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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS MARJOURIE DRAGONI DE ARRUDA BÍSCARO USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS EM PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS GRAVES, INTERNADOS EM ENFERMARIA PSIQUIÁTRICA EM HOSPITAL GERAL CAMPINAS 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

MARJOURIE DRAGONI DE ARRUDA BÍSCARO

USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS EM

PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS

GRAVES, INTERNADOS EM ENFERMARIA

PSIQUIÁTRICA EM HOSPITAL GERAL

CAMPINAS 2016

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MARJOURIE DRAGONI DE ARRUDA BÍSCARO

USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS EM

PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS

GRAVES, INTERNADOS EM ENFERMARIA

PSIQUIÁTRICA EM HOSPITAL GERAL

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestra em Ciências Médicas, área de concentração Saúde Mental.

ORIENTADORA: PROFA. DRA. RENATA CRUZ SOARES DE AZEVEDO

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA

DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA MARJOURIE

DRAGONI DE ARRUDA BÍSCARO E ORIENTADA PELA

PROFA. DRA. RENATA CRUZ SOARES DE AZEVEDO

CAMPINAS 2016

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“Eu vejo o futuro repetir o passado

Eu vejo um museu de grandes novidades

O tempo não pára

Não pára, não, não para...”

Cazuza, O Tempo Não Para

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Para meus pais, Rita e Ronaldo,

minha gratidão.

Para todas as pessoas atendidas

nesse trabalho.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Renata Cruz Soares de Azevedo, por toda a sua

paciência, dedicação e aprendizado ao longo de vários anos.

A toda equipe da Enfermaria de Psiquiatria do Hospital de Clínicas da

Unicamp, em especial aos residentes de Psiquiatria, sem os quais este trabalho

não teria sido possível.

Aos professores André Malbergier, Carlos Filinto da Silva Cais, Cláudio

Eduardo Müller Banzato e Paulo Dalgalarrondo, pelas contribuições valiosas

que enriqueceram este trabalho.

À professora Patricia Brunfentrinker Hochgrafe por aceitar participar da minha

Defesa de Mestrado.

Pelo incentivo e inspiração: Sonia Rezende.

Pelo incentivo e carinho: Karina Diniz Oliveira.

Pela compreensão: Maria Regina Arendt.

À Cleide Aparecida Moreira Silva e Juliana Luz Passos Argenton, pelo imenso

auxílio nas análises estatísticas.

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RESUMO

Comorbidade é a ocorrência de duas ou mais patologias num mesmo indivíduo e

estudos sugerem que quase 50% dos pacientes com Transtorno Mental (TM) recebem

mais de um diagnóstico. Entre as principais comorbidades psiquiátricas, destaca-se a

associação com o abuso e dependência de Substâncias Psicoativas (SPA). As

prevalências desta comorbidade em pacientes em internação psiquiátrica variam de

20% a 35%. A correta e precoce detecção desta co-ocorrência tem sua importância

calcada na abordagem terapêutica e no prognóstico. Objetivos: Determinar a

prevalência de uso, abuso e dependência de SPA lícitas e ilícitas em pacientes

internados na Enfermaria de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Unicamp (EP-

HC/UNICAMP), descrever seu perfil e comparar os pacientes que apresentam

comorbidade de dependência de SPA e outro TM com pacientes sem dependência.

Pretende-se ainda apresentar a percepção que o paciente e sua família têm do

impacto do uso de SPA sobre o TM. Método: Estudo descritivo, quali-quantitativo,

com avaliação transversal. No período de agosto de 2013 a outubro de 2014,

pacientes internados na EP-HC/UNICAMP e um familiar foram convidados a participar

do estudo respondendo um questionário sociodemográfico, o instrumento “Alcohol,

Smoking and Substance Involvement Screening Test” e o “Mini International

Neuropsychiatric Interview”. Ao familiar foi aplicado um questionário complementar

que abordava adesão ao tratamento e interferência do uso de SPA sobre o TM.

Resultados: Foram avaliados 110 pacientes, 19.2% eram tabagistas, cerca de 40%

já fizeram uso na vida de maconha e aproximadamente um terço era dependente atual

de alguma SPA (excluindo tabaco). Entre os jovens, 69% já usaram alguma SPA e

42,8% eram dependentes atuais de outras drogas que não o tabaco. Os dependentes

de SPA se caracterizaram por serem jovens, predominância de homens, com baixa

escolaridade, solteiros e desempregados; a substância de maior destaque foi a

maconha (61,7%), seguida do álcool (29,4%). Notou-se maiores taxas de antecedente

familiar de uso de SPA e pior adesão ao tratamento entre os comórbidos. Verificou-se

que o paciente apresenta tendência a minimizar o impacto do uso de SPA sobre o seu

TM, enquanto a família percebe o uso de SPA como fator de piora do quadro.

Conclusão: Reconhece-se a importância dos transtornos mentais em pacientes

usuários de SPA e a magnitude do uso de SPA em portadores de transtornos mentais.

Notam-se importantes taxas de uso na vida de SPA, com destaque para a maconha.

Houve diferenças na percepção do paciente e do familiar quanto ao impacto do uso

de SPA no TM. A realização do diagnóstico da comorbidade possibilita o

planejamento adequado do tratamento, com foco na redução de recaídas e

proporcionando melhora no funcionamento social e familiar.

Palavras-chave: Comorbidade; Transtornos relacionados ao uso de substâncias; Transtornos mentais.

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ABSTRACT

Comorbidity is the occurrence of two or more pathologies in the same human being,

and studies suggest that almost 50% of patients with Mental Disorder (MD) receive

more than one diagnosis. Among the main psychiatric comorbidities, the association

with the abuse and dependence of Psychoactive Substances (PS) stands out. The

prevalence of this comorbidity in patients experiencing psychiatric admission vary from

20% to 35%. The early and correct detection of this co-occurrence has its importance

reliant on the therapeutic approach and prognosis. Objectives: To determine the

prevalence of use, abuse and dependency on licit and illicit PS in patients admitted at

the Psychiatric Nursery of the University Hospital at Unicamp (EP-HC/UNICAMP); to

describe their profile and compare the patients that exhibit comorbidity of PS

dependency together with another MD with patients that are not dependent. We also

intend to present the perception that the patient and his/her family have of the impact

of PS use to the mental disorder. Methods: Descriptive study, quali-quantitative, with

cross assessment. In the period between August 2013 and October 2014 patients

admitted at EP-HC/UNICAMP and one relative were invited to participate in the study

answering a sociodemographic questionnaire: the tools “Alcohol, Smoking and

Substance Involvement Screening Test” and the “Mini International Neuropsychiatric

Interview”. The family member also answered a complimentary questionnaire that

addressed compliance to the treatment and interference on PS use on the MD.

Results: 110 patients were assessed. 19,2% were smokers, about 40% had already

used marijuana and approximately one third were currently dependent on other drugs

(other than tobacco). The PS dependents are young, mainly male, with low educational

levels, single and unemployed; the most prominent substance was marijuana (61,7%),

followed by alcohol (29,4%). We noticed higher indexes of familial antecedent of PS

use and a worse compliance to treatment among comorbid patients. We could verify

that the patient indicates the tendency to minimize the impact of PS use over his/her

MD, while the family perceives the use of PS as a worsening factor. Conclusion: We

acknowledge the importance of mental disorders in patients that are PS users and the

magnitude of PS use in patients with mental disorders. One can notice important

indexes of PS use in life, especially marijuana. There were differences in the

perception of patient and relative regarding the impact of PS use on the MD. The

diagnosis of comorbidity allows for a proper treatment planning with focus on the

reduction of recurrences and offering improvement to the social and familial

environment.

Key-words: Comorbidity; Substance-Related disorders; Mental disorders

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 12

1.1 Comorbidade: definição e relevância ......................................................................... 12

1.2 Comorbidade de Transtornos Mentais com o Transtorno por uso de SPA ................ 14

1.3 Comorbidade de Transtornos Mentais com o Transtorno por uso de SPA em Adolescentes ............................................................................................................. 18

1.4 Aspectos Familiares relacionados à Comorbidade dos Transtornos Mentais com o Transtorno por uso de SPA ....................................................................................... 21

1.5 Considerações a respeito da Comorbidade dos Transtornos Mentais com o Transtorno por uso de SPA ....................................................................................... 22

2. JUSTIFICATIVA .............................................................................................................. 25

3. OBJETIVOS .................................................................................................................... 26

3.1 Objetivo Geral ........................................................................................................... 26

3.2 Objetivos Específicos ................................................................................................ 26

4. HIPÓTESE....................................................................................................................... 27

5. SUJEITO E MÉTODO ..................................................................................................... 29

5.1 Tipo de Estudo .......................................................................................................... 29

5.2 Sujeitos, critérios de inclusão e exclusão .................................................................. 29

5.3 Local da Pesquisa ...................................................................................................... 30

5.4 Instrumentos .............................................................................................................. 31 5.4.1 Ficha de identificação. ........................................................................................ 31

5.4.2 Alcohol Smoking and Substance Involvement Screening Test (ASSIST) ........... 31

5.4.3 Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI) ........................................... 31

5.4.4 Questionário de avaliação complementar para familiar. ...................................... 32

5.5 Revisão da literatura.................................................................................................. 32

5.6 Procedimentos .......................................................................................................... 32

5.7 Análise dos dados ..................................................................................................... 35

5.8 Aspectos éticos da pesquisa ..................................................................................... 36

6. RESULTADOS ................................................................................................................ 38

6.1 Artigo 1 - Uso de Substâncias Psicoativas por portadores de Transtornos Mentais Graves internados em Enfermaria Psiquiátrica em Hospital Geral ............................ 38

6.2 Artigo 2 - Uso de Substâncias Psicoativas em Adolescentes e Adultos Jovens Portadores de Transtornos Mentais Graves ............................................................... 57

6.3 Artigo 3 - Impacto da dependência de drogas em pacientes com comorbidade psiquiátrica grave: percepção do usuário e da família. .............................................. 74

6.4 Resultados Complementares .................................................................................... 94

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7. DISCUSSÃO ................................................................................................................... 97

7.1 Dificuldade Diagnóstica ............................................................................................. 97

7.2 Comorbidade com o Transtorno por uso de SPA ...................................................... 98

7.3 População adolescente e adulto jovem (até 24 anos).............................................. 102

7.4 Dados qualitativos .................................................................................................... 106

8. CONCLUSÕES ............................................................................................................. 110

9. LIMITAÇÕES DO ESTUDO ........................................................................................... 111

10. REFERENCIAS .......................................................................................................... 112

11. ANEXO ........................................................................................................................ 126

12. APÊNDICE .................................................................................................................. 142

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1. INTRODUÇÃO

O interesse de realizar este trabalho veio da observação clínica cotidiana de

uma elevada frequência de pacientes apresentando quadros psiquiátricos graves e

com relato de uso e por vezes de dependência de substâncias psicoativas (SPA). Tal

fenômeno parece ser particularmente importante entre adolescentes, fato

preocupante considerando o potencial impacto no neurodesenvolvimento. Estes

pacientes representam um desafio na prática clínica em termos de diagnóstico

diferencial, adesão ao tratamento, manejo de abstinência e recaídas, além da difícil

tarefa de aliar a família no tratamento.

Os problemas relacionados ao uso de SPA, em especial a dependência, têm

se caracterizado como um grave problema de saúde pública brasileira e mundial(1).

Dados nacionais apontam que 12% da população brasileira é dependente de álcool e

1% dependente de drogas ilícitas, representando uma parcela significativa da

população(2). Segundo o II Lenad – Levantamento Nacional de Álcool e Drogas,

10,48% dos homens e 3,63% das mulheres são dependentes de álcool. Ainda,

segundo este estudo, a substância ilícita com maior prevalência de uso na população

brasileira é a maconha; do total da população adulta, 5,8% declarou já ter usado a

substância alguma vez na vida – ou seja, 7,8 milhões de brasileiros adultos.

Analisando o uso nos últimos 12 meses, 2,5% dos brasileiros adultos declaram ter

usado, representando mais de 3 milhões de adultos(3).

O uso de SPA lícitas e ilícitas tem uma ampla variabilidade de prejuízos, porém

o consumo por algumas subpopulações é particularmente preocupante, entre estas,

destaca-se o uso de drogas por portadores de transtornos mentais (TM)(4).

1.1 Comorbidade: definição e relevância

O termo “comorbidade diagnóstica” foi cunhado por Feinstein (1970)(5) para uso

em medicina geral, como qualquer entidade clínica distinta adicional que existiu ou

que pode ocorrer durante o curso clínico de um paciente(5).

O surgimento de um quadro comórbido pode afetar o tempo para detecção,

prognóstico, plano terapêutico e a evolução clínica do paciente(5, 6). Em estudos

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epidemiológicos, a associação de dois transtornos sugere que uma das patologias

possa ter uma relação causal com relação à outra ou então que existiriam fatores de

vulnerabilidade comuns às duas patologias(7).

Pacientes com TM apresentam diversas comorbidades clínicas, tais como

Hipertensão Arterial, Dislipidemia, Diabetes Mellitus, em decorrência de diversos

fatores, entre eles limitações do próprio quadro, estilo de vida e psicofármacos

utilizados. Estudos sugerem que quase 50% dos pacientes psiquiátricos recebem

mais de um diagnóstico(8-11).

Estudo epidemiológico recente realizado na região metropolitana de São Paulo

(São Paulo Megacities) apontou que aproximadamente 1 em cada 16 indivíduos com

TM possuía 2 diagnósticos (5,9%) e um número semelhante (5,8%) possuía 3 ou mais

transtornos. A severidade foi fortemente correlacionada com a presença de

comorbidade. Foi qualificado como severo 1 em cada 5 casos (19,5%) que possuíam

somente um diagnóstico. Comparando com a severidade correspondente, foi

estimada taxa de severidade de 40,2% para comórbidos com 2 diagnósticos e de

73,1% para comórbidos com mais de 2 quadros(12).

Embora menos comorbidade seja desejável para reduzir a complexidade

diagnóstica, na ausência de conhecimento sobre a fisiopatologia subjacente, a

tendência nas sucessivas edições do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos

Mentais (“Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders” – DSM) foi reduzir a

hierarquia dos diagnósticos e aumentar o registro de co-ocorrência de transtornos. Em

psiquiatria, casos de comorbidade verdadeira são relativamente raros uma vez que,

para a maioria dos transtornos, não se sabe o suficiente para ser capaz de determinar

se os distúrbios são verdadeiramente distintos. É importante compreender que a

comorbidade em psiquiatria não implica a presença de várias doenças ou disfunções,

mas reflete nossa atual incapacidade para aplicar um diagnóstico único para

contabilizar todos os sintomas(13).

Dentre as comorbidades psiquiátricas apresenta destaque, devido à

importância epidemiológica e clínica, a comorbidade entre os Transtornos

Relacionados ao uso de álcool e/ou outras drogas e outros transtornos mentais. De

fato, o abuso de substâncias é o transtorno coexistente mais frequente entre

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portadores de TM, sendo fundamental o correto diagnóstico das patologias

envolvidas(7).

As prevalências encontradas desta comorbidade variam de 20% a 75% das

populações investigadas(14-18). Essa ampla variação tem sido atribuída a diferenças

nos tipos de serviços que deram origem às amostras, nos métodos de avaliação

utilizados, nas definições de Transtornos por Uso de Substâncias (TUS), em variações

nas características sociodemográficas das amostras, assim como, na disponibilidade

de drogas ilícitas na comunidade e conforme a região geográfica estudada(19).

1.2 Comorbidade de Transtornos Mentais com o Transtorno por uso de SPA

A respeito especificamente da comorbidade entre os TM e o TUS, dados da

última fase do estudo Epidemiological Catchment Area (ECA), realizado em cinco

cidades dos Estados Unidos da América (EUA), envolvendo 20.000 indivíduos da

população geral, sugerem que mais da metade das pessoas que abusam de outras

drogas, que não o álcool, apresentam ao menos uma patologia mental em

comorbidade. Os transtornos psiquiátricos que apresentam maiores taxas de

comorbidade com o consumo de Substâncias Psicoativas são: Transtornos de

Ansiedade (28%), Transtornos do Humor (26%), Transtorno de Personalidade

Antisocial (18%) e Esquizofrenia (7%). De acordo com esta pesquisa, realizada há

mais de vinte anos, aproximadamente três de cada quatro participantes com

comorbidade psiquiátrica apresentaram o transtorno por uso de substância mais tarde

do que a doença co-ocorrente(8).

Steadman e cols. avaliaram pacientes de hospitais psiquiátricos dos Estados

Unidos, nos quais a taxa de abuso de substância foi de 21,8% (20). Investigação

conduzida de 2000 a 2006 em Barcelona, a respeito da comorbidade psiquiátrica em

usuários de drogas ilícitas incluiu 629 indivíduos usuários de SPA e apontou que cerca

de 42% preencheram critérios para outro transtorno psiquiátrico, além do TUS(21). No

Brasil, em relação aos pacientes internados por problemas psiquiátricos,

aproximadamente 35% apresentam problemas decorrentes do uso de substâncias

psicoativas, sendo 90% relacionados ao consumo de álcool(22).

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Em relação à comorbidade com transtornos ansiosos, muitos estudos analisam

a co-ocorrência entre o Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT) e o Abuso e

Dependência de álcool e drogas. Pesquisas revelam que 34,5% dos homens

diagnosticados com TEPT tiveram problemas relacionados com abuso e dependência

de álcool e drogas quando comparados com 15,1% dos homens que não tiveram

diagnóstico de TEPT. Na população feminina, 26,9% das mulheres diagnosticadas

com TEPT apresentavam Transtornos pelo uso de SPA quando comparadas com

7,6% das mulheres que não tinham TEPT(23).

Ainda a respeito dos Transtornos Ansiosos, estudo brasileiro realizado com

pacientes dependentes de álcool internados em unidades de tratamento para

dependência química verificou as associações entre dependência de álcool e a

comorbidade com Fobia Social. A amostra foi composta de 100 participantes com

idades entre 20 e 65 anos, internados por dependência do álcool, em abstinência há,

no mínimo, duas semanas. Observou-se o diagnóstico de Fobia Social em 35% do

total da amostra. Verificou-se que no período de consumo do álcool os sintomas de

fobia social eram sentidos como atenuados para 97,6% dos sujeitos(24). A tentativa de

“automedicação” é frequente com o uso do álcool, pela crença de que este diminui o

estresse e a ansiedade e melhora o desempenho social, o que favorece a manutenção

do seu uso(25).

O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) representa uma das principais

comorbidades com o abuso de SPA entre todas as patologias do Eixo I, sendo a

cannabis a droga de escolha em cerca de 20% dos portadores de Transtorno Bipolar

(26, 27). Agrawal et al. (2011)(28), estudaram o uso de cannabis em 471 indivíduos com

Transtorno Bipolar e em 1761 controles e constataram que pacientes com TAB foram

6.8 vezes mais propensos a relatar uso na vida de cannabis, quando comparados aos

controles; além disso, 30% dos pacientes com TAB tem diagnóstico de abuso ou

dependência desta substância(28).

O trabalho de Laar et al. (2007) (29) , teve como objetivo investigar se o uso de

cannabis predizia o primeiro episódio de Transtorno de Humor em um período de

seguimento de 3 anos. Participaram 3881 pessoas (18 a 64 anos) sem histórico de

Transtorno de Humor, sendo constatado que o risco de desenvolvimento de TAB foi

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bastante expressivo, com aumento no risco de até cinco vezes de desenvolvimento

de TAB em usuários regulares de maconha (29).

Em estudo de 20 anos de seguimento de Merikangas et al. (2008)(30), com a

participação de 591 indivíduos de uma amostra representativa da população de jovens

adultos de Zurique, a presença de sintomas maniatiformes (abaixo da linha de corte

para o Transtorno Bipolar) foi associado a um aumento no risco de desenvolvimento

de abuso e dependência ao álcool, aos benzodiazepínicos e à cannabis(30). Porém a

revisão de Moore et al. (2007)(31), que analisou 69 artigos a respeito do tema cannabis

e desfechos afetivos constatou poucas evidências desta associação(31).

Ainda dentro dos Transtornos de Humor, pesquisa realizada em Porto Alegre

investigou Transtorno Depressivo corrente ou durante a vida e dependência de drogas

ilícitas (cocaína, maconha ou inalantes). Dividiu-se a amostra em casos e controles,

sendo que os sujeitos do grupo caso eram dependentes de drogas ilícitas e os

indivíduos do grupo controle eram pacientes que procuraram atendimento médico

para problemas clínicos e não eram dependentes de SPA ilícitas. Conclui-se que o

diagnóstico de depressão durante a vida associou-se à dependência de drogas ilícitas.

Quanto aos dados sociodemográficos, sexo masculino, ausência de ocupação

profissional e dependência de álcool influenciaram significativamente a depressão e a

dependência de drogas. Outro fator que influenciou a co-ocorrência foi ter pais ou

amigos dependentes de SPA ilícitas. A variável depressão ocorreu com maior

frequência após a iniciação do uso de drogas(32).

No que se refere aos Transtornos Mentais, o uso, mesmo que em pequenas

doses, de SPA pode gerar consequências mais sérias que as vistas em pacientes sem

comorbidade(14, 33). Segundo estudo de base populacional de Kessler et al. (1994)(34),

que avaliou pessoas de 15 a 54 anos de idade nos EUA, a prevalência de TUS é maior

na população de pacientes com transtornos mentais graves do que na população

geral. Investigações nos EUA tem indicado que pacientes com transtornos

psiquiátricos graves, como Esquizofrenia e Transtorno Afetivo Bipolar, apresentam

altas taxas de comorbidade com transtornos mentais devido ao uso de SPA(18, 34).

Verdoux et al. (1996)(35), em um estudo comparativo entre pacientes com TAB,

Esquizofrenia e Esquizoafetivos, encontrou prevalência de uso de substâncias ilícitas

nos últimos 6 meses em 17,5% dos pacientes com TAB, em 7,9% dos pacientes com

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Esquizofrenia e em 21,4% dos pacientes com diagnóstico de Transtorno

Esquizoafetivo, sendo que 47,8% destes pacientes, tinham em sua historia

diagnóstico de abuso ou dependência de pelo menos duas drogas ilícitas(35).

Foti et al (2010)(36), analisaram a relação entre o consumo de cannabis e o

curso da esquizofrenia durante dez anos após a primeira internação psiquiátrica.

Participaram da pesquisa 229 pacientes com o espectro da esquizofrenia, os quais

foram avaliados na primeira admissão hospitalar e aos 6 meses, 2 anos, 4 anos e dez

anos mais tarde. Nas avaliações foram investigados sintomas psiquiátricos (sintomas

psicóticos positivos, negativos, de desorganização e depressivos) e taxas de uso de

cannabis. A taxa de uso na vida de cannabis foi de 66,2%, sendo tal uso associado

com um início mais precoce da psicose. Quanto ao uso atual, as taxas variaram de

10% a 18% nas avaliações. Concluiu-se que o consumo de cannabis está associado

com um curso adverso dos sintomas psicóticos na esquizofrenia, mesmo depois de

controladas variáveis clínicas, uso de outras substâncias e variáveis demográficas(36).

A respeito da dependência de nicotina em pacientes com Transtornos Mentais,

projeções sugerem que uma alta porcentagem da população tabagista nos próximos

anos apresente comorbidade psiquiátrica. Embora a prevalência do tabagismo esteja

declinando, certas populações, tais como, a de pacientes com Transtornos Mentais

não estão seguindo esta tendência(37). A diminuição da prevalência do tabagismo a

partir de agora será mais lenta já que a população sem enfermidade psiquiátrica já

está deixando de fumar(38). A expectativa de vida das pessoas com Transtorno Mental

grave pode diminuir em até 25 anos, sendo um dos grandes responsáveis o tabaco(39).

Estudos mostram que indivíduos que apresentam a comorbidade entre os TM

e o TUS utilizam serviços de emergência psiquiátrica e são internados mais

frequentemente, permanecem maior tempo no hospital e apresentam mais episódios

de comportamentos agressivos quando internados(33, 40). A maior utilização de

serviços psiquiátricos está associada a um maior custo de tratamento para estes

pacientes(41) e há evidências de que exista um maior impacto econômico nas famílias

dos mesmos(42), podendo trazer importantes implicações para a rede de apoio destes

indivíduos.

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1.3 Comorbidade de Transtornos Mentais com o Transtorno por uso de SPA em Adolescentes

Nota-se o impacto da comorbidade com o uso de SPA desde a infância e a

adolescência com consequentes efeitos negativos, tais como agressividade,

criminalidade e o envolvimento em situações de risco que podem levar a vários

desfechos negativos, entre eles à morte prematura(43). Dom et al., avaliaram se

experiências traumáticas durante a infância estariam associadas ao início precoce do

alcoolismo (início da dependência antes dos 25 anos), quando comparado com

indivíduos que não desenvolveram o alcoolismo precocemente. Os resultados

apontaram que pacientes que desenvolveram o alcoolismo mais precocemente

tiveram um número maior de experiências traumáticas severas durante a infância. Um

número maior de mulheres teve diagnóstico de TEPT durante a vida e,

especificamente no caso das mulheres alcoolistas, a severidade das experiências na

infância esteve associada à severidade do consumo de outras drogas e problemas

relacionados(44).

Estudo envolvendo 682 jovens, com idades entre 10 e 20 anos, internados por

uso de SPA em hospitais e clínicas que recebem dependentes de álcool e outras

drogas na cidade de Curitiba, verificou que os adolescentes se encontravam em média

com 17 anos, um grande número dentre eles apresentou atraso escolar e mais da

metade abandonou a escola. Os adolescentes internados iniciaram o uso de drogas

entre os 12 e 15 anos. O uso de drogas ocorria há pelo menos três anos e usavam

principalmente maconha, álcool, tabaco e crack, seguidos em ordem decrescente pelo

uso de cocaína, cola, thinner, benzina, haxixe e outras drogas. Destacou-se a

presença de dependência de múltiplas drogas e a presença de um número

significativo de adolescentes cujos familiares apresentavam história de alcoolismo,

nestes casos, principalmente o pai, e com história de drogadição, esta última mais

comum entre os irmãos(45).

Adolescentes que apresentam critérios diagnósticos para TUS, comumente

exibem outros diagnósticos psiquiátricos, tais como: transtorno de déficit de atenção

e hiperatividade (TDAH)(46), transtorno depressivo(47), transtorno de conduta,

transtorno de ansiedade, transtorno alimentar(48) e TAB(49).

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19

A comorbidade do TDAH com os transtornos relacionados ao abuso de álcool

e outras drogas é uma das mais prevalentes. Em comparação com indivíduos normais

controles, pacientes com o TDAH parecem apresentar um consumo mais precoce de

álcool e outras drogas, inclusive em termos de quantidade e dependência(50).

Estudo envolvendo uma amostra de 428 adolescentes de família de militares

(“Fort Bragg Demonstration Project”) identificou 13,8% com TUS, sendo que destes

pacientes aproximadamente 35% apresentavam diagnósticos psiquiátricos

comórbidos(51). Uma alta taxa de comorbidade entre TUS e distúrbio de conduta e

transtornos do humor foi demonstrada em estudo que avaliou 401 adolescentes com

TUS na faixa etária entre 14 a 17 anos(52).

O aumento da taxa de uso e abuso de SPA esteve correlacionado com o

transtorno de conduta e depressão em um estudo cuja amostra populacional foi

composta por 420 crianças e adolescentes com idades de 9, 11 e 13 anos que foram

entrevistados anualmente(53). A comorbidade entre depressão e TUS entre

adolescentes tem sido associada à presença de um transtorno devido ao uso de

álcool(54), competências sociais mais pobres(55) e elevado risco de tentativas de

suicídio(56).

Estudo recente, realizado em Cincinnati, cujo objetivo foi identificar preditores

de desenvolvimento de transtorno por uso de SPA após o primeiro episódio maníaco,

verificou que os adolescentes com TAB são mais propensos a desenvolver TUS do

que adolescentes sem transtornos psiquiátricos. Dos 103 adolescentes com TAB,

48% ou teve um TUS no início do estudo ou desenvolveu um durante o seguimento

(média de 113 semanas). Dos 71 participantes que não tinham um TUS no início do

estudo, 24% desenvolveram um durante o acompanhamento (11).

A importância da comorbidade se relaciona também a possíveis complicações

relacionadas às dificuldades prognósticas destes pacientes. Na população

adolescente, a alta frequência de tentativas de suicídio já é um grave problema de

saúde pública, particularmente aquelas tentativas que levam à hospitalização. Estudo

realizado com adolescentes da população geral (amostra final incluiu 39542

adolescentes de 17 anos) entrevistados através de um questionário auto-administrado

demonstrou que o uso de SPA foi preditor independente significativo de tentativas de

suicídio durante a vida. Entre as tentativas de suicídio, a hospitalização foi prevista de

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20

maneira independente pelo uso diário de cigarro de tabaco em ambos os sexos; nas

meninas, o uso regular de cannabis e uso na vida de outras drogas ilícitas foi um

preditor(57).

Um tema de grande relevância atual é a questão do uso de cannabis na

adolescência e seus possíveis desfechos. Para examinar a associação longitudinal

entre o consumo de cannabis e Transtorno Mental, foram utilizadas informações

relativas ao consumo de cannabis e a saúde mental de indivíduos com idade entre 15

e 21 anos. Constatou-se que ter um Transtorno Mental aos 15 anos levou a um risco

pequeno, porém significativamente elevado de consumo de cannabis aos 18 anos;

por outro lado, o consumo de cannabis aos 18 anos elevou o risco de Transtorno

Mental na idade de 21 anos. Observou-se também que tanto o uso de álcool quanto

o tabagismo tiveram associações independentes com posterior Transtorno Mental(58).

Segundo revisão de Sanches et al, os principais estudos nesta área não

apresentam resultados unânimes, porém, a maioria deles tem indicado que o uso em

idade precoce e regular de cannabis está associado a um risco aumentado de

aparecimento de ideação/tentativa de suicídio, de sintomas maníacos ou até mesmo

de um quadro afetivo(59).

Revisão recente a respeito dos efeitos adversos do uso recreacional da

cannabis demonstrou que o uso regular de cannabis dobra o risco de aparecimento

de sintomas e transtornos psicóticos, especialmente se o individuo tem historia

pessoal ou familiar de transtorno psicótico e se inicia o uso durante a adolescência.

Também concluiu que o uso regular de cannabis na adolescência dobra o risco de ser

diagnosticado com esquizofrenia ou de apresentar sintomas psicóticos quando

adulto(60).

A dependência de drogas em jovens apresenta particularidades, por exemplo,

o adolescente tem mais dificuldade em ligar ações presentes com consequências a

longo prazo. Além disso, Transtornos Mentais podem surgir nesta fase do

desenvolvimento, o que pode complicar a compreensão dos pais a respeito do

quadro(61). Em uma revisão da literatura, Smith e Estefan descreveram que a adicção

impacta as famílias de forma muito ampla, mas que existem barreiras que dificultam

a abordagem deste tema. O estudo também concluiu que a mãe é a figura de maior

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21

responsabilidade, já que há grande pressão social para ser bem-sucedido no papel

de cuidador principal(62).

1.4 Aspectos Familiares relacionados à Comorbidade dos Transtornos Mentais com o Transtorno por uso de SPA

Além do potencial dano individual e custo social relacionados a estas

comorbidades, é relevante avaliar aspectos relacionados às famílias dos dependentes

químicos e seu papel fundamental no processo de tratamento. As relações familiares

estão fortemente associadas ao processo de recuperação e a possíveis recaídas(63).

Estas, muitas vezes, podem ser provocadas pela inabilidade da família em lidar com

o comportamento de seu familiar dependente, necessitando também de acolhimento

e acompanhamento. A experiência clínica sugere considerar-se a família não como

um entrave, um problema ou um fator complicador que deveria ficar fora do processo,

mas como uma forte aliada no processo de resgate do indivíduo dependente

químico(64).

Estudo realizado em Hospital Universitário na Índia teve como objetivo avaliar

o padrão de estresse que incide sobre uma população de 120 familiares de homens

com dependência de álcool e/ou de opiáceos. Com esta finalidade foi utilizada a

escala “Family Burden Interview Schedule”, sendo constatado que 95% dos

cuidadores relataram uma carga moderada ou grave, evidenciando o impacto do uso

de SPA sobre os familiares de dependentes químicos(65).

