturas diante das

inúmeras reclamações de moradores das proximidades dos equipamentos

quanto a barulho ou abusos nas ocupações das ruas e praças, por parte dos

funcionários dos mercados. Este novo olhar administrativo fez com que se

enxergasse a necessidade de uma maior concentração de produtos em um

mesmo local, para que além de atender às demandas de abastecimento de

maneira centralizada, com preços unificados e com espaços adequados, fosse

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possível combater a degradação dos mercados, já percebida. Como

consequência desta necessidade veio a criação de uma plataforma de vendas

por atacado. Tal fato ocorreu de maneira localizada em Barcelona por força das

ações e intervenções do Instituto Agrícola Catalão de São Isidro (IACSI) que

detectou a “crise de subsistência”, no país, no período posterior à primeira guerra

mundial. (IACSI, 1913, caderno 3, p.33, apud GUÀRDIA, OYÓN e FAVA, 2010, p. 281).

Dá verdadeira pena ver como se realiza atualmente a entrada e a

inspeção das frutas e hortaliças que têm de chegar à praça.

Poucos desconhecem a situação da distribuição do atual mercado

La Boqueria. (...) A razão é óbvia. Os veículos de transporte têm

que esperar desde as 12 da noite, hora de chegada, para entrar

em operação apenas no outro dia, em horário avançado. E como

dispõem de escasso espaço, ali se aglomeram cestos e mais

cestos, se erguem grandes montes de frutas descarregadas

rapidamente. (...) e por este “percurso” defeituoso chegam ao

momento da venda, produtos tão delicados que por estas e outras

razões levam a queda dos preços a níveis verdadeiramente

ruinosos. (IACSI, 1913, caderno 24, p.371, apud GUÀRDIA, OYÓN e FAVA,

2010, p. 281).

A citada crise de subsistência foi preponderante para que as autoridades

tomassem a decisão de criar um ponto de abastecimento centralizado na cidade

e que desempenhasse a função de distribuição de mercadorias a outros

mercados (IACSI, 1913).

E continua o Instituto:

Uma das consequências da chamada crise das subsistências foi

que em Barcelona ocorreu uma desorganização dos mercados e

do abastecimento da cidade, a qual, prejudicou os consumidores,

e igualmente os produtores, ou seja, aos agricultores das

comarcas vizinhas e mais distantes. Ocorreu uma crise por

carestia na cidade e outra crise por abundância e desperdício no

campo. Como solucionar este conflito? Mediante a implantação

de um mercado central livre, onde se fizesse as contratações

publicamente e se desse toda a publicidade necessária às

cotações, com o que se acabaria com a desordem atual e com o

estado de privilégios que impera. (IACSI, 1913, caderno 3, p.33, apud

GUÀRDIA, OYÓN e FAVA, 2010, p. 281).

Os técnicos e dirigentes do Instituto terminam sua crítica propondo meios para a

implantação de mercados centrais livres em Barcelona, como única maneira de

suprimir os intermediários nas vendas e com isso baratear os preços dos

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produtos, propondo “habilitar provisoriamente o mercado El Born, (...) preservar

La Boqueria e transferir vendedores de outros mercados para espaços vazios no

mercado de Santa Caterina, que estava sendo coberto e pavimentado, em seu

grande pátio, para recebê-los”. (GUÀRDIA, OYÓN e FAVA, 2010, p. 280-1. Tradução nossa).

Com as ações tomadas pelas autoridades, a partir das constatações do IACSI,

no ano de 1920 os mercados principais, que foram preservados (La Boqueria e

Santa Caterina) possuíam grandes áreas (as maiores entre os mercados da

cidade) para venda em atacado de frutas e verduras com um total de 3.547m²

em La Boqueria e 1.751 m² em Santa Caterina, segundo as Actas Municipales

del Ayuntamento de Barcelona. (AMAB, 1929 apud GUÀRDIA e OYÓN e FAVA, 2010, pg. 283).

O mesmo estudo mostra que no terceiro mercado, El Born, havia uma área

coberta de 1.719 m² para vendas de produtos da pesca e outros gêneros

vendidos no atacado, sendo comercializados em suas calçadas semicobertas

por marquises.

Concluiu-se no final, pelos estudos e intervenções do Instituto que o mercado

central tinha que propiciar uma política intervencionista de controle dos lucros

dos intermediários, e de formação e controle dos preços e taxas que oneravam

a comercialização de produtos essenciais. (AMAB, 1929).

4 – A indiscutível vigência dos mercados.

O quarto momento de importância histórica para a formação da rede de

mercados em Barcelona se refere à “indiscutível vigência dos mercados”,

abrangendo um longo período no século XX.

Este período, no qual ocorreu a Guerra Civil Espanhola de 1936 a 1939 os

autores descrevem a crise por que passam os mercados de bairro em Barcelona,

e a superação desta crise, com ações da municipalidade que foram dando novos

rumos à gestão destes mercados, com a inclusão de particulares. O dado

principal de suplantação deste momento difícil foi que “em 1936, o sistema de

distribuição de Barcelona estava formado por uma rede de dezesseis mercados

varejistas e dois atacadistas disseminados pelo tecido municipal”, sendo este um

legado da importância dada à ocupação da cidade com mercados, priorizada em

décadas anteriores. (MILLER, 2010, p. 299).

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O marco final deste período, é o surgimento do mercado atacadista principal da

Espanha, que ficou conhecido com Mercabarna, ou Mercado de Barcelona em

1971. (MILLER, 2010).

5 - E por último o período de: “Crise e revitalização urbana: os mercados como

instrumentos urbanísticos”.

Na Espanha e em especial na cidade de Barcelona, durante a década de 1980,

o comércio de produtos alimentícios voltou a ter um papel de destaque na

economia, e marcou um período de grande alavancagem no crescimento dos

mercados do município, com um grande desempenho de vendas e distribuição

da Central de abastecimento MERCABARNA. Em 1984 foi apontado na

“Proposta de atribuição da gestão dos mercados municipais” feita pela Prefeitura

de Barcelona que o mercado atacadista passaria a gerenciar toda a rede de

abastecimento do município, o que fortaleceu o sistema existente e deu direção

unificada ao abastecimento na região. (GUÀRDIA, OYÓN e FAVA, 2010).

As Centrais atacadistas de Paris e Barcelona

Vê-se, portanto, a importância da França e da Espanha para o desenvolvimento

deste equipamento urbano, a Central de abastecimento alimentar, e como é

indispensável a análise de sua história a partir dos avanços ocorridos nas

principais cidades europeias, especialmente nas cidades apontadas neste

estudo, sendo Paris na França e Barcelona na Espanha. Em 1850, em Paris foi

criado um modelo inovador de mercado, ilustrado pela figura 1.6, sendo Les

Halles de Paris um dos mais importantes mercados do mundo à sua época, o

qual teve grande parte de sua operação transferida para a Central atacadista de

Rungis, (ver mapa na figura 1.14), inaugurada em 1969, situada próximo ao

aeroporto de Orly na capital francesa que vem a ser uma das Centrais de

abastecimento de maior destaque no mundo, sendo a segunda em faturamento,

segundo dados da World Union of Wholesales Markets – WUWM, 2016, a qual

possui integração com modal ferroviário em seu interior, como se pode observar

na figura 1.15 (vista aérea).

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Figura 1.14 - Mapa da Central Atacadista de Rungis - Paris. Fonte: GUIDÉE DU MARCHÉ DE RUNGIS, 2015, s.p.

Figura 1.15 – Central Atacadista de Rungis – Paris, inaugurada em 1969, que incorporou o mercado de Les Halles. Fonte: GUIDÉE DU MARCHÉ DE RUNGIS, 2015, s.p.

Frutas e legumes Lácteos, avícolas e outros Carnes diversas Horticultura e decoração Entrepostos Administração Entradas da Central Saídas da Central Sentido único Estacionamentos Restaurantes e bares Serviços

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A França, a partir de seu acúmulo de experiências no setor de abastecimento,

criou em 1953 a Fédération Française des Marchés d'Intérêt National - FFMIN,

que atua até os dias de hoje em defesa dos interesses de suas Centrais. (FFMIN,

2016). Foi dessa fonte de experiências que, por volta de 1962, o então ministro

da agricultura do Brasil, Celso Furtado, trouxe ao país, técnicos especializados

para elaborar os estudos para implantação da central de abastecimento de

Pernambuco. (CEASA, PE, 2012).

Na Espanha, que criou uma cultura própria de abastecimento alimentar surgiu

em 1966 a Mercados Centrales de Abastecimiento S.A. - MERCASA que

congrega as ações de 23 mercados atacadistas afiliados, tendo como um de

seus ícones o MERCABARNA que é uma das grandes referências de

abastecimento para a Europa e para o mundo. (MERCASA, 2016)

Os técnicos da MERCASA foram chamados para atuar nos primeiros projetos e

planos para a implantação da CEAGESP em São Paulo no final dos anos 1960.

Barcelona na Espanha, teve desenvolvimento parecido com Paris na França e

criou um estilo próprio de organização do abastecimento alimentar. As

autoridades municipais tomaram decisões importantes, como a de preservar

seus primeiros mercados, criando em La Boqueria e El Born, duas das primeiras

células organizadas de comércio atacadista do mundo, que foram as bases para

a criação da Central de abastecimento MERCABARNA, (Figura 1.16).

Figura 1.16 - Mapa da Central Atacadista de Barcelona. Fonte: MERCABARNA, 2015, s.p.

Frutas e hortaliças Setor de Pescado Setor de Flores Setor de Carnes Setor de Diversos Administrativo Outras atividades

Central MERCABARNA em Barcelona

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Figura 1.17 – Central de Abastecimento de Barcelona, inaugurada em 1971, que incorporou as atividades do mercado El Born. Fonte: MERCABARNA, 2015, s.p.

1.2 O protagonismo Paulista e Paulistano. Modelos implantados.

Para chegarmos ao protagonismo Paulista e Paulistano faremos um breve

histórico do abastecimento no Brasil, uma vez que trataremos dos mercados

atacadistas, os quais no Brasil, se iniciaram, por Recife e São Paulo, como

vimos, porém, se faz necessário contextualizar toda a trajetória dos mercados

brasileiros, em vários estados, para então entrarmos na questão da formação de

uma cadeia de mercados no Estado de São Paulo, que desde o século XIX, a

exemplo de países europeus, já tratava de estabelecer suas plantas voltadas ao

abastecimento alimentar primeiramente para vendas no varejo, diretamente ao

consumidor e posteriormente no atacado, mas sempre em grande escala.

São Paulo não percorreu esta trajetória, no Brasil, de maneira isolada, porém,

sempre apresentou-se na vanguarda dos acontecimentos, devido ao dinamismo

da economia do estado, alavancada pela expansão do café que propiciou um

grande avanço na construção de ferrovias pelo Estado, (Figura 1.15), o que

fomentou o desenvolvimento de cidades do interior trazendo a estas, novas

demandas de serviços, comércio e mercados especializados. (MATOS, 1990).

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Figura 1.18 – Expansão ferroviária (1870 a 1900). Fonte: Matos, 1990, p. 171.

A primeira experiência de construção de um mercado público no Brasil, ocorreu

no Rio de Janeiro, quando em “1834, a Câmara Municipal solicitou que fosse

construído um mercado público adequado para as atividades de vendas dos

alimentos”. (MURILHA e SALGADO, 2011, s.p.), o qual ficou conhecido como Mercado

da Candelária.

Da segunda metade do século XIX ao início do século XX, várias cidades do

interior paulista já possuíam um mercado de gêneros alimentícios como Mogi

das Cruzes, (Figura 1.16), onde primeiramente foi construído um mercado em

1858 no largo da Matriz, depois transferido e ampliado entre 1892 e 1912 e

totalmente reformado e reinaugurado em 1965, Taubaté em 1889, Jaú em 1899,

(Figura 1.2), Ribeirão Preto em 1900, São Carlos em 1903, (Figura 1.17) e

Campinas em 1908, cujo projeto foi elaborado por Ramos de Azevedo, (Figura

1.18), cidades, em sua maioria, ligadas à economia cafeeira, ou servidas pelo

incipiente desenvolvimento das linhas de trem.

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Figura 1.19 - Mercado Municipal de Mogi das Cruzes. Inaugurado em 1858. Em 1960 mudou de local e foi reinaugurado. Fonte: COMPHAP, 2016, s.p.

Figura 1.20 - Mercado de São Carlos. 1903. Fonte: ENCONTRA SÃO CARLOS, 2016, s.p.

Não encontramos dados em nossa pesquisa sobre os autores dos projetos dos

mercados públicos citados, nem fotos do antigo mercado de Mogi das Cruzes,

mas percebemos que houve uma rápida expansão na quantidade destes

equipamentos entre as décadas de 1860 até a de 1910, refletindo preocupações

sanitárias e de higiene na comercialização de alimentos, antes expostos na rua,

ao ar livre.

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Figura 1.21 - Mercado Municipal de Campinas, 1908. Fonte: CAMPINAS VIRTUAL, 2016, s.p.

Em Ribeirão Preto e em Campinas, cidades centrais em suas regiões, foram

implantados os dois maiores centros atacadistas do interior do Estado de São

Paulo, a CEAGESP Ribeirão Preto inaugurada em 1981, (Figura 1.19) e a

CEASA Campinas vinculada à Prefeitura do Município, inaugurada em 1972,

(Figura 1.20). (CONAB, 2013).

Figura 1.22 - CEAGESP Rib. Preto. 240 mil ton/ano. Figura 1.23 – CEASA Campinas. 720 mil ton/ano. 1981. Fonte: CEAGESP, 201, s.p. 1972. Fonte: CEASA Campinas, 2016, s.p.

Estes exemplos citados acima, incluindo as duas CEASAS do interior, tem por

objetivo demonstrar as iniciativas governamentais no Estado que demonstram a

atenção para com o tema abastecimento alimentar. Observamos que algumas

construções de mercados cobertos são contemporâneas às experiências

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francesas e espanholas, porém, de maneira isolada e sem a vinculação a uma

rede de mercados.

Segundo a Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento – ABRACEN, a

formação das grandes Centrais atacadistas se deu a partir do entendimento de

que seria mais econômico e viável concentrar em um espaço único, atividades

de comércio e distribuição de bens de primeira necessidade para as populações

das cidades, compreendendo em todos os casos o comércio de frutas, legumes

e verduras (FLV), grãos e, em menor escala, produtos derivados de pesca e

carnes. Em um primeiro momento houve o entendimento de que esta seria uma

obrigação do estado que ao encampar as atividades de maneira centralizada em

espaços públicos assumiu o protagonismo da distribuição e do controle de

qualidade dos alimentos. As áreas das CEASAS pertencem, historicamente, aos

governos estaduais, e o seu gerenciamento foi, no passado, coordenado pelo

Sistema Nacional das Centrais de Abastecimento - SINAC. (ABRACEN, 2011, s.p.).

Normalmente situados em áreas distantes dos centros das grandes cidades,

esses mercados passaram a ter um reconhecimento, por parte do setor produtivo

e consequentemente do setor de comercialização dos produtos, do seu potencial

em relação ao abastecimento e distribuição de gêneros alimentícios frescos em

grandes quantidades, com garantia de qualidade e com controle sanitário dos

mesmos, e por envolver agentes de todas as instâncias da circulação destas

mercadorias, passaram a ser o local ideal para a formação e controle de preços

dos produtos, cuja importância se faz presente até os dias de hoje no Brasil e no

mundo.

Para CUNHA as vantagens a serem obtidas com a implantação de uma Central

de abastecimento, no modelo adotado no Brasil (com controle dos governos),

seriam notadas em três frentes principais concomitantemente:

A dos Consumidores: a) redução do tempo de distribuição do

produto; b) oferta de bons produtos; c) melhor conhecimento

(informacional do mercado); d) melhores preços”;

A do Produtor: a) maior aproximação com o mercado; b)

motivação para melhorar a qualidade dos produtos; c) facilidade

para operações financeiras e bancárias; d) melhoria na prestação

de outros serviços (assistência técnica, serviços logísticos); e)

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redução dos custos de comercialização; f) aumento da renda

agrícola”;

A do Governo: a) facilidades para incrementar e difundir políticas;

b) facilidade de controle e fiscalização; c) redução de

deseconomias de aglomerações urbanas”. (CUNHA, 2011, p. 57).

No caso brasileiro, cujo início de implantação de Centrais deu-se a partir dos

anos 1960 e prolongou-se até os anos 1980, a instalação e o crescimento dos

mercados em toda a federação provou ser esta uma política correta (MOURÃO E

MAGALHÃES, 2011), até então a comercialização de produtos alimentícios,

especialmente de origem hortifrutigranjeira, nas cidades brasileiras, ocorria de

maneira desorganizada e precária.

Várias capitais como Recife, Curitiba, Salvador e Belo Horizonte já possuíam um

mercado central e mercados de bairros. Porém, faltava um conceito, uma

orientação que balizasse as atividades do grande comércio atacadista que

cresciam em volume de comercialização em todas as regiões do país. Fazia-se

necessária a centralização das atividades visando um melhor controle da

segurança dos alimentos. (MOURÃO E MAGALHÃES. 2011).

A primeira iniciativa do gênero surgiu em 1962 no Recife onde, de maneira

pioneira, técnicos do setor iniciaram os estudos de implantação da central,

valendo-se do apoio de profissionais vindos da França, como já apontamos.

Assim, em 1962 inicia-se a operação da Central Estadual de Abastecimento

Sociedade Anônima - CEASA Pernambuco conhecida à época, como CENESA

- Centrais de Abastecimento do Nordeste S/A, que incluía Salvador e Fortaleza.

(CONAB, 2013)

Esta experiência foi pioneira no Brasil, seguida pela formação da CEASA-SP em

1967/69. Poucos anos depois foi formado o Sistema Nacional das Centrais de

Abastecimento - SINAC órgão regulador da política de abastecimento no Brasil.:

Combater o grande estrangulamento no sistema de

comercialização de hortigranjeiros, uma atividade praticamente

marginal. Não havia informação nenhuma de mercado. O produtor

não tinha espaço assegurado nas cidades e, com isso, sentia-se

desestimulado a produzir. (MOURÃO E MAGALHÃES, 2011, p. 17).

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Por meio das normativas e determinações do SINAC é que foram escolhidas as

capitais ou cidades que receberiam uma central e como já dissemos

anteriormente com ajuda técnica do exterior, a princípio, e, depois, com a

formação de técnicos especializados no Brasil foram desenhadas, projetadas e

implantadas as centrais de abastecimento alimentar brasileiras, obedecendo a

seguinte ordem. (Tabela 1.1).

Tabela 1.1 – CEASAS construídos no Brasil, desde 19724. Fonte: MOURÃO e MAGALHÃES, 2011, p. 18

Ano da

Construção

Estado

Sigla

Cidade

contemplada

DF Brasília

CE Maracanaú

PE Recife

RJ Rio de Janeiro

RJ São Gonçalo

BA Salvador

SE Aracaju

RS Porto Alegre

MG Contagem

PB João Pessoa

1972

1973

1974

Estes estados fizeram parte do primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento –

PND, que projetou a construção de 21 CEASAS no Brasil, porém, por questões

de recursos e de gestão, nos primeiros anos foram implantadas somente 10

Centrais. O plano foi mantido e, no segundo PND, foram implantados CEASAS,

nos seguintes estados, como mostra a Tabela 1.2.

4 A CEASA Pernambuco, já existente, foi incorporada ao SINAC no ano de 1972.

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Tabela 1.2 - CEASAS construídos entre 1975 e 1982. Fonte: MOURÃO e MAGAHÃES, 2011, p. 19

Ano da

Construção

Estado

Sigla

Cidade

Contemplada

AM Manaus

SP Campinas

PR Maringá

PA Belém

GO Goiânia

AL Maceió

PR Curitiba

PB Campo Grande

RN Natal

PI Teresina

ES Cariacica

RN Mossoró

MA São Luiz

PR Foz do Iguaçu

SC Florianópolis

GO Anápolis

MG Uberlândia

RJ Novo Hamburgo

MG Juiz de Fora

RJ Campos

MS Campo Grande

PR Londrina

PR Cascavel

RJ Macaé

RS Caxias do Sul

1982

1975

1976

1977

1978

1979

Encerrando-se esta fase de expansão e ocupação pelo SINAC, totalizando 35

Centrais de abastecimento, seguindo uma lógica de inserção em grandes

centros urbanos, tendo como principal objetivo favorecer a comercialização de

produtos diretamente pelo produtor ao consumidor final. (ABRACEN, 2011).

Entre 1979 e 1983 a CEAGESP implantou 12 unidades em cidades do interior,

sendo: São José do Rio Preto, Bauru, Ribeirão Preto, Araçatuba, Marília,

Piracicaba, Sorocaba, Presidente Prudente, São José dos Campos, Araraquara,

Franca e Guaratinguetá, e mesmo não pertencendo ao SINAC, tinham a mesma

orientação estratégica de aproximar produtores e consumidores.

Esta premissa gerou, nas Centrais, uma prática errônea, que aparentemente

buscava reproduzir o tipo de comercialização de produtos que se fazia nas ruas,

sem infraestrutura alguma (o que não era o caso) tendo sido cometido em todas

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as centrais o mesmo equívoco de se criar ao nível do chão (sem plataforma para

carga e descarga) um galpão chamado de “Mercado Livre do Produtor - MLP”,

normalmente situado na área central, com difícil acesso, com pé direito em média

de 8 metros, desprovido de fechamento vertical, sujeito a incidência de chuvas

e dividido por faixas pintadas no chão, espaço conhecido como “pedra” de

vendas. Na maioria das Centrais a área de cada pedra varia de 15 a 50 m²

aproximadamente e em dias específicos neste espaço são comercializados

produtos como legumes e verduras, flores e acessórios de jardinagem no

atacado, ou todos estes produtos mais frutas e alguns tipos de carnes, nos

varejões. (CEAGESP, 2015, s.p.).

A ideia de se aproximar o produtor do consumidor atacadista ou do consumidor

final foi bem aceita, porém, com a falta de incentivo e por problemas logísticos

ou de escala, estes produtores foram cedendo espaço para empresas que

reuniam melhores condições de transporte de cargas e aglutinavam a colheita

de vários produtores em cargas otimizadas e com o tempo ocuparam seus

espaços, ficando conhecidos como atravessadores. (CONAB, 2013).

O SINAC foi extinto em 1987 e desta época aos dias de hoje o que se notou foi

que mesmo com a importância estratégica que cada Central representava em

âmbito estadual, pela falta de um direcionamento unificado das ações, as

mesmas começaram a enfrentar a falta de investimento em sua expansão e

modernização, problemas constantes com a manutenção de sua infraestrutura,

a redução de seu orçamento operacional, colocando-as em um caminho de

inadequação sem poder fazer frente a questões simples como a conservação

das edificações e outras complexas como o alargamento de ruas internas de

tráfego o que ocasiona congestionamentos, poluição e aumento de utilização de

mão de obra de carga e descarga de mercadorias, fatores que elevam os custos

aos comerciantes, responsáveis pelo manejo interno ou externo dos produtos,

os quais os repassam aos consumidores finais. Falta a estas Centrais, soluções

que os viabilizem economicamente, ou projetos que tragam receitas acessórias

significativas, para além da comercialização dos boxes.

Mesmo com o quadro exposto ampliou-se o número de Centrais e hoje em dia

há uma entidade Nacional que busca substituir o papel do extinto SINAC, de

unificador de ações das Centrais. Trata-se da Associação Brasileira das Centrais

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de Abastecimento – ABRACEN, cuja sede é em Brasília – DF, que promove

cursos, congressos, reuniões ordinárias, coordena as atividades e propõe

algumas diretrizes para o bom desempenho das CEASAS, em um ambiente de

diversidade na gestão técnica e de divergências na gestão de interesses

políticos5, como mostra a Tabela 1.3 abaixo.

Tabela 1.3 - Demonstração do tipo de gestão e quantidade das Centrais Brasileiras. Fonte: Diagnóstico das Centrais Atacadistas de Hortigranjeiros, (CONAB, 2013).

GESTÃO EMPRESAS / AUTARQUIAS ENTREPOSTOS

Federal 2 19

Estadual 15 29

Municipal 19 19

OSCIP 5 5

Total 41 72

A ABRACEN tem como objetivo principal propor esta unificação de ações e

ideias para que as Centrais do território nacional (Figura 1.21) tenham um

mesmo nível de procedimentos e práticas que proporcionem a volta das Centrais

ao protagonismo do abastecimento alimentar.

5 O fato de existirem Centrais nas três esferas governamentais (Federal, Estadual e Municipal) pressupõe a convivência entre centrais dirigidas por gestores de diversas ideologias partidárias.

Figura 1.24 – Mapa de localização das Centrais de Abastecimento em território nacional. Fonte CONAB, 2013.

