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184 Estudos de Casos de Memórias de Vidas Passadas James G. Matlock 1. Preliminares Embora a parapsicologia tradicionalmente tenha se ocupado com a questão de se algum aspecto do ser humano sobrevive à morte, a pesquisa sobre reencarnação, como uma forma que a sobrevivência pode adotar, é um desenvolvimento comparativamente recente. Myers, aparentemente desconhecedor de um caso importante (Hearn, 1897) que tinha sido publicado na época em que ele escreveu, concluiu em 1903 que “até o momento não há nenhuma evidência válida para a reencarnação” (v. 2, p. 134). Esta situação começou a mudar só em 1960 com o surgimento do artigo de Ian Stevenson, “The Evidence for Survival from Claimed Memories of Former Incarnations”, no Journal of the American Society for Psychical Research. Na primeira parte desse artigo, Stevenson (1960a) revisou casos de alegações de memórias de vidas passadas e relatou ser conhecedor de 44 casos em que a pessoa descrita como a encarnação anterior havia sido investigada e identificada. Na segunda parte do artigo (Stevenson, 1960b) ele considerou as possíveis interpretações para os casos e sugeriu a continuidade das pesquisas sobre o assunto, sugestão que ele próprio tratou de colocar em prática. Após a recepção de uma concessão da Parapsychology Foundation, Stevenson foi à Índia e ao Ceilão (agora Sri Lanka) em sua primeira viagem de campo. Quando ele publicou a sua primeira coleção de relatórios de casos (Stevenson, 1966b) ele já tinha um arquivo de mais de 600 registrados. Em 1988 (ver Stevenson & Samararatne, 1988) o número chegou a 2.500. Em 1960, ano em que Stevenson publicou a sua revisão de literatura, os casos de memórias de vidas passadas eram pouco conhecidos, e os que escreviam sobre reencarnação tinham dificuldades em explicar por que vidas anteriores não eram lembradas. Desde a publicação da revisão de literatura de Stevenson, várias pessoas de diversas áreas—parapsicologia, antropologia e pesquisa paranormal—publicaram casos de memórias de vidas passadas. O padrão das análises de grandes números de casos inéditos também foi informado. Recentemente estudos orientados para o processo começaram a aparecer. Entretanto a pesquisa gerou a sua parcela de críticas e tentativas de interpretação em linhas alternativas, sendo que a maioria delas não foi adequadamente dirigida.

Vidas passadas

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Estudos de Casos de Memórias de Vidas Passadas

James G. Matlock 1. Preliminares

Embora a parapsicologia tradicionalmente tenha se ocupado com a questão de se algum aspecto do ser humano sobrevive à morte, a pesquisa sobre reencarnação, como uma forma que a sobrevivência pode adotar, é um desenvolvimento comparativamente recente. Myers, aparentemente desconhecedor de um caso importante (Hearn, 1897) que tinha sido publicado na época em que ele escreveu, concluiu em 1903 que “até o momento não há nenhuma evidência válida para a reencarnação” (v. 2, p. 134). Esta situação começou a mudar só em 1960 com o surgimento do artigo de Ian Stevenson, “The Evidence for Survival from Claimed Memories of Former Incarnations”, no Journal of the American Society for Psychical Research.

Na primeira parte desse artigo, Stevenson (1960a) revisou casos de alegações de memórias de vidas passadas e relatou ser conhecedor de 44 casos em que a pessoa descrita como a encarnação anterior havia sido investigada e identificada. Na segunda parte do artigo (Stevenson, 1960b) ele considerou as possíveis interpretações para os casos e sugeriu a continuidade das pesquisas sobre o assunto, sugestão que ele próprio tratou de colocar em prática. Após a recepção de uma concessão da Parapsychology Foundation, Stevenson foi à Índia e ao Ceilão (agora Sri Lanka) em sua primeira viagem de campo. Quando ele publicou a sua primeira coleção de relatórios de casos (Stevenson, 1966b) ele já tinha um arquivo de mais de 600 registrados. Em 1988 (ver Stevenson & Samararatne, 1988) o número chegou a 2.500.

Em 1960, ano em que Stevenson publicou a sua revisão de literatura, os casos de memórias de vidas passadas eram pouco conhecidos, e os que escreviam sobre reencarnação tinham dificuldades em explicar por que vidas anteriores não eram lembradas. Desde a publicação da revisão de literatura de Stevenson, várias pessoas de diversas áreas—parapsicologia, antropologia e pesquisa paranormal—publicaram casos de memórias de vidas passadas. O padrão das análises de grandes números de casos inéditos também foi informado. Recentemente estudos orientados para o processo começaram a aparecer. Entretanto a pesquisa gerou a sua parcela de críticas e tentativas de interpretação em linhas alternativas, sendo que a maioria delas não foi adequadamente dirigida.

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1.1. Planejamento do Capítulo

Este capítulo revisa estudos de casos espontâneos de memórias de vida passadas,

a maioria dos quais envolvem jovens crianças. Termos e conceitos chave são apresentados na Seção 1.2. Um caso espontâneo típico é resumido na Seção 1.3 e outros casos do tipo reencarnação (p.ex. regressões de idade hipnótica e “leituras de vidas passadas” de sensitivos) são considerados na Seção 1.4.

A Seção 2 descreve os métodos usados para investigar casos espontâneos de memórias de vidas passadas e discute suas características principais, enfatizando aquelas que são comuns entre as culturas. A Seção 3 é voltada para a análise de padrões e está relacionada particularmente à variação cultural. A Seção 4 traz comentários sobre a pesquisa, considerando críticas especialmente metodológicas e interpretações do material dos casos alternativos à reencarnação. As seções 2, 3, e 4 concluem com discussões sobre a sustentação dos resultados dessa Seção nas duas linhas principais de interpretação—reencarnação e fantasia culturalmente condicionada. A Seção 5 avalia o estado atual de pesquisa envolvendo casos de memórias de vidas passadas e faz sugestões para mais pesquisa. 1.2 Conceitos e Termos

Provavelmente todos os leitores têm algum entendimento sobre o que seja a

reencarnação: É a transferência de algo (consciência? personalidade? a alma?) de um corpo físico para outro, depois da morte do primeiro corpo e antes do nascimento do segundo. Mas—dificuldades filosóficas à parte—esta definição aparentemente geral torna-se cada vez menos satisfatória quando examinada de perto.

A definição se aproxima bastante da crença Hindu, mas os budistas asseguram que a alma é um produto da imaginação humana, e que portanto é incapaz de se deslocar de um corpo a outro. Para o budista, uma nova personalidade é o resultado de uma combinação de propriedades cármicas. O Hinduísmo e o Budismo compartilham o conceito de carma, mas a maioria dos outros sistemas de crença dispensa o conceito citado. Entre as pessoas de outra fé nós identificamos a crença de que a reencarnação pode ocorrer depois do nascimento do novo corpo, ou a crença de que pode ocorrer em mais de um corpo de cada vez. Algumas pessoas acreditam que todo mundo pode reencarnar, algumas restringem o processo à elite, outras às pessoas que morrem jovens. Algumas pessoas acreditam que o ser humano só renasce em formas não humanas, outras meramente permitem que isto ocorra, enquanto outras negam a possibilidade de reencarnação (Besterman, 1968; Hall, 1956; Parrinder, 1957; Somersan, 1981).

Considerando a diversidade de crenças sobre a reencarnação, há de se pensar que o melhor seria que a nossa definição do conceito fosse guiada por dados empíricos ao invés de idéias religiosas ou filosóficas. Só um exame cuidadoso da evidência pode indicar se a reencarnação ocorre; e se ocorre, como ocorre. Mas se vamos permitir que o nosso conceito seja definido pela evidência, não podemos defini-lo

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antes de termos examinado a evidência; e sendo assim não podemos usar o conceito (pelo menos não em um sentido preciso) no curso de nosso inquérito.

Por estas razões, faríamos bem em escolher um novo termo, o qual Stevenson e seus colegas chamam de “casos do tipo reencarnação”. Ao utilizar a expressão “tipo reencarnação”, sem dúvida alguma Stevenson deseja evitar a suposição de que os casos são fruto de reencarnação; mas um termo mais neutro, que evite a palavra “reencarnação”, provavelmente serviria melhor ao propósito. Caso de memória de vida

passada é mais descritivo e ao mesmo tempo menos carregado de conotação emotiva. Um caso de memória de vida passada envolve ao menos duas pessoas: o sujeito,

que fala da vida passada, e a pessoa sobre quem o sujeito fala. Stevenson se refere ao último como a “personalidade prévia”, mas aqui ele ou ela serão chamados de a pessoa

prévia. Pessoas e personalidades não são de modo algum a mesma coisa. As pessoas sobre as quais os sujeitos falam são muito mais do que personalidades, e chamá-las de personalidades nada mais é do que turvá-las e talvez induzir erroneamente o leitor à crença de que somente as personalidades podem reencarnar.

Em alguns casos os sujeitos fornecem informações suficientes para permitir que a pessoa prévia seja investigada e identificada, enquanto em outros não. Segundo Stevenson, os casos em que foi possível identificar a pessoa prévia serão chamados de resolvidos e os casos em que a identificação está ausente serão chamados de não

resolvidos. Os sujeitos de casos de memórias de vidas passadas podem ser de qualquer

idade, mas por conveniência eles serão classificados ou como crianças ou como adultos. Os casos de crianças designarão os sujeitos com 15 anos de idade ou menos, e os casos de adultos sujeitos acima de 15 anos. A escolha desta idade como a linha divisória entre casos infantis e adultos não é arbitrária. Quinze é a idade em que a transição da forma infantil até a forma adulta, que começa aproximadamente aos 4 anos, está completa (ver Seção 2.4).

Stevenson concentrou seus esforços em casos de crianças, e mais especificamente em casos espontâneos de crianças. Casos espontâneos de memórias de vidas passadas são aqueles em que a memória emergiu naturalmente, em contraste com os casos em que as memórias foram induzidas (p.ex., sob hipnose) ou em que eles foram informados por outros (p.ex., psíquicos ou médiuns). O termo “espontâneo” é usado aqui como comumente é usado na parapsicologia; memórias espontâneas de vida passadas assemelham-se ao que os psicólogos chamam de memórias involuntárias (ver Neisser, 1982; Rubin, 1986).

Embora não usemos a palavra “reencarnação” para os casos que estão sob discussão, não podemos evitar lidar com o fato de que eles sugerem este processo. É verdade que de muitas formas a reencarnação (no sentido geral da definição acima) parece ser a interpretação mais satisfatória dos casos. É a interpretação mais clara, e, como veremos, a que mais facilmente dá sentido aos dados. O que não necessariamente quer dizer que esta seja a interpretação que devemos favorecer, e ainda que

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acabemos por favorecê-la, provavelmente teremos que ajustar a definição para que ela se encaixe aos dados. Nesse ínterim, no entanto, necessitamos de uma hipótese de trabalho e de um rótulo para ela, e por conveniência a chamaremos de hipótese de

reencarnação. As várias interpretações de casos de memórias de vidas passadas alternativas à

reencarnação (à exceção de fraude) estão voltadas para a idéia de que o sujeito fantasia. Em sua forma mais sofisticada, a hipótese de fantasia combina a capacidade de PES do sujeito com a amnésia da fonte (criptomnésia), distorções de memória (paramnésia), e condicionamento cultural. A hipótese de fantasia é a mais associada a Chari (1962b, 1967, 1986), embora uma versão da mesma tenha sido bem articulada por Brody (1979a, 1979b), e quase cada escritor crítico do trabalho de Stevenson tenha recorrido a ela de uma forma ou de outra (ver Seção 4).

Como a hipótese de reencarnação, a hipótese de fantasia é apenas um rótulo conveniente para uma categoria conceitual. Caso venhamos a decidir que a hipótese de fantasia é mais apropriada do que a hipótese de reencarnação como uma interpretação dos casos espontâneos de memórias de vidas passadas, teremos que explicar mais precisamente o que é que queremos dizer com ela e como acreditamos que ela opere. 1.3. Sinopse de um Caso Típico: O Caso de Ravi Shankar

O caso de Ravi Shankar é um dos sete casos indianos típicos incluídos por

Stevenson (1966b, 1974c) em sua primeira coleção de relatórios de casos, Twenty Cases

Suggestive of Reincarnation. Ravi Shankar nasceu com uma marca longa, pontilhada ao longo de seu pescoço.

Quando ele tinha entre dois e três anos começou a falar sobre uma vida passada durante a qual disse que tinha morrido depois de ter tido a garganta cortada. Ele relacionou a sua marca de nascença ao assassinato que disse ter sofrido. Com o passar dos poucos anos seguintes, ele falou com freqüência à sua família, vizinhos e a um professor sobre a sua vida passada. Contou-lhes que era o filho de Jageshwar, um barbeiro, que viveu no Distrito de Chhipatti de Kanauj, o povoado em que ele também viveu. Ele forneceu os nomes dos assassinos e identificou um deles como sendo um tintureiro e o outro como um barbeiro. Disse que fora atraído para fora de seu lar por um convite para jogar um jogo chamado Geri e então foi levado a uma margem perto do Templo de Chintamini, onde os assassinos cortaram o seu pescoço e o enterraram na areia.

Ravi Shankar disse ter ido à escola primária do Distrito de Chhipatti e perguntado pelos brinquedos que afirmou ter possuído na sua vida passada. Estes incluíam uma lousa de madeira, uma bolsa para livros, um tinteiro, e uma pistola de brinquedo, assim como um elefante de madeira, um brinquedo do Senhor Krishna, uma bola presa a um barbante elástico, um relógio, e um anel que ganhou de presente do pai, sendo que o último estava em sua escrivaninha. O rapaz pareceu identificar-se plenamente com a pessoa que ele alegou ter sido. Ele repetidamente pedia “seus” brinquedos e se queixava de que a casa em que ele vivia não era a “sua” casa. Ao menos uma vez, após ser repreendido, correu para fora da

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casa, dizendo que iria para o seu antigo lar. Quando aconteceu de ele se encontrar um dos homens que ele disse tê-lo assassinado, ele o reconheceu e, de acordo com sua mãe, mostrou um temor extremo dele.

Depois de um tempo as declarações de Ravi Shankar sobre a vida passada chegaram ao conhecimento de Jageshwar Prasad do Distrito de Chhipatti. Jageshwar Prasad tinha perdido seu filho de quatro anos chamado Munna da mesma maneira e sob as circunstâncias descritas por Ravi Shankar, seis meses antes de Ravi Shankar ter nascido. Os suspeitos no caso tinham sido os dois homens que Ravi Shankar tinha nomeado. Um destes homens, aliás, confessara o crime, mas subseqüentemente desfez sua confissão, e, não havendo nenhuma testemunha, os dois homens foram soltos.

Estes homens eram conhecidos de Munna, que tinha jogado Geri freqüentemente com eles. Um dos suspeitos assassinos era um parente de Jageshwar Prasad, e o motivo para o assassinato evidentemente tinha sido a esperança de limpar o caminho para conseguir a herança dele. Jageshwar Prasad visitou o lar de Ravi Shankar para saber mais sobre o caso, mas seu pai recusou-se a falar com ele. Depois Jageshwar Prasad conseguiu através de sua mãe encontrar o próprio Ravi Shankar, e nesta reunião o rapaz reconheceu-o como sendo o “seu” pai. Ravi Shankar deu uma descrição do assassinato para Jageshwar Prasad que muito correspondia com o que ele sabia sobre o assunto e lhe contou de outros acontecimentos na vida de Munna. Jageshwar Prasad tinha esperanças de reabrir a investigação do assassinato, mas foi incapaz de alcançar tal objetivo.

O pai de Ravi Shankar, entretanto, aparentemente temendo que o seu filho fosse tirado dele, passou a se posicionar muito contrariamente à conversa do filho sobre a vida passada. Começou a bater severamente em Ravi Shankar para dissuadi-lo de continuar tocando no assunto e o manteve fora do povoado por um ano inteiro. Ele também discutiu insistentemente com seus vizinhos para que todos esquecessem as alegações de Ravi Shankar. Prosperou em fazer com que seu filho tivesse medo de falar sobre a vida passada, embora Ravi continuasse a fazê-lo muito ocasionalmente, especialmente com seu professor. O professor registrou algumas das declarações do rapaz numa carta ao filósofo indiano B. L. Atreya, iniciando assim a investigação do caso.

Este caso é típico de casos passados espontâneos de memória de vida. Ocorreu na Índia, um país em que a crença em reencarnação é comum. As famílias do sujeito e da pessoa prévia viveram no mesmo povoado e tinham tido algum contato antes do caso desenvolvido. Ravi Shankar começou a falar sobre a vida passada entre as idades de dois e três anos. Fez várias declarações verídicas sobre esta vida e reconheceu pessoas e lugares associados a ela. Mostrou uma forte identificação com a pessoa que alegou ter sido e possuía uma marca de nascimento que se assemelhava bastante ao ferimento mortal sofrido por esta pessoa.

Estas e outras características comuns dos casos de memória de vidas passadas são detalhadamente discutidas na Seção 2.3.

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1.4. Outros Tipos de Casos de Memórias de Vidas Passadas

Uma vez que toda a pesquisa séria sobre reencarnação foi feita com casos

espontâneos do tipo descrito, a maior parte deste capítulo estará relacionada a tais casos. Dois outros tipos de casos importantes—memórias de vidas passadas induzidas sob hipnose e “leituras de vidas passadas” por psíquicos ou médiuns—são considerados nesta Seção.

Não há dúvidas de que a regressão hipnótica a vidas passadas seja o tipo de caso de reencarnação mais conhecido hoje em dia, ao menos fora da parapsicologia, e que tem reunido comentários consideráveis. Gauld (1982), Stevenson (1987a), e Irwin (1989) consideram casos de regressão brevemente. Maiores discussões aparecem em Venn (1986) e em livros semi-populares de Rogo (1985) e Wilson (1982). Zusne e Jones (1982) abordam o material na condição de psicólogos e de Artega (1983) o faz de acordo com a sua posição de ministro metodista. Hick (1976) e Moore (1981) aproximam-se do ponto de vista filosófico, embora Hick também tenha um viés cristão. Harris (1986a, 1986b), Hines (1988), e Edwards (1986a, 1986b, 1987a, 1987b) fornecem a perspectiva cética.

No que se refere a uma avaliação do material hipnótico, os parapsicólogos e céticos—pelo menos uma vez—estão bem próximos de um acordo. Não apenas são poucos os casos de regressão resolvidos que foram registrados (e todos em fontes populares com a exceção de um), como são apenas ocasionalmente verídicos em qualquer sentido. Os proponentes da técnica de regressão freqüentemente apontam a natureza altamente dramática de tais casos como indicadora de reencarnação na ausência de apoio evidencial, mas eles não podem contar com as inexatidões demonstráveis em muitos casos (ver Haynes, 1981; Hines, 1988; Venn, 1986). Nem podem ter muito a dizer quando os casos de regressão são investigados e descobertos como sendo memórias inconscientes (criptomnésia) de livros ou outras fontes (Hines, 1988; Kampman & Hirvenoja, 1978; Wilson, 1982).

A técnica de regressão de idade encontrou algum êxito na psicoterapia, e o número de médicos cresceu a ponto de formar uma Associação para Pesquisa e Terapia de Vidas Passadas com um jornal afiliado, The Journal of Regression Therapy. Curas notáveis são alegadas com freqüência, mas raramente por estudos de longo prazo (um livro publicado por Weiss em 1988 prova-se uma exceção rara), nem há estudos com grupos formais de controle. Ainda que a terapia de vidas passadas pudesse ser demonstrada como uma abordagem clínica eficiente, ela sofreria dos mesmos problemas evidenciais sofridos pela regressão de idade hipnótica em geral, e seu valor para os estudos de casos de memórias de vidas passadas seria mínimo.

Dos casos de regressão hipnótica, o mais interessante do ponto de vista parapsicológico são os que envolvem xenoglossia responsiva, a pretensa capacidade de conversar numa linguagem não aprendida na vida presente (para xenoglossia em casos espontâneos, ver a Seção 2.5.2). As notáveis semelhanças na forma entre os dois melhores casos informados deste tipo (Stevenson, 1974d,

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1984b; ver Stevenson, 1984b, p. 64) e entre os casos de regressão em geral sugerem que podem representar um fenômeno genuíno (mas cf. Thomason, 1987). Contudo, o fato de ambos os casos serem não resolvidos faz com que sejam mais aceitos como evidência para a sobrevivência em geral do que para a sobrevivência na forma particular de reencarnação.

A literatura sobre hipnose e memória (Pettinati, 1988) e regressão de idade (Klemperer, 1968; Reiff & Scheerer, 1959) não nos deixa otimistas sobre a possibilidade de que os sujeitos realmente se lembrem de vidas passadas durante a regressão, deixando as considerações levantadas acima de lado. Todavia, é possível que os casos de regressão mereçam mais atenção e pesquisa do que têm recebido até então.

Crasilneck e Hall (1985, p. 303) notam que a maioria das memórias significativas recuperadas em regressões hipnóticas normais (em períodos anteriores à vida presente) parecem ser memórias reais, e regressões ocasionais a vidas passadas contêm uma quantidade clara de informações verídicas (ver Ducasse, 1961, no caso de Bridey Murphy, que se acredita amplamente—mas falsamente—ter sido desmascarado com êxito).

Os casos de regressão também podem, de modo geral, estar de acordo um com o outro e com fontes históricas sobre detalhes domésticos e triviais (Wambach, 1978; mas cf. Spanos, 1987-1988), e raros são os casos resolvidos. Um dos 44 casos originais de Stevenson era um caso de regressão (Stevenson, 1960b). Gauld (1982, p.169) comenta sobre a tendência para os detalhes dados em casos de regressão como forma de verificar as informações enquanto que o nome da pessoa prévia não é fornecido. É de se esperar que alguns casos contenham informação extraída de forma paranormal, inserida em uma narrativa imaginária (cf. Cook, Pasricha, Samararatne, Win Maung, & Stevenson, 1983a, em relação a casos espontâneos).

A regressão não cumpriu sua promessa (ver Stevenson, 1960b) de fornecer um meio experimental de testar a hipótese de reencarnação. Stevenson tentou usar a técnica de regressão com algumas crianças que alegam memórias espontâneas de vidas passadas, mas foi incapaz de extrair qualquer nova informação por este meio. Apesar disso, (Stevenson, 1987a) ele propõe que as experiências de regressão com crianças jovens continuem. As memórias das crianças de uma vida passada podem jazer mais próximas à superfície da consciência do que as memórias de adultos, e portanto é mais fácil recobrá-las. Além do mais, já que crianças tiveram menos experiências do que adultos, quaisquer de suas memórias de vidas passadas teriam um perigo menor de serem contaminadas com memórias da vida presente. Leituras de vidas passadas, tais como as de Edgar Cayce (Cerminara, 1950), são de menor interesse para a parapsicologia, e há pouca literatura séria sobre esse assunto. Gauld (1982) e Irwin (1989) escolhem não tratar deste material. Stevenson (1987a) menciona-o brevemente, mas uma pesquisa mais detalhada sobre o tema foi feita por Rogo (1985) e Wilson (1982).

Ter memórias de uma vida passada e ter alguém que lhe conte que viveu esta vida claramente não são a mesma coisa. Somente por esta razão, as leituras de vidas passadas são inferiores a casos espontâneos e de regressão hipnótica. As

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leituras normalmente também são muito vagas, e quando dados verificáveis são fornecidos, como tão freqüentemente acontece com casos de regressão, eles simplesmente não batem.

Uma variação interessante das leituras de vidas passadas ocorre quando comunicadores mediúnicos alegam ter conhecido seus médiuns em vidas passadas. Um exemplo é o caso de xenoglossia responsiva de Rosemary (Hulme & Wood, 1937). Outro é o Soul of Nyria (Campbell-Praed, 1931). Um exemplo mais recente ocorre no complexo relatório de reencarnação de grupo que nos foi fornecido por Guirdham (1970, 1974). Estes casos mediúnicos são interessantes, mas já que os próprios médiuns (com exceção de alguns de Guirdham) não alegam ter se lembrado de vidas passadas, eles não serão considerados aqui.

As alegações de reencarnação revelam-se ocasionalmente em outros lugares. Stevenson (1972) e Lawden (1979) relataram casos de poltergeist com alegadas conexões de reencarnação entre um agente aparentemente morto e um sujeito vivo em foco. No caso de Stevenson o agente afirmou ter sido casado com o sujeito em questão e ter sido abandonado por ele em sua vida passada. No caso de Lawden a pessoa em questão foi interrogada depois que ela entrou em um transe espontâneo e informou a sensação de que ela tinha vivido na França no século anterior, numa existência em que ela conhecera o agente. O caso de Stevenson não envolve uma alegação por um sujeito que se lembre de uma vida passada, e por esta razão não mais será discutido, mas o caso de Lawden assemelha-se a outros casos adultos espontâneos (o sujeito tinha 17 anos). Trataremos deste caso outra vez na Seção 2.4.

Se nossa consideração sobre casos espontâneos nos levar a concluir que a reencarnação de fato pode ocorrer, isso pode nos levar a querer revisar a nossa avaliação das maiores evidências dos casos de leituras de vidas passadas e de regressão hipnótica a ponto de admitirmos que alguma informação contida neles pode derivar de experiências em vidas passadas. Mas não devemos esperar ir além disto. No máximo tais casos podem fornecer exemplos de informações lembradas de uma vida passada composta por processos extra-sensoriais ou outros processos inconscientes e trabalhados pela imaginação. 2. Estudos de Casos Espontâneos

Esta Seção começa com uma revisão da literatura de estudos de casos espontâneos de memórias de vidas passadas, com ênfase em casos de crianças resolvidos. Os métodos de investigação dos casos estão na Seção 2.2. Características importantes do caso típico (de crianças) são revisadas na Seção 2.3. As características do caso adulto são revisadas na Seção 2.4. Alguns tipos de casos variantes e especiais, incluindo casos espúrios , são tratados na Seção 2.5. As hipóteses de reencarnação e fantasia à luz dos estudos de casos são discutidas na Seção 2.6.

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2.1. Estudos de Caso

2.1.1. Casos Relatados Antes de 1960

Stevenson (1987a, p. 125) observou as alegadas memórias de vidas passadas de

Pitágoras e Apolônio, e a investigação do Imperador Magnata Aurangzeb de um caso no princípio do século 18. Poucos detalhes são fornecidos sobre as alegadas memórias de Pitágoras e Apollonius, mas o caso estudado por Aurangzeb inclui características (tais como a idade jovem do sujeito, declarações verídicas, e marcas de nascimento nos locais dos ferimentos fatais da pessoa prévia) que aparecem em casos posteriores.

O primeiro caso conhecido a ser bem documentado é o caso japonês de Katsugoro em 1823 (Hearn, 1897). Os casos de Burma do fim do século 19 são informados por Fielding Hall (1902), e os da Índia do início do século 20 por Sunderlal (1924) e Sahay (1927; resumidos por Yeats-Brown, 1937). O breve caso de Anne (R., 1915) foi o primeiro caso amplamente divulgado no Ocidente ao ser publicado na American Magazine. Outro caso famoso, o de Alexandrina Samona, foi extraído de jornais profissionais e discutido à exaustão por Lancelin (n.d., pp. 309-363) por volta de 1920.

Lancelin (n.d.), Delanne (1924), e Shirley (1936) foram os primeiros a publicar livros sobre reencarnação com base em uma série de casos; tanto casos originais que lhes foram contados quanto casos retirados de jornais e outras fontes. O célebre caso de Shanti Devi (Bose, 1952; Gupta, Sharma, & Mathur, 1936; Manas, 1941) foi amplamente divulgado na imprensa popular entre 1936 e 1937. A princípio os casos apareceram em livros e jornais de pesquisa psíquica durante as décadas de 1920 e 1930. Sendo que os primeiros foram os quatro casos que Sunderlal (1924) publicou na Revue

Metapsychique. Khare (1930) publicou outro caso na Occult Review, e Osborne (1937) informou sobre alguns casos ingleses no The Superphysical.

Nenhum caso novo foi informado durante a década de 1940, até que na década de 1950 vários outros apareceram. Dowding (1951) reuniu cinco casos que tinham aparecido anteriormente em periódicos. Bissoondoyal (1955) chamou a atenção para um caso de Mauritius na Revue Metapsychique e Grant (1956) descreveu o caso belga de Robert em Far Memory. Neidhart (1956) relatou um caso alemão importante. Perto do fim da década, Atreya (1957) e Rankawat (1959) informaram casos indianos, embora o relato de Rankawat não seja mais do que a reimpressão de um relatório de jornal não investigado.