Pesquisa brasileira avaliou a associação entre o consumo de substâncias e

problemas familiares numa amostra de 965 adolescentes de escolas públicas do

Estado de São Paulo. O uso de álcool, tabaco e drogas ilícitas foi associado à

avaliação negativa da relação familiar, à falta de suporte/monitoramento e ao uso de

substâncias por familiares. Os estudantes que relataram ter feito uso de substâncias

apresentaram mais problemas familiares do que aqueles que não consumiram

nenhuma substância. Ainda, os adolescentes que usaram álcool e tabaco e drogas

ilícitas relataram ter mais problemas familiares do que aqueles que usaram apenas

álcool(66). A fim de minimizar este impacto se faz necessária a orientação destas

famílias, sendo os grupos de apoio uma boa ferramenta para esta finalidade. Estudo

brasileiro objetivou conhecer a percepção de familiares de usuários de drogas acerca

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da importância do grupo de apoio como estratégia de cuidado em um Centro de

Atenção Psicossocial para usuários de álcool e outras drogas (CAPS-AD). Verificou-

se que o grupo possibilita acesso e acompanhamento pelos profissionais da saúde,

ajuda na compreensão do que é a dependência química, instrumentaliza para o

cuidado e possibilita a reinserção social do dependente químico. A co-participação da

família apresenta-se como forma de incentivar o usuário a manter-se em

tratamento(67).

1.5 Considerações a respeito da Comorbidade dos Transtornos Mentais com o Transtorno por uso de SPA

A questão temporal na ocorrência da comorbidade entre os Transtornos

psiquiátricos e outros Transtornos Mentais é objetivo de estudos há muitas

décadas(68). Atualmente, tem sido dada grande importância à distinção entre quadros

psiquiátricos independentes e aqueles induzidos por substância, já que podem diferir

em seus cursos clínicos, estratégia de tratamento e consequências à longo prazo(69,

70). Com relação aos quadros psicóticos, por exemplo, o diagnóstico primário de

psicose é feito se não houver evidência de uso ou de abstinência de substância, ou

se a síndrome psiquiátrica é estabelecida antes do uso de SPA, ou, ainda, se o

transtorno persistir mais do que 4 semanas após a cessação da intoxicação ou da

abstinência em decorrência do uso de SPA. Em contraste, um diagnóstico de quadro

induzido por uso de SPA é dado para aquele transtorno que ocorre apenas durante

períodos de uso de substância. Durante esses períodos, os sintomas do paciente

devem ultrapassar os efeitos esperados da intoxicação ou da abstinência pela

substância em questão. O DSM-IV apresenta os sintomas esperados na intoxicação

e na abstinência para cada classe de drogas. No que se refere aos critérios

diagnósticos para os quadros induzidos, o DSM-IV não inclui duração mínima ou

descrição dos sintomas assim como o faz para os quadros primários(71).

Estudo de Helseth et al. (2013)(72), investigou a diferenciação entre distúrbios

psiquiátricos independentes, complicados pelo uso de SPA, e quadros induzidos por

substância psicoativa. Utilizou-se a “Psychiatric Research Interview for Substance and

Mental Disorders” (PRISM) em uma amostra de 61 pacientes (18 a 65 anos) com

transtornos de humor ou quadros psicóticos, internados em enfermaria psiquiátrica de

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23

agudos. Verificou-se que 40% dos pacientes tinham quadro atual de transtorno de

humor ou psicótico induzido por SPA. Episódios depressivos maiores foram induzidos

pelo uso de substância em 72% dos pacientes com diagnóstico de Depressão, dos

quais 57% foram induzidos pelo álcool. Transtornos psicóticos foram induzidos por

SPA em aproximadamente um terço dos pacientes com transtornos psicóticos. Os

quadros psicóticos foram induzidos principalmente por substâncias ilícitas(72).

Poucos estudos diferenciaram quadros psiquiátricos independentes daqueles

induzidos por substância utilizando instrumentos adequados, limitando, dessa

maneira, o entendimento dos fatores de risco dos quadros induzidos por substância,

tanto nas psicoses, quanto nos transtornos de humor(73-75).

Deve ser ressaltado que em maio de 2013 foi publicada a mais nova edição do

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica

Americana (DSM-5)(76), que removeu a divisão feita pelo DSM-IV-TR entre os

diagnósticos de Abuso e Dependência de Substâncias reunindo-os como Transtorno

por Uso de Substâncias(71). O Transtorno por Uso de Substância somou os antigos

critérios para abuso e dependência conservando-os com pequenas, porém relevantes

alterações: a exclusão de “problemas legais recorrentes relacionados à substância” e

inclusão de “craving” ou um “forte desejo ou impulso de usar uma substância”. O

diagnóstico passou a ser acompanhado de critérios para Intoxicação, Abstinência,

Transtorno Induzido por Medicação/Substância e Transtornos Induzidos por

Substância Não Especificados. O DSM-5 exige dois ou mais critérios para o

diagnóstico de Transtorno por Uso de Substância e a gravidade do quadro passou a

ser classificada de acordo com o número de critérios preenchidos: dois ou três critérios

indicam um transtorno leve, quatro ou cinco indicam um distúrbio moderado e seis ou

mais critérios indicam um transtorno grave(71, 77).

Embora critérios operacionais se proponham a estabelecer e distinguir os

quadros, no cotidiano clínico a definição diagnóstica nem sempre é simples, seja

porque há omissões ou minimizações de dados relacionados ao uso de substâncias,

seja porque pródromos de outros transtornos podem confundir a percepção

cronológica da ocorrência dos quadros, seja porque o tempo de evolução ou remissão

por vezes possa ser atípico para um quadro primário porém mais longo do que o

estabelecido para um quadro induzido ou mesmo porque há uma tendência dos

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familiares e, por que não dizer também dos profissionais da saúde, de estabelecer

relações causais que nem sempre são exatas. A possibilidade de intervir em uma das

poucas causas evitáveis de uma parcela dos transtornos mentais graves, para os

quais temos poucas intervenções preventivas, torna-se extremante relevante.

A importância da co-ocorrência de diagnósticos deve-se, portanto, às

dificuldades de estabelecimento diagnóstico, ao impacto no prognóstico, na escolha e

efetividade do tratamento das patologias, além das dificuldades que ocasiona na rede

de apoio do paciente(78). Indivíduos que abusam de SPA e têm outro transtorno

psiquiátrico apresentam maiores problemas médicos, psicossociais e pior prognóstico

quando comparados àqueles sem o uso(70, 79-83). Além disso, em função do grande

impacto de se ter mais de um transtorno mental, pessoas com comorbidades

apresentam maior risco de suicídio do que pacientes que apresentam somente uso

de SPA(84-86). Independentemente dos transtornos associados serem anteriores ou

posteriores à instalação do TUS, a detecção precoce desses quadros contribui para

uma maior eficácia terapêutica, além de diminuir os índices de recaída.

Considerando, portanto, a relevância epidemiológica e clínica desta

associação, além da existência de poucos estudos nacionais sobre o tema, o presente

estudo visa determinar a prevalência de transtornos relacionados ao uso de SPA

lícitas e ilícitas entre pacientes internados na Enfermaria de Psiquiatria do Hospital de

Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (EP-HC/UNICAMP) e compará-los

com pacientes que não apresentam uso de SPA. Também objetiva-se avaliar a

percepção do paciente e de sua família quanto ao impacto do uso de SPA sobre o

transtorno mental.

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2. JUSTIFICATIVA

Embora haja vasta literatura internacional abordando o uso de SPA em

pacientes que apresentam transtornos mentais, há escassez de estudos nacionais

sobre o tema, notadamente na avaliação de pacientes com transtornos mentais

graves. A possibilidade de levantar dados sobre esta co-ocorrência, além de

informações acerca de variáveis sociodemográficas e clínicas, pode contribuir para o

planejamento de ações específicas para esta população.

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3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Avaliar o uso de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas em pacientes atendidos

pela EP-HC/UNICAMP.

3.2 Objetivos Específicos

3.2.1 Determinar a prevalência de uso, abuso ou dependência de SPA lícitas

e ilícitas entre pacientes internados na EP-HC/UNICAMP;

3.2.2 Descrever o perfil sociodemográfico de pacientes com comorbidade de

uso de SPA e outro transtorno mental internados na EP-HC/UNICAMP;

3.2.3 Descrever o perfil clínico destes pacientes em relação a tentativas de

suicídio, adesão ao tratamento e presença de comorbidades clínicas;

3.2.4 Comparar o perfil sociodemográfico e clínico de pacientes internados

com e sem história de comorbidade de Transtorno Mental com

Transtorno por uso de SPA;

3.2.5 Descrever o perfil dos pacientes jovens (cortes de idade abaixo de 18 e

24 anos) quanto aos aspectos sociodemográficos, clínicos e

relacionados ao uso de SPA;

3.2.6 Avaliar a percepção do paciente e de sua família quanto ao impacto do

uso de SPA sobre o Transtorno Mental.

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4. HIPÓTESE

4.1 A prevalência de comorbidade de transtornos relacionados ao uso de SPA

e outros transtornos mentais em pacientes internados será entre 20 e 30%;

4.2 Os pacientes que apresentam comorbidade com uso de SPA serão em sua

maioria homens, jovens, solteiros, com baixa escolaridade, baixo nível

ocupacional e com história familiar de dependência ou outro transtorno

mental relacionado ao uso de substâncias;

4.3 Os pacientes com comorbidade apresentam predomínio de quadros

psicóticos e afetivos, com presença importante de tentativas de suicídio e

morbidades clínicas, internações anteriores e má adesão a tratamento

ambulatorial;

4.4 Os pacientes que possuem comorbidade com uso de SPA são mais jovens,

em maior frequência homens, apresentam mais antecedentes de pior

adesão ao tratamento, são mais frequentemente re-hospitalizados,

apresentam internações mais prolongadas, maior taxa de complicações

clínicas e aumento nos índices de tentativas de suicídio, quando

comparados com os pacientes internados na EP-HC/UNICAMP que não

apresentam tal comorbidade;

4.5 Pacientes jovens serão predominantemente homens, com importante

história familiar de Transtorno por uso de SPA e de Transtorno Mental e

altas taxas de uso na vida de SPA com destaque para o álcool;

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4.6 A maioria dos pacientes não relaciona o uso de SPA ao seu quadro

psiquiátrico. Os familiares frequentemente avaliam que o uso de drogas

tem impacto negativo sobre o transtorno mental.

MODELO ALTERNATIVO DE TESE

No Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Faculdade de

Ciências Médicas da Unicamp, a apresentação formal da tese ou dissertação pode

ser substituída pelo modelo alternativo, no qual os capítulos: MATERIAL E MÉTODOS

E RESULTADOS são substituídos pelo artigo ou artigos correspondentes ao trabalho

realizado. O aluno deverá ser o primeiro autor da publicação, que deverá ter no

máximo 2 anos e estar vinculada à linha de pesquisa da tese.

O presente trabalho será apresentado no formato alternativo, incluindo três

artigos resultantes da pesquisa, todavia optou-se por manter o item Método visando

melhor esclarecimento de todo o desenho e procedimento da pesquisa.

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5. SUJEITO E MÉTODO

5.1 Tipo de Estudo

Estudo quali-quantitativo, cuja parte quantitativa foi de corte transversal e

consistiu em avaliar o perfil dos pacientes atendidos pela EP-HC/UNICAMP,

determinar a prevalência de uso, abuso ou dependência de SPA lícitas e ilícitas

(cigarro de tabaco, álcool, maconha, cocaína e/ou crack) entre estes pacientes e

comparar o perfil sociodemográfico e clínico de pacientes que apresentam

comorbidade com Transtorno por uso de SPA (Grupo C) com aqueles pacientes que

não possuem tal comorbidade (Grupo NC). Quanto ao aspecto qualitativo da

pesquisa, tratou-se da avaliação da percepção do paciente e de seu familiar (pessoa

relevante no contexto de vida do paciente, indicado pelo médico responsável) quanto

ao impacto do uso de SPA sobre o transtorno mental.

5.2 Sujeitos, critérios de inclusão e exclusão

Os sujeitos foram todos os pacientes internados na EP-HC/UNICAMP, bem

como seus familiares (pessoa relevante no contexto de vida do paciente, indicado pelo

médico responsável), no período de agosto de 2013 a outubro de 2014 (15 meses).

Critérios de inclusão:

Pacientes maiores de 18 anos ou caso menor de 18 anos, mediante

permissão da família, de ambos os sexos, atendidos pela EP-HC/UNICAMP,

durante o período do estudo.

Caso o paciente não apresentasse condições emocionais, intelectuais ou

clínicas mínimas para se submeter aos instrumentos da pesquisa em determinado

momento, aguardou-se sua melhora para realização da pesquisa e compreensão do

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexo II). Quando se tratava

de paciente menor de idade solicitou-se a autorização para participação ao

responsável pelo paciente, que deveria ler e, se concordasse assinar o formulário

TCLE – responsável pelo paciente (Anexo III).

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Também foram incluídos no estudo os familiares dos pacientes atendidos pela

EP-HC/Unicamp, sendo este familiar alguém indicado pelo médico responsável como

pessoa relevante no contexto de vida do paciente, que assinaram TCLE específico

(Anexo IV).

Critério de exclusão:

Pacientes internados na EP-HC/UNICAMP devido exclusivamente ao uso de

Substância Psicoativa;

Incompreensão da língua portuguesa;

Limitação cognitiva grave;

5.3 Local da Pesquisa

Este estudo desenvolveu-se no Hospital de Clínicas da Universidade Estadual

de Campinas (HC-Unicamp), um hospital geral universitário terciário/quaternário,

localizado em Campinas (SP). O HC-Unicamp é referência para a rede pública de uma

região metropolitana onde vive uma população de mais de 6 milhões de habitantes(87).

A pesquisa foi realizada na Enfermaria de Psiquiatria do Hospital de Clínicas

da Unicamp. Trata-se de enfermaria em serviço universitário com 14 leitos, destinada

a pacientes com transtornos mentais graves agudos. Tais pacientes são provenientes

da Unidade de Emergência Referenciada (UER), dos ambulatórios do HC ou de

internações eletivas.

A Enfermaria de Psiquiatria do Hospital de Clínicas da Unicamp tem como

vocação a internação de pacientes para investigação clínica, indivíduos no primeiro

surto, refratários ao tratamento e para quadros comórbidos. Não é enfermaria

especializada em dependência química, embora realize internações de pacientes com

Transtorno por uso de SPA. O tempo médio de internação é de 35 dias.

As entrevistas foram realizadas nas dependências da EP-HC/UNICAMP, em

sala privativa, com a presença do entrevistador e do paciente e no caso de familiares,

do entrevistador e do familiar. As informações complementares do prontuário foram

colhidas na EP-HC/UNICAMP.

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5.4 Instrumentos

5.4.1 Ficha de identificação.

Questionário contendo dados sociodemográficos que inclui: sexo, idade,

estado civil, escolaridade, procedência, com quem reside, prática religiosa, motivo de

internação, padrão de uso de SPA, histórico de tratamento e avaliação da percepção

do paciente quanto ao uso de SPA sobre o transtorno mental (Anexo V).

Foi adicionado questionamento ao paciente comórbido sobre a interferência do

uso de SPA sobre o transtorno mental (era solicitado que o paciente pontuasse em

uma escala de 0 a 10 qual sua opinião a respeito do impacto do uso de SPA sobre

seu transtorno mental e que justificasse sua nota, sendo que 0 era ausência de

impacto e 10 impacto muito grave).

5.4.2 Alcohol Smoking and Substance Involvement Screening

Test (ASSIST) (88) (Anexo VI).

Questionário estruturado contendo oito questões sobre o uso de nove classes

de substâncias psicoativas (tabaco, álcool, maconha, cocaína, estimulantes,

sedativos, inalantes, alucinógenos e opiáceos). As questões abordam a frequência de

uso, na vida e nos últimos três meses, problemas relacionados ao uso, preocupação

a respeito do uso por parte de pessoas próximas ao usuário, prejuízo na execução de

tarefas esperadas, tentativas malsucedidas de cessar ou reduzir o uso, sentimento de

compulsão e uso por via injetável. Cada resposta corresponde a um escore, que varia

de 0 a 4, sendo que a soma total pode variar de 0 a 20. Considera-se a faixa de escore

de 0 a 3 como indicativa de uso ocasional, de 4 a 15 como indicativa de abuso e 16

como sugestiva de dependência.

5.4.3 Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI) (89) (Anexo VII).

Entrevista diagnóstica padronizada breve (15-30 minutos), compatível com os

critérios do DSM-IV e da CID-10, que é destinada à utilização na prática clínica e na

pesquisa em atenção primária e em psiquiatria. Trata-se de entrevista organizada por

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módulos diagnósticos independentes, onde a prioridade é a exploração dos

transtornos atuais, de forma a guiar o clínico na escolha da terapêutica mais

adequada. A cotação das questões é dicotômica (SIM/NÃO); para todas as seções

diagnósticas (exceto a seção transtornos psicóticos), uma ou duas questões de

entrada que exploram critérios obrigatórios permitem excluir o diagnóstico em caso de

respostas negativas. Foi utilizada somente a seção de dependência química.

5.4.4 Questionário de avaliação complementar para familiar (Anexo VIII).

O questionário é constituído por informações que descrevem o tempo de

convívio com o paciente, observação de comportamentos diferentes do usual que

tenham motivado a internação e quais as preocupações do familiar com o paciente.

Questiona-se os pontos positivos do paciente, percepções da família a respeito do

bem-estar do paciente na época da entrevista. Trata-se de uma ficha já utilizada no

serviço de Psiquiatria do HC-Unicamp, acrescida de pergunta a respeito da adesão

ao tratamento, questionando ao familiar se o paciente já interrompeu o tratamento por

conta própria. Foi também adicionado questionamento ao familiar sobre a interferência

do uso de SPA sobre o transtorno mental (era solicitado que o familiar pontuasse em

uma escala de 0 a 10 qual sua opinião a respeito do impacto do uso de SPA sobre o

transtorno mental e que justificasse sua nota, sendo que 0 era ausência de impacto e

10 impacto muito grave).

5.5 Revisão da literatura

Os artigos foram selecionados por meio de busca eletrônica no indexador

PubMed, LILACS, SciELO, utilizando as seguintes palavras-chave: comorbidade,

transtorno por uso de substâncias e transtorno mental (comorbidity; disorder by

substance use; mental disorder). Foram utilizados artigos em português, inglês e

espanhol.

5.6 Procedimentos

O tempo de coleta de dados foi de 15 meses, pois a pesquisadora, no período

da pesquisa, estava no terceiro ano da Residência Médica de Psiquiatria da Unicamp

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e se ausentou por 3 meses devido ao estágio externo, sendo prolongado o tempo de

pesquisa a fim de minimizar as perdas. Durante o período do estudo, a pesquisadora

foi informada pelos residentes de Psiquiatria responsáveis pelos casos da Enfermaria

a cada nova admissão de paciente. A pesquisadora convidou o paciente e sua família

a participar da pesquisa, explicando os seus objetivos e esclarecendo que a sua

recusa não acarretaria qualquer prejuízo ao seu tratamento. Por se tratar de uma

enfermaria de pacientes agudos e graves, ocorreu por vezes de o paciente não ter

condições psíquicas de participar do estudo em um primeiro momento. Porém,

durante a internação, com a realização do tratamento, a pesquisadora fez nova

abordagem, em um momento em que o paciente se encontrava mais compensado do

quadro psiquiátrico que motivou a internação, tanto para compreender o estudo

quanto para participar do mesmo.

O familiar escolhido era uma pessoa relevante no contexto de vida do paciente,

indicado pelo médico responsável, já que deveria ser alguém que soubesse informar

dados sobre a história de vida do paciente. Houve um caso em que a pessoa

entrevistada foi o namorado da paciente, o qual morava com a mesma, pois não havia

outro informante. O familiar foi abordado no dia de visita sendo-lhe explicitado o

objetivo do estudo e apresentado o TCLE para o paciente e para a família. Caso o

paciente concordasse, foi aplicado na primeira etapa o questionário sociodemográfico,

na segunda etapa o paciente foi submetido ao ASSIST e ao MINI. Se a família

concordasse em participar, foi agendado um horário, que fosse de sua conveniência,

para a aplicação do questionário. A entrevista realizada com a família e com o paciente

foi anotada. A seguir, fluxograma exemplificando os procedimentos (Fluxograma I):

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Fluxograma I: Procedimentos da pesquisa

A respeito da forma como foi coletado o dado sobre cor/raça, foi solicitado para

a pessoa entrevistada que refletisse sobre sua própria identificação perguntando qual

é sua cor/raça dentre as seguintes opções: branca, preta, amarela, parda e indígena.

A análise do antecedente de adesão ao tratamento foi avaliada questionando

ao familiar e ao paciente, se este já havia parado de tomar suas medicações

psiquiátricas sem orientação médica e/ou tomado a mais do que foi prescrito, assim

como parar com o tratamento ambulatorial sem alta médica. Também foi avaliado o

prontuário médico do paciente para auxiliar em casos em que houvesse discordância

de informações fornecidads pelo paciente e pela família.

Sobre a variável relacionada ao número de medicações, quanto aos fármacos

tentados durante a internação, foram considerados as classes de antidepressivos,

antipsicóticos, estabilizadores de humor, benzodiazepínicos e estimulantes. Quanto

às medicações realizadas a critério médico (ACM), ou seja, fármacos utilizados em

situações em que o paciente apresenta agitação psicomotora, inquietação, insônia,

foram consideradas as medicações utilizadas via oral e via intramuscular ou

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35

endovenosa. Em relação às vias intramuscular ou endovenosa, foram consideradas o

número de ampolas utilizadas da medicação aplicada.

O diagnóstico de dependência ou abuso de SPA atual foi realizado com a

aplicação do ASSIST e do MINI. Dados do prontuário e relatos do paciente a respeito

do padrão de uso de SPA há mais de um ano, foram utilizados para o diagnóstico de

antecedente de uso problemático de SPA. Quanto a esse diagnóstico, há grande

dificuldade de estabelecer qual é a frequência de uso para que ele seja considerado

problemático. Assim, a definição de uso problemático foi qualquer uso, em qualquer

quantidade e frequência, que tenha resultado em problemas de ordem psicológica

(necessidade de procura e/ou familiar achar que era necessário ajuda especializada),

médica (acidentes, surgimento de patologias decorrentes do uso de SPA), escolar

(queda de rendimento, faltas), social (envolvimento em brigas, faltas no emprego) ou

familiar (conflitos familiares, isolamento do paciente em decorrência do uso de SPA).

Quanto à definição do diagnóstico psiquiátrico do paciente, adotou-se o

realizado pela equipe da enfermaria de psiquiatria do Hospital das Clínicas da

Unicamp, por tratar-se de enfermaria universitária, onde os casos, em sua maioria,

são avaliados com instrumentos diagnósticos (PANNS, Young, Montegomery,

Hamilton, Yale) e discutidos com supervisores docentes. O diagnóstico foi colhido do

resumo de alta do paciente. Informações complementares acerca de antecedentes do

paciente e histórico de tratamento foram obtidos a partir do prontuário.

5.7 Análise dos dados

Os dados quantitativos colhidos foram inseridos em banco de dados do

programa SPSS. Para avaliar a relação entre as variáveis categóricas e os dados de

comparação entre os grupos (pacientes comórbidos com TUS – Grupo C X pacientes

sem a comorbidade em questão – Grupo NC), foram utilizados os testes Qui-quadrado

ou exato de Fisher (para valores esperados menores que 5). O nível de significância

adotado para os testes estatísticos foi de 5% (p < 0,05).

A entrevista realizada com a família e com o paciente foi anotada e utilizou

como questões disparadoras “na sua opinião, em uma escala de 0 a 10, qual o impacto

do uso de drogas sobre seu transtorno mental, sendo que 0 é ausência de impacto e

10 impacto muito grave” e “você poderia justificar a sua resposta?”.

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As mesmas perguntas foram feitas aos familiares, neste caso: “na sua opinião,

em uma escala de 0 a 10, qual o impacto do uso de drogas do seu familiar sobre o

transtorno mental que ele possui, sendo que 0 é ausência de impacto e 10 impacto

muito grave” e “você poderia justificar a sua resposta?”. Foram também indagados

sobre o tempo de convívio com o paciente, observação de comportamentos diferentes

do usual que tenham motivado a internação, quais as preocupações do familiar com

o paciente, adesão a tratamentos e pontos positivos do paciente.

Após a realização das entrevistas, as anotações foram lidas uma primeira vez

pela pesquisadora a fim de rever se não houve perda de conteúdo na fala dos

pacientes e familiares. Em seguida, as entrevistas foram lidas pelo pesquisador

principal e sua orientadora, com o objetivo de agrupamento em núcleos de sentido a

partir da pergunta disparadora a respeito da relação percebida, pelos pacientes e

familiares, do transtorno mental com uso de SPA. As categorias foram descritas e

ilustradas com frases dos entrevistados (Apêndice I e Apêndice II).

5.8 Aspectos éticos da pesquisa

Os pacientes atendidos pela Enfermaria de Psiquiatria e seus familiares foram

convidados pela pesquisadora a participar do estudo após explicação sobre o objetivo

do mesmo, leitura e explicação dos termos do TCLE. Os pacientes somente

participaram do estudo se concordaram integralmente com os termos do TCLE.

Os pacientes abordados para participar da pesquisa poderiam estar com

sintomas psíquicos exacerbados ou apresentando sintomas de abstinência por

alguma SPA. Neste sentido, houve participação de grupos vulneráveis, pois o objetivo

do trabalho foi estudar o uso de SPA lícitas e ilícitas em pacientes com diagnósticos

de quadros psiquiátricos internados em enfermaria psiquiátrica de agudos. Visando

minimizar este problema, caso o paciente não apresentasse condições emocionais,

intelectuais ou clínicas mínimas para se submeter aos instrumentos da pesquisa em

determinado momento, aguardou-se sua melhora para realização da pesquisa e

compreensão do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexo II).

O eventual desconforto referiu-se ao tempo despendido na entrevista pelo

paciente e família e o possível incômodo no relato de dados que poderiam ser

considerados constrangedores pelos entrevistados referentes ao uso de SPA.

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37

Visando minimização de desconforto, os pacientes foram orientados de que sua

participação era voluntária e sua recusa não implicava em qualquer prejuízo para seu

tratamento e que mesmo que aceitasse participar, poderia recusar-se a prosseguir na

pesquisa a qualquer momento.

Como os pacientes estavam em ambiente de internação, aspectos relevantes

ao quadro psíquico, tais como, uso/abuso/dependência de SPA, já haviam sido

discutidos pelos médicos assistentes com os familiares. Apesar de o sigilo entre o

paciente e o médico estar comprometido neste contexto, a entrevista foi realizada

primeiramente com o indivíduo e depois com a família, para evitar o desconforto de

expor a privacidade do paciente. A entrevista teve duração média de 60 minutos e

caso o paciente e/ou o familiar desejasse, a entrevista era dividida em duas etapas

para minimizar o desconforto quanto ao tempo de coleta de informações. Os

potenciais benefícios referem-se ao encaminhamento para tratamento especializado

em dependência química.

Todas as informações fornecidas são confidenciais e a identificação do

paciente utiliza um código alfa numérico. A pesquisa foi aprovada pelo CEP sob o

número 18644513.9.0000.5404 (Anexo I).

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6. RESULTADOS

6.1 Artigo 1 -

Uso de Substâncias Psicoativas por portadores de Transtornos

Mentais Graves internados em Enfermaria Psiquiátrica em

Hospital Geral

Uso de drogas em portadores de Transtorno Mental

Marjourie Dragoni de Arruda BiscaroI, Renata Cruz Soares AzevedoII

I- Médica Psiquiatra, Pós-Graduanda em Ciências Médicas, Área de concentração Saúde Mental da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade

Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil. II- Médica Psiquiatra, Professora Doutora do Departamento de Psicologia

Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil.

Nome: Marjourie Dragoni de Arruda Biscaro Telefone: (11) 98544-6936 Email: [email protected] Endereço: Rua XV de Novembro, 140, apt 51. Bairro: Vila Arens. CEP: 13201005

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Resumo

Objetivos: Determinar a prevalência de uso, abuso e dependência de Substâncias

Psicoativas (SPA) em pacientes internados em Enfermaria de Psiquiatria de Hospital

Geral, descrever seu perfil e comparar os pacientes que apresentam comorbidade de

dependência de SPA com outro Transtorno Mental com pacientes sem dependência.

Método: Pacientes internados foram convidados a participar do estudo respondendo

um questionário sociodemográfico, o instrumento “Alcohol, Smoking and Substance

Involvement Screening Test” e o “Mini International Neuropsychiatric Interview”.

Resultados: Avaliou-se 110 pacientes, 19.2% eram tabagistas, cerca de 40% já

fizeram uso na vida de maconha e aproximadamente um terço era dependente atual

de alguma SPA (excluindo tabaco). Na análise comparativa houve predomínio de

homens, com pior antecedente de adesão ao tratamento, maior frequência de

prescrição de injetáveis na internação e maior taxa de antecedente familiar de uso de

SPA entre os comóbidos. Em média, o uso de SPA antecedeu o transtorno mental.

Conclusão: Os resultados apontam a magnitude do uso de SPA em portadores de

transtorno mental grave e a importância do transtorno mental em pacientes usuários

de SPA. Taxas elevadas de uso na vida de SPA, com destaque para a maconha.

Verificamos a importância do reconhecimento da comorbidade com o uso de SPA a

fim de se realizar investimento na adesão ao tratamento deste grupo, diminuindo

recaídas e reforçando a abstinência.

Palavras - chave: comorbidade, transtorno mental, transtorno por uso de substâncias

psicoativas

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Introdução

Os problemas relacionados ao uso de substâncias psicoativas (SPA), em especial

a dependência de SPA, têm se caracterizado como um grave problema de saúde

pública brasileira e mundial1. Dados nacionais apontam que 12% da população

brasileira é dependente de álcool e 1% dependente de drogas ilícitas2. De acordo com

o II LENAD (Levantamento Nacional de Álcool e Drogas), 10,5% dos homens e 3,6%

das mulheres são dependentes de álcool. A substância ilícita com maior prevalência

de uso na população brasileira é a maconha, do total da população adulta, 5,8%

declarou já ter usado a substância alguma vez na vida – ou seja, 7,8 milhões de

brasileiros adultos. Analisando o uso nos últimos 12 meses, 2,5% dos brasileiros

adultos declaram ter usado, representando mais de 3 milhões de pessoas3.

O uso de SPA lícitas e ilícitas tem uma ampla variabilidade de prejuízos, porém o

consumo por algumas subpopulações é particularmente preocupante, entre estas,

destaca-se o uso de drogas por portadores de Transtornos Mentais (TM)4. Dados da

última fase do estudo Epidemiological Catchment Area, realizado em cinco cidades

dos Estados Unidos da América, envolvendo 20.000 indivíduos da população geral,

apontam que mais da metade das pessoas que abusam de outras drogas, que não o

álcool, apresentam ao menos uma patologia mental em comorbidade5. No Brasil, o II

LENAD analisou especificamente a relação entre depressão e problemas com

consumo de álcool mostrando que a prevalência de depressão é significativamente

maior entre abusadores de álcool. Detectou ainda que 5% dos brasileiros já tentaram

tirar a própria vida, nestes, 24% das tentativas estava relacionada ao consumo de

álcool3.

O termo “comorbidade diagnóstica” foi cunhado por Feinstein (1970) para uso em

medicina geral, como qualquer entidade clínica distinta adicional que existiu ou que

pode ocorrer durante o curso clínico de um paciente6. O surgimento de um quadro

comórbido pode afetar a detecção, o plano terapêutico, a evolução clínica e o

prognóstico do paciente6,7. Estudos epidemiológicos indicam que a associação de dois

transtornos sugere que uma das patologias possa ter relação causal com a outra ou

que existiriam fatores de vulnerabilidade comuns8.

Portadores de TM apresentam diversas comorbidades clínicas, relacionadas às

limitações do próprio quadro, ao estilo de vida e aos psicofármacos utilizados, entre

outras variáveis, com destaque para Hipertensão Arterial, Dislipidemia e Diabetes

Mellitus9. Estudos sugerem que quase 50% dos pacientes com TM recebem mais de

um diagnóstico psiquiátrico5,10,11,12. Dentre as comorbidades psiquiátricas apresenta

destaque, devido à importância epidemiológica e clínica, a comorbidade entre os

Transtornos por Uso de Substâncias (TUS) e outros Transtornos Mentais. De fato, o

abuso de substâncias psicoativas é o transtorno coexistente mais frequente entre

portadores de TM, sendo fundamental o correto diagnóstico dos quadros envolvidos8.