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Outro elo importante, que propõe políticas e opera na busca de soluções para

os diversos tipos e tamanhos de Centrais do Brasil é o Programa Brasileiro de

Modernização do Mercado Hortigranjeiro – PROHORT.

Instituído por meio da Portaria n° 171 de 24 de março de 2005, no

âmbito da CONAB, tendo como objetivos estimular e coordenar a

captação de dados relativos ao processo de comercialização dos

mercados. (PROHORT, 2013, p. 1).

Em 2008, o PROHORT divulgou um diagnóstico das Centrais brasileiras, com

informações coletadas desde a sua formação, com um ranking, classificando-as

por toneladas de produtos comercializados ao ano, ver Tabela 1.4:

Tabela 1.4 – O volume comercializado, nas Centrais, em toneladas. Fonte: Araújo, 2011. p. 225

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Na Tabela 1.4 apresentamos as CEASAS integradas ao Sistema PROHORT,

cuja base de dados demonstra o potencial do segmento e possibilitará embasar

decisões para a aplicação de iniciativas e ações de apoio ao setor hortigranjeiro

que,” obrigatoriamente, deverá levar em conta essas Centrais para que

possamos enfrentar os desafios apontados”. (ARAUJO, 2011).

O principal desafio é levar maior quantidade de alimentos, frescos de qualidade

e livre de substâncias que ofereçam riscos, aos consumidores de todo o Brasil

em uma perspectiva d atingir níveis recomendados por órgãos internacionais.

Segundo dados de 2003 da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), o brasileiro consome 47 quilos de hortaliças per capita por ano, incluindo o feijão. Desse total, 18 quilos são de tomate, uma parcela significativa, ainda que estejam incluídos os tomates industrializados, consumidos, por exemplo, em forma de molho. Ainda há muito espaço para aumentar o consumo, já que a recomendação da FAO é de 143kg de hortaliças/per capita por ano. (ARAUJO, 2011, p. 223).

Após demonstrarmos os dados das Centrais brasileiras, mostramos abaixo, na

Tabela 1.5, um comparativo entre a maior Central atacadista brasileira e o seu

posicionamento no mundo, em toneladas de mercadorias comercializadas,

comparando a CEAGESP com outros 6 mercados, da Europa, América do Norte

e da Ásia. Na tabela citada, no resultado da Central brasileira, estão somadas

as quantidades das 13 unidades da Central no Estado de São Paulo.

Tabela 1.5 – Comparativo entre a CEAGESP e Centrais internacionais. Fonte: World Union of Wholesale Markets – WUWM6 - União Mundial dos Mercados Atacadistas – 2009.

MercadoCEAGESP

São Paulo

Shangqiu

China

SOGEMI

Milão

Mercabarna

Barcelona

Rungis (MIN)

Paris

CEDA - Cidade

do México

Área em hectares 70 73 81 86 232 328

Comercialização em

toneladas 3.800.000 4.472.000 706.585 1.100.000 1.575.408 972.000

Estado, Província ou

Região

Estado de

São Paulo

Província de

Henan

Região da

Lombardia

Região da

Catalunha

Região Ilha

da França

RM*- Cidade

do México

População atendida 43.000.000 94.027.400 10.000.000 7.535.251 11.978.000 22.178.000

Tabela comparativa entre mercados do mundo e a CEAGESP

*Região metropolitana

A CEAGESP é, portanto, segundo os dados da WUWM, a segunda maior central

de abastecimento do mundo em toneladas de mercadorias comercializadas,

6 Nos dados estudados não há informações sobre as Centrais dos Estados Unidos da América.

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porém, se levarmos em conta questões como qualidade, segurança alimentar,

ações ambientais, logísticas e outras ligadas à saúde pública e a conservação e

manejo dos alimentos, o seu posicionamento cairá para longe dessa posição. É

como comparar as diferenças entre os países pelo valor do seu Produto Interno

Bruto – PIB e ver a diferença de seu posicionamento quando o olhar se dá pela

lente do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH.

O Abastecimento alimentar em São Paulo

O abastecimento alimentar no Estado e na cidade de São Paulo tem uma

dinâmica própria. Pela dimensão nacional e internacional da CEAGESP é que

esta pesquisa se justifica, a partir da Central Paulistana, a maior e mais

importante Central da América Latina em comercialização de produtos

hortifrutigranjeiros.

Esta dinâmica remonta o começo do século XX e ganha maior ênfase por volta

dos anos 1930. Em 1933 foi inaugurado o Mercado da Cantareira em

substituição ao Mercado dos Caipiras da 25 de março (Figura 1.22) e Mercado

de Pinheiros7 (Figura 1.23). Alguns anos depois, devido ao acelerado

crescimento da cidade são inaugurados mercados de bairros em todas as

regiões da cidade, sendo: sul - Ipiranga (1940 / 1949), norte - Tucuruvi (1949),

oeste - Lapa (inaugurado em 1954), leste - São Miguel (1967) para citar alguns

exemplos além de feiras livres espalhadas pela cidade constituindo, à época, a

mais organizada rede de abastecimento atacadista / varejista do país. (PORTAL DO

MERCADÃO, 2014, s.p.)

Na cidade de São Paulo é que ocorrerá a ocupação de espaços para esta

finalidade, com maior semelhança com os países europeus:

Em 1867, foi construído, perto do Rio Tamanduateí, o primeiro

Mercado Municipal de São Paulo, na antiga Várzea do Carmo, na

região central. O antigo mercado era formado por vendinhas em

precárias condições higiênicas - e estéticas. Era conhecido como

o mercado dos caipiras e ficava perto da rede ferroviária por causa

da distribuição ao litoral. (SACONI, 2013, s. p.)

7 O Mercado de Pinheiros, também era conhecido como Mercado dos Caipiras.

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Figura 1.25 - Mercado dos Caipiras, por volta de 1867. Fonte: ARQUIVO/ESTADÃO, 2013, s.p.

Sem supermercados, feiras livres ou sacolões, até o início do

século 18 os paulistanos compravam diretamente do produtor - ou

das quitandeiras, que vendiam de tudo nas praças e ruas da

cidade. (SACONI, 2013, s.p.).

A Coordenadoria de Segurança Alimentar e Nutricional – COSAN, da SMDTE8

da Prefeitura do Município de São Paulo, em seu Portal conta a “História das

Feiras Livres”, com o seguinte encadeamento de acontecimentos e ações:

As feiras livres funcionam no Município de São Paulo desde

meados do século XVII, haja vista a ocorrência de uma certa

oficialização para venda, em 1687, de "gêneros de terra, hortaliça

e peixe, no Terreiro da Misericórdia".

No início do século XVIII, nota-se a distinção entre alguns ramos

de comércio: aparecem as lojas ou vendas, onde se comprovam

fazendas (tecidos) e gêneros alimentícios não perecíveis, e as

quitandas, que ofereciam verduras e legumes.

Em fins do século XVIII e começo do século XIX, estruturam-se as

feiras fora da cidade, nos locais de pouso de tropas, ou um início

de mercado caipira e a Feira de Pilatos, no Campo da Luz,

estabelecida pelo então Governador Melo Castro de Mendonça. (COSAN, 2016, s. p.).

8 Secretaria Municipal de Desenvoleimento, Trabalho e Empreendedorismo.

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Apesar de uma aparente contradição entre os dois textos sobre a história do

abastecimento alimentar na cidade de São Paulo, quanto à existência ou não

das feiras livres entre os séculos XVII e XIX nota-se um ponto em comum, no

que diz respeito à desorganização que imperava no setor, e o quanto eram

precárias e informais as primeiras aglomerações para fins comerciais de gêneros

alimentícios. O segundo texto cita “um início de mercado caipira” (...) “no Campo

da Luz” (apresentado acima, inaugurado no ano de 1867) que vem a ser a

primeira tentativa de organizar o comércio desses gêneros em um local pensado

e projetado funcionalmente para esta finalidade.

Anos mais tarde “o Mercado Municipal Engenheiro João Pedro de Carvalho Neto,

conhecido como Mercado Municipal de Pinheiros, (Figura 1.23), foi inaugurado

em 10 de agosto de 1910”. Ficava “próximo ao Largo da Batata, e era também

conhecido como ‘Mercado dos Caipiras’, devido à sua utilização por

comerciantes e produtores do interior de São Paulo”. (PORTAL DO MERCADÃO, 2014,

s.p.).

Figura 1.26 – Produtores de batata, no Largo da Batata, (1910). (Fonte: PORTAL DO MERCADÃO, 2014).

Segundo informações do site da Prefeitura do Município de São Paulo, “décadas

depois, sua área foi atingida pela construção da Avenida Brigadeiro Faria Lima,

que obrigou a demolição do antigo prédio e a construção de um novo mercado”,

fato ocorrido na segunda metade e final dos anos 1960. Portanto, “no dia 1º de

março de 1971, o mercado foi reinaugurado no atual endereço”.

Estes dois mercados citados, foram os precursores do Mercado Municipal da

Cantareira, (Figuras 1.24-25 e 26) um mercado bem estruturado, projetado por

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Ramos de Azevedo e inaugurado em 1933, o qual absorveu algumas atividades

do Mercado de Pinheiros e substituiu o Mercado dos Caipiras do Centro da

cidade. (PORTAL DO MERCADÃO, 2014).

Figura 1.27: Implantação e planta do térreo com revitalização do mercado municipal proposta pelo Arquiteto Pedro Paulo de Mello Saraiva. Fonte: SARAIVA, 2004, s. p.

Um mercado maior para São Paulo se fazia necessário, até que “em 1924, com

o crescimento da cidade, foi aprovada uma lei autorizando a construção de um

novo mercado”. O Mercado Central, como é conhecido hoje e talvez tenha sido

o último dos grandes edifícios que foram erguidos a partir do final do século XIX

para que a cidade consolidasse cada vez mais suas imagens de Metrópole do

Café. (PORTAL DO MERECADÃO, 2014).

O mercado da Cantareira ou Mercado Municipal iniciou suas atividades no dia

25 de janeiro de 1933, após ter servido de paiol de armas e munições da

Revolução Constitucionalista de 1932.

Também funcionou provisoriamente como quartel-general e

abrigou combatentes. Para treinar a mira, os soldados não

titubearam em utilizar como alvo os agricultores que ilustram os

painéis de vidro de Conrado Sorgenicht Filho. (SAMPAIO, 2012, s. p.).

Com localização considerada estratégica, pela proximidade do Rio

Tamanduateí, facilitando o embarque e desembarque de mercadorias que eram

em sua maioria, transportadas por embarcações, no final da década de 1930, o

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mercado passou a atender a um público mais numeroso devido ao surgimento

das primeiras linhas de bonde na região (PORTAL DO MERCADÃO, 2014).

Atendendo a vendas no varejo e no atacado, o “mercadão” passou por um

período estável nos anos seguintes à sua inauguração e logo “após o final da

Segunda Guerra Mundial, com a economia brasileira aquecida, o local tornou-se

o principal entreposto de alimentos” da capital paulistana. (COSAN, 2016, s.p.).

Percebe-se que o Mercado Municipal da Cantareira teve grande importância

para o desenvolvimento do comércio de hortifrutigranjeiros e outros gêneros de

alimentos frescos na cidade de São Paulo uma vez que nele já se praticavam,

também, vendas no atacado, onde diversos comerciantes e principalmente

feirantes da cidade se abasteciam de mercadorias, o que fez com que ao final

da década de 1960 o espaço chegasse a um ponto de saturação. Sendo assim,

boa parte de suas atividades foram transferidas para os primeiros galpões

construídos na CEAGESP na Vila Leopoldina. (COSAN, 2016, s.p.).

Nos primeiros anos da década de 1960, cheias do Rio Tamanduateí chegavam

ao mercado municipal e causavam prejuízos aos comerciantes. Com isso em

1966, inicia-se a migração de várias atividades do Mercado Municipal, para a

CEAGESP, o que provoca uma crise financeira no mesmo.

Entretanto, na década de 60, com a criação do CEASA (Centro

Estadual de Abastecimento de São Paulo) o comércio do mercado

declinou brutalmente e o entorno tomado pela falta de segurança

e higiene contribuiu sobremaneira com este fato, chegando a ser

cogitada a sua demolição. (PORTAL DO MERCADÃO, 2014, s.p.).

Esta crise se arrasta por alguns anos e enquanto o mercado da Cantareira

diminuía suas vendas, a CEAGESP era ampliada rumo ao interior.

Apesar dos problemas por que passou, o mercado foi preservado e na década

de 1980, por intervenção dos permissionários de boxes e outros interessados,

que se abasteciam no local, a demolição não ocorreu. Estes, se organizaram e,

cientes do valor arquitetônico do edifício do mercado, solicitaram o seu

tombamento ao Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,

Artístico e Turístico do Estado de São Paulo - CONDEPHAAT. (ARQUICULTURA, 1988).

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O pedido do processo de tombamento se iniciou em 1988, por

Silvia Beatriz Santana Amorim, "Tendo em vista as constantes

polêmicas que atualmente cercam este edifício e sua área

envoltória, além do seu inegável valor histórico e arquitetônico,

venho por meio deste solicitar a abertura do processo de

tombamento do referido imóvel. (ARQUICULTURA, 1988, Processo

Administrativo nº 26399/1988, Volume 1, s.p.)

O processo entrou em análise e durante este período e com a sua preservação

garantida, o mercado que já havia passado por intervenções arquitetônicas

modestas na década de 1970, voltou a receber intervenções novamente em

1988, esta última, comandada pelo Arquiteto Pedro Paulo de Melo Saraiva, o

qual seria chamado em 2004 para executar um novo projeto de revitalização que

daria ao mercado municipal uma sobrevida com a proposta de novos usos. Na

década de 1990 o “Mercado Municipal Paulistano, assim denominado pelo

Decreto nº 35.275 de 06/07/95, e conhecido como Mercadão, constitui-se em

importante centro de abastecimento e de lazer” (CONDEPHAAT, 2004, s.p.).

Esta consolidação do papel do mercado e sua relação com o abastecimento

urbano e suas peculiaridades gastronômicas, fez com que a Prefeitura do

Município de São Paulo tomasse a iniciativa de propor a revitalização do

mercado realizando desta vez uma intervenção bastante ousada entregando

este grande desafio ao Arquiteto Pedro Paulo de Mello Saraiva, que nos conta,

abaixo, a sua experiência com um dos edifícios icônicos da paisagem paulistana,

ver figura 1.25 que destaca a beleza externa do mercado, “descrito pelo New

York Times como um lindo mercado que com suas claraboias e vitrais, forma um

cenário fabuloso sendo o maior mercado de alimentos da cidade”. (DEHENZEL, 2012,

p. 16. Tradução nossa).

Outra parte importante dessa etapa do projeto é o subsolo,

inteiramente novo. Nele foram instalados, entre outros ambientes,

banheiros públicos, vestiários de funcionários, casa de máquinas,

fraldário, enfermaria, refeitório e transformadores. Esse piso,

com 1.130 metros quadrados, ocupa o único recorte, em planta,

do edifício na face voltada para a avenida do Estado.

Sobre ele foi implantada uma doca para carga e descarga de

mercadorias, que corresponde à afloração parcial do pavimento

enterrado.

Quanto à intervenção para dotar o edifício de espaços para novos

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usos, o elemento mais visível é a plataforma metálica com pouco

mais de 2 mil metros quadrados. Seu posicionamento interno

permite a visualização privilegiada dos seis vitrais temáticos, o

que faz do novo ambiente sobretudo um mirante, um belvedere. (SARAIVA, 2004, s. p.).

A figura 1.26 mostra um corte esquemático do projeto elaborado para o mercado

em 2003-4, o qual foi construído em 2004, reinaugurando o espaço como nova

vitalidade, como se naquele momento a cidade começasse a recontar a história

daquele lugar.

Figura 1.28 – Foto do Mercado Municipal, [2005?]. Fonte: MISTURA URBANA, 2016, s.p.

Figura 1.29: Corte esquemático do Mercado com o mezanino, 2003. Fonte: SARAIVA, 2004, s.p.

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A transição de atividades do comércio atacadista do mercado da Cantareira para

a Vila Leopoldina, iniciada em 1967, onde já se encontravam construídos alguns

prédios de comercialização do Centro Estadual de Abastecimento Sociedade

Anônima de São Paulo - CEASA-SP, na Vila Leopoldina se consolidou e dois

anos após, ocorreu a inauguração oficial da Central no dia 31 de maio 1969

quando houve a fusão do CEASA-SP com a Companhia de Armazenagem do

Estado de São Paulo - CAGESP, surgindo a Companhia de Entrepostos e

Armazéns Gerais do Estado de São Paulo - CEAGESP. (CEAGESP, 2015).

A CEAGESP, à época da transferência das atividades do centro, foi inserida em

uma região da cidade entendida como periférica, e ao longo de seus 47 anos de

existência, viu a cidade se transformar e envolvê-la, tornando a sua permanência

no local, a partir dos anos 1990, conflitante com o bairro e com o território

urbanizado, por questões de tráfego de caminhões, enchentes e outros

problemas que serão detalhados no próximo capítulo. Na Tabela 1.6 vemos

como ocorreu o desenvolvimento das vendas, na CEAGESP, ao longo do tempo.

Tabela 1.6 – Evolução das vendas na CEAGESP em cinco décadas. Fonte: CEAGESP, 2016, s.p.

Ano 1977 1980 1990 2000 2010 2015

Vendas / ton 1.922.000 2.304.018 2.868.524 2.686.604 3.159.383 3.371.803

Variação % 19,88 24,50 -6,34 17,60 6,72

Evolução das vendas CEAGESP

Os primeiros prédios construídos na CEASA foram o do Mercado Livre do

Produtor – MLP, em 1964-5, o Mercado de Frutas Estacionais – MFE-A em 1967,

ambos ao nível do chão, sem plataformas de embarque e desembarque de

mercadorias. O MLP, cujo projeto original é do Engenheiro José Carlos de

Figueiredo Ferraz foi duplicado em 1977 e é onde acontecem as feiras de flores

(atacado e varejo), o atendimento aos feirantes (atacado) e os varejões aos finais

de semana. Os dois galpões permanecem até hoje com as mesmas

características. (CEAGESP, 2015).

Estes galpões e outros três semelhantes, por estarem ao nível do chão, são

sempre atingidos por enchentes do Rio Pinheiros e mais facilmente por pragas

urbanas. Soluções totalmente inadequadas para as questões de higiene e

segurança alimentar atualmente exigidas. Em maio de 2005 foram

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desperdiçadas cerca de 2.000 toneladas de hortifrútis em apenas um dia, por

conta de uma enchente que invadiu a central. Cerca de 70 % destes produtos

eram de frutas provenientes destes galpões.

A Central paulistana, em um curto espaço de tempo, passou a balizar os preços

dos produtos hortifrutigranjeiros9 no estado e depois no país, sendo referência

para Centrais de outros estados. A CEAGESP abriu filiais em todas as regiões

do Estado de São Paulo, como mostra a figura 1.27.

Figura 1.30 – Mapa de localização dos Entrepostos da CEAGESP no Estado de SP. Capital e 12 entrepostos no interior do Estado. Elaborada pelo autor a partir de: CEAGESP, 2015.

Houve no estado nas 12 CEAGESP do interior, uma tentativa de aproximação

da entidade com a agricultura familiar, além de tentativas de aplicação de

políticas públicas para a agricultura em menor escala. (CEAGESP, 2015).

Por outro lado, na cidade de São Paulo ocorreu um fenômeno em outra escala

na outra ponta da cadeia do abastecimento alimentar, não do lado da produção

da agricultura familiar mas, na do lado da comercialização, em sua versão mais

popular, com forte apelo de aproximação do abastecimento com o seu público

final que é a distribuição de alimentos frescos e perecíveis através das feiras

livres. Diariamente os feirantes se abastecem na Central, minimizando a perda

das vendas dos atacadistas estabelecidos na CEAGESP e proporcionando uma

9 Utilizamos o termo “hortifrutigranjeiro” para todas as atividades da Central de abastecimento. O termo “hortifrúti” indica que nos referimos ao setor de Frutas, legumes e verduras - FLV

CEAGESP Capital

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forte concorrência às grandes redes varejistas, devolvendo às Centrais as suas

atribuições mais importantes que são a distribuição de produtos frescos em

grande escala e o exercício do controle de preços de mercadorias. Há, portanto,

uma forte ligação entre a permanência das feiras livres (850 por semana) na

cidade de São Paulo com a Central de abastecimento, uma relação de

“dependência” que por suas dimensões interferem no tecido urbano e formam

um sistema complexo que carece de organização pelas ruas da metrópole.

(CEAGESP, 2015 e PMSP, 2015).

1.3 – Ações Sustentáveis esparsas.

Em uma primeira fase, que ocorre da sua fundação em 1969 até a federalização

em 1997 que visava a sua privatização, na CEAGESP não havia ações efetivas

que buscassem a mitigação dos efeitos nocivos da poluição do ar, ou mesmo da

grande quantidade de resíduos orgânicos lá geradas.

Havia iniciativas isoladas de reciclagem de madeira com a venda de paletes e

caixas para a indústria de móveis, algum reaproveitamento de pneus, por

borracheiros locais e outras ações com os resíduos do setor do pescado que

viravam matéria prima para ração animal. (CEAGESP, 2015).

Após este período e até 2003 a empresa começou a desenvolver, por meio de

alguns técnicos, cursos de compostagem e jardinagem e para isso utilizava-se

uma mínima parte dos resíduos ali gerados. Havia também iniciativas isoladas

de pessoas que se “apropriavam” dos elementos de madeira da Central para

produzir e vender “casas” de cachorros de vários tamanhos. (CEAGESP, 2015).

Apesar de esparsas e espontâneas estas ações geravam mínimas receitas,

deixavam um pequeno legado social e traduziam uma incipiente preocupação

com o meio ambiente, porém, nada significativo a ponto de transformar

realidades ou tornarem-se efetivas nem mesmo do ponto de vista da simples

reciclagem. Não era frequente ainda o uso dos termos “sustentabilidade” ou

“desenvolvimento sustentável” com a conotação que possuem hoje.

No ano de 2002 foi fundada na CEAGESP a Associação de Apoio a Infância e

Adolescência Nossa Turma que visava atender às crianças e aos adolescentes

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das duas comunidades vizinhas a Central, sendo a “da Linha”, erigida sobre

antiga linha de trem da FEPASA e a do “Portão 9” formada a partir do portão da

CEAGESP com este número. Atendia também aos moradores do “Projeto

Cingapura” construído no local, em 1995. A ideia era capacitar as crianças para

alguma profissão, além de prover ensino fundamental. A creche era administrada

por um conselho formado por membros da empresa e dos permissionários da

CEAGESP que também faziam contribuições com doações em dinheiro e

principalmente de alimentos para as crianças. (CEAGESP, 2015). (Ver figura 2.38, p. 122).

CAPÍTULO 2. AS CENTRAIS DE ABASTECIMENTO E A QUESTÃO URBANA.

2.1 – Experiências relevantes – nacionais.

Para propor esta discussão sobre as centrais de abastecimento e a questão

urbana foram trabalhados dados de Centrais nacionais e estrangeiras, para

avaliar quais são os impactos causados por estes equipamentos em seu entorno

e região e como as autoridades responsáveis souberam (ou não) mitigar os

efeitos destes impactos.

No caso da CEAGESP na cidade de São Paulo, o local escolhido foi uma gleba

de 70 hectares em uma região afastada do centro da cidade e o plano era aliviar

o trânsito de caminhões que atendiam o Mercado Municipal de São Paulo, na

Rua da Cantareira em 1966-7. (PORTAL DO MERCADÃO, 2014). A partir do início de

sua operação e em menos de 10 anos após a sua inauguração em 1969, a

CEAGESP bateu o recorde mundial de vendas de produtos hortifrutigranjeiros.

Em 1977, quando a CEAGESP ampliou o Pavilhão Mercado Livre

do Produtor (MLP), construído em 1964 no Entreposto Terminal

São Paulo (ETSP), na capital paulista, chegou-se ao recorde de

6,2 mil toneladas de produtos vendidos em um só dia. A marca

superou o maior mercado do mundo, o Paris-Rungis, na França. (CEAGESP, 2015, s.p. Grifo nosso).

Desde então o fluxo de veículos de cargas para a Central cresceu, assim como

apareceram problemas de ordem social diversos como furtos e assaltos,

prostituição, etc., que a partir da CEAGESP se propagavam para a região com

forte impacto negativo sobre a vida dos moradores ou trabalhadores locais.

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Um dos agravantes que contribuiu para o colapso do trânsito na região são os

acessos à Central que são pelas Avenidas Gastão Vidigal e Marginal do Rio

Pinheiros, com portões de entrada e saída que recebem caminhões e carros

particulares e que não têm espaço para acomodação de filas, os quais chegam

a prejudicar por horas a circulação de toda a região, chegando a afetar o fluxo

de veículos das Marginais Pinheiros e Tietê. Não há espaço interno para

acomodar a quantidade de veículos que vão à Central diariamente. Figura 2.1.