A maioria destes casos foi incluída por Stevenson (1960a) em sua revisão original; a maioria deles envolve crianças; e todos com exceção de alguns (p.ex., alguns incluídos por Delanne, 1924, e Shirley, 1936) são resolvidos. 2.1.2. Casos Relatados por Stevenson desde 1960

O primeiro volume de casos originais de Stevenson foi o seu agora clássico

Twenty Cases Suggestive of Reincarnation, primeiro publicado no Proceedings of the

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American Society for Psychical Research em 1966 (Stevenson, 1966b), e reimpresso, com material adicional incluindo os resultados de entrevistas posteriores, pela University Press of Virginia em 1974 (Stevenson, 1974c). Este foi seguido de uma série de volumes sob o título geral de Cases of the Reincarnation Type (Stevenson, 1975b, 1977a, 1980, 1983b). Stevenson (1984b, 1977c) publicou mais relatos de casos detalhados em Unlearned Language e no Handbook of Parapsychology. E resumos extensos de outros casos em outros locais (Cook et al., 1983a; Pasricha & Stevenson, 1977; Stevenson, 1974c, pp. 305-308; 1987a, Capítulo 4; Stevenson & Samararatne, 1988). Descrições breves de muitos outros casos aparecem em outras fontes (p.ex., em Stevenson, 1977b e 1987a).

Os relatórios de Stevenson incluem casos ocorridos em lugares em que outros casos foram informados mesmo antes de 1960—Índia, Burma, Inglaterra, sociedade não tribal Americana—assim como casos ocorridos em novos lugares, Sri Lanka, Tailândia, Líbano, Turquia, Brasil, Alasca, e, mais recentemente, Finlândia. A maioria dos seus casos são casos de criança, mas dois deles—os de Pratomwan Inthanu (Stevenson, 1983b) e de Uttara Huddar (Stevenson, 1984b)—envolvem adultos. Quase todo excetuando aqueles informados por Cook et al. (1983a) são resolvidos. 2.1.3. Casos Reportados por Outros Autores desde 1960

2.1.3a. Casos Relatados em Publicações Profissionais. Casos de crianças foram

informados em jornais de referência e livros acadêmicos por várias pessoas desde que Stevenson chamou a atenção para eles. Pal (1961-1962) primeiro informou o caso de Sukla, reinvestigado por Stevenson e incluído em Twenty Cases Suggestive of

Reincarnation (Stevenson, 1974c). Pasricha e Barker (1981; Pasricha, 1983) informam outro caso de uma criança indiana, o de Rakesh Gaur. Pasricha, Murthy, e Murthy (1978) informam um caso adulto indiano com memórias surgindo durante uma pausa psicótica. Andrade (1988) recentemente publicou um volume contendo relatórios de oito casos brasileiros, um dos quais (Andrade, 1980) está disponível em inglês em forma de monografia. Bayer (em Durant, 1968) informa casos da Turquia, e Story (1975; em Durant, 1968) informa casos do Sri Lanka e de Burma.

Outros casos, geralmente menos bem investigados e mais freqüentemente não resolvidos, são informados em resumo. Krishnanand (1968) informa um caso indiano envolvendo um rapaz de dez anos de idade. De Laguna (1972, pp. 776-781) descreve casos dentre os índios Tlingit do Alasca e Slobodin, por sua vez, (1970) relata casos dentre seus vizinhos canadenses, os Kutchin. Goulet (1982) descreve um caso de Dene-Tha e Mills (1988a, 1988b), Beaver, Gitksan, e Carrier discorrem sobre casos da mesma região. Le Quang Hu’o’ng (1972) descreve um caso vietnamita e Scott-Mac-nab (1975) um caso da África do Sul. Alegações de casos envolvendo adultos chineses são informadas por Emmons (1982).

Banerjee informou vários casos indianos em monografias, mas por ter sido pego falsificando dados experimentais (Rao, 1964a, 1964b), deve ser

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considerado não confiável. Embora às vezes ainda aconteça de ser citado por escritores populares, o trabalho de Banerjee foi excluído da parapsicologia séria. E, portanto, não será considerado aqui.

2.1.3b. Casos Relatados em Publicações Populares. Alguns relatórios em publicações populares representam registros independentes de casos descritos em fontes profissionais. Playfair (1975, 1976) descreve casos brasileiros, incluindo o caso de Jacira estudado por Andrade (1980, 1988). Hind (1977) descreve para a revista Fate o caso do sul africano Vashnee Rattan informado por Scott-Macnab (1975). Wilson (1982) informa em sua pesquisa sobre o caso dos gêmeos ingleses Pollock resumido por Stevenson (1987a).

A maioria dos casos originais na literatura popular é do tipo não resolvido. Casos não resolvidos de crianças aparecem em Holzer (1970, 1974), Merle (1976), e Wambach (1978, pp. 5-7). Casos adultos não resolvidos são descritos por Hubbard (1973), Lenz (1979), e Rogo (1985). O próprio Ryall (1974) informa um caso um tanto duvidoso que começou na infância mas continuou na idade adulta.

Alguns casos resolvidos apareceram somente em publicações populares. O mais confiável destes é aquele informado por Rawat (1985), que mais tarde trabalhou com Stevenson. Dois outros casos, um deles um raro caso resolvido de adulto, são descritos por Lenz (1979, pp. 172-175). Também devemos destacar dois dos casos dos Cátaros de Guirdham (Guirdham, 1970, 1974). Nestes dois casos (os da Sra. Smith e da Senhorita Mills) as memórias de vidas anteriores que posteriormente provaram-se verídicas emergiram durante uma doença na infância e continuaram na idade adulta na forma de sonhos recorrentes.

2.1.3c. Casos Relatados em Fontes Não Publicadas. Casos têm sido informados em algumas fontes não publicadas, sendo que a maioria notavelmente concentra-se na dissertação de doutorado de Pasricha (1978) e em teses de mestrado escritas por Cook (1986a) e McCracken (1982). Um relatório inédito particularmente valioso é a investigação independente de Akolkar (1985) do caso de xenoglossia responsiva de Sharada (Uttara Huddar) informado por Stevenson (1984b). Estes documentos estão disponíveis ao público em uma ou mais bibliotecas da Society for Psychical Research, da American Society for Psychical Research, ou da University of Virginia Health Sciences Center’s division of Personality Studies. 2.2. Métodos de Investigação

2.2.1. O Problema

Casos espontâneos de memórias de vida passadas apresentam ao investigador

muitos dos mesmos problemas presentes em casos espontâneos (ver Morris, 1982), mas eles têm alguns requisitos especiais.

Casos espontâneos de memórias de vidas passadas compartilham com casos de

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hauting e poltergeist o fato de que eles geralmente ocorrem por um período de anos e portanto podem estar sujeitos à observação direta dos investigadores. No caso dos hautings e poltergeists, a investigação deve tomar nota dos acontecimentos informados pelas testemunhas, assim como de quaisquer ocorrências que o investigador observe em primeira mão. Isso significa que os casos de memórias de vidas passadas confrontam a dificuldade central de todos os casos espontâneos—a falibilidade da memória humana. Para a discussão deste e de outros pontos em relação a casos espontâneos em geral, ver West (1948) e Stevenson (1971b).

Além disso, os casos de memórias de vidas passadas encontram algumas dificuldades especiais que os tornam facilmente a área mais desafiante da pesquisa de campo em parapsicologia. Uma delas é o simples fato de que a maioria dos sujeitos são crianças, que com freqüência são muito jovens. Algumas destas crianças começam a relacionar suas memórias logo que são capazes de falar. Elas podem apresentar dificuldades para articular certos sons, tais como nomes de pessoas ou de lugares. Podem corrigir a pronúncia mais tarde, quando crescerem, mas se isso não acontecer, elas podem deixar os investigadores realmente perdidos. Crianças jovens também podem misturar memórias da vida anterior com memórias e fantasias da vida presente, e em geral têm dificuldade para discernir o presente do passado, e a memória da imaginação. As crianças tipicamente param de falar de suas memórias depois de alguns anos, o que força os investigadores que chegam ao local tardiamente a contar com pessoas que estavam presentes enquanto o caso ainda estava ocorrendo.

É comum que os casos se desenvolvam nas sociedades que crêem na reencarnação e em suas manifestações, e o investigador deve ter o cuidado de diferenciar os fatos de um caso das interpretações impostas pelos informantes. Ele também deve ser sensível ao fato de que um caso pode refletir nada mais do que uma série de crenças. Não há nenhuma dúvida de que as crenças frequentemente são refletidas nos casos, o que fez com que Stevenson colecionasse as crenças sobre reencarnação de um determinado povo, assim como os casos que sugerem este fenômeno e que foram identificados como ocorrendo com pessoas daquele mesmo povo. Por outro lado, as crenças não parecem ser suficientes para explicar muitos casos. Pasricha (1988) descobriu que os conceitos das pessoas que não tinham nenhuma familiaridade com casos de memórias de vidas variavam significativamente em relação ao que os casos sugeriam (por exemplo, as pessoas que foram entrevistadas pensavam que os sujeitos seriam mais velhos do que são).

Um outro problema provém de muitos casos ocorridos em lugares que não são conhecidos pelos investigadores (tais como Stevenson), o que pode exigir que o trabalho seja feito com a ajuda de intérpretes. Contudo, a barreira da linguagem não é a única barreira a ser superada. Diferenças culturais podem ser bem mais do que um obstáculo. Certas perguntas e respostas que são claras em um contexto cultural podem ser mal interpretadas ou não fazer nenhum sentido em outro. Uma diferença particularmente importante, do presente ponto de vista, encontra-se no conceito de paranormalidade. Como Cook (1986b, p. 92) observou, é fácil para os ocidentais esquecerem que tantas pessoas não compartilham do seu conceito sobre o que é paranormal e o que não é. Para as pessoas que acreditam que casos de memórias de vidas passadas são mais ou menos uma ocorrência natural, detalhes como o quê exatamente uma

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criança disse e quando ela disse podem não ter grande importância, e pode ser difícil—ou até mesmo impossível—que tempos depois a pessoa se lembre com exatidão o que aconteceu.

Felizmente, nem todos os casos disponíveis dependem dos registros de investigadores forasteiros. Os nativos das sociedades em que os casos ocorrem (p.ex., Andrade, 1988; Bissoondoyal, 1955; Gupta, Sharma, & Mathur, 1936; Le Quong Hu’ o’ng, 1972; Pal, 1961-1962; Pasricha, 1978; Rawat, 1985; Sahay, 1927; Sunderlal, 1924) informaram casos investigados por eles mesmos várias vezes. Outros casos foram informados por antropólogos profissionais (p.ex., de Laguna, 1972; Emmons, 1982; Goulet, 1982; Mills, 1988a, 1988b; Slobodin, 1970) ou por outras pessoas completamente familiares com as culturas em questão (Fielding Hall, 1902; Hearn, 1897; Story, 1975).

Em função das dificuldades intrínsecas do material, o futuro pareceria pertencer ou a parapsicólogos conhecedores da língua nativa ou a antropólogos treinados, se não a ambos. Os antropólogos podem desejar incorporar os métodos de Stevenson (ver Seção 2.2.3) em suas técnicas de pesquisa, como Mills (1988a, 1988b) fez, mas eles provavelmente irão querer passar de um foco estritamente parapsicológico sobre questões evidenciais para um interesse mais amplo que envolve o contexto cultural dos casos a serem investigados, tal qual foi defendido por Hess (1988). Os leitores interessados em uma introdução aos métodos antropológicos de investigação de campo podem consultar Bernard (1988). 2.2.2. Investigações Antes de 1960

As investigações de casos de memórias de vidas passadas antes de 1960

variaram consideravelmente em qualidade. Alguns casos, como os de Anne (R., 1915) não foram submetidos a qualquer investigação. Isto aparece ser verdade mesmo quando se trata de alguns dos melhores casos desenvolvidos, incluindo os descritos por Fielding Hall (1902) e Khare (1930) assim como a maioria dos apresentados por Delanne (1924) e Shirley (1936).

Alguns casos mais antigos, no entanto, foram examinados por investigadores de fora. A investigação de um caso feita pelo Magnata Imperador Aurangzeb foi observada. O caso japonês de Katsugoro também foi investigado, e Hearn (1897) inclui traduções de uma série de documentos selados e assinados que atestam o caso. Investigações extensas foram conduzidas no caso de Shanti Devi (ver Bose, 1959; Gupta, Sharma, & Mathur, 1936; Manas, 1941). Sunderlal (1924) e Sahay (1927) informam um total de 11 casos investigados por eles próprios.

Nem todas estas investigações ocorreram sem serem criticadas (ver Chad, 1962b, 1962d), embora alguns casos incluam a importante característica de possuírem registros escritos das declarações feitas pelo sujeito e registradas antes do processo de verificação das mesmas ter sido iniciado (ver Seção 2.5.1). A qualidade dos relatórios também varia de forma considerável. É comum que eles não nos contem tudo o que necessitamos saber para que possamos avaliar os casos à nossa maneira, e com freqüência eles não incluem informações que gostaríamos de ter e que posteriormente nos permitiriam fazer uma comparação com os casos que foram investigados de forma mais completa. Felizmente os relatórios completos incluem os casos que foram mais cuidadosamente investigados (Gupta,

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Sharma, & Mathur, 1936; Hearn, 1897; Lancelin, n.d.; Sahay, 1927; Sunderlal, 1924). 2.2.3. Métodos Introduzidos por Stevenson

Stevenson introduziu um novo nível de sofisticação na investigação e registro de

casos de memórias de vidas passadas, e seus métodos foram adotados por outros (p.ex., por Andrade, 1988; Bayer, em Durant, 1968; Cook, 1986a; Mills, 1988a, 1988b; Pasricha, 1978; Rawat, 1985; Story, 1975; em Durant, 1968). Os métodos de Stevenson tornaram-se o padrão para o campo, e por essa razão merecem uma atenção maior.

Face às dificuldades descritas na Seção 2.2.1, Stevenson desenvolveu procedimentos (ver Stevenson, 1975b, pp. 18-50; 1977c; 1987a, Capítulo 6) que até alguns de seus críticos admiram (p.ex., ver Brody, 1979a, 1979b; L. E. Rhine, 1966). Seguindo o exemplo dos primeiros investigadores da Society for Psychical Research, Stevenson tenta entrevistar o sujeito e todas as testemunhas sobre as memórias alegadas e o comportamento do sujeito. Ele dá ênfase às entrevistas com múltiplas testemunhas em primeira mão (e apresenta uma relutância em creditar testemunhas de segunda mão), às entrevistas repetidas com cada testemunha, ao registro do que foi dito e quando foi dito, e à avaliação da credibilidade da testemunha. Registros escritos feitos antes de as declarações do sujeito serem verificadas são raros (ver Seção 2.5.1), mas registros de hospitais, atas de tribunais, certidões de nascimento e horóscopos (que podem fornecer o mais exato registro de uma data de nascimento) que podem ajudar a estabelecer fatos são utilizados com freqüência.

Depois de entrevistar o sujeito e sua família, Stevenson entrevista a família da pessoa prévia, caso esta tenha sido identificada, empenhando-se em fazer uma verificação independente do caso. Se a família anterior não foi identificada, e uma tentativa de fazê-lo então parecer justificada, o próprio Stevenson se encarregará dessa tarefa (p.ex., ver Stevenson & Samararatne, 1988). Stevenson rotineiramente retoma suas entrevistas com os informantes principais ou tem pessoas na sua equipe que são responsáveis pela condução de contínuas investigações em seu favor. Cada relatório de caso inclui uma detalhada descrição de como a investigação foi conduzida.

É importante compreender que os métodos de Stevenson se desenvolveram com o tempo, e que o nosso conhecimento sobre todos os casos não é igual. Quando ele foi à Índia pela primeira vez em 1961, não estava preparado para as notáveis memórias comportamentais encontradas em muitos casos; Stevenson levou alguns anos para perceber a grande importância delas, e só então começou a fazer inquéritos sistemáticos sobre o assunto (Stevenson, 1987a, pp. 126-127). Podemos imaginar que Stevenson era lento em apreciar a importância de outras características dos casos, e em fazer inquéritos sistemáticos referentes às mesmas. Suas primeiras notas contêm muitas lacunas, já que na época ele não percebia a importância de registrar o que os informantes diziam o mais literalmente possível, e foi somente por volta de 1970 que ele e os que trabalhavam com ele começaram a registrar sistematicamente as perguntas

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feitas aos informantes bem como as respostas recebidas (Stevenson, 1987a, p. 128). Contudo, não há nenhuma razão para acreditar que os primeiros casos

investigados de Stevenson (p.ex., Stevenson, 1966b, 1974c) foram inadequadamente investigados. As críticas, tanto gerais quanto específicas, dos métodos de pesquisa de Stevenson são tratadas na Seção 4, e os leitores que estiverem interessados em saber mais sobre elas podem ir diretamente a essas páginas. Por ora podemos aceitar os métodos como adequados ao material, e prosseguiremos com as considerações sobre eles. 2.3. Características do Caso Típico (Criança)

A Seção 3.2 discute as indicações de que o típico caso de memórias de vidas

passadas publicado encontra-se no final de uma série, cuja outra ponta é representada por casos relativamente pouco desenvolvidos que podem incluir nada mais impressionante do que uma marca de nascimento vagamente sugestiva ou um determinado comportamento. Nesta Seção, as características do caso típico publicado, que podem ser entendidas como representando a (relativamente rara) variedade bem-desenvolvida, são descritas.

Em função da grande quantidade de material sobre casos a ser resumido, nem sempre será possível citar todas as fontes em que as generalizações ou conclusões são baseadas. Esta prática é lamentável, mas inevitável, dadas as restrições editoriais. Os leitores também devem levar em consideração que nós ainda não temos estudos de incidência da maioria das características envolvidas. Dados substanciais que esclarecem muitos pontos serão encontrados em Stevenson (1987a).

O caso de Ravi Shankai (Seção 1.3) representa um exemplo de um caso típico de memórias de vidas passadas publicado. Apesar disso, não demonstrou todas as características comumente recorrentes em casos dessa natureza. Na revisão a seguir os casos de Stevenson serão considerados junto com casos informados por outros, tanto antes quanto depois de 1960. Embora só os melhores casos averiguados sejam citados, os comentários feitos acima sobre a variação da qualidade do material dos casos devem ser mantidos em mente. A menos que o contrário seja determinado, todos os casos são resolvidos. 2.3.1. O Sujeito Típico

Os melhores casos espontâneos desenvolvidos de memória de vidas passadas são

distinguidos por uma alegação da criança de ter vivido antes como uma outra pessoa específica; a interpretação de reencarnação quase sempre vem do próprio sujeito, e não é imposta pelos adultos próximos. As crianças não parecem considerar as pessoas prévias como separadas de si, como seria o caso de amigos imaginários, mas se identificam com estas pessoas seguindo uma linha de desenvolvimento contínuo.

Muitas crianças exigem ser chamadas pelo nome da pessoa prévia, e algumas parecem esperar que devem ser reconhecidas como sendo a pessoa da vida

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passada (ver Stevenson, 1983b, p. 94, para exemplos deste último). É interessante o fato de que muitas destas crianças são tidas como sendo mais inteligentes e mais maduras do que seus irmãos ou colegas. Elas podem aprender a falar mais cedo e usar uma linguagem adulta mais prontamente, e podem apresentar precocidade de interesse por religião ou sexo ou seu desejo para cigarros ou álcool.

A maioria dos casos espontâneos de memórias de vidas passadas se desenvolve dentro de culturas que sustentam crenças sobre a reencarnação. A maioria dos sujeitos reside em pequenos povoados ou aldeias e nascem em famílias relativamente pobres e incultas (Stevenson, 1987a, p. 96). O número de rapazes ultrapassa o de meninas em dois para um (Stevenson, 1986a; ver Seção 3.3). 2.3.2. As Afirmações do Sujeito

Duas das mais fortes características recorrentes dos casos mais estudados de

memórias de vidas passadas são a idade jovem em que os sujeitos começam a falar da vida passada e a idade em que eles param de falar sobre isso algum tempo depois. O sujeito típico tem entre dois e cinco anos quando ele faz a primeira declaração sobre uma vida passada. (Matlock, 1989a, identificou 2,75 anos como a idade média da primeira vez que se falou de vidas passadas numa série de 95 casos resolvidos publicados.) É comum que os sujeitos parem de falar espontaneamente de suas memórias depois de alguns anos, e as memórias parecem sumir da consciência. Isto normalmente acontece entre as idades de cinco e oito, embora alguns sujeitos aleguem ser capazes de lembrar-se da vida passada em anos posteriores e até mesmo na idade adulta.

O sujeito típico encontra-se no costumeiro estado de vigília quando fala de suas memórias. Em alguns casos as memórias estão relacionadas ao sono, e mais ocasionalmente a doenças, mas as alterações radicais de consciência em crianças são tão raras que quando acontecem devem ser destacadas. Parmod Sharma (Stevenson, 1974c) e Dolon Champa Mitra (Stevenson, 1975b) se comportavam de forma incomum já que às vezes pareciam abstraídos da vida presente ao falarem de suas memórias. Krishnanand (1968) informa o caso de um menino de 10 anos de idade que passou a ter uma outra personalidade numa ocasião, e que durante esse episódio conduziu o caminho ao lar da pessoa prévia e localizou uma quantia de dinheiro que estava escondida no local. Estados alterados de consciência estão frequentemente ligados a memórias de vidas passadas de sujeitos adultos (ver Seção 2.4).

O típico sujeito infantil não exige nenhum estímulo aparente para falar sobre suas memórias (Matlock, 1989a; ver Seção 3.5.3). Alguns sujeitos parecem falar da vida passada constantemente. Outros exigem um ou outro tipo de estímulo, enquanto alguns não fazem nenhuma declaração que não seja estimulada. Mallika Aroumougam (Stevenson, 1974c) não fez nenhuma declaração que não tenha sido estimulada por algo que a fez lembrar-se da vida passada.

Alguns sujeitos fazem muitas e diferentes declarações sobre a vida passada enquanto outros dizem as mesmas poucas coisas repetidamente. Alguns sujeitos dizem quase

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tudo o que têm a dizer num período curto de tempo. Gopal Gupta (Stevenson, 1975b) disse a maior parte do que tinha a dizer de modo explosivo logo após um pedido para que um convidado retirasse os óculos em sua casa.

Enquanto muitos sujeitos dão a impressão de que suas memórias estão sempre com eles, os acontecimentos que eles alegam lembrar não constituem a plena extensão das experiências da pessoa cuja vida eles dizem lembrar. Se uma generalização pudesse ser feita, seria a de que as declarações se relacionam aos acontecimentos que teriam sido de importância emotiva à pessoa prévia. A maioria dos sujeitos descreve como a pessoa prévia morreu, e de modo geral suas memórias tendem a se aglutinar em torno de acontecimentos do último ano, mês, e dias da vida passada. No entanto, alguns sujeitos informam memórias de muitos anos antes disto. As memórias de Lalitha Abeyawardena se relacionaram principalmente aos acontecimentos dos últimos anos da vida passada, mas ela também fez declarações que foram verificadas sobre um incidente que ocorreu 22 anos antes da morte da pessoa prévia (Stevenson, 1977a).

Os sujeitos normalmente dizem o nome da pessoa prévia, o nome da família e de amigos da pessoa, assim como o povoado em que vieram, e outros nomes que ajudam na verificação das declarações. A maioria dos casos asiáticos do Stevenson é do tipo resolvido (Stevenson, 1983b, p. 191), e embora cerca de 90% das declarações registradas nesses casos possam ser verificadas (p.ex., ver Stevenson & Samararatne, 1988), os sujeitos freqüentemente cometem erros de um tipo ou de outro. Os erros acontecem principalmente quando eles descrevem o modo em que a pessoa prévia morreu. Às vezes eles parecem misturar ou confundir as memórias da vida passada. Sujith Lakmal Jayaratne (Stevenson, 1977b), por exemplo, aparentemente confundiu as memórias de duas casas diferentes.

Na maioria dos casos, apenas uma única vida passada é lembrada. No entanto, alguns casos em que sujeitos alegaram lembrar-se de mais de uma vida passada já foram relatados. Swarnlata Mishra (Stevenson, 1974c) alegou memórias e executou danças e canções que ela disse serem relacionadas a uma vida intermediária entre sua vida presente e a vida passada—à qual a maioria de suas memórias diziam respeito (esta vida intermediária, no entanto, não foi verificada). Em alguns casos, os sujeitos lembraram a vida de pessoas que alegaram lembrar-se de vidas passadas (p.ex., Mounzer Haider, em Stevenson, 1980). Alguns sujeitos também alegam lembrar-se de acontecimentos que ocorreram entre a morte da pessoa prévia e o próprio nascimento (ver Seção 2.3.6).

A perda das memórias pode ocorrer devido a uma sobreposição das memórias visuais. Os pais de muitas crianças relacionam o esquecimento ao início da vida escolar que traz consigo novos interesses e impressões. Não é raro que os pais dos sujeitos encorajem o esquecimento das memórias, como fez o pai de Ravi Shankar. O esquecimento parece ocorrer na mesma época não importando se os sujeitos tiveram a ajuda de suas famílias (Stevenson, 1987a, p. 107), embora ocorra mais cedo em casos não resolvidos do que em casos resolvidos (Cook et al., 1983b; ver Seção 3.5.2).

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2.3.3. Os Reconhecimentos do Sujeito

Muitos sujeitos solicitam repetidamente ser levados de volta aos seus lares

prévios, aos quais eles acreditam pertencerem. Para silenciá-los, ou por alguma outra razão, mais cedo ou mais tarde muitos pais cedem, e estas visitas às vezes desencadeiam memórias adicionais da vida passada. Não raramente os sujeitos são capazes de guiar o caminho até o lar da pessoa prévia, às vezes percorrendo caminhos ou trajetos que não estão mais em uso. Todavia, se os lugares ou as pessoas mudaram substancialmente no intervalo desde a morte da pessoa prévia, o sujeito pode não os reconhecer. Muitos sujeitos têm mais facilidade para reconhecer pessoas em fotografias tiradas durante os períodos em que as pessoas prévias os conheciam do que para reconhecer estas mesmas pessoas em suas aparências atuais.

Os reconhecimentos de pessoas ou lugares são freqüentemente os estímulos iniciais para as memórias (Matlock, 1989a; ver Seção 3.5.3). Em tais casos, naturalmente, não temos nenhuma garantia de que os sujeitos não tiveram nenhuma memória antes de eles terem começado a falar sobre elas. Katsugoro (Hearn, 1897) disse que suas memórias já começavam a desaparecer quando ele falou pela primeira vez sobre elas. 2.3.4. As Memórias Comportamentais do Sujeito

Os sujeitos de casos espontâneos de memórias de vidas passadas se identificam

com pessoas prévias tanto através de seus comportamentos quanto de suas declarações e reconhecimentos. Os sujeitos podem exibir um vasto leque de comportamentos, hábitos, aptidões, habilidades, filias, e fobias relacionadas à vida passada, alguns deles bem característicos das pessoas sobre as quais se comenta. Juntos, esses comportamentos constituem as memórias comportamentais.

As memórias comportamentais em sujeitos que dizem que eram pessoas do sexo oposto podem incluir vestimentas no estilo do sexo oposto e a preferência por brincadeiras de um tipo normalmente associado ao sexo oposto, assim como podem exibir características de personalidade do sexo oposto. Ampan Pecherat (Stevenson, 1983b) e Paulo Lorenz (Stevenson, 1974c) são exemplos. Os sujeitos que alegam ter sido pessoas de países estrangeiros em suas vidas passadas (sujeitos dos assim chamados “casos internacionais”) podem exibir comportamentos coerentes com os hábitos dos países de onde eles dizem ter vindo. Stevenson (1983b, pp. 216-217) lista várias características de comportamentos de um grupo de sujeitos burmeses que afirmaram ter sido soldados japoneses mortos em Burma durante a Segunda Guerra Mundial.

Comportamentos igualmente surpreendentes são evidentes em sujeitos que alegam ter sido membros de diferentes castas ou grupos religiosos. Jasbir Singh (Stevenson, 1974c) e Veer Singh (Stevenson, 1975b) são notáveis pelas atitudes brâmanes que eles demonstraram em suas famílias de casta mais baixa. Swaranlata (Pasricha & Stevenson, 1977), que disse ter sido membro da casta de varredores de rua em sua vida passada, apreciava a limpeza mais do que seus irmãos e demonstrava outros comportamentos característicos da pessoa prévia em vida.