Estudo epidemiológico recente realizado na região metropolitana de São Paulo

apontou que aproximadamente 1 em cada 16 indivíduos com transtorno mental

possuía 2 diagnósticos (5,9%) e um número semelhante (5,8%) possuía 3 ou mais

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transtornos. A severidade foi fortemente correlacionada com a presença de

comorbidade13.

Estudo espanhol com 629 usuários de drogas ilícitas, apontou que 42%

apresentavam critérios para outro transtorno psiquiátrico, além do Transtorno por uso

de Substâncias14. Entre os portadores de TM, o uso, mesmo que em pequenas doses

de SPA pode gerar consequências mais sérias que as vistas em pacientes sem

comorbidade15,16. Verdoux et al. (1996), em um estudo comparativo entre pacientes

com Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), Esquizofrenia e Transtorno Esquizoafetivo,

encontrou as seguintes prevalências de uso de SPA ilícitas nos últimos 6 meses:

17,5%; 7,9% e 21,4%, respectivamente. Na população total do estudo, 47,8% dos

pacientes apresentavam história de abuso ou dependência de pelo menos duas

drogas ilícitas17.

O TAB representa uma das principais comorbidades com o abuso de SPA entre

todas as patologias do Eixo I. Agrawal et al. (2011), estudaram o uso de cannabis em

471 indivíduos com Transtorno Bipolar e em 1761 controles e constatou que pacientes

com TAB foram 6.8 vezes mais propensos a relatar uso na vida de cannabis, quando

comparados aos controles18.

Foti et al (2010), analisaram a relação entre o consumo de cannabis e o curso da

Esquizofrenia durante dez anos após a primeira internação psiquiátrica. Foram

avaliados 229 pacientes com o espectro da esquizofrenia sendo investigados

sintomas psiquiátricos e taxas de uso de cannabis. A taxa de uso na vida de cannabis

foi de 66,2%, sendo tal uso associado com um início mais precoce da psicose.

Concluiu que o consumo de cannabis está associado a um curso adverso dos

sintomas psicóticos na esquizofrenia mesmo depois de controladas variáveis clínicas,

demográficas e uso de outras substâncias19.

Quanto ao tabagismo, os pacientes com Transtornos Mentais Graves tem uma

maior prevalência de consumo de tabaco quando comparados com a população

geral20, havendo uma relação diretamente proporcional entre a intensidade da

gravidade psiquiátrica e a gravidade da dependência ao tabaco21,22. Dessa forma a

probabilidade de que uma pessoa com Transtorno Mental fume é aproximadamente o

dobro quando comparado com uma pessoa que não apresenta essa enfermidade23.

As taxas de tabagismo em pessoas com transtorno psiquiátrico permanecem altas

enquanto essas tem caído na população geral. Por exemplo, na Austrália, as taxas de

tabagismo entre individuos com transtorno psicóticos não caiu entre 1997 e 2010

enquanto que na população geral as taxas declinaram de 26% a19%24.

Estudos mostram que indivíduos com esta comorbidade utilizam serviços de

emergência psiquiátrica e são internados mais frequentemente, permanecem maior

tempo no hospital e apresentam mais episódios de comportamentos agressivos

quando internados16,25.

Considerando a relevância epidemiológica e clínica desta associação, além da

escassez de pesquisas nacionais sobre o tema, o presente estudo objetivou avaliar a

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prevalência de Transtornos por uso de Substâncias lícitas e ilícitas entre portadores

de TM internados em Enfermaria de Psiquiatria de Hospital Geral e comparar o perfil

socidemográfico, tentativas de suicídio, adesão ao tratamento e presença de

comorbidades clínicas em relação a pacientes que não apresentam tal comorbidade.

Método

Tipo de Estudo

Estudo de corte transversal que avaliou a prevalência de uso, abuso ou

dependência de SPA lícitas e ilícitas entre os pacientes com Transtornos Mentais

internados na Enfermaria de Psiquiatria do Hospital de Clínicas da Universidade

Estadual de Campinas (EP-HC/UNICAMP) e comparou o perfil sociodemográfico e

clínico de pacientes que apresentam comorbidade com Transtornos por uso de

Substâncias (Grupo C) com aqueles pacientes que não possuem tal comorbidade

(Grupo NC).

Sujeitos, critérios de inclusão e exclusão

Critérios de inclusão:

- Pacientes maiores de 18 anos ou caso menor de 18 anos, mediante permissão

de familiar, de ambos os sexos, internados na EP-HC/UNICAMP no período de

agosto de 2013 a outubro de 2014.

Todos os pacientes que concordaram em participar da pesquisa assinaram o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e por se tratar de paciente

vulnerável, foi solicitado que um familiar também assinasse o TCLE.

Critério de exclusão:

- Pacientes internados na EP-HC/UNICAMP devido exclusivamente ao uso de

Substância Psicoativa.

- Incompreensão da língua portuguesa.

- Limitação cognitiva grave.

Local

Este estudo desenvolveu-se no Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de

Campinas, um hospital geral universitário terciário/quaternário, localizado em

Campinas (SP). O HC-Unicamp é referência para a rede pública de uma região

metropolitana onde vive uma população de mais de 6 milhões de habitantes26. A

pesquisa foi realizada na Enfermaria de Psiquiatria com 14 leitos, destinada a

pacientes com transtornos mentais graves agudos, provenientes da Unidade de

Emergência Referenciada, dos ambulatórios do HC ou de internações eletivas. O

tempo médio de internação é de 35 dias. A Enfermaria de Psiquiatria do Hospital de

Clínicas da Unicamp tem como vocação a internação de pacientes para investigação

clínica, indivíduos no primeiro surto, refratários ao tratamento e quadros comórbidos.

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Não é enfermaria especializada em dependência química, embora realize internações

de pacientes com Transtorno por uso de SPA.

Instrumentos

Ficha de identificação, contendo: sexo, raça, idade, estado civil, escolaridade,

motivo da internação, padrão de uso de SPA e histórico de tratamento.

Alcohol Smoking and Substance Involvement Screening Test (ASSIST) Silva HIF,

200427: questionário estruturado contendo oito questões sobre o uso de nove classes

de substâncias psicoativas (tabaco, álcool, maconha, cocaína, estimulantes,

sedativos, inalantes, alucinógenos e opiáceos). As questões abordam a frequência de

uso, na vida e nos últimos três meses, problemas relacionados ao uso, preocupação

a respeito do uso por parte de pessoas próximas ao usuário, prejuízo na execução de

tarefas esperadas, tentativas mal sucedidas de cessar ou reduzir o uso, sentimento

de compulsão e uso por via injetável. Cada resposta corresponde a um escore, que

varia de 0 a 4, sendo que a soma total pode variar de 0 a 20. Considera-se a faixa de

escore de 0 a 3 como indicativa de uso ocasional, de 4 a 15 como indicativa de abuso

e >16 como sugestiva de dependência.

Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI), Sheehan e Lecrubier, 1997,

seção de dependência química28: entrevista diagnóstica padronizada breve,

compatível com os critérios do DSM-IV e da CID-10.

Procedimentos

Após o esclarecimento sobre o TCLE, para os pacientes que concordaram em

participar, foi aplicado o questionário sociodemográfico, em seguida o ASSIST e o

MINI. A pesquisa foi aprovada pelo CEP sob o número 18644513.9.0000.5404.

Na informação sobre raça, foi solicitado ao entrevistado que indicasse sua própria

identificação dentre as seguintes opções: branca, preta, amarela, parda e indígena. O

antecedente de adesão ao tratamento foi avaliado indagando o paciente e familiar, se

já havia parado de tomar suas medicações psiquiátricas sem orientação médica e/ou

tomado a mais do que foi prescrito, assim como parar com o tratamento ambulatorial

sem alta médica.

Sobre o número de fármacos utilizados durante a internação, foram considerados

as classes: antidepressivos, antipsicóticos, estabilizadores de humor,

benzodiazepínicos e estimulantes. Quanto às medicações realizadas a critério médico

(ACM), ou seja, fármacos utilizados em situações em que o paciente apresenta

agitação psicomotora, inquietação ou insônia, foram consideradas as medicações

utilizadas via oral e via intramuscular ou endovenosa. Em relação às vias

intramuscular ou endovenosa, foram consideradas o número de ampolas utilizadas da

medicação aplicada.

O diagnóstico de dependência ou abuso de SPA atual foi realizado com a

aplicação do ASSIST e do MINI. Dados do prontuário e relatos do paciente a respeito

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do padrão de uso de SPA há mais de um ano, foram utilizados para o diagnóstico de

antecedente de uso problemático de SPA. A definição de uso problemático foi

qualquer uso, em qualquer quantidade e frequência, que tenha resultado em

necessidade de procura de ajuda especializada, acidentes, surgimento de patologias

decorrentes do uso de SPA, problemas escolares (queda de rendimento, faltas),

envolvimento em brigas, faltas no emprego, conflitos familiares ou isolamento em

decorrência do uso de SPA.

Para a definição do diagnóstico psiquiátrico, adotou-se o estabelecido pela equipe

da enfermaria de psiquiatria do Hospital das Clínicas da Unicamp, por tratar-se de

enfermaria universitária, onde os casos são avaliados com instrumentos diagnósticos

e discutidos com supervisores docentes. Informações complementares acerca de

antecedentes do paciente e histórico de tratamento foram obtidos a partir do

prontuário.

Análise dos dados

Os dados foram inseridos em banco de dados do programa SPSS. Para avaliar a

relação entre as variáveis categóricas e os dados de comparação entre os grupos

comórbidos com Transtornos por uso de Substâncias (C) e sem comorbidade (NC),

foram utilizados os testes Qui-quadrado ou extrato de Fisher (para valores esperados

menores que 5). O nível de significância adotado para os testes estatísticos foi de 5%

(p < 0,05).

Resultados

Dos 122 pacientes internados na Enfermaria de Psiquiatria do HC Unicamp, 8

foram excluídos (2 devido à limitação cognitiva grave em decorrência de quadro

demencial, 2 por não possuírem condições psíquicas de serem submetidos à

entrevista e 4 pacientes foram internados somente devido ao uso de SPA, não

apresentando um outro Transtorno Mental). Dois pacientes evadiram da internação e

2 pacientes se recusaram a participar da pesquisa. A população do estudo foi

composta por 110 pacientes.

Entre os 110 pacientes avaliados, a média de idade foi de 33,4 anos; maioria do

sexo masculino (63,6%) e da raça branca (73,6%), sendo 16.6% pardos e 9,6%

negros. Quanto à escolaridade, 34,5% cursaram até Ensino Fundamental incompleto,

20% Médio incompleto, 25,4% Médio completo, 8,5% Superior incompleto e 10,5%

Superior completo. Quase metade dos pacientes (46,6%) encontravam-se sem

ocupação, 34,2% estava empregado, 7% aposentado, 6,1% afastado, 3,5% trabalho

informal e 2,6% do lar. Quanto ao estado civil, 60% de solteiros, 24,5% casado/união

estável e 14,5% divorciados.

A média de tempo de internação no HC-Unicamp foi de 36 dias e os pacientes

tinham uma média de 2,5 internações na vida. A respeito das hipóteses diagnósticas

que motivaram a internação, (cada paciente poderia ter mais uma hipótese

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diagnóstica), os quadros mais prevalentes foram Esquizofrenia (35,9%), TAB (27,1%)

e Transtorno Depressivo (24,5%).

No que concerne ao uso de SPA na população total de pacientes internados,

houve uma taxa de 57,8% de uso na vida de SPA lícitas e/ou ilícitas (excluindo tabaco)

e de 27,1% de abuso atual e/ou no passado (há mais de 12 meses) de SPA lícitas

e/ou ilícitas (excluindo tabaco) pelos pacientes internados. Quanto ao tabaco, 19,2%

dos pacientes eram tabagistas. Considerando a elevada taxa de consumo de

maconha, observou-se que entre os 110 pacientes portadores de transtornos mentais

graves, 20,1% apresentava dependência atual, 12,2% uso ocasional no passado,

3,5% dependência no passado e 2,6% uso ocasional atual.

Quase um terço (30,9%) dos pacientes com Transtornos Mentais internados eram

dependentes atuais de alguma SPA (excluindo o tabaco), entre estes, 73,5% eram

dependentes de uma única SPA e 26,4% de múltiplas SPA (excluindo tabaco). Entre

as SPA utilizadas pelos pacientes dependentes atuais observa-se predomínio da

dependência de maconha (61,7%), seguido pelo álcool (29,4%). Quanto à

dependência de cocaína (23,5%), esta se dividiu em 14,7% cocaína inalada e 8,8%

cocaína sob a forma de crack. Também foi observada dependência de

benzodiazepínicos (7%), mesclado (5,8%) e outras SPA (anabolizante, cafeína –

8,8%).

Entre os pacientes comórbidos, o diagnóstico mais prevalente foi o de

Esquizofrenia (32,3%), seguido de Transtornos do Humor (Transtorno Afetivo Bipolar,

29,4% e Depressão 17,6%), 14,7% Transtorno de Personalidade e 8,8% Transtorno

Esquizofreniforme.

Entre os pacientes dependentes atuais de SPA (excluindo tabaco) que

apresentam diagnósticos comórbidos, 71,4% iniciaram o quadro de dependência de

SPA antes do início do quadro psiquiátrico; 11,4% iniciaram o quadro de dependência

após a ocorrência do quadro psiquiátrico e em 14,2% dos casos não foi possível fazer

distinção temporal. Os pacientes comórbidos apresentam tempo médio de evolução

do transtorno psiquiátrico de 4,06 anos e de evolução do quadro de dependência de

SPA de 7,17 anos.

A população de pacientes comórbidos foi constituída por maioria de sexo

masculino (82,3%) e média de idade de 29,3 anos. Em relação à ocupação, 38,2%

estavam empregados, 41,1% desempregados, 8,8% afastados, 5,8% aposentados e

5,8% com trabalho informal.

Comparando o grupo de pacientes que apresentam comorbidade (Grupo C = 34

pacientes) com os pacientes que não apresentam comorbidade (Grupo NC = 76

pacientes), observam-se as seguintes diferenças estatisticamente significativas no

grupo comórbido: maior taxa de homens, pior antecedente de adesão ao tratamento,

maior frequência de prescrição de injetáveis na internação e maior taxa de

antecedente familiar de uso de SPA.

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INSERIR AQUI A TABELA 1

Discussão

Os dados apresentados apontam elevada taxa de uso de SPA por internados

devido a transtorno mental grave, presença de comorbidade com dependência de

SPA em um terço dos pacientes, com destaque para a maconha, início da

dependência antes do transtorno mental e diferenças relacionadas ao gênero, adesão

ao tratamento e antecedente familiar de Transtorno por uso SPA.

Uma das maiores dificuldades na abordagem do paciente com comorbidade está

no diagnóstico diferencial, pois ocorre uma superposição de sintomas. Um transtorno

pode exacerbar ou mascarar o outro. Não é fácil, no início, estabelecer diferenças

entre a presença de comorbidade psiquiátrica e uso de substâncias psicoativas4.

A frequência, a gravidade, o reconhecimento, e a evolução de pacientes com

comorbidade com uso de SPA foram analisados pelo “Fort Bragg Demonstration

Project”. A população consistiu de 428 adolescentes cujos diagnósticos dos

psiquiatras responsáveis foram comparados com os diagnósticos dos pesquisadores.

A pesquisa identificou 13,8% (59 pacientes) com Transtorno por uso de SPA, todos

comórbidos. Os psiquiatras responsáveis reconheceram como comórbidos apenas 21

dos 59 casos29.

O ambiente de internação é indicado no caso de descompensação do TM, falha

do tratamento ambulatorial, primeiro surto e investigação de quadros orgânicos. Nesta

perspectiva, a população do estudo realizado na EP-HC/UNICAMP constitui-se de

pacientes graves conforme demonstrado pelos diagnósticos apresentados, tempo de

internação de quase 40 dias e média de 2,5 internações na vida. Os pacientes

estudados eram predominantemente solteiros, com baixa escolaridade e alta taxa de

desemprego o que sugere o impacto da gravidade de seu Transtorno Mental.

No Brasil, no que concerne a população geral, o uso na vida para qualquer droga

(exceto tabaco e álcool) foi de 19,4%, quanto ao uso na vida de álcool, a porcentagem

encontrada foi de 68,7%30. Entre os pacientes com TM as taxas encontradas foram

tão ou mais expressivas que às observadas na população brasileira, fato alarmante

tendo em vista que em indivíduos com transtornos mentais graves, mesmo que em

pequenas doses e de modo casual, o consumo de SPA pode gerar piores

consequências, se comparadas com pessoas sem tais transtornos31.

A respeito do tabagismo este é o maior fator a contribuir para as diferenças nas

questões de saúde entre pacientes com Transtornos Mentais e a população geral.

Cessar o tabagismo melhora a qualidade de vida e não exarceba o Transtorno

Psiquiátrico. Embora um em cada três pacientes com Transtorno Mental fume, o

tabagismo é frequentemente negligenciado na prática clínica32.

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47

Individuos com transtorno mental possuem maiores taxas de tabagismo, niveis

mais expressivos de dependencia à nicotina, taxas de cessação menores e menor

investimento da Saúde em programas para cessar o tabagismo quando comparado à

população geral. Fumantes com Transtorno Mental são mais propensos a morrer

como consequência do tabagismo do que de sua condição psiquiátrica33. No Brasil,

embora a prevalência de tabagistas venha diminuindo nas últimas décadas34,

apresentando queda acentuada entre 1989 (31,7%) e 2009 (15,5%)35, a dependência

à nicotina ainda é um desafio para a sociedade.

Estudo objetivou analisar as taxas de cessação de tabagismo em 4411 indivíduos

com e sem doença mental. As taxas de tabagismo atual para respondedores sem TM,

TM na vida e TM no último mês foram de 22.5%, 34.8% e 41.0%, respectivamente. As

taxas de tabagismo na vida foram de 39.1%, 55.3% e 59%, respectivamente.

Fumantes sem história de doença mental apresentaram uma taxa de cessação de

tabagismo auto relatada de 37.1% e fumantes com doença mental no último mês, taxa

de 30.5%. Indivíduos com TM são aproximadamente duas vezes mais propensos a

fumar do que outras pessoas36. Apesar das maiores dificuldades para cessação do

tabagismo dos pacientes com transtorno mental grave, entre estes as taxas também

têm apresentado queda. Este dado é extremamente relevante em função da elevada

morbimortalidade por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e entre estas as

doenças tabaco relacionadas (DTR) nesta população37. Isto torna fundamental a

abordagem do tabagismo no contexto do atendimento psiquiátrico a portadores de TM

graves.

Estudo realizado no final da década de 90 pelo serviço de Psiquiatria do Hospital

de Clínicas de Porto Alegre com 103 pacientes internados, avaliou a prevalência de

tabagismo na Unidade de Internação Psiquiátrica e apontou em três censos

consecutivos, com intervalo de trinta dias, prevalência de tabagismo de 46,7%, 54,3%

e 38,9%, respectivamente38. No presente estudo, a taxa de tabagismo entre os

pacientes internados foi consideravelmente inferior, 19,2%; é possível que esta taxa

se relacione a medidas que tornaram, desde 2008 esta enfermaria livre do tabaco39.

A porcentagem de pacientes com TM dependentes de SPA (excluindo tabaco)

encontrada na Enfermaria de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Unicamp foi de

30,9%, tais dados são semelhantes às taxas de comorbidade encontradas na

literatura internacional em estudos com pacientes internados, onde as prevalências

variam de 17,7% a 35%40,41.

Aproximadamente um quarto destes pacientes era dependente de múltiplas SPA.

A associação de drogas pode estar relacionada à busca de maximização de

sensações percebidas como prazerosas pelo indivíduo, minimização de efeitos

relacionados à intoxicação e abstinência e também pode refletir a disponibilidade de

drogas e os padrões de consumo próprios de meios ou contextos específicos42.

Usuários de múltiplas SPA se expõem mais a riscos, apresentam maior

comprometimento no funcionamento laboral, social e afetivo, além de maiores taxas

de abandono de tratamento43,44.

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48

Pesquisa que objetivou verificar a frequência de comorbidades psiquiátricas em

94 dependentes químicos em ambiente protegido, apontou idade média de 30,4 anos,

maioria com baixa escolaridade e solteira. Houve maior ocorrência de TM e risco de

suicídio nos grupos formados por pacientes com histórico de consumo múltiplas de

SPA, sugerindo a importância da avaliação de outros transtornos associados à

dependência química45. Todavia, em nosso estudo, que avaliou pacientes com

Transtornos Mentais graves, notou-se, entre os pacientes comórbidos, tendência ao

consumo de uma única SPA. Quanto a tentativas de suicídio, não houve diferença

estatisticamente significativa entre os grupos comórbidos e não comórbidos.

Pesquisa realizada em Porto Alegre investigou transtorno depressivo corrente ou

durante a vida e dependência de cocaína, maconha ou inalantes em pacientes

ambulatoriais. Depressão e dependência de drogas associaram-se a sexo masculino,

ausência de ocupação profissional, dependência de álcool e ter pais ou amigos

dependentes de SPA ilícitas. A comparação da sequência destes eventos apontou

para a ocorrência de depressão após o desenvolvimento do quadro de dependência46.

Estudo brasileiro, realizado por três grandes centros participantes do “Brazilian

Bipolar Research”, investigou a associação entre os Transtornos relacionados ao uso

de álcool e o Transtorno Bipolar (n: 483). Aproximadamente 23% dos pacientes

apresentaram diagnóstico de um Transtorno relacionado ao uso de álcool na vida.

Tais pacientes eram, em sua maioria, homens, apresentavam ciclagem rápida,

Transtorno do Estresse Pós Traumático, Anorexia, outro Transtorno por uso de SPA,

história familiar de Transtorno por uso de SPA, algum uso de SPA durante o primeiro

episódio de humor, história de psicose, tentativas de suicídio e início mais precoce do

quadro de TAB quando comparados com pacientes com TAB sem Transtornos

relacionados ao uso de álcool. História pessoal e familiar de Transtorno por uso de

SPA pode ser bom preditor da comorbidade do uso de álcool em pacientes TAB.

Essas variáveis são de fácil acesso na clínica e podem ajudar a identificar um grupo

particularmente severo de pacientes com TAB47.

Embora as pesquisas acima tenham ocorrido com pacientes ambulatoriais, os

dados sociodemográficos descritos são semelhantes aos dos pacientes do nosso

estudo, bem como a importância da história familiar do uso de SPA entre os indivíduos

comórbidos. O contato com usuários de drogas durante a adolescência é comumente

apontado como um fator de risco por muitos estudos48,49. Familiares que apresentam

transtorno por uso de SPA podem aumentar a oportunidade de uso de álcool e outras

drogas pelo adolescente devido ao acesso facilitado ou por falha no monitoramento

do comportamento do jovem49,50. Filhos de pais com dependência de drogas estão

sob maior risco de desenvolver abuso de SPA porque crescem em famílias

disfuncionais, as quais afetam negativamente o seu desenvolvimento51.

Quanto à sequência temporal entre o início do Transtorno Mental e o uso de SPA

houve concordância com nossos dados que sugerem a eclosão do Transtorno Mental

após o início do uso de SPA.

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49

Algumas pesquisas demonstram, que o uso de substâncias com frequência

precede ou se inicia durante a fase prodrômica da esquizofrenia, muitas vezes com o

objetivo de “aliviar” os sintomas psicóticos iniciais52,53. A substância ilícita de destaque

na esquizofrenia é a cannabis com taxas que alcançam 23% para uso corrente, 42,1%

para uso na vida e 22,5% para abuso54. Em indivíduos com esquizofrenia, o uso da

cannabis pode exacerbar sintomas psicóticos (especialmente os positivos), induzir

recaídas, piorar sintomatologia negativa no curso do transtorno e contribuir para pior

aderência ao tratamento, levando a mais hospitalizações55.56.

Quanto ao diagnóstico de Transtorno Bipolar, estudos têm apontado que, apesar

de os quadros relacionados a este diagnóstico muitas vezes antecederem o consumo

de substâncias, pacientes que consomem álcool e drogas têm crises em idades mais

jovens e quanto mais cedo o transtorno inicia, maior a chance do consumo de SPA57.

Na população estudada, o TUS antecedeu o Transtorno Mental na maioria dos

pacientes. Este dado pode sugerir que os Transtornos Mentais foram desencadeados

pelo uso de drogas ou que haja, neste grupo, vulnerabilidade genética para ambos os

Transtornos ou, até mesmo, que o uso de SPA tenha ocorrido em fases prodrômicas

do quadro psíquico como maneira de lidar com tais sintomas.

Estudo realizado em Córdoba, entre 2001 e 2008, verificou a prevalência do

consumo de SPA e a ocorrência de comorbidade psiquiátrica em pacientes

internados. Entre os 2.954 pacientes avaliados, o TUS esteve presente 27,3% dos

casos e a comorbidade psiquiátrica em 17,7%; dentre os comórbidos, 74% eram do

sexo masculino, reforçando os achados de nossa pesquisa, porém o diagnóstico mais

prevalente foi o de Transtorno de Personalidade, dado este que difere dos nossos

achados40.

Notou-se uma escassez de estudos nacionais, que abordassem o tema em

pacientes internados em Hospitais Psiquiátricos ou Gerais; em sua maioria, as

pesquisas a esse respeito ocorrem em Clínicas de Dependência Química,

Comunidades Terapêuticas, serviços ambulatoriais ou na população geral. Não foram

encontrados estudos na literatura nacional que abordem o tema da comorbidade dos

Transtornos por uso de SPA em pacientes internados em enfermaria psiquiátrica de

Hospital Geral, o que destaca a relevância do presente estudo, que discute o uso de

SPA em pacientes com transtornos mentais graves, grupo extremamente vulnerável

aos efeitos deletérios do álcool e outras drogas.

A comparação entre comórbidos e não comórbidos demonstrou que o primeiro

grupo é mais jovem, constituído principalmente de homens, com pior adesão ao

tratamento e maiores taxas de antecedente familiar de uso de SPA. Desta forma,

deve-se ficar atento a pacientes com estas características, pois representam uma

população vulnerável para a dependência de drogas.

Estudo brasileiro teve como objetivo avaliar a associação entre dependência de

maconha, transtornos psiquiátricos comórbidos e estágios de mudança em uma

amostra de usuários de maconha que procuraram por tratamento em um ambulatório

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especializado. Houve alta proporção de comorbidades psiquiátricas na amostra de

participantes (73,7%). O diagnóstico de esquizofrenia foi associado à predominância

do estágio de mudança de pré contemplação e os diagnósticos de transtornos do

humor e ansiedade foram associados aos estágios de contemplação e ação;

demonstrando que pacientes dependentes da maconha que procuram por tratamento

têm alta prevalência de transtornos psiquiátricos associados e que este fator pode

influenciar a motivação para o tratamento58. Em nossa pesquisa encontramos

importante prevalência do diagnóstico de Esquizofrenia, o qual foi relacionado ao

estágio de pré contemplação no estudo descrito acima, podendo explicar em parte a

pior adesão ao tratamento encontrada entre os comórbidos.

Os pacientes comórbidos foram mais medicados com o uso de injetáveis durante

a internação, o que pode indicar maior gravidade clínica destes pacientes ou

dificuldade de manejo da equipe de saúde em lidar com demandas desta população

no ambiente de internação hospitalar.

A pesquisa foi realizada em enfermaria psiquiátrica de agudos não voltada para

internação de dependentes de SPA, em função disto, o número de pacientes

comórbidos não foi expressivo para a realização de outras comparações com o grupo

de pacientes que possuíam somente Transtorno Mental. Além disso, este grupo

apresentou tendência a ter idade mais avançada e ser mais grave pois trata-se de

hospital terciário e único na região que realiza Eletroconvulsoterapia. Tais limitações

indicam cautela na extrapolação dos dados para populações de pacientes com

transtornos mentais menos graves, em outros contextos de tratamento.

Os resultados apontam a magnitude do uso de SPA em portadores de transtornos

mentais graves e a importância dos transtornos mentais em pacientes usuários de

SPA. Observou-se taxas elevadas de uso na vida de SPA, com destaque para o uso

de maconha. A dependência esteve presente em um terço dos internados. Pacientes

comórbidos se caracterizaram por serem jovens, predominância de homens, com

baixa escolaridade, solteiros e desempregados. Verificou-se alta prevalência de

antecedente familiar de uso de SPA entre os pacientes comórbidos, assim como pior

adesão ao tratamento em relação aos pacientes sem a comorbidade.

Verificamos a importância do reconhecimento da comorbidade com o uso de SPA

a fim de se realizar investimento na adesão ao tratamento deste grupo, diminuindo

recaídas e reforçando a abstinência.

Agradecimentos: os autores gostariam de agradecer a equipe e aos residentes

da enfermaria de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Unicamp.

Não há conflitos de interesse

Referências:

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57

(comprovante de submissão, Anexo IX)

6.2 Artigo 2 -

Uso de Substâncias Psicoativas em Adolescentes e Adultos Jovens

Portadores de Transtornos Mentais Graves

Uso de drogas em Jovens com Transtornos Mentais

Marjourie D. de A. BiscaroI (Biscaro MDA), Renata C. S. de AzevedoII (Azevedo RCS)

I- Médica Psiquiatra, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil. Endereço para acessar currículo: http://lattes.cnpq.br/7403795667069652. II- Médica Psiquiatra, Professora Doutora do Departamento de Psicologia

Médica e Psiquiatria da FCM-UNICAMP. Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil. Endereço para acessar currículo: http://lattes.cnpq.br/5231527082445602.

Informamos que MDA Biscaro e RCS Azevedo contribuíram para as seguintes etapas de realização do artigo: concepção e desenho do estudo, análise, interpretação e discussão dos resultados, MDA Biscaro foi ainda responsável pela coleta dos dados.

Conflitos de interesse: nada a declarar

Nome: Marjourie Dragoni de Arruda Biscaro Telefone: (11) 98544-6936 Email: [email protected] Endereço: Rua XV de Novembro, 140, apt 51. Bairro: Vila Arens. CEP: 13201005

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58

Resumo

Objetivos: Determinar a prevalência de uso e dependência de Substâncias

Psicoativas (SPA) em adolescentes e adultos jovens internados em enfermaria

psiquiátrica de Hospital Geral, descrever seu perfil e comparar os pacientes que

apresentam comorbidade de dependência de SPA com outro Transtorno Mental com

pacientes sem dependência. Método: Jovens abaixo de 24 anos reponderam a um

questionário sociodemográfico, instrumento “Alcohol, Smoking and Substance

Involvement Screening Test” e o “Mini International Neuropsychiatric Interview”. Foram

levantados os diagnósticos psiquiátricos e realizada análise complementar com corte

de idade de 18 anos. Resultados: Foram avaliados 42 jovens, 14.2% eram

tabagistas, 69% já fizeram uso na vida de SPA, com destaque para a maconha e

42,8% era dependente atual de alguma SPA (excluindo tabaco). Na análise

comparativa houve maiores taxas de antecedente familiar de uso de drogas e pior

adesão ao tratamento entre os comórbidos. No grupo até 18 anos, as taxas de uso na

vida e dependência de SPA foram ainda maiores, 72,2% e 44,4%, respectivamente.

Em média, o uso de SPA antecedeu o transtorno mental. Conclusão: Observada

prevalência elevada de uso na vida e de dependência de drogas entre os jovens com

transtorno mental. A co-ocorrência de uso de SPA e outros transtornos mentais pode

produzir impactos negativos no prognóstico de adolescentes e jovens, tornando

fundamental o papel dos profissionais que lidam com esta faixa etária na sua detecção

e abordagem. A realização do diagnóstico da comorbidade possibilita o planejamento

do tratamento, com foco na redução de recaídas visando melhor evolução clínica e

psicossocial.

Palavras-chave: comorbidade, dependência, adolescência, transtorno mental

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59

Abstract

Objectives: To determine the prevalence of use and dependency of Psychoactive

Substances (PS) in adolescents and young adults admitted at psychiatric nursery in

General Hospital, to describe their profile and compare the patients that show

comorbidity of PS dependency and another Mental Disorder with patients without

dependency. Methods: Young adults up to 24 years old have answered a

sociodemographic questionnaire, the tool “Alcohol, Smoking and Substance

Involvement Screening Test” and the “Mini International Neuropsychiatric Interview”.