Figura 2.1 – Foto parcial da CEAGESP que mostra a quantidade de caminhões e outros veículos no local. Fonte: CEAGESP, 2015, s.p.

Em 2010-11, foi contratada pela CEAGESP, uma empresa que desenvolveu um

estudo de trânsito, de circulação e fluxos dentro da Central da Vila Leopoldina,

com contagem de veículos, onde constatou-se que o setor de frutas correspondia

por metade do fluxo de caminhões do local e que necessitava de melhor fluidez.

(CEAGESP, 2015). Ruas internas foram alargadas, definiu-se um fluxo de trânsito

contínuo, que começava pelo setor de frutas, a direita do portão 3 da Avenida

Doutor Gastão Vidigal, e circulava a Central, formando um retângulo que

passava pelo portão 14 da Marginal Pinheiros. Este novo fluxo melhorou o

trânsito interno, porém o plano completo não foi implantado, porque incluia o a

cobrança de tarifas para ingresso na Central a exemplo de outras exitentes no

mundo, o que não foi aceito e gerou um violento protesto dos trabalhadores da

Central que incendiaram carros e paralisaram as atividades da CEAGESP,

trazendo prejuizos incontáveis em 2014 como mostram as Figuras 2.2 e 2.3.

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Figura 2.2 e 2.3 – Cenas dos protestos ocorridos na CEAGESP em março de 2014. Fonte: UOL, 2014, s.p.

Os fatos fizeram a diretoria da empresa recuar e suspender por tempo

indeterminado a cobrança do ingresso e permanência. O projeto tomou por base

a cobrança que é efetuada na Central de Rungis, na França, (Figura 2.4), onde

a entrada de um caminhão custa 11 euros e de veículos particulares, 8 euros por

entrada. Caminhões que precisem ter permanência prolongada na Central ou

que tenham uma frequência rotineira, pagam 16 euros por trimestre, sem limite

de tempo. E carretas e transportadores pagam até 45 euros por 10 entradas.

(RUNGIS, 2009).

Figura 2.4 – Portaria da Central de Rungis, na França. Cobrança automatizada. Fonte: GOOGLE MAPS, 2012.

A cobrança de tarifas para ingressar na Central, além de disciplinar os tempos

de permanência no seu interior, coíbe a entrada de pessoas que nem sempre

exercem alguma atividade dentro do mesmo e é uma fonte de receita que

permite aos gestores da Central melhorar o investimento em benfeitorias ou no

custeio da estrutura. Na CEAGESP, a Central receberia 4% dos valores

arrecadados pela empresa que exploraria o estacionamento e também receberia

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a instalação de 320 câmeras de monitoramento 24 horas. Esta foi uma medida

que a Central adotou para tentar mitigar o impacto dos caminhões em sua

vizinhança, seja porque a quantidade de veículos tenderia a se reduzir com a

racionalização do número de idas à central, bem como, com o dinheiro a ser

arrecadado poderia ser pensada alguma ação de controle da poluição ou mesmo

de melhora no controle das filas de veículos.

2.2 – Experiências relevantes - internacionais.

Mercado Abastecedor da Região de Lisboa - MARL

Algumas Centrais de abastecimento da Europa, nos últimos 20 anos, passaram

por adaptações no sentido de enfrentar a comercialização moderna que na visão

de GREEN, 2003, causou perdas em suas vendas. Essas ações são voltadas à

sustentabilidade ambiental e social, que trazem ganhos a imagem das Centrais

e propiciam receitas às mesmas como no MARL em Portugal que além de ações

de reciclagem e reaproveitamento de embalagens tem um dos maiores parques

instalados de captação de energia solar da Europa, segundo a sua diretoria

executiva. (Figura 2.5). (MARL, 2012).

Figura 2.5 – O talude remanescente da terraplenagem do terreno foi totalmente ocupado por células fotovoltaicas. Fonte: Pereira, 2012.

A maior parte da energia gerada é comercializada na rede pública de Lisboa,

sendo pouco utilizada na própria Central. É uma opção de receita importante

para o MARL que também tem como regra a utilização de embalagens

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reutilizáveis como caixas plásticas, ou recicláveis como as caixas de papelão.

(Figura 2.6).

Figura 2.6 – Caixas plásticas retornáveis. Economia e Segurança Alimentar. Fonte: Pereira, 2012

No MARL, a cadeia de frio é utilizada para preservação dos alimentos frescos e

como método de diminuir o desperdício de produtos, fator percebido nas Centrais

visitadas na Europa, o que diminui o desperdício, mantém o nível de vendas dos

permissionários e proporciona sustentabilidade à central.

Centro Agro Alimentare Bologna – CAAB

O CAAB Itália tem uma peculiaridade. Na confecção de sua estrutura foi utilizada

madeira certificada (CAAB, 2012) em seus dois principais pavilhões de

comercialização, com bom aproveitamento da iluminação natural (Figura 2.7).

Figura 2.7– Iluminação natural por claraboia nos pavilhões e lanternins nas laterais. Fonte: Pereira, 2012.

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Na Central de Bolonha, há um largo corredor para comercialização de produtos

e de circulação de “carrinhos” elétricos e carregadeiras. Neste amplo espaço, o

maior registrado em minhas visitas ficou claro que o conceito de praça de

comercialização é muito indicado para este tipo de atividade. (Figura 2.8). Este

sistema atende de maneira satisfatória, o comerciante, o comprador, o visitante

e facilita a ação dos agentes da Central que primam pela excelência quanto á

expedição das mercadorias comercializadas. Há, na Central de Bolonha, um

setor somente para expedição e quando o comprador adquire uma mercadoria

e a paga, recebe um aviso de que sua mercadoria será entregue em um horário

estipulado. Se neste horário o comprador for ao setor de expedição e a

mercadoria não estiver disponível o valor é restituído e o cliente leva a

mercadoria mesmo assim. Com esta punição, os sistemas funcionam

corretamente e há uma programação que viabiliza as ações.

A Central de Bolonha já tem em funcionamento, um parque de células

fotovoltaicas, visando a economia de energia e o abastecimento dos veículos

que lá atuam, tendo também ações de reciclagem e de utilização de embalagens

ecológicas. (CAAB, 2012).

Figura 2.8 – A grande “praça” de comercialização da Central de Bolonha e a estrutura de madeira.

Societá per l'Impianto e l'Esercizio dei Mercati Annonari all'Ingrosso di Milano –

Societá per Azioni – SOGEMI-SPA

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A SOGEMI é responsável por administrar os mercados de abastecimentos da

cidade. Estabelecido em 1929 acabou por se transformar na maior Central de

abastecimento atacadista do país, superando em volume comercializado e em

faturamento a Central de Roma. (WUWM, 2012)

Com pavihões em concreto, sendo que o de frutas é o maior, valeu-se de sheds

para iluminação zenital, criando um desenho movimentado no teto, por dentro e

por fora, (Figuras 2.9 e 2.10), e economizando energia elétrica com a utilização

da luz natural.

Figuras 2.9 e 2.10 - A cobertura da Central de Milão interna e externamente. Ótimo aproveitamento da iluminação natural com economia de energia elétrica. Fonte: Pereira, 2012.

A Central atacadista de Milão também se utiliza de empilhadeiras a gás e carros

elétricos para fazer a movimentação de mercadorias, tendo o mesmo conceito

de circulação e comercialização interna aos pavilhões, com os boxes nas laterais

e as docas climatizadas, o que na Europa é normal para proteção contra as

baixas temperaturas do inverno. (Figura 2.11). Este sistema organiza o fluxo das

mercadorias e melhora a logística com ganhos na agilidade das operações.

(SOGEMI-SPA, 2012).

Em 2012 a Central milanesa estudava o seu deslocamento para uma área

vizinha à existente, porém, com mais espaço para circulação e trânsito de

veículos e com mais clareza e definição na setorização dos produtos. Em

consulta ao sítio eletrônico da central, verificou-se que a estrutura continua a

mesma, sem alterações. (SOGEMI-SPA, 2016).

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Figura 2.11 – Empilhadeira de carga e descarga e composição da praça central. Fonte: Pereira, 2012.

Em 2007 ocorreram contatos para estabelecer um termo de cooperação entre

as Centrais italianas e a CEAGESP, para troca de iformações, tecnologias,

traçabilidade de mercadorias e outras ações. O termo não foi assinado e

nenhuma ação foi posta em prática, apesar de na CEAGESP ter sido reservado

um setor que sediaria as reuniões e abrigaria funcionários responsáveis de

ambas as partes. (CEAGESP, 2007).

Berliner Großmarkt GmbH10 – BGM

A Central atacadista da cidade de Berlim na Alemanha. Uma Central com

números mais modestos, situada em uma área de 33 hectares e com capacidade

de comercialização de 570 mil toneladas em 2012 e faturamento total de 1 bilhão

de euros. (WUWM, 2012).

A Alemanha possui 12 Centrais inscritas na World Union of Wholesale Market –

WUWM, (União Mundial dos Mercados Atacadistas), sendo que o maior deles

em volume de comercialização é o de Hamburgo com um total de 2 milhões de

toneladas no ano de 2011. (WUWM, 2012).

A Central de Berlim foi aberta em 1965 e tem traços de arquitetura moderna em

seus pavilhões com uma cobertura em concreto armado, formando abóbadas

que se erguem sobre uma janela contínua, iluminando os seus corredores de

circulação. (Figura 2.12).

10 Gesellschaft mit beschränkter Haftung, significa Sociedade de responsabilidade limitada. (Google, 2016).

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A Central não tem nenhuma ação marcante em termos de sustentabilidade

ambiental ou social e ainda utiliza paletes de madeira que tem um ciclo de vida

limitado sendo descartado rapidamente. Há ações de reciclagem dos resíduos

secos. Nada foi falado a respeito dos resíduos orgânicos nestas Centrais

visitadas.

Figura 2.12 – A estrutura da cobertura da Central de Berlim com a iluminação acima dos boxes e dos corredores de comercialização de mercadorias. Fonte: Pereira, 2012.

Até este ponto, mostramos Centrais europeias de portes variados e de países,

(com exceção da Itália), que não tiveram a mesma importância para a história do

abastecimento alimentar quanto a França e a Espanha que como vimos no

primeiro capítulo que se destacam pela quantidade de mercados construídos, na

boa operacionalidade e na qualidade de seus produtos.

Nesta sequência expositiva de Centrais internacionais, mostramos agora

algumas especificidades de três mercados latino americanos, com modelos de

gestão diferentes entre si e dos modelos adotados na Europa, e veremos a

diferença entre as realidades vividas por esses países, seja por problemas

políticos, socioeconômicos, ou de visão empresarial que vem a causar toda a

precariedade de infraestrutura e a vulnerabilidade a que estão expostas as

populações atendidas nestes mercados.

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MERCANORTE

Projeto de construção de um mercado abastecedor na República Dominicana

que não saiu do papel, apesar dos esforços de seus idealizadores.

O projeto seria implantado em Santiago de los Caballeros, distante 155

quilômetros da capital do país, Santo Domingos e a 70 quilômetros de Puerto

Plata que por sua vez, está a menos de 1.200 quilômetros de Miami, nos Estados

Unidos, como mostra a Figura 2.13. A ideia era, portanto, que o mercado

servisse de plataforma de exportação de produtos de países produtores da

região, especialmente o Brasil, para os Estados Unidos valendo-se de acordos

comerciais assinados entre a República Dominicana e os EUA. (MERCANORTE,

2009).

Figura 2.13 – A ligação entre o MERCANORTE e o grande mercado consumidor, os EUA. Uma distância menor do que 1.200 km. Fonte: GOOGLE MAPS, 2016.

O projeto estava embasado em dados sociais, no potencial comercial do país e

tinha o intuito de organizar o abastecimento em Santiago de los Caballeros,

aumentando a participação do comércio atacadista na região, cujas vendas têm

as características mostradas no Gráfico 2.1.

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Gráfico 2.1 – Média das vendas por varejo, por atacado e ambas, em Santiago de los Caballeros, na República Dominicana em 2007. Fonte: MERCANORTE, 2009, s.p.

As vendas de produtos hortifrutigranjeiros em Santiago são realizadas de

maneira precária, sem nenhuma higiene ou segurança alimentar, na rua, no

chão, sem proteção alguma, com muito lixo acumulado ao redor das “barracas”,

como mostra a Figura 2.14, e são concentradas em um setor conhecido como

“zona del hospedaje”, local escolhido pelos empreendedores para instalar a

plataforma pretendida, que se iniciaria pela aquisição de um terreno de 25

hectares, com reserva de mais 25 hectares, podendo ainda dobrar esta área

total, mediante o sucesso do empreendimento que também previa uma área

residencial acoplada.

Figura 2.14 – As vendas de rua e a precariedade do comércio de alimentos em Santiago de los Caballeros. Fonte: MERCANORTE, 2009, s.p.

Por mayor

6%

Detalle

57%

Ambos

37%

Atacadista

Varejista 57%

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Durante o período de maturação do projeto ocorreram as eleições municipais,

que deram a vitória ao candidato oposicionista, à época, e por problemas de

incompatibilidades políticas entre seus idealizadores e o novo prefeito, o projeto

foi adiado por dois anos e depois abandonado.

Caso tivesse obtido êxito, este seria, portanto, um projeto de iniciativa privada

que contava com alguns recursos públicos como a cessão da área e

investimentos em infraestrutura, porém, não passou da fase de estudos, embora

tenha despertado um grande interesse em empresários brasileiros que viram na

futura Central, uma grande oportunidade de adentrar no mercado consumidor

norte americano em condições privilegiadas. (MERCANORTE, 2009).

Mercado Central de Habana – Cuba

Em Havana, Cuba todos os mercados são governamentais e são acessíveis aos

moradores para que façam suas compras, pagando em pesos cubanos - CUP,

diferentemente de outros mercados similares aos supermercados que

conhecemos onde somente se compra em pesos convertibles – CUC que é a

moeda para turistas e para equiparações com o dólar. (APEX – Agência Brasileira de

Promoção de Exportações e Investimentos, 2010).

Havana tem um mercado central varejista com aproximadamente 18.000 m²

(APEX, 2010) onde se utilizou uma arquitetura eclética com elementos decorativos

leves que harmonizam com as peças estruturais do edifício e com outros

detalhes que só se percebe caminhando pelo seu interior. Havia a intenção de

se modernizar o mercado para que o mesmo se tornasse um ponto turístico e de

referência gastronômica e que a partir deste ponto se organizasse o

abastecimento das feiras confinadas e mercados de bairros, cobertos com lonas

e com infraestrutura precária, segundo o plano traçado pelo Ministério de la

Agricultura de Cuba – MINAG, em 2010.

O Mercado Geral de Abastecimento e Consumo Único,

simplificado em Mercado Único e chamado popularmente “de los

Cuatro Caminos”, foi fundado em 1920 ocupando todo um

quarteirão. (CUBA DEBATE, 2016, s.p. Tradução nossa).

Havia uma parte do mercado que estava interditada, uma de suas duas alas e o

mezanino, não estava acessível, havendo comercialização de produtos diversos

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na outra ala. A Figura 2.15 mostra a situação de ruina em que se encontrava o

mercado em 2010.

Figura 2.15 – Interior de uma das alas do mercado de Havana. Ao fundo vê-se a escada que sobe para o mezanino. Comércio de produtos diversos, como frutas, verduras, legumes flores e carnes, todos in natura. Fonte: Pereira. 2010.

Em sua primeira ala se acomodavam as lojas de venda de

hortaliças, legumes e frutas, e na segunda ala podia-se encontrar

adegas e postos dedicados ao comércio de carne, pescado, e

produtos gastronómicos. No porão estavam as câmaras

refrigeradas. Ademais contava com quatro escadas de mármore

e seis elevadores. Em 1959 serviu de armazém de produtos

comerciais, função bastante distante de seus propósitos

arquitetônicos. (RODRIGUEZ, 2014, s.p. Tradução nossa).

Em Cuba, toda a agricultura é considerada orgânica, pela ausência de

agrotóxicos no país, mas há dificuldade de se obter equipamentos adequados

para o cultivo das plantações. Isto contribui para que alguns produtos tenham

um aspecto de pouco desenvolvido. Mas, predominantemente, a produção no

campo é de excelente qualidade.

Estivemos em uma cooperativa em San Antonio de los Baños, que assim como

outras em Cuba produzem seu próprio alimento, sendo assim auto sustentável,

ao gerar receita para sua subsistência.

O projeto de reforma do Mercado Central, não foi encaminhado e foi

descontinuado no ano seguinte. Não houve sequer autorização para início de

estudos de viabilidade ou trabalhos similares.

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Atualmente, em pesquisas realizadas, verificou-se que a fachada foi restaurada

e pintada, conforme mostra a Figura 2.16.

Figura 2.16 – Fachada do mercado cuatro camiños restaurada. Fonte: RODRIGUEZ, 2014, s.p.

Não foi possível verificar a extensão das obras de reforma e restauração, bem

como se haverá a tentativa de melhorar a questão operacional do abastecimento

em Havana.

Mercado Lo valledor em Santiago do Chile

Uma experiência totalmente privada e desconectada de qualquer nível de

governo ou de órgão estatal, Lo Valledor é considerado o maior mercado de

abastecimento atacadista do Chile, com uma venda anual de 1.400.000

toneladas de produtos hortifrutigranjeiros e abastece toda a região metropolitana

de Santiago. (LO VALLEDOR, 2013). A Figura 2.17 mostra uma visão do quanto é

difícil se locomover pelo mercado que está o tempo todo ocupado por caminhões

cujos motoristas são resistentes a regras e não colaboram com a organização

do mercado. (LO VALLEDOR, 2013).

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Figura 2.17 – Estacionamento e comercialização sobre rodas. Fonte: LO VALLEDOR, 2015).

Ressaltamos que é o mercado que mais precisa de ações para alcançar um nível

de serviços aceitável, um bom controle de resíduos e uma operação que não

pareça um caos.

Há uma gama de produtos, cuja comercialização se dá ao ar livre, no chão e sem

cobertura alguma que proteja os vendedores e os produtos, fazendo parecer que

os sócios do mercado querem apenas retirar seu lucro, sem investir no mercado

que está bastante necessitado de intervenções que o coloque no rumo dos

melhores mercados do mundo, não apenas no quesito toneladas por ano.

Os dirigentes se preocupam com a quantidade de resíduos gerada na Central

que é em média 1,6 a 2,0 % de sua comercialização diária. O percentual

aceitável nas Centrais brasileiras é de 1,0 % e montaram em 2013 um sistema

de reciclagem que envolveria todos os participantes do cotidiano do mercado. O

fato não havia surtido efeitos ainda quando visitado. (LO VALLEDOR, 2013).

Lo Valledor, quando visitado em 2013 apresentava tantos problemas que seus

proprietários pareciam ignorar, que contradiziam alguns conceitos essenciais

dos mercados.

Desde o início, esses locais onde a troca realizava-se possuíam

um papel muito importante, não apenas na atividade econômica

mas principalmente na vida social. Fato esse que se amplia

quando se considera o abastecimento da população com uma

atividade social. Uma olhada através da história evidencia essa

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faceta do varejo ao adotar uma condição de simbiose com as

atividades sociais. (VARGAS, 2001, p. 96).

Do ponto de vista social, um olhar para estas três últimas iniciativas citadas

demonstra que, a primeira, em Santiago de los Caballeros não se viabilizou, não

deu certo a parceria Estado e privado e mesmo sendo viável, o negócio não se

concretizou, mas teria um caráter social de melhoria de vida de comerciantes de

rua que viam na construção do mercado, uma chance de crescimento. A

segunda, como vimos, em Havana, era um retrato da história do país e carecia

de toda a infraestrutura que o bloqueio econômico sofrido e o fim do apoio

soviético lhe negaram e a terceira, mas desempenhava o papel social, dando

abrigo às pessoas que perderam seus empregos públicos e tiveram que se

ocupar de funções empreendedoras. E a terceira, em Santiago no Chile possui

um caráter empresarial que explora mão de obra e não atende a questões

sociais, pois há um foco na lucratividade e não há investimento em benfeitorias

sociais, ambientais e físicas.

Em relação ao impacto urbano, a primeira teria provavelmente, conflitos com a

mudança de estilo do comércio que se praticava de maneira espalhada pelo

bairro, com a concentração de atividades em um único local, a segunda estava

inserida em sua convivência com o urbano e o convívio, no patamar em que o

mercado se encontrava à época, era harmonioso, sendo que apenas metade

deste operava. Já o terceiro espaço de atividades comerciais, causa impactos

nas ruas, pela quantidade de caminhões que acessam a Central, fato amenizado

por estar localizada próxima a uma estação de metrô o que diminui o número de

carros de passeio que acessam o local.

Espanha e França

Para se falar em Centrais e mercados internacionais é impossível não falar das

experiências espanhola e francesa, como vimos no primeiro capítulo, portanto,

para introduzir a discussão sobre as principais Centrais da Europa e suas

soluções na área de sustentabilidade, descrevemos a seguir como foi o

desenvolvimento destes equipamentos na Espanha e na França.

A Espanha possui 22 Centrais de abastecimento alimentar filiadas à Mercados

Centrales de Abastecimiento, S.A. – MERCASA e à World Union of Wholesales

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Markets – WUWM, que juntos ocupam uma área equivalente a 800 hectares.

(MERCASA, [2010?], s.p.).

A MERCASA é uma empresa estatal gerida pela Sociedad Estatal de

Participaciones Industriales (SEPI) e pelo Ministerio de Agricultura, Alimentación

y Medio Ambiente da Espanha. (MERCASA, [2010?], s.p).

As duas maiores Centrais administradas pela MERCASA são:

a) MERCAMADRI em Madri é um mercado bem planejado, com bom

aproveitamento do terreno que possui área de 221 hectares, e com vasto

espaço para expansão (Figura 2.18). São comercializadas 1,9 milhões de

toneladas por ano de mercadorias como: pescados, frutas, legumes e

verduras, carnes e outros; e

b) MERCABARNA em Barcelona com área de 85 hectares e venda de 1,6

milhões de toneladas por ano que além dos itens oferecidos no mercado

de Madri, comercializa flores. (Figura 1.14, no capítulo anterior).

As outras Centrais ocupam áreas menores e tem suas vendas situadas em uma

faixa que varia de 4mil toneladas por ano em Algeciras, 13 mil em Badajoz até a

240 mil toneladas por ano em Bilbao e 470 mil em Valência. (WUWM, 2014).

Em alguns destes mercados, como no MERCAMURCIA funcionam matadouros.

Em 2009 a Central de Murcia recebeu o prêmio mundial de sustentabilidade

ambiental por ter implantado um projeto de tratamento de resíduos, com

recuperação energética e fabricação de adubo, incluindo os resíduos do

matadouro que eram os mais nocivos do mercado.

Figura 2.18 – MERCAMADRI. A foto mostra a área disponível na gleba. Fonte: WUWM, 2014, p. 46

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No passado os mercados formaram centralidades, contribuíram para povoar

bairros ou regiões e encontraram em território espanhol um desenvolvimento

estratégico que levou o país a ter hoje uma importante rede de Centrais de

abastecimento. (GUÀRDIA e OYÓN, 2010). Duas destas Centrais estão entre as

maiores do mundo, em toneladas comercializadas, sendo a de Madri a quinta

colocada e a de Barcelona a nona. (WUWM, 2014). Caso a comparação das Centrais

levasse em conta outros itens como: qualidade de produtos; soluções logísticas

ou de acessibilidade; segurança alimentar e sustentabilidade, estas Centrais

subiriam algumas posições pela sua tradição de boas práticas

“Barcelona tem 40 mercados municipais. Cada bairro conta com um deles.

Sarrión assegura que os mercados municipais são os motores de dinamização

de cada um dos bairros”. (JORNALISMO PORTO NET, 2008, s.p.).

A cidade de Barcelona possui muitos mercados varejistas, os quais formam uma

sólida rede de mercados, possui também uma das Centrais atacadistas mais

importante do Continente europeu, sendo um dos locais ao qual se atribui o

surgimento das vendas por atacado, como as conhecemos hoje. (GUÀRDIA e OYÓN,

2010). Seus mercados antigos são emblemáticos como o La Boqueria, Santa

Caterina e Del Born. Este último originou a Central atacadista de Barcelona. A

Figura 2.19 mostra a fachada do mercado La Boqueria.

Figura 2.19 – La Boqueria, atualmente: mercado e ponto turístico. Fonte: PEREIRA, 2013.