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As memórias comportamentais podem incluir habilidades possuídas pelas pessoas prévias, mas não aprendidas pelos sujeitos. Assim Paulo Lorenz (Stevenson, 1974c) era particularmente habilidoso com a máquina de costura; Carlos Chotkin Jr. (Stevenson, 1974c) em reparar motores de barco; e Bishen Chand Kapoor (Sahay, 1927; Stevenson, 1975b) em tocar um instrumento musical, o tablas. Línguas estrangeiras, desconhecidas pelos sujeitos em sua vida presente, mas usadas corretamente por eles (xenoglossia), formam uma classe especial de habilidades recordadas, e são tratadas na Seção 2.5.2.

A identificação com a pessoa prévia tipicamente tem um forte componente emocional. Mounzer Haidar (Stevenson, 1980) sentia um desejo tão forte de ir ao lar da pessoa prévia que se recusou a comer por três dias até finalmente ser levado ao local. Alguns sujeitos, como Ravi Shankar e Prakash Varshnay (Stevenson, 1974c), fugiram de casa. Muitos sujeitos revelam-se fortemente ligados aos pertences das pessoas de quem que falam, a ponto de afirmarem que os pertences são seus.

O envolvimento emotivo é mostrado principalmente no modo com que muitos sujeitos se referem às famílias e a outras pessoas ligadas à vida passada. Em muitos casos, os sujeitos comportam-se para os membros da família da pessoa prévia como a pessoa prévia teria se comportado. Sukla (Stevenson, 1974c) e Hair Kam Kanya (Stevenson, 1983b) comportaram-se como mães das crianças da pessoa prévia, e Erkan Kilic (Stevenson, 1980) agiu como um pai. Quando a animosidade seria mais apropriada do que a afeição, percebe-se que os sujeitos mantêm distância. As pessoas prévias nos casos de Gopal Gupta (Stevenson, 1975b) e de Ratana Wongsombat (Stevenson, 1983b) tiveram casamentos infelizes, e Gopal e Ratana eram frios em relação às esposas anteriores dessas pessoas.

As fobias estão entre as memórias comportamentais mais interessantes, ocorrendo freqüentemente nos casos em que a pessoa prévia morreu violentamente (Seção 3.4.6). Os sujeitos que alegam lembrar-se de ter morrido por afogamento, por exemplo, podem ter uma fobia de água, instrumentos que figuraram na morte da pessoa prévia, pessoas que os manejaram, ou locais onde o assassinato ou o acidente ocorreu. Algumas fobias são muito específicas. Sharma Parmod Sharma (Stevenson, 1974c) tinha uma aversão forte a comer coalhada, que foi a causa da morte da sua pessoa. Outras fobias são generalizadas. Sujith Lakmal Jayaratne (Stevenson, 1977b) tinha um pavor imenso de caminhões e jipes, e quando tinha oito meses de idade sua mãe acidentalmente descobriu que dizer a palavra “caminhão” fazia com que ele bebesse seu leite quando ele resistia e se recusava a fazê-lo.

As memórias comportamentais, especialmente as fobias, podem aparecer antes de um sujeito começar a falar sobre a respectiva vida passada. A reação de Sujith à palavra “caminhão” é um exemplo disto. De forma semelhante, Erkan Kilic (Stevenson, 1980) encolhia-se quando ouvia os aviões voarem, e isso acontecia antes mesmo de ele começar a dizer que tinha sido um homem que tinha morrido num acidente de avião. Alguns sujeitos jovens completam suas palavras com gestos. Suleyman Zeytun (Stevenson, 1980), nascido surdo e mudo, expressou suas memórias inteiramente através de gestos.

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As memórias comportamentais normalmente duram mais tempo, cerca de alguns anos, do que as memórias visuais e verbais. Algumas duram bastante tempo. Ma Tin Aung Myo (Stevenson, 1983b), sujeito de um caso não resolvido de mudança de sexo, manteve sua identidade masculina na idade adulta, e eventualmente começou a viver abertamente com uma mulher. As aversões a pessoas (especialmente assassinos) relacionadas à vida passada também podem persistir depois que as memórias visuais associadas desaparecem da consciência. Ravi Shankar continuou a temer os assassinos da pessoa que ele alegou ter sido, embora ele não pudesse dizer ao certo o por quê; o mesmo ocorreu com Amy, um sujeito de Mills (1988b). 2.3.5. As Memórias Físicas do Sujeito

Correspondências físicas entre o sujeito e a pessoa prévia (tais como marcas de

nascimento) podem (por conveniência e coerência) ser chamadas de memórias físicas. Memórias físicas podem não ser mais do que uma semelhança física informada. Quando Katsugoro (Hearn, 1897) encontrou a família da pessoa que ele alegou ter sido, os parentes observaram a semelhança entre ele e a pessoa prévia. Alexandrina Samona (Lancelin, n.d.; Shirley, 1936) se parecia tanto com a irmã morta que lhe foi dado o mesmo nome. Os gêmeos ingleses de Pollock também apresentavam fortes semelhanças com as irmãs mortas (ver a fotografia reproduzida em Wilson, 1982).

Nos casos em que tanto o sujeito como a pessoa prévia são da mesma família, as memórias físicas podem ser resultado da genética e nada mais. Isto é particularmente verdade quando apenas semelhanças físicas gerais são alegadas. As memórias físicas, no entanto, podem ser tão específicas quanto as memórias comportamentais. Bishen Chand Kapoor (Stevenson, 1975b) e a pessoa prévia do seu caso tiveram infecções de olho semelhantes que melhoraram com o mesmo medicamento especial. Alexandrina I e II tiveram infecções de olho e de ouvido semelhantes (Lancelin, n.d.; Shirley, 1936). Tanto Jacira (Andrade, 1980, 1988) como a pessoa que ela alegou ter sido eram vesgas. Certamente as mais notáveis memórias físicas são as marcas e defeitos de nascimento, sobre os quais Stevenson colecionou cerca de 200 casos. Publicou alguns (Ravi Shankar é um exemplo), embora tenha reservado a maioria dos casos para volumes, que atualmente estão sendo organizados, dedicados especificamente a este tema.

Andrade (1988) informa dois casos (não resolvidos) com marcas de nascimento, e reproduz as fotografias relacionadas a um deles. Marcas de nascimento nos locais de ferimento do ombro e pescoço apareceram no caso estudado por Aurangzeb (ver Stevenson, 1987a). Uma marca de nascimento representando uma ferida de ombro aparece num caso informado por Fielding Hall (1902). Uma marca de nascimento também desempenhou um papel importante em um dos casos de Sunderlaps (1924). É interessante notar que marcas de nascimento (e defeitos de nascimento) são particularmente comuns nos casos relativamente pouco desenvolvidos e relatados com freqüência na literatura antropológica (Matlock, 1989b; ver também Parrinder, 1951).

Embora marcas de nascimento normalmente correspondam a ferimentos fatais, este não é sempre

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o caso. Kumkum Verma (Stevenson, 1975b) tinha marcas nos lóbulos de suas orelhas onde sua pessoa prévia tinha usado brincos. As marcas de nascimento às vezes se transformam em pintas. Maung Yin Maung (Stevenson, 1983b) tinha uma pinta na parte inferior de seu pescoço, exatamente no local em que a sua pessoa prévia teve uma.

Talvez o defeito de nascimento mais chamativo até então publicado seja o de Wijeratne (Stevenson, 1974c). Wijeratne nasceu com um braço direito atrofiado e dedos com membranas natatórias, que ele creditou ao fato de ter matado sua esposa usando o braço em sua vida passada.

As marcas e defeitos de nascimento podem corresponder a marcações ou mutilações colocadas ou realizadas sobre o corpo da pessoa prévia depois da morte. Estas marcações são feitas com a intenção de ajudar na identificação da pessoa na próxima vida (Stevenson, 1983b, 1985). Assim, Ampan Pecherat (Stevenson, 1983b) tinha uma marca de nascimento que correspondeu a uma marca vermelho-ocre que a tia da pessoa prévia tinha feito no corpo antes de sua cremação.

Exceto nos casos mais extremos (p.ex., o de Wijeratne), os defeitos de nascimento se curam e as doenças internas desaparecem com o tempo. As marcas de nascimento também podem mudar de posição e desaparecer. 2.3.6. Outras Características Comuns

Algumas características comumente encontradas em casos de crianças com memórias de vidas passadas não se relacionam ao sujeito, nem à sua família, nem à pessoa prévia do caso. A pessoa prévia no caso de Corliss Chotkin, Jr. (Stevenson, 1974c) expressou sua intenção de renascer na família Corliss e disse que ele seria reconhecido por marcas de nascimento representando cicatrizes que ele tinha; Corliss nasceu com marcas nos locais indicados. A pessoa prévia no caso de William George, Jr. (Stevenson, 1974c) expressou uma intenção semelhante, também aparentemente cumprida. Ambos são casos de índios Tlingit; tais casos ocorrem freqüentemente entre os Beaver e os Gitksan (Mills, 1988b).

Em alguns casos, retornos preditos são associados a sonhos subseqüentes da mãe grávida. Isto ocorreu no caso de William George, Jr. (Stevenson, 1974c). Em muitos outros casos, o “sonho anunciador” ocorre sem que o retorno tenha sido predito. Sonhos anunciadores ocorrem comumente, embora não ocorram sempre, à mãe pouco antes ou enquanto ela está grávida. Eles também podem ocorrer ao pai (p.ex., ver Emmons, 1982) ou a um parente próximo ou amigo da mãe (p.ex., ver Mills, 1988b). Stevenson (1987a, p. 99) afirma que sonhos anunciadores foram encontrados em todas as culturas em que ele identificou casos de reencarnação.

Embora os “anúncios” se manifestem mais frequentemente através de sonhos, eles tomaram a forma de aparições nos casos de Blanche Batista (Delanne, 1924; Shirley, 1936) e Maung Yin Maung (Stevenson, 1983b). Os anúncios também podem estar associados a hauting ou poltergeist (Mills, 1988b). Outros anúncios se manifestam através de comunicações mediúnicas. Os casos de Alexandrina Samona (Lancelin, n.d.; Shirley, 1936), Paulo

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Lorenz (Stevenson, 1974c), Hair Kam Kanya (Stevenson, 1983b), e Jacira (Andrade, 1980, 1988) apresentam exemplos de anúncios em comunicações mediúnicas.

Uma característica notável de alguns casos são os desejos experimentados pelas mães dos sujeitos durante o período de gravidez. Durante sua gravidez com Bongkuch Promsin (Stevenson, 1983b), sua mãe teve um desejo forte de comer macarrão, sopa e tamarindos. O próprio Bongkuch adorava uma sopa de macarrão de sopa (embora não gostasse de tamarindos), como a pessoa prévia do seu caso. É interessante notar que a mãe da pessoa prévia teve o mesmo desejo quando estava grávida dele.

Alguns sujeitos dizem que eles se lembram de experiências que tiveram entre suas mortes na vida passada e seus nascimentos em suas vidas presentes (o chamado período de intermissão). Às vezes eles dizem que se lembram de ter enviado sonhos anunciadores, e raramente alegam lembrar-se de visitar seus pais como aparições antes de nascerem. Stevenson (1982) menciona três casos com a última característica. Para ter acesso a um exemplo publicado, veja o caso de Maung Yin Maung (Stevenson, 1983b).

Podemos chamar as memórias relacionadas ao período de intermissão de memórias da intermissão. Os sujeitos que alegam memórias da intermissão dizem que depois que morreram permaneceram próximos ao lar da pessoa prévia, e eles afirmam que observaram acontecimentos que realmente ocorreram nesta época. Veer Singh (Stevenson, 1975b) disse que tinha vivido numa figueira depois de sua morte. Mencionou processos envolvendo a família da pessoa prévia e um camelo comprado pela família. Ele também mencionou os nomes das crianças que nasceram depois da morte da pessoa prévia e reconheceu duas delas. Além disso, ele disse que tinha ficado irritado com algumas mulheres que se balançavam em um dos galhos de sua figueira, e fizeram com que a tábua em que elas sentavam quebrasse. Todos estes incidentes tinham ocorrido como ele descreveu.

Alguns sujeitos dizem que suas experiências de intermissão terminaram quando encontraram um de seus pais. Story (1975) descreve um caso em que um sujeito disse que tinha esperado a chegada de sua mãe da vida passada numa aldeia quando, em vez disso, quem apareceu foi a sua mãe atual. Outros sujeitos (especialmente do sudeste da Ásia) dizem que depois da morte eles se encontraram com um homem vestido de branco que os levou até seus pais. Estas figuras são semelhantes àquelas que às vezes precipitam o retorno ao corpo em experiências de quase morte (p.ex., ver o caso da Índia informado por Osis & Haraldsson, 1977, p. 152).

Os sujeitos que alegam memórias de intermissão às vezes dizem que lhes foram oferecidos alimentos, normalmente uma fruta, pelo “homem de branco”, mas conseguiram se livrar dela quando ele não olhava. Eles atribuem a sua capacidade de lembrar-se da vida passada a esse feito. A “fruta do esquecimento” foi identificada em várias culturas, mas às vezes com transformações. No caso vietnamita de Le Quong Hu’o’ng (1972), foi uma sopa e o sujeito livrou-se dela jogando-a para o seu cão, que foi morto ao mesmo tempo que ele. Stevenson (1983b)

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e Story (1975) descrevem vários casos com memórias de intermissão. Schnetzler (1986) examina 20 casos publicados com esta característica.

2.3.7. O Desenvolvimento Posterior do Sujeito

Estudos de desenvolvimento longitudinais dos sujeitos de casos de memórias de

vidas passadas são necessários para determinar os efeitos a longo prazo em suas memórias. Na ausência de tais estudos, podemos analisar os casos em que os sujeitos que alegaram memórias quando crianças foram entrevistados na idade adulta. Os casos de Jagdish Chandra e Bishen Chand Kapoor (Stevenson, 1975b) são especialmente valiosos, porque quando crianças eles foram estudados e relatados por Sahay (1927). Nestes dois casos temos um relatório contemporâneo de memórias da infância para comparar com o relatório posterior. Um bônus adicional é que o registro escrito de Sahay foi feito antes que ele tentasse verificar as declarações das crianças (Seção 2.5.1). Outros casos estudados por Stevenson quando seus sujeitos estavam no meio ou no fim da adolescência incluem Marta Lorenz e Paulo Lorenz (Stevenson, 1974c), Choakhun Rajusthajarn (Stevenson, 1983b), e Sayadaw U Sobhana (Stevenson, 1983b). Andrade (1988) fornece outro exemplo no caso de Rodrigo.

As memórias visuais de Jagdish não se perderam muito com os anos, e ele permaneceu fortemente unido à família da pessoa prévia, visitando seu lar (numa cidade distante) regularmente. A maioria de suas memórias comportamentais, que no início da infância tinham sido bastante fortes, se enfraqueceram depois que completaram seis anos, embora algumas (tais como uma preferência por doce) tenham persistido adentrando a idade adulta antes de diminuir. A única memória comportamental que persistiu fortemente foi um interesse por carros. Sahay notou marcas de nascimento pequenas nas partes superiores das orelhas de Jagdish Chandra (nos locais em que os brincos podem ter sido colocados) em 1926, mas estas tinham desaparecido na época da investigação do Stevenson iniciada em 1961.

Em contra partida, as memórias visuais de Bishen Chand Kapoor haviam desaparecido quase inteiramente por volta dos seus sete anos de idade, e na época em que ele alcançou a maioridade ele reteve uma memória clara de um único acontecimento — o assassinato impulsivo de sua pessoa prévia por um homem que ele viu deixando os quartos de sua prostituta favorita. Bishen Chand compartilhou com a pessoa prévia um temperamento que continuou até a metade da idade adulta, embora a tendência à violência tenha diminuído no fim de sua adolescência. Além da vivacidade de seu temperamento, a única memória comportamental que Bishen Chand manteve até sua maioridade foi um interesse por música e um gosto por carne e peixe (ao contrário de sua família vegetariana).

Stevenson acompanha seus sujeitos durante vários anos e cada um dos seus relatórios de caso inclui uma seção sobre o desenvolvimento posterior do sujeito. Normalmente estes relatórios sugerem o mesmo padrão de memórias comportamentais e verbais pronunciadas na infância gradualmente diminuindo em força até que ao adentrar a idade adulta só sobre um resíduo. Em alguns casos, no entanto, uma forte identificação com uma pessoa prévia na

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infância pode afetar o desenvolvimento normal da personalidade. Isto parece ter ocorrido com Parmod Sharma (Stevenson, 1974c). Problemas mais severos também podem ocorrer. Wijeratne (Stevenson, 1974c), incapaz de manter um relacionamento duradouro com uma mulher, vivia freqüentando hospícios. Paulo Lorenz (Stevenson, 1974c) fez o mesmo que a pessoa prévia do seu caso ao cometer suicídio.

2.4. Características dos Casos Adultos

Em casos adultos de memórias espontâneas de vidas passadas faltam as

memórias verbais detalhadas e as memórias comportamentais e físicas tidas como muito comuns nos melhores casos desenvolvidos de crianças. Alguns casos adultos envolvem não mais que uma identificação emotiva forte com uma pessoa ou lugar em particular. Um exemplo recentemente publicado é o caso de Dorothy Eady (Cott, 1987). Alguns casos adultos incluem um forte deja vu em que a visita a um certo lugar parece extrair certas memórias que se mostram verídicas; por exemplo, o sujeito é capaz de guiar as pessoas por povoados ou lugares ou predizer o que haverá atrás da próxima esquina. Delanne (n.d.) e Shirley (1936) registram exemplos deste tipo de deja vu, e Stevenson (1960a) descreve outro. O registro de Hubbard (1973) talvez devesse ser classificado aqui também.

Um tipo de caso adulto mais interessante inclui memórias visuais. Memórias visuais de adultos foram relatadas como emergindo em vários estados de consciência. Os casos de memórias ocorrendo a sujeitos quando estão em seus estados de vigília costumeiros são descritos por Osborne (1937), Lenz (1979), e Rogo (1985). Proporcionalmente mais casos adultos do que casos de crianças parecem estar relacionados a sonhos, freqüentemente sonhos recorrentes (ver Lenz, 1979; Rogo, 1985; Shirley, 1936). Pratomwan Inthanu, de Stevenson (1983b), lembrou duas vidas passadas enquanto meditava. Um caso de McCracken (1982) envolve meditação, e a meditação também parece ter exercido um papel ao evocar as memórias de Uttara Huddar (Akolkar, 1985; Stevenson, 1984a). O sujeito do caso de poltergeist de Lawden (1979) informou suas memórias por meio de um transe espontâneo. Pasricha, Murthy, e Murthy (1978) informam um caso adulto (também incluído em Pasricha, 1978) envolvendo memórias que emergiram durante uma pausa psicótica. Grof (1975) descreve experiências muito semelhante relatadas por sujeitos sob infuência do LSD.

Com exceção do caso de Pratomwan Inthanu (Stevenson, 1983b) e do caso informado por Pasricha, Murthy, e Murthy (1978) todos estes casos são não resolvidos, mas, surpreendentemente, um quadro coerente de memórias de adultos de vidas passadas emerge deles. É comum que os sujeitos digam que as imagens que eles identificam como sendo relacionadas a uma vida passada são diferentes em qualidade das imagens costumeiras, que de algum modo são mais nítidas e mais focalizadas. Os adultos freqüentemente têm o sentimento de distância das imagens, como se elas passassem numa tela diante deles (mas cf. Dowding, 1951, pp. 44-45). Quando nomes são lembrados, os adultos normalmente informam a sensação de que são ouvidos ou vistos sobrepostos às imagens.

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Os adultos se identificam com as imagens, mas em um grau muito menor do que as crianças se identificam com as pessoas prévias às quais se referem. Enquanto uma imagem inicial pode levar a outras imagens que permanecem na consciência quando os sujeitos são adultos, o período durante o qual isto ocorre é raramente tão prolongado quanto o período em que as crianças podem falar de suas memórias.

A ausência geral (e fraqueza quando presente) de memórias verbais nos casos de adultos faz com que eles sejam muito difíceis de resolver. Quando são resolvidos, freqüentemente o são com base em um ou dois nomes, e não na rede de correspondências detalhadas típicas dos casos de crianças. Casos adultos resolvidos são informados por Lenz (1979); McCracken (1982); e Neidhart (1956); assim como por Pasricha, Murthy, e Murthy (1978) e Stevenson (1983b). O caso de Neidhart é alemão e o de Lenz americano; os outros são asiáticos.

Casos de crianças e de adultos são fenomenologicamente tão diferentes que podem parecer ser tipos de casos diferentes. Matlock (1988a), no entanto, argumenta que casos de crianças e de adultos são apenas formas diferentes do mesmo tipo de caso, e dá exemplos de casos transitórios entre as duas formas. Nos casos transitórios, que começam a ser observados em sujeitos com quatro anos de idade, menos declarações são feitas, menos reconhecimentos ocorrem, parece haver menos características emotivas e comportamentais fortes, e não se encontram marcas ou defeitos de nascimento. As memórias são em todos os sentidos mais fracas do que nos casos em que os sujeitos eram alguns anos mais jovens quando as memórias primeiro penetraram na consciência. Há, além do mais, uma atenuação gradual na força das memórias informadas, relacionada à idade do sujeito. O processo parece estar completo por volta dos 15 anos de idade, depois disso as memórias aderem exclusivamente à forma adulta. Os exemplos de casos transitórios são o de Mallika Aroumougam (Stevenson, 1974c), Hair Kam Kanya (Stevenson, 1983b), e Suleyman Andary (Stevenson, 1980). O caso de Uttara Huddar (Stevenson, 1984b) parece ser anômalo no que se refere à forte penetração da personalidade prévia, mas talvez seja explicável em termos da relativa maturidade física e psicológica do sujeito, que poderia ter impedido uma integração mais completa das memórias.

Por tudo o que sabemos, as memórias das crianças podem surgir da mesma maneira que a dos adultos, a principal diferença é a relativa abundância e detalhe das memórias das crianças. Ainda resta muito trabalho a ser feito em casos adultos e sua relação com os casos de crianças. Os casos adultos disponíveis são de modo geral consideravelmente menos investigados do que os casos de crianças; a maioria foi estudada por pesquisadores e publicada em fóruns populares. Estes são revisados aqui principalmente na esperança de estimular uma pesquisa mais séria dos casos adultos.

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2.5. Tipos de Casos Especiais e Variantes

2.5.1 Casos com Registros Escritos

Os casos em que os registros escritos das declarações do sujeito foram feitos

antes das verificações das mesmas são importantes porque nestes casos os lapsos e distorções de memória, assim como a possibilidade de contaminação de conhecimento da família da pessoa prévia, são reduzidas. Contudo, estes casos infelizmente são muito raros. De cerca de 2.500 casos de Stevenson, só 24 (menos que 1%) possuem registros escritos feitos antes das verificações (Stevenson & Samararatne, 1988), e apenas12 foram publicados.

Os primeiros a serem publicados foram os casos de Prabhu (Sunderlal, 1924) de Jagdish Chandra (Sahay, 1927) e de Vishwa Nath (Sahay, 1927), chamado por Stevenson (1975b) de Bishen Chand Kapoor. Outros casos com registros escritos feitos antes das verificações incluem o de Georg Neidhart (Neidhart, 1956); Swarnlata Mishra (Stevenson, 1974c); Imad Elawar (Stevenson, 1974c); Kumkum Verma (Stevenson, 1975b); Indika Guneratne (Stevenson, 1977b); Sujith Lakmal Jayaratne (Stevenson, 1977b); e Thusitha Silva, Iranga Jayakody, e Mashini Gunasekera (Stevenson & Samararatne, 1988). Stevenson (1975b, p. 144) lista três casos inéditos adicionais da Alemanha Ocidental, Líbano, e Sri Lanka. O caso de Neidhart é um caso adulto da Alemanha Ocidental; os demais são casos de crianças asiáticas.

Os casos com registros escritos feitos antes das verificações não diferem dos outros casos de nenhuma forma óbvia. Eles não parecem, por exemplo, ter uma proporção maior de erros totais informados por eles (Stevenson & Samararatne, 1988). Todavia, seria bom ter uma comparação formal destes dois grupos, como temos para casos não resolvidos e resolvidos (Cook et al., 1983b; ver Seção 3.5.2).

2.5.2. Casos com Xenoglossia

A xenoglossia difere da mais familiar glossolalia pelo fato de que a glossolalia

envolve um nonsense ou no máximo uma linguagem privada ou pseudo-linguagem, enquanto a xenoglossia implica o uso correto de uma linguagem reconhecida. A xenoglossia recitativa é diferente da xenoglossia responsiva, já que a primeira envolve uma memória ou uso incompreensível da linguagem, e a última envolve a capacidade de usar a linguagem apropriadamente numa conversa. Linguagem responsiva é uma habilidade, que requer a prática de aprender, e dessa forma a xenoglossia responsiva (se puder ser estabelecida) forneceria boa evidência da sobrevivência à morte corpórea de ao menos alguma parte da personalidade.

Stevenson (1974d, pp. 14-18) descreve vários casos espontâneos de crianças com xenoglossia, incluindo os de Swarnlata Mishra, Bishen Chand Kapoor, e Kumkum Verma, para os quais escrevemos registros feitos antes das verificações

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(ver Seção 2.5.1). Em outra parte Stevenson (1983b, pp. 216-217) lista aparente xenoglossia junto com outros comportamentos notáveis compartilhados pelo grupo de crianças burmesas que alegaram memórias de soldados japoneses mortos em Burma. Andrade (1988, pp. 10-81) informa outro caso (não resolvido) de uma criança brasileira com xenoglossia italiana.

Todos estes casos fornecem exemplos de xenoglossia recitativa. Os casos de xenoglossia responsiva mais conhecidos (Stevenson, 1974d, 1984b) são casos de regressão hipnótica (ver Seção 1.4), mas o exemplo mais espetacular é o de Uttara Huddar (Akolkar, 1985; Stevenson, 1984b), que tinha cerca de 30 anos quando começou a sofrer mudanças de personalidade durante as quais ela alegou ser uma mulher bengali, e falou somente bengali. Huddar aparentemente teve alguma exposição ao Bengali, mas tanto Akolkar quanto Stevenson (cujas investigações foram conduzidas independentemente) estão certos de que ela não podia ter aprendido o suficiente para explicar a fluência exibida por sua personalidade alternada.

Huddar, em sua personalidade de Sharada, deu muitos detalhes de uma vida que lembrou em Bengal na metade do século 19, incluindo vários nomes que foram achados listados na genealogia da família em questão. Infelizmente a lista é limitada à linhagem masculina, e então a existência de Sharada permanece não demonstrada. Os casos hipnóticos de regressão com xenoglossia responsiva (Stevenson, 1974d, 1984b) são também não resolvidos, ao passo que em todos os casos de crianças resolvidos disponíveis a xenoglossia é recitativa ao invés de responsiva. Assim, é possível reter alguma dúvida sobre a importância da xenoglossia como evidência para a sobrevivência, muito menos a sobrevivência na forma de reencarnação. Casos resolvidos de memórias de vidas passadas com xenoglossia responsiva ajudariam a determinar a questão, mas nenhum caso desse tipo foi informado até agora.

2.5.3. Casos Envolvendo Gêmeos

Os casos envolvendo o que são chamados gêmeos “idênticos” (gêmeos nascidos

de um único ovo, ou monozigóticos) são de interesse especial porque quaisquer diferenças observáveis entre os gêmeos pareceriam ser atribuídas a fatores não genéticos. No entanto, a única forma segura de distinguir entre gêmeos de um ou dois ovos é por meio de exames de sangue, e Stevenson (ver Stevenson, 1987a, p. 305) só foi capaz de organizar exames de sangue para seis pares de gêmeos. Ele normalmente teve que basear sua observação nas semelhanças físicas dos gêmeos. Sem maior certeza na determinação do estado biológico dos gêmeos, seria imprudente realçar as diferenças entre gêmeos aparentemente monozigóticos.

Os casos de gêmeos possuem outras características que os tornam objeto de interesse aqui. Stevenson (1987a, p. 187) nota que de 36 casos de gêmeos em seus arquivos, 26 foram resolvidos para ambos os gêmeos. Dentre estes 26 casos, as pessoas prévias foram parentes em 19 casos e amigas ou conhecidas nos sete restantes. Em nenhum dos 26 casos de gêmeos duplamente resolvidos as pessoas prévias eram estranhas entre si.