Psychiatric diagnosis was gathered and we performed a complimentary analysis with

cutting age of 18 years old. Results: We assessed 43 young people: 14,2% were

smokers, 69% have already made use of PS in life, especially marijuana, and 42,8%

were currently dependent on some PS (except for tobacco). In the comparative

analysis, there were higher indexes of familial precedent of drug use, and a worse

compliance to treatment among the comorbid. In the group up to 18 years old, the

indexes of use in life and PS dependency were even higher: 72,2% and 44,4%,

respectively. In average, the PS use preceded the mental disorder. Conclusion: The

high prevalence of use in life and of drug dependency among young people with mental

disorder was noted. The co-occurrence of PS use and other mental disorders can

produce negative impacts in the prognosis of adolescents and young adults, making

the role of professionals who deal with this age group essential for the detection and

approach. The diagnosis of comorbidity allows the treatment planning with focus on

the reduction of recurrences, aiming at a better clinic and psychosocial progress.

Key words: comorbidity, dependency, adolescence, mental disorders.

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60

Introdução

Os limites cronológicos da adolescência são definidos pela OMS entre 10 e 19

anos e pela ONU entre 15 e 24 anos (“youth”). Atualmente pode-se agrupar os critérios

e denominar adolescentes e jovens adultos (“adolescents and youth”)1.

Estudos apontam que o cérebro humano está em maturação até os 24 anos.

Nesta fase, existe desbalanço entre sistema límbico e córtex pré-frontal (controle de

impulso, tomada de decisão, planejamento), auxiliando na compreensão de porque os

jovens por vezes tomam decisões arriscadas, vulnerabilizando-os, entre outros

comportamentos, para o abuso de Substâncias Psicoativas (SPA).2

Os jovens, quando sob efeito de SPA, são mais susceptíveis a acidentes, violência

sexual e suicídio3. A aprendizagem pode ser afetada pelo uso de drogas durante a

adolescência, particularmente o uso frequente e pesado4, podendo ainda

comprometer a poda neuronal e aumentar significativamente o risco de

desenvolvimento de um Transtorno por Uso de SPA (TUS) na vida adulta5. Inquérito

sobre comportamento de risco entre estudantes americanos revelou que 28% usou

álcool antes dos 13 anos. Aos 17 anos, estes eram sete vezes mais propensos a uso

pesado do que aqueles que esperaram até ter 17 anos ou mais para iniciar o uso6.

No Brasil, dados do II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas

Psicotrópicas constatou, dos 12 a17 anos, uso na vida de 4,1% de maconha, 3,4% de

solvente e 1,6% de estimulantes7. Levantamento entre estudantes demonstrou que

65,2% referiu já ter consumido álcool, sendo que 44,3% uso mensal, 11,7% uso

frequente e o uso pesado foi relatado por 6,7%. Além disso, 22,6% dos estudantes

relataram já ter experimentado alguma droga que não álcool e tabaco8.

O uso de drogas é um fenômeno multidimensional que em geral inicia-se na

adolescência quando também podem surgir outros Transtornos Mentais (TM). Entre

os quadros que mais incidem nesta fase da vida (Depressão, Transtorno de déficit de

atenção/hiperatividade e do Comportamento disruptivo) detectam-se sinais e

sintomas semelhantes àqueles observados com o uso de SPA, dificultando o

diagnóstico diferencial9.

O papel dos profissionais que atuam nesta faixa etária, em particular o pediatra, é

fundamental para reconhecer, preferencialmente em fase precoce, estes quadros.

Este profissional muitas vezes tem o primeiro contato com o paciente, acompanha o

desenvolvimento psíquico e tem a família próxima à sua investigação semiológica,

fatores que podem favorecer uma boa evolução do quadro10,11.

Assim, é relevante avaliar a ocorrência da comorbidade entre o TUS e outros TM

na adolescência. O surgimento de um quadro comórbido pode afetar o tempo para

detecção, prognóstico, plano terapêutico e a evolução clínica do paciente12.

Há impacto da comorbidade com o uso de SPA desde a infância e a adolescência

com consequentes efeitos negativos, tais como agressividade, criminalidade e o

envolvimento em situações de risco que podem levar inclusive à morte prematura13.

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61

Considerando a relevância desta associação, este estudo avaliou a prevalência

de TUS lícitas e ilícitas, entre adolescentes e adultos jovens, portadores de TM

internados em Enfermaria de Psiquiatria de Hospital Geral e comparou o perfil

sociodemográfico, tentativas de suicídio, adesão ao tratamento e presença de

comorbidades em relação a pacientes que não apresentam tal comorbidade.

Método

Tipo de Estudo

Estudo transversal que avaliou adolescentes e adultos jovens portadores de TM

internados na Enfermaria de Psiquiatria do HC-Unicamp (EP-HC/UNICAMP) para

determinar prevalência de uso ou dependência de SPA lícitas e ilícitas e comparar o

perfil sociodemográfico e clínico de pacientes que apresentam comorbidade com TUS

(Grupo C) com aqueles sem comorbidade (Grupo NC). O período de coleta de dados

foi agosto de 2013 a outubro de 2014.

Sujeitos

Jovens com idade menor a 24 anos, portadores de TM internados na EP,

HC/UNICAMP. Critérios de exclusão: ter sido internado na EP-HC/UNICAMP devido

exclusivamente ao uso de SPA e incapacidade de compreensão da pesquisa por

incompreensão da língua portuguesa ou limitação cognitiva grave. O Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi assinado pelo paciente e familiar

quando o paciente era menor de 18 anos. A pesquisa foi aprovada pelo

CEP/UNICAMP, sob o número 18644513.9.0000.5404.

Local

Este estudo desenvolveu-se no Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de

Campinas, hospital geral universitário terciário, localizado em Campinas, SP, Brasil.

Este serviço é referência para a rede pública de uma região metropolitana onde vive

uma população de mais de 6 milhões de habitantes14. A EP-HC/UNICAMP é um

serviço universitário com 14 leitos, destinada a pacientes com TM graves agudos.

Instrumentos

Questionário sociodemográfico com as variáveis sexo, idade, estado civil,

escolaridade, com quem reside, prática religiosa, motivo de internação, padrão de uso

de SPA e histórico de tratamento.

Alcohol Smoking and Substance Involvement Screening Test (ASSIST)15:

questionário estruturado contendo oito questões sobre o uso de tabaco, álcool,

maconha, cocaína, estimulantes, sedativos, inalantes, alucinógenos e opiáceos. Cada

resposta corresponde a um escore de 0 a 4, sendo que a soma total pode variar de 0

a 20. Considera-se a faixa de 0 a 3 como indicativa de uso ocasional, de 4 a 15 como

indicativa de abuso e >16 como sugestiva de dependência.

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62

Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI)16: entrevista diagnóstica

padronizada breve compatível com os critérios do DSM-IV e da CID-10. Foi utilizada

a seção de dependência química.

Procedimentos

Após o esclarecimento sobre o TCLE, para os pacientes que concordaram em

participar, foi aplicado o questionário sociodemográfico, em seguida o ASSIST e o

MINI.

O dado sobre cor foi definido perguntando qual é sua cor dentre as opções:

branca, preta, amarela, parda e indígena. Adesão ao tratamento foi avaliada

questionando se o paciente já havia parado de tomar medicações psiquiátricas sem

orientação médica ou abandonado o tratamento ambulatorial. Fármacos a critério

médico (ACM) foram os utilizados em situações de agitação psicomotora, inquietação,

insônia.

O diagnóstico de dependência de SPA atual foi realizado com a aplicação do

ASSIST e do MINI. Antecedente de uso problemático foi qualquer uso que tenha

resultado em necessidade de procura de ajuda especializada, acidentes, patologias

decorrentes do uso de SPA, queda de rendimento escolar, brigas, faltas no emprego

ou conflitos familiares e isolamento em decorrência do uso de SPA. Para o diagnóstico

psiquiátrico do paciente, adotou-se o realizado pela equipe da enfermaria de

psiquiatria do HC Unicamp, por tratar-se de enfermaria universitária, onde os casos

são avaliados com instrumentos diagnósticos e discutidos com supervisores.

O antecedente familiar de TM e/ou TUS avaliou se algum parente de até segundo

grau já havia realizado tratamento psiquiátrico devido transtorno mental ou

dependência química.

Análise dos dados

Os dados foram inseridos em banco de dados do programa SPSS. Para avaliar a

relação entre as variáveis categóricas e os dados de comparação entre os grupos

(comórbidos e sem comorbidade), foram utilizados os testes Qui-quadrado ou extrato

de Fisher (para valores esperados menores que 5). O nível de significância adotado

para os testes estatísticos foi de 5% (p < 0,05).

Resultados

Foram internados na EP-HC/UNICAMP 122 pacientes, destes 42 (34,4%) com

idade menor a 24 anos. A média de idade foi de 18,3 anos (18.3 ± 3.6), 81% do gênero

masculino e 97,6% solteiros. Quanto à cor, 59,5% brancos, 32% pardos e 21,4%

negros. Em relação à escolaridade, 2,3% possuía Ensino Superior incompleto, 23,8%

concluiu o Ensino Médio, 42,8% possuía Ensino Médio incompleto, 28,5%

Fundamental incompleto e 2,3% frequentava a APAE. Quase metade (42,8%) morava

com os pais e 35,7% com a mãe. Quanto à religião, 47,6% eram evangélicos e 38%

católicos.

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Mais de um quarto (28,6%) apresentava histórico de tentativa de suicídio, 45,2%

já havia realizado tratamento psicológico e 78,5% tratamento medicamentoso. A

adesão ao tratamento esteve presente em 54,8%, 76,2% apresentavam antecedente

familiar de TUS e 65,9% antecedente familiar de outro TM.

INSERIR AQUI GRÁFICO 1

O tempo médio de internação no HC foi de 42 dias (42.0 ± 24.2), sendo esta a

primeira internação para 66,7% dos pacientes. Quanto às medicações utilizadas a

critério médico em situações em que o paciente apresenta agitação psicomotora,

inquietação, insônia foram realizadas uma média de 11,1 medicações injetáveis e 2,7

via oral.

Em relação ao uso de SPA, 69% fez uso de alguma SPA na vida, destes, houve

destaque para a maconha (75,8%), o álcool (68,9%), cocaína inalada (44,8%),

cocaína fumada/crack (37,9%), alucinógeno (cogumelo, LSD ou ecstasy – 34,4%,),

cigarro de tabaco (34,4%), inalante (20,6%), estimulante (20,6%) e anabolizante

(6,8%).

No momento da avaliação, 14,2% eram dependentes de cigarro de tabaco e

42,8% eram dependentes de alguma SPA, excluindo o tabaco.

INSERIR AQUI O GRÁFICO 2

Dos 11,1% dependentes de cocaína, 5,5% usavam cocaína inalada e 5,5% crack.

Entre os pacientes dependentes, 22,2% já havia sido internado na Fundação Centro

de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA).

Dentre os avaliados, 18 (42,8%) tinham, além do TM, um TUS. Os pacientes

comórbidos, em média, possuíam o quadro de dependência de SPA há 4,7 anos e

apresentavam o outro TM há 1,6 anos, 44,4% apresentavam Transtorno de Humor,

44,4% Transtorno Psicótico, 5,5% Transtorno de Conduta e 5,5% Transtorno

Obsessivo Compulsivo.

Na análise comparativa entre os jovens com comorbidade (Grupo C, n=18) e sem

comorbidade (Grupo NC, n= 24), houve maiores taxas de antecedente familiar de uso

de SPA e pior adesão ao tratamento entre os jovens com comorbidade.

INSERIR AQUI TABELA 1

Considerando que a maioridade civil adotada no Brasil é de 18 anos, realizou-se

análise com este corte etário, obtendo um grupo de 18 pacientes. A média de idade

foi de 15 anos (15.1 ± 2.3), 83,3% do gênero masculino, 55,5% brancos, 27,7% pardos

e 16,6% negros. Em relação à escolaridade, 50% possuía Ensino Médio Incompleto,

38,8% Fundamental Incompleto, 5,5% tinha Superior incompleto e 5,5% frequentava

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64

a APAE; 83,3% com antecedente familiar de TUS e 72,2% antecedente familiar de

outro TM.

O tempo médio de internação no HC foi de 45 dias sendo esta a primeira

internação em 94,4% dos pacientes. Quanto à hipótese diagnóstica que motivou a

internação nota-se nos dois grupos etários o destaque para os Transtornos de Humor

com a particularidade de, no grupo de menores de 18 anos, haver porcentagens

relevantes de Transtorno de Conduta.

INSERIR AQUI GRÁFICO 3

Constatou-se que 72,2% fez uso de alguma SPA na vida, taxas superiores as do

grupo de até 24 anos: maconha (55,5%), álcool (44,4%), alucinógeno (27,7%),

cocaína (27,7%), cigarro de tabaco (27,7%) e anabolizante (11,1%).

Em relação à dependência atual, 22,2% dos adolescentes eram tabagistas,

porcentagem superior a encontrada nos pacientes até 24 anos. Quase metade

(44,4%), eram dependentes de SPA, excluindo tabaco, 38,8% de maconha, 5,5% de

cocaína inalada, 5,5% de cocaína na forma de crack, 5,5% mesclado e 5,5%

anabolizante, 37,5% possuíam passagem pela Fundação CASA.

Dentre os 18 adolescentes avaliados, 8 tinham, além do TM um TUS. Os

pacientes comórbidos, em média, possuíam o quadro de dependência de SPA há 3,7

anos e apresentavam o outro TM há cerca de 2 anos. Entre os adolescentes

comórbidos, 50% apresentavam um Transtorno de Humor, 37,5% Transtorno

Psicótico e 12,5% Transtorno de Conduta.

Discussão

Neste estudo foram observadas elevadas taxa de uso e dependência de SPA nos

dois cortes etários analisados (até 18 e 24 anos), com destaque para maconha, álcool

e cocaína, além de taxas relevantes de uso na vida de alucinógenos.

Entre jovens da população geral brasileira de 14 e 19 anos, 26% já fez uso na vida

de bebidas alcoólicas, 4% já usou maconha pelo menos uma vez, 2% já experimentou

cocaína inalada e 1% já usou cocaína fumada17. Pesquisa nacional realizada com 147

adolescentes escolares apontou taxa de 54,4% de uso na vida de álcool, 9,5% de

tabaco, 6,1% de tranquilizantes e anfetaminas, anabolizantes 2,7%, 2% de maconha

e 0,7% de alucinógenos e sedativos18.

Estes dados apontam que as taxas de uso na vida, de todas as SPA citadas, pelos

pacientes internados com comorbidade psiquiátrica, são expressivamente maiores

que as da população geral. Isto assinala a importância do consumo de SPA nesta

população, endossando estudos sobre as relações bidirecionais que discutem o

surgimento de transtornos mentais em jovens vulneráveis usuários de drogas e a

manutenção do uso após o surgimento dos sintomas mentais19,20.

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A cessação do tabagismo é uma área negligenciada na psiquiatria em parte

devido a mitos, tais como, a idéia de que, ao parar de fumar, se exarceba a clínica

psiquiátrica, entretanto não há evidencias cientificas a esse respeito21,22. Pelo

contrário, cessação de tabagismo é associada com melhora na saúde mental23.

Nota-se entre os adolescentes do estudo importantes taxas de dependência à

nicotina, sendo que o seu manejo deve fazer parte da rotina do cuidado psiquiátrico.

Tabagistas com Transtorno Mental são tão motivados a cessar o tabagismo quanto à

população geral e podem parar com sucesso apesar de suas taxas de cessação

menores24.

Quanto à maconha, segundo o último Levantamento Nacional de Álcool e Drogas

(2012) na adolescência, os índices de dependência alcançaram 10% entre usuários17.

Esta SPA é alvo de intensos debates no atual cenário brasileiro que discute a sua

legalização. Tal assunto torna-se ainda mais relevante quando o avaliamos frente à

população adolescente, já que existe a possibilidade de aumento do consumo desta

substância, em uma fase da vida onde os efeitos são potencialmente mais graves e

mais duradouros do que em adultos25.

Países como a Austrália, apontam que embora a diferença legislativa não altere

significativamente o número de usuários e dependentes ao longo da vida, há

repercussões nos jovens. A população adolescente iniciou o uso mais precocemente

em Estados com descriminalização, levando a prejuízos escolares e, a longo prazo,

pior desempenho no trabalho e obtenção de ganhos salariais menores em

comparação aos jovens dos Estados onde a maconha permanece criminalizada26.

Teoricamente, os menores de idade não poderiam consumir a maconha com a

legalização, porém as drogas legalizadas como o álcool e o tabaco vêm demonstrando

na prática que a regulamentação existente é pouco efetiva27. A preocupação existente

quanto às políticas favoráveis à legalização da maconha é a de que, com a legalização

ocorra um aumento no consumo desta substância por jovens. Alterações nesta

legislação são associadas à menor percepção de risco quanto ao uso da droga,

embora isto possa ser causa ou consequência28.

Na população abaixo de 18 anos, 44,4% apresentava comorbidade com

transtorno por uso de SPA; quando aumentamos o corte de idade para 24 anos as

taxas foram de 42,8% de comorbidade. Neste estudo, a população analisada

apresentava um histórico familiar relevante de TUS e também de outros TM o que

demonstra a vulnerabilidade destes adolescentes para os transtornos psiquiátricos.

Este dado deve ser incorporado a estratégias preventivas dirigidas ao público jovem,

notadamente nesta subpopulação mais vulnerável.

Estudo brasileiro que analisou 1318 prontuários de menores de 18 anos

internados verificou média de idade de 13,5 anos, sendo esta média inferior ao

observado, provavelmente por se tratar de enfermaria para internação de menores de

idade. Maioria do gênero masculino (62,3%) e significativa maioria masculina nos

pacientes com diagnóstico de TUS, assim como verificado em nossos dados. O

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66

diagnóstico mais frequente foi o de Transtorno Bipolar (35,4%) e comorbidade de

15,8%, associando-se principalmente aos Transtornos Disruptivos e a Transtornos

Bipolares. Antecedentes familiares psiquiátricos ocorreram em 84%29.

Neste estudo, quando são comparados os pacientes comórbidos e não

comórbidos, as taxas superiores de antecedente familiar de uso de SPA e inferiores

de adesão ao tratamento mostraram-se significativamente expressivas, mesmo

considerando o número limitado de sujeitos avaliados. Estes dois elementos sugerem

a importância de cuidado especial com jovens que possuem este antecedente e a

necessidade de mecanismos de otimização de adesão ao tratamento.

O contato com usuários de drogas durante a adolescência é comumente apontado

como um fator de risco para uso por muitos estudos. Familiares que apresentam

transtorno por uso de SPA podem aumentar a oportunidade de uso de álcool e outras

drogas pelo adolescente devido ao acesso facilitado ou por falha no monitoramento

do comportamento do jovem30. Além disso, filhos de pais com dependência de drogas

estão potencialmente sob maior risco de desenvolver abuso de SPA em função de

maior ocorrência de funcionamento familiar disfuncional31.

Houve ainda tendência, no grupo comórbido, de maior necessidade de medicação

ACM durante a internação. Este dado pode significar maior gravidade clínica destes

pacientes ou dificuldade de manejo da equipe de saúde em lidar com demandas desta

população no ambiente de internação hospitalar.

Os indivíduos analisados possuíam quadros psíquicos graves o suficiente para

justificar uma internação em Enfermaria Psiquiátrica em Hospital Geral. Tal dado é

reforçado pela elevada taxa de antecedente de tentativa de suicídio encontrada

(28,6%). Houve taxas superiores de TS nos internados sem comorbidade do que com

comorbidade, 37,5% e 16,7%, respectivamente.

A taxa de suicídio na população estudada é alarmante, em torno cinco vezes

superior à população geral de jovens. O suicídio é reconhecidamente um problema de

saúde pública mundial – a adolescência e juventude são períodos vulneráveis para

sua ocorrência. Estudo norte americano analisou ideação e tentativa de suicídio em

948 jovens provenientes de centros de tratamento de abuso de substâncias. Trinta

por cento relataram ideação suicida em pelo menos uma entrevista e 12% relataram

tentativa de suicídio, taxas próximas aos dados dos jovens comórbidos do presente

estudo32.

Nos dois cortes etários realizados, o uso de SPA aparentemente antecedeu o

início do Transtorno Mental, o que pode sugerir que tal quadro possa ter relação com

o uso. Estudo de base populacional com 9203 adolescentes noruegueses investigou

a associação longitudinal entre o início do uso de SPA e o surgimento de Transtornos

relacionados com o uso de drogas e outros TM. O início do uso de SPA foi associado

com sintomas de depressão, desatenção, hiperatividade e ansiedade33.

O desenho transversal do presente estudo não permite afirmar que a sequência

temporal indica causalidade, todavia é um dado que merece ser aprofundado em

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67

futuros estudos de seguimento. Além disto, é importante destacar que o grupo de

jovens avaliado se encontrava internado em Enfermaria psiquiátrica em Hospital Geral

de referência, o que indica cautela na extrapolação dos dados para populações de

pacientes com transtornos mentais menos graves.

A despeito das limitações apontadas, este estudo apontou prevalência elevada de

uso na vida e de dependência de SPA entre os adolescentes e adultos jovens

internados, com destaque para o consumo de maconha. Pacientes comórbidos

caracterizaram-se por serem homens, com pior adesão ao tratamento, maiores taxas

de antecedente familiar de uso de SPA e com maior necessidade de uso de

medicações injetáveis durante a internação.

É importante ressaltar o papel do pediatra devido ao seguimento longitudinal que

possui com o paciente e com a família. Estes profissionais podem ser os únicos em

posição de reconhecer problemas com o uso de SPA, por isso é recomendável que

sempre questionem o paciente a respeito do uso de drogas e estejam cientes das

apresentações médicas e comportamentais do uso de substâncias, bem como da

comorbidade psiquiátrica11,34.

A realização do diagnóstico da comorbidade possibilita o planejamento adequado

do tratamento, com foco na redução de recaídas visando melhora no prognóstico.

Agradecimentos: os autores gostariam de agradecer a equipe e aos residentes

da enfermaria de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Unicamp.

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Gráfico I - Diagnósticos entre os pacientes com idade menor que 24 anos

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Gráfico II– SPA utilizadas pelos pacientes com idade menor que 24 anos

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Tr. Psicótico:27,7%

Tr. deConduta:

16,6%

OutrosDiagnósticos:

5,5%

Gráfico III– Diagnósticos entre os pacientes abaixo de 18 anos

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74

6.3 Artigo 3 -

Impacto da dependência de drogas em pacientes com comorbidade

psiquiátrica grave: percepção do usuário e da família.

Marjourie Dragoni de Arruda BiscaroI (Biscaro MDA), Renata Cruz Soares de AzevedoII (Azevedo RCS)

I-Médica Psiquiatra, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil.

II-Médica Psiquiatra, Professora Doutora do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil.

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Resumo

O uso de substâncias psicoativas (SPA) apresenta relação bidirecional com os

Transtornos Mentais (TM). Avaliou-se a percepção de pessoas que apresentam

comorbidade de Transtorno por Uso de Substâncias (TUS) com TM grave, internados

em Enfermaria de Psiquiatria em Hospital Geral e de seus familiares quanto ao

impacto do uso de SPA sobre o TM. Foram feitas entrevistas com as questões

disparadoras “na sua opinião, em uma escala de 0 a 10, qual o impacto do uso de

drogas sobre seu transtorno mental?” e “você poderia justificar a sua resposta?”.

Utilizou- se questionário sociodemográfico, “Alcohol, Smoking and Substance

Involvement Screening Test” e “Mini International Neuropsychiatric Interview”. Com o

familiar foi realizada entrevista com as mesmas perguntas acima e sobre a relação

paciente/família. Resultados: De 110 pacientes avaliados, 34 (30,9%) eram

dependentes atual de alguma SPA (excluindo o tabaco). A nota média de impacto do

uso de SPA sobre o TM para o usuário foi de 4,5, justificada por minimização,

“automedicação”, pertencimento a grupo e dificuldade de controle. Na visão da família,

a média da nota foi 7,8, relacionada a impacto negativo, medo do futuro e busca por

um culpado. Conhecer a percepção de usuários e familiares é fundamental para o

estabelecimento de estratégias de abordagem diferenciada.

Palavras-chave: Comorbidade, familiares, substâncias psicoativas, transtorno

mental.

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76

Abstract

The use of psychoactive substances (PS) presents a bidirectional relationship with

Mental Disorders (MD). We assessed the perception of people who have comorbidity

of Disorder by Use of Substances and severe MD, admitted at Psychiatric Nursery in

General Hospital, and that of their families, regarding the impact of PS use on MD. We

performed interviews with triggering questions like “in your opinion, on a scale from 0

to 10, what is the impact of drug use on your mental disorder?” and “can you explain

your answer?”. We used sociodemographic questionnaire, “Alcohol, Smoking and

Substance Involvement Screening Test” and “Mini International Neuropsychiatric

Interview”. We interviewed the family members using the same questions above and

asking about the patient/family relationship. Result: From 110 patients assessed, 34

(30,9%) were currently dependent on some PS (except for tobacco). The average mark

of impact of use on the MD for the user was 4,5, explained by minimization, “self-

medication”, group belonging and difficulty of control. For the family, the average mark

was 7,8, related to negative impact, fear of the future and search for a guilty person. It

is essential to know the perception of users and family in order to establish strategies

for a distinctive approach.

Key words: Comorbidity, family members, psychoactive substances, mental disorder

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Introdução

O uso de substâncias psicoativas (SPA) tem sido foco de preocupação tanto do

ponto de vista social quanto clínico. O consumo de SPA entre algumas subpopulações

traz desafios em particular, com destaque para o uso de drogas por portadores de

transtornos mentais graves1. Estudos apontam que o abuso de substâncias é o

transtorno coexistente mais frequente entre portadores de Transtornos Mentais (TM),

sendo fundamental o correto diagnóstico das patologias envolvidas2,3.

Estudos internacionais apontam taxas desta comorbidade variando de 21% a 42% 4,5. Estudo nacional avaliou 192 pessoas que apresentavam diagnóstico de transtorno

psiquiátrico grave quanto à comorbidade com o uso de drogas. A prevalência de

comorbidade nos últimos 12 meses foi de 10,4%. O diagnóstico mais frequente foi

Esquizofrenia (58,8%) seguido de Transtorno Afetivo Bipolar (24%) e Transtornos

Depressivos com sintomas psicóticos (7,8%)6.

Estudos mostram que indivíduos com esta comorbidade utilizam serviços de

emergência psiquiátrica e são internados mais frequentemente, permanecem maior

tempo no hospital e apresentam mais episódios de comportamentos agressivos

quando internados7,8. A maior utilização de serviços psiquiátricos está associada a um

maior custo de tratamento para estes pacientes9e há evidências de que exista um

maior impacto econômico nas famílias dos mesmos10, podendo trazer importantes

implicações para a rede de apoio destes indivíduos.

Em função disto, é relevante avaliar aspectos relacionados às famílias de pessoas

com problemas relacionados ao uso de substâncias psicoativas e seu papel no

processo de tratamento. As relações familiares estão fortemente associadas ao

processo de cuidado e a possíveis recaídas11. Estas, muitas vezes, podem estar

relacionadas com a inabilidade da família em lidar com o comportamento de seu

familiar dependente, necessitando também de acolhimento e acompanhamento. A

experiência clínica sugere considerar-se a família como uma forte aliada no processo

de cuidado do indivíduo dependente químico particularmente na presença de

comorbidades psiquiátricas12.

Considerando, portanto, a relevância epidemiológica e clínica desta associação,

além da existência de poucos estudos nacionais sobre o tema, o presente estudo visa

avaliar a percepção de pacientes portadores de comorbidade do uso de drogas com

transtornos mentais graves internados em enfermaria psiquiátrica em hospital geral e

de seus familiares quanto ao impacto do uso de SPA sobre o transtorno mental.

Método

Tipo de Estudo

Estudo descritivo e qualitativo de corte transversal, que consistiu em avaliar,

através de entrevistas semi dirigidas a partir de questões disparadoras, a percepção

de pacientes com Transtorno por uso de substância associado a outro Transtorno

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Mental, internados na Enfermaria de Psiquiatria do Hospital de Clínicas da

Universidade Estadual de Unicamp (EP-HC/UNICAMP) e seus familiares quanto ao

impacto do uso de SPA sobre o transtorno mental. A pesquisa foi aprovada pelo CEP

sob o número 18644513.9.0000.5404.

Sujeitos, critérios de inclusão e exclusão

Os sujeitos foram todos os pacientes internados na EP-HC/UNICAMP, bem como

os familiares (pessoa relevante no contexto de vida do paciente, indicado pelo médico

responsável) dos pacientes que apresentavam a comorbidade de Transtorno por uso

de SPA com outro Transtorno Mental, no período de agosto de 2013 a outubro de

2014. Foram excluídos do estudo os pacientes internados na EP-HC/UNICAMP

devido exclusivamente ao uso de SPA, assim como pacientes com limitação cognitiva

grave.

Local

Este estudo desenvolveu-se no Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de

Campinas, um hospital geral universitário terciário/quaternário, localizado em

Campinas (SP). O HC-Unicamp é referência para a rede pública de uma região

metropolitana onde vive uma população de mais de 6 milhões de habitantes e sua

área de cobertura abrange cerca de 100 municípios da região de Campinas13.

A pesquisa foi realizada na Enfermaria de Psiquiatria (EP), serviço universitário

com 14 leitos, destinada a pacientes com transtornos mentais graves agudos. A EP-

HC/UNICAMP tem como vocação a internação de pacientes para investigação clínica,

indivíduos no primeiro surto, refratários ao tratamento e para quadros comórbidos; o

tempo médio de internação é de 35 dias. Não é enfermaria especializada em

dependência química, embora realize internações de pacientes com Transtorno por

uso de SPA.

As entrevistas foram realizadas nas dependências da Enfermaria de Psiquiatria

do HC/Unicamp, em sala privativa, com a presença do entrevistador e do paciente e

no caso de familiares, do entrevistador e do familiar.

Levantamento dos dados

O tempo de coleta de dados foi de 15 meses (agosto 2013 a outubro 2014). Para

descrição do perfil dos entrevistados foram levantadas as seguintes informações:

sexo, idade, estado civil, escolaridade, ocupação, procedência, com quem reside,

prática religiosa, o motivo de internação, o padrão de uso de SPA e histórico de

tratamento.

Para definição da presença de Transtorno relacionado ao uso de substâncias

psicoativas foram utilizados os instrumentos “Alcohol, Smoking and Substance

Involvement Screening Test”14 e a seção de dependência do “Mini International

Neuropsychiatric Interview”15. Para o diagnóstico de Transtorno Mental foi utilizado o

estabelecido pela equipe da Enfermaria e registrado no prontuário do paciente.

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A entrevista realizada com a família e com o paciente foi anotada e utilizou como

questões disparadoras “na sua opinião, em uma escala de 0 a 10, qual o impacto do

uso de drogas sobre seu transtorno mental, sendo que 0 é ausência de impacto e 10

impacto muito grave” e “você poderia justificar a sua resposta?”.

As mesmas perguntas foram feitas aos familiares, neste caso: “na sua opinião,

em uma escala de 0 a 10, qual o impacto do uso de drogas do seu familiar sobre o

transtorno mental que ele possui, sendo que 0 é ausência de impacto e 10 impacto

muito grave” e “você poderia justificar a sua resposta?”. Foram também indagados

sobre o tempo de convívio com o paciente, observação de comportamentos diferentes

do usual que tenham motivado a internação, quais as preocupações do familiar com

o paciente, adesão a tratamentos e pontos positivos do paciente.

Análise dos dados

Após a realização das entrevistas, as anotações foram lidas uma primeira vez pela

pesquisadora afim de rever se não houve perda de conteúdo na fala dos pacientes e

familiares. Em seguida, as entrevistas foram lidas pelo pesquisador principal e sua

orientadora, com o objetivo de agrupamento em núcleos de sentido a partir da

pergunta disparadora a respeito da relação percebida, pelos pacientes e familiares,

do transtorno mental com uso de SPA. As categorias foram descritas e ilustradas com

frases dos entrevistados.

Resultados

Durante o período do estudo foram internados 122 pacientes na EP-

HC/UNICAMP. Destes, oito foram excluídos, sendo dois devido à limitação cognitiva

importante em decorrência de quadro demencial; dois por não possuírem condições

psíquicas de serem submetidos à entrevista, em decorrência do quadro psiquiátrico,

a saber, Transtorno Dissociativo e Esquizofrenia e quatro pacientes que foram

internados somente devido ao uso de SPA, não apresentando um outro Transtorno

Mental. Dois pacientes evadiram da internação e dois pacientes não quiseram

participar da pesquisa. Entre os 110 pacientes avaliados, 34 (30,9%) dos pacientes

com Transtornos Mentais internados foram diagnosticados como dependentes atuais

de alguma SPA (excluindo tabaco).

INSERIR AQUI TABELA 1 Com relação ao uso de substâncias psicoativas 73,5% eram dependentes de uma

única SPA e 26,4% de múltiplas SPA.