A cidade possui cerca de 1,6 milhão de habitantes e apesar da crise econômica

que o país passou e ainda enfrenta, as vendas da Central de abastecimento

cresceram de 1,07 milhões de toneladas em 2009 para 1,6 milhão em 2014,

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praticamente 50 % em 5 anos. Enquanto no mesmo período a quantidade de

produtos comercializados na MERCAMADRI caiu de 2,01 milhões de toneladas

em 2009 para 1,9 milhão de toneladas em 2014, representando cerca de 6 % de

queda. (WUWM, 2009 e 2014).

A Figura 2.20 mostra a Central de Barcelona.

Figura 2.20 – Pavilhões da Central. Arquiteturas diferentes orientam os clientes. Fonte: PEREIRA, 2013.

Localizado a 10 minutos do aeroporto de Barcelona, a 11 minutos do porto e a

cerca de 25 minutos de um complexo de linhas férreas, o mercado depende do

transporte sobre rodas, porém tem os outros modais a sua disposição, para o

caso de exportações ou para distribuição a outras regiões do país e para países

vizinhos. (GOOGLE MAPS, 2016).

Pelo interior dos pavilhões de legumes, se vê algumas caixas de madeira, cujos

proprietários garantiram ser de primeiro uso, como prevê a legislação e que

depois vão para reciclagem para a indústria de móveis. No MERCABARNA, itens

reutilizáveis ou recicláveis, têm preferência, segundo os seus dirigentes. A

Figura 2.21 mostra a central de reciclagem, interna ao mercado, em

funcionamento desde 2002, com capacidade para processar até 70 % do lixo

gerado no mercado.

Em 2015, “foram coletadas 24.019 toneladas procedentes das atividades dos

atacadistas e varejistas da Central, das quais 72,03% foram recicladas”.

(MERCABARNA, 2015, s. p.). (Gráfico 2.2).

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Figura 2.21 – A Central de reciclagem do mercado de Barcelona. Fonte: PEREIRA, 2013.

Gráfico 2.2 – Percentual dos materiais recicláveis no mercado de Barcelona, sendo de cima para baixo: Matéria orgânica vegetal; materiais indiscriminados, madeira, papelão, matéria orgânica do pescado, plástico e vidro. Fonte: MERCABARNA, 2015, s. p., Tradução nossa.

A Central de abastecimento de Rungis, em Paris na França tem sido um modelo

para o mundo, desde a sua fundação, quando incorporou parte das atividades

do mercado central de Les Halles. Esta Central tem como diferencial da maioria

dos mercados similares, o seu modelo de gestão, cuja participação societária da

iniciativa privada, equiparada à do Estado, forma uma parceria sólida que

assume um importante papel na arrecadação de recursos. Com estes é possível

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investir na recuperação e modernização da Central, que é, na opinião de seus

dirigentes “o maior mercado do mundo” (KAPFERER e BRETON, 2009, s.p.).

A Central de Rungis não era e não é a maior do mundo em vendas por toneladas,

ficando na oitava posição em 2009 (WUWM, 2009)11. A maior era a de Shangqiu em

Henan, na China, a segunda é a CEAGESP em São Paulo e a terceira era a de

Contagem em Minas Gerais. (WUWM, 2009).

Rungis, ocupava a segunda posição quando a comparação se dava pelo valor

em euros das vendas anuais, atrás da Central de Shangqiu na China, (Figura

2.22), e em segundo também quando se tratava da área do terreno e área

construída, quando ficava atrás da Central da Cidade do México (WUWM, 2009).

(Ver Tabela 1.5, no capítulo anterior).

Figura 2.22 – Shangqiu – China. A maior central do mundo em toneladas comercializadas e em arrecadação em euros. Fonte: WUWM, 2009, p. 16.

Mas Rungis é a melhor Central em qualidade de produtos, em reciclagem e

sustentabilidade ambiental e foi a Central que mais se modernizou, para

enfrentar a concorrência das novas formas de comércio (Rungis, 2009).

Rungis é a continuidade e herança de Les Halles e cumpre o mesmo papel, de

ser um paradigma para as grandes Centrais de abastecimento do mundo.

A Central faz parte da rede Marché d’Intérêt Nationale – MIN, a qual coordena

16 mercados na França. Rungis foi o único mercado visitado que conta com uma

11 No caso da Central de Rungis, não houve atualização dos volumes, por parte da WUWM.

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estação de trem exclusiva para carga e descarga de produtos, vindos de regiões

mais remotas, conforme mostra a Figura 2.23.

Figura 2.23 – Estação de trem para carga e descarga de produtos. Na plataforma há uma câmara frigorífica para armazenamento de mercadorias. Fonte: PEREIRA, 2009.

Além de contar com este benefício do modal férreo, Rungis está situado a 3

quilômetros do aeroporto de Orly, o que é uma facilidade. Porém, a Central fica

distante de portos. (GOOGLE MAPS, 2015).

A composição acionária de Rungis é inovadora, pois, invariavelmente as

Centrais são estatais ou privadas. Em Rungis foi formada a Société d'Économie

Mixte du Marché de Rungis – SEMMARIS, que coordena a Central e é composta

conforme mostrado na Tabela 2.1:

Tabela 2.1 – Composição acionária da Central atacadista de Rungis. Fonte: RUNGIS, 2009, s.p.

Altarea Group 33,34%

Estado 33,34%

Cidade de Paris 13,19%

Val de Marne Departement 5,60%

Caisse des dépots et consignations 4,60%

Permissionários e outros 9,93%

Divisão do capital entre os acionistas de Rungis

Esta composição acionária, viabiliza a arrecadação de receitas acessórias à

Central, com a locação de escritórios, lojas de veículos, restaurantes, hotéis, etc.

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Quanto à questão ambiental, em 2009 a Central francesa atuava fortemente, no

sentido de mitigar os efeitos da poluição e da geração de resíduos. O Gráfico 2.3

mostra a destinação e o manejo dos resíduos em Rungis.

Gráfico 2.3. – Tratamento de resíduos em Rungis, Paris. Fonte: RUNGIS, 2009, s.p.

Todos os pavilhões são climatizados desde as docas de carga e descarga

(Figura 2.24) até o corredor interno de comercialização, utilizando-se, para isso,

equipamentos não emissores de gases de efeito estufa.

Essa proteção contra as baixas temperaturas no país foi essencial para garantir

maior vida útil aos produtos frescos comercializados, com maior qualidade e

segurança para os comerciantes.

Em nosso conceito de diretrizes, os mesmos cuidados devem ser tomados nos

países de clima quente, especialmente no Brasil, pois a perda de produtos é

considerável pela exposição ao calor, além da falta de conforto vivenciada pelos

frequentadores dos pavilhões.

Destinação dos Resíduos: 6.125 tn/mês

Energia (incineração) - 56% Reiclagem (plastico e madeira) - 29%

Compostagem - 7% Reutilizados - 6%

Descartes - 2%

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Figura 2.24 – Docas climatizadas no pavilhão de legumes. Fonte: PEREIRA, 2009.

Na Figura 2.25, vê-se mais um dos pavilhões da Central, sendo o de carnes.

Figura 2.25 – Pavilhão de carnes. A comercialização é usual na Europa. Fonte: PEREIRA, 2009.

Segundo KAPFERER e BRETON, 2006, Rungis é um mercado de dimensões

nacionais e internacionais que foi “concebido (em 1969) para abastecer Paris e

a ‘Île de France’, porém teve seu campo de ação alastrado à França inteira”,

estabelecendo relações comerciais e de desenvolvimento de conhecimento com

produtores do país.

A Figura 2.26 mostra a grandeza de Rungis, vista de sua torre de escritórios e

como as circulações da Central são planejadas e preparadas para a finalidade a

que se propõe. (Ver também figuras 1.14 e 1.15, p. 56).

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Figura 2.26 – Vistas aéreas da central de abastecimento. Fonte: PEREIRA, 2009

A segunda maior Central francesa, da rede MIN, é a de Marseille, cujas vendas

em 2009 foram de 465 mil toneladas e a menor de todas é a de Rennes com 18

mil toneladas.

Os mercados citados nos dois países estudados, possuem avanços em seus

projetos de arquitetura, como a iluminação natural e a praça de comercialização,

em atualizações tecnológicas, como cobrança automatizada de ingresso e ainda

de logística como o manejo de mercadorias para otimizar a recepção e a

expedição destas. Porém, nem sempre é possível fazer os acertos necessários

do ponto de vista urbanístico, pois qualquer tentativa de revisão em sua

implantação implicaria demolições e mudanças de pavilhões para alargamento

de vias, pois são mercados consolidados desde sua origem.

Rungis iniciou este processo há cerca de 20 anos e onde foi possível, conseguiu

incorporar as inovações e soluções que resultaram na Central com a importância

que tem hoje e que prevê novos investimentos para o futuro, no sentido de

continuar se modernizando, e ao mesmo tempo manter alguns dos princípios

que a formaram.

As intervenções do estado, voltadas à atividade comercial

agrícola dessas grandes centrais prevalecem até hoje: localização

viária estratégica, intervenção pública na construção do espaço

de comercialização, vigilância sanitária e supervisão dos preços”

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(...) “considerando a importância de tais mercados no

desenvolvimento urbano”. (GREEN, 2003, s. p.) Tradução nossa.

Nos casos de Barcelona e Paris esta conciliação foi possível, porém em outros

casos a solução envolve mudança de local, pois não há como fazer adaptações

que realmente transformem a Central. Foi o caso da Central atacadistas de

Nantes na França que está com um novo projeto em estudos para implantação

nos próximos anos, (Figura 2.27) que mostra a maquete eletrônica da proposta

para a nova Central.

Figura 2.27 - A proposta para renovação da Central de Nantes. Fonte: MIN FRANCE, 2007, s. p.

A implantação do novo mercado de Nantes, (Figura 2.28), se dará próxima a

uma rodovia periférica e em seu plano de acesso estão previstas novas

rotatórias, retornos e outras providências que a viabilizem.

Figura 2.28 – Estudo de implantação do novo MIN de Nantes. Fonte: MIN FRANCE, 2007, s. p.

Criação de rotatórias intermediárias

Alças de contorno

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A solução adotada em Nantes, de mudança de local, da Central, poderá ser

adotada em outras Centrais, grande parte construída nos anos 1960 – 70 e pode

se configurar como a solução mais adequada, como no caso da CEAGESP,

atualmente em discussão.

O plano urbano de mudança de uma Central deve levar em conta estudos de

ocupação da área nova, com acessos e circulações bem resolvidas e deve

considerar uma reintegração urbana da área onde a Central será demolida, pois

pelas suas dimensões estas áreas podem ser bons exemplos de projetos

urbanos e configuração de novos bairros.

É preciso compreender que para abastecer nossas metrópoles, por muitas

vezes, serão criadas “cidades do abastecimento alimentar”, portanto, os seus

impactos de curto e de longo prazo nas cidades que as acolherem como sedes,

deverão ser exaustivamente ensaiados e parametrizados.

2.3 – O projeto das Centrais de abastecimento alimentar. Diagnóstico e

problematização.

Com o título de: Diretrizes de Engenharia e Arquitetura para equipamentos de

comercialização de produtos no atacado, a Companhia Nacional de

Abastecimento – CONAB elaborou um manual com o objetivo de “Fornecer um

roteiro completo para elaboração de um projeto de Arquitetura e Engenharia de

CEASAS”.

O manual, elaborado em 2007 visa, portanto, estabelecer diretrizes de projetos

com a melhor técnica para implantação de Centrais de abastecimento alimentar

no Brasil e foi elaborado pelo Engenheiro Civil Ivens Roberto de Araújo Mourão.

Faremos uma análise deste manual o que colaborará substancialmente para o

entendimento de como foram implantadas as Centrais brasileiras, sob quais

conceitos e sob qual ótica foram pensadas.

O projeto de Arquitetura de uma CEASA é muito específico. Foi

um conhecimento adquirido pela COBAL – Companhia Brasileira

de Alimentos, quando da implantação do Sistema Nacional de

Centrais de Abastecimento – SINAC. (Mourão, 2007, p. 4).

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A experiência relatada da COBAL / SINAC ocorreu a partir do início dos anos

1970, quando duas Centrais já se encontravam instaladas no Brasil, sendo uma

em Recife e outra em São Paulo. Para os outros estados grandes empresas de

projeto foram contratadas para a elaboração dos estudos e projetos executivos

das Centrais. Estas empresas buscaram auxílio técnico no exterior. A própria

COBAL, à época, recebia consultoria da MERCASA espanhola.

Segundo MOURÃO, 2007, na implantação das primeiras CEASAS sob esta

coordenação notou-se que os projetos não eram bem adaptados e estudados

para a realidade brasileira. Entre os problemas encontrados nos projetos,

citaremos os principais:

Boxes com quatro vezes a mais do que a real necessidade do atacadista, impedindo a cobrança correta da tarifa/m²;

Pavilhões com corredor central, próprio para o frio intenso dos mercados europeus, e que não ficaram ociosos porque foram ocupados pelos atacadistas;

Estrutura de cobertura sofisticada do ponto de vista arquitetônico e de manutenção muito cara para uma atividade de baixo retorno financeiro;

Infraestrutura de possíveis ampliações prontas quando só o futuro poderia dizer a necessidade do mercado;

Espaçamento reduzido entre os pavilhões, tornando caótico o trânsito e o uso simultâneo do espaço por atacadistas e varejistas;

Pavilhões com plataformas elevadas tornando impraticável o uso para a grande maioria dos usuários: os varejistas. (MOURÃO, 2007, P. 4 e 5).

Estes pontos levantados como problemáticos e não adaptados à realidade

brasileira, partem de um pressuposto de que nada do que era feito na Europa

poderia ser aproveitado no Brasil, porém não há, pelo lado brasileiro, uma

tentativa de entendimento e diálogo que levaria a uma interpretação que visasse

a conciliar as necessidades brasileiras com as técnicas e decisões projetuais

utilizadas na Europa. Neste caso específico na Espanha.

Comentaremos cada ponto destes levantados, sob a ótica da arquitetura e da

sua conciliação com a operacionalidade, visando o atendimento aos preceitos

modernos de segurança alimentar e condições higiênicas que uma Central de

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alimentos requer. O prédio da comercialização é onde tudo começa e precisa

funcionar com conceitos de acessibilidade, funcionalidade e responsabilidade

socioambiental. Ao comentarmos o manual da CONAB, estaremos iniciando a

nossa proposição de diretrizes para implantação de uma Central de

Abastecimento Alimentar, no que tange ao projeto dos edifícios, as quais serão

complementadas no próximo capítulo com diretrizes gerais de implantação e

sustentabilidade.

O primeiro ponto que trata do tamanho dos boxes é apenas uma questão de

dimensionamento do módulo básico. Sabia-se pelas experiências de mercados

municipais que um tipo de produto poderia demandar mais espaço do que outros.

O segundo ponto trata da construção dos galpões com o corredor interno e da

percepção de que este espaço não seria adequado para o calor durante a maior

parte do ano no Brasil. Na interpretação que fazemos a partir das experiências

adquiridas, esta visão está equivocada por vários motivos como:

a) As altas temperaturas médias brasileiras aceleram o amadurecimento das

frutas, portanto os galpões necessitam ser refrigerados. O corredor seria um

facilitador;

b) Sem o corredor central, os boxes ficam voltados para fora, para as

plataformas de carga e descarga, ocasionando um acúmulo de atividades,

como recepção e expedição de mercadorias, circulação de mercadorias de

boxes vizinhos, além da impossibilidade de refrigeração, por conta das portas

dos boxes permanecerem abertas. (Figura 2.29); A Figura 2.30 mostra o

mesmo pavilhão com o corredor central, o que evita o efeito relatado abaixo.

c) Os comerciantes que ocuparam o corredor central, ficaram em desvantagem,

pois estão distantes das plataformas e com menor visibilidade.

Figura 2.29 – O pavilhão sem o corredor central. Todas as atividades se concentram na plataforma de carga e descarga, causando problemas operacionais. Fonte: MOURÃO, 2007, p. 36.

Plataforma de carga, descarga, venda e circulação: fragilidade operacional

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Figura 2.30 – O pavilhão com o corredor central. Todas as funções se organizam e nenhum comerciante fica em desvantagem em relação aos outros. Pode haver climatização e a iluminação da área central pode ser zenital, e ter uma estética própria. Fonte: elaborada pelo autor a partir de: MOURÃO, 2007, p. 36.

Salientamos que o corredor central é um elemento muito importante para as Centrais, pois: a) Organiza a comercialização e a circulação pelo pavilhão, ao contrário do que

preconizam as diretrizes da CONAB, além de trazer de volta o conceito de

praça de comercialização;

b) O item que trata da estrutura sofisticada e cara, é uma questão de definição

de projeto e a visão de que “é uma atividade com baixo retorno financeiro” se

baseava em uma ótica de ocupação dos galpões, apenas por produtores.

c) A infraestrutura para futuras instalações, não precisavam ser executadas,

mas é uma iniciativa louvável, pensar na expansão das Centrais. O tempo

provou que essas preocupações estavam corretas.

d) O setor de serviço de apoio deve ser acessível e bem localizado.

e) As ruas estreitas são um problema para as Centrais antigas, pois, suas ruas

foram dimensionadas para o tamanho dos caminhões da época. A CEAGESP

é um exemplo claro desse.

f) Com a paletização das cargas, as plataformas elevadas na altura dos

caminhões, passou a ser um item fundamental, pois, agiliza os serviços de

carga e descarga sem esforços contínuos aos trabalhadores. Quanto ao

corredor central é importante salientar que em pesquisas nos projetos antigos

da CEAGESP, identificamos um modelo de pavilhão, conhecido como Boxe

do Produtor – BP que foi concebido com o corredor central, que foi ocupado

posteriormente. Ver Figura 2.31.

Corredor para comercialização

Plataformas e docas climatizadas Boxes para mercadorias Rampas

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Figura 2.31 – Planta do pavilhão BP na CEAGESP que possuía o corredor central que acabou sendo fechado nas laterais e virou uma extensão dos boxes que vem das plataformas. O posicionamento das rampas leva para o corredor central. Fonte CEAGESP, 2016, s. p.

As Figuras 2.32 e 2.33 mostram o corte e a elevação do mesmo pavilhão.

Figura 2.31 – Corte do pavilhão BP que mostra o corredor central livre. Fonte CEAGESP, 2016, s. p.

Figura 2.32 – Elevação lateral do pavilhão BP, com as rampas levando ao “aparente” corredor central. Fonte: CEAGESP, 2016, s. p.

Rampas

Legenda

Fluxo anterior

Fluxo atual

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Na mesma análise, percebemos outro modelo de pavilhão, o Armazém do

Produtor – AP, (Figura 2.34), foi concebido, parte com plataforma elevada e parte

sem plataforma, sendo os dois níveis unidos por duas escadas.

Legenda: Circulação da parte alta; Circulação da parte baixa

Figura 2.34 – Planta do pavilhão AP. É o pavilhão com maior problema de acessibilidade para carregadores e compradores, pois quem chega pelas plataformas tem problemas para acessar a parte baixa e quem fica embaixo, tem o mesmo tipo de dificuldades. Fonte: CEAGESP, 2016, s.p.

São seis pavilhões com estas características e todos tem o mesmo uso, no setor

de legumes. Seria possível uma alternativa para a comercialização se nestes

galpões se utilizasse a parte baixa como praça de comércio. Não é a realidade

local, onde há uma grande aglomeração de comerciantes nos dois níveis. A

Figura 2.35 mostra a elevação deste pavilhão, a partir da face da parte baixa.

Figura 2.35 – Elevação do pavilhão AP com os desníveis entre as alas. Fonte: CEAGESP, 2016, s.p.

Parte alta

Parte baixa

Escada

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A CEAGESP possui um acervo de projetos antigos, digitalizados, os quais foram

disponibilizados para nossa pesquisa.

O manual da CONAB, escrito em 2007, não levou em conta os erros cometidos

na construção das Centrais antigas e continua preconizando a construção de

pavilhões sem plataforma e sem corredor central.

Em outro trecho o manual desestimula o uso de iluminação zenital, pois a

incidência de luz soar, prejudicaria os produtos frescos. (MOURÃO, 2007). O que

prejudica os alimentos é um ambiente fechado e sem luz natural. Se o projeto

disciplinar a entrada da luz, como foi observado nos projetos europeus, não há

problema algum.

Assim como a orientação dos pavilhões, no sentido leste – oeste, também

defendida no manual, para evitar a forte incidência do sol sobre as plataformas.

A adoção do corredor central eliminaria este problema, pois, nenhum produto

ficaria exposto na plataforma, como ficam na CEAGESP, por exemplo. Além do

que, por força de uma orientação leste – oeste, qualquer terreno com uma

pequena declividade, cujas curvas de nível ocorram no sentido norte – sul estaria

inviabilizado, pois o desnível seria maior de uma ponta a outra do pavilhão, ou

haveria gastos extras com terraplenagem para mitigar o problema.

As diretrizes para o projeto de uma Central têm que ser diferentes destas, para

que se corrijam tais falhas nas implantações de futuras Centrais no país.

2.4 – A CEAGESP e a Vila Leopoldina – Operação Urbana.

A Vila Leopoldina é hoje uma região mais valorizada da cidade de São Paulo,

tendo passado por grandes modificações desde o seu surgimento como

loteamento em 1894 quando era uma região pantanosa, até os dias de hoje

(PONCIANO, 2014, s.p.). Com a abertura da Rodovia Anhanguera na década de 1940,

o bairro, e a região da Lapa ganharam um impulso de desenvolvimento com a

implantação de suas primeiras indústrias. Na década de 1960, a Vila Leopoldina

recebeu as primeiras instalações da Companhia de Entrepostos e Armazéns

Gerais de São Paulo – CEAGESP, por estar localizada fora da área central da

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cidade, para absorver parte dos comerciantes do Mercado Municipal de São

Paulo, na Rua Cantareira, que sofriam com as enchentes do rio Tamanduateí

(CEAGESP, 2015). Desta maneira, com resistências iniciais dos primeiros

permissionários, com dificuldades de infraestrutura, mas, com a missão de

organizar o comércio atacadista de alimentos do município, surgiu este

equipamento urbano que viria a ser, anos mais tarde, a maior Central de

abastecimento das Américas. (CEAGESP, 2015).

Com o crescimento da cidade na sua direção e a consequente valorização do

solo na região, a Central passou a ser um problema ao desenvolvimento desta,

fazendo com que tanto os moradores do bairro quanto os comerciantes da

CEAGESP, viessem a propor a sua transferência para outro local, fato agravado

após a tentativa de implantação da Operação Urbana Vila Leopoldina- Jaguaré,

cujo fracasso estimulou uma explosão imobiliária no bairro.

A Vila Leopoldina é um local privilegiado do município de São Paulo, por sua

geografia e localização, no encontro das Avenidas Marginais: a do Rio Tietê e a

do Rio Pinheiros e é uma região plana, fatores importantes na escolha do local

para a implantação da Central, a qual se beneficiou por estar a menos de oito

quilômetros de cinco das principais estradas que chegam à cidade de São Paulo

pelas avenidas Marginais, como vemos na Tabela 2.2, sendo:

Tabela 2.2 – Distância entre a CEAGESP e as estradas que ligam a Capital ao interior do Estado de São Paulo. Elaborada pelo autor. Fonte: GOOGLE MAPS, 2015.

Rodovia Direção Distância da CEAGESP

Presidente Castelo Branco Interior de SP e MS 4,5 km

Anhanguera Interior de SP e Triângulo MG 6,5 km

Raposo Tavares Interior de SP, norte do PR e MS 7,5 km

Régis Bittencourt Interior de SP e sul do país 7,6 km

Bandeirantes Interior de SP 8,0 km

Outras distâncias relevantes são: dezessete quilômetros do marco zero da

cidade, a cerca de onze quilômetros das avenidas Paulista e Luís Carlos Berrini

(centros financeiros e de negócios) e a menos de vinte quilômetros da Rodovia

Presidente Dutra que liga São Paulo ao Rio de Janeiro e às outras regiões do

país. (GOOGLE MAPS, 2015).

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O bairro nasceu de um loteamento realizado em 1894 por E. Richter & Company,

empresa proprietária da área em questão, que promoveu a sua venda através

de “uma jogada publicitária e alugou barcos para os futuros compradores

conhecerem os lotes passeando pelo rio Tietê, terminando o passeio num grande

piquenique para mais de quinhentos convidados” (PONCIANO, 2014, s.p.). Quanto ao

nome do bairro, Ponciano (PONCIANO, op.cit, s.p.) revela que não se trata de uma

homenagem à Princesa Leopoldina, mas sim a uma das sócias deste

empreendimento, a senhora “Leopoldina Kleeberg”. O empreendimento não

prosperou, pelo fato da região ser “pantanosa”, e nova tentativa foi feita em 1926

por outra companhia, a Siciliano e Silva que loteou quinhentos mil metros

quadrados na região, não obtendo, ainda, o retorno esperado (PONCIANO, 2014).