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O mesmo padrão é evidente em casos de gêmeos publicados. Stevenson (1983b) descreve em detalhes um caso envolvendo um grupo de gêmeos, Ramoo e Rajoo Sharma, que se lembraram de vidas como gêmeos que foram assassinados ao mesmo tempo e jogados juntos num poço. Ele (Stevenson, 1987a) resume o caso de outra série, os gêmeos Pollock, que forneceram evidência de serem as reencarnações de suas irmãs que tinham morrido juntas num acidente. Fielding Hall (1902) descreve o caso de gêmeos meninos que se reconheceram como marido e esposa de uma vida passada em que eles tinham morrido juntos. Cook (1986a) informa um caso semelhante. Em dois casos publicados, só um dos gêmeos lembrou uma vida passada. Rankawat (1959) menciona um caso no qual um gêmeo alegou lembrar-se de uma vida passada em que seu irmão era seu cozinheiro. Alexandrina Samona (Lancelin, n.d.; Shirley, 1936) também era gêmea; o outro gêmeo não alegou nenhuma memória de vida passada.

2.5.4. Casos com Datas Anômalas

Há muitos casos publicados com intervalos inferiores a nove meses, e alguns

casos com intervalos de um ou de alguns dias ou mesmo de algumas horas, como parece ter ocorrido no caso de Nasir Toksoz (Stevenson, 1980). Em casos mais raros ainda o intervalo é negativo; isso é, o sujeito nascia antes de a pessoa prévia ter morrido. O caso do monge budista Chaokhun Rajusthajarn (Stevenson, 1983b) ilustra este fenômeno. Chaokhun Rajusthajarn nasceu cerca de um dia antes da morte da pessoa prévia e alegou lembrar os acontecimentos envolvendo a transição de um corpo a outro.

Em outros exemplos do que Stevenson (1987a) chama de casos com “datas anômalas”, a transição de um corpo a outro teria acontecido quando o sujeito tinha alguns anos de idade. Stevenson (1974c) publicou um caso deste tipo (o caso de Jasbir) em que o sujeito tinha três anos de idade; e Stevenson, Pasricha, e Mclean-Rice (1989) recentemente informaram outro (o caso de Sumitra Singh), em que o sujeito tinha 17 anos quando a transição ocorreu. Nestes casos, o sujeito sofreu uma doença severa, pareceu morrer, mas ressuscitou apresentando uma personalidade radicalmente diferente e alegando ser uma pessoa diferente (que, descobriu-se, tinha morrido quase simultaneamente).

Stevenson tem ao menos seis outros casos inéditos cuja discrepância entre as datas de morte e de nascimento (ver Stevenson, 1987a, p. 124) ele garante que erros de registro não podem explicar. Se a estimativa dele em relação a estes casos estiver correta, eles constituem um desafio teórico particular, porque indicam que a reencarnação não precisa ocorrer necessariamente antes do nascimento do sujeito. Tais casos assemelham-se aos casos de possessão exceto pelo fato de que a possessão parece ser permanente ao invés de passageira (cf. Stevenson, 1974c, pp. 374-377).

Com a exceção do caso de Choakhun Rajusthajarn (Stevenson, 1983b), que estava com cerca de 60 anos quando Stevenson o entrevistou, os casos de datas

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anômalas não foram acompanhados por um período suficientemente longo para determinarmos que não teria havido uma volta à personalidade original (Jasbir foi acompanhado por 17 anos e Sumitra por dois anos até a publicação dos estudos). Em todos os casos, no entanto, a segunda personalidade permaneceu no controle por um período consideravelmente mais longo do que os quatro meses que ocorreram no caso de Lurancy Vennum (Myers, 1903, v. 1, pp. 360-368; Stevens, 1897), que fornece o paralelo mais próximo da literatura sobre possessão. Num caso mais recente informado por Giovetti (1985), o período de possessão (36 horas) foi ainda mais curto.

2.5.5. Vidas Alegadas como Animais Não Humanos

A crença de que os seres humanos podem renascer como animais não humanos é

comum, não sendo apenas encontrada no Hinduísmo e no Budismo, mas também por toda a África (Besterman, 1968; Parrinder, 1951) e em algumas tribos indígenas americanas (Hall, 1956). Considerando este fato, é surpreendente que tão poucas alegações de terem sido uma vez animais sejam feitas. Ainda que os casos de memórias de vidas passadas não sejam respostas a exigências culturais (como a hipótese de fantasia sustenta), seria de se esperar que as exigências culturais afetassem os casos de memórias com mais freqüência do que acontece neste momento.

As alegações de lembranças de vidas como animais são extremamente raras (Stevenson, 1987a, p. 210). Elas ocorrem em apenas dois dos casos publicados de Stevenson. Warnasiri Adikari (Stevenson, 1977b) alegou lembrar quatro vidas passadas, uma delas como uma lebre que comia folhas e tinha sido baleada, e Pratomwan Inthanu (Stevenson, 1983b) acreditava que tinha sido um macaco em uma ou duas vidas passadas anteriores às duas humanas que ela se lembrava. Stevenson (1987a, p. 302) descreve brevemente um terceiro caso do tipo, em que uma menina burmesa alegou uma vida intermediária como um boi.

Mais freqüente do que achar sujeitos alegando se lembrarem de vidas como animais, é achar adultos numa sociedade identificando animais como as reencorporações de pessoas mortas, normalmente pela aparição repentina de um animal no momento da morte, ou de alguma semelhança percebida de comportamento entre o animal e a pessoa morta. Fielding Hall (1902, pp. 298-300) registra o caso curioso de uma mulher que poupou a vida de um cervo, acreditando ser a reencarnação de seu filho, e então foi processada pelos caçadores que o tinham perseguido. O tribunal determinou que nenhuma parte tinha razão, e manteve a custódia.

2.5.6. Casos Espúrios

Talvez de forma injusta, começamos a nossa discussão de casos espúrios com

casos fortemente anômalos para os quais não temos nenhum razão substancial para desconfiarmos. Os casos dos cátaros de Guirdham intrigam porque envolvem características tanto típicas quanto atípicas de casos de memórias de vidas passadas. A jovem idade em que dois sujeitos de Guirdham (1970, 1974) primeiro informaram suas memórias, a presença

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de doença nestas ocasiões, e os sonhos recorrentes que se seguiram são características achadas em outros casos. Das características raras, podemos destacar o longo intervalo de séculos, a qualidade fortemente mediúnica de alguns casos, as aparições em sonho e no estado de vigília, e o conceito de reencarnação de grupo em si, que num livro posterior (Guirdham, 1976) é revelado ter ocorrido em intervalos nos últimos 2.000 anos. Os livros de Guirdham tornaram-se sucessivamente mais populares em estilo, e como Gauld (1982) observa a respeito deles, qualquer avaliação final terá que ser feita através de um exame dos registros originais.

Lenz (1979) apresenta uma outra série de casos anômalos, desta vez só de adultos. Outra vez algumas características são semelhantes às características informadas em outras fontes, enquanto outras não o são. Nos breves lampejos ou visões, no sentido de o sujeito estar afastado da cena imaginada e então gradualmente ir se misturando a ela, em sua identificação com a figura central da imagem, estes casos são semelhantes a outros casos adultos. Lenz (1979) informa várias outras características associadas — como um zumbido no ouvido no princípio das memórias — que foram informadas em outros tipos de casos (p.ex., experiências fora do corpo), mas não se encontram em outros casos de memórias de vidas passadas de adultos nem de crianças. O tratamento, mais uma vez, é popular, e qualquer avaliação adequada do material terá que ser feita com os dados originais.

Passamos agora de casos anômalos a casos espúrios em si. Stevenson, Pasricha, e Samararatne (1988) descrevem seis casos asiáticos de crianças que inicialmente pareciam ser autênticos (no sentido descrito por Stevenson, Palmer, & Stanford, 1977) mas que após serem investigados revelaram algum grau de ilusão, ou total engano, da parte das pessoas envolvidas. Todos estes seis casos envolvem características semelhantes aos casos típicos de memórias de vidas passadas, e podem de fato ser casos muito fracos ou pouco desenvolvidos nos quais a fantasia ou o engano abundam. Um sétimo caso descrito pelos autores inclui características mais anômalas, e é mais nitidamente fraudulento. Este é o caso de King David (Heiman, 1968), cujo relatório foi publicado na revista Fate. O sujeito era supostamente uma criança, mas o intervalo de cerca de 3.000 anos está bem além do que os casos autênticos nos levariam a esperar (ver Seção 3.4.3).

Alguns outros casos claramente espúrios mais ou menos semelhantes aos casos típicos de memórias de vidas passadas foram informados. Bose (1959) descreve um caso envolvendo criptomnésia (amnésia de fonte). O sujeito de Bose deu uma descrição de um assassinato, informação que mais tarde foi localizada no recorte de uma notícia usada para embrulhar uma janela num edifício que sua família anteriormente tinha ocupado. A criança não alegou, no entanto, ter sido a vítima do assassinato, como faria um típico sujeito. O clássico caso descrito por Rosen (1956) é semelhante neste aspecto. O sujeito falou algumas palavras em Oscan, uma linguagem há muito tempo morta, mas ele não alegou ter memórias da vida de uma pessoa que a tenha usado. A informação envolvida nestes casos, como na maioria dos casos de criptomnésia, é muito inferior às da maioria dos casos de memórias de vidas passadas. Para um tratamento compreensivo de criptomnésia em parapsicologia, ver Stevenson (1983c).

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Chari, que gosta de chamar até mesmo os casos de memória de vida passada fortemente verídicos de “fantasias”, descreveu brevemente alguns casos em que a fantasia parece ter exercido um papel (Chari, 1973a, 1978, 1981; ver Seção 4.3). Em um caso uma menina alegou ser a encarnação da deusa Kali ou Durga. Tinha marcas de nascimento assemelhando-se aos colares, pulseiras, e anklets

1 usados por esta deusa, e continuou a falar “com uma sabedoria oracular com a passagem dos anos até que ela completou sete anos de idade” (Chari, 1981, pp. 127-128). A alegada identificação, as marcas de nascimento, e o esquecimento por volta dos sete anos fazem com que este caso seja de valor para nós. Ajuda-nos a entender como a cultura pode ajudar a formar casos deste tipo, mas podemos nos perguntar por que ele deve nos levar a questionar casos que em outras bases viemos a considerar paranormais. Assim como outros casos espúrios fortemente anômalos, no entanto, podem nos ajudar a localizar os limites dos casos autênticos.

2.6. Comentários Sobre os Estudos de Caso

Estamos agora em posição de avaliar o material do caso no que se refere às

hipóteses de reencarnação e fantasia. A hipótese de reencarnação, reconhecidamente, está em boas condições.

Contudo devemos considerar os registros de casos de memórias de vidas passadas, que é óbvio que são muito semelhantes uns aos outros, independente das culturas às quais eles pertencem. Em toda parte relata-se que a maioria dos sujeitos começou a falar de vidas passadas entre dois e cinco anos de idade e parou de falar sobre elas entre as idades de cinco e oito. Além de fazerem declarações verídicas sobre pessoas mortas e as vidas que viveram, foi registrado que os sujeitos reconheceram pessoas ligadas à vida passada e comportaram-se de forma incomum na convivência com suas famílias e conhecidos, mas de forma coerente com o comportamento das pessoas com quem eles se identificam. Os registros também apontam para o fato de que os sujeitos apresentam habilidades possuídas por estas pessoas, que não foram aprendidas em sua vida presente, e que possuem fobias relacionadas ao modo com que as pessoas das quais eles falam morreram.

Os sujeitos podem compartilhar características físicas com as pessoas prévias que variam de semelhanças gerais a doenças internas específicas, marcas de nascimento, ou defeitos de nascimento. Além disso, há características freqüentemente associadas, tais como as intenções expressas pelas pessoas prévias de retornar, sonhos em que estas pessoas parecem anunciar sua chegada nas famílias dos sujeitos, e desejos de gravidez por parte das mães que combinam com as preferências de alimentação tanto das pessoas prévias quando do sujeito depois que nascem. Os sujeitos podem lembrar-se de acontecimentos entre a morte das pessoas prévias e seus próprios nascimentos e fornecer registros de como vieram a nascer de seus pais.

Esta descrição naturalmente se aplica a casos de crianças. Casos de adultos são um tanto diferentes, embora a seu modo sejam muito semelhantes em uma ou outra coisa. Para explicar estas semelhanças de acordo com a hipótese de fantasia, teríamos que

1 Argolas que se colocam na região do tornozelo. (N. T.)

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supor uma difusão de crenças bem antigas. Casos de memórias de vidas passadas com as características resumidas acima têm sido reportados nas culturas hindu (Índia), budistas (Tailândia, Burma, e os Sinhaleses do Sri Lanka), islâmicas (Drusos e Alevi), africanas (Igbo), e culturas indígenas norte-americanas (Tlingit, Haida, Kutchin, Gitksan, Beaver, Carrier), assim como de toda parte da Europa e dos Estados Unidos, para falar somente daquelas sociedades e áreas que contribuíram com um número substancial de casos. Além do mais, a crença na reencarnação—com crenças que resultam na possibilidade de lembrar vidas passadas e nos modos específicos em que devem ser lembradas quando acontecem—devem ter sido mantidas em alguns lugares (p.ex., Europa) não só na ausência de sanção cultural, mas em caso de total proibição.

Não devemos esquecer-nos de que temos registros de muitos—centenas, se contarmos os casos não publicados (ver Seção 3)—de casos de memórias de vidas passadas que não são somente verídicos, mas resolvidos. Brody (1979a, 1979b) considera este fato como o ponto forte em favor da interpretação do Stevenson dos casos como sugestivos de reencarnação. Mas vale notar que ainda que negligenciássemos a natureza verídica dos casos—mesmo que fôssemos hipotetizar defeitos fatais nos métodos de investigação—ainda teríamos que explicar por que casos tão semelhantes uns aos outros foram informados por tantas pessoas de tantos lugares sobre determinado período de tempo.

Esta consideração ajuda a pender a balança a favor da paranormalidade, mas seria imprudente descartar a hipótese de fantasia tão cedo. Vimos que a conformidade às crenças parece ser a melhor explicação para as alegações de lembranças de vidas passadas como animais não humanos. E se as crenças estão tão claramente implícitas neste exemplo, por que não estão em outros?

De fato, em várias sociedades encontra-se uma crença na possibilidade de reencarnação em mais de um corpo ao mesmo tempo. Tal crença ocorre entre os Igbo (Stevenson, 1985) e outras tribos africanas ocidentais (Parrinder, 1951), os tibetanos, os burmeses, os esquimós (Stevenson, 1987a), e várias sociedades indígenas americanas no Alasca e na Columbia britânica (de Laguna, 1972; Mills, 1988a, 1988b; Stevenson, 1975a). De Laguna (1972) descreve casos com múltiplas identificações da mesma pessoa prévia, mas são todos de variedade fraca e pouco desenvolvidos, e não incluem alegações verbais por mais de um sujeito lembrando a mesma vida passada. Mills (1988b) e Stevenson (1975a) informam experiências semelhantes com os Gitksan e os Haida. Parecemos estar sendo confrontados aqui com identificações impostas por membros adultos da sociedade, tal como ocorre quando animais são identificados como reencarnações de pessoas mortas.

Inegavelmente a maioria dos casos ocorre em lugares onde as crenças sobre a possibilidade de lembrar-se de vidas passadas são encontradas, e está claro que em muitos exemplos as famílias tinham ouvido falar de outros casos antes de suas crianças terem começado a falar de vidas passadas (Barker & Pasricha, 1979). Em casos em que uma criança nasce numa família com crianças mais velhas que falaram de vidas passadas

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(e estes existem), a criança teria sido diretamente exposta aos casos. Em muitos casos os sujeitos alegam lembrar-se da vida dos avós, irmãos mortos, ou outros parentes. Retornos preditos e sonhos anunciadores iriam também predispor a família a pensar que uma determinada pessoa tinha retornado. Além do mais, Gauld (1985) chamou atenção para o fato de que muitos poucos casos chegaram ao nosso conhecimento antes da metade do século 19, mesmo em fontes em que poderíamos esperar encontrá-los.

Portanto devemos considerar seriamente a possibilidade de que fatores sociais e culturais são responsáveis por alguns casos ou alguns aspectos de todos os casos. Esta não pode ser a explicação completa, porque há muitos casos bem desenvolvidos em que as duas famílias viviam bem distantes e eram desconhecidas uma da outra antes de a criança ter começado a falar da vida passada (Seção 3.4.1). Mas ainda que no final a reencarnação venha a parecer a interpretação mais satisfatória dos casos como um grupo, influências culturais e sociais de algum tipo em sua expressão individual provavelmente são inevitáveis.

3. Os Padrões Através dos Casos

Diferentemente dos estudos de caso, que têm sido informados por muitas

pessoas ao longo de muitos anos, análises padrão foram conduzidas principalmente por Stevenson e seus colegas durante as últimas duas décadas. A Seção 3.1 fornece uma visão geral das análises padrão e a Seção 3.2 descreve e avalia a coleção de casos de Stevenson, na qual a maioria destes estudos foi baseada. As seções seguintes resumem-se aos resultados das análises padrão. Atenção especial é dada a fatores e influências culturais.

A Seção 3.3 descreve variações culturais nas características recorrentes de casos identificados na Seção 2.3. A Seção 3.4 trata de estudos de relacionamentos entre o sujeito e a pessoa prévia, tais como o período de intervalo e diferenças no sexo e estado socio-econômico. A Seção 3.5 discute as análises de outras variáveis e a Seção 3.6 considera estudos de replicação. A Seção 3.7 retorna a uma avaliação da hipótese de reencarnação e fantasia.

3.1. Análises Padrão

As primeiras análises padrão eram de características demográficas e de outras

características inter e intraculturais dos casos. No final da década de 1960 Stevenson informou de forma resumida dados sobre casos ocorridos entre os índios Tlingit (Stevenson, 1966a) e os esquimós (Stevenson, 1971a) do Alasca. Em 1970 Slobodin publicou uma análise de casos entre os Kutchin da Colúmbia Britânica e Stevenson comparou casos entre os Alevi da Turquia, os Drusos do Líbano, e os Tlingit. Depois Stevenson (1975a) voltou sua atenção aos vizinhos dos Tlingit, os Haida.

Os dados para a Índia aparecem brevemente em Stevenson (1975b), para o Sri Lanka em

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Stevenson (1977a), para o Líbano e Turquia em Stevenson (1980), e para Tailândia e Burma em Stevenson (1983b). Stevenson (1983a) também comparou casos não tribais americanos com casos da Índia. Mais recentemente ele (Stevenson, 1986a) comparou casos dos Igbo da Nigéria com casos de nove outras culturas. Muitos destes dados estão resumidos e atualizados em Stevenson (1987a). Mills (1988a, 1988b) compara as características dos casos dos Beaver, Gitksan, e dos indios Wet’suwet’en (Bulkley River Carrier) da Columbia Britânica.

Pasricha (1978) e Pasricha e Stevenson (1979) comparam uma série de casos investigados por Pasricha com casos previamente estudados por Stevenson. Cook, Pasricha, Samararatne, U Win Maung, e Stevenson (1983b) comparam casos resolvidos e não resolvidos. Pasricha e Stevenson (1987) comparam casos separados por duas gerações. O relatório de Chadha e Stevenson (1988) se correlaciona a casos em que a pessoa prévia morreu violentamente. Matlock (1989a) examina a relação da idade do sujeito ao falar pela primeira vez de suas memórias aos estímulos externos (dicas) às memórias nessa ocasião.

Todas as análises padrão exceto as de Slobodin (1970), Mills (1988a, 1988b), e Matlock (1989a) foram informadas por Stevenson e seus colegas, e são baseadas na coleção de casos descritos na Seção 3.2. O estudo de Matlock foi baseado em casos publicados, a maioria deles é de Stevenson, mas as amostras de Slobodin e Mills eram inteiramente independentes. (Embora o estudo de Pasricha de 1978 tenha sido feito independentemente de Stevenson, seus casos estão incluídos na coleção de Stevenson; ver Pasricha & Stevenson, 1979.)

Estudos baseados em séries independentes de casos são vantajosos em termos de comparação, mas também podem apresentar desvantagens. Na condição de antropólogos, Slobodin e Mills parecem ter incluído em seus estudos todos os casos que foram informados a eles, sem levarem em conta os seus respectivos valores evidenciais. Stevenson, por outro lado, normalmente inclui em suas amostras apenas os casos que ele investigou, e aqueles cuja autenticidade (ou aspectos paranormais) ele confia. Sendo assim, os estudos de Slobodin e Mills não são estritamente comparáveis aos de Stevenson.

Os próprios estudos de Stevenson não são verdadeiramente comparáveis a nenhum outro, porque as amostras usadas em diferentes estudos freqüentemente são baseadas em critérios diferentes. Muitos estudos combinam casos resolvidos e não resolvidos, embora alguns estudos se restrinjam a um ou ao outro. O tamanho das amostras também varia porque a coleção de casos da qual eles foram tirados cresceu.

Estatísticas descritivas só são informadas na maioria dos estudos, mas alguns (Chadha & Stevenson, 1988; Cook et al, 1983b; Matlock, 1989a; Pasricha & Stevenson, 1979, 1987) também empregam estatísticas ilativas. Quando duas ou mais análises da mesma variável ou relacionamento de variáveis são informadas, normalmente a mais recente está citada aqui. Os tamanhos das amostras assim como as porcentagens e os valores de probabilidade são citados sempre que for apropriado. Em geral, todos os dados são tratados como se fossem contemporâneos e comparáveis, e as devidas concessões devem ser feitas de acordo com as considerações citadas acima.

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3.2. A Coleção de Casos de Stevenson

Segundo Cook (1986b), a coleção de casos na Divisão de Estudos de

Personalidade na Universidade de Virgínia consiste numa coleção principal e numa coleção miscelânea menor. A coleção principal é em sua maioria composta por casos de crianças, enquanto a coleção miscelânea contém casos de adultos e outros purgados da coleção principal de acordo com requisitos mais rígidos para a inserção de um caso na coleção que foram introduzidos no princípio da década de 1980. Durante os primeiros anos da pesquisa de Stevenson, quase todas as alegações de memória de vidas passadas informadas à sua Divisão foram admitidas na coleção (principal). O censo mais recente em relação à coleção principal é de 2.500 casos (Stevenson & Samararatne, 1988); dos quais somente uma pequena porção foi informada ou resumida em formato impresso (ver Seção 2.1).

Considerando que apenas uma pequena proporção dos casos na coleção foram publicados, é razoável perguntar até que ponto os casos publicados são representativos de todos os casos. Stevenson publicou casos com um vasto leque de forças evidenciais, de casos não resolvidos a casos resolvidos ricos em memórias específicas visuais, verbais, comportamentais e físicas, e isto deve nos fazer sentir confiantes em relação à representatividade dos casos publicados. Esta confiança é fortalecida pela descoberta (Matlock, 1989a) de grande semelhança entre as médias das idades dos sujeitos, as proporções de sexos dos sujeitos, e outros fatores numa amostra de 95 casos publicados e quadros informados para séries maiores de casos não publicados (embora os dados de Matlock não concordem com os de Stevenson em todos os aspectos; ver Seções 3.4.3 e 3.4.6).

Também devemos perguntar quão representativos dos casos de memórias de vidas passadas são os casos de Stevenson. A maioria dos casos de Stevenson tem origem em certas regiões e em certos países dentro delas (Seção 3.1). Estes são os lugares onde ele e seus colegas fizeram os esforços mais sérios para localizar e estudar os casos, e isso não quer dizer que não haja casos a serem encontrados em outros lugares. De fato, vimos que outros autores (p.ex., Emmons, 1982; Mills, 1988a, 1988b; Slobodin, 1970) informaram casos ocorridos em outras sociedades. O próprio Stevenson (1987a) acredita que muitos casos estão para ser achados no Tibete, Japão, Laos, Camboja, e Vietnã, além daqueles países em que ele trabalhou. Sabe-se que os casos ocorrem também entre os aborígines australianos (Warner, 1937), por toda a África Equatorial (Besterman, 1968; Parrinder, 1951), e entre tribos indígenas norte-americanas além daquelas já mencionadas (Hall, 1956).

O número de casos de Stevenson em qualquer sociedade não necessariamente indica a sua incidência dentro dessa mesma sociedade. Stevenson tem mais casos de Burma do que de qualquer outro lugar (Cook, 1986b), mas uma incidência mais alta pode ocorrer no Líbano (Stevenson, 1980, p. 8). Até hoje apenas uma única pesquisa sistemática foi conduzida. Isto resultou numa contagem de 2.2 casos por 1.000 pessoas num bloco desenvolvido no norte da Índia (Barker & Pasricha, 1979).

Quase todos os casos do Stevenson chegaram ao conhecimento dele através de registros de

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notícias ou foram voluntariamente informados a ele, e eles não necessariamente representam todos os casos em questão. Há evidências de que a informação sobre casos com características particularmente dramáticas é a mais amplamente difundida (Barker & Pasricha, 1979, p. 239). Os casos com pessoas prévias de circunstâncias socioeconômicas consideravelmente melhores do que o sujeito (Seção 3.4.5) e os casos em que a pessoa prévia morreu violentamente (Seção 3.4.6) podem estar desproporcionalmente representados na coleção. A proporção de casos em que tanto o sujeito quanto a pessoa prévia vinham da mesma família que chegaram ao conhecimento de Stevenson aumentou consideravelmente desde o começo da sua pesquisa, sugerindo que estes casos privados da “mesma família” foram mantidos em segredo inicialmente (Stevenson, 1975b, p.2).

Os casos nos arquivos, assim como os casos publicados, variam bastante em qualidade (Stevenson, 1974c, p. 2). Além disso, há intrigantes sugestões de que a qualidade dos casos varia de acordo com a cultura. Destaca-se este último ponto porque ele pode indicar a maior fonte de tendenciosidade na coleção de Stevenson. Os sete casos de índios Tlingit em Twenty Cases Suggestive of Reincarnation estavam entre os mais fracos no livro, tanto individualmente quanto como um grupo, mas em suas fraquezas eles são representantes de casos achados no Litoral Noroeste da América do Norte. Os casos Haida são também notavelmente fracos (Stevenson, 1975a), assim como são outros casos dessa região (ver de Laguna, 1972; Goulet, 1982; Mills, 1988a, 1988b; Slobodin, 1970).

Os casos informados de outras áreas fora das regiões da Ásia, onde a maioria dos casos mais desenvolvidos ocorre, também são relativamente fracos. Embora muitos casos de qualidade do norte da Índia tenham sido informados, os casos do sul são notoriamente escassos e pobres. Os casos não tribais americanos tendem a ser pobremente desenvolvidos (Stevenson, 1983a), como os casos dos nigerianos Igbo (Stevenson, 1986a). Os casos chineses informados por Emmons (1982) são tão pouco desenvolvidos que nós sequer os chamaríamos de casos, a não ser pelo fato de que suas características assemelham-se aos padrões característicos dos casos mais desenvolvidos.

Os casos menos desenvolvidos freqüentemente não incluem uma alegação do sujeito de lembrar-se de uma vida passada, mas podem consistir em não mais do que uma marca de nascimento chamativa, um comportamento inesperado, ou talvez um sonho anunciador. A variedade pouco desenvolvida de casos de memórias de vidas passadas tem sido informada com freqüência na literatura antropológica. (Matlock, 1989b, descobriu que de 17 sociedades com crenças na reencarnação humana — de 42 sociedades pesquisadas — marcas de nascimento ou outra evidência em favor das crenças foram citadas em 12.) Os casos com alegações de memórias aparecem raramente em registros etnográficos, embora alguns tenham sido identificados, especialmente na região do Litoral Noroeste (p.ex., além dos estudos citado acima, Kara, 1980; Honigman, 1964; Osgood, 1937; Seguin, 1985; Swanton, 1908). O fato de que existem relatórios de casos fracos, pouco desenvolvidos, sugere que estes relatórios devem ser vistos como a extremidade oposta de uma série dos melhores casos desenvolvidos. Há duas maneiras de interpretar esta observação.

Muitos casos pouco desenvolvidos são tão fracos que uma interpretação de reencarnação

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baseada neles — muito menos uma identificação com uma pessoa morta específica, quando ocorre — claramente e acima de tudo pode ser vista como o resultado de uma crença em reencarnação. Identificações influenciadas por crenças podem ser vistas até mesmo em alguns dos melhores casos desenvolvidos, como no caso de Simone informado por Andrade (1988), no qual o nome dado para a pessoa prévia vem de um médium espírita, em vez do próprio indivíduo.