INSERIR AQUI TABELA 2 Entre os entrevistados, o Transtorno Mental mais prevalente foi Esquizofrenia

(32,2%), seguido do Transtorno Afetivo Bipolar (29,4%), Transtorno depressivo

(17,6%), Transtorno de Personalidade (14,7%) e Transtorno Esquizofreniforme

(5.8%).

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Com relação à percepção dos pacientes sobre impacto do uso de drogas sobre

seu transtorno mental, a média da nota foi de 4,5 (escala de 0 a 10), em contrapartida,

na visão da família, a média da nota foi de 7,8.

As categorias surgidas a partir da justificativa dos pacientes quanto à resposta

sobre o impacto do uso de drogas sobre o Transtorno mental foram: minimização do

uso de SPA, uso de SPA como “automedicação”, percepção do impacto negativo do

uso, pertencimento a um grupo e dificuldade de controle sobre o uso de SPA. Serão

apresentados trechos extraídos das entrevistas para cada uma das categorias.

Minimização do uso de SPA

Esta categoria construi-se a partir de falas que apontaram percepção de baixo

impacto do uso de SPA no transtorno mental, por vezes diferenciando o risco de cada

droga por parte dos pacientes, os quais apresentam tendência a rotularem certas SPA

como seguras e outras como nocivas.

“Nota 0, não vou parar de usar maconha, ela me acalma. Vou morrer usando

maconha. Vou sair daqui e usar. Não tem nada a ver com a minha doença”. (F, sexo

masculino, 22 anos, diagnóstico de Esquizofrenia, Nota 0).

“Não acho que maconha é droga, é só saber usar que não é droga. A cocaína é

química, é droga. É que eu não soube usar, usei muito”. (J, sexo masculino, 24 anos,

diagnóstico de Esquizofrenia, Nota: maconha-7/ cocaína-10).

Uso da SPA como “automedicação”

A substância é utilizada com a finalidade de aliviar sintomas, tais como ansiedade,

tristeza, irritação, insônia; ou utiliza-se da droga para “relaxar”, ficar mais “produtivo”,

“dar fome”.

“Comecei a usar álcool depois que separei da minha mulher, vinho, vinho, vinho,

porque não gostava de cerveja, mas depois fui para cerveja. Fico bastante diferente

quando bebo, fico agressivo, não é prazeroso. Como moro sozinho, não tem ninguém

para eu conversar, quando chego bebo para esquecer. Todo esse desespero e agonia

tento melhorar com o álcool”. (C, sexo masculino, 27 anos, diagnóstico de Transtorno

da Personalidade Borderline, Nota: 10).

“Usava maconha para ficar mais disposto, treinar melhor, ficar mais animado e

menos ansioso”. (P, sexo masculino, 20 anos, diagnóstico de Transtorno Afetivo

Bipolar, Nota: 8).

Impacto negativo do uso de SPA

Alguns entrevistados observam consequências negativas de seu uso de drogas

sobre a cognição, capacidade de julgamento e humor; além de apontarem impacto

negativo do consumo das substâncias para as relações familiares, sociais e laborais.

“Acho que foi o uso da maconha que me fez ficar ouvindo vozes, vendo vulto

passar. Na época que internei tava usando os dois juntos (maconha e cocaína) e

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bastante ainda. Acho que deu um tique no meu cérebro”. (J, sexo masculino, 24 anos,

diagnóstico de Esquizofrenia, Nota: maconha-7/ cocaína-10).

“Digo para as pessoas não usarem, porque isso é uma porcaria, por causa disso

que fiquei assim”. (P, sexo masculino, 20 anos, diagnóstico de Transtorno Afetivo

Bipolar, Nota: 8).

Pertencimento a um grupo

Esta categoria evidenciou a importância dos pares tanto para a iniciação do uso

quanto para a socialização. Indica ainda a relevância da identificação, que por vezes

legitima e torna o uso mais aceitável na sua rede social.

“A cocaína eu usava a de 40,00 reais, 1 pino dava para várias pessoas. Usava só

em grupo, quando a gente se encontrava. Experimentei para saber, porque falavam

tanto, diziam que uma vez não viciava. Eu não senti nada, acho que sou tão agitado

que eu não senti nada. Era uma forma de se reunir”. (J, sexo masculino, 58 anos,

diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual depressivo, Nota: 5).

“Da cocaína eu não gosto, é muito pesada, o efeito não é agradável, o motivo de

eu usar é que eu era convidado pelos meus amigos”. (A, sexo masculino, 26 anos,

diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: álcool – 0/ maconha e cafeína - 4).

Dificuldade de controle sobre o uso de SPA

Os entrevistados apontaram dificuldade em evitar o uso, controlar a quantidade,

assim como manejar as consequências negativas do abuso da droga nas esferas

laborais, sociais e familiares.

“Para eu usar cocaína eu tinha que estar bêbado. No início dava um alívio, mas

passa rápido, daí dava vontade de usar. Na primeira vez gastei 1200 reais”. (C, sexo

masculino, 27 anos, diagnóstico de Transtornos de Personalidade, Nota: 10).

“Minha mãe sofria demais quando eu tava perto dela drogado, mas eu não

conseguia evitar. Eu chegava a chorar, mas sozinho no quarto, porque na frente dela

eu dava uma de machão” (L , sexo masculino, 17 anos, diagnóstico de Transtorno de

conduta, Nota: 5).

As categorias surgidas a partir da entrevista com os familiares foram: impacto do

uso de drogas, medo do futuro, busca por um culpado, medo de violência,

minimização do uso, percepção dos sintomas psiquiátricos, esperança no tratamento,

relação familiar e impressões sobre o paciente. Serão apresentados trechos extraídos

das entrevistas para cada uma das categorias.

Impacto do uso de drogas

O familiar aponta a sua percepção sobre as consequências negativas do uso de

drogas, relacionando o uso a mudanças importantes de comportamento,

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agressividade, prejuízo na relações interpessoais, além de desencadear distúrbios

clínicos e psiquiátricos.

“Nota 10, foi devastador, destruiu, arrebentou”. (Pai de F de 16 anos, com

diagnóstico de Esquizofrenia, Nota de F: 10, nota do pai: 10).

“A droga acabou com ele”. (Mãe de R de 36 anos, com diagnóstico de

Esquizofrenia, Nota de R: 10, nota da mãe: 10).

Medo do futuro

A familía aponta temor pela evolução do quadro e impacto na autonomia do

paciente, paralelamente receia ter que assumir os cuidados de seu familiar “para

sempre”.

“Sobre o futuro, fico preocupado porque não somos eternos. Tenho 4 filhos, 3 tem

anemia falciforme, só ele que não tem, era o varão bom para ajudar. Na época da

primeira internação, achei que era tudo por causa da droga e disse para ele que ele

tinha falhado comigo. Hoje penso diferente. Não vou abandoná-lo nunca”. (Pai, de E

de 19 anos, com diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco

com sintomas psicóticos. Nota de E: 7, nota do pai: 10).

“Me preocupo com o futuro, com ele sobreviver, de ele ficar dependendo a vida

toda, da fobia de pessoas porque ele se tranca, não interage, não tem como

trabalhar”.(Mãe de L de 19 anos, com diagnóstico de Transtorno Obsessivo

Compulsivo, Nota de L: 3, nota da mãe:10).

Busca por um culpado/ explicação

Alguns familiares tentam compreender o motivo de seu parente fazer uso de

substâncias psicoativas, com tendência a apontar que este comportamento é

estimulado por “alguém de fora”, “más companhias” e que ao retirar o indivíduo deste

grupo seu familiar pare com o uso de substâncias.

“Preocupo de ele voltar a usar porque não pode, preocupo com as amizades

porque foi por eles que começou e é tudo usuário. Quero que volte para igreja para

mudar as amizades. Até mudaria de bairro. Tem um primo dele que mora com a gente

na casa que usa e fico com medo de o P. voltar a usar pela companhia dele”. (Tia de

P de 20 anos, com diagnóstico de Transtorno afetivo bipolar, Nota de P: 8, nota da tia:

8).

“Tenho raiva, revolta, ódio de traficante. Ele disse que com 13 anos um garoto

ofereceu thinner para ele, falava que dava um barato, via bicho. Depois não fazia efeito

e essa pessoa trouxe outra substância. Até hoje procuro essa pessoa. É revoltante”.

(Mãe de R de 36 anos, com diagnóstico de Esquizofrenia, Nota de R: 10, nota da mãe:

10).

Medo de violência

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Nesta categoria os familiares fazem uma associação entre violência e uso de

drogas, seja por já terem presenciado atos violentos prévios, devido ao envolvimento

com tráfico ou por questões psiquiátricas que afetam a capacidade de julgamento.

Familiares relatam receio quanto à possibilidade de seus parentes apresentarem

comportamentos violentos e impulsivos durante a intoxicação ou abstinência de SPA,

colocando em risco a propria vida e a de terceiros.

“Minha preocupação é ele fazer outra tragédia (paciente introduziu uma faca em

seu abdome), fazer mal não só para ele, como para família. Dessa vez, eu fui até ver

o caixão pra enterrar ele. E ele já fez isso outra vez, no passado ele já quis matar o

irmão”. (Mãe de P de 37 anos, com diagnóstico de Transtorno depressivo, Nota de P:

10, nota da mãe: 10).

“Ele já levou facada, roubou pessoas do bairro, roubou em casa. Traficantes já

levaram tudo, tudo que tinha em casa, eu acordava e as coisas não estavam mais.

Passei a trancar as coisas no quarto”. (Mãe de R de 36 anos, com diagnóstico de

esquizofrenia, Nota de R: 10, nota da mãe: 10).

Minimização do uso de SPA

Nesta categoria os familiares apresentaram tendência a minimizar o uso da droga,

seja por acreditar que a mesma auxilie no alívio da sintomatologia psiquiátrica, seja

por achar que o uso de SPA não interfere no transtorno mental ou mesmo porque

também eram usuários.

“Dou nota 2, porque acho que a maconha ajuda o remédio”. (Namorado de E de

44 anos, com diagnóstico de Transtorno afetivo bipolar, episódio atual maníaco com

sintomas psicóticos, Nota de E: 0, nota do namorado: 2).

“Nota 0, acho que a maconha não causa isso, o que causa isso é a cocaína que

ele usou muito pouco”. (Mãe de J de 16 anos, com diagnóstico de Esquizofrenia, Nota

de J: 0, nota da mãe: 0).

Percepção dos sintomas psiquiátricos

Os familiares descrevem em seus relatos sintomas de transtornos mentais

diversos, desde ansiedade, tristeza, desesperança, até mesmo sintomas

maniatiformes, psicóticos e tentativas de suicídio graves.

“Tentou duas vezes suicídio, de lá pra cá a coisa piorou, 20 dias antes de internar.

Era veneno de formiga, thinner. Ele que pediu pra ser internado”. (Mãe de P de 14

anos, com diagnóstico de Transtorno depressivo, Nota de P: 8, nota da mãe: 10).

“Ela estava agitada, fazia tudo de uma vez, falando coisas sem sentido,

preocupada”. (Namorado de E de 44 anos, com diagnóstico de Transtorno afetivo

bipolar, episódio atual maníaco com sintomas psicóticos, Nota de E: 0, nota do

namorado: 2).

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Esperança no tratamento

Vários familiares acreditam no controle da sintomatologia do transtorno

psiquiátrico, bem como a cessação do uso de drogas pelo familiar, atráves do

tratamento medicamentoso, ajuda psicológica e apoio familiar. Ressaltam aspectos

positivos do paciente que o afastam do esteriótipo do usuário de drogas, ou seja, de

alguém “sem força de vontade”, descontrolado e violento.

“Teve altos e baixos, mas acredito no resultado positivo do trabalho aqui. Sinto

que aqui tem profissionais capacitados, os recursos que vocês tem aqui são muito

bons”. (Pai de C de 27 anos, com diagnóstico de Transtorno da personalidade, Nota

de C: 10, nota do pai: 8).

“Espero que ele procure apoio profissional, faça vinculo, se cuide, tome os

remédios, venha nos retornos, siga as orientações, seja paciente de fato.”(Filha de J

de 65 anos, com diagnóstico de Transtorno depressivo recorrente, episódio atual

grave sem sintomas psicóticos, Nota de J: 0, nota da filha: 8).

Relação familiar

Nesta categoria há relatos sobre o convívio familiar com o paciente, expondo

aspectos positivos, assim como desafios nas relações. Também descrevem suas

dificuldades em lidar com o fato de, muitas vezes, serem a única rede de apoio para

o seu parente.

“Acho que ele está feliz, ele não quer mais usar drogas, vejo que antes ele tinha

bronca de mim, não me aceitava como mãe e Deus deu nova chance para nós. Nunca

o vi tão filho como agora”. RAS (Mãe de R de 22anos, com diagnóstico de

Esquizofrenia, Nota de R: 0, nota da mãe: 10).

“Infelizmente a rede de apoio dele sou eu, não sei se eu sou um bom apoio”.

(Irmão de A de 26 anos, com diagnóstico de Transtorno afetivo bipolar episódio atual

maníaco com sintomas psicóticos, Nota de A: álcool – 0/ maconha e cafeína – 4, nota

do irmão: 7).

Discussão

A frequência de pacientes com Transtornos Mentais dependentes de SPA

(excluindo tabaco) encontrada na Enfermaria de Psiquiatria do Hospital das Clínicas

da Unicamp foi de 30,9%, tais dados são semelhantes às taxas de comórbidos

encontradas na literatura, em estudos com pacientes internados em Hospitais, onde

as prevalências variam de 17,7% a 35% 4,16. Este dado é preocupante, considerando

que são indivíduos que possuem transtornos mentais graves e o uso, mesmo que em

pequenas doses de SPA pode gerar consequências mais sérias que as vistas em

pessoas sem comorbidade7,17.

Notou-se, no caso da visão dos pacientes comórbidos, uma média da nota de 4,5

(em escala de 0 a 10), demonstrando uma baixa percepção do impacto do uso de SPA

sobre o Transtorno Mental, em relação, principalmente à maconha. Esta substância

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psicoativa é alvo de intensos debates a respeito de seus efeitos sobre o indivíduo,

notando-se discordâncias até mesmo entre os profissionais de saúde. Estudo

brasileiro comparou padrões de percepções e de conhecimento sobre maconha em

profissionais da área da saúde mental em três instituições de diferentes perfis

(Hospital filantrópico filiado ao SUS, CAPS-AD e no Hospital das Clinicas - Instituto de

Psiquiatria). Observou-se que os psiquiatras tendem a discordar mais que os outros

profissionais quanto à necessidade de tratamento para uso de maconha e que a

maconha traz prejuízos cognitivos. Os profissionais do hospital filantrópico

apresentaram uma percepção mais a favor da proibição da maconha e valorizam mais

os possíveis prejuízos associados ao uso comparados aos profissionais das outras

duas instituições; demonstrando que a percepção dos profissionais varia de acordo

com a profissão e local de trabalho18.

A percepção de risco influencia o uso de drogas tanto em adultos quanto em

adolescentes, sendo que uma baixa percepção de risco se relaciona com um padrão

de uso mais intenso19. Embora dados demonstrem que continua a haver uma

percepção de risco substancial associada ao uso de maconha na população geral20

outros indicadores indicam que a percepção de risco é significativamente menor em

indivíduos com transtornos por uso de substância21.

Explorou-se a percepção de risco em uma amostra de usuários de substância que

estavam em tratamento para o transtorno por uso de SPA. Em consonância com

nossa pesquisa, uma perspectiva importante entre os participantes era de que a

maconha é significativamente diferente de outras drogas pois é segura, não produz

dependência, não associada com sintomas de abstinência e tem efeitos

comportamentais menos evidentes do que outras substâncias. Muitos desses

participantes embasaram suas falas em suas próprias experiências consideradas

inócuas com a maconha, mais do que em informações de qualquer outra fonte. Uma

narrativa contrastante, também observada em nossa pesquisa, enfatizou a

capacidade da maconha causar consequências sociais negativas, causar “paranoia”

e piorar a psicose22.

Estudos epidemiológicos têm verificado que indivíduos com transtornos mentais

graves estão mais propensos a fazer uso, abuso e dependência de substâncias

psicoativas - especialmente a cannabis - quando comparados à população geral23.

Dados europeus demonstraram que nos pacientes em episódio maníaco esta taxa

pode chegar a 14,5%, sendo que pode ocorrer em até 4,1% em sujeitos com

depressão maior, 4,3% para transtorno do pânico e 2,4% em portadores de

fobias24,25,26.

Estudos epidemiológicos realizados em vários países, como Estados Unidos,

Holanda, e Austrália, encontraram índices significativamente maiores de usuários de

cannabis entre os esquizofrênicos, comparando ao restante da população27. Pesquisa

realizada na Nova Zelândia verificou que os usuários de drogas aos 15 anos

apresentaram índices de sintomas psicóticos aos 26 anos bem maiores do que os que

iniciaram aos 18 anos28.

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A associação entre o abuso de cannabis (idade de início, quantidade e duração

da exposição) em pacientes com transtornos psiquiátricos vem sendo reconhecida

como um possível fator de risco independente para o desencadeamento de episódios

psicóticos agudos, prejuízos cognitivos, alterações comportamentais, exacerbação de

sintomas e consequências negativas no curso dos transtornos29,30.

Os entrevistados apontaram dificuldade em controlar a quantidade e evitar o uso

de SPA, mesmo quando tinham conhecimento das consequências adversas da droga

consumida. Esta percepção é relevante, pois pode ser um dos principais motivadores

da procura de tratamento por pessoas com este quadro clínico. Pesquisa buscou

levantar e compreender, entre pacientes que procuraram tratamento para síndrome

de dependência, os significados pessoais que os levaram a procurar auxílio médico.

Constatou-se que os fenômenos característicos da síndrome de dependência

(segundo o DSM-IV) são fatores motivacionais presentes no discurso daqueles que

procuraram tratamento. Os pacientes referiram, como aspectos que os levaram a

procurar ajuda, o desejo intenso, a compulsão e o descontrole quanto ao uso e ao

abandono de outros interesses e prazeres31.

Estudo realizado com 100 pacientes dependentes de álcool internados em

unidades de tratamento para dependência química verificou as associações entre

dependência de álcool e Fobia Social. Observou-se o diagnóstico de Fobia Social em

35% do total da amostra. Verificou-se que no período de consumo do álcool os

sintomas de fobia social eram sentidos como atenuados para 97,6% dos sujeitos32. A

tentativa de automedicação é frequente com o uso do álcool, pela crença de que este

diminui o estresse e a ansiedade e melhora o desempenho social, o que favorece a

manutenção do seu uso33. Constatou-se nas falas dos pacientes internados na

enfermaria de psiquiatria do HC-Unicamp a ideia de que a droga é usada como

automedicação aliviando sintomas de ansiedade, angústia, melhorando o sono, o

apetite e o raciocínio.

Agudamente o uso de SPA pode aliviar sintomas mentais, porém a manutenção

deste uso traz piora no quadro clínico. Em alguns casos, o consumo de SPA traria

alívio para esses sintomas deixando seus portadores mais propensos a utilizá-las

constantemente34,35. Estudos têm apontado para a existência de uma associação

entre transtornos de ansiedade prévios e o consumo de cannabis. Esta situação

contribui para o surgimento de um ciclo de "automedicação" e eventual piora dos

sintomas ansiosos pré-existentes. Indivíduos com transtornos de ansiedade têm maior

chance de usar cannabis para obter sensações de relaxamento e de redução da

ansiedade. Paradoxalmente, o consumo progressivo e exagerado contribui para o

aumento dos sintomas ansiosos. Finalmente, a sintomatologia ansiosa pode ser um

preditor de maior consumo de cannabis e desenvolvimento de dependência à

substância25,36,37.

Outra fala dos pacientes foi a respeito da sensação de pertencimento a um grupo,

situação em que o uso da droga funciona como instrumento de aceitação pelos pares.

Pesquisa analisou as situações de recaída em pacientes dependentes de álcool e

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outras drogas e concluiu que os "estados emocionais negativos", “impulso”, "pressão

social" e "conflitos interpessoais" foram importantes fatores desencadeadores da

recaída38.

O tema da comorbidade entre Transtorno por uso de Substâncias e outros

Transtornos Mentais suscita muitos desafios em relação ao manejo do paciente e da

família, a qual tem papel fundamental no processo de tratamento. Para auxiliar com

eficácia, ou seja, melhorar a qualidade de vida, promover adesão ao tratamento e

prevenir recaídas se faz necessário compreender como o paciente e sua família

percebem a comorbidade.

Estudo nacional teve como objetivo investigar os transtornos psiquiátricos de um

grupo de 56 mulheres que convivem com um dependente químico em seus lares,

residentes na periferia de São Paulo, atendidas em um centro de intervenção e apoio.

Observou-se que 23% apresentaram depressão, demonstrando a necessidade de

intervenção e o quanto o tratamento da dependência química deve envolver os

familiares39.

Pesquisa realizada em um Hospital Psiquiátrico Público do Ceará analisou a

percepção dos familiares de um Grupo de Orientação Familiar em Dependência

Química. Constatou-se que as famílias que lidam com dependentes químicos sentem-

se envergonhadas e culpam tanto a si como aos outros pelo abuso de substâncias em

suas famílias. Observou-se que o que mais aflige os familiares é uma possível recaída

do dependente. Foi citado que esperavam do grupo “compreender, entender e

enxergar o dependente como um doente” e “adquirir habilidades para ajudar nas

recaídas”. Os principais sentimentos da família que convive com dependentes foram:

raiva, ressentimento, descrédito, dor, impotência, medo do futuro, desintegração,

solidão diante do resto da sociedade, culpa e vergonha pelo estado em que se

encontram40, corroborando as categorias descritas em nosso estudo.

Haskell et al entrevistaram 73 pacientes e 41 familiares de pacientes em um local

de tratamento para Transtornos Mentais e Transtorno por uso de SPA em Ontário.

Quanto aos familiares, estes buscavam entender melhor o Transtorno por uso de

substâncias, adquirindo conhecimento e ferramentas para lidar melhor com as

recaídas e o tratamento. Também gostariam que o serviço de saúde os ajudassem a

se sentirem “normais”, ou seja, a se sentirem como antes do problema com o uso de

drogas surgir ou ser como outros familiares que nunca passaram por isso. Além

desses aspectos, gostariam que seu familiar buscasse melhorar os relacionamentos

interpessoais, se afastando de pessoas que tiveram uma influência negativa e

conquistando relações mais saudáveis, particularmente com membros da família41.

Notou-se a preocupação que seu familiar conseguisse trabalhar, constituir família,

ser alguém independente dos cuidados familiares. Assim como constatou-se o receio

dos familiares quanto aos relacionamentos interpessoais que favorecem o uso de

drogas, sendo que as familias almejam para seus parentes a construção de vínculos

mais saudáveis que favoreçam a abstinência.

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Verificou-se, através dos relatos, a existência de uma minimização do uso de SPA

por alguns familiares, fato que tem o potencial de interferir negativamente no

tratamento, particularmente quando o familiar também faz uso de SPA. Neste caso o

paciente pode ter um acesso facilitado à droga, assim como uma percepção menor

de risco em relação à substância.

A pesquisa foi realizada em enfermaria psiquiátrica de agudos, voltada para

internação de casos graves e refratários o que indica cautela na extrapolação dos

dados para populações de pacientes com transtornos mentais menos graves, em

outros contextos de tratamento.

A despeito da limitação apontada, os dados deste estudo apontama magnitude do

uso de SPA em portadores de transtornos mentais, posto que aproximadamente um

terço era dependente atual de alguma SPA (excluindo tabaco). Quanto a percepção

do impacto do uso de SPA no transtorno, há uma diferença na percepção de risco dos

pacientes e familiares, sendo esta apontada como importante pela maioria dos

familiares e reduzida por boa parte dos pacientes. A compreensão pelo paciente sobre

os prejuízos do uso de drogas no transtorno mental é importante e precisa ser

abordada no tratamento juntamente com a família. A realização do diagnóstico da

comorbidade possibilita o planejamento adequado do tratamento, com foco na

redução de recaídas e proporcionando melhora no funcionamento social e familiar.

Há escassez de dados qualitativos na literatura sobre pacientes dependentes de

drogas que apresentam comorbidade com outro transtorno mental, bem como a

respeito de seus familiares. Os estudos existentes analisam indivíduos que

apresentam somente dependência química, o que demonstra a importância de se

realizarem mais estudos sobre pacientes comórbidos e seus desafios, notadamente

do ponto de vista qualitativo, visando aprofundar a compreensão e abordagem do

tema.

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Tabela 1 – Características sociodemográficas dos pacientes comórbidos (N=34)

Idade Média (DP) 29,32 (14,75)

Idade (Mediana, min-máx) 23,5 (14.0-68.0)

Gênero Masculino 82,3 %

Escolaridade

Fundamental incompleto 29,4%

Médio incompleto 29,4%

Médio Completo 23,5%

Superior 17,6%

Estado Civil

Casado 11,7%

Divorciado 17,6%

Solteiro 70,5%

DP= desvio padrão; Min= mínimo; Máx= máximo.

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Tabela 2 – Substâncias Psicoativas utilizadas pelos pacientes dependentes atuais internados na EP-HC/UNICAMP (N=34)

Maconha 61,7%

Álcool 29,4%

Cocaína 23,5%

Benzodiazepínicos 7%

Mesclado 5,8%

Outros (Anabolizantes, Cafeína) 8,8%

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6.4 Resultados Complementares

Durante o período do estudo (agosto de 2013 a outubro de 2014), foram

internados na Enfermaria de Psiquiatria do HC Unicamp 152 pacientes. Destes, oito

foram excluídos (dois devido limitação cognitiva importante, em decorrência de quadro

demencial, dois por não possuírem condições psíquicas de serem submetidos à

entrevista, em decorrência do quadro psiquiátrico, a saber, Transtorno Dissociativo e

Esquizofrenia e quatro pacientes por apresentarem somente Transtorno por uso de

SPA). Dois pacientes evadiram da internação e dois pacientes não quiseram participar

da pesquisa. Trinta pacientes (19,7% dos internados no período) não participaram do

estudo, devido ausência da pesquisadora (recesso e estágio externo). A população

do estudo foi composta por 110 pacientes (Fluxograma II) e 110 familiares

(Fluxograma III).

Fluxograma II: População de pacientes do estudo

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Fluxograma III: População de familiares do estudo

Com o objetivo de avaliar se houve diferenças significativas entre os pacientes

avaliados e os perdidos, foram levantados os dados dos 38 pacientes perdidos,

através de informações colhidas no prontuário. A maioria (63,1%) eram mulheres,

média de idade de 40,6 anos, em sua maioria da raça branca, com média de tempo

de internação de 25,2 dias. Os principais diagnósticos nestes pacientes eram:

Transtorno Depressivo (34,2%), Transtorno Bipolar (26,3%), Esquizofrenia (18,4%),

Transtorno Esquizofreniforme (10,5%), Transtornos Mentais e Comportamentais

devido ao uso de múltiplas drogas (5,2%), Transtorno de personalidade (5,2%) e

Transtorno de Conduta (5,2%). Quanto ao uso de SPA nos pacientes que foram

perdidos durante a pesquisa, segundo dados do prontuário, 39,4% negaram uso de

SPA (incluindo tabaco) e 21% eram tabagistas. Em relação ao uso de álcool, os

pacientes foram assim divididos: 7,8% fazia uso abusivo de álcool atualmente (últimos

12 meses); 5,2% tinham um padrão de uso de álcool ocasional; 2,6% eram

dependentes atuais de álcool e 2,6% fez uso abusivo de álcool no passado. Quanto

às substâncias ilícitas, 5,2% referiram ter feito uso ocasional de maconha no passado;

2,6% dependentes atuais de múltiplas substâncias psicoativas (cocaína, crack,

maconha, álcool). Aproximadamente em um quarto dos pacientes (23,6%) não havia

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informação a respeito de uso de SPA (considerados como não dependentes atuais de

SPA para fins de análise estatística) e em 5,2% dos pacientes houve relato de uso de

SPA, porém sem especificar o padrão do uso SPA (considerados como não

dependentes atuais de SPA para fins de análise estatística). Foi realizada análise

estatística a fim de comparar a amostra de pacientes perdidos com os pacientes

incluídos no estudo (Tabela 1). Observa-se menor tempo de internação, predomínio

do sexo feminino e taxa inferior de uso de SPA entre os casos perdidos. Não houve

diferença estatística quanto ao diagnóstico psiquiátrico.

Tabela1 - Comparação entre pacientes perdidos e incluídos no estudo

Variável Incluídos Perdidos Total p-valor

Idade (Mean ± SD (N)) 33.4 ± 16.3 (N=110) 40.6 ± 19.1 (N=38) 35.3 ± 17.3 (N=148) 0.059¹

Idade (Median (min-max)) 30.0 (8.0-74.0) 36.5 (14.0-81.0) 31.0 (8.0-81.0)

Tempo Internação (Mean ± SD (N)) 37.2 ± 21.7 (N=110) 25.2 ± 21.8 (N=38) 34.1 ± 22.2 (N=148) 0.0003¹

Tempo Internação (Median (min-max)) 33.0 (4.0-100.0) 19.0 (1.0-92.0) 29.5 (1.0-100.0)

Sexo

F 40 (36.4%) 24 (63.2%) 64 (43.2%) 0.0040²

M 70 (63.6%) 14 (36.8%) 84 (56.8%)

Total 110 38 148

HD

T.Humor 56 (50.9%) 21 (55.3%) 77 (52.0%) NC

T.Psicótico 42 (38.2%) 12 (31.6%) 54 (36.5%)

T.Personalidade 3 (2.7%) 2 (5.3%) 5 (3.4%)

T.Conduta 3 (2.7%) 1 (2.6%) 4 (2.7%)

TOC 3 (2.7%) 0 (0.0%) 3 (2.0%)

Outros 3 (2.7%) 2 (5.3%) 5 (3.4%)

Total 110 38 148

SPA

DD 34 (30.9%) 3 (7.9%) 37 (25.0%) 0.0047²

ND 76 (69.1%) 35 (92.1%) 111 (75.0%)

Total 110 38 148

¹ Mann-Whitney

² Qui-Quadrado

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7. DISCUSSÃO

7.1 Dificuldade Diagnóstica

Na pesquisa realizada houve diferenças entre os diagnósticos de dependência

(excluindo tabaco) feitos pela pesquisadora (33,2%) e os registrados na enfermaria

(19,2%). Quanto ao uso de SPA nos pacientes que foram perdidos durante a

pesquisa, segundo dados do prontuário, aproximadamente em um quarto dos

pacientes (23,6%) não havia informação a respeito de uso de SPA e em 5,2% dos

pacientes houve relato de uso de SPA, porém sem especificar o padrão desse uso.

Uma das maiores dificuldades na abordagem do paciente com comorbidade

está no diagnóstico diferencial, pois ocorre uma superposição de sintomas. Um

transtorno pode exacerbar ou mascarar o outro. Não é fácil, no início, estabelecer

diferenças entre a presença de comorbidade psiquiátrica e uso de substâncias

psicoativas (4). Além disso, o diagnóstico da dependência química tem particularidades

tais como o constrangimento dos pacientes de falar de seu problema e até mesmo o

desconhecimento por parte dos mesmos de que o seu uso de SPA é um transtorno

psiquiátrico, com terapêutica efetiva em muitos casos.

A frequência, a gravidade, reconhecimento, custo e evolução de adolescentes

com comorbidade com uso de SPA foram analisados pelo “Fort Bragg Demonstration

Project”. A amostra consistiu de 428 adolescentes cujos diagnósticos dos psiquiatras

responsáveis foram comparados com os diagnósticos dos pesquisadores. O projeto

identificou 13,8% (59 pacientes) com Transtorno por uso de SPA, todos comórbidos.

Os psiquiatras responsáveis reconheceram como comórbidos apenas 21 dos 59

casos (51) 51.

A fim de se aprimorar os diagnósticos, mudanças foram realizadas no

“Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders IV” (DSM). Embora haja

estudos examinando o impacto das alterações feitas no DSM-5 sobre as prevalências

do diagnóstico de Transtorno por Uso de Substância, há algumas evidências relativas

à confiabilidade desses diagnósticos. Pesquisa americana comparou os diagnósticos

baseados nos critérios do DSM-IV e o DSM-5 em uma amostra de 173 pessoas e

constatou que, para os diagnósticos relativos a Transtornos por uso de álcool,

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opióides, cocaína e maconha, os critérios do DSM-5 são tão confiáveis quanto os do

DSM-IV. Entretanto, a concordância foi significativamente mais baixa nos diagnósticos

de Transtornos considerados leves, onde o DSM-5 demonstrou maior confiabilidade

(90).