A ocupação urbana da região da Lapa foi anterior à da Vila Leopoldina e iniciou-

se por volta de 1880 com o loteamento “Grão Burgo” na Lapa de Baixo e a

fixação de migrantes italianos na Vila Romana. Em seguida ocorreu a

urbanização da Vila Anastácio em 1919, o loteamento do Alto da Lapa e da Bela

Aliança em 1920, pela Companhia City e por fim, a Vila Ipojuca foi ocupada por

migrantes do leste europeu em 1921. A proximidade com o rio Tietê e a

construção da ferrovia que servia a região de maneira incipiente ainda,

propiciaram a vinda das primeiras indústrias (Vidraria Santa Marina e o

Frigorífico Armour) causando o crescimento do bairro de maneira mais regular.

(PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO - PMSP, 2015).

Após o loteamento de 1926, três fatos alavancariam o crescimento do bairro nas

décadas seguintes. O primeiro deles foi a construção da Rodovia Anhanguera

em 1943 / 1948, que se tornaria uma importante ligação da capital com o interior

(norte) do Estado, substituindo a antiga Estrada de Campinas e que despertaria

interesse de novas indústrias, pela região da Lapa e Vila Leopoldina (PMSP, 2015);

o segundo, foi a instalação do Centro Industrial Miguel Mofarrej na década de

1950 que segundo Ponciano (2014) “...deu nova vida à vila. No lugar das antigas

e ultrapassadas olarias vieram as grandes indústrias, e com elas o

desenvolvimento” e o terceiro acontecimento impactante para o bairro foi a

instalação do Centro Estadual de Abastecimento S.A. - CEASA em 1967 com os

primeiros pavilhões que abrigariam comerciantes de frutas, legumes e verduras

(FLV) em terreno pertencente ao governo do Estado, onde também seriam

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instalados silos e galpões de armazenagem da Companhia de Armazéns Gerais

do Estado de São Paulo – CAGESP. As duas empresas foram unificadas em

1969, dando origem a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado

de São Paulo – CEAGESP, que em pouco tempo se expandiu, ocupando com

novos pavilhões e ruas de circulação interna, os 70 ha da área. (CEAGESP, 2015).

Em 1968 foram iniciadas as operações da Rodovia Presidente Castelo Branco,

que também trouxe desenvolvimento ao bairro, pois, juntamente com a

construção da ponte dos Remédios passou a ser a principal ligação entre São

Paulo e Osasco e o lado oeste do interior do Estado. O mapa da Região da Vila

Leopoldina (Figura 2.36), mostra a localização do bairro, no encontro das

Avenidas Marginais dos rios Pinheiros e Tietê, em relação às cinco estradas

citadas, bem como a localização da Central de Abastecimento e sua localização

privilegiada no bairro.

A sua localização, como mostramos, é um dos pontos positivos da Vila

Leopoldina, um bairro de classe média para média alta, localizado na zona oeste

da capital paulista que teve um desenvolvimento lento inicialmente, mas que nos

últimos anos experimenta um crescimento vertiginoso com a troca de uso e

ocupação de seus quarteirões que abrigavam galpões de indústrias e de

Figura 2.36 – Mapa da Vila Leopoldina com as estradas e a localização da CEAGESP. Elaborado pelo autor. Fonte: GOOGLE MAPS, 2015, s.p.

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armazéns, por empresas de serviços, de produção cultural, restaurantes e

edifícios residenciais.

É neste bairro que funciona a Central de Abastecimento alimentar que ora

analisamos, a CEAGESP, que faz parte da história do bairro desde os meados

dos anos 1960, quando lá se instalou. Passados 50 anos tornou-se um sério

problema para ser resolvido, pois confronta o bairro com vários tipos de mazelas

urbanas, como trânsito de cargas e um grande acúmulo de veículos, poluição

ambiental como principais efeitos externos e acúmulo de sujeira, tráfico de

drogas e prostituição, dentre outros, como efeitos internos que põem em

questionamento constante a permanência do Central na região hoje incorporada

à cidade.

A CEAGESP por outro lado é um grande gerador de empregos e de negócios,

pois cerca de duas mil e setecentas empresas funcionam em seus pavilhões,

gerando cerca de quinze mil empregos diretos e milhares de outros indiretos.

Somente carregadores sindicalizados são aproximadamente quatro mil (CEAGESP,

2015). Ou seja, um público nada desprezível o que obriga os responsáveis por sua

gestão, a pensarem na pretendida mudança de local da Central com cuidados

especiais.

O bairro, a Central de Abastecimento Alimentar e a Operação Urbana não

regulamentada.

O bairro da Vila Leopoldina e a CEAGESP têm uma história conjunta, de

aproximadamente cinco décadas. Na época de sua implantação, no bairro, a

Central de abastecimento colaborou com o seu desenvolvimento, portanto,

comparamos os dados numéricos relativos à população da Vila Leopoldina à

época em que a CEAGESP foi inaugurada com levantamentos recentes sobre o

bairro, para o que utilizaremos os dados censitários dos anos de 1970 e 2010,

com a finalidade de verificarmos a evolução ocorrida. Os dados que utilizamos

foram compilados pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano da

Prefeitura do Município de São Paulo.

Estudamos, no mesmo período, os números brutos da comercialização de

produtos na CEAGESP para podermos ter um registro do comportamento destas

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vendas e o seu reflexo no bairro12. A CEAGESP funciona durante o dia e a noite,

e atrai milhares de veículos de carga e de passeio diariamente para os seus

pavilhões.

Também analisamos a Operação Urbana Consorciada – OUC - Vila Leopoldina-

Jaguaré a qual traçou planos de desenvolvimento viário e urbanístico para os

bairros, com uma intervenção maior na Vila Leopoldina, pois continha propostas

para o terreno onde se localiza a CEAGESP e comunidades vizinhas à Central.

O fato desta Operação Urbana não ter sido regulamentada e os planos não

serem implementados, acabou deixando o bairro a mercê do mercado

imobiliário:

Após sete anos desde a concepção, plano e projeto urbano não

foram implementados e se observa na área-alvo da OUC, a ação

edilícia do mercado imobiliário, que prossegue intensiva e

rapidamente transformando a região. Sob a gestão da

Subprefeitura da Lapa, a região objeto de estudo e do plano

frustrado atesta transformações advindas da reestruturação

produtiva do setor secundário, materializadas com o abandono

das antigas instalações industriais. (ABASCAL, KATO E CYMROT,

2013, p. 5)

Compararemos os números do crescimento populacional da Vila Leopoldina com

toda a região da Lapa para observarmos como foi o desenvolvimento do bairro

e o seu adensamento nos últimos 40 anos, refletidos nas pesquisas censitárias.

Ao final desta demonstração, teremos a visão clara de como a expansão da

população na região da Via Leopoldina e o aumento da comercialização de

produtos na CEAGESP, por sua velocidade, podem ter corroborado com a

mobilização de esforços da sociedade local e do poder público, no sentido de

retirar a Central de Abastecimento da região, de maneira imediata, fato agravado

com a não homologação da Operação Urbana e o consequente adensamento

do bairro.

A Vila Leopoldina teve um aumento significativo de população no período

demonstrado em nossa análise (1970 a 2010), sendo que a década com o maior

índice de crescimento, dentro deste período, foi a última, compreendida entre os

12 Não obtivemos os dados das vendas em anos coincidentes com os anos de realização dos censos, fato que não prejudica a análise apontada, uma vez que os números indicam tendências.

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anos de 2000 a 2010, quando o bairro teve um acréscimo de população de cerca

de 46,94% (SMDU), [2013?], muito acima da média da região da Lapa, (Tabela 2.3),

que mostra o período total analisado, e compara o ano de 1970 com o ano de

2010. Tal crescimento deveu-se à pela forte expansão imobiliária na região, que

passou a ocupar as grandes áreas vazias existentes no bairro, devido ao

fechamento ou migração de indústrias e de armazéns ou centros de distribuição

que mantinham alguma atividade correlata àquelas exercidas na Central de

Abastecimento (SMDU, [2013?]).

Tabela 2.3 – Crescimento da população da Região da Lapa. Elaborada pelo autor, para comparação entre os bairros da região da Lapa. Fonte: SMDU, [2013?].

1970 2010

Barra Funda 15.407,00 14.383,00 (-6,65%) 5,60 2.568,39

Jaguara 23.779,00 24.895,00 4,69% 4,60 5.411,96

Jaguaré 39.867,00 49.863,00 25,07% 6,60 7.555,00

Lapa 70.981,00 65.739,00 (-7,38%) 10,00 6.573,90

Perdizes 99.548,00 111.161,00 11,66% 6,10 18.223,11

Vila Leopoldina 25.584,00 39.485,00 54,33% 7,20 5.484,03

Cálculo da Densidade

2010 (hab/km²)

Anos comparadosDados da

População

Índice de

Crescimento

Área do

Bairro (km²)

Notamos na tabela acima que houve crescimento na população da região da

Lapa, mesmo com índices negativos nos bairros da Barra Funda e da própria

Lapa, com (-6,65%) e (-7,38%) respectivamente. O fato surpreendente é a

variação ocorrida na Vila Leopoldina, no mesmo período, que foi de 54,33%

positiva, evolução está acima da média da região de 11,03%, sendo que a maior

parte deste crescimento ocorreu entre 2000 e 2010, época em que a região

recebeu um grande número de novos edifícios residenciais, como veremos na

Figura 2.37 que mostra a variação deste tipo de habitação neste período

específico. Vale lembrar que nas décadas anteriores o crescimento ocorreu em

taxas menores.

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Figura 2.37 – Edificações existentes anteriormente ao ano de 1998 e o grande crescimento de novos edifícios observado nos anos seguintes. Predominância de apartamentos com 3 ou 4 dormitórios. Elaborado pelo autor. Fonte: GEOSECOVI / EMBRAESP, 2012, p. 46

No período acima representado pela Figura 2.37, a Vila Leopoldina recebeu,

segundo o GEOSECOVI / EMBRAESP, 2012, 8.502 unidades de moradia, (1.216 apenas

em 2003), com predominância para apartamentos de 3 e 4 dormitórios, como

mostra a Figura 2.37. Nota-se, pelas características dos edifícios lançados no

período, que houve uma grande ocupação por condomínios residenciais verticais

na Vila Leopoldina, como foi demonstrado anteriormente, sendo em sua maioria

edifícios de médio / alto para alto padrão, com valores elevados.

A Central de abastecimento e seu movimento

Segundo a CEAGESP, 2015, o crescimento do volume de vendas em toneladas

de produtos no período analisado (entre 1970 a 2010) e no período recortado da

última década estudada, ocorreu como mostramos na Tabela 2.4, abaixo. Como

dissemos anteriormente, não obtivemos o volume de vendas do ano de 1970.

Tabela 2.4 – Volume comercializado em toneladas, no Entreposto Terminal São Paulo - ETSP. Fonte: CEAGESP – Departamento de Economia, 2015, s.p.

Dia Ano Dia Ano Dia Ano Dia Ano Período

6,20 1.922,00 9,02 2.796,00 10,07 3.123,00 11,00 3.413,00 (x) 1000 t

Crescimeto

Acumulado

CEAGESPAnos

De 1969 a 1976 2000 2010 2014

Percentual45,47% 11,69% 9,28%

45,47% 57,16% 66,44%

Anteriores a 1998

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Com os dados acima expostos verificamos que enquanto a populaçao da Vila

Leopoldina cresceu 54,33 %, em 40 anos, com forte aceleração na última década

deste período com um acréscimo de 8.502 unidades residenciais, o volume de

vendas na CEAGESP cresceu 66,44 %, entre os anos 1969 - 76 e 2010 - 14,

sendo que entre 2000 e 2010, o recorte temporal que fizemos em relação ao

crescimento da população, as vendas na Central de abastecimento evoluiram

11,69 % e para completar a análise, nos quatro anos seguintes, apesar de uma

leve queda em 2013, as vendas cresceram 9,28 %.

Qual é a relação entre as duas análises e a exigência de mudança da CEAGESP

do local, uma vez que o aumento populacional do bairro, isoladamente, não

interferiu no incremento comercial da Central? Neste aspecto, teríamos que levar

em conta o aumento da população da cidade e da Região Metropolitana de São

Paulo a qual consome, segundo a CEAGESP, 2015, 65 % do volume de produtos

frescos comercializados na Central atacadista.

A relação se dá pelo caos, pela desorganização e pelas demandas trazidas à

região pela simultaneidade do crescimento populacional e do aumento de

vendas, ou seja, a relação que identificamos é resultado do aumento do número

de veículos que trafegam pelo bairro e congestionam suas avenidas, ruas

estreitas e acessos, com a consequente deterioração da qualidade de vida e das

condições de locomoção de pessoas que moram, trabalham ou passam pela

região em seus deslocamentos cotidianos. Além disso há a progressão das

incômodas poluições sonora e ambiental, pois grande parte desses veículos

atraidos para o bairro são caminhões e carretas que frequentam o Entreposto

diariamente, chegando a picos de 8.000 veículos pesados em determinadas

datas do ano. (CEAGESP, 2015). A Figura 2.38, mostra a implantação da Central e

a Figura 2.39 mostra uma vista aérea.

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Figura 2.38 – Implantação da CEAGESP e a setorização por produtos na Central. (Fonte: CEAGESP, 2015).

Figura 2.39 – Vista aérea da CEAGESP. Fonte: PEREIRA, 2015.

Segundo Villaça, (2001 p. 138) o setor sudoeste da cidade de São Paulo é a área

onde as classes mais abastadas escolheram para morar e criar suas relações

de dominação do espaço intra-urbano:

Banco de Alimentos

Creche Nossa Turma

Comunidades da Linha e do Portão 9 Área do Projeto

Cingapura Área de Transbordo e

Reciclagem de Resíduos

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É possível então a seguinte análise: na época desta pesquisa

(1960*), o centro era das camadas de mais alta renda. Nele se

concentravam não só os empregos dessas camadas, mas

também seus profissionais liberais, seus lugares de diversão –

cinemas, teatros, boates, restaurantes e lojas. A população de

mais alta renda concentrou-se no quadrante sudoeste, a partir do

centro e junto a ele. Ao se afastar do centro – sempre no

quadrante sudoeste, manteve o acesso a ele por meio do melhor

sistema de vias radiais da cidade.” (...) Produziu, desse modo,

para si, a acessibilidade à sua principal concentração de

empregos, de locais de compras e de serviços, além do local onde

se instalaram os aparelhos do Estado e da Igreja. (*) anotação nossa

Nesta época a Vila Leopoldina fazia parte do distrito industrial da região da Lapa

e na década citada (1960) recebeu a CEAGESP que trouxe consigo um

incremento de ocupação na região com galpões de armazenamento e de

funções paralelas ou subfunções ligadas à Central. O bairro tornou-se o cenário

perfeito para acolher tais atividades, pois estava bem localizado (Figura 2.35) em

relação às centralidades da época e às estradas e vias de escoamento de

mercadorias. E a mais de 5 km dos locais de moradia das classes com maior

poder aquisitivo, moradoras de bairros como o Alto de Pinheiros, os Jardins e o

Morumbi, por exemplo, no “quadrande sudoeste”, ou seja, nesta época esta

ocupação da Vila leopoldina era benéfica, pois não importunava às classes alta

e média alta e atendia às necessidades das classes menos favorecidas que

também moravam pela região e tinham acesso a empregos próximos a suas

moradias.

A Operação Urbana que não aconteceu

Em 2003 foi anunciada a Operação Urbana da Vila Leopoldina – Jaguaré que

propunha planos ambiciosos de transformação dos dois bairros com um olhar

apurado em direção à grande área ocupada pela CEAGESP. Dentre outras

propostas o plano continha os seguintes pontos:

O Projeto Urbano proposto pelo plano em 2003/04 propunha

adensamento habitacional controlado quanto aos gabaritos

praticados, e o concentrava principalmente na área que é hoje

ocupada pela Central de Abastecimento Geral do Estado de São

Paulo (CEAGESP). Propunha a remodelação do sistema viário e

a execução de pontes já parcialmente em construção sobre os

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Rios Pinheiros e Tietê, para conectar a região a outras áreas e

saídas da metrópole. Este complexo viário inclui novas ligações

com o sistema Anhanguera - Bandeirantes ao norte da cidade

(hoje em construção), assim como a expansão da Avenida

Jaguaré e da Rua Alvarenga, e a construção de nova avenida

paralela à Marginal, ligando a Avenida dos Remédios, a Lapa de

Baixo e a Av. Marquês de São Vicente. Nesta OU, fato que se

repete em outras em implementação, atende-se ao imperativo de

remodelar as conexões estruturais da cidade, favorecendo

acessos e escoamento de fluxos, para o que a abordagem infra

estrutural é uma das condições primordiais e necessárias para o

seu sucesso. (Prefeitura Municipal de São Paulo/SEMPLA, 2003 – in

ABASCAL, KATO E CYMROT, 2013, p. 11).

Com o infortúnio do plano apresentado em 2003, que propunha a remoção da

CEAGESP do bairro, houve, por um curto período de tempo, um esquecimento,

uma acomodação quanto a este questionamento, porém, ao mesmo tempo, a

não homologação da OUC e a consequente falta de planejamento e regramento

específico da área, despertou o mercado imobiliário que diante da percepção do

imenso potencial de expansão de negócios na região, agiu rapidamente, uma

vez que os bairros Pompéia e Vila Romana, na mesma região, já se encontravam

com seu estoque de área construtiva próximo do limite quando se iniciou a forte

ocupação da Vila Leopoldina. A explosão imobiliária ocorrida no bairro trouxe de

volta à pauta, a discussão da expulsão da Central.

O desenho proposto prevê a flexibilidade de implantação e de

configuração das edificações estabelecendo-se limites bem claros

de coeficientes de aproveitamento, taxas de ocupação e

principalmente gabaritos, criando novas regras para os recuos e

o seu aproveitamento. Procurou-se compatibilizar o limite de

altura das edificações com o desenho da paisagem e com as

reivindicações apresentadas nas plenárias do plano regional,

prevendo-se uma solução de implantação das edificações

intermediária, ou mista, entre a quadra tradicional fechada e

homogênea, e a quadra composta por edifícios isolados. (BERNARDINI, 2005, S.P.).

Complementando a informação anterior e tendo em vista a não implantação da

OUC pretendida, as regulamentações relatadas por BERNARDINI, 2005, não

ocorreram. Com isso, a região deixou de ganhar uma nova condição urbanística

e paisagística, não havendo a padronização do gabarito das edificações e

tampouco a integração das áreas do bairro de maneira humanizada. O que

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ocorreu nos anos seguintes foi uma avassaladora expansão imobiliária que

ampliou a quantidade de edifícios isolados em seus lotes, aumentando a

segregação dos moradores destes, em relação à rua e ao convívio público.

Como consequência direta destes fatos deletérios, que levaram à saturação da

área, a possível retirada da CEAGESP de sua atual implantação na Vila

Leopoldina, voltou a ser debatida, sendo que em junho de 2015, foi firmado um

acordo entre a Prefeitura do Município e o Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento – MAPA que visava estabelecer uma agenda para estudar e

viabilizar a remoção definitiva da Central da região, com a possibilidade de

alteração do zoneamento de ZPI (zona predominantemente industrial) para ZOE

(zona especial). (BERNARDINI 2005).

Existe a possibilidade ainda, prevista em projeto, do deslocamento

das atividades da CEAGESP, e sua consequente substituição por

ocupação similar ao restante da área” (BERNARDINI, 2005, s.p.).

Se entendermos que, conforme VILLAÇA, 2001, o quadrante sudoeste foi e

continua a ser a zona de expansão das ocupações das classes enriquecidas,

que a segregação urbana/espacial continua sendo reproduzida na região e que

estes dois fatores somados ao não estabelecimento da OUC que traria uma

possibilidade de disciplinamento da ocupação do solo na área, o que não

ocorreu, perceberemos que o conflito instaurado em relação à permanência da

CEAGESP no local tende a se acirrar. Podemos intuir também que se o acordo

firmado não apresentar resultados rápidos, as manifestações a este respeito

serão mais constantes, pois a permanência de uma grande estrutura pública no

seio de um local em ascensão do valor da terra é um empecilho para os planos

da especulação imobiliária.

2.5 – A Sustentabilidade possível.

Após este estudo direto sobre as edificações da CEAGESP, voltamos a abordar

a questão da sustentabilidade na Central, uma vez que no mundo, várias

medidas foram tomadas com sucesso.

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A partir de 2003, iniciou-se um procedimento de economia de água que incluía

a detecção de vazamentos, a perfuração de poços artesianos e tentativas de

utilização de água das chuvas.

Os dois primeiros itens, somados à substituição de todas as torneiras da Central,

por torneiras econômicas, maior rigor da fiscalização sobre os permissionários e

racionalização dos serviços de lavagem da Central, observou-se um ganho na

cobrança do serviço de água, de cerca de 30 % em 2007. Foi adotado o

Programa de Uso Racional da Água – PURA do governo estadual. (CEAGESP, 2007).

Á época foi iniciado o processo para licitação de uma mini estação de tratamento

de esgotos, o que não ocorreu.

A captação da água da chuva também não foi possível, pois demanda o

armazenamento da água captada, o que encarecia o projeto. Não houve

respaldo dos permissionários que se recusaram a pagar o acréscimo em seus

pagamentos mensais de permissão de uso e custeio de serviços. (CEAGESP, 2007).

Foi introduzido em 2006 o Programa de Uso Racional da Energia Elétrica. Este

programa não teve o mesmo êxito que o da água, pelas características de

consumo de uma Central que se utiliza de muitos motores e de consumo fixo e

rotineiro. Foram tomadas medidas de instalação de capacitores e iniciados

estudos para troca de luminárias por LED, nos 1000 postes de iluminação de

ruas internas e também nos galpões. Mas de novo, houve resistência dos

permissionários em despender esse dinheiro. (CEAGESP, 2007).

No campo social, além de incentivos à creche que já operava na Central, foi

também implantado o Banco CEAGESP de Alimentos – BCA, cujo principal

objetivo era combater o desperdício de alimentos, incentivando os

permissionários a doarem alimentos que perdessem o valor comercial, mas que

estivessem íntegros, do ponto de vista nutricional, por exemplo, uma fruta com

pequeno amassado. Os permissionários eram incentivados a doar estes

alimentos ao BCA, que os classificava e os distribuía para entidades

cadastradas, incluindo o “Mesa Brasil”, do Serviço social do Comércio – SESC.

(CEAGESP, 2005).

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A partir de 2005, com o edital de licitação para contratação de empresa para

coleta de resíduos. Diante da percepção de que 95 % dos resíduos eram

orgânicos foi introduzida na licitação, a obrigação de que a destinação final dos

resíduos passasse do aterro para uma usina de compostagem. Foi estabelecida

uma mecânica de progressividade para essa migração e a consequente

transformação do lixo em composto orgânico que obrigava a contratada a tratar

os resíduos conforme consta na Tabela 2.5, em um contrato de cinco anos:

Tabela 2.5 – Evolução da Compostagem dos resíduos da CEAGESP de maio/2005 a maio/2010. Nos dois últimos anos, não há aumento na quantidade de resíduos tratados, pois o limite quantitativo de capacidade da usina foi atingido. Fonte: CEAGESP, 2005, s. p.

Junho Dezembro Ano

Ano 1 100% 0 80 ton 120 ton 100 ton

Ano 2 80% 20% 85 ton 127 ton 106 ton

Ano 3 60% 40% 85 ton 127 ton 106 ton

Ano 4 40% 60% 90 ton 135 ton 112 ton

Ano 5 40% 60% 98 ton 147 ton 122 ton

Período Aterro Sanitário Usina de CompostagemMédia/dia em toneladas

Mecânica de destinação final dos resíduos na CEAGESP - 2005 a 2010

Em 2008, intensificou-se a reciclagem da palha (capim) que acompanhavam as

cargas de melancia e de abacaxi. Esta palha é separada, coletada e vendida

para produtores de cogumelo champignon da região de Mogi das Cruzes que a

utilizam como substrato para o plantio dos cogumelos. Ao mesmo tempo iniciou-

se a reciclagem da casca do coco verde, cuja fibra é utilizada pela indústria

automobilística na forração de bancos de automóveis, e a parte dura do coco, é

triturada e vendida para produtores de orquídeas, pois substitui o xaxim com a

mesma eficiência. A Figura 2.40 mostra a máquina portátil de trituração do coco

verde, que funcionava na CEAGESP.

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Figura 2.40 – Máquina para triturar coco verde. As partes saem separadas após a trituração. Fonte: PEREIRA, 2008, s.p.

Em 2008, foi estruturada a Coordenadoria de Sustentabilidade – CODSU, que

passou a coordenar todas as ações sócio-ambientais da CEAGESP.