Pode-se desejar argumentar, com base em tais exemplos, sobre os melhores casos com um desenvolvimento comprovado, e dizer que se as identificações impostas estão presentes nos casos menos desenvolvidos, elas provavelmente estão presentes nos casos mais desenvolvidos também. Mas este argumento não seria justo no que se refere aos melhores casos desenvolvidos, já que em muitos deles existe uma rede tão complexa de referências específicas que o sujeito parece estar claramente se referindo a uma pessoa morta e a nenhuma outra (p.ex., Stevenson & Samararatne, 1988). Certamente os casos de identificações impostas são interessantes e instrutivos, mas não devem lançar dúvida nesses casos em que parece improvável que a identificação imposta tenha ocorrido. Casos espontâneos em geral apresentam um vasto leque de manifestações, e seria surpreendente se casos de memórias de vidas passadas fugissem desta regra.

A nossa observação sobre a coleção de casos de Stevenson conter em grande parte exemplos dos tipos mais desenvolvidos de casos de memórias de vidas passadas não impugna a fiabilidade dos resultados de estudos baseados na coleção, mas quer dizer que devemos ter cuidado em como interpretamos estes resultados. Stevenson prosseguiu com suas investigações como um parapsicólogo, principalmente interessado nos casos por seu valor evidencial como fenômenos paranormais. Em outras palavras, a pesquisa do Stevenson foi apontada como um estudo das evidencias que existem para a reencarnação, e ele realçou os melhores casos desenvolvidos. Portanto devemos nos assegurar que entenderemos que os resultados baseados na sua coleção se referem aos melhores casos de memórias de vidas passadas (aqueles em que uma alegação de lembrar-se de uma vida passada é feita pelo sujeito), ao invés de (necessariamente) se aplicarem a todos os casos do tipo geral (que pode ou não incluir uma alegação feita por um sujeito de lembrar uma vida passada). Devemos nos lembrar também que outros fatores (p.ex., métodos de amostragem) podem ter influenciado a coleção de outras formas desconhecidas.

3.3. Variações Culturais em Características Recorrentes dos Casos

As análises padrão discutidas nas Seções 3.4, 3.5, e 3.6 ou são limitadas a uma

única cultura (tal como a cultura indiana) ou são comparadas às variáveis entre as culturas. Com base nessas análises está claro que algumas variáveis mostram uma variação cultural considerável. As características recorrentes dos típicos (bem-desenvolvidos) casos espontâneos de memórias de vidas passadas descritas na Seção 2.3 também mostram alguma variação cultural, tanto em preponderância quanto em caráter. Estas variações serão discutidas na presente Seção. A menos que o contrário seja indicado, os dados se referem a amostras combinadas de casos resolvidos e não resolvidos.

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Stevenson (1986a) descobriu que os machos ultrapassam em número as fêmeas como sujeitos de casos de crianças em 2 para 1 (63%: 37%) numa série de 1.152 casos. A mais alta incidência de sujeitos masculinos ocorreu entre os Igbo da Nigéria, onde 77%, ou 44 de 57 sujeitos eram machos. O único país em que as mulheres ultrapassaram em número os homens foi o Sri Lanka, em que 51%, ou 60, de 117 sujeitos eram mulheres.

De acordo com Cook et al. (1983b) a idade média em que um sujeito fala pela primeira vez sobre uma vida passada é de 37,16 meses, ou pouco mais de 3 anos, numa série de 458 casos resolvidos de seis culturas. Ao ser analisada pela ótica da cultura, a média variou um pouco, de 29,08 meses (2.42 anos) em 36 casos no Sri Lanka a 39,19 meses (3,27 anos) em 136 casos em Burma (Cook et al., 1983b). A idade média de esquecimento (ou mais precisamente, a idade em que os sujeitos param de falar da vida passada espontaneamente), variou de 72,55 meses (6.5 anos) em 11 casos no Sri Lanka a 125,59 meses (10,5 anos) para 17 casos no Líbano. O tamanho da amostra envolvida na última análise foi incomumente pequeno porque a coleção sistemática de dados sobre o esquecimento só foi iniciada há pouquíssimo tempo.

Outras características dos casos também mostram variação cultural. É relativamente improvável que os Sinhaleses (Sri Lanka) e os sujeitos não tribais americanos mencionem os nomes das pessoas que alegam ter sido, o que resulta num número relativamente pequeno de casos resolvidos nestas sociedades. Somente 16 (20%) de 79 casos americanos do Stevenson e 37 (32%) de seus 117 casos do Sri Lanka são resolvidos (Cook et al., 1983b). Os resolvidos ultrapassam em número os casos não resolvidos na Ásia como um todo (Stevenson, 1983b, p. 191) e em cada um de quatro outros países asiáticos (Índia, Burma, Tailândia, e Líbano), com a mais alta porcentagem (80%) achada em Burma, onde 185 de 230 casos são considerados resolvidos (Cook et al., 1983b).

Os sujeitos Igbo, os Tlingit, e os Haida fazem relativamente poucas declarações de qualquer tipo sobre a vida passada (Stevenson, 1985), sendo que o mesmo pode ser dito sobre os Beaver, os Gitksan, e os Carrier (Mills, 1988a, 1988b), embora os casos destas culturas possam se distinguir de outras maneiras. Os casos dos Haida são relativamente ricos em memórias comportamentais (Stevenson, 1977a). Uma porcentagem alta dos casos dos Igbo tem marcas ou defeitos de nascimento. Uma porcentagem alta dos casos dos Tlingit, dos Beaver, e dos Gitksan tem marcas de nascimento ou sonhos anunciadores.

As marcas e defeitos de nascimento são fortemente relacionados aos casos em que a pessoa prévia morreu violentamente, e são achados freqüentemente nessas culturas (Alevi, Tlingit, Burmese) em que há uma proporção incomumente alta de casos com mortes violentas (Seção 3.4.6). A proporção incomumente alta (39 de 57, ou 68%) de casos Igbo com marcas ou defeitos de nascimento é anômala já que só 30% das pessoas prévias Igbo sofreram mortes violentas (Stevenson, 1986a). A anomalia pode ser parcialmente explicada pelo interesse especial do Stevenson em tais casos durante suas viagens de campo a Nigéria (Stevenson, 1986a, p. 205), mas é possível que um fator cultural interessante também esteja envolvido.

Os Igbo acreditam que algumas crianças que morrem na infância o fazem deliberadamente para atormentar seus pais. Chamam estas crianças de ogbanje, ou “bebês reincidentes”, e acreditam que elas podem renascer dos mesmos pais só para deixá-

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-los outra vez se não forem impedidas. O modo mais extremo através do qual um suspeito ogbanje pode ser interrompido é mutilando o corpo da criança, amputando o pedaço de um dedo. Embora não se saiba se este ato tem ou não o efeito desejado de prevenir mortes prematuras, algumas crianças Igbo nascem com uma extremidade do dedo perdida ou outra deformidade que parece corresponder a uma marca feita num irmão morto. (Stevenson & Edelstein, 1982, descobriram que anemia falciforme não pode explicar a incidência de tais casos; Stevenson, 1986a, dá exemplos.) Crenças e práticas semelhantes são encontradas em outras sociedades, especialmente na África Ocidental (Parrinder, 1951).

Algumas pessoas acreditam que é possível escolher uma próxima encarnação, outros asseguram que isso não é possível ou são agnósticos sobre a questão. O Hinduísmo e o Budismo atribuem a reencarnação a forças cármicas, além do controle imediato do sujeito, e retornos preditos normalmente não são encontrados nas sociedades influenciadas por estas religiões. Retornos preditos, no entanto, são comuns entre os Tlingit (de Laguna, 1972; Stevenson, 1966a) e os Haida (Stevenson, 1975a). Ocorrem também entre os Beaver e os Gitksan, embora não ocorra entre os Carrier (Mills, 1988a).

Sonhos anunciadores têm sido informados em todas as culturas nas quais Stevenson identificou casos (Stevenson, 1987a, p. 99), embora com freqüência variável. Sonhos anunciadores raramente são informados no Líbano, o que é coerente com a crença dos Drusos sobre o renascimento imediato (Stevenson, 1980). No entanto, eles são informados com freqüência relativa em Burma (Stevenson, 1983b); na Turquia entre os Alevi (Stevenson, 1980); e entre os esquimós (Stevenson, 197la) e nas tribos indígenas do Alasca e da Columbia Britânica, tais como os Tlingit (Stevenson, 1966a), os Haida (Stevenson, 1977a), os Kutchin (Slobodin, 1970), os Beaver, os Gitksan, e os Carrier (Mills, 1988a, 1988b).

Não apenas a prevalência, mas a sincronização e o caráter dos sonhos anunciadores apresentam variação cultural. Os sonhos tendem a ocorrer no último mês de gravidez entre os Tlingit, mas pouco antes da concepção em Burma (Stevenson, 1987a). Os sonhos anunciadores dos Tinglit tipicamente se apresentam de forma simbólica. Por exemplo, a entidade pode aparecer no portão de jardim carregando valises (Stevenson, 1966a, tem exemplos). No Sri Lanka os sonhos anunciadores são ainda mais simbólicos (Stevenson, 1973c, 1977b). Em Burma, pelo contrário, os sonhos são polidos e por meio de pedidos. Ao invés de anunciarem a intenção de entrarem em uma determinada família, as entidades burmesas pedem permissão para renascerem na mesma (Stevenson, 1983b).

3.4. A Relação do Sujeito com a Pessoa Prévia

Vários estudos tratam do relacionamento do sujeito com a pessoa prévia. Como

será observado, um modelo cultural distinto é evidente em muitas variáveis. Com freqüência é possível associar o modelo cultural às crenças específicas ou a outros fatores sociais ou culturais, como foi o caso das

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mutilações de Ogbanje praticadas pelos Igbo, a prevalência de retornos preditos, e o caráter de sonhos anunciadores (Seção 3.3). Cada cultura parece colocar um selo distinto em seus casos de memórias de vidas passadas, divergindo de várias maneiras das características recorrentes entre as culturas. Retornaremos a este ponto importante na Seção 3.7.

3.4.1. O Contato Entre a Família Atual e a Anterior Antes do Desenvolvimento do Caso

O conhecimento entre as famílias do indivíduo e da pessoa prévia antes de um

caso começar a se desenvolver é parcialmente, mas não inteiramente, em função da distância geográfica entre as famílias. Duas famílias vivendo longe e separadas podem estar relacionadas ou, ao contrário, podem conhecer uma à outra, ao passo que as famílias vivendo no mesmo povoado ou vizinhança podem pertencer a estratos socioeconomicos, castas, ou grupos religiosos diferentes, o que pode separar uma da outra tão eficientemente quanto faria uma grande distância física. Em todo o caso, a extensão do conhecimento (particularmente a freqüência com que as duas famílias se relacionavam) varia muito de uma cultura para outra.

Stevenson (1986a) relata que na maioria dos seus casos, as duas famílias tiveram algum conhecimento antes do caso desenvolvido. Num total de 702 casos de 10 culturas as duas famílias eram aparentadas em 46% de casos, conhecidas em 31% de casos, e desconhecidas uma da outra em 23% de casos. Entre os Tlingit (N = 67), os Haida (N = 23), e os americanos não tribais (N = 16), nenhum caso em que as duas famílias eram desconhecidas uma da outra foi informado. As duas famílias se conheciam em 52 (99%) de 53 casos Igbo. Na outra ponta está o Sri Lanka, onde as duas famílias eram conhecidas em 15 (48%) de 31 casos e a Índia, onde eram conhecidas em 104 (57%) de 183 casos. As duas famílias eram conhecidas em 25 (78%) de 32 casos tailandeses, 131 (85%) de 154 casos burmeses, 52 (83%) de 63 casos Alevi, e 56 (70%) de 80 casos drusos.

O conhecimento entre as duas famílias pode ser de vários tipos. Pasricha (1978) separa o conhecimento em cinco categorias de relacionamentos e associações. Relacionamentos biológicos entre as duas famílias foram identificados em 9 (10%) de 87 casos e relacionamentos conjugais em 3 (3%) de 86 casos. Relacionamentos sociais estavam presentes em 35 (55%) de 64 casos, associações comerciais em 27 (63%) de 43 casos, e outras associações em 34 (37%) de 91 casos. Dados relevantes não estavam disponíveis em todos os casos, enquanto alguns casos entraram em mais de uma categoria. O estudo de Pasricha envolveu somente casos indianos. Dados sobre outras sociedades não estão disponíveis para comparação.

Nos casos em que as duas famílias eram conhecidas, o sujeito e a pessoa prévia são com freqüência da mesma família. A incidência de casos na mesma família varia de 29 (16%) de 183 casos na Índia a 64 (96%) de 67 casos entre os Tlingit. Os casos da mesma família explicam 6 (19%) de 31 casos do Sri Lanka, 19 (24%) de 80 casos libaneses, 18 (29%) de 63 casos Alevi, 83 (54%) de 154 casos

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burmeses, 22 (69%) de 32 casos tailandeses, 20 (87%) de 23 casos Haida, 49 (92%) de 53 casos Igbo, e 15 (94%) de 16 casos não tribais da sociedade americana (Stevenson, 1986a). Mills (1988a) define a família em termos de linhagem, e informa 32 (91%) de 35 casos entre os Gitksan e 26 (93%) de 28 casos entre os Carrier em concordância com esta regra (os Beaver, que não registram a descendência em termos de linhagem, foram omitidos da análise).

A prevalência de relacionamentos familiares entre as duas famílias sustenta alguma relação com as regras sociais e práticas, ou com as crenças sobre o processo de reencarnação. De uma maneira geral e no que se refere à linhagem da casta os Hindus são exogâmicos (o que quer dizer que devem casar com pessoas que não pertencem às suas famílias mas que são da mesma casta), e seus casos mostram uma proporção relativamente grande de casos em que as duas famílias não se conheciam antes dos casos se desenvolverem. Os Tlingits, por outro lado, traçam a descendência dentro de grupos de família. Os Tlingits também colocam a ênfase no renascimento na mesma família, e uma grande proporção de seus casos corresponde a casos que ocorreram na mesma família.

É importante observar que os dados sobre conhecimento se referem às famílias do sujeito e da pessoa prévia, e não ao sujeito e à família da pessoa prévia. Dados não têm sido informados sobre a freqüência e o grau de conhecimento entre o sujeito e a família da pessoa prévia antes do desenvolvimento do caso, mas estes seriam muito menores do que os casos entre as famílias (que inclui breves e passageiros encontros bem como laços fortes). Além disso, ao focar no conhecimento e no relacionamento entre as famílias, é fácil notar que em quase um quarto (23%) de todos os casos, nenhum conhecimento de qualquer tipo estava presente.

3.4.2. Distância de Intermissão

A distância de intermissão — a distância do local de morte da pessoa prévia ao

local de nascimento do sujeito — ainda não foi estudada sistematicamente, e poucos dados estão disponíveis sobre este assunto. Wilson (1982, p. 19) fornece uma tabela de distâncias de intermissão em casos de Stevenson publicada a partir de 1977, mas esta tabela não é totalmente de confiança, parcialmente por causa do fracasso de Wilson em distinguir claramente entre a distância do local de morte da pessoa prévia ao local de nascimento do sujeito e a distância da residência da pessoa prévia à residência (ou local de nascimento) do sujeito. Estas distâncias não precisam ser as mesmas, e em casos internacionais (nos quais é comum que a pessoa prévia morra longe do lar) elas claramente não são.

Segundo Pasricha (1978) a distância média (local de morte a local de nascimento) é de 10 quilômetros em 38 casos indianos estudados por ela, mas de 46,1 quilômetros em 40 casos estudados por Stevenson. Pasricha também fornece dados sobre a distância média entre a residência da pessoa prévia e o local de nascimento do sujeito: 8 quilômetros em 37 casos estudados por ela mas 45,1 quilômetros em 40 casos estudados por Stevenson. As diferenças entre os dados de Pasricha e de Stevenson

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em ambos os exemplos não eram significativas em um teste t (Pasricha, 1978). No entanto, elas eram significativas (p < .05, em ambos os exemplos) em um teste mediano (Pasricha & Stevenson, 1979, p. 56).

Seria bom saber o alcance das distâncias de intermissão assim como as médias para as várias culturas. O alcance superior das distâncias na amostra de Stevenson discutida acima claramente excedeu em muito a de Pasricha. A julgar pelos casos publicados, as distâncias às vezes podem ser bastante longas. No caso de Jagdish Chandra (Stevenson, 1975b), era de 500 quilômetros.

A determinação da distância de intermissão em casos internacionais é complicada porque todos estes casos até então informados são não resolvidos (Stevenson, 1987a, p. 216). Contudo, se as declarações do sujeito nestes casos forem dignas de crédito, a distância média — a distância entre o local de morte e o local de nascimento — seria claramente curta. Na maioria dos casos internacionais a morte é dita como tendo ocorrido longe do lar, na vizinhança do local de nascimento do sujeito, embora Stevenson (1987a, pp. 247-248) mencione alguns casos em que a morte pode ter ocorrido no estrangeiro.

3.4.3. Período de Intermissão

O período de intermissão — o intervalo entre a morte da pessoa prévia e o

nascimento do sujeito — pode, assim como a distância de intermissão, ser fixado apenas para casos resolvidos. Wilson (1982, p. 17) fornece uma lista aproveitável de períodos de intermissão nos casos de Stevenson publicados a partir de 1977. O período mediano de intermissão para 616 casos em 10 culturas é informado por Stevenson (1987a, p. 117) como sendo de 15 meses. O período varia de cultura para cultura, indo de 4 meses nos casos de Haida (N = 17) a 34 meses nos casos de Igbo (N = 35), excluindo os casos não tribais Americanos (N = 25) nos quais o período é de 141 meses. No Líbano a média é de 8 meses (N = 79), na Turquia 8,5 meses (N = 64), na Índia 12 meses (N = 170), no Sri Lanka 16 meses (N = 35), na Tailândia 18 meses (N = 33), em Burma 21 meses (N = 125), e entre os Tlingit 24 meses (N = 41) (Stevenson, 1986a).

Outros autores informaram resultados consistentes com os de Stevenson. Slobodin (1970, p. 69) afirma que a reencarnação entre os Kutchin é esperada ocorrer dentro de um ano após a morte. Mills (1988a) informa um intervalo mediano de 12 meses para os Beaver (N = 16) e 16 meses para os Gitksan (N = 14), embora a média de 180 meses que ela atribui aos Carrier (N = 16) exceda até mesmo a média para casos americanos não tribais de Stevenson, e é a maior registrada.

Em algumas sociedades o período mediano de intermissão claramente se relaciona a crenças e expectativas. Os Drusos, por exemplo, acreditam que o renascimento ocorre imediatamente após a morte, e a média de oito meses para casos Drusos é a segunda mais curta de qualquer cultura sobre as quais os dados estejam disponíveis. O Budismo sustenta que uma

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gestação completa é exigida antes do renascimento, e casos de culturas budistas (Burma, Tailândia, Sinhalese Sri Lanka) têm uma média maior que nove meses. Na maioria das outras sociedades não há nenhuma crença referente ao intervalo apropriado entre as vidas. Não parece haver nenhuma crença determinando o intervalo mediano de 4 meses nos casos de Haida, nem para a média de 141 meses em casos não tribais americanos. A longa média nos casos Carrier pode simplesmente refletir o fato de que os Carrier esperam que os sujeitos sejam identificáveis com pessoas mortas específicas após longos períodos de tempo (Mills, 1988a).

Mais uma vez, a média nos diz pouco sobre o alcance. Stevenson (1987a, p. 171) diz que nos casos que ele examinou, o período de intermissão varia de algumas horas a 20 anos ou mais. Em outra parte (Stevenson, 1973b, p. 31) menciona um caso resolvido do Sri Lanka com um intervalo de 82 anos, que pode ser o recordista.

Alguns estudos tentaram relacionar o período de intermissão a outras variáveis. Chadha e Stevenson (1988) acharam um período de intermissão significativamente mais curto (p<.01) em casos em que a pessoa prévia tinha morrido violentamente do que em casos em que a morte tinha sido natural, embora este resultado tenha sido obtido apenas para o total de 326 casos de oito culturas e individualmente para 108 casos indianos, e não tenha sido confirmado por Matlock (1989a) com uma série de 56 casos publicados.

Stevenson (1987a, p. 208) não achou nenhuma relação significativa entre o período de intermissão e a abundância de memórias expressas por um sujeito e Matlock (1989a) não achou nenhuma relação significativa entre o período de intermissão e a idade do sujeito ao falar sobre as memórias pela primeira vez, nem entre o período de intermissão de casos europeus versos casos não-europeus (sendo que os casos não tribais americanos foram tratados como europeus e os casos tribais alasquianos foram tratados como não-europeus).

3.4.4. Diferenças de Sexo

O número de sujeitos que alegam lembrar-se de vidas passadas como membros

do sexo oposto varia muito de cultura para cultura. Stevenson (1986a) inclui uma tabela comparando a incidência de casos de mudança de sexo em 10 culturas. Em quatro destas — Haida (N = 24), Tlingit (N = 65), Druse (N = 77), Alevi (N = 133) — nenhum caso desse tipo foi informado. A proporção de casos de mudança de sexo é de 3% na Índia (N = 261), 12% no Sri Lanka (N = 114), 13% na Tailândia (N = 32), e 15% (N = 60) em sociedades não tribais americanas. Em Burma o índice é de 33% (N = 154), o índice mais alto em qualquer das culturas estudadas por Stevenson. Slobodin (1970) informa um índice de 50% para 44 casos indígenas Kutchin. Mills (1988a) relata não ter achado nenhum caso de mudança de sexo entre os Gitksan (N = 35) ou os Carrier (N = 28), mas 3 (13%) de 23 casos entre os Beaver.

A ausência de casos de mudança de sexo em algumas culturas pode ser relacionada a crenças sobre o processo de reencarnação. De acordo com Stevenson (1987a, p. 173) e Mills (1988a), os Drusos, Alevi, Tlingit, e os Carrier garantem ser impossível mudar de sexo entre as vidas. De Laguna (1972) informa casos de

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mudança de sexo entre os Tlingit, mas ela trabalhava com um grupo interior, enquanto Stevenson e Mills visitaram um ramo litoral mais ao sul. Os Haida e o Gitksan não rejeitam a possibilidade de mudança de sexo (Mills, 1988a, 1988b; Stevenson, 1975a), embora nenhum caso de mudança de sexo tenha sido informado como ocorrendo nessas sociedades.

Na Nigéria, sujeitos masculinos e femininos alegaram lembrar-se de vidas passadas como o sexo oposto de forma igualmente freqüente (Stevenson, 1986a). Considerando de forma conjunta os casos de todas as outras culturas nos quais a mudança de sexo foi identificada, os sujeitos femininos alegaram mais freqüentemente vidas passadas como machos do que vice versa por uma margem de 3 para 1 (Stevenson, 1987a, p. 174). Em algumas culturas a proporção é até mais alta; nos Estados Unidos, só uma de 15 crianças que alega lembrar-se de uma vida passada do sexo oposto era menino (Stevenson, 1983a). A desigualdade é particularmente notável devido ao número desproporcional de sujeitos masculinos na maioria das culturas (Stevenson, 1986a; ver Seção 3.3). 3.4.5. Diferenças de Circunstâncias Socioeconômicas

Wilson (1982) tenta classificar os casos publicados de Stevenson a partir de

1977 de acordo com as diferenças nas circunstâncias sócio-econômicas entre o sujeito e a pessoa prévia, mas os erros cometidos por ele tornam os dados inutilizáveis (Stevenson, 1988; ver também Seção 4.6).

As diferenças nas circunstâncias sócio-econômicas do sujeito e da pessoa prévia são mais aparentes nas sociedades, tais como Índia e Sri Lanka, onde uma variação bastante difundida nas circunstâncias econômicas é identificada. Stevenson (1987a) observa que dois terços dos seus sujeitos indianos alegam lembrar vidas em melhores condições e um terço em semelhantes ou piores condições. Na maioria dos casos do Sri Lanka, as circunstâncias das duas famílias mostradas não apresentam diferenças. Nos dez casos em que há uma diferença distinta sete envolveram a pessoa prévia em melhores condições e três em piores (Stevenson, 1973b).

Pasricha (1978) distinguiu as circunstâncias econômicas das sociais e descobriu que 34 (43%) de 79 casos indianos representaram uma mudança de circunstâncias (da pessoa prévia ao sujeito) numa direção socialmente “inferior”, enquanto não havia nenhuma diferença em 24 (30%) casos e uma diferença numa direção “superior” em 21 (27%) casos. Descobriu que 45 (58%) de 78 casos representaram uma mudança de circunstâncias numa direção economicamente inferior; não havia nenhuma diferença em 16 (21%) casos, e uma diferença numa direção superior em 17 (21%) casos.

As diferenças entre as circunstâncias (tanto em uma direção superior quanto inferior) nem sempre foram marcadas. Dos 55 casos que apresentaram diferenças nas circunstâncias sociais, a diferença era “pequena” em 17 (31%) casos, “moderada” em 23 (42%) casos, e “grande” em 15 (27%) casos. De 62 casos que apresentaram diferenças nas circunstâncias econômicas, a diferença era pequena em 22 (35%) casos, moderada em 24 (39%) casos, e grande em 16 (26%) casos.

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Um quadro claramente coerente emerge da pesquisa de casos de Barker e Pasricha (1979) no norte da Índia. De 15 casos para os quais a informação foi obtida, não havia nenhuma mudança de casta em 3 (20% de casos), um “rebaixamento” em 8 (53% de casos), e uma “ascensão” em 4 (27% de casos). Quatro dos oito casos de rebaixamento envolveram “grandes” mudanças, duas “moderadas”, e duas “pequenas”. Dois dos casos de promoção envolveram mudanças pequenas, um uma mudança moderada, e um uma grande mudança no status da casta. Exceto pela magnitude das mudanças entre as castas, através das quais podemos interpretar o status socioeconômico, os dados de Barker e Pasricha (1979) são muito semelhantes aos de Pasricha (1978). (A amostra anterior pode ter sido incluída no último, mas não fomos informados sobre isso.) No entanto, eles diferem um pouco dos dados de Stevenson (1987a; ver acima).

Stevenson informa que aproximadamente dois terços (66%) de seus sujeitos recordam vidas em melhores circunstâncias, enquanto que as figuras comparáveis são 53% para Barker e Pasricha e entre 43% (social) e 58% (econômica) para Pasricha. Embora a amostra de Barker e Pasricha seja pequena, ela é baseada numa pesquisa sistemática, e merece respeito especial por esta razão. A interpretação é difícil porque tanto esta amostra quanto a de Pasricha (que representa uma amostra conjunta de casos investigados independentemente por ela e por Stevenson; ver Seção 3.6) teriam sido incluídas na análise de Stevenson. Podemos concluir apenas que enquanto parece haver uma tendência de a pessoa prévia ter vivido em melhores circunstâncias do que o sujeito, ao menos na Índia, a disparidade provavelmente não é maior do que a sugerida pelos dados de Stevenson, e pode até ser menor.

3.4.6. Fatores Relacionados às Circunstâncias da Morte da Pessoa Prévia

É interessante notar que a idade em que a pessoa prévia morreu varia por cultura,

de uma idade média de 17 anos em sociedades não tribais americana (N = 14) a 60 anos entre os Tlingit (N = 26) (Stevenson, 1986a) e 69 anos entre os Gitksan (N = 14) (Mills, 1988a). A idade média de morte é de 18 anos no Sri Lanka (N = 33) e Tailândia (N = 32), 26 anos na Turquia (N = 66), 32 anos na Índia (N = 159), 35 anos em Burma (N = 151) e Líbano (N = 77), e 55 anos na Nigéria (N = 35) (Stevenson, 1986a). Entre os Carrier é de 22 anos (N = 15) e entre os Beaver é de 30 anos (N = 17) (Mills, 1988a).

Por conveniência de discussão e análise, a morte da pessoa prévia é classificada por Stevenson como natural ou violenta. A última ocorre com freqüência desproporcional nos casos de sua coleção. Em 725 casos de seis culturas, 61% dos sujeitos alegaram memórias de vidas que acabaram em morte violenta (Stevenson, 1987a, p. 160, baseado em dados apresentados por Cook et al., 1983b; ver também Stevenson, 1980, pp. 356-357).

O predomínio de casos de morte violenta na coleção de Stevenson excede em muito a incidência de morte violenta na população geral em todas as culturas para as quais os dados estão disponíveis. A disparidade é mais extrema na Turquia, onde 73,7%

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(59 de 80) dos casos em que a causa de morte é conhecida são casos de morte violenta, mas mortes violentas explicam apenas 4,5% das mortes na população em geral. As relações são de 46,8% (52 de 111 casos) para 6,7% na Índia, 40% (10 casos de 25) para 3,4% no Sri Lanka, e de 36,2% (17 de 47 casos) para 24,9% entre os Tlingit (Stevenson, 1980, p. 365).