7.2 Comorbidade com o Transtorno por uso de SPA

A porcentagem de pacientes dependentes de SPA encontrada na Enfermaria

de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Unicamp foi de 33,3%, sendo que destes

89,4% apresentavam diagnósticos comórbidos. Logo, 29,8% dos pacientes internados

no período possuíam quadros comóbidos com Transtorno por uso de SPA; tais dados

são semelhantes às taxas de comórbidos encontradas na literatura em estudos com

pacientes internados em Hospitais, onde as prevalências variam de 17,7% a

35% (20, 22, 91).

A população de pacientes comórbidos foi constituída de 82,3% de homens e

17,6% de mulheres com média de idade de 29,3 anos. No perfil sociodemográfico

destacou-se a baixa escolaridade e as altas taxas de pacientes solteiros, quanto à

ocupação, cerca de 40% apresentavam- se empregados, embora porcentagem

semelhante estivesse desempregada (sem ocupação: 41,1%). Quanto às hipóteses

diagnósticas dos pacientes comórbidos houve destaque para Esquizofrenia (32,3%),

Transtorno Afetivo Bipolar (29,4%), Transtorno Depressivo (17,6%), aparecendo

menores taxas de Transtorno de Personalidade (14,7%), Transtorno

Esquizofreniforme (8,8%), Transtorno Ansioso (5,8%) e outros diagnósticos (8,8%).

Estudo brasileiro teve como objetivo comparar os níveis de ansiedade e

depressão em sessenta pacientes homens (idade igual ou superior a 18 anos)

diagnosticados como portadores da síndrome da dependência química, sendo trinta

pacientes em regime de internação voluntária no Instituto Padre Haroldo (Comunidade

Terapêutica) e trinta pacientes em regime de internação involuntária no Instituto

Bairral de Psiquiatria (Hospital Psiquiátrico). Entre os pacientes internados de forma

voluntária, com média de idade de 33 anos, 53% deles apresentaram indicativos

graves de ansiedade e depressão, 37% apresentaram indicativos moderados dos

mesmos transtornos e 10% apresentaram indicativos leves de ansiedade e

depressão. Em relação aos internados involuntariamente, a média de idade foi de 31

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anos, sendo que 67% deles apresentaram indicativos graves de ansiedade e

depressão, 20% apresentaram indicativos moderados dos mesmos transtornos e 13%

apresentaram indicativos leves de ansiedade e depressão. Logo, independentemente

do regime de internação voluntária ou involuntária, a presença de indicativos de

depressão e ansiedade foram significativos. Notam-se que as médias de idade

corroboram os dados de nosso estudo e taxas importantes de ansiedade e depressão

nesta população assim como em nossa pesquisa(92).

Estudo realizado em Córdoba, no período compreendido entre os anos de 2001

a 2008, verificou a prevalência do consumo de SPA e a ocorrência de comorbidade

psiquiátrica em pacientes internados. Os resultados obtidos foram que, dentre os

2.954 pacientes internados, o TUS esteve presente em 807 casos (27,32%) e a

comorbidade psiquiátrica em 143 casos (17,72%). Dentre os pacientes comórbidos,

74% eram do sexo masculino, reforçando os achados de nossa pesquisa(91).

Pesquisa realizada no Rio Grande do Sul teve como objetivo verificar a

frequência de comorbidades psiquiátricas, utilizando o Mini International

Neuropsychiatric Interview, em diferentes grupos de dependentes químicos em

abstinência, em ambiente protegido, classificados de acordo com o tipo de droga

utilizada: (1) grupo controle (n = 37); (2) dependentes em abstinência de álcool (n =

8); (3) dependentes em abstinência de álcool, maconha e crack/cocaína- dependentes

químicos que associavam consumo de álcool, maconha e crack/cocaína (n = 24); e

(4) dependentes em abstinência de múltiplas substâncias psicoativas (n=25), ou seja,

indivíduos que faziam uso de vários tipos de drogas sem apresentar uma droga de

escolha- utilizavam álcool, maconha, crack/cocaína, tabaco, solventes e outros.

Participaram 94 homens, com idade média de 30,4 anos. A maioria dos participantes

tinha baixa escolaridade e era solteira. O período de abstinência variou entre 30 e 240

dias. Os resultados apontaram maior ocorrência de transtornos mentais e risco de

suicídio nos grupos formados por pacientes com histórico de consumo múltiplo de

SPA, sugerindo a importância da avaliação de outros transtornos associados à

dependência química(93).

Notou-se uma escassez de estudos que abordassem o tema em pacientes

internados em Hospitais Psiquiátricos ou Gerais; em sua maioria, as pesquisas a esse

respeito ocorrem em Clínicas de Dependência Química, Comunidades Terapêuticas,

serviços ambulatoriais ou na população geral.

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100

Observam-se mais estudos na literatura com o objetivo de discutir as relações

temporais do uso de SPA em pacientes esquizofrênicos, em detrimento de outros

Transtornos Mentais. Mueser et al. (2000)(94), encontraram que pacientes

esquizofrênicos que usam SPA, apresentam melhores ou iguais características pré-

morbidas e uma variação de contatos sociais atuais mais ampla, quando comparados

aos pacientes esquizofrênicos que não usam SPA. Isso sugere um delineamento da

apresentação destes pacientes dando- nos a ideia de indivíduos que tem mais

desenvoltura social em seu meio(94).

Estudo de corte transversal, caso-controle, comparou dois grupos de pacientes

esquizofrênicos. O grupo caso definido pela história de uso de álcool e/ou drogas

ilícitas (n=15) e o grupo controle, definido pela ausência de história de uso de álcool

e ou drogas ilícitas (n=15). Os resultados demonstram que os pacientes

esquizofrênicos que usam álcool e ou drogas tem tendência à melhor desempenho

escolar e a apresentar menos anedonia. No entanto, tem pior adaptação social. Estes

pacientes, com o uso da medicação, sentem-se subjetivamente mais “alienados”.

Além disso, eles possuem objetivamente mais sintomas extrapiramidais e piora dos

sintomas negativos com o uso da medicação. Neste estudo, os pacientes do grupo

caso poderiam estar fazendo uso de SPA para atenuar os efeitos extrapiramidais das

medicações antipsicóticas(95).

Corroborando tais achados, estudo analisou 746 pacientes com o primeiro

episódio psicótico e 999 pessoas saudáveis como controle, sendo aplicadas as

escalas de Ajustamento Pré-Mórbido (PAS) e a Cannabis Expectancy Questionnaire–

Revised. A pesquisa examinou os dados do projeto EU-GEI, que tem como objetivo

identificar, por um período de 5 anos, a interação genética, clínica e determinantes

ambientais envolvidos no desenvolvimento, gravidade e evoluções da esquizofrenia.

O estudo envolveu pacientes e indivíduos saudáveis da França, Itália, Holanda,

Espanha e Reino Unido. Levando-se em conta a idade e sexo, a equipe descobriu

que, em todos os países, a pontuação da PAS era significativamente melhor entre os

pacientes que já haviam fumado cannabis do que aqueles que não tinham usado a

substância(96).

Pode-se interpretar a melhor cognição associada ao uso de cannabis na

esquizofrenia como uma relação causal. O início precoce dos sintomas negativos e

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101

do comprometimento cognitivo cria redes sociais reduzidas e um prazer antecipado

reduzido para atividades compartilhadas. Conseqüentemente, um indivíduo com

deficiências sociais e cognitivas precoces é, por várias razões, menos provável de ser

um usuario de cannabis.

Alguns estudos demonstram, ainda, que o uso de substâncias com frequência

precede ou se inicia durante a fase prodrômica da esquizofrenia, muitas vezes com o

objetivo de “aliviar” os primórdios dos sintomas psicóticos(97, 98).

Em nossa pesquisa, sobre os pacientes comórbidos, pôde-se verificar que

71,4% destes iniciaram o quadro de dependência de SPA antes do quadro psiquiátrico

eclodir; 11,4% iniciaram o quadro de dependência após a ocorrência do quadro

psiquiátrico e em 14,2% dos casos não foi possível fazer distinção temporal. Os

pacientes comórbidos apresentaram tempo médio de evolução do transtorno

psiquiátrico de 4,06 anos e de evolução do quadro de dependência de SPA de 7,17

anos. Entre os adolescentes, os pacientes comórbidos, em média, possuíam este

quadro de dependência de SPA há 3,7 anos e apresentavam o outro Transtorno

Mental há cerca de 2 anos. Já entre os comórbidos até 21 anos, o quadro de

dependência de SPA ocorria há cerca de 3,5 anos e apresentavam o outro Transtorno

Mental há cerca de 1,2 anos. Tais dados sugerem que, nesta população estudada, o

TUS antecedeu o Transtorno Mental. Esta evidência pode refletir que os Transtornos

Mentais foram desencadeados pelo uso de drogas, ou que haja neste grupo

vulnerabilidade genética para ambos os Transtornos, ou até mesmo que o uso de SPA

tenha ocorrido em fases prodrômicas do quadro psíquico como maneira de lidar com

tais sintomas.

Quanto ao tabaco, observou-se taxas importantes de dependência à nicotina

em nosso estudo, considerando os prejuízos que o tabaco traz para a qualidade de

vida dos pacientes com Transtornos Mentais(99). Pesquisa realizada na Austrália em

2007 apontou que 32% dos individuos com Transtorno Mnetal fumam comparados

com 16% dos individuos sem transtorno psiquiátrico(100). Além disso, meta analise com

fumantes em tratamento para Transtorno por uso de SPA verificou que incluir a

cessação do tabagismo resultou em 25% de melhora na abstinência a longo prazo

de álcool e SPA ilícitas(101).

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102

7.3 População adolescente e adulto jovem (até 24 anos)

Quando observamos a população abaixo de 18 anos, a amostra foi constituída

por 18 adolescentes, sendo que 44,4% apresentavam comorbidade com TUS; quando

aumentamos o corte de idade para 24 anos, o número de participantes foi de 42

pacientes, com taxas de 42,8% de comorbidade. As porcentagens de dependência de

SPA são importantes nos dois cortes etários, porém a população de adolescentes e

adultos jovens foi pequena, já que a Enfermaria de Psiquiatria do HC-Unicamp interna

pacientes de todas as faixas etárias. Essa limitação no tamanho amostral prejudicou

as comparações entre os pacientes comórbidos e não comórbidos.

No que concerne a população adolescente, apesar da evidente importância do

assunto, dados e estudos sobre transtornos mentais em crianças e adolescentes são

escassos(102-104), assim como o número de serviços especializados e o acesso da

população a estes, principalmente nos países em desenvolvimento(105). Essa

escassez de informações é ainda mais evidente quanto a pesquisas realizadas

especificamente em crianças e adolescentes internados em hospitais psiquiátricos

especializados. Quanto às pesquisas existentes, poucas descrevem características

epidemiológicas e diagnósticas dos pacientes(106).

Em nosso estudo, a população analisada teve origem de internações realizadas

em uma enfermaria psiquiátrica em Hospital Geral, destinada a pacientes de todas as

idades. A média de idade da população abaixo de 18 anos foi de 15 anos, com

predomínio masculino. A população analisada apresentava um histórico familiar

extremamente relevante de transtorno por uso de SPA e também de outros

transtornos mentais o que demonstra a vulnerabilidade destes adolescentes para os

transtornos psiquiátricos.

Estudo brasileiro de Vargas et al. realizado com base na análise de prontuários

de um total de 1318 pacientes, menores de 18 anos, internados no período de 2001 a

2011, em hospital referência em internação psiquiátrica infantil (29 leitos), teve como

objetivo traçar o perfil desta população. A média de idade foi de 13,5 anos, sendo esta

média inferior ao observado, provavelmente porque se tratava de enfermaria voltada

para internação de menores de idade. A maioria era do gênero masculino (62,3%),

além de se notar maioria masculina nos pacientes com diagnóstico de transtorno

relacionado à substância, assim como verificado pelos nossos dados, onde 100% dos

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103

usuários de SPA eram homens. Antecedentes familiares psiquiátricos ocorreram em

maior frequência na faixa de 10 a 18 anos (84%) (107).

Quanto à hipótese diagnóstica que motivou a internação notou-se uma elevada

porcentagem de Transtorno de Humor, Transtornos Mentais e Comportamentais

devido ao uso de SPA e de Transtorno Psicótico, assim como o descrito na literatura,

sendo o tempo médio de internação no HC - Unicamp de 42 dias, um período maior

de tempo de internação quando comparado ao estudo descrito anteriormente - 21

dias. O diagnóstico mais frequente no estudo citado foi o de Transtorno Bipolar

(35,4%); comorbidades estiveram presentes em 46,2% da amostra, porcentagem

semelhante à de nossa pesquisa e o Transtorno relacionado ao uso de SPA figurou

como evidente problema de saúde pública, com alta frequência como diagnóstico

principal e comorbidade, participando das principais associações diagnósticas,

relacionadas aos transtornos disruptivos do comportamento e a transtornos bipolares,

sugerindo uma encadeação nosológica(107).

Os indivíduos adolescentes estudados possuíam quadros psíquicos graves o

suficiente para justificar uma internação em Hospital Psiquiátrico. Aproximadamente

30% apresentavam histórico de tentativa de suicídio. A taxa de suicídio na população

estudada é alarmante, quando comparada com a população geral de jovens. O

suicídio é reconhecidamente um problema de saúde pública mundial – a adolescência

e juventude são períodos vulneráveis para sua ocorrência. Na população geral de

adolescentes e jovens adultos, pouco menos de 1 em cada 10 adolescentes e jovens

já pensaram, em algum momento, em tirar a própria vida – índice que é semelhante

entre os jovens dos dois sexos; 5% dos jovens declararam já terem feito alguma

tentativa de suicídio(108).

Ao se analisar a população até 24 anos comórbida, notou-se em nossa

pesquisa que 16,7% já haviam realizado uma TS, em contrapartida 37,5% dos não

comórbidos já haviam tentado suicídio. As porcentagens de TS são expressivas nos

dois grupos, porém se destaca na população não comórbida, talvez porque tal grupo

apresente Transtornos Mentais de extrema gravidade, considerando que se trata de

uma enfermaria psiquiátrica em Hospital Terciário.

Estudo norte americano analisou ideação e tentativa de suicídio em uma

amostra de 948 jovens provenientes de centros de tratamento de abuso de

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104

substâncias. Os adolescentes foram avaliados na admissão e a cada três meses por

um período de um ano. Trinta por cento dos jovens relataram ideação suicida em pelo

menos uma entrevista e 12% relataram tentativa de suicídio, taxas semelhantes a de

nosso estudo. Maiores descrições de sintomas de transtorno de conduta foram

associados com ideação e tentativa de suicídio, enquanto níveis mais elevados de

sintomas depressivos e o sexo feminino foram associados apenas com ideação

suicida(109).

Em relação ao uso de SPA, nos pacientes até 18 anos, em nosso estudo

constatou-se que 72,2% dos adolescentes fez uso de alguma SPA na vida, sendo as

substâncias de maior destaque a maconha (55,5%), álcool (44,4%), alucinógeno

(cogumelo, LSD ou ecstasy - 27,7%), cocaína (27,7%), cigarro de tabaco (27,7%) e

anabolizante (11,1%).

Entre jovens da população geral, tem-se que quase 600 mil adolescentes (4%

da população) já usou maconha pelo menos uma vez na vida. Quanto ao álcool, 26%

dos adolescentes da população geral já fez uso na vida. A respeito do uso na vida de

cocaína inalada, as taxas nesta população atingiram os 2% (316 mil jovens).

Aproximadamente 1% dos jovens (150 mil jovens) já usou cocaína fumada

(crack/merla e oxi) pelo menos uma vez na vida(108).

Pesquisa realizada com adolescentes escolares no estado do RS (n=147) teve

como objetivo traçar o perfil de consumo de SPA por estes jovens. Destacaram-se as

porcentagens de uso na vida de álcool por 54,4% dos indivíduos. Constatou-se ainda

um uso na vida de tabaco em 9,5% dos jovens; tranquilizantes 6,1%; anfetaminas

6,1%; anabolizantes 2,7%; maconha 2%; alucinógenos 0,7% e sedativos 0,7% (110).

Tais dados apontam que as taxas de uso na vida de todas as SPA citadas são

maiores que as da população geral, notadamente a porcentagem de alucinógenos que

foi bastante expressiva comparando com os achados da literatura, o que pode

demonstrar uma tendência de consumo desta droga na população estudada ou uma

maior associação desta droga com Transtornos Mentais.

Segundo o último Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (2012) na

adolescência os índices de dependência alcançaram 10% entre usuários, ou seja, 1

em cada 10 adolescentes que usa maconha é dependente(108). Em nosso estudo

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105

notou-se que quase a metade dos adolescentes analisados (44,4%) eram

dependentes atuais de SPA; com destaque para a dependência de maconha (38,8%).

Esta substância psicoativa é alvo de debates no atual cenário brasileiro que

discute a sua legalização. Tal assunto torna-se ainda mais relevante quando o

avaliamos frente à população adolescente, já que existe a possibilidade de aumento

do consumo desta substância, em uma fase da vida onde os efeitos são tanto mais

graves e mais duradouros do que em adultos(111).

Países como a Austrália onde existem estados com e sem descriminalização

do uso da maconha já tem dados apontando que a população adolescente iniciou o

uso mais precocemente em Estados com descriminalização levando a prejuízos

escolares e, a longo prazo, com menor desempenho no trabalho e obtenção de

ganhos salariais menores em comparação aos jovens dos estados onde a maconha

permanece criminalizada(112).

Teoricamente, os menores de idade não poderiam consumir a maconha com a

legalização, porém as drogas legalizadas como o álcool e o tabaco demonstram na

prática que a regulamentação existente é pouco efetiva. Por exemplo, ao mesmo

tempo em que a lei brasileira define como proibida a venda de bebidas alcoólicas para

menores de 18 anos (Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996), é prática comum o

consumo de álcool pelos jovens. A sociedade por um lado, condena o abuso de álcool

pelos jovens, mas é tipicamente permissiva ao estímulo do consumo por meio da

propaganda(113).

Estudo realizado em Porto Alegre/ RS com 80 adolescentes da segunda série

do Ensino Médio de Escola Estadual verificou, com base no relato dos jovens, que

todos já haviam ingerido algum tipo de bebida alcoólica. A maioria provou bebida

alcoólica entre 11 a 14 anos (52,5%), porém 10% afirmou que provou bebida alcoólica

antes dos dez anos. Outro dado alarmante é que a grande maioria comprou a sua

bebida alcoólica sem ter sido interrogado pelo vendedor, demonstrando a fragilidade

da legislação brasileira(114).

A respeito da comorbidade, quando foi realizada análise comparativa entre os

comórbidos (n=18) e não comórbidos (n=24) com idade inferior a 24 anos, notou-se

que o grupo comórbido tinha maiores porcentagens de antecedente de não adesão

ao tratamento e de antecedente familiar de uso de SPA, além de maior necessidade

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106

de medicação ACM durante a internação. Sobre este último dado, sua ocorrência

pode ter relação com maior gravidade clínica dos comórbidos ou com maior

dificuldade da equipe de saúde em lidar com as demandas do paciente que além do

Transtorno Mental apresenta dependência química.

Na revisão da literatura realizada não foram encontrados trabalhos que

comparassem indivíduos com e sem comorbidade com o Transtorno por uso de SPA

em adolescentes e adultos jovens internados em enfermaria psiquiátrica de Hospital

geral.

Notou-se em nosso estudo que o uso de SPA aparentemente antecedeu o

início do Transtorno Mental, o que pode sugerir que tal quadro possa ter sido

desencadeado por este uso. Estudo de base populacional realizado com uma amostra

de adolescentes noruegueses (N=9203), teve como objetivo investigar a associação

transversal entre o início do uso de álcool ou outras drogas e o surgimento de

Transtornos relacionados com o uso destas drogas, além do surgimento de outros

transtornos psiquiátricos. Foi constatado que o início do uso de álcool e drogas foi

associado com a ocorrência de sintomas de depressão, desatenção e hiperatividade.

O início do uso apenas de droga foi associado ao aumento de sintomas de ansiedade.

Transtornos relacionados ao uso de álcool e outras drogas, medidos pelo CRAFFT,

foram associados com sintomas de depressão, ansiedade, desatenção e

hiperatividade(115).

7.4 Dados qualitativos

O tema comorbidade entre Transtorno por uso de Substâncias e outros

Transtornos Mentais suscita muitos desafios em relação ao manejo do paciente e da

família, a qual tem papel fundamental no processo de tratamento. Para intervir com

eficácia, ou seja, promover adesão ao tratamento, cessar o uso de SPA e prevenir

recaídas se faz necessário compreender como o paciente e sua família percebem a

comorbidade.

Notou-se, no caso da visão dos pacientes comórbidos, uma média da nota de

4,5 (escala de 0 a 10), demonstrando uma baixa percepção do impacto do uso de SPA

sobre o Transtorno Mental. Umas das categorias de maior destaque foi a banalização

do uso da maconha, assim como a minimização do uso de álcool. A percepção de

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107

risco influencia o uso da droga em ambos, adultos e adolescentes, sendo que uma

baixa percepção de risco se relaciona com um padrão de uso mais intenso(116).

Estudo objetivou conhecer as atitudes e opiniões sobre o consumo de álcool,

tabaco e drogas, em estudantes do ensino secundário da cidade de Bragança. Os

resultados demonstraram que 6,2% dos inquiridos consomem regularmente bebidas

alcoólicas, 12,5% fumam habitualmente e 8,3% consomem drogas. Os não

consumidores apresentam uma maior percepção do risco associado ao consumo de

substâncias quando comparados aos alunos que fazem uso de SPA(117).

A percepção de risco foi explorada em uma amostra de usuários de substância

que estavam em tratamento para este transtorno. Em consonância com nossa

pesquisa, uma perspectiva importante entre os 31 (24 a 65 anos) participantes era de

que a maconha é significativamente diferente de outras drogas pois é segura, não

viciante, não associado com sintomas de abstinência, e tem efeitos comportamentais

menos evidentes do que outras substâncias. Muitos desses participantes embasaram

suas falas em suas próprias experiências consideradas inócuas com a maconha, mais

do que em informações de qualquer outra fonte. Uma narrativa contrastante, também

observada em nossa pesquisa enfatizou a capacidade da maconha causar

consequências sociais negativas, agir como uma “porta de entrada” para o uso de

outras substâncias, mais prejudiciais, causar paranóia e piorar a psicose(118).

Outro fator que influência na percepção de risco é a maneira como a sociedade

percebe o uso da SPA. Pesquisa brasileira analisou a associação entre propaganda

de álcool e o consumo de cerveja por estudantes de 7º e 8º anos de escolas públicas.

O consumo de cerveja nos últimos 30 dias esteve associado a ter uma marca preferida

de bebida alcoólica, achar que as festas que frequentam parecem com as de

comerciais, prestar muita atenção aos comerciais e acreditar que os comerciais falam

a verdade. Logo, as propagandas de bebidas alcoólicas associam-se positivamente

ao consumo recente de cerveja(119).

A percepção do potencial de dependência de substâncias psicoativas é

relevante, pois é um dos principais motivadores da procura de tratamento por pessoas

com este quadro clínico e a compreensão de seus significados constitui uma questão

relevante em saúde.

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108

É possível que os pacientes entrevistados tenham falado o que acreditavam

que o profissional queria ouvir adaptando suas falas ao entrevistador. Tal fato pode

ocorrer também na prática clínica caso o paciente sinta que pode ser repreendido ao

verbalizar certos conteúdos em relação ao seu uso de SPA. Deve se ficar atento à

ocorrência deste fenômeno pois pode prejudicar o vínculo e a adesão ao tratamento,

sendo preferível o dialógo franco com o paciente a respeito do seu uso de drogas.

Quanto às famílias, sabe-se da sua importância no âmbito da dependência

química e do impacto que sofrem neste contexto, afetando o funcionamento familiar.

A forma com que a família se relaciona e os papéis que cada indivíduo realiza sofrem

mudanças com o surgimento da dependência química, que se torna por vezes a

prioridade da família(120).

Estudo teve como objetivo investigar os transtornos psiquiátricos em um grupo

de mulheres (n= 56) residentes na periferia de São Paulo, que convivem com um

dependente químico em seus lares. Constatou-se que 23% apresentaram depressão

e 5% apresentaram transtorno de ansiedade, demonstrando o quanto o tratamento da

dependência química deve envolver os familiares(121).

Pesquisa realizada em um Hospital Psiquiátrico Público do Ceará analisou a

percepção dos familiares de um Grupo de Orientação Familiar em Dependência

Química. Constatou-se que as famílias que lidam com dependentes químicos sentem-

se envergonhadas e culpam tanto a si como aos outros pelo abuso de substâncias em

suas famílias. Observou-se que o que mais aflige os familiares é uma possível recaída

do dependente. Foi citado que esperavam do grupo “compreender, entender e

enxergar o dependente como um doente” e “adquirir habilidades para ajudar nas

recaídas”. Os principais sentimentos da família que convive com dependentes foram:

raiva, ressentimento, descrédito, dor, impotência, medo do futuro, desintegração,

solidão diante do resto da sociedade, culpa e vergonha pelo estado em que se

encontram(122), corroborando as categorias descritas em nosso estudo.

Em consonância com estes dados, Haskell et al entrevistaram 73 pacientes e

41 familiares de pacientes em um local de tratamento para Transtornos Mentais e

Transtorno por uso de SPA em Ontário (sobre seus objetivos no tratamento,

experiências positivas e negativas relacionados ao serviço de saúde e

recomendações para a melhoria dos sistemas de cuidados). Quanto aos familiares,

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109

estes buscavam entender melhor o Transtorno por uso de substâncias, adquirindo

conhecimento e ferramentas para lidar melhor com as recaídas e o tratamento.

Também gostariam que o serviço de saúde os ajudassem a se sentirem “normais”, ou

seja, a se sentirem como antes do TUS surgir ou ser como outros familiares que nunca

passaram por isso. Além desses aspectos, gostariam que seu familiar buscasse

melhora nos relacionamentos interpessoais, se afastando de pessoas que tiveram

uma influência negativa e conquistando relações mais saudáveis, particularmente com

membros da família(123).

Notou-se em nosso estudo a preocupação que seu familiar conseguisse

trabalhar, constituir família, ser alguém independente dos cuidados familiares. Assim

como constatou-se o receio dos familiares quanto aos relacionamentos interpessoais

que favorecem o uso de drogas, sendo que as familias almejam para seus parentes a

construção de vínculos mais saudáveis que favoreçam a abstinência.

Observa-se também em nosso estudo a necessidade de se entender melhor a

dependência química e como a comorbidade se interelaciona com o uso de SPA. As

famílias de pacientes comórbidos apresentam dificuldades em entender seu familiar

como portador de uma doença, com isso acabam tachando seu parante como

“vagabundo”, “sem vergonha”, culpabilizando-o por possíveis recaídas ou

descompensações do outro Transtorno Mental. O estigma a respeito da doença

mental pode levar o familiar a ter uma baixa tolerância com o paciente, conforme

estudado por Andrade et al, que avaliou os determinantes de readmissão hospitalar

em indivíduos portadores de psicose e transtorno bipolar. Andrade et al, concluiram

que o estigma da família em relação à doença mental pode contribuir para o aumento

na frequência de readmissões de seus familiares portadores de transtornos

psiquiátricos(124).

Em contrapartida, verificou-se a existência de uma minimização do uso de SPA

pelos familiares, fato este que tem o potencial de interferir negativamente no

tratamento, ainda mais se este familiar também faz uso de SPA. Outras pesquisas

demonstram que pacientes com usuários de drogas na família relatam maior uso de

SPA, assim como identificam o uso de drogas por familiares como fator preditivo deste

uso (125, 126).

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8. CONCLUSÕES

Os resultados apontam a magnitude do uso de SPA em portadores de

transtornos mentais graves e a importância dos transtornos mentais em pacientes

usuários de SPA. Observou-se taxas elevadas de uso na vida de SPA, com destaque

para o uso de maconha. A dependência esteve presente em um terço dos internados

(excluindo tabaco). Pacientes comórbidos se caracterizaram por serem jovens,

predominância de homens, com baixa escolaridade, solteiros, desempregados.

Verificou-se alta prevalência de antecedente familiar de uso de SPA entre os

pacientes comórbidos, assim como pior adesão ao tratamento em relação aos

pacientes sem a comorbidade.

Em relação aos jovens com Transtorno Mental, foi observada prevalência

elevada de uso na vida e de dependência de drogas. Na análise comparativa houve

maiores taxas de antecedente familiar de uso de drogas e pior adesão ao tratamento

entre os comórbidos. Em média, o uso de SPA antecedeu o transtorno mental. A co-

ocorrência de uso de SPA e outros transtornos mentais pode produzir impactos

negativos no prognóstico de adolescentes e jovens, tornando fundamental o papel dos

profissionais que lidam com esta faixa etária na sua detecção e abordagem.

Quanto à percepção do impacto do uso de SPA no transtorno, há uma diferença

na percepção de risco dos pacientes e familiares, sendo esta apontada como

importante pela maioria dos familiares e minimizada por boa parte dos pacinetes. A

compreensão pelo paciente sobre os prejuízos do uso de drogas no transtorno mental

são importantes e precisam ser abordadas no tratamento juntamente com a família.

A realização do diagnóstico da comorbidade possibilita o planejamento

adequado do tratamento, com foco na redução de recaídas e proporcionando melhora

no funcionamento social e familiar. Há escassez de dados qualitativos na literatura

sobre pacientes dependentes de drogas que apresentam comorbidade com outro

transtorno mental, bem como a respeito de seus familiares. Os estudos existentes

analisam indivíduos que apresentam somente dependência química, o que demonstra

a importância de se realizarem mais estudos sobre pacientes comórbidos e seus

desafios, notadamente do ponto de vista qualitativo, visando aprofundar a

compreensão e abordagem do tema.

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9. LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Houve perda de uma parcela da população (19,7%), devido ausência da

pesquisadora. Quando avaliamos os pacientes perdidos, observamos menor tempo

de internação (o que aumenta a chance de perda) e taxa inferior de uso de SPA, que

poderia ter contribuído com a comparação de dados.

A pesquisa foi realizada em enfermaria psiquiátrica de agudos não voltada para

internação de dependentes de SPA, como pode-se observar ao se constatar a

pequena porcentagem de pacientes que foram internados devido puramente à

dependência química (2,6%). Dessa maneira, a amostra de pacientes comórbidos não

foi expressiva o suficiente para a realização de outras comparações com o grupo de

pacientes que possuíam somente Transtorno Mental. Além disso, este grupo de

pacientes apresentou tendência a ter idade mais avançada e ser mais grave pois trata-

se de hospital terciário e único na região que realiza Eletroconvulsoterapia. Tais

limitações indicam cautela na extrapolação dos dados para populações de pacientes

com transtornos mentais menos graves.

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112

10. REFERÊNCIAS

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3. Laranjeira R, Madruga CS, Pinsky I, Caetano E, Mitsuhiro SS. II Levantamento

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UNIFESP; 2014.

4. Zaleski M, Laranjeira RR, Marques ACPR, Ratto L, Romano M, Alves HNP, et

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(ABEAD) para o diagnóstico e tratamento de comorbidades psiquiátricas e

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118. Faria R, Vendrame A, Silva R, Pinsky I. Propaganda de álcool e associação ao

consumo de cerveja por adolescentes. Revista de Saúde Pública.

2011;45(3):441-7.

119. Barnard M. Drug Addiction and Families. London, UK: Jessica Kingsley

Publishers; 2003.

120. Wilkinson ST, van Schalkwyk GI, Davidson L, D'Souza DC. The Formation of

Marijuana Risk Perception in a Population of Substance Abusing Patients.

Psychiatr Q. 2016;87(1):177-87.

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125

121. Aragão ATM, Milagres E, Figlie NB. Qualidade de vida e desesperança em

familiares de dependentes químicos. PsicoUSF. 2009;14(1):117-23.

122. Matos MTS, Pinto FJM, Jorge MSB. Grupo de orientação familiar em

dependência química: uma avaliação sob a percepção dos familiares

participantes. Rev Baiana de Saúde Pública. 2008;32(1):58-71.

123. Haskell R, Graham K, Bernards S, Flynn A, Wells S. Service user and family

member perspectives on services for mental health, substance use/addiction,

and violence: a qualitative study of their goals, experiences and

recommendations. International Journal of Mental Health Systems. 2016;10:9.