Em 2010 foi idealizado o projeto “Universidade CEAGESP, que visava capacitar

os funcionários que trabalham na central para as diversas atividades ali

desenvolvidas. Foi montada uma parceria com a Universidade de Mogi das

Cruzes – UMC, que faria a orientação pedagógica dos cursos e investiria na

reforma do edifício destinado para este fim. A UMC cobraria mensalidades

acessíveis aos funcionários e deveria reservar parte de vagas para bolsas de

estudo integral para alunos das comunidades vizinhas.

O projeto encamparia o restaurante escola, outro projeto de cunho social, de

inclusão de jovens das comunidades. Por este projeto, da Universidade

CEAGESP, a Central ganhou o prêmio “5 de junho” de ações sustentáveis do

Instituto de Negócios Públicos de Curitiba em 2010. Depois de um ano de

estudos de pré-implantação, mudanças na direção da Central, acabaram por

inviabilizar o projeto. (CEAGESP, 2010).

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Estas foram as ações sustentáveis adotadas na CEAGESP nos últimos anos.

Esparsas, nem sempre conectadas uma a outra, mas com impactos visíveis em

alguns casos, como o do BCA que chegou a evitar o desperdício de 300

toneladas por mês ou o dos cocos verdes, que deixaram de ser vistos jogados

pela Central.

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CAPÍTULO 3. A COMPLEXIDADE DA CENTRAL DE ABASTECIMENTO

3.1. O Plano de Intervenção Urbana proposto – PIU.

Ao tratarmos da questão do abastecimento alimentar metropolitano, e como ele

foi se redimensionando ao longo do tempo, procuramos estudar o assunto pelo

aspecto da perenidade de uma estrutura pública de grande porte. Buscamos

evitar o conflito a que estamos assistindo hoje, em relação à localização da

CEAGESP, com a completa negação dos critérios que no passado elegeram

como necessária e coerente sua implantação na Vila Leopoldina, o que com o

passar do tempo, tornou-se inadequada ao local. O bairro se modernizou,

recebeu um brutal aumento de densidade pela acelerada verticalização e com

isso passou a conviver com problemas como falta de estacionamentos nas ruas

de comércio, maior número de linhas de ônibus em ruas estreitas, aumento do

volume de tráfego de veículos. Tais problemas foram apresentados ao bairro nos

últimos 15 anos, com o surto imobiliário e um grande acréscimo de unidades

habitacionais de classe média alta no local.

A única ZEIS (Zona Especial de Interesse Social) definida pelo

Plano Diretor de 2002 está hoje liberada para um grande

empreendimento imobiliário. (OTONDO, et al., 2009, p. 150).

Além dos problemas relatados, o bairro da Vila Leopoldina passou a ser mais

um polo de desenvolvimento da dominação, no quadrante sudoeste e, portanto,

da segregação de classes, o que deverá se agravar muito quando os defensores

da retirada da CEAGESP da área, lograrem sucesso, pois a empresa ali

localizada ainda dá abrigo e propicia rendas alternativas para inúmeras pessoas

das quais a grande maioria habita as comunidades da Linha e do Portão 9,

vizinhas à Central, ou ainda o Projeto Cingapura Madeirit, cuja população

somada aproxima-se a 900 habitantes (OTONDO, 2.010).

Há o risco de toda essa população ser transferida, em curto e médio prazo,

juntamente com a Central, pois há uma forte interdependência ali estabelecida.

É possível distinguir ainda entre a segregação “voluntária” e a

“involuntária”. A primeira refere-se àquela em que o indivíduo ou

uma classe de indivíduos busca, por iniciativa própria, localizar-se

próximo a outras pessoas de sua classe. A involuntária, ao

contrário, é aquela em que as pessoas são segregadas contra a

sua vontade, por falta de opção. Ambos os tipos são as duas faces

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de uma mesma moeda: à medida que uma acontece, a outra

também acaba acontecendo.

E há também a segregação por: a) uma oposição entre o centro e

a periferia; b) uma separação cada vez mais acentuada entre as

áreas ocupadas pelas moradias das classes mais populares e

aquelas ocupadas pelas classes mais privilegiadas e uma

separação entre as funções urbanas, que ficam contidas em

zonas destinadas a funções específicas (comercial, industrial,

residencial. (LOJKINE, 1997, s.p., apud URBANIDADES, 2009, s.p..)

A Operação Urbana Vila Leopoldina-Jaguaré previa intervenções planejadas e

com propostas adequadas para o desenvolvimento da região, com a criação de

novas centralidades e elos entre as margens do rio e com a cidade de Osasco,

como mostra a Figura 3.1. As parcerias privadas a serem estabelecidas pela

OUC viabilizariam o crescimento de maneira mais ordenada e com maiores

ganhos aos dois distritos envolvidos que somam uma área de 1.028,00 ha. (SMDU,

2016, s.p.)

Previa melhorias nas áreas de conexões, com obras viárias e para transporte

coletivo, de novas áreas verdes ou áreas livres com a proposta de criação de

dois parques sendo um na área da Companhia do Saneamento Básico do Estado

de São Paulo – SABESP e outro na antiga área da Usina de Compostagem da

Vila Leopoldina. Além dos itens descritos acima havia também previsão de

melhorias nos sistemas edificados com regulamentações para um adensamento

equilibrado com parâmetros para gabarito, recuos, taxa de ocupação e

coeficiente de aproveitamento, de formação de centralidades, uma vez que a

ligação anunciada das Avenidas Presidente Altino com a Gastão Vidigal por cima

do Rio Pinheiros, traria consigo a formação de um grande espaço público que se

configuraria como uma nova centralidade e de produção e consumo com a

distribuição equilibrada de atividades, que viria no sentido de criar áreas urbanas

compactas, com distâncias encurtadas que facilitariam o deslocamento.

(BERNARDINI, 2005).

Neste sentido propõe-se o adensamento habitacional em toda a

área, além da criação de polos de maior densidade principalmente

nas regiões da Bela Aliança, Vila Leopoldina e Jaguaré, que

segundo a proposta, comportariam maiores possibilidades de

absorção desta população, além da previsão de continuidade do

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processo de adensamento ao longo da rua Carlos Weber, com

controle maior de estoques. (BERNARDINI, 2005, s.p.)

A OUC, previa a transferência da CEAGESP do local e a ocupação da área por

um complexo de uso misto, prevendo residências, comércio e demais atividades

com ocupação semelhante à proposta para o bairro. É importante ressaltar que

mesmo com a não regulamentação da operação urbana, a transferência da

Central de abastecimento da área é dada como certa, ainda que sem um plano

coeso de desenvolvimento e regulamentação da área como previsto na OUC,

conforme mostra a figura 3.1.

Figura 3.1 – Maquete Eletrônica com as propostas da OUC. Fonte: VITRUVIUS, 2005, s.p.

As reclamações e solicitações para a retirada da CEAGESP da Vila Leopoldina

se intensificaram nos últimos anos, o que motivou a municipalidade a mobilizar

esforços para compor uma saída, com representantes do MAPA e da CEAGESP,

para o impasse que passou a ser a convivência de uma população cada vez

maior, com um equipamento obsoleto e sem perspectivas de melhorias tanto do

ponto de vista interno, operacional, quanto do ponto de vista externo, da ótica da

cidade e sua paisagem. Convivência esta, agravada após o fenômeno da

verticalização “espetacular” por que passou o bairro.

Portanto, fica demonstrado que, não importando se de modo planejado ou por

pressão de investidores ligados à especulação imobiliária, a permanência da

Central de abastecimento naquele local está comprometida e a sua remoção

deverá ocorrer. Com isso, a área onde está instalada, será liberada para a

CEAGESP

Novos elos

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cidade. Uma área de aproximadamente 700.000 m², cuja comercialização

custeará os investimentos em uma nova sede para a CEAGESP.

Abaixo, a Figura 3.2, mostra o zoneamento proposto para a OUC que previa a

alteração da área da CEAGESP para ZOE e outras

Figura 3.2 – Mapa do zoneamento do Arco Pinheiros, com a OUC proposta. Destaque para a área do Programa de Intervenção Urbana – PIU. Fonte: SMDU, 2016, p 36.

A Manifestação de Interesse Privado – MIP e o Programa de Intervenção Urbana

– PIU, lançado pela PMSP – SMDU em setembro de 2016, solicitado em uma

área pertencente à Votorantim, vizinha à CEAGESP, recoloca a discussão do

reordenamento urbano da região em pauta.

Conforme já apontado na exposição dos motivos da presente MIP,

o perímetro proposto para o PIU Vila Leopoldina – Villa-Lobos

constitui-se como um dos diversos compartimentos do Arco

Pinheiros e como tal apresenta algumas características próprias a

seguir destacadas. (SMDU, 2016, p. 10).

O zoneamento do perímetro do PIU está em reestudo para a adequação

necessária, e prevê um raio de influência de um quilômetro. A Figura 3.3 mostra

a área de influência e o perímetro do PIU.

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Figura 3.3 – O perímetro do PIU e a área de influência do Projeto. Fonte: SMDU, 2016, p. 12.

No perímetro do PIU aqui proposto, foram estabelecidas quatro

zonas, até que os referidos estudos específicos proponham

detalhadamente o uso e ocupação do solo da área, com

mudanças nos coeficientes de aproveitamento e nos gabaritos

máximos de altura das edificações:

ZEM – Zonas Eixo de Estruturação da Transformação

Metropolitana, destinadas a promover usos residenciais e não

residenciais com densidades demográficas altas. Seu coeficiente

de aproveitamento máximo é de 2 e o gabarito máximo de altura

das edificações é limitado a 28 m. O marco regulatório atual prevê,

no entanto, que o coeficiente de aproveitamento máximo igual a 4

e a dispensa de atendimento ao gabarito máximo de altura serão

automaticamente alcançados no caso do não encaminhamento de

projetos de lei decorrentes de estudos específicos tratando de

disciplina especial de uso e ocupação do solo até 2018.

ZEMP - Zonas Eixo de Estruturação da Transformação

Metropolitana Previsto, que tem as mesmas disposições da ZEM

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e que, no caso do não encaminhamento de projetos de lei tratando

de disciplina especial de uso e ocupação do solo, terá o

coeficiente majorado para 4 e dispensa de atendimento ao

gabarito máximo de altura com a implantação do corredor de

ônibus previsto na Avenida Dr. Gastão Vidigal.

ZM – Zonas Mista, destinadas a promover usos residenciais e não

residenciais com predominância do uso residencial e com

densidades construtivas e demográficas médias e baixas. Seu

coeficiente máximo de aproveitamento é de 2 e o gabarito máximo

de altura das edificações é 28 m.

ZEIS1 – Zonas Especiais de Interesse Social 1 destinadas,

predominantemente, à moradia digna para a população de baixa

renda. Seu coeficiente máximo de aproveitamento é de 2,5 e nas

ZEIS1 não há gabarito máximo de altura das edificações. As

ZEIS1 do perímetro correspondem às favelas da Linha e do Nove

e ao conjunto habitacional Cingapura Madeirit. (SMDU, 2016, p.12-3)

A região carece desse ordenamento e os gestores públicos, têm que estar

atentos aos novos rumos que esta região da cidade está tomando. A saída da

CEAGESP da Vila Leopoldina, será o marco definitivo de mudança qualitativa

dos usos do solo da região e implicará cuidados especiais. Não havendo o

respaldo legal da OUC, o terreno remanescente, mesmo com as novas

exigências do Plano Diretor estratégico, Lei nº 16.050 de 2014, e com as novas

articulações do PIU, poderá sofrer ocupações indevidas, sob a mesma lógica

especulativa que sofreu o bairro nos últimos 15 anos, o que propiciará uma

substituição de problemas.

Se hoje o problema é o tráfego de caminhões da CEAGESP e as mazelas que

assolam a região a partir da Central de abastecimento, como aglomerações de

pessoas em vulnerabilidade social e econômica, no futuro, a depender do uso

que se dará ao local e o tratamento que se dispensará a estas pessoas, tais fatos

poderão não ser resolvidos e até se agravar, pois o adensamento descontrolado,

causará gentrificação, por um lado e atração de novas populações, por outro,

pois as comunidades da linha e do nove, bem como o conjunto Cingapura,

estarão lá, testemunhando as modificações.

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Poderemos, em um breve futuro, assistir na Vila Leopoldina (sem a CEAGESP),

a reprodução clássica de um modelo de ocupação que não tem funcionado em

outros bolsões da cidade e que, normalmente, desafia o bom senso.

3.2. Viabilidade Técnica e Econômica.

Em que pesem as apresentações de vários planos de mudança da CEAGESP

para outro local, nos últimos 15 anos, não terem atingido o seu objetivo, o

assunto tornou-se recorrente e volta a ser debatido a cada renovação no governo

em âmbito municipal, ou troca de dirigentes da Estatal Federal.

Nos últimos três anos o tema ganhou as páginas dos jornais novamente, quando

em 2014, a Prefeitura da Capital iniciou uma nova discussão sobre o

deslocamento da Central para um local a ser definido, próximo ao Rodoanel que

une todas as estradas que chegam à Cidade.

Em junho de 2015 ocorreu “a assinatura do termo de cooperação entre os

ministérios da Agricultura e do Planejamento e a Prefeitura de São Paulo”, em

Brasília, o que, “representa um compromisso real com o futuro da Companhia de

Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP)”, na visão da Direção

da CEAGESP, (2015).

Em março de 2016, com a promulgação da nova lei 16.402/2016 que ordena o

zoneamento e a ocupação do solo no município de São Paulo, foi previsto o

aumento do potencial construtivo da região da CEAGESP.

Para o Sindicato do Comércio Atacadista de Hortifrutigranjeiros e Pescados em

Centrais de Abastecimento de Alimentos no Estado de São Paulo – SINCOMAT,

a nova lei “permite a construção de 1,15 milhão de m2 na área de 650 mil m2 do

Entreposto Terminal de São Paulo da CEAGESP”, e tem o seguinte objetivo:

O objetivo deste novo zoneamento da área do Entreposto, foi

atrair empresas interessadas em construir um novo Entreposto

fora da Vila Leopoldina e trocar pelo terreno de 650 mil m2, que

antes era zona industrial e agora pode ser utilizado para zona

mista, comércio e residência, permitindo a construção de 1,15

milhão de m2. (SINCOMAT, 2016, s.p.).

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Para viabilizar a construção da Central em outro local será necessária a entrega

da área onde atualmente funciona, para a construção de empreendimentos que

gerem os recursos necessários para que o Governo Federal e os agentes

envolvidos na mudança de localização possam fazer frente ao volume de

investimento previsto.

Em 2013, a CEAGESP contratou com a Fundação Instituto de Pesquisas

Econômicas – FIPE, um estudo para avaliar as possibilidades e a viabilidade da

mudança da estrutura física da Central para outra área. (CEAGESP, 2015).

Este estudo, passou por uma revisão após a promulgação da revisão do Plano

Diretor do Município de São Paulo em 2014 e foi dividido em 10 capítulos como

vemos a seguir:

Capítulo 01 - Diagnóstico e análise da operação da Central;

Capítulo 02 - Análises quantitativas e projeção de demanda;

Capítulo 03 - Conflitos de vizinhança e restrições ambientais;

Capítulo 04 - Aspectos sobre acessibilidade e configuração físico-

espacial;

Capítulo 05 - Mudança: Visão dos funcionários, empresários e

clientes. Referências de Mercados internacionais;

Capítulo 06 - Avaliação de custos de manutenção e receitas

operacionais

Capítulo 07 - Avaliação dos resultados

Capítulo 08 - Cenários para modelagem de propostas;

Capítulo 09 - Potencial econômico da área da Vila Leopoldina para

gerar os recursos que financiem o deslocamento da CEAGESP

Capítulo 10 - Roteiro e indicação de providências e modelagens

para a nova implantação. (FIPE, 2013).

O relatório, em seu primeiro capítulo, apresenta um diagnóstico bastante preciso

da situação de saturação da Central, com uma importante observação sobre a

desaceleração do crescimento do volume de comercialização. “No ano de 2013

este volume apresentou uma pequena redução, indicando talvez que o ETSP

aproximou-se de sua capacidade máxima na atual configuração”. (FIPE, 2013, p.11).

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A hipótese levantada, por um lado, aponta um dado real da saturação

mencionada, e por outro, corrobora com os argumentos dos defensores da

mudança da Central, embora não aponte as soluções para tal saída.

No capítulo seguinte, o estudo traça cenários de crescimento para o volume de

comercialização da Central, mantendo-se a estrutura física atual, propondo uma

projeção para os próximos 35 anos, a partir do estudo dos dados sobre a

evolução das vendas no período de 2002 a 2012, obtendo os resultados abaixo,

expostos na Tabela 3.1.

Tabela 3.1 - Projeção de vendas da CEAGESP para os próximos 35 anos. A partir de 2013. Fonte FIPE,

2013, p. 33-36.

Pescados Flores Frutas Hortigranjeiros Média Total

-2,8 1,1 1,6 2,2 1,35

Pescados Flores Frutas Hortigranjeiros Média Total

0 0 1,3 0,7 0,35

CEAGESP - Projeção de Demanda Futura do Volume de Comercialização - (% ao ano)

Médias de comercialização

Período: 2002 a 2012

Projeção da demanda Futura

Período: 2013 a 2047

Nas análises, foi identificada a estagnação nas vendas de Pescados e Flores,

um crescimento pequeno ao ano na comercialização de Frutas e um pouco

menor na de Hortigranjeiros. A análise conclui que há uma compatibilidade entre

este crescimento apontado (principalmente no tocante às frutas) e a tendência

de crescimento da renda na RMSP, o que não inviabilizaria a continuidade dos

negócios ofertados pela Central. Em relação aos produtos sem crescimento nas

vendas, novas instalações em melhores condições, em caso de mudança,

poderiam gerar novas oportunidades aos produtores e comerciantes.

No terceiro capítulo que analisa a relação de vizinhança, apenas apontaremos

os problemas detectados pela Fundação em seus levantamentos:

1 - Excesso de ruído, principalmente no horário noturno;

2 - Congestionamentos no transito local e nas vias de acesso;

3 - Sujeira;

4 - Comprometimento da segurança;

5 - Insuficiência de capacidade das redes públicas de

infraestrutura e serviços;

6 - Proliferação de pragas urbanas, alimentadas por resíduos do

mercado;

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7 - Constante poluição do ar, derivada da emissão de CO2 por

12.000 veículos / dia;

8 - Obstáculos à macrodrenagem, causando enchentes

localizadas. (FIPE, 2013, p. 43).

O quarto capítulo do estudo, analisa a origem das mercadorias que chegam à

Central e o quanto este fato poderia influenciar na escolha do novo local, “tendo

em vista a necessidade de estabelecer as principais rotas de transporte dos

produtos comercializados na CEAGESP13” (FIPE, 2013, p. 53).

O setor de frutas é o principal setor da Central em volume de comercialização e

em faturamento, correspondendo por cerca de 51% das negociações. As origens

destes produtos são de diversos estados, sendo os principais: “Bahia (54,5%),

Espírito Santo (28,8%) e Minas Gerais (11,1%)”. Os municípios com maior

relevância são: Prado-BA (11,2%), Jaiba-MG (8,4%), Alcobaça-BA (5,9%) e

Pedro Canário-ES (5,9%).” Os 15 maiores Municípios representam 74% do

montante transportado”. (FIPE, 2013, p. 57).

Já o setor de hortaliças, o segundo em importância dentro da CEAGESP tem o

Estado de São Paulo com a maior participação (77,3% do volume) na produção

e entrega dos produtos do grupo de hortaliças e legumes comercializados na

Central, cujas principais cidades produtoras são: “Piedade (15,9%), Ibiúna

(6,6%), Ribeirão Branco (4,1%) e Cabreúva (2,5%)”. Neste caso, as 15 principais

cidades correspondem a 49% do volume comercializado. O segundo Estado

relevante é Minas Gerais com 13,8%. O setor de hortaliças é o segundo setor

em quantidade de toneladas comercializadas. (FIPE, 2013, p. 57).

A Fundação – FIPE neste capítulo aborda a questão dos acessos à Central,

elencando as estradas que chegam à Capital de diversos pontos do Estado e do

País, como já vimos anteriormente. O estudo aponta, porém, as dificuldades para

se chegar ao local, notadamente após as restrições impostas pelas autoridades

de trânsito do município à circulação de veículos de carga.

Sendo assim o texto faz a seguinte colocação:

13 O estudo da FIPE utiliza a sigla ETSP (Entreposto Terminal de São Paulo). Mantivemos a sigla CEAGESP, a qual identifica melhor a empresa objeto de nossa pesquisa.

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Este “gargalo” operacional, cuja superação na atual localização

independe de providencias no âmbito da gestão do Entreposto,

tende a agravar-se futuramente pois, com o crescimento urbano

de São Paulo e adensamento da região da Vila Leopoldina, as

restrições à circulação de caminhões podem ser ampliadas e se

constitui como um dos principais indicadores da necessidade de

mudança de local do Entreposto para região onde o acesso é

liberado nas 24 horas e não há vizinhança com áreas residenciais.

(FIPE, 2013, p. 67).

O texto acima não contempla a previsão de crescimento das vendas da

CEAGESP, o que redundará em um maior tráfego de veículos nos seus

arredores.

Nos dois capítulos seguintes há dados levantados pela Fundação quanto a visão

dos agentes envolvidos na operação da Central relativos à sua operação

(capítulo 05) e a avaliação de receitas e despesas gerais. Os dois capítulos

demonstram insatisfação por parte dos funcionários, permissionários e

compradores com itens como a sujeira das ruas internas, na prestação de

serviços e outros. Na questão das receitas e despesas há um levantamento dos

tipos de receitas que mostram como a CEAGESP é deficitária, conforme

apontado no capítulo 07 (“Avaliação de Resultados”) e demonstrado na Tabela

3.2 abaixo:

Tabela 3.2 - Comparação entre Receitas e Despesas Gerais e o seu resultado. Fonte: FIPE, 2013, p. 120.

A avaliação destes resultados nos mostra como a atual estrutura da CEAGESP

não está adequada para uma operação otimizada, pois o local não comporta

ampliações ou melhorias que impactem no seu funcionamento e também nos

mostra que possivelmente o modelo de gestão atual (100% estatal), precisa ser

revisto, para compor Parcerias Público Privadas (PPP) ou mesmo Concessões

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Públicas que viabilizem resultados positivos para este importante equipamento

urbano.

Ainda que com estes resultados negativos há, na compreensão dos dirigentes

da Central (dado captado pelo estudo da FIPE), viabilidade técnica e econômica

para a mudança da CEAGESP e a sua recuperação e transformação em uma

empresa viável e lucrativa. Há um elenco de problemas hoje, que além de não

serem resolvidos, aumentam os gastos da Central com manutenção e

recuperação de estruturas já envelhecidas e sem tratamento adequado há anos.

Além disso, no quadro atual, apresentado acima, não se encontra caminho para

novas tentativas de superação dos problemas.

“A geração de novas receitas pela implantação de novos serviços e atividades

encontra obstáculos pela insuficiência de recursos e limitações do espaço físico

da área atual da CEAGESP”14. (FIPE, 2013, p. 125).

3.3. A nova CEAGESP: parâmetros e diretrizes.

Admitindo-se que a mudança da CEAGESP ocorrerá nos próximos anos, uma

vez que tal deslocamento se faz necessário pelos vários motivos elencados

neste trabalho, na avaliação de sua diretoria, no entendimento do poder

Municipal, nas ações de seu proprietário atual, o Governo Federal e na decisão

unânime dos seus permissionários, passaremos a estudar os caminhos até

agora percorridos neste sentido, para assim chegarmos a uma sugestão de

diretrizes, objeto da presente pesquisa.

Existem três propostas de grupos diferentes que visam a mudança da empresa

de sua implantação na Vila Leopoldina.

Governo Estadual

A primeira que comentaremos é a que, até o momento, tem menos informações

a respeito, sendo uma antiga e isolada iniciativa da Secretaria de Agricultura do

Estado de São Paulo, que previa em 2002, a mudança da CEAGESP até o ano

de 2004, juntamente com a Zona Cerealista localizada no centro da Capital, para

14 Ver nota de rodapé anterior.

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uma área próxima à Rodovia Raposo Tavares e ao Rodoanel, cujo primeiro

trecho foi inaugurado à época.

Passará a se chamar CIASP (Centro Integrado de Abastecimento

de São Paulo). No planejado 1,5 milhão de metros quadrados de

sua sede vão se aglomerar, além dos comerciantes que hoje

abastecem 60% da Grande São Paulo, os atacadistas da Zona

Cerealista, que venderão grãos e laticínios ao lado dos floristas e

verdureiros do CEASA. (BILLI e ZAFALON, 2002, s.p.).

A iniciativa do Governo Estadual visava substituir a CEAGESP, estrutura do

Governo Federal, e em fevereiro de 2002 foi assinado o “Protocolo de intenções”

para esta finalidade.