Este resultado parece se sustentar mesmo quando é considerado que os sujeitos de casos não resolvidos alegam lembrar-se de morrer violentamente com muito mais freqüência do que as pessoas prévias de casos resolvidos cujas mortes são conhecidas (ver Cook et al., 1983b, para dados), e que casos de morte violenta são mais prováveis de serem informados aos investigadores voluntariamente do que os casos de morte natural. Stevenson (1987a, p. 116) relata que 35% dos 19 sujeitos da pesquisa de Barker e Pasricha (1979) lembraram-se de mortes violentas. Isto está abaixo do dado de 46,8% atribuído à maior série de casos pouco metódicos obtida, mas ainda bem acima dos 6,7% de incidência de mortes violentas na população geral durante o mesmo período (ver acima).

Chadha e Stevenson (1988) compararam casos resolvidos de morte violenta com casos resolvidos de morte natural em relação à idade em que o sujeito falou pela primeira vez da vida passada e ao período de intermissão, identificando diferenças significativas em ambas as variáveis. Os sujeitos de casos de morte natural começaram a falar da vida passada numa idade média de 42,96 meses (3,58 anos), enquanto os sujeitos de casos de morte violenta começaram numa idade média de 32,14 meses (2,68 anos) (p <. 01). O período de intermissão em casos de morte natural foi identificado como sendo de 72,60 meses (6,05 anos) e em casos de morte violenta de 46,50 meses (3,88 anos) (p <. 01). Matlock (1989a), no entanto, foi incapaz de confirmar estes resultados com uma série de 56 casos resolvidos publicados.

Animosidades, fobias, e marcas de nascimento parecem estar fortemente relacionadas a casos de morte violenta, embora não existam tantos dados disponíveis sobre estas variáveis quanto desejamos. Pasricha (1978) relata ter encontrado animosidade em 5 (71.4 %) de 7 casos de morte violenta mas nenhum em 5 casos de morte natural, fobias em 6 (50%) de 12 casos de morte violenta mas em nenhum de 12 casos de morte natural, e marcas de nascimento em 12 (75%) de 16 casos de morte violenta mas em apenas 3 (17.6 %) de 17 casos de morte natural. Ela também descobriu que 19 (100%) de 19 sujeitos de casos de morte violenta lembraram como a pessoa prévia morreu enquanto apenas 5 (29.4 %) de 17 sujeitos de casos de morte natural o fizeram. Os sujeitos de ambos os tipos de casos lembraram o nome da pessoa prévia com grande freqüência. Em 15 (88.2 %) de 17 casos de morte violenta e em 17 (89.4 %) de 19 casos de morte natural o sujeito lembrou o nome da pessoa prévia.

Os dados de Pasricha (1978) se referem à Índia. Stevenson (1970) comparou a incidência do modo de morte e a incidência de marcas de nascimento ou deformidades em casos entre os Alevi, Drusos, e Tlingit. Informou a morte violenta como ocorrendo em 39 (75%) de 52 casos Alevi, em 10 (36%) de 28 casos Drusos, e em 19 (43%) de 47 casos Tlingit. As marcas ou defeitos de nascimento ocorreram em 28 (54%) de 52 casos Alevi, 4 (14%) de 28 casos Drusos, e 24 (51%) de 47 casos Tlingit.

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Stevenson (1980, pp. 355-360; 1987a, pp. 211-213) observou vários padrões relacionados à pessoa prévia e às suas circunstâncias de morte quando a morte foi natural, e embora dados sobre isto não tenham sido informados, vale a pena mencionar estes padrões brevemente. Em um grupo de casos de morte natural a morte da pessoa prévia realizou-se repentina e inesperadamente. Em outro grupo, a pessoa prévia morreu na infância ou na juventude. Outras pessoas prévias morreram deixando “assuntos a terminar”, tal como crianças jovens para cuidar, enquanto outros ainda morreram enquanto estavam tão envolvidos em seus negócios que Stevenson considera-os ter tido “assuntos a continuar”. Estas categorias não são mutuamente exclusivas, e algumas pessoas prévias se encaixam em mais de uma delas. Os casos em que a pessoa prévia morreu violentamente mas ainda assim se encaixa em uma ou mais destas categorias também podem ser encontrados.

3.5. Estudos de Outras Relações

3.5.1. Casos de Duas Gerações Separadas

Pasricha e Stevenson (1987) compararam (usando testes medianos e qui-

quadrado) 36 casos indianos cujos sujeitos nasceram antes de 1936 com 56 casos cujos sujeitos nasceram em 1965 ou depois em 54 variáveis — relacionadas à demografia, às características principais dos casos, e à investigação dos casos — diferenças significativas foram encontradas em apenas 5 variáveis.

Descobriu-se que tanto os sujeitos da série anterior quanto da posterior eram desproporcionalmente masculinos (58% masculinos e 42% femininos na série anterior, e 61% masculinos e 39% femininos na série posterior), tendo mencionado o nome da pessoa prévia com grande freqüência (91% na anterior e 86% na posterior), mencionado a causa da morte da pessoa prévia com freqüência considerável (74% e 76%), e que provavelmente sofriam uma fobia relacionada à causa da morte (40% e 45%). A intermissão foi aproximadamente a mesma em ambas as série (12,5 e 14,5 meses). As duas famílias eram conhecidas antes do começo do caso em 46% dos casos na série anterior mas em 68% na série posterior, uma diferença aproximada mas que não atingiu significância.

Descobriu-se que os casos da série posterior foram investigados mais completamente (p =. 003), mas nos casos da série anterior a personalidade prévia foi identificada mais freqüentemente (p =. 049), a morte violenta ocorreu menos freqüentemente (p =. 0245), e a primeira comunicação e a primeira fala sobre a vida passada aconteceram numa idade mais precoce (p =. 019, para ambas as variáveis).

O ano mediano de nascimento dos sujeitos na série anterior foi 1921 enquanto que nos sujeitos da série posterior foi 1971, uma diferença de 50 anos. Pasricha e Stevenson não deixam claro que procedimentos de amostragem foram usados ao definirem as duas séries, mas presume-se que eles usaram todos os casos que se encaixaram em seus requisitos. Embora o estudo pudesse ter sido melhor informado, as fortes

231

semelhanças entre as duas séries são impressionantes. Experimentalmente podemos aceitar os resultados como indicando estabilidade considerável nas características dos casos de memória de vidas passadas na Índia, ao menos durante várias décadas do século presente.

3.5.2. Casos Resolvidos Versus Não Resolvidos

Cook et al. (1983a) descrevem uma série de casos não resolvidos e (1983b)

informam uma comparação de 576 casos resolvidos e 280 não resolvidos em seis culturas sobre diversas variáveis. Eles (Cook et al., 1983b) não dizem como sua amostragem foi feita, mas o número de casos envolvido faz parecer que usaram todo os casos da coleção de Stevenson para os quais dados suficientes estavam disponíveis. Estatísticas multivariadas (modelos loglinear e testes de relação de probabilidade) foram empregadas para investigar a relação entre os pares de variáveis entre as culturas.

As proporções de casos resolvidos e não resolvidos nas seis culturas foram comparadas calculando o coeficiente lambda para o modelo loglinear para a apropriada tabela 2x6. Em seguida as estimativas foram divididas por seus respectivos erros normais para produzir uma contagem de z para cada cultura, indicando até onde a relação de casos resolvidos a não resolvidos nessa cultura era da relação média ente as culturas. (A mesma técnica foi usada para comparar as seis culturas em outras variáveis.) Descobriu-se que a amostra incluía significativamente mais casos resolvidos do que casos não resolvidos em Burma (N = 230, z = 3,83, p < .0001), Tailândia (N = 38, z = 3.46, p < .001), Índia (N = 266, z = 2.82, p < .01), e Líbano (N = 126, z = 2,74, p < .01), e significativamente mais casos não resolvidos no Sri Lanka (N = 117, z = -7.17, p < .0001) e nos Estados Unidos (N = 79, = -7.94 de z, p < .0001) (casos não tribais).

Os leitores interessados podem consultar o artigo publicado para terem acesso aos resultados de outras comparações interculturais. Cook et al. (1983b) compararam casos resolvidos e não resolvidos como um todo usando qui-quadrado ou análise de variância, e isso será suficiente para indicar os resultados destes casos. Uma diferença não significativa foi identificada no que se refere à idade em que os sujeitos dos casos não resolvidos e resolvidos começaram a falar da vida passada, mas a diferença entre as idades em que os sujeitos dos dois grupos pararam de falar da vida passada foi significativa (p < .00001).

Os sujeitos de casos não resolvidos mencionaram o nome da pessoa prévia menos freqüentemente (p < .00001) como um todo e (p < .005) entre as culturas do que os sujeitos de casos resolvidos. A incidência de morte violenta entre as alegadas pessoas prévias em casos não resolvidos foi significativamente maior do que entre as pessoas prévias de casos resolvidos (p < .00001) no todo mas não significante entre as culturas. Os sujeitos de ambos os grupos mencionaram o modo da morte da pessoa prévia, apresentaram uma fobia relacionada à morte prévia, e se referiram a uma morte prévia violenta com aproximadamente a mesma freqüência.

Edge (1986, p. 347) supõe que casos não resolvidos são fantasias, e inter-

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preta as semelhanças entre casos resolvidos e não resolvidos colocando os casos resolvidos em dúvida, mas o seu raciocínio não é claro. Um caso pode permanecer não resolvido por muitas razões, sendo que apenas uma delas corresponde à fantasia. Os sujeitos de casos não resolvidos mencionaram o nome da pessoa prévia significativamente menos do que os sujeitos de casos resolvidos (ver acima). O fato de que nomes normalmente são exigidos para resolver um caso (Cook et al., 1983a, p.47) certamente contribuiu para que [estes casos] não fossem resolvidos. Além disso, alguns casos não resolvidos incluem declarações verificadas (Cook et al., 1983b, pp. 132-133).

Por outro lado, foi demonstrado que alguns casos não resolvidos são misturas de fantasia e fato (Cook et al., 1983b, pp. 133-134). A incidência significativamente mais alta de alegadas memórias de mortes violentas em casos não resolvidos (ver acima) pode derivar de fantasias em que a morte violenta surge com freqüência, mas é importante lembrar que casos resolvidos também têm uma incidência incomumente alta de morte violenta (Seção 3.4.7). Casos não resolvidos podem consistir em fantasias em parte ou em sua totalidade, mas não temos nenhum direito de supor que isto é tudo que eles são. Entretanto, as semelhanças fortes entre casos resolvidos e não resolvidos justificam que os coloquemos juntos para a maioria das análises.

3.5.3. O Efeito da Idade do Sujeito

Memórias de vidas passadas informadas por adultos e crianças são

fenologicamente tão diferentes (compare as Seções 2.3 e 2.4) que podem parecer ser de ordens diferentes, mas Matlock (1988b, 1989a) hipotetiza que as diferenças podem ser entendidas como uma função da idade do sujeito na época em que as memórias emergiram pela primeira vez na consciência. Matlock (1988b; ver Seção 2.4) descreve uma série de casos “transitórios” entre a criança típica e as formas adultas, e (1989a) examina a idade do sujeito ao falar pela primeira vez da vida passada em relação a um estímulo às memórias.

O “estímulo” é definido (Matlock, 1989a) como um acontecimento, tal como o encontro do sujeito com uma figura relacionada à vida passada, que serviu como uma sugestão ou catalisador para as memórias. As sugestões eram externas ao sujeito; isto é, seu relato dependeu da observação de adultos ou irmãos mais velhos que agiram como informantes para os casos e não dos próprios relatos das crianças. A amostra consistiu em 95 casos publicados resolvidos, sendo que 60 eram de Stevenson, e 35 foram contribuições de outros 19 autores.

Os casos foram organizados de acordo com a idade do sujeito na época da primeira menção à vida passada, e uma separação mediana (2,75 anos) foi usada para dividir a série em duas faixas etárias, mais jovem e mais velho. Um teste qui-quadrado foi usado para determinar a diferença entre a proporção de casos estimulados e não estimulados nas duas faixas etárias. O resultado foi altamente significativo (p =. 00005), com sujeitos no grupo mais jovem apresentando mais probabilidade de terem começado a falar sobre suas memórias sem um estímulo ter sido observado.

Para examinar a possibilidade de um efeito cultural, os mesmos fatores

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foram analisados numa subsérie de 30 casos indianos e 65 não-indianos e então comparados usando uma ANOVA de fator 2 (com idade igual à da variável dependente) (Matlock, 1989a). A proporção de estimulados a não estimulados variou significativamente entre as faixas etárias na subsérie indiana (p = .0014) e na subsérie não-indiana (p =. 0079), testadas por qui-quadrado. Um qui-quadrado não mostrou nenhuma diferença significativa entre as proporções de casos estimulados a não estimulados nas subséries indiana e não indiana. Na ANOVA, o efeito principal do tipo de caso (estimulado vs. não estimulado) foi significativo (p = .0006), mas o efeito principal de cultura (indiano vs. não indiano) e a interação entre tipo de caso e cultura não foi significativo.

A descoberta de um efeito forte das idades dos sujeitos nos casos não necessariamente indica o envolvimento de memórias genuínas. Pode se esperar que o desenvolvimento cognitivo da criança esteja relacionado à penetração na consciência de imagens relacionadas a uma vida passada, quer estas imagens sejam derivadas de uma vida realmente vivida antes ou não (cf. Matlock, 1988b). A hipótese de uma relação contínua entre os casos de crianças e adultos é apoiada, no entanto, pela hipótese de que esta relação acontece entre culturas. Embora mais estudos precisem ser conduzidos antes que o efeito seja estabelecido, existem indicadores de que a relação entre idade e estímulos possa ser uma característica entre culturas recorrentes de casos de memórias de vidas passadas.

3.6. Replicação dos Estudos

Por diversas vezes dois ou mais pesquisadores investigaram o mesmo caso

independentemente um do outro. Isto ocorreu com os casos de Shanti Devi (Bose, 1952; Gupta, Sharma, & Mathur, 1936; Manas, 1941), Sukla Gupta (Stevenson, 1974c; Pal, 1961-1962), Jagdish Chandra (Sahay, 1927; Stevenson, 1975b), Bishen Chand Kapoor (Sahay, 1927; Stevenson, 1975b) e Uttara Huddar (Akolkar, 1985; Stevenson, 1984b). Em todos estes exemplos, diferentes investigadores concordaram com a maioria dos fatos e interpretações.

Chari (1967) e Stevenson (1966b, 1974c) discordam da melhor interpretação do caso sul indiano de Mallika, mas a opinião de Chari é baseada em correspondências e em um relatório da polícia e não inclui entrevistas no local (Chari, 1986; ver também Seção 4.6). É possível que Wilson (1982) e Stevenson (1987a) discordem da interpretação mais apropriada do caso dos gêmeos Pollack, mas isto não está claro no registro de Wilson, que é sobretudo descritivo. O único caso registrado em que a discórdia clara entre dois pesquisadores é claramente identificada, sendo que ambos conduziram as entrevistas, é o caso de Rakesh Gaur, informado por Pasricha e Barker (1981; Pasricha, 1983).

O ideal serial que os casos de memórias de vidas passadas fossem examinados por dois ou mais investigadores com mais freqüência, mas considerando que algumas memórias do sujeito desaparecem com o tempo, uma reinvestigação de rotina dos casos para fins de replicação transforma-se em um processo inviável. O predo-

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mínio de tais casos em muitas sociedades, no entanto, abre a possibilidade de uma replicação metodológica — a investigação de novos casos usando métodos semelhantes a esses usados nos casos anteriores — para determinar se pesquisadores diferentes, usando métodos semelhantes, podem chegar a conclusões semelhantes no que se refere a casos que presumivelmente são semelhantes. Um nível mais alto de replicação seria alcançado se fosse mostrado que as duas séries de casos eram semelhantes em suas características principais.

Um estudo projetado para comparar grandes grupos de casos a ser conduzido por dois investigadores trabalhando independentemente foi informado por Pasricha e Stevenson (1979). Está é uma versão revisada de um capítulo da dissertação doutoral de Pasricha (1978). Esta dissertação foi citada em seções anteriores porque relata os resultados de forma mais detalhada, mas o artigo publicado é revisado nesta Seção.

O esforço de replicação não foi inteiramente independente. Stevenson treinou Pasricha e financiou a maioria de suas pesquisas. Os casos de Pasricha foram incluídos nos arquivos do Stevenson, elevando para 200 o número total de casos da Índia. Mais da metade destes casos foram descartados porque faltaram dados suficientes para análise ou existiam sérios questionamentos sobre a confiabilidade de testemunho. A amostra resultante de 95 casos foi dividida em duas séries: 50 casos classificados como casos de Stevenson (esses em que ele e colegas tinham investigado antes de Pasricha se tornar parte de sua equipe) e 45 classificados como casos de Pasricha (esses que ela investigou independentemente de Stevenson).

De 86 variáveis em que dados foram colecionados durante entrevistas, faltaram 9 dados suficientes para comparação. As duas séries inicialmente foram comparadas nas 77 variáveis restantes, embora no relatório publicado algumas variáveis com diferenças não significativas tenham sido combinadas. O relatório publicado inclui os resultados da comparação de 56 variáveis, com diferenças significativas encontradas para 12. Destas 12 variáveis, 3 ocorreram entre os 16 itens demográficos, 6 ocorreram entre os 36 itens relacionados com as características principais dos casos, e 3 relacionados à investigação dos casos. Qui-quadrados (com correções de Yates para células menores que 5) foram usados para comparar as 45 variáveis registradas como presente ou ausente. As 11 variáveis restantes eram escalares com distribuições distorcidas, e as comparações foram feitas com testes medianos.

Stevenson concluiu seus casos mais cedo do que Pasricha, depois que o encontro entre as duas famílias tinha ocorrido (p < .05). Os sujeitos de Stevenson eram mais velhos do que os de Pasricha na época das últimas entrevistas de acompanhamento (p < .05), e no total os casos de Stevenson foram investigados de forma mais completa (p < .05). Tanto os sujeitos de Stevenson quanto as suas pessoas prévias viveram mais freqüentemente em cidades ao invés de aldeias e povoados pequenos (em ambas as variáveis, p = < .01). Os pais dos sujeitos de Stevenson eram também significativamente (p < .01) melhor educados do que eram os pais dos sujeitos de Pasricha.

A distância do local de nascimento do sujeito ao local de morte da pessoa prévia e a distância do local de nascimento do sujeito à residência principal da pessoa prévia diferiu significativamente (p < .05 em ambas as variáveis) entre as

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duas séries (ver Seção 3.4.3). Os sujeitos de Stevenson tenderam a mencionar vidas em melhores circunstâncias sócio-econômicas mais freqüentemente do que os sujeitos de Pasricha (p < .05). As memórias comportamentais persistiram um tanto mais nos sujeitos de Stevenson do que nos de Pasricha (p < .05). Observadores informaram uma “atitude adulta” por parte dos sujeitos de Stevenson mais freqüentemente do que nos sujeitos de Pasricha (p < .05), e informaram PES da parte do sujeito mais freqüentemente com sujeitos de Stevenson do que com os de Pasricha (p < .01).

Nenhuma diferença estatisticamente significativa foi achada com relação à idade e circunstâncias dos sujeitos que falam de vidas passadas, as características proeminentes das pessoas prévias, nem a freqüência e tipo de conexões entre as duas famílias antes do desenvolvimento do caso. Considerando as conexões de Parisha a Stevenson, as fortes semelhanças entre as duas séries de casos não podem ser ignoradas. Devido à posição dominante de Stevenson em estudos de casos de memórias de vidas passadas, qualquer estudo que ajude a reduzir a probabilidade de um “efeito investigador” é importante.

3.7. Comentários sobre as Análises Padrão

Se na conclusão da Seção 2 pareceu que a hipótese de reencarnação teve a

vantagem, agora deve ser dito que a balança pende para a hipótese de fantasia. Os numerosos exemplos de características de casos numa cultura dada refletindo o que as crenças da cultura dizem sobre a reencarnação fazem parecer improvável que a hipótese de reencarnação possa sobreviver a um escrutínio maior. Embora a estabilidade nas características principais dos casos tenha sido demonstrada através dos tempos (Seção 3.5.2) e entre os investigadores (Seção 3.6), estes estudos se referem a uma única cultura (norte da Índia), e podem indicar não mais que a persistência das crenças sobre a reencarnação nessa mesma cultura. Por outro lado, não podemos esquecer que nos melhores casos desenvolvidos os sujeitos freqüentemente se identificam com as pessoas prévias por redes complexas de memórias visuais, verbais, comportamentais, e físicas, e que tais casos ocorrem em culturas bem distantes.

Ao tentar explicar a ocorrência comum das várias características dos casos de memórias de vidas passadas, incluindo memórias verídicas de vidas passadas, os advogados da hipótese de fantasia começaram a desenvolvê-la numa forma mais sofisticada. De agora em diante a chamaremos de hipótese psicocultural. A hipótese psicocultural foi a rival mais popular à interpretação de reencarnação dos casos de Stevenson (ver Seção 4).

Chari (1962b) começou a moldar sua versão da hipótese antes de Stevenson começar seu importante trabalho, e estendeu-a e desenvolveu-a em várias ocasiões subseqüentes (ver Seção 4,3). L. E. Rhine (1966) tentou uma abordagem semelhante em sua revisão de Twenty Cases Suggestive of Reincarnation, e Brody (1979a, 1979b) seguiu a mesma linha em sua revisão do segundo volume da

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série de Stevenson, Cases of the Reincarnation Type. Brody publicou a sua revisão primeiro no Journal of the American Society for Psychical Research e então reproduziu-a no Journal of Nervous and Mental Disease, que ele edita. Como ele é responsável pelo que talvez seja a declaração mais concisa da hipótese psicocultural em sua forma básica, ela será usada para introduzir o conceito aqui.

Brody (1979a, 1979b) está satisfeito em rejeitar a fraude e os erros de registro como explicações para os casos, e conclui que estamos diante de um fenômeno real. A pergunta principal para ele é se é necessário invocar a reencarnação para explicar os casos, ou se as alegações verbais podem ser entendidas em termos de informação transferida por meios normais. Aparentes memórias comportamentais podem ser devidas tanto a interpretação relativa aos pais quanto a informações sobre o comportamento ou reorganização do sujeito ou tanto das percepções do sujeito quanto dos pais com o aumento das informações sobre a outra família. Mesmo um pedaço de informação pode agir como um evento reorganizador, ou a família anterior pode inconscientemente ser selecionada pela família do sujeito para encaixar as declarações e comportamentos do sujeito. A crença na reencarnação forneceria o contexto de suporte para tal processo.

Um bom teste inicial de qualquer hipótese é perguntar quão bem operam os dados que se pretende explicar. Brody está claramente ciente da natureza especulativa de suas explicações propostas, e parece ter avançado com elas em grande parte por causa das dificuldades de reconciliar a reencarnação com o conjunto de conhecimentos científicos aceito. “O problema reside menos na qualidade dos dados que Stevenson apresenta para apoiar seu ponto”, diz, “do que no corpo de conhecimento e teoria que deve ser abandonada ou radicalmente modificada para que seja aceita” (Brody, 1979a, p. 770). Brody levanta seus pontos mais como perguntas não ainda respondidas satisfatoriamente do que como interpretações fortemente apoiadas pelos dados. De fato, há uma grande quantidade de dados que não se encaixam muito bem em sua hipótese.

Em muitos casos, as duas famílias viveram longe e isoladas e não tiveram nenhum contato antes do desenvolvimento do caso (Seção 3.4.1). O contato surgiu como o resultado das alegações do sujeito, e não como precursor. Brody não lida com marcas de nascimento e outras memórias físicas, sem dúvida porque elas não exerceram um papel proeminente no volume que ele revisa. Mas marcas de nascimento representam outro grande desafio a sua hipótese, especialmente quando ocorrem — como acontece com várias delas — com sujeitos cujas famílias não eram ligadas entre si e não tinham nenhum conhecimento da família da pessoa prévia antes do desenvolvimento do caso.

Existem outros problemas na explicação dos padrões dos casos de uma determinada cultura como uma expressão das crenças na reencarnação dessa cultura. Embora as características dos casos de modo geral sigam as crenças de sua cultura, nem todos os casos em uma determinada cultura se adaptam às crenças.

Isto é aparente nos números e porcentagens fornecidas nas seções prévias. Para usar de um exemplo, os Drusos acreditam que a reencarnação ocorre imediatamente após a morte, mas o intervalo médio para os casos Drusos é de oito meses — mais curto que o de qualquer cultura, com exceção dos Haida, mas ainda longe de ser

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o que a crença prediria (Seção 3.4.3). Os Drusos evitam o embaraçoso problema acreditando que breves vidas intermediárias não são lembradas, embora os próprios sujeitos Drusos raramente reivindiquem se lembrar de vidas intermediárias ou dêem outra evidência de terem vivido tais vidas. A média de 8 meses leva os casos Drusos para longe da crença, mas os aproxima da média de 15 meses entre as culturas.

A característica mais fortemente associada às crenças é a ocorrência de casos de mudança de sexo (Seção 3.4.4). Os casos de mudança de sexo não são encontrados (ou o são muito raramente) em culturas em que se acredita ser impossível mudar de sexo entre vidas. No entanto, algumas outras crenças não são refletidas nos casos. Isto é verdadeiro com relação à crença na possibilidade de reencarnar como animais não humanos (Seção 2.5.2) e em reencarnar em mais de uma pessoa ao mesmo tempo (Seção 2.6). É também verdadeiro em relação ao carma, se pensado estritamente num sentido punitivo ou vingativo (ver Stevenson, 1987a, pp. 258-259). A hipótese de reencarnação pode diretamente levantar dúvidas à hipótese psicocultural porque, se os casos de memórias de vidas passadas são derivados puramente das crenças, tais crenças importantes não são refletidas mais freqüentemente nos casos.

Além do mais, algumas características ocorrem universalmente, aparentemente bem à parte de crenças. Memórias visuais, verbais, comportamentais, e físicas são característica dos casos onde quer que eles sejam achados. Em casos com alegações verbais, os sujeitos em toda parte primeiro mencionam lembranças de uma vida passada numa idade muito precoce (entre as idades de dois e cinco), e em toda parte se diz que tais alegações cessam na maioria dos casos depois de alguns anos (entre as idades de cinco e oito). Em quase toda cultura os sujeitos masculinos superam os femininos (Seção 3.3), e pessoas prévias morreram de mortes violentas com uma freqüência bem acima da incidência de morte violenta na cultura em questão (Seção 3.4.7). Parece que em várias culturas, quanto mais jovem o sujeito, mais provável é que as memórias surjam sem estímulo (Seção 3.5.3).

A hipótese psicocultural também não explica muito bem a ocorrência de casos com características semelhantes em lugares onde a reencarnação é um conceito estrangeiro, tais como a Europa e os Estados Unidos. Certamente subculturas que acreditam na reencarnação podem ser achadas no Ocidente, mas é provável que as crenças estejam relacionadas a memórias adultas, regressões hipnóticas de idade, ou leituras de vidas passadas de sensitivos — e não a crianças jovens que, além de alegar memórias de vidas passadas, comportam-se de forma incomum e sustentam marcas de nascimento estranhas ou outros sinais físicos.

Por outro lado, a dificuldade da hipótese de reencarnação face à relação das características dos casos às crenças é superficial, e provavelmente uma conseqüência de idéias sobre reencarnação derivadas de fontes orientais e de seus desdobramentos, tais como a Teosofia ou os ensinos de Allan Kardec ou Rudolf Steiner. Estes sistemas têm em comum o conceito de carma, freqüentemente definido como uma “lei moral de causa e efeito”, e separado de todo o auxiliar de sutilezas com o conceito da teologia Hindu e Budista. O carma torna a reencarnação um processo quase mecânico, automático, e a maioria dos oci-

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dentais está desacostumada a pensar nele em outros termos além do rígido. Assim, Wilson (1982, 1987) se aborrece porque ele não pode discernir nos casos do Stevenson as “regras” pelas quais o processo é governado, e Schmeidler (1988, p. 193) registra a variação cultural como uma “anomalia” a ser explicada.