124. Loch AA. Stigma and higher rates of psychiatric re-hospitalization: São Paulo

public mental health system. Revista Brasileira de Psiquiatria. 2012;34:185-92.

125. Singh H, Mustapha N. Some factors associated with substance abuse among

secondary school students in Trinidad and Tobago. J Drug Educ. 1994;24(1):83-

93.

126. Nazar-Beutelspacher A, Tapia-Conyer R, A. V-R, León-Alvarez G, Medina-Mora

ME, Salvatierra-Izaba B. Factores asociados al consumo de drogas en

adolescentes de áreas urbanas de México. Salud Publica Mex. 1994;36(6):646-

54.

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126

11. ANEXO

11.1 Anexo I – Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa

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127

11.2 Anexo II - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) - Paciente

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

Fone: (19) 3521-8936

Projeto: Uso de Substâncias Psicoativas em pacientes portadores de transtornos mentais.

Responsáveis: Marjourie Dragoni de Arruda Biscaro e Profa. Dra. Renata C. S. Azevedo

Justificativa: o uso de drogas (bebidas alcoólicas, maconha, cocaína, entre outras) é frequente entre

pessoas com transtornos mentais. Quando acontece, é importante que seja detectado e abordado para

que o paciente tenha uma melhor resposta ao tratamento.

Objetivos da pesquisa: avaliar, entre os pacientes internados na Enfermaria de Psiquiatria da Unicamp

a taxa de uso ou dependência de drogas, colher dados sociodemográficos (idade, profissão, local de

moradia, entre outros) e clínicos (história da doença e de tratamentos).

Espera-se ampliar a compreensão sobre doenças mentais e uso de drogas e contribuir com

informações que auxiliem na assistência clínica a estes pacientes.

Para isto será realizada uma entrevista, com duração de 45 a 60 minutos na qual será perguntado:

motivo de internação, padrão de uso de drogas, histórico de tratamento e opinião do paciente sobre a

interferência do uso de drogas no transtorno mental. Serão usados questionários sobre o padrão de uso

de drogas na vida e nos últimos três meses, problemas relacionados ao uso e tentativas de parar ou

reduzir o uso.

Declaro ter sido informado de que estarei participando de um estudo, que tem por objetivo a

coleta de informações para pesquisa sobre o uso de drogas em pacientes portadores de transtornos

mentais. Estou ciente de que serei submetido(a) a uma entrevista e de perguntas através de questionários.

Os benefícios esperados são aqueles próprios aos resultados da pesquisa, podendo-se conhecer

mais sobre o tema pesquisado para que se possa investir em formas de tratamento e auxílio aos pacientes.

O desconforto refere-se ao tempo despendido na entrevista e o possível incômodo no relato de dados

durante a entrevista.

Compreendi que minha participação é voluntária e que terei, ao participar desta pesquisa,

garantia de que poderei não aceitar participar ou desistir a qualquer momento, inclusive sem nenhum

motivo, bastando para isso, informar minha decisão ao pesquisador.

Minha participação é voluntária e sem interesse financeiro, e minha recusa não implicará

prejuízo ao tratamento atual e futuro.

Toda a informação dada será codificada, mantida em sigilo e tratada da mesma maneira que um

registro médico. Poderei solicitar informações durante todas as fases da pesquisa, inclusive após a

publicação da mesma.

Como o meu anonimato será preservado por questões éticas, confirmo estar sendo informado

por escrito e verbalmente dos objetivos deste estudo científico e em caso de divulgação, autorizo a

publicação.

O/A Sr(a) receberá, ao final da entrevista, cópia deste consentimento livre e esclarecido.

Campinas,____de_________________2013.

Eu_____________________________________Idade:____ RG:________________UF:_____

________________________ ________________________________

Assinatura do participante Assinatura do pesquisador

Contato Pesquisador: Marjourie Dragoni de Arruda Biscaro:Tel: (19) 35217514 Ramal: 17514; e-

mail: [email protected]

Contato Comitê de ética: (19) 3521-8936

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128

11.3 Anexo III - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) –

Responsável Legal

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

Fone: (19) 3521-8936

Projeto: Uso de Substâncias Psicoativas em pacientes portadores de transtornos mentais.

Responsáveis: Marjourie Dragoni de Arruda Biscaro e Profa. Dra. Renata C. S. Azevedo

Justificativa: o uso de drogas (bebidas alcoólicas, maconha, cocaína, entre outras) é frequente entre

pessoas com transtornos mentais. Quando acontece, é importante que seja detectado e abordado para

que o paciente tenha uma melhor resposta ao tratamento.

Objetivos da pesquisa: avaliar, entre os pacientes internados na Enfermaria de Psiquiatria da Unicamp

a taxa de uso ou dependência de drogas, colher dados sociodemográficos (idade, profissão, local de

moradia, entre outros) e clínicos (história da doença e de tratamentos).

Espera-se ampliar a compreensão sobre doenças mentais e uso de drogas e contribuir com

informações que auxiliem na assistência clínica a estes pacientes.

Para isto será realizada uma entrevista, com duração de 45 a 60 minutos na qual será perguntado:

motivo de internação, padrão de uso de drogas, histórico de tratamento e opinião do paciente sobre a

interferência do uso de drogas no transtorno mental. Serão usados questionários sobre o padrão de uso

de drogas na vida e nos últimos três meses, problemas relacionados ao uso e tentativas de parar ou

reduzir o uso.

Eu, _____________________________________(nome), responsável pelo paciente

___________________(nome do paciente), atendido pela enfermaria de psiquiatria do HC-Unicamp, o

qual é menor de 18 anos ou maior de 18 anos, porém sem condições emocionais, intelectuais ou clínicas

mínimas para compreender a pesquisa, declaro ter sido informado de que meu parente estará

participando de um estudo, que tem por objetivo a coleta de informações para pesquisa sobre o uso de

drogas em pacientes portadores de transtornos mentais. Estou ciente de que o paciente será submetido(a)

a uma entrevista e de perguntas através de questionários.

Os benefícios esperados são aqueles próprios aos resultados da pesquisa, podendo-se conhecer

mais sobre o tema pesquisado para que se possa investir mais em formas de tratamento e auxílio aos

pacientes. O desconforto refere-se ao tempo despendido na entrevista e o possível incômodo no relato

de dados constrangedores durante a entrevista.

Compreendi que a participação de meu familiar é voluntária e que terei, ao participar desta

pesquisa, garantias de que poderei não aceitar participar ou desistir a qualquer momento, inclusive sem

nenhum motivo, bastando para isso, informar minha decisão ao pesquisador. Minha participação é

voluntária e sem interesse financeiro, e minha recusa não implicará prejuízo ao tratamento atual e futuro.

Toda a informação dada será codificada, mantida em sigilo e tratada da mesma maneira que um

registro médico. Poderei solicitar informações durante todas as fases da pesquisa, inclusive após a

publicação da mesma.

Como o meu anonimato será preservado por questões éticas, confirmo estar sendo informado

por escrito e verbalmente dos objetivos deste estudo científico e em caso de divulgação, autorizo a

publicação.

O/A Sr(a) receberá, ao final da entrevista, cópia deste consentimento livre e esclarecido.

Campinas,____de_________________2013.

Eu_____________________________Idade:____ RG:________________UF:_____

________________________ ________________________________

Assinatura do participante Assinatura do pesquisador

Contato Pesquisador: Marjourie Dragoni de Arruda Biscaro:Tel: (19) 35217514 Ramal:

17514; e-mail: [email protected] Comitê de ética:(19)3521-8936

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129

11.4 Anexo IV - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) – Familiar

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

Fone: (19) 3521-8936

Projeto: Uso de Substâncias Psicoativas em pacientes portadores de transtornos mentais.

Responsáveis: Marjourie Dragoni de Arruda Biscaro e Profa. Dra. Renata C. S. Azevedo

Justificativa: o uso de drogas (bebidas alcoólicas, maconha, cocaína, entre outras) é frequente entre

pessoas com transtornos mentais. Quando acontece, é importante que seja detectado e abordado para

que o paciente tenha uma melhor resposta ao tratamento.

Objetivos da pesquisa: avaliar, entre os pacientes internados na Enfermaria de Psiquiatria da Unicamp

a taxa de uso ou dependência de drogas, colher dados sociodemográficos (idade, profissão, local de

moradia, entre outros) e clínicos (história da doença e de tratamentos) com o paciente. Ampliar a

compreensão sobre a percepção do paciente e dos familiares sobre o impacto do uso de drogas sobre o

quadro psiquiátrico.

Espera-se ampliar a compreensão sobre doenças mentais e uso de drogas e contribuir com

informações que auxiliem na assistência clínica a estes pacientes.

Para isto será realizada um questionário, com duração de 20 minutos constituído por

informações que descrevem o tempo de convívio com o paciente, observação de comportamentos

diferentes do usual, quais as preocupações do familiar com o paciente. Questiona as qualidades do

paciente, percepções da família quanto à felicidade, adesão ao tratamento e interferência do uso de SPA,

caso ocorra, sobre o transtorno mental.

Declaro ter sido informado de que estarei participando de um estudo, que tem por objetivo a

coleta de informações para pesquisa sobre o uso de drogas em pacientes portadores de transtornos

mentais. Estou ciente de que serei submetido(a) a perguntas através de questionários.

Os benefícios esperados são aqueles próprios aos resultados da pesquisa, podendo-se conhecer

mais sobre o tema pesquisado para que se possa investir em formas de tratamento e auxílio aos pacientes.

O desconforto refere-se ao tempo despendido na entrevista e o possível incômodo no relato de dados

durante a entrevista.

Compreendi que minha participação é voluntária e que terei, ao participar desta pesquisa,

garantia de que poderei não aceitar participar ou desistir a qualquer momento, inclusive sem nenhum

motivo, bastando para isso, informar minha decisão ao pesquisador. Minha participação é voluntária e

sem interesse financeiro, e minha recusa não implicará prejuízo ao tratamento atual e futuro.

Toda a informação dada será codificada, mantida em sigilo e tratada da mesma maneira que um

registro médico. Poderei solicitar informações durante todas as fases da pesquisa, inclusive após a

publicação da mesma.

Como o meu anonimato será preservado por questões éticas, confirmo estar sendo informado

por escrito e verbalmente dos objetivos deste estudo científico e em caso de divulgação, autorizo a

publicação.

O/A Sr(a) receberá, ao final da entrevista, cópia deste consentimento livre e esclarecido.

Campinas,____de_________________2013.

Eu_____________________________________Idade:____ RG:________________UF:_____

________________________ ________________________________

Assinatura do participante Assinatura do pesquisador

Contato Pesquisador: Marjourie Dragoni de Arruda Biscaro:Tel: (19) 35217514 Ramal: 17514; e-

mail: [email protected]

Contato Comitê de ética: (19) 3521-8936

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130

Data da Entrevista: ___/___/______HC do Paciente: ________________________

Nome da/o Paciente:_______________________________________ Sexo: ( ) M ( ) F

Idade:____Situação conjugal: ( ) solteiro ( ) casado/união estável ( ) viúvo ( ) separado

Cor da pele: ( ) branca ( ) parda ( ) negra ( ) amarela

Profissão: _________________________Ocupação: ( ) do lar ( ) sem ocupação ( ) bicos

() ocupação regular ( ) aposentado (Se aposentado, motivo: ( ) por doença. ( ) por idade.

( ) Afastado por doença (apos./afast. há qto tempo: _____)

Escolaridade: _____Anos de escolaridade com sucesso: ________________________

Residência:( )Campinas(Bairro:________) Outra Cidade:__________________ Est:____

Endereço: ______________________________________________________________

Com quem reside atualmente: _____________________________________________

Religião: ____________________________Prática Religiosa: ( ) não pratica ( ) sim

Nível sócio-econômico. O paciente e/ou a família tem:

1. casa própria ( ) não ( ) sim node cômodos: __________

2. Carro próprio ( ) não ( ) sim

3. Computador ( ) não ( ) simtelefone não ( ) sim( )

Tempo de permanência em internação: ________dias

Dados da internação: HD: ________________________________________________________________________

Conduta: ____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________

________________________________________________________________________

Observações:_________________________________________________________________

___________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________

Antecedente familiar de uso de SPA e/ou outro transtorno mental:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

____________________________________________________________

Antecedentes Pessoais:

Uso de SPA/ tempo de

uso:__________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________

Outro Transtorno mental/ tempo de doença:

___________________________________________________________________________

História de tratamentos: __________________________________________________

Internações Psiquiátricas anteriores: ( ) nunca, ( ) sim (quantas: ______; em que anos:

______________________________________________________________________

11.5 Anexo V – Ficha de avaliação de pacientes internados

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131

Uso anterior de psicofármacos: ( ) nunca, ( ) sim; quais, doses, duração de uso, resposta (+)

ou (-):

___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________

Tratamentos Psicológicos (psicoterapia ou outros) anteriores: ( ) nunca ( ) sim

Outro tratamento_______________________________________________________

Tentativa de Suicídioanterior: ( ) nunca ( ) sim (quantas: __) Como foi:__________

___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________

Doenças físicas:__________________________________________________________

_______________________________________________________________________

Rede de apoio social: _____________________________________________________

_______________________________________________________________________

Dados relevantes da história de vida:_______________________________________

___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

_______________________________________________________

Exame Psíquico (dados positivos):__________________________________________

______________________________________________________________________

Personalidade:

______________________________________________________________________

Pontuar em uma escala dezero a dez a opinião do paciente sobre o impacto do uso de SPA

sobre seu quadro psiquiátrico, sendo que a nota 0 significa que o uso de SPA não possui

impacto sobre o Transtorno Mental e a nota 10 indica o maior impacto possível sobre o

quadro psiquiátrico:___________________________________________________________

Descreva o desejo/motivação de ser ajudado, tomar medicamentos, fazer psicoterapia.

___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________

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132

HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS:

___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________

TRATAMENTO:

Medicações Prescritas:

1.____________________________________________________________________

2.____________________________________________________________________

3.____________________________________________________________________

4.____________________________________________________________________

Observações complementares:______________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

________________________________________________________________

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11.6 Anexo VI–Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test

(ASSIST)

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135

11.7 Anexo VII -M.I.N.I.-Seção de dependência química

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140

11.8 Anexo VIII – Questionário para a família

Paciente tem aderido ao tratamento? ___________________________________________

Paciente tem feito uso de SPA?_________________________________________________

Pedir que o familiar pontue de 0 a 10 o impacto que o uso de SPA tem sobre o quadro psiquiátrico: _________

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11.9 Anexo IX- Comprovante de submissão do artigo

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12. APÊNDICE

12.1 Apêndice I - Frase de pacientes categorizadas

Minimização do uso de SPA

BFO (M, 18 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 2,5): “Usei LSD 1 vez. Dancei pra caramba.”

PHF (M, 20 anos, Transtorno Afetivo Bipolar, Nota: 8): “Quando eu bebia e fumava, aí

sim eu tumultuava, pegava um monte de mulher.”

LSS (M, 17 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco sem sintomas

psicóticos, Nota: 0): “Cada efeito que eu tenho é diferente, com a maconha fico meio

lesado, com o LSD você viaja, você sai fora. É isso que causa, não causa doença.”

DFS (M, 21 anos, Esquizofrenia, Nota: 0): “Já usei um pouco de tudo, a cocaína parei

sozinho porque machucava meu nariz, agora crack nunca usei, crack é fim de carreira.

Maconha é sossegada.”

BFO (M, 18 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 2,5): “Nota 2,5, se souber fumar não tem problema. Não acho que a

internação tem a ver com o uso da maconha. Na primeira vez que internei sim, tava

usando muito, tomando pinga, fumando narguilé, daí desencadeou o TAB.”

NS (M, 68 anos, Esquizofrenia, Nota: 0): “Nota 0, porque só bebo de vez em quando.”

RAN (M, 43 anos, Transtorno orgânico não especificado da personalidade e do

comportamento devido a doença cerebral, lesão e disfunção, Nota: 0): “Bebo como

todo mundo bebe, normal, nada demais.”

JYBS (M, 16 anos, Esquizofrenia, Nota 0): “A maconha me deixa leve, relaxado,

tranquilo, não sinto nada de ruim com ela. A cocaína é que é mais forte, mas ela eu

não usava direto.”

MFS (M, 17 anos, Esquizofrenia, Nota: 0): “A maconha deixa eu mais esperto,

detalhista, sem a maconha eu fico mais nervoso, agitado.”

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LSO (M, 19 anos, Transtorno Obsessivo Compulsivo, Nota: 3): “Droga mais light que

tem é essa (maconha) e eu usei pouco, por isso dou nota 3.”

BFO (M, 18 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 2,5): “Comecei a usar maconha há 5 anos, fui na represa nadar e

conheci. Me ajudou a ficar mais criativo, melhorou meu desempenho na escola, mas

daí comecei a usar insanamente e daí deu sequela, esquecia a palheta do violão. O

certo de usar é 1 por dia, fumar pouco, tipo um terço, só pra abrir um balãozinho, dar

idéia.”

RF (M, 23 anos, Transtorno afetivo bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 0): “Droga não, graças a Deus, mas bebida tudo bem, por mais que

você seja alcoólatra, porque todo mundo bebe.”

RAS (M, 22anos, Esquizofrenia, Nota: 0): “Minha nota é 0, acho que o que eu tive teve

mais a ver com tristeza, tanto que quando eu quero me afastar da droga eu consigo.”

AAS (M, 26 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: álcool – 0/ maconha e cafeína - 4): “Na republica todo mundo fuma

(maconha).”

RGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10): “Droga não é ruim, dá sensação

boa. Músico se envolve muito com droga.”

CBN (M, 16 anos, Depressão com sintomas psicóticos, Nota: 6): “Estou ruim por causa

dos remédios, pelo menos a maconha não deixava eu babando.”

Uso da SPA como “automedicação”

JPA (M, 24 anos, Esquizofrenia, Nota: maconha-7/ cocaína-10): “Parei de usar

maconha quando internei, não usei mais. Não pensava em parar antes de internar.

Usava para relaxar porque sou um pouco ansioso. No começo usava em grupo, depois

foi sozinho. Na minha cabeça sobrava mais para mim.”

ES (F, 44, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas psicóticos,

Nota: 0): “Uso maconha no máximo do estresse pra relaxar, não vejo nada de mal.

Minha mãe achava que minhas internações eram por causa da droga e revistavam a

casa enquanto eu estava internada.”

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ES (F, 44, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas psicóticos,

Nota: 0): “Uso akineton também para relaxar os nervos, acalmar.”

ES (F, 44, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas psicóticos,

Nota: 0): “Fico deprimida quando não uso, sinto um peso no corpo.”

ES (F, 44, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas psicóticos,

Nota: 0): “Minha nota é 0, só não posso exagerar na maconha, porque fico bem

demais.”

JLRM (M, 65 anos, Transtorno Depressivo Recorrente episódio atual grave sem

sintomas psicóticos, Nota: 0): “Eu tomava 4/5 doses de uísque 2x/semana no máximo,

quando eu estava angustiado, mas nos últimos meses bebia todo dia pra tirar a

angústia.”

AAS (M, 26 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: álcool – 0/ maconha e cafeína - 4): “Pretendo fazer um uso controlado

do cigarro e do café. Preciso de algo para controlar minha ansiedade, me sinto

estranho em sociedade.”

CENO (M, 27 anos, Outros Transtornos específicos da personalidade, Nota: 10): “Pra

não viver na depressão, bebe, depois volta depressão de novo, para não ficar nisso

penso: vou morrer logo.”

MG (F, 50 anos, Transtorno Depressivo Recorrente, Nota: 0): “Não acho que tenha

problema em tomar uma medicação a mais quando estou precisando.”

VVS (M, 29 anos, Esquizofrenia, Nota: 0):“Fumava 12 baseados por dia, se fosse pra

fumar hoje seria uns 2 baseados de manhã e 1 a noite pra dá sono. Nunca tentei

parar, como parar algo que eu gosto. Aqui na internação estou comendo normal, mas

não é aquela satisfação da maconha, aquela disposição, até a pele muda.”

NFA (F, 27 anos, Transtorno de personalidade com instabilidade emocional, Nota: 7):

“Eu usava maconha para me livrar dos efeitos adversos da cocaína.”

RGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10): “Comecei com a cocaína para

conseguir beber mais.”

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Impacto negativo do uso de SPA

VVS (M, 29 anos, Esquizofrenia, Nota: 0): “Comecei a usar maconha com 17 anos, se

tivesse sido com 9 ou 10 anos eu morria antes porque aí junta com outras drogas, se

eu tivesse usado mais cedo não estava aqui.”

VVS (M, 29 anos, Esquizofrenia, Nota: 0): “Sou contra o crack, mata, dá alucinação.

O cigarro tira a fome, tem mais de 2000 substâncias químicas. Há 10 anos não bebo

álcool por conta da musculação, atrapalha o exercício.”

PGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10): “Não tinha como eu conseguir

aguentar a vergonha de recair de novo, eu tava com muita vontade de beber e eu não

aguentava mais.”

DWS (M, 14 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual Maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 10): “Meus primos me disseram que eu ia ficar forte e que não pegava

nada de usar (anabolizante), não sabia que podia fazer mal.”

AAS (M, 26 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: álcool – 0/ maconha e cafeína - 4): “Agora percebi que tenho uma

doença, percebi que as drogas não são boas para o TAB (Transtorno Afetivo Bipolar).

Vou escolher tomar o remédio.”

AAS (M, 26 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: álcool – 0/ maconha e cafeína - 4): “A maconha me dá prazer mas

percebi que faz mal pra mim.”

RGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10): “Teve outra tentativa de suicídio

minha porque estava cansado do vício, me sentia dominado.”

RGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10): “Chegou uma hora em que eu

usava tanta cocaína que eu sentia que ia explodir, saia sangue do meu nariz, da boca.”

RGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10): “Dou nota 10, quando estou triste

quero usar, quando tô feliz quero usar.”

MSR (F, 35 anos, Esquizofrenia, Nota: 9): “Minha nota é 9, perdi muita coisa, muito

tempo, tempo que podia estar com meus filhos, vivendo melhor.”

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MSR (F, 35 anos, Esquizofrenia, Nota: 9): “Tava fora de controle, não tava mais me

dominando, era uma bola de neve.”

MBAX (M, 43 anos, Esquizofrenia, Nota: 10): “Nota 10, a bebida acabou com tudo.”

NFA (F, 27 anos, Transtorno de personalidade com instabilidade emocional, Nota: 7):

“Dou nota 7 porque ainda tenho recursos vitais preservados, consigo dominar algumas

vezes a minha vontade de usar, mas são 5 faculdades não concluídas, tô com um

salário inferior ao que a minha família recebe, então tenho prejuízos na vida.”

BFO (M, 18 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 2,5): “Crack jamais.”

CENO (M, 27 anos, Outros transtornos específicos da personalidade, Nota: 10): “Nota

10, o efeito muda o seu jeito de pensar, meu jeito de ser.”

FSX (M, 18 anos, Esquizofrenia, Nota: 10): “O que me levou a ficar internado foi a

maconha e eu não quero mais ficar internado, não vou usar mais.”

PHF (M, 20 anos, Transtorno Afetivo Bipolar, Nota: 8): “Eu não era assim, não era eu

que tava fazendo essas coisas, fumando maconha.”

LGSL (M, 17 anos, Transtorno de conduta não especificado, Nota: 5): “Minha mãe

sofria demais quando eu tava perto dela drogado. Eu chegava a chorar, mas sozinho

no quarto, porque na frente dela eu dava uma de machão.”

Pertencimento a um grupo

RB (M, 39 anos, Esquizofrenia, Nota: 6): “Bebia pra ficar legal com os outros na festa.”

Dificuldade de controle sobre o uso de SPA

EDS (M, 19 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 7): “Não vou mentir pra você (referindo-se à pesquisadora), tô com

muita vontade de fumar um baseado quando sair daqui.”

BFO (M, 18 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 2,5): “Já experimentei cocaína, mas se acelera é ruim. De vez em

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quando bebia um vinho junto com a maconha. Se usava em grupo daí eu usava

insanamente porque roda muito baseado.”

LGSL (M, 17 anos, Transtorno de conduta não especificado, Nota: 5): ”Nota 5, acho

que poderia acontecer coisa pior do que eu estar aqui (Unicamp). Já fui ameaçado

várias vezes. Ainda tenho vontade, mas não quero usar e não quero ir para casa

porque no bairro todo mundo usa.”

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12.2 Apêndice II - Frases de familiares categorizadas

Medo do futuro

PTN (M, 14 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 8) - MOPT, Mãe, F, 55, Nota: 10: “Me

preocupo de ele voltar de novo pras drogas, pros amigos, pra más companhias, só de

eu falar neles ele já fica nervoso.”

CENO (M, 27, Outros transtornos específicos da Personalidade, Nota: 10) - W.O., Pai,

54 anos, M, Nota: 8: “Me preocupo que tenha vida normal, case, viva a vida.”

RF (M, 23 anos, Transtorno afetivo bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 0) - LFF, Mãe, 51 anos, F, Nota: 7: “Medo de ele tentar beber, sair

de casa e não voltar mais, perder os sentidos.”

CBN (M, 16 anos, Depressão com sintomas psicóticos, Nota: 6) - RBAN, Mãe, 44

anos, F, Nota: 6: “ Me preocupo se a medicação tá certa, se a dose tá certa, como vai

ser depois que ele sair, se ele vai tomar.”

RAS (M, 22 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - RBS, Mãe, 43 anos, F, Nota: 10: “Minha

preocupação é que eu quero que ele estude, case, forme uma família.”

AAS (M, 26 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: álcool – 0/ maconha e cafeína - 4) - VAS, Imão, 26 anos, M, Nota: 7:

“Me preocupo se ele vai tomar o remédio, se vai conseguir terminar a faculdade, pq

ele tem muitas faltas, se vai acompanhar com a psicologa e com coisas básicas como

se ele vai se cuidar, se manter sem drogas.”

RGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10) - RMF, Mãe, 65 anos, F, Nota: 8:

“Tenho bastante medo de ele voltar a usar. A pior coisa foi ele ter se envolvido com

cocaína após a separação. Tenho medo de ele ficar deprimido e voltar a usar. O filho

dele quer morar com ele e me preocupo que o Ricardo esteja bem para cuidar dele.”

MFS (M, 17 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - JQFS, Mãe, 35 anos, F, Nota: 10: “Medo

de ele não voltar a ser o que era, medo da memória dele não ser mais a mesma. Acho

que se a memória dele voltar, acho que ele não vai voltar a usar droga. Vou diminuir

o dia de trabalho para dar mais atenção para ele.”

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LSO (M, 19 anos, Transtorno Obsessivo Compulsivo, Nota: 3) - REJS, Mãe, 37 anos,

F, Nota: 10 : “Me preocupo com o futuro, com ele sobreviver, de ele ficar dependendo

a vida toda, da fobia de pessoas porque ele se tranca, não interage, não tem como

trabalhar.”

BFO (M, 18 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 2,5) - JON, Pai adotivo, 55anos, M, Nota: 10: “Ver ele desse jeito,

porque ele não é desse jeito, me preocupo com o futuro dele.”

Impacto do uso de drogas

LGSL (M, 17 anos, Transtorno de conduta não especificado, Nota: 5) - ES, Mãe,

37anos, F, Nota: 8: “Achei que estragou muito a vida dele, muito mesmo. Afetou muito

a vida dele, deixa a pessoa desagradável.”

CENO (M, 27, Outros transtornos específicos da Personalidade, Nota: 10) - W.O., Pai,

54 anos, M, Nota: 8: “Todo mundo vive de sonhos, acabou os sonhos, acabou a vida.”

DFS (M, 21 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - RSF, Mãe, 47 anos, F, Nota: 10: “Nota 10,

afetou 100, 200, acabou, 10 é pouco.”

MFS (M, 17 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - JQFS, Mãe, 35 anos, F, Nota: 10: “Nota

10, prejudicou totalmente esse uso de droga, ele era inteligente, esperto.”

NS (M, 68 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - MASS, Esposa, 64 anos, F, Nota: 10: “Nota

10, ele não percebe que tem um problema.”

NS (M, 68 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - MASS, Esposa, 64 anos, F, Nota: 10: “Minha

preocupação é de se um dia ele vai notar que ele não fica sem beber.”

PHF (M, 20, Transtorno Afetivo Bipolar, Nota: 8) - NBS, Tia, 54 anos, F, Nota: 8: “Fala

que não vai mais usar essa porcaria. Ele já chegou a largar numa epoca que jogava

bola, ficou 4 meses sem, sem tratamento nenhum, só com a auto-estima da bola.”

PHF (M, 20, Transtorno Afetivo Bipolar, Nota: 8) - NBS, Tia, 54 anos, F, Nota: 8: “Aos

16 anos comecou usar maconha todo dia, aos 18 anos parou por 4 meses. Em janeiro

de 2014 ficou 1 mês sem usar pelo teste de Portugal, quando voltou em fevereiro foi

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desembestado porque ficou com problema na virilha e daí ficou mais em casa.

Fumava uns 2 baseados por hora, apagava um e já acendia outro.”

JPA (M, 24, Esquizofrenia, Nota: maconha-7/ cocaína-10) - RPA, Mãe, 43 anos, F,

Nota: 9: “Nota 9, 99,9% acho que foi a maconha, porque depois que usou a maconha

ficou assim. Digo 99,9% porque acho que ele é muito quieto, achava estranho, jovem

não gostar de sair, de fazer as coisas. Ele me dizia que era por causa da fala.”

BFO (M, 18 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 2,5) - JON, Pai adotivo, 55 anos, M, Nota: 10: “Não sei o que é o

efeito da droga porque nunca usei, só sei o da bebida, Mas tenho certeza que tem a

ver. Se ele não usasse ele não estava aqui. Nota 10, porque ele estava muito bem,

numa fase excelente, tomando o remédio. Mas ele focava que não fazia mal a

maconha e sim o crack, cocaína. Se usasse uma vez ou outra va lá, mas todo dia.”

PHF (M, 20, Transtorno Afetivo Bipolar, Nota: 8) - NBS, Tia, 54 anos, F, Nota: 8: “Ele

falava já pra mim que a maconha não dava brisa e eu dizia que isso já era um sinal

para ele parar, porque agora ele ia acabar indo para drogas mais pesadas.”

PHF (M, 20, Transtorno Afetivo Bipolar, Nota: 8 - NBS, Tia, 54 anos, F, Nota: 8: “Acho

que nota 8 porque ele ainda tem o futebol. Por exemplo, porque quando ele parou

com a cocaína foi por medo de ser pego no dopping. Aqui ele ainda fala desse sonho

de ser jogador.”

LSO (M, 19 anos, Transtorno Obsessivo Compulsivo, Nota: 3) - REJS, Mãe, 37 anos,

F, Nota: 10):“Acho que é nota 10, desecadeou tudo isso.”

NFA (F, 27 anos, Transtorno de personalidade com instabilidade emocional, Nota: 7)

- MDN, Tia, 57 anos, F, Nota: 7: “Tenho muitas preocupações, ela se detona muito,

é muito ansiosa, fico preocupada de ela não se encontar, buscar coisas muito faceis.

Recebe o dinheiro e gasta tudo. Me preocupo com o uso dela de cocaína porque ela

usa tudo que tem, não é pra barato, tanto que ela usa sozinha.”

PGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10) - DF, Mãe, 54 anos, F, Nota: 10:

“O impacto tem nota 10, tanto quando alcoolizado quanto quando tá com vontade de

usar.”

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DWS (M, 14 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual Maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 10) - PS, Pai, 45 anos, M, Nota: 10: “Quero que ele termine a escola,

pare de usar o anabolizante, quero que ele aprenda que pode ir na academia sem

usar essas coisas.”

RGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10) - RMF, Mãe, 65 anos, F, Nota: 8:

“Nota 8 porque precisa de determinação grande para não usar. Ele encontrou um cara

que vendia ontem, só não comprou porque ele parou de vender.”

MSR (F, 35 anos, Esquizofrenia, Nota: 9) - VFLR, Mãe, 59 anos, F, Nota: 10: “Nota

10, porque ela mesmo fala que não consegue ficar sem, quer parar e não

consegue.Dá dó das crianças, eles amam ela.”

MBAX (M, 43 anos, Esquizofrenia, Nota: 10) - RCSX, Esposa, 38 anos, F, Nota: 10:

“Nota 10, foi a bebida que deixou ele assim, ouvindo vozes. Quando ele não bebia,

ele era uma ótima pessoa, trabalhador. Quando viemos do Ceara, conquistamos tudo

junto.”

