Villa Lobos, o Maestro Do Estado-Novo (CHERNÃVSKY, 2003)

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Analía Chernãvsky, autora da tese

SUMáRIO Leia aqui o resumo da tese em

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NOTÍCIA

Villa-Lobos: O mãstro do Estado Novo25/07/2003

Tese de Mestrado de Analía Chernãvsky

Título: Um mãstro no gabinete: música e política nos tempos de Villa-Lobos

Autora: Analía Chernãvsky, 26 anos, graduada em História pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e estudante do curso de Música popular também pela Unicamp defendeu a tese de mestrado sobre a vida do mãstro Villa-Lobos no contexto histórico e político.

Objetivo: Em um primeiro momento, a estudante optou por Villa-Lobos para unir o trabalho de mestrado com sua atual área de graduação, porém, Analía queria resgatar a memória do mãstro ressaltando os 15 anos em que ele foi funcionário público do governo Getúlio Vargas, (1932-1947) desmistificando a idéia relatada pelos historiadores de que, não apenas Villa-Lobos, mas os músicos em geral, mantinham uma ligação política muito forte, seja ela de cunho nacionalista ou não.

Tempo de elaboração: 16 meses; março 2002 a julho de 2003

Processo de elaboração: Para começar a escrever sua tese em março de 2002, Analía precisou coletar um grande número de informações sobre a vida do mãstro e também sobre o contexto político-histórico da época, incluindo pesquisas bibliográficas. Após a coleta de informações, a estudante precisou visitar arquivos históricos para ter acesso aos livros e jornais do período, além das biografias dos músicos que viveram nos tempos de Villa-Lobos. Segundo Analía, essa foi a parte mais importante de sua pesquisa. Por meio do material coletado e das informações reunidas, a estudante contou que teve de retornar às pesquisas bibliográficas, integrando todo o conteúdo pesquisado para idealizar o esqueleto de sua dissertação.

Em seguida, Analía precisou ir a campo para conhecer um pouco mais da história de Villa-lobos. A estudante viajou para o Rio de Janeiro, onde está situado o Museu Villa-Lobos, para coletar mais informações sobre a bibliografia do mãstro, inclusive documentos e objetos pessoais recolhidos pela esposa após sua morte. Analía contou também que a viagem foi fundamental, já que a capital do Brasil na época era a cidade carioca, ambiente muito propício para conseguir detalhes da vida "política" do mãstro enquanto ele serviu ao governo de Getúlio Vargas.

Para acrescentar informações em sua pesquisa, a estudante tentou entrevistar fontes com relação direta a Villa-Lobos, como o mãstro José Vieira Brandão. Entretanto, Analía lamentou não poder realizar a entrevista devido a idade avançada e as condições de saúde de Vieira Brandão.

A partir de todas as informações reunidas, a estudante traçou o esqueleto de sua pesquisa e começou a redigir sua tese: "Um mãstro no gabinete: música e política nos tempos de Villa-Lobos".

Aplicação prática: A autora acredita que o desenvolvimento de sua tese pode, futuramente, disseminar a integração de conteúdos, com o objetivo de realmente passar aos alunos informações completas de um período histórico. Analía defende a idéia da multidisciplinaridade e reforça que "a forma como os estudantes aprendem história é um método arcaico, decorando nomes e datas". Segundo ela, o conteúdo aplicado deveria ligar os acontecimentos ao momento histórico, político, cultural, científico e tecnológico. Dessa forma, seria possível que a população entendesse a estrutura do país e criasse, realmente, uma identidade com a história.

O que pretende fazer agora: Analía pretende terminar seu curso de graduação em música e também continuar sua especialização fazendo um doutorado na área de História. Embora ainda não tenha um tema específico, a estudante diz que gostaria de enfocar, novamente, a área musical.

A TESE:

Para desenvolver sua tese, a historiadora dividiu a dissertação em três capítulos. No primeiro, Analía procura descobrir qual a memória e também identidade do mãstro Villa-Lobos que é disseminada na literatura, para descobrir os pontos importantes de sua vida que não são relatados nos livros e biografias. "Essa memória de mãstro, construída no final dos anos 40, quando Villa-Lobos já havia deixado sua função no governo, até hoje ficou cristalizada pelos historiadores. O que eu pretendo buscar é a relação que o mãstro mantinha com o governo de Getúlio Vargas para mostrar que existia sim, uma personalidade voltada ao nacionalismo e que tanto o governo, como o próprio Villa-Lobos, se beneficiaram desta relação", explica.