Estima-se que o movimento físico de alimentos será de 3 milhões

de toneladas anuais, que pode mais que triplicar quando

funcionarem os sistemas de comercialização eletrônica. A

Ceagesp movimenta 2,4 milhões de toneladas/ano. (PORTAL DO

GOVERNO DO ESTADO, 2002, s.p.).

O Governo do Estado encomendou um estudo preliminar para o escritório de

arquitetura de Joaquim Guedes que fez uma proposta que visava solucionar os

problemas de circulação e de logística que ocorriam na CEAGESP, além de

incorporar conceitos modernos de exposição e comercialização de mercadorias.

A implantação mostra a clara intenção de setorização por produtos, porém na

implantação apresentada na proposta para a nova Central somente alguns

edifícios estão identificados com menção aos nomes dos produtos que irão

comercializar. Os demais estão definidos por tipo de galpão. (Figura 3.4).

O CIASP, provavelmente não será implantado, por não haver recursos por parte

do Estado e porque os maiores empresários da CEAGESP já se reuniram, com

êxito, para levar adiante uma nova proposta, que se encontra em estágio mais

avançado.

Notamos na implantação do CIASP que há a indicação de um Pavilhão chamado

de Mercado dos Produtores. Não temos detalhes do projeto deste galpão, mas

esperamos que não se tenha cometido o mesmo erro de projeto deste edifício,

conforme discutimos anteriormente.

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Figura 3.4 - Implantação do CIASP, na Rodovia Raposo Tavares. Fonte: PARQUEIPE, 2005, s.p.

Percebemos, pela orientação norte – sul constante na implantação que a sua

elaboração seguiu as instruções da CONAB, que ainda que não tivesse

concluído o seu manual de implantação de CEASAS, já defendia estes

conceitos.

O estudo foi feito em uma área de 1.545.000 m² conhecida como Fazenda Tizo,

adquirida pelo Estado de São Paulo e previa a construção de galpões e

escritórios com área equivalente a 268.000 m² os quais somados à área de

circulação e estacionamentos manteriam preservada parte da mata atlântica

existente no local. Previsão de 50% de ocupação da área. (PARQUEIPE, 2005, s.p).

Ver maquete na Figura 3.5.

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Figura 3.5 - Maquete do CIASP. Projeto do Arquiteto Joaquim Guedes. Fonte: PARQUEIPE, 2015, s.p..

Governo Federal

Uma segunda alternativa que surgiu como cenário possível para mudança da

CEAGESP, partiu do Governo Federal com a assinatura do termo de cooperação

entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Ministério do

Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e a Prefeitura do Município de São

Paulo, citado anteriormente, que planeja a mudança da Central para a região de

Perus, porém não tem uma área definida para estudos. Por ser uma proposta

governamental, depende de estudos sobre qual a melhor maneira de realizar o

investimento, o qual certamente estará atrelado à venda da gleba onde hoje se

localiza a CEAGESP, contando, portanto, com ações da iniciativa privada.

A FIPE, em seu estudo sugere que seja feita uma Parceria Público Privada –

Concessão Pública como melhor maneira de viabilizar a mudança.

A utilização do terreno do ETSP como meio de pagamento da contraprestação pública ou constituição do Fundo Imobiliário pressupõe os seguintes passos prévios:

Autorização Legislativa para a desafetação e para a autorização da alienação

Avaliação prévia de órgãos independentes;

Formalização da dação em pagamento para fins de atendimento do artigo 17, I, a da Lei nº 8.666/93;

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Registro do bem no Cartório de Registro de Imóveis, averbando-se a respectiva matrícula. (FIPE, 2013, p. 176).

Não houve apresentação de projeto arquitetônico ou de estudos urbanísticos que

alavancasse a iniciativa Federal, que ficou à mercê de decisões, por parte do

Ministério da Agricultura. (CEAGESP, 2015).

Ao mesmo tempo, houve uma movimentação dos maiores permissionários da

CEAGESP que já haviam iniciado uma empresa chamada Novo Entreposto de

São Paulo – NESP, que trabalharam no sentido de criar uma Central de

Abastecimento totalmente gerida pela iniciativa privada, sem a interferência do

Estado.

Em 28 de dezembro de 2016 com a assinatura do Decreto que autorizou a

mudança da Central, houve uma fusão desta proposta dos permissionários com

a proposta que surgiu do acordo previamente estabelecido entre a Prefeitura da

Capital e os Ministérios, dando apoio ao que seria a terceira proposta que

discutiremos no presente trabalho, segundo reportagem do portal G1.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), assinou nesta

quarta-feira (28) o decreto que autoriza um grupo de produtores e

comerciantes a apresentar um projeto para a mudança da

Ceagesp do atual terreno na Vila Leopoldina para a região de

Perus, na Zona Norte da capital. (G1, 2016, s.p.).

Caso seja esta a decisão a ser tomada, não encontramos em nenhum relato, o

que ocorrerá com a empresa CEAGESP com o fechamento da sua sede em São

Paulo e como serão gerenciados os doze entrepostos do interior do Estado.

Entendemos que neste aspecto o decreto assinado é falho, mas também não há

um pronunciamento consistente, por parte da atual diretoria da empresa e

mesmo do Ministério da Agricultura que aceitou o projeto preliminarmente.

A diretoria da Ceagesp afirma que o projeto de implantação do

complexo em Perus "é uma iniciativa privada da qual a Ceagesp

não faz parte" e que o novo complexo seria "concorrente". "Não

nos cabe manifestar sobre um assunto do qual conhecemos

pouco e sequer somos partícipes”. (UOL NOTÍCIAS, 2016, s.p.).

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Há, portanto, uma desconexão entre as partes. O projeto tinha uma característica

pública de gerenciamento estatal e passou a ser um projeto da iniciativa privada,

sem definições ou respostas por parte da CEAGESP e do Governo Federal.

Iniciativa Privada – NESP

O Novo Entreposto São Paulo – NESP é uma iniciativa de 25 permissionários da

CEAGESP, no intuito de viabilizar a construção do novo empreendimento em

região menos adensada e com melhores acessos.

A aquisição de uma área em Perus, por parte destes empresários, proporcionou

que os mesmos formulassem um projeto próprio e que apresentassem de

maneira isolada uma Manifestação de Interesse Privado – MIP à Prefeitura do

Município, que como vimos, criou e publicou o decreto mencionado acima, que

visa dar legalidade e apoia o andamento do projeto.

A proposta do NESP já se encontra em estágio avançado. Recebeu a adesão de

200 outros comerciantes os quais já estão pagando por seus pontos de venda

no novo empreendimento privado, segundo um dos idealizadores do projeto.

(FOLHA DE SÃO PAULO, 2016).

Os responsáveis pelo empreendimento promoveram um concurso privado entre

escritórios de arquitetura e o projeto escolhido foi o dos arquitetos Marcos Vieira

e Marcel Monacelli, que na visão dos empreendedores foi o que mais se

aproximou da visão que tinham de uma Central de abastecimento moderna, o

que segundo um dos arquitetos, foi atendido com a seguinte proposta:

Partimos do princípio de total reestruturação do mercado. Nosso

projeto trabalha a questão de fluxo interno, com chegada e saída

de caminhões, circulação de automóveis, estacionamento, carga e

descarga. (MONACELLI, 2017, s.p.).

Foi apresentada uma implantação preliminar (Figuras 3.6 e 3.7) e alguns outros

desenhos os quais não permitem uma análise crítica do projeto, mas percebe-

se que houve uma preocupação com geração de receitas acessórias ao negócio

da nova Central, com a criação de espaços para hotéis, restaurantes e outras

atividades.

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Figura 3.6 - Projeto do NESP, escolhido pelos comerciantes. Fonte: MONACELLI, 2017.

Figura 3.7 - Projeto do NESP, escolhido pelos comerciantes. Fonte: MONACELLI, 2017.

Na visão dos responsáveis pelo empreendimento, o projeto atende a todas as

necessidades e corrige os erros da implantação atual.

Buscamos, principalmente, infraestrutura e disciplina. Ruas

dimensionadas para circulação de caminhões, controle de

portaria, horário para carga e descarga, otimização do espaço

físico e prestação de serviços. (BENASSI, 2017, s.p.).

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Observamos que não há no projeto espaços para questões como reciclagem ou

tratamento de resíduos, bem como de gerenciamento logístico das embalagens,

o que requer uma grande área para higienização e armazenagem, ou ainda,

preocupações com aspectos sociais como por exemplo uma central de combate

ao desperdício de mercadorias (Banco de Alimentos) e creche para filhos de

funcionários, uma vez que o distanciamento da Central trará o deslocamento

diário de milhares de pessoas.

Acreditamos que o projeto deverá ser revisado em várias etapas, durante o

processo de licenciamento, o que poderá trazer novos questionamentos e

ajustes ao mesmo, salientando que as experiências de Centrais privadas que

conhecemos, não tem a organização e a estrutura necessária para um bom

atendimento ao seu público, e que os preços dos alimentos devem ser

controlados para que não sofram aumentos abusivos que apenas visem maior

lucratividade.

A Figura 3.8 abaixo mostra a localização das três propostas, no mapa da Região

Metropolitana de São Paulo, e a sua proximidade com o traçado do Rodoanel

Mário Covas.

Figura 3.8 - Mapa da RMSP com o traçado do Rodoanel Mário Covas e a localização das propostas para nova alocação da Central de Abastecimento. Elaborada pelo autor. Fonte: GOOGLE MAPS, 2016.

MAPANESP

CAISP

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Ao escolherem os terrenos, houve, por parte dos responsáveis pelas propostas,

uma preocupação com os acessos dos veículos de carga, por isso a proximidade

com estradas que são ligações fundamentais entre a Capital e o Interior do

Estado e também a proximidade do Rodoanel que ligará todas as estradas que

chegam ao município de São Paulo. Consideramos que a área do NESP possui

uma vantagem competitiva em relação a do CIASP, porque é servida também

pelo serviço de trens metropolitanos da Companhia Paulista de Trens

Metropolitanos – CPTM, o que pode facilitar o transporte de trabalhadores para

o local e no futuro o de cargas, para o que deverão ser feitas algumas

adaptações à atual configuração da estrada de ferro.

3.4 – A Sustentabilidade como Meta. A Central de Abastecimento Alimentar

como geradora de Oportunidades.

Em nossa visão, nos dias atuais, não se pode conceber uma estrutura urbana

do porte de uma Central de Abastecimento, com alcance metropolitano, sem que

se leve em conta pontos importantes, que melhorem o desempenho do

empreendimento. Pontos estes voltados a sustentabilidade econômica e a

responsabilidade socioambiental.

As preocupações devem se iniciar com a rigorosa observação das posturas

ambientais e de preservação das áreas vizinhas ao empreendimento, com

minuciosos estudos de impacto ao meio ambiente e impacto de vizinhança,

sendo que estas ações deverão ser abordadas e resolvidas em período anterior

à implantação, na fase de licenciamentos, pois, uma vez instalada a Central, tais

situações poderão ficar sem solução, em detrimento ao meio ambiente e à

população local, gerando constantes cobranças por parte do poder público local.

No caso atual da CEAGESP, cujo terreno alvo se situa na zona norte de São

Paulo, os habitantes do bairro de Perus, onde provavelmente será instalada a

nova Central atacadista já externam suas preocupações quanto a poluição do ar

e sonora e há alertas nas ruas estreitas do bairro, de que a rede de água local

não está dimensionada para atender as demandas do futuro empreendimento.

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A mudança da CEAGESP para qualquer outro ponto da cidade,

naturalmente traz impactos na infraestrutura. Mas para o urbanista

Roberto Cymbalista da USP, a proximidade com as Rodovias

Bandeirantes, Anhanguera e Rodoanel são um trunfo do novo

endereço. (FOLHA DE SÃO PAULO, 2016, s.p.).

A solução antecipada destas questões, anteriormente à implantação, como por

exemplo, a adaptação do percurso dos trilhos do sistema de trens para servir ao

transporte de cargas e pessoas até a Central, eliminaria boa parte da poluição a

ser gerada pelo grande fluxo de caminhões e ônibus de funcionários, que se

deslocarão diariamente até o local, ou a obra de infraestrutura necessária de

drenagem, fornecimento de água e coleta de esgoto, já revelariam um excelente

e positivo salto de qualidade na comparação entre a Central existente e a futura

implantação.

Ainda no âmbito externo ao empreendimento, deveria ser feito um amplo

cadastramento das pessoas do entorno que se encontrem em condições de

vulnerabilidade social, para que estas pessoas possam ser agraciadas com

algum tipo de ocupação na Central, pois caso contrário elas invadirão a mesma

em busca de alimentos e outras oportunidades, o que ocorre hoje em

praticamente todas as Centrais brasileiras.

Uma Central de grande porte, no Brasil, tem que ter uma previsão de abrigar em

seu cotidiano uma cooperativa ou associação de profissionais que trabalhem

como catadores de resíduos recicláveis, como madeira, plástico, papelão,

alumínio e outros. Além de gerar ocupações para dezenas de pessoas, o

emprego desta mão de obra melhoraria a imagem da Central, pois diminuiria o

acúmulo de resíduos na Central e geraria economia no serviço de coleta e

descarte dos resíduos. Além de ser um importante trabalho voltado para o

compromisso social.

Estes mesmos profissionais organizados, poderiam realizar a coleta de produtos

(frutas, legumes e verduras) que perderam o valor comercial, porém, encontram-

se em condições de consumo humano, para que os mesmos fossem

armazenados em um “Banco de alimentos” para que não fossem descartados

mas sim aproveitados e doados para pessoas em vulnerabilidade social. Tal fato

reduziria o desperdício de mercadorias. A Figura 3.9 mostra uma Organização

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não Governamental retirando produtos no Banco CEAGESP de Alimentos –

BCA, que enfrenta problemas operacionais diversos, tais como a falta de

equipamentos de higienização e processamento, de mão de obra especializada

para carga e descarga das mercadorias, e mesmo assim faz um trabalho com

amplo atendimento a entidades em grande parte da RMSP. (CEAGESP, 2011, s.p.).

O que pretendemos enfatizar neste trabalho de pesquisa e nas diretrizes de

projeto para uma Central Alimentar de grande porte é que ações como estas

devem ser planejadas desde a concepção da implantação da mesma, para que

sejam corretamente dimensionadas no investimento desde o início.

Figura 3.9 - Produto sendo retirado no BCA por ONG cadastrada. Fonte Pereira, 2010, p. 18.

O Banco CEAGESP de Alimentos, no mês de julho de 2010

recuperou cerca de 300 toneladas de frutas e verduras que,

segundo os critérios da FAO15 poderiam alimentar cerca de

750.000 pessoas (com uma porção de 400 gramas per capta ao

dia). (PEREIRA, 2010, p.17). (Tradução nossa).

É necessário que seja previsto tal serviço, pois há, atualmente, um desperdício

diário na Central paulistana, de 140 toneladas de alimentos, dos quais uma

grande parte pode ser aproveitada em condições de consumo humano. A

CEAGESP tinha a meta de dobrar a quantidade apontada acima, o que

15 Food and Agriculture Organization of the United Nations. Organização das Nações unidas para a Alimentação e a Agricultura

Frutos em condições de consumo humano.

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significaria recolher e doar até 20 toneladas por dia, porém esta meta não chegou

a ser atingida. (CEAGESP, 2015).

Além da diminuição do desperdício de alimentos e do combate à

fome, essa ação traz uma economia de pagamento na prestação

dos serviços de coleta, transporte e destinação dos resíduos

orgânicos.

É muito importante que a CEASA administre esse programa por

meio de uma instituição sem fins lucrativos, como um instituto ou

uma organização não governamental, o que dará maior agilidade

às ações e diminuirá a burocracia. (PEREIRA, 2011, p. 230).

Estes dois programas somados, a Cooperativa e o Banco de Alimentos não

geram receitas para a Central, porém, ao implantá-los a entidade estará

incorporando um ganho de imagem, perante a sociedade e estes são programas

que obtém fácil divulgação em diversos veículos de informação, pois englobam

questões sociais e ambientais como o gerenciamento de resíduos.

Quanto a sua organização, em relação à circulação de veículos e fluxo de

mercadorias, a Central deverá ser pensada, de maneira que as ruas e vias

internas tenham um dimensionamento capaz de absorver o estacionamento das

carretas e caminhões em ambas as margens e de garantir a livre circulação de

outros veículos, evitando-se assim os congestionamentos que aumentam o

potencial de poluição dos caminhões. O paisagismo deverá ser elaborado em

consonância com estes conceitos para que haja nos canteiros Centrais e

rotatórias internas, áreas permeáveis no solo, bem como para que nos

estacionamentos existam áreas com sombreamento que colaborarão com o

conforto ambiental e ventilação natural.

Quanto aos edifícios, além destes procedimentos no tocante à questão

ambiental, o projeto deverá prever prédios adaptados à comercialização de

produtos com eficiência e modernidade, não sendo mais admitida a

comercialização nas plataformas de carga e descarga de produtos dos

pavilhões. A atividade comercial deverá ocorrer nas praças de comercialização,

internas aos pavilhões conforme explanamos no capítulo 02, Figura 2.15, e não

nas plataformas e docas.

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Com esta mudança será possível cuidar da refrigeração adequada dos edifícios,

o que melhorará a conservação dos produtos frescos, diminuindo o desperdício

destes. O controle da refrigeração poderá ser “inteligente” de maneira a otimizar

o seu funcionamento, visando a economia de energia do complexo.

Outro ponto importante para melhorar os resultados do empreendimento, seria

o aproveitamento das coberturas dos pavilhões (área de 300.000 m²) para a

instalação de células fotovoltaicas para captação de energia solar, gerando

energia limpa e ganhos na operação, com a redução dos custos das utilidades.

A Figura 3.10 mostra projeto de nossa autoria para uma mini Central alimentar

em São José do Rio Pardo – SP.

Figura 3.10 - A mini Central em São José do Rio Pardo que previa células fotovoltaicas na cobertura e no talude posterior, central de higienização de caixas, armazenamento de águas pluviais para limpeza e sistema ecológico de refrigeração. Fonte: PEREIRA, 2013.

Ainda no campo das utilidades, o conjunto de edifícios da nova Central deverá

prever a captação de águas pluviais que serão utilizadas para limpeza de ruas e

calçadas internas, de fachadas e telhados, bem como para os cuidados

necessários com o paisagismo da Central.

Os resíduos provenientes da operação da Central em sua maioria orgânicos, de

frutas, legumes e verduras deverão ser encaminhados para uma usina

(preferencialmente interna) de transformação destes resíduos em gás natural

para utilização em veículos automotores, ou mesmo gás refrigerado que

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atenderia às demandas das áreas em que a cadeia de frio é importante o que

resultaria em substancial diminuição do consumo de energia elétrica da Central.

Uma última finalidade para esta usina de transformação de resíduos poderia ser

a produção de energia elétrica, a partir de geradores movidos a gás natural, a

qual somada à produção de energia das células fotovoltaicas, atenderia à Central

e possivelmente produziria um excedente que poderia ser comercializado na

rede de energia elétrica.

Já utilizado, como vimos, em várias Centrais europeias, o parque fotovoltaico,

pode ser uma interessante fonte de receita. Somada à geração de energia a

partir dos resíduos sólidos orgânicos traria ganhos maiores para a Central que

poderia planejar melhor seus programas de investimentos, ampliações e

manutenção.

Outro ponto relevante nas operações de Centrais de Abastecimento são as

embalagens dos produtos, tanto as de transporte, carga e descarga, quanto as

de armazenagem e de comercialização. Ocorre nas Centrais brasileiras a

utilização de vários tipos de embalagens, com predominância de caixas de

madeira e caixas plásticas injetadas que se possuem um custo inicial menor, por

um lado, têm também, por outro, um tempo de vida curto.

As caixas de madeira, por lei, têm a sua reutilização proibida, por questões de

higiene e conservação dos alimentos. Utilizá-las, portanto, sem a possibilidade

de retorno na sua utilização será antieconômico, o que ocorrerá no caso de haver

uma fiscalização operacional adequada. Portanto, os materiais utilizados para

transporte e armazenamento dos produtos devem ser as caixas plásticas para

volumes maiores e as de papelão para volumes menores e produtos mais

delicados.

Ocorre que as caixas de plástico injetado, ainda que recicláveis, são muito

rígidas e frequentemente, durante o seu manuseio, trincam ou criam lascas que

atingem os produtos frescos, comprometendo a sua qualidade. O material

correto seria o plástico termo formado, o qual tem uma durabilidade muito maior

do que o injetado e não produz lascas. (EMBALAPLAST, 2017, s.p.).

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As caixas plásticas, diferentemente das caixas de madeira podem ser lavadas e

reutilizadas. Para essa finalidade seria necessário um espaço para sua

higienização, os “Bancos de Caixas” como foram chamados em vários CEASAS

(Campinas, Minas Gerais e Recife). A Figura 3.11 mostra o interior do Banco de

Caixas e a Figura 3.12 ilustra o fluxo do Banco de Caixas da CEASA-MG.

Figura 3.11 - O interior do Banco de Caixas. Higienização e estocagem. Fonte CEASA - MG, 2011.

Figura 3.12 - Ilustração do funcionamento do Banco de Caixas. Contagem - MG. Fonte: CEASA-MG, 2011.

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O Banco de Caixas da Central de Minas Gerais localiza-se na matriz da empresa

federal, que fica no município de Contagem, recebeu o nome de Unidade de

Armazenamento Inteligente – UAI e foi inaugurado em setembro de 2011.

Segundo informa a Central, a unidade foi “criada para alugar, receber, higienizar,

estocar e entregar embalagens plásticas padronizadas dentro das normas

exigidas pela lei”. (CEASA-MG, 2011).

O funcionamento da Central Alimentar deve se iniciar pela área de

gerenciamento e higienização das embalagens plásticas, onde os caminhões

que viriam buscar produtos trariam caixas sujas, usadas no último transporte,

para serem higienizadas, e receberiam caixas limpas para acomodar a sua

carga, no ato da compra. Ao mesmo tempo os comerciantes teriam seus

produtos para venda armazenados em caixas limpas. Isto melhoraria a qualidade

de conservação e a segurança dos alimentos, tendo ainda o efeito benéfico de

em curto prazo substituir a utilização de caixas de madeira, cujos resíduos são

de difícil coleta e reaproveitamento.

A formação de um pool de caixas vazias livrará o produtor ou o

permissionário da necessidade de estoque de caixas em virtude

da demora de retorno das caixas, que varia de 5 a 8 dias, o que

significa um estoque de caixas maior do que o necessário para as

vendas. (LUENGO, 2011, p.142).

As embalagens de papelão são totalmente recicláveis e possuem um ciclo de

vida curto, com apenas uma utilização, porém, retornam rapidamente para o

circuito logístico da Central bastando para isso a sua coleta e entrega em local

apropriado, que poderia ser o espaço de reciclagem interno à entidade.

O papelão continua sendo a melhor embalagem para frutas e outros itens que

necessitam de um manejo mais delicado e exposição diferenciada. A Figura 3.13

mostra a variedade de produtos que utilizam estas caixas.

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Figura 3.13 - Caixas de papelão utilizadas para vários produtos. Fonte: GUIA DA EMBALAGEM, 2017, s.p.

O crescimento do consumo e a valorização da imagem dos

produtos hortícolas relacionados à saúde e bem-estar trazem,

sem dúvida, um cenário promissor ao desenvolvimento global da

atividade hortícola nacional.

Embalagens adequadas são componentes essenciais da logística

de distribuição de hortaliças e frutas. (LUENGO, 2011, p.144).

Outra oportunidade, ligada a área social, seria a implantação de cursos

tecnológicos profissionalizantes, de nível médio e universitário, voltados à

formação de funcionários especializados nas várias atividades operacionais das

Centrais como logística, financeiro, pescados, frutas, rastreabilidade e outras.

Estes cursos poderiam incluir a montagem de um restaurante escola, voltado

para formação de mão de obra dos ramos de gastronomia, padaria e outros

gêneros para trabalharem nos restaurantes internos da Central ou ainda

estabelecer um convênio com agências para agilizar a busca na colocação

destes funcionários em restaurantes do entorno, chamando para os cursos os

moradores das comunidades vizinhas.

Como vemos, várias ações são possíveis e necessárias para melhorar o

funcionamento e otimizar os custos e despesas de uma Central de

Abastecimento, visando a sua sustentabilidade econômica, e a boa convivência

com a comunidade onde será instalada, com responsabilidade socioambiental.

Há uma grande barreira que se interpõe a estes projetos e à sua implantação

(projeção versus realidade) que é a visão imediatista de que a sua aplicação

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encareceria o empreendimento, aumentando o investimento inicial. Há uma forte

tendência de defesa desse pensamento quando se trata destes assuntos com

empresários que têm pressa em obter retorno rápido de seus negócios.