Busca por um culpado/ explicação:

PTN (M, 14 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 8) - MOPT, Mãe, F, 55, Nota: 10:

“Amável, educado, outra pessoa quando fora de casa. Em casa, não posso dar

conselho que ele não aceita. Tá indo mais pelos amigos.”

FSX (M, 18 anos, Esquizofrenia, Nota: 10) - RCS, Mãe, 39 anos, F, Nota: 10:

“Trabalhar, ter o dinheiro dele, não voltar a ter as mesmas amizades.”

JLRM (M, 65 anos, Transtorno Depressivo Recorrente episódio atual grave sem

sintomas psicóticos, Nota: 0) - ACNM, Filha, 35 anos, F, Nota: 8: “Ele é muito presente

como pai, era mais mãe do que pai, muito presente, cuidadoso, era o norte da família.

Ficou orfão de pai muito cedo e ficou cuidador do mundo e se deixou de lado.”

FMF (M, 22, Esquizofrenia, Nota: 0) - IMF, Mãe adotiva, 62 anos, F, Nota: 10:“Me

preocupo com más companhias, pq se tirar essas pessoas ele vai longe, porque é

inteligente, todo mundo elogia ele.”

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LSS (M, 17 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco sem sintomas

psicóticos, Nota: 0) - AFS, Pai, 55 anos, M, Nota: maconha-6/ cocaína- 8: “Fico

preocupado de sair da escola, preocupação de com quem anda.”

FAS (M, 16 anos, Esquizofrenia, Nota: 10) - JSS, Pai, 42 anos, M, Nota:10: “A mãe

dele já se envolveu com traficante, desestruturou a familia. A mãe faz 7 meses que

não liga para o filho.”

JLRM (M, 65 anos, Transtorno Depressivo Recorrente episódio atual grave sem

sintomas psicóticos, Nota: 0) - ACNM, Filha, 35 anos, F, Nota: 8: “Acho que ele está

meio apavorado de ter que encarar a vida dele, terminar o relacionamento destrutivo

(referindo-se a um relacionamento amoroso) dele.”

DFS (M, 21 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - RSF, Mãe, 47 anos, F, Nota: 10 : “Ele era

muito calado, não contava nada para ninguém, não conversava comigo, não conhecia

os amigos dele, daí eu (mãe) ficava no pé dele, mas daí ele ia com o pai que deixava

ele mais solto. Agora que ele tá pior ele começou a querer ficar comigo.”

DFS (M, 21 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - RSF, Mãe, 47 anos, F, Nota: 10: “Ele fica

me condenando de estar aqui.”

BFO (M, 18 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 2,5) - JON, Pai adotivo, 55 anos, M, Nota: 10: “Carinhoso, ele não é

obediente mas não faz por mal, talvez porque não demos limite para ele. Não é

maldoso, gosta dos animais, dos bichos.”

BFO (M, 18 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 2,5) - JON, Pai adotivo, 55 anos, M, Nota: 10: “Parar de falar essas

besteiras, parar de usar maconha. Falamos com o médico dele para tentar mudar a

cabeça dele. Estamos conversando com os amigos dele para não usar na frente dele,

falar que parou. Explicamos para ele tomar remédio.”

JCF (M, 58 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual depressivo, Nota: 5) - RCS,

Prima, 43 anos, F, Nota: 5: “Acho que é nota 0. Quando ele me contou ele falou : “seu

primo depois de velho quis usar drogas”. Mas ele estava ótimo nessa epóca. Tava no

normal dele, ele é arrogante, odeia coisa de pobre. Tava no normal dele. O impacto é

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quem apresentou a droga, o T. Bem coisa de adolescente esse uso dele, meio que

para ser aceito.”

JPA (M, 24, Esquizofrenia, Nota: maconha-7/ cocaína-10) - RPA, Mãe, 43 anos, F,

Nota: 9): “Voltou a usar maconha faz 1 mês, estava bem e por algum problema no

trabalho foi atrás da maconha. Estava usando todo dia, parou de comer, colocava

defeito nas coisas.”

Compreensão sobre a patologia

VVS (M, 29 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - JCOS, Cônjugue, 31 anos, F, Nota:

maconha-9/ mesclado-10/ anabolizante- 7: “Quero muito que ele aceite que está

doente, ele diz que veio pra internação porque discutiu comigo e com a mãe. Diz que

quando quiser parar de fumar (maconha) ele para. Acho que não vai aderir.”

VVS (M, 29 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - JCOS, Cônjugue, 31 anos, F, Nota:

maconha-9/ mesclado-10/ anabolizante- 7: “Ele não está bem, não aceita que está

doente, está revoltado, ele já não saía de dentro de casa, era da casa para a biqueira

e da biqueira para casa.”

RGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10) - RMF, Mãe, 65 anos, F, Nota: 8:

“Ele tem altos e baixos, como ele é bipolar tem períodos que está no alto, períodos

que está no baixo. Antes de internar, por fora ele parecia muito bem, levei até um

susto, porque ele estava namorando firme, não demonstrava estar ruim. A única coisa

é que antes ele ficou 2 dias muito triste, só dormia, não conversava.”

RGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10) - RMF, Mãe, 65 anos, F, Nota: 8:

“Sinto que a droga mexeu muito com o cérebro dele, ele luta muito para não entrar

nessa.”

MSR (F, 35 anos, Esquizofrenia, Nota: 9) - VFLR, Mãe, 59 anos, F, Nota:10: “Tava

com todas as medicações, mas acho que não toma direito, antes eu dava, mas agora

ela não quer que eu vá dar. Acho que se toma direito tem mais efeito.”

FAS (M, 16 anos, Esquizofrenia, Nota: 10) - JSS, Pai, 42 anos, M, Nota: 10: “Está

aceitando mais ficar aqui agora, está aceitando a doença dele.”

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DWS (M, 14 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual Maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 10) - PS, Pai, 45 anos, M, Nota: 10: “Que ele tome os remédios

corretamente. Não volte a tomar o anabolizante, que ele vá a academia nauralmente.”

AAS (M, 26 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: álcool – 0/ maconha e cafeína - 4) - VAS, Imão, 26 anos, M, Nota: 7:

“Dou nota 7 porque acho que os 3 restantes vem da carga genética.”

LSO (M, 19 anos, Transtorno Obsessivo Compulsivo, Nota: 3) - REJS, Mãe, 37 anos,

F, Nota: 10): “Há anos está ruim, ele bate o pé, dá voltas, vários rituais que com a

medicação não tem melhora então trouxemos pra tentar investigar, acertar o remédio.”

LSO (M, 19 anos, Transtorno Obsessivo Compulsivo, Nota: 3) - REJS, Mãe, 37 anos,

F, Nota: 10): “Ele aceitar mais o tratamento e se esforçar mais para melhorar.”

RR ( M, 36 anos, Esquizofrenia, Nota: 10) - EAR, Mãe, 57 anos, F, Nota: 10: “Não é

só ele que fica doente, a família também fica.”

RF (M, 23 anos, Transtorno afetivo bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 0) - LFF, Mãe, 51 anos, F, Nota: 7: “Passar com psicólogo, ter

acompanhamento médico, tomar remédio, não fazer o que ele fez.”

Medo de violência

VVS (M, 29 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - JCOS, Cônjugue, 31 anos, F, Nota:

maconha-9/ mesclado-10/ anabolizante- 7: “Me preocupo com as alucinaçãoes, com

o uso do mesclado. Ele me disse que vai voltar a usar quando sair daqui, que vai atrás

do pessoal da firma. Tenho medo que faça algo contra alguém ou contra ele.”

MSR (F, 35 anos, Esquizofrenia, Nota: 9) - VFLR, Mãe, 59 anos, F, Nota: 10): “Me

preocupo de ela ficar andando a noite na rua sozinha, de acontecer alguma coisa,

alguém matar ela por não ter pagado ou fazer alguma coisa com a familia.”

MBAX (M, 43 anos, Esquizofrenia, Nota: 10) - RCSX, Esposa, 38 anos, F, Nota: 10:

“Medo de ele estar ouvindo muitas vozes, de ele fazer algo com ele.”

FMF (M, 22, Esquizofrenia, Nota: 0) - IMF, Mãe adotiva, 62 anos, F, Nota 10: “Ele

quebrou muita coisa em casa, às 2:30 falou que tava cheirando fumaça e que a casa

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ia pegar fogo, daí como dissemos que não tava, ele ficou agressivo, tentou arrombar

a porta. Uns 7 dias antes pegou birra da irmã falando que ela tava fumando a maconha

dele. Chamamos um colega da familia de madrugada para nos socorrer porque ele

tem muita força. Saiu batendo porta, xingando e demorou para voltar.”

JYBS (M, 16 anos, Esquizofrenia, Nota 0) - MLLS, Mãe, 37 anos, F, Nota:0: “Me

preocupo com o surto que ele tem, de possibilidade de ele se machucar ou machucar

alguém.”

NFA (F, 27 anos, Transtorno de personalidade com instabilidade emocional, Nota: 7)

- MDN, Tia, 57 anos, F, Nota: 7: “Nota 7, porque acho que parte não é da droga, me

assusta esses picos violentos.”

RAN (M,43 anos, Transtorno não especificado da Personalidade, Nota: 0) - RAN,

Esposa, 44 anos, F, Nota: 4: “De como ele vai ficar em casa, tá todo mundo

apreensivo, elas (filhas) tem medo do pai.”

JPA (M, 24, Esquizofrenia, Nota: maconha-7/ cocaína-10) - RPA, Mãe, 43 anos, F,

Nota: 9: “Minha preocupação é de ele fazer mal para os outros, de ele ficar triste,

angustiado, de ele não conseguir ser feliz.”

Minimização do uso de SPA:

RF (M, 23 anos, Transtorno afetivo bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 0) - LFF, Mãe, 51 anos, F, Nota: 7: “Ele bebeu porque falou que tinha

algo pegando no peito dele e ele bebia para relaxar, sentava no sofá e dava risada e

dormia, não ficava agressivo. Só ficou alterado quando escondia a vodca dele.”

DFS (M, 21 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - RSF, Mãe, 47 anos, F, Nota: 10: “Ele

trabalha na biqueira desde os 13 anos, morava por lá, aparecia quando queria. Tava

gordo, tinha dinheiro, roupa, tenis bonito, ia pra puteiro, festa rave.”

RAN (M,43 anos, Transtorno não especificado da Personalidade, Nota: 0) - RAN,

Esposa, 44 anos, F, Nota: 4: “Nota 4, porque acho que não interferia tanto porque eu

já sabia lidar com isso e ele nunca foi violento, nunca com violência como agora. E

não era de ir no bar, tomava no sofá assistindo TV.”

Percepção dos sintomas psiquiátricos:

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RAS (M, 22anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - RBS, Mãe, 43 anos, F, Nota: 10: “Há 6

meses ele parou com tudo, com as amizades, de interagir, saiu do trabalho, mas de 1

mês pra cá piorou, ele ficou muito isolado, só no quarto e ficou agressivo com a gente.”

MFS (M, 17 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - JQFS, Mãe, 35 anos, F, Nota: 10 :“Ele tá

melhor, mas não esqueceu essas coisas que não existem.”

MFS (M, 17 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - JQFS, Mãe, 35 anos, F, Nota: 10 : “Acho

que ajuda se falar que essas coisas não existem, que ele não é tatuador, que não tem

filhos.”

JLRM (M, 65 anos, Transtorno Depressivo Recorrente episódio atual grave sem

sintomas psicóticos, Nota: 0) - ACNM, Filha, 35 anos, F, Nota: 8: “Há 1 ano ele vinha

diferente, não era um beber saudavel, porque ele não bebia com amigos, era quando

ele estava mal, angustiado.”

CBN (M, 16 anos, Depressão com sintomas psicóticos, Nota: 6) - RBAN, Mãe, 44

anos, F, Nota: 6: “Há mais ou menos 2 anos ele está diferente na escola,

principalmente, e em casa. Na escola começou a ficar indisciplinado, começaram a

chamar eu na escola, dormia na aula, desrespeitoso com os professores, andando

com má companhia. Em casa tinha vez que ficava eufórico e vez que ficava quieto,

estava com pouca paciência.”

RB (M, 39 anos, Esquizofrenia, Nota: 6) - RB, Irmão, 29 anos, M, Nota:8 : “Há uns 3

meses ele está com aquela mania de perseguição, triste, angustiado.”

VVS (M, 29 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - JCOS, Cônjugue, 31 anos, F, Nota:

maconha-9/ mesclado-10/ anabolizante- 7: “Há 4 meses ele vem mudando o

comportamento, está mais agressivo. Em junho achei 15 tubos vazios e ele disse que

não era dele, depois achei mais 3, ele estava mentindo. Percebi que o cheiro da

maconha não era mais o mesmo, tinha crack junto, daí começou a falar sozinho, que

queriam matar ele, que a empresa que trabalhava era dele, falava que sua mãe não

era sua mãe.”

PGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10) - DF, Mãe, 54 anos, F, Nota: 10:

“Ele estava há mais ou menos 3 semanas muito ansioso, ligava muito para mim,

fumava muito, tomava muita coca (8L), não sentava.”

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DWS (M, 14 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual Maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 10) - PS, Pai, 45 anos, M, Nota: 10: “ Há 1 mês vem descontrolado,

fala rápido, não dorme, fala que é rapper.”

RGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10) - RMF, Mãe, 65 anos, F, Nota: 8:

“Ele está estável. Há 2 dias estava muito eufórico, agitado, não dormiu.Penso que

com esta experiência que ele teve (fez uma TS grave com medicamentos), ele sabe

que se tentar se matar ele não vai morrer; vai morrer quando Deus permitir. Agora ele

não quer mais internação, quer superar.”

MSR (F, 35 anos, Esquizofrenia, Nota: 9) - VFLR, Mãe, 59 anos, F, Nota: 10: “Estava

com comportamento bem diferente. Quando tá fissurada, ele pega coisas de casa, do

filho, minhas para comprar drogas. Comprei um X-Box para o maior e ele tá com medo

de ir pra escola e ela vender. Escuta voz, não dorme a noite.”

MBAX (M, 43 anos, Esquizofrenia, Nota: 10) - RCSX, Esposa, 38 anos, F, Nota: 10:

“Só queria saber de ficar na rua, dizia que queriam matar ele, não queria ficar em

casa.”

JYBS (M, 16 anos, Esquizofrenia, Nota 0) - MLLS, Mãe, 37 anos, F, Nota: 0: “Há 3

semanas o Y. começou a ficar hostil, impaciente. Não aceitava não como resposta,

não dormia, não comia. Falava que eu fiz macumba contra ele.”

MFS (M, 17 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - JQFS, Mãe, 35 anos, F, Nota: 10 “Às vezes

a gente não quer aceitar, a gente desmorona quando acontece algo assim na família.

Nunca tinha visto algo assim, perdeu totalmente o sentido, diz que tem filhos, que o

pai tá vivo. Há 6 meses estava diferente, ele era caseiro, fazia comida. Há 6 meses

parou de estudar, não queria fazer nada. Há 15 dias passou a falar coisas sem sentido,

bateu na irmã.”

LSS (M, 17 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco sem sintomas

psicóticos, Nota: 0) - AFS, Pai, 55 anos, M, Nota: maconha-6/ cocaína- 8:

“Comportamento alterado há 8 dias, depois do carnaval e da morte do amigo,

começou a ficar com a fala acelerada, fugiu de casa, com brigas na rua, ameaçando

se vingar com arma.”

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MBAX (M, 43 anos, Esquizofrenia, Nota: 10) - RCSX, Esposa, 38 anos, F, Nota: 10:

“Acho que ele está bem, parece não estar ouvindo mais vozes.”

FAS (M, 16 anos, Esquizofrenia, Nota: 10) - JSS, Pai, 42 anos, M, Nota: 10: “Entre o

hórario em que ele trabalhava no mercado e a hora da escola ele ficava ocioso. Na

hora que eu chegava a noite do trabalho não notava (que ele tinha feito uso de

drogas). No trabalho notaram diferença, disseram que ele estava estranho, falando

sozinho, me chamaram lá em dezembro. Pedi licença do meu trabalho para ficar com

ele 15 dias, busquei ajuda. Fomos ao CRDQ (Centro de Referência em Dependência

Química). E agora tô aqui com ele na internação. Já estou agora há 25 dias parada

para ele não ir na boca, mas mesmo assim eles fogem.”

NFA (F, 27 anos, Transtorno de personalidade com instabilidade emocional, Nota: 7)

- MDN, Tia, 57 anos, F, Nota: 7: “Ela mora comigo (tia materna) desde julho, antes

ele morava em SP e eu não sabia que ainda estava usando (drogas). Começou bem,

mas em novembro já achei ela mais esquiva, ansiosa, tava bebendo muito. Um dia

ela não esperava que eu tava acordada e vi que ela estava estranha, persecutória.

Ela tentou disfarçar, pressionei e ela falou que cheirou (cocaína). Dois dias depois,

estava trabalhando e a faxineira me ligou falando que ela tava fechando tudo em casa,

portas, janelas. Levei na PUC e ela tentou cheirar na frente do médico. Fiquei muito

preocupada, chamei a mãe dela, o namorado que usa cocaína também e é ex usuário

de crack. O namorado deu apoio, a mãe tem um relacionamento simbiotico e explosivo

com ela. Fui ao psiquiatra e ele achou melhor internar e ficamos aguardando a vaga.

Ela sabia que ia ser internada mas não fugiu de casa, ficou aguardando.”

BFO (M, 18 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 2,5) - JON, Pai adotivo, 55 anos, M, Nota: 10: “Há 1 semana notamos

diferença, não dormia, pulou o muro para sair de casa, ligamos para guarda,

localizaram ele, foi para casa, conseguiu dormir. No dia seguinte dissemos que tinha

consulta e trouxemos aqui.”

JCF (M, 58 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual depressivo, Nota: 5) - RCS,

Prima, 43 anos, F, Nota: 5: “Há 2 meses percebi que tinha que internar, foi na epóca

que o T. (namorado) começou a se distanciar dele, ele era um ponto de referência

para ele, um porto seguro, uma pessoa mais disponível para ele. Ele é gay também,

foi uma das primeiras pessoas iguais a ele. Ele é de familia rica e o J. gosta desse

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glamour. O T. usa droga e joga e pegou o dinheiro do J. no cartão de crédito. Ele está

chateado. A gente marcava de almoçar e ele na hora falava que não ia. Ele deixa a

gente na sala e vai deitar quando vamos visita-lo.”

JPA (M, 24, Esquizofrenia, Nota: maconha-7/ cocaína-10) - RPA, Mãe, 43 anos, F,

Nota: 9: “Vinha alterado há uns 15 dias, não faltou 1 dia no trabalho, mas não escutava

a gente. Achava que eu tinha cuspido no prato dele, achava que eu tava olhando muito

para ele, tava com medo de alguem mexer com a família dele.”

Esperança no tratamento:

EDS (M, 19 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 7) - JAS, Pai, 50 anos, M, Nota: 10:“Antes da internação tinha parado

os remédios, não vinha nas consultas.”

DFS (M, 21 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - RSF, Mãe, 47 anos, F, Nota: 10 :“Eu catava

remédio do meu marido e punha escondido na comida dele, era ácido valpróico,

quetiapina, diazepam, rivotril, haldol, mas não dava certo, a droga era muito forte.”

FSX (M, 18 anos, Esquizofrenia, Nota: 10) - RCS, Mãe, 39 anos, F, Nota: 10: “Tenho

medo de ele voltar a usar, vou falar para o médico aumentar a dose da injeção, porque

ele não tem tomado o remédio.”

NS (M, 68 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - MASS, Esposa, 64 anos, F, Nota: 10: “Há 3

anos começou, tentava levar para fazer exame e ele não ia. Fiquei com medo de ser

algo na cabeça.”

EDS (M, 19 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 7) - JAS, Pai, 50 anos, M, Nota: 10: “Espero que ele siga o

tratamento, pare com as drogas e se aceite.”

RB (M, 39 anos, Esquizofrenia, Nota: 6) - RB, Irmão, 29 anos, M, Nota:8 : “A ajuda da

família, o tratamento (se referindo ao que pode contribuir para q o paciente seja mais

feliz).”

PGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10) - DF, Mãe, 54 anos, F, Nota: 10:

“O que pode contribuir pra sua melhora é Deus, a clínica (Reclin), o tratamento.”

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FMF (M, 22, Esquizofrenia, Nota: 0) - IMF, Mãe adotiva, 62 anos, F: “Ele tá melhor,

mas ainda não tá no juízo dele. Antes de internar ele falou que não vai parar de usar

maconha, pensamos em arrumar para ele uma clínica de reabilitação.”

FMF (M, 22, Esquizofrenia, Nota: 0) - IMF, Mãe adotiva, 62 anos, F: “Para continuar

bem, deve ir para uma clínica, porque ele já falou e estamos preocupados.”

DFS (M, 21 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - RSF, Mãe, 47 anos, F, Nota: 10: “Minha

preocupação é ele sair daqui, voltar pra minha casa e ir para biqueira de novo. Quero

que ele vá para uma clínica de reabilitação. Não criei filho pra isso não, ainda bem

que arrumei a Unicamp para cuidar dele.”

DFS (M, 21 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - RSF, Mãe, 47 anos, F, Nota: 10: “Tá ótimo,

graças a Deus. Não é todo mundo que quer abraçar esse problema. Só a Unicamp

que pega, amarra e cuida. Nem o SAMU quer saber. Tem que ter um jeito no Brasil,

porque não aparece um para ajudar e a policia vem ainda para bater.”

DFS (M, 21 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - RSF, Mãe, 47 anos, F, Nota: 10 :“O que

ajuda e ele sair daqui e ir para outra clínica porque ele tá doidinho para usar.”

CENO (M, 27, Outros transtornos específicos da Personalidade, Nota: 10) - W.O.,

Pai, 54 anos, M, Nota: 8): “Tratamento, desempenhar o trabalho que vocês sabem. Já

vi quadros piores que esse melhorarem, mas como fizeram não sei. Mas vi o resultado.

Não acompanhei, mas vi acontecer. Tem hora que a gente é igual Tomé, só acredita

vendo.”

PHF (M, 20, Transtorno Afetivo Bipolar, Nota: 8) - NBS, Tia, 54 anos, F, Nota: 8: “Tô

preocupada nessaáarea, porque me disseram que aqui (Unicamp) só trata o surto e

depois vai embora. Quero saber se pode pôr ele numa clínica depois para tratar da

maconha.”

LGSL (M, 17 anos, Transtorno de conduta não especificado, Nota: 5) - ES, Mãe,

37anos, F, Nota: 8: “Tá melhor, diz que não quer sair daqui, não quer voltar para casa,

disse que quer ir para clínica de recuperação.”

JPA (M, 24, Esquizofrenia, Nota: maconha-7/ cocaína-10) - RPA, Mãe, 43 anos, F,

Nota: 9: “Ter um tratamento, um acompanhamento.”

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Relação familiar

RAS (M, 22anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - RBS, Mãe, 43 anos, F, Nota: 10: “Ele

precisa da ajuda da família, dialágo.”

RGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10) - RMF, Mãe, 65 anos, F, Nota: 8:

“O que pode contribuir é Jesus, porque ele tem tudo, bom emprego, bons amigos no

trabalho, muita gente que o apoia, tem filho, mãe que o ama.”

RGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10) - RMF, Mãe, 65 anos, F, Nota: 8:

“Quando ele usa eu sei que usa. Não esconde quando usa. Ele até dá conselhos para

o filho, amigos do filho pra não usar.”

FAS (M, 16 anos, Esquizofrenia, Nota: 10) - JSS, Pai, 42 anos, M, Nota: 10:“Eu (pai),

não consegui reabilitá-lo, essa é minha luta que vai depender de muito esforço.”

RB (M, 39 anos, Esquizofrenia, Nota: 6) - RB, Irmão, 29 anos, M, Nota:8 : “ Minha

preocupação é não poder abandonar, tipo, o outro irmão fala que não quer cuidar

dele.”

EDS (M, 19 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 7) - JAS, Pai, 50 anos, M, Nota: 10:“Ele é muito amoroso, educado,

prestativo.”

CBN (M, 16 anos, Depressão com sintomas psicóticos, Nota: 6) - RBAN, Mãe, 44

anos, F, Nota: 6 : “Capta as emoções das pessoas, é sensível, aprende rápido, quer

ajudar, é comunicativo, sabe liderar.”

ES (F, 44, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas psicóticos,

Nota: 0) - WH, Namorado, 31 anos, M, Nota: 2): “Ela é paciente, amorosa, receptiva,

se preocupa com as coisas.”

VVS (M, 29 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - JCOS, Cônjugue, 31 anos, F, Nota:

maconha-9/ mesclado-10/ anabolizante- 7: “Carinhoso, determinado, gosta de

trabalhar e agora faz 4 meses que ele não vai ao trabalho, sabe pedir perdão.”

PGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10) - DF, Mãe, 54 anos, F, Nota: 10 :

“Bondoso, calmo, gosta de ajudar.”

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DWS (M, 14 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual Maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 10) - PS, Pai, 45 anos, M, Nota: 10: “Ele é dez, obediente, inteligente,

filho exemplar.”

RAS (M, 22anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - RBS, Mãe, 43 anos, F, Nota: 10: “Ele é

muito responsável, educado, bom com as pessoas, gosta de ajudar.”

RGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10) - RMF, Mãe, 65 anos, F, Nota: 8:

“Ele tem muitas qualidades, é muito bom, dá o último que ele tem para ajudar o

proxímo. Ele é inteligente, é maestro, ótimo filho, ótimo pai, ótimo marido. Não tenho

o que falar é não é porque é meu filho.”

MSR (F, 35 anos, Esquizofrenia, Nota: 9) - VFLR, Mãe, 59 anos, F, Nota: 10: “Tem

bastante amizade, todo mundo gosta dela, sempre trabalhou.”

MBAX (M, 43 anos, Esquizofrenia, Nota: 10) - RCSX, Esposa, 38 anos, F, Nota: 10:

“Sossegado, quieto, não é de conversar, na dele.”

FMF (M, 22, Esquizofrenia, Nota: 0) - IMF, Mãe adotiva, 62 anos, F, Nota: 10:

“Inteligente, carinhoso, bom, solidário, não fala da vida de ninguém.”

JYBS (M, 16 anos, Esquizofrenia, Nota 0) - MLLS, Mãe, 37 anos, F, Nota:

0:“Carinhoso, trabalha,caseiro.”

MFS (M, 17 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - JQFS, Mãe, 35 anos, F, Nota: 10:

“Carinhoso, levava a irmã para escola até antes de ficar ruim, mas ele é sem paciência

e a droga ajudou ele a ficar mais acelerado.”

LSS (M, 17 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco sem sintomas

psicóticos, Nota: 0) - AFS, Pai, 55 anos, M, Nota: maconha-6/ cocaína- 8:

“Companheiro, bom, carinhoso, me deu até um colar aqui.”

FAS (M, 16 anos, Esquizofrenia, Nota: 10 - JSS, Pai, 42 anos, M, Nota: 10: “Educado,

obediente, faz tudo certo, carinhoso, se preocupa comigo.”

LSO (M, 19 anos, Transtorno Obsessivo Compulsivo, Nota: 3 - REJS, Mãe, 37 anos,

F, Nota: 10): “Menino bom, tranquilo, respeitador, não guarda rancor, é nota dez.”

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NFA (F, 27 anos, Transtorno de personalidade com instabilidade emocional, Nota: 7)

- MDN, Tia, 57 anos, F, Nota: 7: “Ela é muito doce e ao mesmo tempo pode ser muito

agressiva, muito proativa. Voce pode contar com ela desde que voce a estimule e aí

a cocaína entra para estimula-la.”

DFS (M, 21 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - RSF, Mãe, 47 anos, F, Nota: 10: “Limpinho,

caprichoso, foi uma excelente criança, a droga foi uma perdição.”

NS (M, 68 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - MASS, Esposa, 64 anos, F, Nota: 10:

“Gostava de viajar e passear, carinhoso, trabalhador, tem carater.”

RR ( M, 36 anos, Esquizofrenia, Nota: 10) - EAR, Mãe, 57 anos, F, Nota: 10: “Ele era

muito bondoso, ajudava uma senhora que tinha problema com bebida, a levantava,

levava para casa, muito amoroso, sei que ele é bom.”

JCF (M, 58 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual depressivo, Nota: 5) - RCS,

Prima, 43 anos, F, Nota: 5: “Honesto, bom, nunca deu grandes problemas, é integro.”

CENO (M, 27, Outros transtornos específicos da Personalidade, Nota: 10) - WO, Pai,

54 anos, M, Nota: 8): “Não é caloteiro, trabalhador, não falta no serviço. Pai conhece

o filho, se ele falar mentira e eu botar ele na parede ele fala.”

PHF(M, 20, Transtorno Afetivo Bipolar, Nota: 8) - NBS, Tia, 54 anos, F, Nota: 8: “Muito

bom, amoroso, todo mundo gosta dele, tanto que foi uma surpresa para todo mundo

o que aconteceu de ele estar aqui.”

JLRM (M, 65 anos, Transtorno Depressivo Recorrente episódio atual grave sem

sintomas psicóticos, Nota: 0) - ACNM, Filha, 35 anos, F, Nota: 8 “Minha preocupação

é que ele não consiga aproveitar a oportunidade que ele teve, acho que é um pedido

de ajuda (referindo-se à TS). Fez em casa, com a porta aberta, meu irmão e nora são

médicos. Acho que se ele quisesse mesmo tinha conseguido.”

NFA (F, 27 anos, Transtorno de personalidade com instabilidade emocional, Nota: 7)

- MDN, Tia, 57 anos, F, Nota: 7: “Ela está bem, mas tá menos bem do que quer

mostrar. Ela entra num papel e faz. Tanto que no trabalho dela a acham uma mulher

segura. Penso que muitas vezes até prepotente. Quero ver ela fora daqui (da

internação)um pouco, quero tentar uma licença.”

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CENO (M, 27, Outros transtornos específicos da Personalidade, Nota: 10) - WO, Pai,

54 anos, M, Nota: 8:“Eu nunca usei droga (pai) mas como trabalho na area de

segurança fiz vários cursos e tenho noção do que é droga. Porque ele nunca ergueu

o dedo para mim e agora ele tava diferente. Antes tinha interesse, garra e agora um

desvio de personalidade e isso chamava atenção. Isso há uns 6 meses.”

FSX (M, 18 anos, Esquizofrenia, Nota: 10) - RCS, Mãe, 39 anos, F, Nota: 10: “Quer

arrumar serviço, vai voltar a estudar a noite, ele é carinhoso.”

PGF (M, 37 anos, Transtorno Depressivo, Nota: 10) - DF, Mãe, 54 anos, F, Nota: 10 :

“Ele tá melhor, mas ainda não está feliz, está preocupado.”

FSX (M, 18 anos, Esquizofrenia, Nota: 10) - RCS, Mãe, 39 anos, F, Nota: 10: “Ele está

feliz sim. Tem planos de ir ao culto comigo, fazer catecismo.”

JPA (M, 24, Esquizofrenia, Nota: maconha-7/ cocaína-10) - RPA, Mãe, 43 anos, F,

Nota: 9: “Melhorou porque tá conseguindo conversar comigo, não está amarrado mais,

está andando com o pessoal da enfermaria.”

DWS (M, 14 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual Maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 10) - PS, Pai, 45 anos, M, Nota: 10: “Penso que ele está feliz agora,

ele está muito bem.”

AAS (M, 26 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: álcool – 0/ maconha e cafeína - 4) - VAS, Imão, 26 anos, M, Nota: 7:

“Ele está infeliz, o curso não dá prazer para ele, ele não tem uma companheira.”

JYBS (M, 16 anos, Esquizofrenia, Nota 0) - MLLS, Mãe, 37 anos, F, Nota: 0: “Acho

que precisa melhorar a agressividade.”

LSO (M, 19 anos, Transtorno Obsessivo Compulsivo, Nota: 3) - REJS, Mãe, 37 anos,

F, Nota: 10): “Deu uma melhorada, tá falando melhor, entende mais as coisas.”

BFO (M, 18 anos, Transtorno Afetivo Bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 2,5) - JON, Pai adotivo, 55 anos, M, Nota: 10: “Por enquanto tá igual,

ainda não melhorou.”

NS (M, 68 anos, Esquizofrenia, Nota: 0) - MASS, Esposa, 64 anos, F, Nota: 10: “Teve

uma melhora.”

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RF (M, 23 anos, Transtorno afetivo bipolar episódio atual maníaco com sintomas

psicóticos, Nota: 0) - LFF, Mãe, 51 anos, F, Nota: 7: “Achei que ele melhorou 100%,

tá ótimo.”