A partir disso, a estudante pretende continuar a discussão iniciada por: Arnaldo Contier, José Miguel Wisnik e Renato Mazeu, primeiros historiadores a combater a imagem "fechada" de compositor e mãstro instituída à Villa-Lobos, que ignora, quase que completamente, sua importância no governo getulista. "Arnaldo Contier escreveu uma tese de livre docência sobre o Villa-Lobos e principalmente a educação musical e os projetos de corais, que ele organizava nos dias de feriado nacional, para promover o governo de Getúlio Vargas", conta.

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O segundo capítulo da tese da estudante reserva espaço para o detalhamento da atuação de Villa-Lobos como funcionário público. Logo no início, a estudante conta a história por meio de uma retrospectiva do ingresso do mãstro no governo de Getúlio em 1932, quando Villa-Lobos assumiu o posto de Superintendente de educação musical e artística da prefeitura do Distrito Federal (à época, situado no Rio de Janeiro). "Dentro dessa organização política, Analía acompanha o trajeto e as iniciativas tomadas pelo mãstro. "Villa-Lobos inicia uma série de medidas no governo. Cria um curso de especialização de canto orfeônico (canto coral à capela) para professores, com o objetivo de torná-lo principal meio de iniciação musical para as crianças", informa a estudante.

Analía conta que, nessa época, o mãstro apresentou um projeto educacional muito importante voltado para a música. "Ao invés de fundar escola de música, como faziam muitos mãstros, Villa-Lobos escreveu um projeto no qual começaram a ser ministradas aulas de canto orfeônico nas escolas públicas de primeiro e segundo grau, na cidade do Rio de Janeiro", diz. Esse projeto possibilitou a fundação do Conservatório Nacional de canto orfeônico, fazendo com que o mastro se tornasse o primeiro diretor da instituição, uma espécie de consagração de sua obra.

Por fim, o terceiro capítulo da tese de Analía relata dois momentos importantes na relação de Villa-Lobos com o Estado, um de destaque, outro de conflito. O momento de destaque é ocasionado durante um esforço coletivo para realizar a revisão do hino nacional brasileiro, que na época (Estado Novo) ainda não era padronizado, ficando a cargo de Villa-Lobos essa responsabilidade. "Essa momento era marcado pela construção dos símbolos nacionais, em que o Estado tentava aliar esses símbolos à própria imagem de Getúlio. Dentro desse contexto, a participação de Villa-Lobos foi fundamental para ajudar Vargas na criação de um hino nacional adequado ao sistema", esclarece.

O momento de conflito descrito na tese da estudante acontece durante a comemoração do dia da Pátria em 1943. Nessa época, havia apresentações de crianças do canto orfeônico em estádios da cidade, coordenadas pelo mãstro. O auge dessas apresentações ficava a cargo dos discursos ministrados em apologia ao Governo Vargas. Entretanto, na comemoração de 43, Villa-Lobos escolheu uma peça baseada em uma lenda folclórica pernambucana para o repertório, o que gerou muita confusão entre os pais dos alunos e a sociedade.

Constituída no ano de 1936, a peça: "A lenda do reino da pedra bonita" é uma lenda de sertanejos sebastianos que pregava o sacrifício humano, afirmando que as pessoas que se submetessem ao sacrifício ressuscitariam de forma "superior" a que tinham anteriormente, fixando a seguinte passagem: "Os homens pobres, ressuscitarão ricos, os negros, voltaram brancos". A repercussão dessa peça foi extremamente negativa, marcada por inúmeros protestos da sociedade e dos próprios pais dos alunos que faziam parte do coral.

Conclusões:

Entre as conclusões que a historiadora pode obter com a finalização de sua tese, ela destaca os benefícios comuns que, tanto o mãstro Villa-Lobos, como o próprio Governo de Getúlio Vargas conseguiram por meio de sua ligação. "Na verdade a visão da maioria dos historiadores procura desvincular o artista das responsabilidades sociais. Isso fica explícito em todas as biografias feitas de Villa-Lobos, por exemplo. Eu contesto essa visão. No caso específico do mãstro acredito que é visível o fato de que o artista foi beneficiado pela ligação com o Estado, como também, o Estado tirou proveito de sua popularidade e principalmente de seu modo empreendedor", conclui a historiadora.

Tags: Getúlio Vargas, governo, mãstro, música, política, tese, Unicamp, VillaLobos

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