Matlock (1989b) propõe que a reencarnação seja pensada em termos psicológicos ao invés de mecânicos. Talvez a pessoa moribunda tenha algum (embora normalmente inconsciente) controle sobre o processo. Se ela acreditar firmemente que não pode mudar de sexo entre as vidas, ela pode ser inclinada a não tentar. Caso acredite que deva renascer na família de alguém, é aí que poderá escolher fazê-lo. Caso acredite que o período antes de uma próxima vida deva ter uma certa duração, pode se esforçar para aproximá-lo o tanto quanto for possível desta duração. Os Tlingit e outras tribos do Litoral Noroeste acreditam que eles têm controle sobre este processo, e alguns de seus casos sugerem que eles de fato têm tal controle (Seção 2.3.6). Um controle também é sugerido nos casos em que o sujeito alega lembrar ter escolhido seus pais no intervalo entre as vidas (Seção 2.3.6).

Se alguém não acredita em reencarnação, então esse alguém não reencarnaria? Esta pergunta pode ser antecipada como a primeira resposta cética a esta versão da hipótese de reencarnação, mas não decorre de forma lógica do que foi dito. A reencarnação pode ser um processo natural; podemos não ter controle sobre o processo propriamente dito, mas sim, e meramente, sobre alguns aspectos de sua operação. Há outras restrições no processo. Uma delas pode ser a impossibilidade de reencarnar nos corpos de outra espécie, e outra pode ser o requisito de que reencarnamos em só um corpo de cada vez.

A hipótese de reencarnação assim formulada trata os dados com facilidade consideravelmente maior do que faz a hipótese psicocultural. Os elos entre as crenças e os casos não mais representam um problema, e as memórias verídicas têm uma explicação natural. Ainda assim, muitas perguntas permanecem no caminho de uma aceitação geral de reencarnação, incluindo o problema de Brody de reconciliar a reencarnação com as crenças científicas da corrente principal. Algumas das perguntas de mais destaque são discutidas na Seção 4, que considera os comentários e criticismos que o trabalho de Stevenson tem gerado.

4. Comentário

Antes de 1960, a maioria dos casos de memórias de vidas passadas foi

freqüentemente utilizada como ilustração por escritores simpáticos à reencarnação, e os comentários sobre eles eram favoráveis. Chari parece ter sido o primeiro a criticar os casos iniciais, em 1955 e outra vez em 1962 (Chari, 1955, 1962a, 1962c). Desde que Stevenson publicou Twenty Cases Suggestive of Reincarnation em 1966, os comentários na literatura popular continuaram a ser favoráveis, mas os comentários na literatura científica foram mais freqüentemente negativos. Uma parte da crítica negativa se referiu a

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questões metodológicas, mas muitas procuraram achar explicações alternativas à interpretação de reencarnação endossada por Stevenson.

Com raras exceções (p.ex.., Gauld, 1982, sobre Guirdham, 1970, 1974; Rogo, 1985, sobre Lenz, 1979), o comentário recente se referiu exclusivamente ao trabalho de Stevenson. Esta Seção, portanto, trata apenas de Stevenson. Devido a limitações de espaço, só as críticas mais significativas ou influentes são discutidas em detalhes, embora muitas outras sejam citadas na revisão na Seção 4.1 e referenciadas ao longo deste estudo. A Seção 4.2 lista criticismos aos quais Stevenson respondeu. Em seguida, os principais críticos são examinados aproximadamente na ordem cronológica.

Os comentários de Chari (1978) são encontrados na Seção 4.3, os de Reyna (1973) na Seção 4.4, os de Roll (1982) na Seção 4.5, os de Wilson (1982) na Seção 4.6, e os de Rogo (1985) na Seção 4.7. O comentário cético é considerado na Seção 4.8. A seção 4.9 retorna a uma avaliação das hipóteses de reencarnação e de fantasia, com os comentários em mente.

4.1. Comentários

Chari, do Madras Christian College, foi o primeiro crítico de Stevenson, e tem

sido um de seus críticos mais persistentes e influentes (Chari, 1961-1962a, 1961-1962b, 1962c, 1967, 1973a, 1973b, 1978, 1981, 1986). L. E. Rhine (1966) tecendo comentários sobre Stevenson na sua revisão de Twenty Cases Suggestive of Reincarnation (Stevenson, 1966b). Em 1973, Pratt fez o que talvez seja a primeira declaração irrestrita em favor de Stevenson, e Murphy e Reyna propuseram novos meios de interpretar o material dos casos.

Hick (1976) recebe crédito por ser o primeiro filósofo a atacar o material de Stevenson de uma forma significativa. Em 1977 Roll primeiro declarou o que tornou-se uma reinterpretação influente de um dos casos de Stevenson (1974c), o caso de Imad Elawar, e começou a tecê-la em sua teoria de estrutura psi (Roll, 1982, 1984, 1989). O mágico Christopher iniciou o tratamento cético de Stevenson em 1979. A revisão de Brody do segundo volume de série de Stevenson, Cases of the Reincarnation Type

(Stevenson, 1977a), tratada em resumo na Seção 3.7, apareceu nesse mesmo ano. Em 1980, Murphy (Leeds & Murphy, 1980) desenvolveu mais ainda o contexto teórico para casos de memórias de vidas passadas que ele primeiramente tinha traçado em 1973, e Siegel (1980) tratou do trabalho de Stevenson num artigo cético importante sobre a sobrevivência publicado no American Psychologist. É interessante notar que Siegel pareceu estar mais impressionado com as alegações feitas pelos sujeitos adultos de Lenz (1979) do que com os casos de crianças estudados por Stevenson.

As citações ao trabalho de Stevenson aumentaram na década de 1980, com sinais de uma posição crítica menos ferrenha ao final daquela década. Capel (1981a, 1981b) criticou Stevenson fortemente em espanhol e Anievas (n.d.-a , n.d.-b) o fez ainda mais fortemente em português. Moore (1981) mostrou como a hipótese psicocultural pode preparar um caso

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com registros escritos das declarações do sujeito antes que as mesmas sejam verificadas. Sheldrake (1982, 1988) ofereceu uma interpretação de casos de memória de vidas passadas com base em sua hipótese de causas formativas. Gauld, Wilson, e Zusne e Jones publicaram livros com seções sobre o trabalho do Stevenson em 1982, Gauld o fez de um ponto de vista favorável, Wilson e Zusne e Jones apresentaram pontos de vista negativos. Onwubalili (1983a) ofereceu uma explicação para o fenômeno de ogbanje dos Igbo (Seção 3.3) em termos de doença de célula falciforme, mas perante o criticismo de Edelstein e Stevenson (1983), acabou voltando atrás (Onwubalili, 1983b).

Child (1984), um psicólogo, parece posicionar-se de forma favorável ao trabalho de Stevenson; assim como Lund (1985), um filósofo; e Heaney (1984), um teólogo, mas Rogo (1985) o critica severamente em um livro popularmente escrito e amplamente citado. Edge (1986) discorre sobre Stevenson de forma imparcial, fazendo apenas algumas críticas leves e passageiras. Almeder, um filósofo da Universidade de Geórgia, defendeu Stevenson energeticamente em 1987; ao passo que Edwards (1986a, 1987b), outro filósofo; e Hines (1988), um jornalista, mostraram-se hostis. Schmeidler (1988) é respeitosa, mas um tanto quanto cética sobre uma interpretação de reencarnação do material dos casos em seu livro sobre psicologia e parapsicologia, tal qual Irwin (1989) em seu compêndio recente. Até agora os antropólogos têm tido pouco a dizer sobre o trabalho de Stevenson, embora as recentes revisões do livro de Hess (1988) e Bock (1988) tenham indicado que Stevenson pode contar com a receptividade deles.

4.2. Comentários aos Quais Stevenson Respondeu

Rogo (1985, pp. 77-79) retratou Stevenson como indiferente à crítica, uma

acusação que também foi feita por Wilson (1988). Todavia, uma revisão da literatura mostra que Stevenson freqüentemente respondeu as questões sobre o seu trabalho e as interpretações dos casos que se mostravam alternativas àquelas que ele propôs.

Stevenson travou diálogos com Chari (Chari, 1961-1962a, 1961-1962b, e Stevenson, 1961-1962; Chari, 1962a, 1962c, e Stevenson, 1962; Chari, 1973b, e Stevenson, 1973b; Chari, 1986, e Stevenson, 1986(1), L. E. Rhine (Rhine, 1966, e Stevenson, 1967), Murphy (Murphy, 1973, e Stevenson, 1973a), Haynes (Haynes, 1976, 1978, e Stevenson, 1979), Grosso (Grosso, 1979, e Stevenson, Tart, & Grosso, 1980), Siegal (Siegal, 1980, e Stevenson, 1981), e Roll (Roll, 1984, e Stevenson, 1984a), assim como com o próprio Rogo (Rogo, 1985, e Stevenson, 1986b; Rogo, 1986a, e Stevenson, 1986b, 1986c; Rogo, 1987, e Stevenson, 1987b) e Wilson (Wilson, 1988, e Stevenson, 1988).

Estes diálogos ocorreram em jornais acadêmicos, ao passo que muitas das críticas do trabalho de Stevenson foram feitas em livros populares (Rogo, 1985; Wilson, 1982, 1987) ou revistas (Edwards, 1986b, 1987b). Stevenson não

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tratou das críticas ao seu trabalho diretamente em seus próprios livros, mas já que ele se dirigiu à crítica responsável em outra parte na literatura, torna-se difícil censurá-lo por isto.

Rogo também acusou Stevenson de ter suprimido relatórios críticos do seu trabalho. Um destes seria um relatório “devastador”, apontado em um testemunho de segunda mão, como tendo sido preparado por Ransom antes de ele ter deixado o posto de assistente de pesquisa de Stevenson (ver Rogo, 1985, p. 79; 1986). Stevenson (1986b, 1986c) defendeu-se contra a acusação, que apesar disso foi acatada por Edwards (1987b). Evidentemente em resposta a Edwards, o próprio Ransom (1987) tratou de esclarecer a situação dizendo que Stevenson não suprimiu este relatório e que “é difícil pensar que Stevenson sequer tentaria suprimir qualquer escrito crítico de sua pesquisa”.

Rogo (1985, p. 78; 1986) também se refere a relatórios não publicados por Barker, com base em uma conversa que ele acredita ter tido (ver Rogo, 1986, p. 470) com Barker durante uma convenção da Parapsychological Association. Esta acusação também foi mencionada por Edwards (1987b). Em sua resposta a Rogo, Stevenson (1986b, 1986c) explica que a discórdia com Barker não é resultado de relatórios escritos, mas sim do fato de que Stevenson apoiou Pasricha numa disputa que ela teve com Barker sobre o compartilhamento de dados. Barker tinha se unido a Pasricha numa pesquisa de casos de memórias de vidas passadas na Índia (Barker & Pasricha, 1979) e a tinha ajudado a investigar casos como parte de sua replicação em larga escala dos métodos de pesquisa de Stevenson (Pasricha & Stevenson, 1979).

Barker (Weiner, 1979, p. 56) mais tarde apresentou um relatório de um dos casos que eles investigaram juntos numa conferência da Southeastern Regional Parapsychological Association, usando o nome dos dois, mas sem obter a aprovação de Pasricha, e sem declarar que a interpretação dela sobre o caso diferia da interpretação dele (veja Pasricha, 1979). Um tempo depois o caso (de Rakesh Gaur) foi informado de forma completa, com a apresentação de ambas as opiniões (Pasricha & Barker, 1981). Entretanto, a disputa sobre o compartilhamento dos dados obtidos tinha sido levada a julgamento por um comitê da Escola Médica da Universidade de Virgínia, durante o qual Stevenson apoiou Pasricha.

4.3. Comentários de C. T. K. Chari

Chari (1981, 1987) defende que as análises padrão discutidas na Seção 3 são

inválidas porque os casos são culturalmente e socialmente influenciados de tal forma que a independência estatística entre eles não é alcançada. Ele não aceita a comparação de casos nem dentro de culturas nem entre as culturas, e em escritos anteriores (p.ex., Chari, 1962b) tentou mostrar que a informação sobre alguns casos poderia ter se difundido amplamente, servindo de modelo para outros casos.

Contudo, Barker e Pasricha (1979) descobriram que as informações sobre os casos normalmente

242

se espalham por distâncias muito curtas, já que os casos ocorridos em uma aldeia normalmente não são conhecidos entre os habitantes da aldeia seguinte. Os casos que se tornaram mais conhecidos tiveram características incomumente dramáticas, que não eram típicas dos casos normais. Além disso, a independência estatística desejada por Chari é raramente atingida em estudos com populações humanas. De modo que a crítica é simplesmente imprópria ao campo de pesquisa.

O criticismo das análises padrão é recente e evidentemente uma resposta ao crescimento do número de estudos dessa natureza. Além de estar relacionado à antiga abordagem crítica de Chari, a hipótese psicocultural (Chari, 1962b, 1967, 1973a, 1978, 1981, 1987; cf. a Seção 3.7). Chari (1962a; 1962c) também propôs a criptomnésia (amnésia de fonte) e a paramnésia (distorções da memória) como explicações para as memórias de vidas passadas, combinando-as de forma mais ou menos explícita com a hipótese psicocultural (p.ex., Chari, 1978). Por vezes (p.ex., Chari, 1978, p. 315) ele atribuiu um possível papel à PES, embora não tenha sido consistente neste ponto. Os escritores que se impressionaram com os seus argumentos incluem Reyna (1973), Rogo (1985, 1986b), Irwin (1989), Zusne e Jones (1982), e Edwards (1987a).

A declaração mais abrangente (e mais freqüentemente citada) de Chari é o seu capítulo no Signet Handbook of Parapsychology (Chari, 1978). Aqui ele prossegue levantando e respondendo uma série de questionamentos. Sendo que o primeiro destes é: “A reencarnação é uma hipótese testável?”, ele responde que não, principalmente com base no fato de que a reencarnação é atualmente definida de forma demasiadamente incoerente. Por “testável” ele obviamente que dizer passível de ser submetida à prova ou contra-prova experimental. Podemos concordar com sua avaliação, e também com a conclusão de que uma formulação futura e coerente da hipótese não deve ser descartada.

O segundo questionamento é: “As antologias reencarnacionistas do ocidente são conclusivas?” As citações se referem a Delanne (1924), Shirley (1936), e várias outras fontes, além de Stevenson. Ao usar o termo “conclusivas” Chari certamente se refere ao estabelecimento da reencarnação. Outra vez ele responde na forma negativa, e outra vez podemos concordar com ele. De fato, nenhum escritor, exceto os mais populares, considerou que a reencarnação pudesse ser estabelecida por estes textos, ou que se quer pudesse ser estabelecida. A combinação de criptomnesia, paramnésia, e PES que Chari introduz como uma contra-explicação torna-se importante apenas quando estes primeiros casos são considerados juntos com os casos mais recentes investigados por Stevenson e outros.

O terceiro questionamento é, “Quão plausíveis são os estudos atuais de crianças asiáticas que ‘alegaram memórias de vidas passadas’?” A resposta de Chari nada mais é do que uma descrição geral do material dos casos de Stevenson. A resposta só começa a aparecer no quarto questionamento, “Quão inclinadas são as crianças asiáticas a fantasias persistentes e espontâneas de ‘vidas passadas’?” Aqui Chari avança na visão de que as memórias de vidas passadas na Ásia possuem uma função similar aos amigos imaginários no Ocidente. A idéia é interessante, mas para desenvolvê-la Chari teria que ignorar ou subestimar os relatórios de memórias de vidas passadas do Ocidente (p.ex., ver Stevenson, 1983a, 1987a).

243

Ainda tratando do mesmo assunto, Chari apresenta o mais longo relatório de um caso original que ele já nos forneceu. Apesar disso, as duas páginas que ele dedica a A. V. R. estão longe de permitirem um julgamento independente do caso. A descrição de Chari sobre a sua investigação é muito circunspecta, e é difícil determinar o que ele fez e deixou de fazer. Ele nos informa que a cidade onde A. V. R. alegou ter vivido soava vagamente como se fosse do norte da Índia, mas que tinha um prefixo e um sufixo do idioma telugu, o qual sugeriria uma derivação do sul da Índia. Ele não nos diz qual foi o nome, nem nos diz como ele confirmou ou não a existência da cidade, comentando apenas sobre a sua análise lingüística. Se é verdade que o caso em questão contém uma mistura de influências do norte e do sul da Índia, então este caso pode ser excepcionalmente interessante, e é uma pena que ele não tenha sido descrito em mais detalhe nem aqui nem em outro lugar.

A próxima pergunta de Chari é: “Existem casos aparentemente ‘verídicos’ de ‘renascimento’ sem qualquer recordação pessoal e/ou reconhecimento pessoal nas crianças asiáticas em questão?” Em seguida ele descreve o caso de Sheela Ratna (ver também Chari, 1967, 1981), que foi informada sobre a sua identidade pelo Senhor Krishna numa visão. Este caso é fenomenologicamente tão diferente dos casos espontâneos típicos de memórias de vidas passadas que a sua relação com os casos típicos não é clara.

O questionamento final de Chari é, “As ‘comunicação mediúnicas’ e a ‘reencarnação’ são fenômenos mutuamente excludentes: ‘ou tudo ou nada’?” Aqui seu interesse principal parece se concentrar nas alegações de que algumas pessoas reencarnaram e surgiram como comunicadores mediúnicos ao mesmo tempo. O exemplo que ele cita não está documentado em nenhuma outra parte da literatura, e é difícil saber o que fazer com ele, considerando a breve descrição fornecida por Chari. O fato de que a crença oculta estabelece a possibilidade de uma expressão dual nada diz sobre a sua base factual.

No âmago da crítica de Chari (expressada mais claramente em outra parte) está a hipótese psicocultural. A única diferença real entre a sua versão da hipótese e a versão de Brody (1979a, 1979b; discutida na Seção 3.7) é a concessão à criptomnésia, PES e paramnésia. A criptomnésia tipicamente envolve quantidades pequenas de informação, muito menos do que as comunicadas pela maioria dos sujeitos de casos de memórias de vidas passadas (Seção 2.5.6). Chari não parece considerar a PES como uma explicação que funcione para todos os casos, mas sim como um dos vários fatores que podem estar envolvidos. A possibilidade, naturalmente, não pode ser rejeitada, mas se a PES é um fator importante em casos de memórias de vidas passadas, é estranho que os sujeitos quase nunca apresentem essa capacidade em outras situações (Stevenson, 1987a, pp. 154-155).

Quanto mais amplamente se usa PES, mais ela se torna uma explicação forçada. Muitos erros cometidos pelos sujeitos parecem corresponder melhor às características da memória do que de PES. Uma simples explicação de PES não pode explicar prontamente por que alguns sujeitos têm dificuldade para reconhecer pessoas e lugares que mudaram substancialmente desde a morte da pessoa prévia. A PES por si só também teria dificuldade para produzir memórias comportamentais e físicas.

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Para explicar estes fenômenos através da PES, seria necessário ampliar o conceito bem além do que foi estabelecido nas pesquisas de laboratório ou trabalhos de campo com casos espontâneos, formando uma espécie de super-psi. A super-psi, naturalmente, tem se apresentado já há bastante tempo como um fantasma da pesquisa de sobrevivência. Fortemente criticada por Gauld (1961, 1982), o conceito recentemente foi racionalizado mais uma vez por Braude (1989).

Chari (1967) acredita que as memórias físicas podem decorrer de fatores genéticos, embora (Chari, 1987) destaque que às vezes elas também apresentam padrões culturais distintos. Isto, segundo ele, é um indicador da sua fonte cultural. Mas poucas marcas e defeitos de nascimento têm características culturais distintas e ainda menor é o número das que ocorrem em sujeitos diretamente descendentes da pessoa prévia relacionada (cf. Andrade, 1988, pp. 63-78, e Stevenson, 1987a, pp. 153-154, sobre “memória genética”).

4.4. Comentários de Ruth Reyna

Chari (1973a) contribuiu com o primeiro de dois Prefácios de Reincarnation and

Science de Reyna (1973), e sua gratidão a ela está clara por todo o livro. Zusne e Jones (1982) recomendam a leitura, e Venn (1986) também o cita de forma favorável.

De acordo com Zusne e Jones (1982, p. 169), Reyna oferece uma “nova visão microscópica sobre a reencarnação”. Reyna começa argumentando que a reencarnação transgride leis físicas estabelecidas, e portanto não pode ocorrer, pelo menos não em qualquer sentido tradicional. Sua visão preferida é a de que a “alma” (o que reencarna) é realmente um tipo de campo de méson ao qual novos corpos podem se associar durante a gestação. Já que as partículas subatômicas decaem em taxas diferentes, apenas uma porção das partículas associadas à pessoa morta estaria disponível para ser transferida ao sujeito, e sendo assim a “reencarnação” (ao que tudo indica) seria parcial no melhor dos casos.

Reyna faz várias críticas à metodologia e às conclusões da pesquisa de Stevenson. Segundo ela a identificação imposta pelos pais, somada à impressão materna quando necessária, é suficiente para explicar os casos de memória de vida passadas. A impressão materna, que exige que a mãe grávida impressione a criança em seu ventre com certas características, é uma proposta tão cientificamente discutível quanto a reencarnação (mas ver Mills, 1988a, e Stevenson, 1985, para possíveis exemplos). A impressão materna seria concebível como uma explicação para marcas e defeitos de nascimento em casos em que a mãe fosse familiarizada com a pessoa prévia, como em casos ocorridos na mesma família. No entanto, não pode explicar as memórias físicas nos numerosos outros casos em que as duas famílias eram desconhecidas uma da outra antes do início do caso, a menos que fôssemos propor que a mãe teve acesso à informação em questão via PES.

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Reyna queixa-se de que as “leis da genética” são ignoradas quando se interpreta casos de memórias de vidas passadas em termos de reencarnação. “Se não houvesse leis seguras de hereditariedade uma mulher grávida nunca poderia estar segura sobre o que ela provavelmente carregava em seu ventre. Se não fosse o controle exercido pela evolução e pela genética muitas situações incongruentes poderiam surgir e surgiriam” (Reyna, 1973, p. 107; itálicos dela). Por exemplo, um homem ciumento e violento condenado por assassinato pode renascer como filho da sua esposa anterior. Se a reencarnação pode anular a genética, então devemos esperar encontrar tanto casos “agradáveis” quanto “desagradáveis”.

Reyna só não deixa claro como o seu caso hipotético entra em conflito com a evolução e a genética. Ela parece estar confundindo dois diferentes tipos de influência. Os estudantes de casos de memórias de vidas passadas não propõem a reencarnação como uma alternativa à hereditariedade, mas sim como um suplemento a ela — a reencarnação representaria a adição de uma terceira dimensão (junto com a hereditariedade e o ambiente) à formação da personalidade (cf. Stevenson, 1987a, pp. 237-240). De qualquer modo, muitos casos “desagradáveis” estão disponíveis na literatura. Wijeratne (Stevenson, 1974c) alegou lembrar a vida de seu tio, que foi condenado por assassinar a esposa. Michael Wright (Stevenson, 1987a) forneceu evidências de que se lembrou da vida do namorado de sua mãe, que foi morto num acidente de automóvel antes de se casar com o seu rival.

Reyna escreve como se não estivesse ciente de uma contradição fundamental em sua posição. Por um lado ela descarta as evidências de reencarnação por diversas razões, enquanto por outro lado a sua hipótese sobre o campo de méson pretende explicar a mesma evidência. Reyna não é a única autora a cair nesta armadilha. Rogo (1985) também ataca os métodos de Stevenson (ver Seção 4,7), para então aceitar que os dados dele exigem explicação, e tramar a própria hipótese exótica para explicá-los (Seção 4.9).

4.5. Comentários de W. G. Roll

Roll (1982, 1989) aceita os dados de Stevenson sem objeções, embora os

interprete à sua própria maneira. De acordo com Roll, a personalidade se fragmenta na morte, não havendo mais um corpo físico para mantê-la unida. Os fragmentos permanecem associados a certos lugares ou pessoas significativas à pessoa prévia, e o sujeito, entrando em contato com um destes lugares ou pessoas, é capazes de acessar os fragmentos por um processo parecido com a psicometria. Esta hipótese pretende explicar os materiais de casos espontâneos mediúnicos, de assombração, e de memórias de vidas passadas. Edwards (1987a) se refere a Roll (1982), mas com exceção de sua reinterpretação do caso de Imad Elawar (Stevenson, 1974c; ver abaixo), as idéias de Roll não tiveram uma grande influência.

Roll (1982, 1989) abre sua discussão sobre as “relações espaciais” em casos de memórias

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de vidas passadas descartando todos os casos de Stevenson exceto sete publicados cujos registros escritos foram feitos antes de tentativas de verificação terem sido colocadas em prática. Em cinco destes sete casos, ele identificou conexões ou possíveis conexões entre as famílias do sujeito e a pessoa prévia antes do início do caso. Quando tais conexões não apresentam uma transferência normal de informação entre o sujeito e a família da pessoa prévia, Roll acredita que elas podem permitir uma transferência paranormal de informação. Roll finaliza a sua discussão observando que restaram dois casos em que não havia conexões aparentes de qualquer tipo (embora possam ser de fato três; ver Roll, 1983, que se refere a uma apresentação da Parapsychological Association, mas que se aplica também ao artigo sob discussão).

Em seguida Roll (1982, 1989) discute as “relações temporais”. Outra vez ele descarta todos os casos de Stevenson exceto os sete em que um registro escrito foi feito antes que as tentativas de verificações fossem executadas, e mais uma vez ele identifica dois casos que não correspondem à sua expectativa, que agora relaciona-se ao desaparecimento das memórias da consciência depois de uma certa idade. Ele admite que sua amostra é muito pequena para se tirar conclusões, mas não faz nenhum esforço para aumentá-la fazendo uso dos numerosos outros casos publicados e disponíveis a ele.

A “hipótese de ligação” de Roll enfrenta outros problemas além do tamanho pequeno da amostra e o fato de que a proporção de casos na amostra que não apóia a hipótese é considerável (2 de 7 = 29%; 3 de 7 = 43%). A hipótese nem sequer tenta lidar com memórias comportamentais e físicas. Além disso, esperaríamos achar exemplos de mais de uma criança alegando lembrar a mesma vida passada, ou uma criança alegando memórias de mais de uma vida vivida simultaneamente. Talvez os casos com múltiplas identificações (ver Seção 2.6) cheguem perto de encontrar a primeira destas predições, mas em nenhum deles existem alegações verbais feitas por dois ou mais sujeitos de terem sido a mesma pessoa.

Roll entra com sua interpretação do caso de Imad Elawar de Stevenson (1974c). Roll primeiramente apresentou sua interpretação deste caso em 1977 e reafirmou-a em 1982 e 1984, quando foi desafiado por Stevenson (1984a). A discussão de 1982 é repetida, com nenhuma referência às objeções de Stevenson (1984a), em Roll (1989). Embora inconsistente com a apresentação de Stevenson do caso, a interpretação de Roll foi adotada (de forma um tanto quanto estranha, sem crédito) por Grosso (1979) e Rogo (1985, 1986b). Elementos disto são aparentes também nos comentários feitos por Schmeidler (1988). Imad Elawar lembrou muitos detalhes concernentes à vida de um certo Ibrahim Bouhamzy, mas ele também lembrou de um acidente de caminhão em que Said, o primo e amigo de Ibrahim, estiveram envolvidos. Também houve quem alegasse ter as memórias de Said. Imad parece ter ficado confuso sobre quais de suas memórias se relacionavam a Ibrahim e quais a Said, e Roll concluiu que as memórias de Ibrahim e de Said devem ter se unido postmortem e então reapareceram tanto em Imad quanto no segundo sujeito, resultando num renascimento “fundido” e “dividido”.

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É razoável concluir que foi isto o que aconteceu? Imad não lembrou nada que não fosse conhecido a Ibrahim, e o segundo sujeito, além de lembrar o acidente de caminhão, falou de muitos acontecimentos na vida do primo de Ibrahim que não desempenharam nenhum papel nas memórias de Ibrahim. Com exceção dos acontecimentos envolvendo o acidente de caminhão, as memórias de Imad e do outro sujeito eram completamente diferentes. Não parecemos ser confrontados com nada mais exótico do que as memórias independentes de dois sujeitos cujas pessoas prévias eram intimamente familiarizadas. Neste aspecto o caso assemelha-se aos casos de Ismail Altinkilic e Cevriye Bayri de Stevenson (1980), que independentemente lembraram vidas de pessoas que tinham sido casadas.