Porém, entendemos que tal argumentação é frágil, uma vez que todas as ações

somadas trarão uma economia anual de despesas que em médio prazo pagaria

o investimento e possibilitaria que ao término da construção da Central, esta teria

a vantagem de já ter atendido às normas e às leis pertinentes. No caso de não

atenção a estes preceitos normativos e em havendo uma mudança na

obrigatoriedade de sua aplicação, por uma nova legislação ambiental por

exemplo, a adaptação dos edifícios a estas novas recomendações poder ter um

custo maior do que o custo inicial, além de causar imprevisíveis danos

operacionais.

A nossa proposta de projeto para uma Central de Abastecimento Alimentar visa

a incorporação de todos estes conceitos sociais e ambientais que auxiliarão a

mesma a atingir a auto sustentabilidade.

No presente trabalho, buscamos unir, em nossa proposição, todos os pontos que

causariam impactos positivos no cotidiano da operação de uma Central de

dimensões metropolitanas, seja no campo social, ambiental ou econômico,

baseados no aperfeiçoamento de soluções em funcionamento em diversas

Centrais e em nossa vivência com o setor.

As diretrizes aqui apontadas, aplicadas simultaneamente em uma única Central

será um fato inédito, pois como vimos existem experiências pontuais, em Paris,

Berlim, Lisboa, Contagem, Recife, São Paulo e outras, mas não houve, até o

presente, uma sistematização dessas experiências que levasse ao pleno

funcionamento de todas essas iniciativas neste importante equipamento urbano

com um gerenciamento integrado das suas atividades comerciais, associadas a

estas ações que lhe possibilitem a geração de receitas acessórias ao seu

negócio principal e que ao mesmo tempo propiciem economia em relação aos

custos operacionais.

Entende-se, portanto, que em uma Central de abastecimento projetada com

estas premissas de sustentabilidade, deverão ser observadas as normas e leis

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vigentes de acessibilidade, com o rigor necessário, pois este quesito ganha

maior importância em um local cujo funcionamento se baseia em logística de

movimentação de cargas, naturalmente hostil a portadores de deficiências.

Outro fator a se considerar será o efeito dos materiais utilizados na construção

dos edifícios sobre o microclima regional urbano.

Os edifícios influenciam o clima urbano substituindo solo exposto,

solo gramado e árvores por asfalto, concreto e vidro; trocando

volumes arredondados e resilientes ocupados pela vegetação por

superfícies rígidas e angulosas características dos edifícios;

emitindo calor gerado pelos sistemas de ar condicionado e por

processos industriais e conduzindo a água da chuva para os

sistemas de drenagem, diminuindo drasticamente a infiltração do

solo. (DUARTE, 2015, p. 172).

A produção arquitetônica deverá levar em conta essas interfaces entre o edifício

e o ambiente urbano objetivando que a produção construtiva se cerque de

cuidados e que todo o complexo possa receber certificação ambiental.

O edifício ambiental aqui discutido é contrário à ideia do

desempenho ambiental determinista, atrelado a um conjunto de

regras e soluções preconcebidas, sem flexibilidade nas

estratégias de projeto, ocupação ou controle das condições

ambientais. Diferente disso, a nova abordagem do edifício

ambiental é resultado do projeto concebido com a adaptação do

usuário e a qualidade ambiental, que por consequência, vem

favorecer a eficiência energética e o valor do edifício em um futuro

de mudanças climáticas e regulamentações energéticas cada vez

mais rigorosas. (BODE; TUBERTINI e GONÇALVES, 2015, p. 574).

As “cidades” do Abastecimento Alimentar que recebem mais de 40.000 pessoas

e uma infinidade de veículos poluentes por dia, por teoria, obrigam seus

dirigentes a terem constantes preocupações com a acessibilidade e decisões

técnicas que levem ao conforto ambiental e ao combate da poluição do ar, seja

na França ou no Brasil. Devem considerar esta abordagem holística em relação

à responsabilidade ambiental em todos os aspectos, visando atingir um ponto

em que todos os programas implantados funcionem satisfatoriamente, em forma

de rede, integrados, que leve a Central a uma condição de conforto e excelência.

Outro ponto a se considerar é não cometer os mesmos erros do passado,

quando da instalação da CEAGESP em área periférica. O equipamento foi

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construído no bairro e o bairro foi se construindo ao seu entorno, sem

planejamento, em uma época (anos 1970 e 1980) em que as questões do

desenvolvimento das sociedades e o planejamento urbano entraram em tensão.

E quem saiu perdendo? As cidades.

Houve um momento, no decorrer da década de 1970, em que o

movimento do planejamento urbano começou a plantar bananeira

e a virar do avesso; pareceu mesmo, por vezes, durante os anos

de 1980, estar à beira da autodestruição. O planejamento

convencional, a utilização de planos e regulamentos para guiar o

uso do solo parecia desacreditado. (HALL, 2016, p. 499).

Na análise acima, a descrição se dá sobre o território de cidades dos Estados

Unidos, onde o estágio de desenvolvimento social e urbano trouxe este

questionamento, aparentemente, não diferente do comportamento de

crescimento desordenado de cidades mais desenvolvidas no Brasil, como era o

caso de São Paulo, à época da inauguração da CEAGESP.

Estamos com este relato, propondo que, as “vésperas” de uma nova mudança

de local de um equipamento de abastecimento alimentar metropolitano, procure-

se, por parte dos responsáveis pela mudança, evitar os erros do passado de não

regulação das relações entre a Central e seu entorno e de deixar que o mercado

imobiliário se adiante na ocupação do espaço urbano, como aconteceu na Vila

Leopoldina, conforme relatamos no capitulo 2.

A CEAGESP existe há 50 anos e neste período muitas mudanças ocorreram:

Os caminhões que transportavam cerca de 4 toneladas, hoje

transportam 40. A população cresceu de cerca de 8 milhões na

década de 1970 para algo ao redor de 20 milhões. “E a CEAGESP

não acompanhou estas mudanças, com impactos negativos para

nossos negócios, para o cliente e para a cidade”. Comenta o

permissionário João Barossi ao Jornal do entreposto. (JORNAL DO

ENTREPOSTO, 2016, p. 6).

Este é o diagnóstico utilizado para justificar a descontinuidade da CEAGESP na

Vila Leopoldina. Em nossos estudos também detectamos estas dificuldades e

outras voltadas à funcionalidade das edificações e à falta de espaço para

implantar melhorias. Tais falhas no planejamento da nova Central, não podem

se repetir, mas não reconhecemos no poder público a priorização de ações neste

sentido.

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A lei de zoneamento16 da cidade de São Paulo traz bastante claras

as regras quanto à legalidade de um empreendimento na região

de Perus que possa recepcionar o novo entreposto.

São Paulo ganhará com a revitalização da Vila Leopoldina, umas

das regiões mais bem localizadas e nobres de São Paulo e com a

revitalização e transformação de Perus, com a criação de uma

nova centralidade logística no noroeste da cidade. (JORNAL DO

ENTREPOSTO, 2016, p. 7).

Percebe-se o otimismo expresso nas declarações e na reportagem do principal

veículo de informação da CEAGESP, porém, ao nosso ver este otimismo está

revelando uma visão parcial da questão que não considera o futuro das duas

áreas que serão transformadas com a mudança da Central. A mudança do

zoneamento, como vimos, aponta no sentido de viabilizar as revitalizações

pretendidas, mas sem o devido controle, poderá abrir lacunas, por onde a

ausência de planejamento somada à força da especulação imobiliária, imporá o

seu domínio, primeiramente na Vila Leopoldina e posteriormente na região de

Perus, quando a nova Central já estiver consolidada.

... talvez tenhamos retrocedido um ciclo inteiro: ao fim de um

século de planejamento moderno, os problemas das cidades

permaneceram como no início. Naturalmente não iguais porque,

no decorrer desse século XXI, todas as economias avançadas

tornaram-se imensuravelmente mais ricas. (HALL, 2016, p. 582).

Na Tabela 3.1, p. 136, neste capítulo, observamos a projeção apresentada no

estudo da FIPE de um incremento nas vendas da CEAGESP para os próximos

35 anos, ou seja, a nova Central será a continuação da atual e na perspectiva

de seus idealizadores, por oferecer melhores serviços, qualidade de atendimento

e higiene, deverá majorar o incremento das vendas previsto. O fato pode ser

comemorado, pois, na projeção da FIPE e na expectativa dos permissionários

que estão investindo na nova Central, este modelo de comércio de gêneros

alimentícios perdurará por vários anos. Por outro lado, poderemos daqui a 35 ou

50 anos estar diante das mesmas questões referentes à mudança da Central.

E caso não tenhamos enriquecido como nação, os problemas que surgirão serão

praticamente iguais aos atuais, diferentemente da afirmação de HALL (2016) acima.

16 Novo Zoneamento - Lei nº 16.402/16

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3.5 - Logística e Movimentação inibindo a Poluição Ambiental.

Sempre que se fala em uma Central de Abastecimento Alimentar de grande porte

pensa-se, imediatamente, na relevância da logística a ser aplicada ao

equipamento, a fim de que a operação da Central tenha um excelente fluxo de

mercadorias, de pessoas e também na intenção de que sejam evitados

problemas de congestionamento internos que acabem se refletindo do lado

externo, no bairro onde se insere a Central.

A logística das centrais de abastecimento é funcional, porém

estagnada no tempo. Sabemos que a construção física dos

edifícios é um limitador, porém não um impeditivo. (FERREIRA, 2011,

p. 89).

A estagnação citada, refere-se às Centrais brasileiras. A maioria com mais de 40

anos (Tabela 1.1 (p. 64) e 1.2 (p. 65) da presente pesquisa), as quais não se

atualizaram e têm sérios problemas neste campo, com atrasos nos serviços de

carga e descarga, dentre outros, além de fazerem a movimentação dos produtos,

prioritariamente, com carrinhos manuais, movidos por carregadores como

mostra a Figura 3.14. Neste sentido, repensar o projeto e a construção de uma

Central ganha importância para diminuir a estagnação logística.

Figura 3.14 - Carregador em ação na CEAGESP. Fonte: USP IMAGENS, 2014, s.p.

Como pode-se observar na imagem acima, bem como na Figura 2.1 do capítulo

anterior, não existe mais uma ordenação logística na CEAGESP. A quantidade

de caminhões de carga e descarga que trazem poluição atmosférica e de

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carregadores que se arriscam a todo tipo de acidentes diariamente. A mesma

realidade se repete em todas as Centrais brasileiras, segundo FERREIRA, (2011).

Para pensarmos em uma Central contemporânea, precisaremos reavaliar,

essencialmente, esta questão dos fluxos de mercadorias (utilização de

subsolos), de pessoas separadas dos veículos (passarelas elevadas) e do

emprego de veículos menores para o transporte interno de mercadorias e rever

a largura das vias internas com a possibilidade de sua ampliação, caso venha a

ser necessária. Desta maneira, a circulação de mercadorias será funcional e

rápida. É necessário rever a altura e o posicionamento das docas / plataformas,

prevendo-se (é possível) em cada pavilhão um setor de expedição de produtos

comercializados, como mostramos em uma das Centrais visitadas.

Para uma Central atacadista ser competitiva e moderna se faz necessário corrigir

os erros primários cometidos e não reproduzi-los, (como ocorreu na CEASA –

AC, inaugurada em 2010), o que contribui para a inviabilização destes espaços

urbanos como equipamentos sustentáveis que não agridam o meio ambiente.

O planejamento de uma Central contemporânea deverá considerar aspectos

logísticos e de movimentação de cargas com o sentido de mitigar os efeitos

maléficos, atualmente observados, que afetam os trabalhadores do setor, os

produtos comercializados e a qualidade do ar respirada.

Pensamentos contemporâneos sugerem a criação da Visão logística, em

conjunto com a declaração da Missão da empresa e esta Visão logística tem

como objetivo:

Dar uma clara indicação da base na qual a empresa pretende

construir uma posição de vantagem por meio de relações mais

próximas com o cliente. Tais declarações nunca são fáceis de

construir.

Idealmente a Visão de logística deveria ser construída em torno

da simples questão de “Como pretendemos usar a logística e a

gestão da cadeia de suprimentos para criar valor para nossos

clientes”? (CHRISTOPHER, 2016, p. 272).

Os dirigentes de uma Central Alimentar contemporânea deverão enfrentar as

questões logísticas a partir desta visão de agregar valor ao negócio de cada

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permissionário, visando a sua sustentabilidade econômica e aplicando conceitos

de responsabilidade socioambiental, com ênfase na análise das estratégias

adotadas e do impacto destas sobre três áreas fundamentais, conforme mostra

a Figura 3.15, que ilustra o “Tripé da Sustentabilidade”.

Figura 3.15 - O tripé da sustentabilidade. Elaborada pelo autor a partir de TETO - ARQUITETURA SUSTENTÁVEL, 2017, s.p.

A abordagem desta narrativa sobre a sustentabilidade alcança a todas as

atividades de uma Central Alimentar, não apenas um aspecto ou outro

isoladamente, porém, é importante ressaltar que há duas áreas nas quais deverá

haver um foco maior, pelas suas características específicas e por ambas se

posicionarem no início, meio e fim de toda a operação da cadeia de

abastecimento, que são: a logística e o gerenciamento de resíduos.

Como já explanamos anteriormente, com uma logística de excelência, toda a

rede do fornecimento funcionará melhor e os resultados serão notados em curto

prazo com a redução dos congestionamentos, a diminuição dos atrasos nas

operações e carga de descarga de mercadorias, na melhor conservação dos

produtos, por ficarem menos tempo expostos a intempéries, sendo estocados

adequadamente, diminuição da poluição o que afetará positivamente o micro

clima urbano.

Cuidados com o planeta

Proteção ambiental Recursos renováveis

Ecoeficiência Biodiversidade Poluição do ar

Consumo de energia Água

Prosperidade

Resultado Econômico Direitos dos acionistas

Retorno financeiro Competitividade

Redução da pobreza Lucratividade

Dignidade Humana

Direitos humanos Direitos trabalhistas

Saúde Impacto comunitário

Postura ética Acesso a produtos e

serviços

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Por outro lado, entendemos que o gerenciamento de resíduos deve ser

considerado desde a compra das mercadorias junto ao produtor, o seu transporte

e as operações de carga e descarga, sendo que nestes momentos a tarefa

principal é combater o desperdício. Havendo menor desperdício haverá menos

resíduos para serem manejados e processados ou descartados. O impacto

destas ações poderá ser notado em curto prazo também, e abrirá o caminho

para maiores ganhos e lucratividade em médio e longo prazo, auxiliando a

garantir a sustentabilidade econômica do empreendimento.

No contexto de uma Central tão complexa a atenção devida a estes dois

importantes quesitos mostrará uma ideia:

Mais ampla de que a sustentabilidade está preocupada em

garantir no longo prazo a viabilidade e a continuidade da empresa,

bem como em contribuir para o futuro bem-estar da sociedade. De

fato, pode-se argumentar que esses dois objetivos se apoiam

mutuamente, ou seja, estratégias de cadeia de abastecimento que

beneficiam o meio ambiente em geral também são suscetíveis de

envolver a empresa em menos custos, no longo prazo, como

resultado da melhor utilização dos recursos. (CHRISTOPHER, 2016,

p. 291).

Ressaltamos que esses dois itens, ora em discussão (logística e gerenciamento

de resíduos) são aqueles que, nas atividades de uma Central Alimentar, mais

contribuem para a emissão de gases de efeito estufa, pois o primeiro emite

dióxido de carbono - CO2 diretamente na atmosfera e o segundo quando entra

em processo de decomposição, emite o gás metano – CH4 que é mais nocivo

do que o CO2.

Com relação à densidade gravimétrica dos resíduos, enquanto

nos municípios é de 60% para orgânicos, nas Centrais de

Abastecimento esse percentual aumenta para 80%, sendo esses

ricos em nutrientes e de excelente aplicação na agricultura,

utilizando técnicas adequadas de aproveitamento. (SILVA e MACIEL,

2011, P.158).

E como vimos anteriormente, em uma Central como a CEAGESP circulam até

8.000 veículos de carga em apenas um dia e são geradas 140 toneladas de

resíduos todos os dias. Estes números requerem ações imediatas para avaliação

dos danos que estão causando, pois possuem um potencial poluidor destrutivo

altamente prejudicial à sociedade.

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E ambos poderão ser fontes de lucratividade e de geração de oportunidades se

bem trabalhados em uma futura implantação deste tipo de equipamento.

Para obtermos a sustentabilidade como centro das atenções, como foco de todas

as ações da empresa e de cada um de seus agentes, é necessário que haja o

empenho de seus dirigentes na fiscalização e na cobrança de atitudes que visem

ao completo entendimento e funcionamento do Tripé da Sustentabilidade.

Será necessária a criação de campanhas de conscientização dos usuários,

funcionários, motoristas e comerciantes e em seguida a adoção de mecanismos

de controle e penalização com regras claras para que os envolvidos sejam

levados ao entendimento dos propósitos da nova Central.

Apenas com esta capacitação e cobrança que levarão a efetividade das ações

implantadas é que uma Central de Abastecimento Alimentar poderá requerer os

“atestados” de sua sustentabilidade, nos três níveis, através de certificações

ambientais, reconhecimento da sociedade (cidade) onde estiver inserida e a

constante obtenção de resultados econômicos positivos.

Qualquer falha ou má condução em um dos três pontos, levará ao mal

funcionamento da atividade comercial, gerando um ciclo vicioso que acarretará

perdas econômicas significativas as quais levarão à consequente negligência

das ações ambientais que indiretamente afetará toda a cadeia de relações e

levará a um descompasso das ações sociais que ficarão sem perspectivas para

prosseguir almejando os ciclos virtuosos de crescimento e melhora das

condições gerais de convivência e desenvolvimento dos trabalhos.

Sendo assim, só será possível a sobrevivência deste ramo de atividade, se o

equipamento urbano, Central de Abastecimento Alimentar, for completamente

reformulado, para inclusive poder competir de igual para igual com os expoentes

da comercialização moderna de alimentos, que são as grandes redes de

supermercados atualmente e no futuro poderá ser a venda virtual, eletrônica,

para o que as Centrais também terão que estar preparadas para atuar.

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4 – Considerações Finais

A dissertação buscou, desde o início, definir qual seria o objeto de estudo e suas

diversas classificações. Nos valemos de dados históricos, desde experiências

remotas, quando os mercados exerceram um papel fundamental na ampliação

e na consolidação de centralidades urbanas, até os anos 1960 quando foi

implantada a maior parte das Centrais de abastecimento, a fim de estudarmos

como chegou-se a um padrão de implantação destes equipamentos no Brasil, o

qual questionamos no presente trabalho.

Para estudarmos a questão da sustentabilidade de uma Central de grande porte,

pesquisamos como o objeto de estudo foi tratado em diversos países. A partir

desta pesquisa comparamos, de maneira descritiva, o caso estudado, a

CEAGESP às Centrais pesquisadas, enfatizando aspectos operacionais, e

temas como responsabilidade socioambiental, logística, gerenciamento de

resíduos, composição acionária e outros.

A análise do modelo do pavilhão de comercialização, utilizado em Centrais

estrangeiras, nos trouxe a clareza do quanto necessitamos alterar o espaço

reservado para este fim, nas Centrais brasileiras.

A discussão da localização da CEAGESP na Vila Leopoldina e os planos

apresentados que propõem a sua retirada do local, nos fez entender o quão

delicado é o processo de transformação urbana, pelo qual passará a região

quando houver a consolidação destas intenções.

Nesta mesma interpretação dos aspectos que envolvem a mudança da Central,

incluímos a discussão sobre o preparo da área que receberá o novo

empreendimento, levando em conta questões ambientais e de um possível

desenvolvimento sem ordenação, que traria, no futuro, uma repetição dos

problemas hoje gerados pela CEAGESP.

As diretrizes e parâmetros apontados no trabalho são fundamentais para o bom

funcionamento de uma Central com alcance metropolitano e, as propostas

apresentadas, embora não impliquem novidades, não foram utilizadas

simultaneamente em uma única implantação.

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Constatamos que o modelo atual de gestão, adotado desde os anos 1960 até os

dias de hoje em nossas Centrais, sejam elas Federais, Estaduais ou Municipais

encontra-se obsoleto, necessitando de correções imediatas, pois, não consegue

dar respostas às demandas ou solucionar os problemas que vem deteriorando

as suas condições operacionais.

A seguir apresentamos um quadro resumo das diretrizes discutidas no trabalho,

para que se obtenha o projeto sustentável de uma Central de Abastecimento

Alimentar metropolitana.

Item

a

a1

a2

a3

b

b1

b2

b3

b4

b5

b6

b7

b8

c

c1

c2

c3

c4

d

d1

d2

d3

d4

d5

d6

d7

d8

d9

d10

d11

Quadro Resumo das Diretrizes Projetuais e de Gestão

Diretrizes e Ações Resultado esperado

Melhor lucratividade

Diretrizes de Responsabilidade SocioambientalCombate à poluição e ao

desperdício de produtos

Geração de oportunidades de obtenção de receitas Aumento da receita

Diretrizes de Sustentabilidade Econômica

Menor custo de fretesLocalização acessível e com boa proximidade com o centro consumidor

Revisão do modelo de gestão, para melhor eficiência na condução da Central Oportunidades de parcerias

Tratamento de resíduos sólidos (compostagem ou recuperação energética) Geração de receita

Operação de Banco de Alimentos Combate ao desperdício

Teto verde e com painéis fotovoltáicos Conforto / redução de custos

Formação de cooperativas de catadores Reciclagem de resíduos

Centro logístico de caixas plásticas (caixas e paletes termo formados) Embalagem ecológica

Captação de águas pluviais e reutilização de água Redução de custos

Estação de tratamento de esgoto com reaproveitamento energético Redução da poluição

Reciclagem de todos os resíduos secos (palha, madeira, coco verde e outros) Geração de receita

Separação da circulação de pedestres da dos veículos e mercadorias Fluxos racionalizados

Utilizaçao de veículos elétricos para manejo das cargas Economia e rapidez

Diretrizes de Logística e movimentação Melhor operacionalidade

Acessos com capacidade para absorver a quantidade de veículos de carga Redução da poluição

Transporte por modal ferroviário integrado à Central Economia com fretes

Diretrizes de Projeto (Urbano e Arquitetônico) Humanização da Central

Implantação arquitetônica que reflita todos os elementos descritos acima Nova conceituação

Edifícios com local de comercialização (corredor) e docas separados Otimização operacional

Garantia de acessibilidade e desenho universal Acessibilidade

Utilização de iluminação e ventilação naturais Economia de energia

Permeabilidade do solo e paisagismo gerando sombreamento Cuidados ecológicos

Possibilidade de climatização dos pavilhões Combate ao desperdício

Previsão de portarias que proporcionem a vazão necessária de veículos Combate à poluição

Passarelas, subsolos, montacargas e elevadores Melhores fluxos

Iluminação interna e pública em LED, com controle automatizado Economia

Vias com largura suficiente para acomodar carretas estacionadas e circulação Melhores fluxos

Utilização de materiais de construção ecológicos (asfalto, vedação e outros) Cuidados ecológicos

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Concluindo, neste trabalho apresentamos o estudo da CEAGESP, com

antecedentes históricos, os modelos que foram seguidos, as ações de

sustentabilidade adotadas pela Central, um diagnóstico de suas condições

atuais e uma discussão sobre o projeto de seus edifícios, para assim, podermos

apontar sugestões de diretrizes para um novo conceito para Centrais de

Abastecimento Alimentar, que possa oferecer melhor qualidade, segurança

alimentar, e mais racionalidade em logística e fluxos internos.

Os resultados desta pesquisa podem auxiliar no planejamento de implantação

de novas Centrais de abastecimento alimentar e nos futuros projetos (urbanístico

e arquitetônico) destes equipamentos, uma vez que propões diretrizes para tais

finalidades e questiona alguns aspectos importantes das implantações

existentes, baseado em elementos pesquisados em Centrais de diversos países

com ênfase para o caso estudado que é a maior Central brasileira, a CEAGESP.

Desta forma, gostaríamos de deixar para futuras discussões e pesquisas, no

mínimo, três temas que nos parecem essenciais para serem aprofundados, que

são: a) a possibilidade de haver a divisão de uma Central em mais de uma

implantação em uma região metropolitana, aproximando-as de um maior número

de centros consumidores; b) a retomada, no Brasil, do conceito de praça de

comercialização, interna aos pavilhões, o que traria um novo padrão de

qualidade e de relações entre os diversos agentes envolvidos nas atividades; e

c) como integrar nestas duas hipóteses, todos os conceitos aqui abordados de

responsabilidade socioambiental e de sustentabilidade econômica, para que

este equipamento incorpore as futuras inovações tecnológicas e permaneça,

como ocorre nos países europeus na vanguarda do abastecimento alimentar.

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