4.6. Comentários de Ian Wilson

O escritor britânico Wilson lançou uma crítica extensa do trabalho de Stevenson

em 1982. Embora Gauld (1982) e Rogo (1985) tenham desfavorecido esta crítica por várias razões, Wilson (1987, 1988) tem desde então repetido os seus pontos principais de forma inalterada. Stevenson (1988) recentemente respondeu ao mais importante deles. Wilson é citado favoravelmente por Edwards (1987b) e Irwin (1989).

Wilson (1982, pp. 16-26) nota que Stevenson acumulou um dossiê aparentemente impressionante de casos, então trata de tentar encontrar falhas. Wilson pensou que os casos do Stevenson seriam suficientes para revelar as “regras” pelas quais a reencarnação é governada, mas após comparar os casos ele não foi capaz de descobrir tais regras. Ele se mostra particularmente incomodado pelas “inconsistências” que vê no período e na distância de intermissão. Estas inconsistências não permitem que ele determine se há um “período de espera” entre as vidas ou se alguém muda de nacionalidade ou afiliação regional entre as vidas. Evidentemente Wilson acredita que se a reencarnação ocorre, deveria ocorrer do mesmo modo para cada pessoa. No entanto, dado o grande alcance de experiência humana, não é de forma alguma claro por que ele deve esperar que seja assim. Ao criticar o material de Stevenson por não fornecer “regras” que podem governar um processo de reencarnação, Wilson ignora os muitos padrões que foram identificados no material dos casos de Stevenson (ver Seções 3.4 a 3.6).

A base para a desconfiança que Wilson acredita ter despertado torna-se mesmo mais aguda aos seus olhos quando ele volta a sua atenção às pessoas que ajudaram Stevenson em sua pesquisa. Wilson observa que algumas destas pessoas são seguidoras de religiões (Hinduismo, Budismo) que crêem em reencarnação, e isto o leva a se perguntar se estas pessoas poderiam ter ajudado nas investigações de uma forma imparcial. Irwin (1989) parece ficar impressionado com este argumento, embora Gauld (1982) não. Gauld assinala que muitos cientistas são motivados por interesses pessoais, mas tal motivação não precisa afetar a sua capacidade de conduzir pesquisas de forma imparcial. Também podemos perguntar em quem Stevenson deve confiar, se não nas pessoas que têm interesses pessoais em seus esforços. Já que a sua pesquisa consome tempo e dinheiro, e é sempre controversa.

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Em seguida, Wilson volta a sua atenção para os sujeitos de Stevenson. Aqui ele faz uma pertinente observação: devido ao índice de pobreza na Índia, devemos esperar que a maioria dos sujeitos indianos lembre uma vida passada de pobreza, mas a maioria dos sujeitos indianos alega vidas passadas em circunstâncias notavelmente melhores em termos socioeconômicos. Ele encontra apenas um caso indiano em que a alegada vida passada era consideravelmente pior do que a atual. Para Wilson isto indica que há algo seriamente errado com uma interpretação dos casos em termos de reencarnação. Stevenson (1988) observou problemas na codificação de Wilson para o status, mas não pareceu levar isto em conta ao observar que os 17 casos que Wilson usou constituem uma amostra muito pequena. De acordo com Stevenson (1987a, p. 215), enquanto dois terços de seus cerca de 300 casos indianos envolvem pessoas prévias em circunstâncias inferiores, um terço apresentou as mesmas ou melhores condições de vida. A desigualdade permanece, mas a relação é muito diferente (ver também Seção 3.4.5).

Wilson logo levanta a questão de Stevenson poder ter sido enganado pelos seus sujeitos e informantes. Ele observa que Stevenson está ciente desta possibilidade, mas considera que a descartou muito rapidamente. Aqui o próprio Wilson revela-se mais preocupado em fazer acusações do que em tratar de sua plausibilidade ou consistência; basta que uma testemunha dissidente manifeste uma dúvida para que Wilson coloque o caso inteiro em xeque. A testemunha dissidente, no entanto, aparece apenas em uma minoria dos casos de Stevenson, e Wilson é forçado a concluir sobre esta e sobre outras áreas de problemas potenciais que “um número considerável de seus casos não pode ser justificado por essa interpretação” (Wilson, 1982, p. 23).

Wilson acredita que os casos do Stevenson sugerem impressão materna e influência parental ao invés de reencarnação. Grande parte do seu livro de reencarnação (Wilson, 1982) preocupa-se em desenvolver a tese de que memórias de vidas passadas estejam relacionadas à desordem de personalidade múltipla, e ao longo da tese ele esboça casos mediúnicos e de regressão hipnótica (ver Seção 1.4). Wilson nunca tenta relacionar a sua teoria ao trabalho de Stevenson, que é esquecido depois dos primeiros dois capítulos. Nem ele repete esta tese em seus escritos subseqüentes (Wilson, 1987, 1988) sobre o trabalho de Stevenson.

4.7. Comentários de D. Scott Rogo

Embora Rogo tenha comentado sobre o trabalho do Stevenson em vários

lugares, suas críticas estão convenientemente colecionadas em seu livro (Rogo, 1985) sobre reencarnação. Stevenson (1986b, 1986c) respondeu a algumas das alegações específicas de Rogo neste livro, duas delas foram consideradas na Seção 4.2. Outros criticismos de Rogo (Rogo, 1986b) foram respondidos por Matlock (1988b). As cobranças de Rogo (1985) foram coletadas por Edwards (1987b) e numa menor extensão por Irwin (1989).

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Rogo (1985, pp. 73-86) centraliza sua atenção em quatro casos em que ele detectou problemas. O primeiro destes é o caso de Mounzer Haidar (Stevenson, 1980). Ao investigar este caso, Stevenson primeiro desenhou o local de uma marca de nascimento no abdômen do sujeito. Quando ele, posteriormente, entrevistou a mãe da pessoa prévia, ele perguntou onde tinha sido o tiro, e ela apontou para o lado direito do próprio abdômen. Stevenson então mostrou o seu esboço, e a mulher disse que a ferida estava no lugar marcado. Para Rogo, isto indica que Stevenson às vezes conduz suas testemunhas. Ele preferiria que Stevenson tivesse pedido que a mulher esboçasse o lugar onde a bala tinha entrado no corpo antes de mostrar o seu esboço.

O segundo caso tratado por Rogo é o caso de Mallika Aroumougam (Stevenson, 1974c), muito criticado por Chari (1967, 1986). Segundo Rogo, este caso indica que Stevenson “às vezes omite informações importantes quando escreve os seus relatórios” (Rogo, 1985, p. 73) porque Stevenson não menciona nem na primeira (Stevenson, 1966b) nem na segunda edição (Stevenson, 1974c) de seu livro que o pai e o avô do sujeito haviam refutado publicamente uma interpretação de reencarnação do caso, assim como não mencionou que usou um informante (o cunhado da pessoa prévia) como um intérprete para entrevistar outro (o pai do sujeito) sem declarar claramente que assim tinha feito. Stevenson (1986b) admite que a investigação e o relatório poderiam ter sido melhor conduzidos, mas assinala o fato crucial de que nem o pai nem o avô foram testemunhas de quaisquer das declarações de Mallika, e que portanto os testemunhos deles eram irrelevantes no julgamento do caso.

O terceiro caso analisado por Rogo (1985) é o caso de Imad Elawar (Stevenson, 1974c), cuja interpretação de Roll consideramos na Seção 4.4. Aqui Rogo encontra evidências para sugerir que Stevenson apresentou erradamente algumas memórias do sujeito para fazê-las parecer mais aplicáveis à pessoa prévia do que eram de fato. Rogo baseia esta conclusão numa comparação dos resultados de um processo indutivo complicado envolvendo o registro de Stevenson de sua investigação com a sua tabulação das declarações do sujeito. Uma declaração é feita de forma simples e Rogo acredita que seja incompatível com o que outra evidência sugere. No entanto, ele ignorou a extensa discussão de Stevenson sobre esta declaração (que se refere à memória de Imad do acidente de caminhão que levou a vida do primo da pessoa prévia) e a defesa do modo que isto é apresentado na tabulação.

O último dos quatro casos em que Rogo achou um problema é o caso de xenoglossia responsiva de Uttara Huddar (Stevenson, 1984b). Rogo refere-se ao relatório de Akolkar (1985) como fornecedor de “evidência considerável” de que Huddar tinha aprendido bengali “bem o suficiente para ler uma cartilha” (Rogo, 1985, p. 76), enquanto Stevenson tinha declarado que ela podia ler apenas algumas palavras. Infelizmente para Rogo, a “evidência considerável” de Akolkar (1985) consiste unicamente em uma declaração de um colega de sala de Huddar que disse que ele e ela haviam aprendido bengali juntos uma vez e podiam ler uma cartilha bengali. A própria Uttara ficou surpresa ao saber que

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isso poderia ser interpretado como conhecimento de uma língua, e Akolkar não conseguiu encontrar nenhum registro de que ela sequer tivesse freqüentado as aulas de bengali. Além disso, Rogo omitiu uma importante observação feita por Akolkar: ainda que Uttara tivesse aprendido a ler algo em bengali, isto não poderia explicar a sua fluência ao falar a língua no dialeto específico que usou.

Rogo (1985, p. 77) admite que suas críticas são “muito triviais”, mas ainda assim considera que elas “indicam que um viés sistemático pode ter impregnando todo o trabalho de Stevenson.” Ele foi capaz de detectar as “falhas” nestes quatro casos porque era capaz de cruzar dados com registros independentes, o que levanta a questão de quantas outras falhas devem existir nos casos que ele não pôde conferir. Aqui Rogo vacila mais uma vez, porque é aparente que ele teve acesso a apenas dois registros independentes — a correspondência de Chari no caso de Mallika, e o relatório não publicado de Akolkar (1985) no caso de Uttara Huddar. É nesta conjuntura que Rogo afirma que Stevenson “tenta asfixiar” os criticismos (Seção 4.2). Seu argumento principal é que nem todos os assistentes de Stevenson concordam com a sua interpretação dos casos, e nem de fato acharam casos como os dele para interpretar. Estas são questões importantes, e é lamentável que tenham sido apresentadas da forma que foram, com citações deliberadas de testemunhos de segunda mão e documentos não publicados que não foram vistos por Rogo. Como discutido na Seção 3.2, é possível que os casos de Stevenson sejam superiores à média de exemplos de seu tipo. Isto pode ajudar a explicar por que outros às vezes têm tido problemas para achar casos fortes, mas isto não deve fazer com que desvalorizemos os casos fortes aos quais temos acesso.

Em seguida, Rogo volta ao caso de Rakesh Gaur informado por Pasricha e Barker (1981; Pasricha, 1983). Ele realça as diferenças na interpretação dos dois autores, e conclui afirmando que já que eles escolheram informar este caso porque era o “mais forte” que haviam identificado, os problemas que eles encontraram durante a investigação fornece alguma idéia “da confusão que pode ter existido em muitos dos casos do Dr. Stevenson” (Rogo, 1985, p. 83). Mas Pasricha e Barker (1981, pp. 381-382) dizem que informaram este caso simplesmente pelo fato de que se trata do caso que eles estudaram de forma mais completa juntos, sem a participação de Stevenson. Aliás, o caso não é notavelmente forte (Rakesh, que tinha cinco anos quando falou pela primeira vez de suas memórias, cometeu um número incomum de erros), o que o torna mais confuso e leva Rogo a pensar que este caso colocaria em xeque todo o trabalho de Stevenson.

4.8. Comentários Céticos

Zusne e Jones (1982, p. 166) fazem objeções ao material de Stevenson devido à

“desonestidade dos pais, à imaginação prontamente maleável de uma criança, e à ingenuidade e viés metodológico do pesquisador”.

Christopher (1979) descreve o caso de Prakash Vrashnay de Stevenson (1974c)

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com alguns detalhes, então o desqualifica com uma série de perguntas: “Alguém contou à criança sobre a família de Jain no povoado a seis milhas de distância? Ele foi lá antes de sua segunda viagem conhecida e observou as pessoas que ele mais tarde chamou pelo nome? Esta teoria é mais forçada do que a hipótese de reencarnação?” (Christopher, 1979, p. 182). Christopher continua descrevendo outro caso de Stevenson, o de Gnanatilleka Baddewithana (Stevenson, 1974c), desta vez sem tecer absolutamente nenhum comentário.

Hines (1988) dedica dois parágrafos a Stevenson. Declara que “o problema principal do trabalho de Stevenson é que os métodos que ele costumava usar para investigar supostos casos de reencarnação são inadequados para rejeitar uma simples narrativa imaginativa... Nos casos aparentemente mais impressionantes... as crianças que alegaram estar reencarnadas conheciam amigos ou parentes do sujeito morto” (Hines, 1988, p. 74).

Sobre o primeiro ponto, veja a Seção 2.2.3 sobre a metodologia de Stevenson. Pode-se também perguntar como casos tão fortemente verídicos como tantos destes podem ser interpretados como “simples narrativa”. Sobre o segundo ponto, Stevenson declara claramente em todos os seus trabalhos que ele considera os casos em que há contato prévio entre as duas famílias (muito menos contato prévio entre a criança e a família da pessoa prévia) como sendo inferiores aos casos em que as duas famílias viveram bem distantes e que não havia nenhuma evidência de contato antes da criança ter começado a relatar suas memórias.

O artigo de quatro partes de Edwards (1986a, 1986b, 1987a, 1987b) é em grande parte filosófico. A sua discussão sobre Stevenson (Edwards, 1987a) baseia-se principalmente em fontes populares e secundárias, especialmente Rogo (1985), Wilson (1982), e Chari (1978), embora ele também cite Roll (1982). Ele (Edwards, 1986a) inclui a discussão de apenas um caso no qual Stevenson trabalhou, o caso de Edward Ryall. Além de este ser um exemplo atípico dos casos de Stevenson, o caso de Ryall é discutivelmente o caso mais fraco endossado por Stevenson, e Edwards não menciona que Stevenson preferiu não publicá-lo.

Embora Ryall alegasse ter memórias quando criança, ele falou pouco sobre elas até a maioridade, e escreveu o seu livro (Ryall, 1974) quando tinha cerca de 70 anos. Embora Stevenson tenha examinado o caso, ele nunca publicou um relatório acadêmico sobre ele. Suas observações principais estão na introdução (1974a) a Ryall e em sua resposta (Stevenson, 1979) às críticas de Haynes (1976, 1978). Thouless (1984) também levantou perguntas sobre o caso, como fizeram Rogo (1985) e Wilson (1987, 1988). Stevenson (1983c, p. 27; 1986b; 1988) declarou que ele não mais considera o caso como sendo tão forte quanto ele uma vez julgou, mas recusa-se a abandoná-lo, dizendo que os críticos ignoraram os itens que Ryall acertou, insistindo em mencionar apenas os que ele errou.

Não há nenhuma dúvida de que Stevenson pagou o preço por ter defendido este caso precocemente, mas os seus críticos não lhe fizeram justiça ao ignorarem suas reavaliações públicas sobre o mesmo caso. De qualquer modo, o julgamento final terá que esperar até que Stevenson tenha publicado o relatório acadêmico que ele prometeu.

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4.9. Comentários Sobre os Comentários

Os comentaristas do trabalho de Stevenson podem ser divididos em quatro

grupos. O primeiro grupo é composto de críticos que descartam o material como sendo produto de fraude, fantasia, e “ingenuidade metodológica e viés do pesquisador”, como Zusne e Jones (1982, p. 166) colocam. Esta é a posição cética.

O segundo grupo é composto de pessoas que respeitam a metodologia de Stevenson e os dados que ele colecionou, mas acreditam que a hipótese psicocultural é adequada para explicar os dados. Esta é a posição de cientistas receptivos a novas idéias como Brody (1979a, 1979b) e talvez seja a posição da maioria dos parapsicólogos.

Uma minoria substancial de comentaristas forma um terceiro grupo. Estas pessoas aceitam os dados e suas implicações, mas oferecem breves explicações exóticas de reencarnação para eles. Neste grupo estão Murphy (1973; Leeds & Murphy, 1980), Hick (1976), Roll (1982), Rogo (1985), e Liverziani (1987). Reyna (1973) é tida como um membro honorário.

Por fim, existe o grupo de comentaristas que não só aceitam os dados, mas também a apresentação de Stevenson dos casos como material sugestivo de reencarnação. A existência deste grupo foi freqüentemente supervisionada por críticos, que tendem a retratar Stevenson como o único que acredita em suas conclusões (p.ex., Anievas, n.d.-a, que declara que Stevenson é um “fanático” sobre reencarnação). Este último grupo inclui cientistas e acadêmicos de várias e diferentes disciplinas.

Entre os parapsicólogos estão Pratt (1973), Beloff (1975), Gauld (1982), Thouless (1984), Child (1984), e Haraldsson (1985) que também são psicólogos. Entre os filósofos, Ducasse (que contribuiu para a introdução de Twenty Cases Suggestive of

Reincarnation de Stevenson, 1966b, 1974c), Lund (1985), e Almeder (1987) se lançam como defensores (ver também Broad, 1958, e Ducasse, 1961, para saber como eles analisam os casos pré-1960). Heaney (1984) inclui uma significativa discussão da compatibilidade da reencarnação com a teologia cristã (leia-se católica).

Os antropólogos Hess (1988) e Bock (1988) também são favoráveis, embora a opinião de Bock seja divergente da de Stevenson no que se refere ao processo de reencarnação. Devido à posição conquistada por Bock no ramo da antropologia (ele é ex-Presidente do Departamento de Antropologia na Universidade do Novo México e editor do Journal of Anthropological Research), no entanto, é bom ler que em sua estimativa ele diz que Stevenson “teve que encontrar meios de verificar os dados que obteve nas entrevistas, os quais seriam aceitos por muitos leitores se o tema fosse menos controverso” (p. 445).

Qual é a situação atual em termos de reencarnação e hipótese psicocultural? A hipótese psicocultural pouco se desenvolveu. A impressão materna foi introduzida como explicação das marcas de nascimento (Seção 4.3), e a possibilidade de que alguns indivíduos podem obter informações via PES foi sugerida (Seção 4.3). Contudo, não está claro o quanto estas adições con-

253

tribuem para a hipótese. A impressão materna é um conceito tão hipotético quanto a reencarnação, e de qualquer modo só poderia explicar as memórias físicas em uma minoria de casos. É provável que Schmeidler (1988) esteja certo sobre a hipótese de a super-psi ser usada para explicar todos os casos, mas isso não pode ser feito sem que pareça que ele está forçando a sua teoria.

Desafios específicos à metodologia de Stevenson são potencialmente mais danosos do que os gerais, porque podem apontar onde ele falhou. Vimos tais desafios nas críticas de Wilson (1982; Seção 4,6) e Rogo (1985; Seção 4,7), mas também vimos que estas críticas não se sustentam numa análise mais apurada. Aliás, os leitores podem ter ficado surpresos ao saberem quão fracas têm sido as críticas metodológicas específicas do trabalho de Stevenson.

A hipótese de reencarnação também sofreu algum desenvolvimento, na forma das explicações exóticas de Reyna (1973; Seção 4,4), Roll (1982; Seção 4,5), Rogo (1985), Murphy (1973; em Leeds & Murphy, 1980), Hick (1978), e Liverziani (1987). Embora haja diferenças nestas propostas dos autores, elas têm em comum a idéia de uma desintegração da personalidade depois da morte e uma integração subseqüente de fragmentos da personalidade morta com a personalidade do sujeito. Todos estes autores atribuem um papel ativo aos sujeitos neste processo, embora Rogo (1985) pense que o moribundo e o morto também possam desempenhar um papel.

Com exceção das hipóteses de Reyna (1973) e Rogo (1985), que foram desenvolvidas especificamente como modelos para a reencarnação, todos estes modelos abrangem dados mediúnicos, e às vezes de aparições e outros casos espontâneos, assim como casos de memória de vidas passadas. Isto se deve em parte às suas origens como hipóteses projetadas para explicar o material mediúnico, sendo que grande parte dele sugere a sobrevivência da personalidade em forma fragmentada no melhor dos casos (Murphy, 1945). Eles devem muito às idéias de Carington (1945), que sugeriu que a mente foi construída a partir de um conjunto de construtos associados (“psicons”) que pode sobreviver à morte do corpo. (A conexão com Carington é explícita em Murphy, Hick, e Roll; e implícita em Liverziani, Rogo, e Reyna.) Se já são suficientemente discutíveis como explicações para o material mediúnico (ver Gauld, 1982), os modelos baseados em psicons obtêm bem menos sucesso ao servirem de explicação para os casos de memórias de vidas passadas. Já que esses modelos dependem da ação do sujeito para receberem informações sobre o morto, eles enfrentam os mesmos problemas que a PES (ver Seção 4.3). Os problemas são menos intensos, mas ainda substanciais se creditamos a pessoa moribunda ou morta ao invés do sujeito cuja ação envolve realizar a transferência de memórias de um corpo a outro.

Um modelo diferente do processo de reencarnação é sugerido por Stevenson (1974b, 1987a). Stevenson acredita que um corpo ou veículo de alguma espécie (à qual Stevenson, 1987a, designa o neologismo psicóforo) é necessário para explicar a transferência de memórias visuais, comportamentais e

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físicas do corpo da pessoa prévia ao sujeito. O psicóforo agiria como um “modelo” para algumas características do novo corpo físico, mas transmitiria menos que a totalidade das características de personalidade da pessoa, memórias, comportamentos, e características físicas. Os casos de memórias de vidas passadas sugerem que estas são transmitidas pelo psicóforo numa forma contraída ou reduzida. O psicóforo de Stevenson soa muito como uma nova palavra para o corpo astral da literatura ocultista, e tem algumas vantagens filosóficas sobre os modelos baseados nos psicons.

A reencarnação logicamente implica sobrevivência, a menos que uma pessoa sobreviva à morte de alguma maneira que não possa reencarnar depois. Uma discussão filosófica de reencarnação deve, portanto, começar esclarecendo o que se quer dizer por sobrevivência. E aqui não achamos nenhum consenso geral de que o conceito seja sequer inteligível. Uma vez que concordemos em deixar o debate sobre dualismo de lado, a dúvida principal, expressada por Penelhum (1970) e Flew (1972) e endossada por Wheatley (1972), relaciona-se à dificuldade de concepção de sobrevivência desencarnada. Um corpo pareceria ser exigido para a manutenção da identidade, para a percepção, e para a interação com o mundo e com os outros. Embora Penelhum aparentemente considere seus argumentos contra sobrevivência como conclusivos, Flew (1972) deixa aberta a possibilidade de sobrevivência por uma forma astral.

Os problemas básicos são bem recapitulados por Wheatley (1979), que traz o componente psi de Broad (1962) à discussão. Um componente psi pode ser pensado como um composto de alguns fatores mentais da pessoa, em outras palavras sua mente, ao contrário do corpo. A sobrevivência seria concebível tanto através de componentes psi como via componentes psi associados a corpos astrais. A alternativa anterior atingiria a sobrevivência desencarnada, e embora Wheatley considere que ambas as alternativas seriam compatíveis com a reencarnação, devido à discórdia sobre a inteligibilidade e as implicações (ver Grosso, 1979) da sobrevivência desencarnada, podemos concluir que a última abordagem é logicamente a mais razoável.

Assim, se desejamos considerar que a sobrevivência leva à reencarnação, o melhor chute filosófico parece ser pensar nos termos de Wheatley (1979, p. 118) que se refere à “‘mentalidade’ do corpo astral”. Os modelos baseados nos psicons são exemplos de componentes da psi que sobrevivem sem corpos astrais e confrontam todas as dificuldades filosóficas dessa situação. O corpo sutil ou psicóforo de Stevenson (1974b, 1987a), por outro lado, soa consideravelmente como um corpo astral “mental”, não ficando atrás do de Wheatley.

A proposta de psicóforo de Stevenson também harmoniza com o modelo do processo de reencarnação avançado na Seção 3.7. Na qual foi sugerido que a reencarnação seja pensada em termos psicológicos ao invés de mecânicos, com o moribundo e o morto exercendo algum (talvez em grande parte inconsciente) controle sobre o processo. Se o psicóforo tem uma mente (como no corpo astral “mental” de Wheatley), o controle refletiria a sua operação.

255

As hipóteses psicocultural e de reencarnação foram um tanto mais elaboradas nesta Seção, mas os argumentos da discussão não avançaram desde a nossa conclusão da Seção 3.7. Os críticos de Stevenson não prosperaram em prejudicar a hipótese de reencarnação, que ainda parece ter a vantagem conceitual. Mas o problema de Brody, que se refere à incompatibilidade da reencarnação com o corpo do conhecimento científico, permanece. Uma vez que há pouca possibilidade de avançar nesse quesito dentro do alcance atual de nosso conhecimento, a nossa melhor opção é levar a pesquisa adiante, deixando uma resposta final para o futuro.

5. Conclusões

Podemos concluir que a reencarnação fornece uma explicação coerente e

racional para os dados dos estudos de casos de memórias de vidas passadas. Seria apropriado realizar mais pesquisas dentro da estrutura dessa hipótese. Mas seria imprudente declarar que foi demonstrado que a reencarnação acontece. Até que os dados e conceitos discutidos neste capítulo possam ser assimilados ao restante do conhecimento científico, os dados, no máximo, continuarão a ser não mais do que sugestivos de reencarnação.

Ademais, nossas conclusões representam apenas as nossas melhores suposições, tendo em vista o estado atual de nosso conhecimento. Embora pareça improvável que a hipótese de reencarnação possa ser anulada pela hipótese psicocultural, uma formulação futura desta última talvez possa vir a fazê-lo. Ou o mais provável talvez seja que uma terceira hipótese, que ainda não podemos vislumbrar, venha a fornecer a resposta real.

Contudo, sobre a questão, deve-se admitir que a reencarnação parece infinitamente mais possível hoje do que em 1960, quando Stevenson publicou o seu primeiro artigo sobre o assunto. Isto se deve é em grande parte aos seus trabalhos, e a um programa de pesquisa que só perde para J. B. Rhine em termos de longevidade em parapsicologia. Embora, como esta revisão mostrou, Stevenson e seus colegas não tenham sido os únicos a descobrirem e informarem casos de memórias de vidas passadas, eles certamente contribuíram para o volume esmagador de pesquisas sérias sobre o assunto.

Assim como Rhine, Stevenson seguiu uma metodologia particular que promoveu um avanço nesse campo de pesquisa e que provavelmente virá a promover um avanço ainda maior, mas que ao mesmo tempo apresenta sinais de que está abrindo espaço para outras abordagens, à medida que novos investigadores se juntam à frente de trabalho. A ênfase de Stevenson à pesquisa orientada por provas foi e continua a ser necessária para estabelecer que os fenômenos exigem explicação. Cook (1986b) esboça as formas em que este tipo de pesquisa está sendo ampliada, incluindo a tentativa de alcançar mais casos no início de seu desenvolvimento (preferivelmente antes das tentativas de verificação de fatos), mais casos de gêmeos, e mais casos com marcas e defeitos de nascença. Entretanto estudos baseados em processos (p.ex., Chadha& Stevenson, 1988;

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Matlock, 1989a) estão começando a aparecer, assim como estudos que colocam os casos em seu contexto social e cultural (Mills, 1988a, 1988b). Estas novas abordagens prometem ajudar a responder muitas perguntas levantadas pela pesquisa de dados.

Os críticos indicaram outros problemas que poderiam ser levados em consideração, a maioria notavelmente nas áreas de antropologia psicanalítica e psicológica. Haraldsson (1984) pede a avaliação psicológica formal das crianças, e Brody (1979a, 1979b) pede o estudo sistemático de seus estados de consciência. Brody também destaca a psicodinâmica que cerca as alegações das crianças, assim como Hess (1988), que assinala o potencial valor dos profissionais de saúde mental e cientistas sociais para um melhor entendimento dessas questões.

Hess (1988) está provavelmente certo quando afirma que prestar atenção nos aspectos não-evidenciais (assim como nos evidenciais) de fenômenos paranormais é a maneira mais segura de os parapsicólogos atraírem o apoio de outras disciplinas, porque assim a ampla relevância dos estudos parapsicológicos se torna mais evidente. Stevenson já conquistou o apoio de cientistas em outros campos, mas se mais profissionais se empenhassem no estudo de casos de memórias de vidas passadas, o progresso em direção a resposta das perguntas destacadas seria acelerado.

6. Agradecimentos

Este capítulo muito se beneficiou de comentários feitos por Carlos S. Alvarado,

Alan Gauld, George P. Hansen, Stanley Krippner, Antonia C. Mills, e Ian Stevenson, todos os quais leram um esboço anterior completo. Referências

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---------------------------------------- Este artigo foi traduzido por Vitor Moura Visoni e revisado pela Inwords.