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Gaian: o reinício

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Gaian, o reinício é uma fantasia épica e narrará os últimos acontecimentos da Sétima Era daquele mundo que revelaram o nascimento de uma guerra, a queda do grandioso Reino do Norte e o reaparecimento dos guerreiros sagrados, um grupo destinado a combater o mal que trará, a cada povo de Gaian, desespero, dor, pavor e morte e deseja acima de tudo a destruição. Quais escolhas devem ser feitas? O que importará mais? A força ou a sabedoria? Quais serão os caminhos dos guerreiros sagrados diante dos desafi os? Haverá ainda espaço nas almas para a esperança? Seja bem-vindo a Gaian. Um livro sobre perda, poder, pureza, vingança, aprendizado, medo e sobretudo crescimento. Um livro onde o passado, o presente e o futuro se encontrarão para formar o destino.

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2015

Cláudio AlmeidA

TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

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Gaian - o reinícioCopyright © 2015 by Cláudio Almeida Copyright © 2015 by Novo Século Editora Ltda.

gerente editorial

Lindsay Gois

editorial

João Paulo PutiniNair FerrazRebeca LacerdaVitor Donofrio

gerente de aquisições

Renata de Mello do Vale

assistente de aquisições

Acácio Alves

auxiliar de produção

Luís Pereira

produção editorial

SSegovia Editorial

preparação

Mayara Leal

capa

Debora Bianchi

diagramação

Vanúcia Santos (AS Edições)

revisão

Felipe BernardinoSilvia Segóvia

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Almeida, CláudioGaian, o reinício / Cláudio Almeida. Barueri, SP: Novo Século Editora, 2015.(Coleção talentos da literatura brasileira)

1. Ficção brasileira I. Título. II. Série.

15-02814 cdd-869.93

Índice para catálogo sistemático:1. Ficção: Literatura brasileira 869.93

novo século editora ltda.Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455-000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – BrasilTel.: (11) 3699-7107 | Fax: (11) 3699-7323www.novoseculo.com.br | [email protected]

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 10 de janeiro de 2009.

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Eu agradeço sinceramente aos meus amigos Giordano Azevedo,

Paulo Roberto Júnior, Demian Machado, Caetano Santos e Thiago

Neiva, e à minha amiga Katarina Nassar, pela força constante, pelas

opiniões e ideias a respeito do livro. Todas elas foram de grande

valia e me ajudaram muito a ver possibilidades e pontos de mudança.

Eu agradeço a Luciana Geraldi pelo carinho e apoio desde

o momento em que lhe mostrei o livro. Sua força

e sua gentileza foram importantíssimas,

e são suas qualidades mais extraordinárias.

Eu agradeço a Deus por estar comigo em todos os momentos

— fáceis e difíceis.

Agradecimentos

Gaian - o reinícioCopyright © 2015 by Cláudio Almeida Copyright © 2015 by Novo Século Editora Ltda.

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A jornada misteriosa O Conselho Festa, paz e surpresas Encontro de destinos As revelações O começo da verdadeira batalha As jornadas Novo caminho Coroação e perda

Prólogo

I . II .

III . IV . V .

VI . VII .

VIII . IX .

Apêndice

Informações adicionais

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22265072108150190224

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313

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Sumário

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Sumário

A jornada misteriosa O Conselho Festa, paz e surpresas Encontro de destinos As revelações O começo da verdadeira batalha As jornadas Novo caminho Coroação e perda

Prólogo

I . II .

III . IV . V .

VI . VII .

VIII . IX .

Apêndice

Informações adicionais

09

22265072108150190224

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Sumário

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Prólogo

– orram, corram! — gritou uma mulher.Um grupo passou rapidamente. Ela permaneceu

parada.Um fio de sangue ainda quente escorreu pela sua testa, misturado

ao suor já frio — um detalhe parcialmente oculto por uma mecha solta de seu cabelo loiro e ondulado, e ignorado completamente por ela. Ela sabia de sua força. Em seu olhar ardia a determinação, tão clara quanto o raiar forte de um novo dia.

Sua espada e sua armadura cintilavam na semiescuridão do amplo corredor de abóbada circular. A capa branca estava tingida de sangue, e as tochas quase extintas tremulavam ao fraco vento que percorria o local solene e frio. Ela permaneceu parada.

Então, gritos ecoaram pelo corredor. Ela direcionou seus grandes olhos azuis para a fonte. Um forte estrondo. Grunhidos brandiram alto. Ela fechou os olhos e se concentrou. Lentamente, sua pele alva e tenra ficou escura e quebradiça. Seus olhos brilhavam agora com um branco acinzentado. Ela estava pronta.

— Erion!A guerreira olhou para trás. Era Arffek.— Venha!— Não! — respondeu resoluta. — Eu vou detê-los aqui. Corra para

o Grande Salão.

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Arffek hesitou por um momento, pois queria ajudar sua esposa ama-da. Outro forte estrondo rompeu o silêncio.

— Corra! — Erion ordenou. O guerreiro desapareceu.Os grunhidos se multiplicaram e ficaram mais altos. De repente, uma

explosão eclodiu. Pedaços de madeira voaram no começo do corredor. A fumaça flutuou pelo ar, e um sopro de vento embalou suas nuances negras.

A guerreira turvou o semblante. Na sua mão esquerda brandiu uma energia vermelha, que em um rápido movimento ela converteu em magia. Uma bola de fogo progrediu rápido e colidiu com seus primeiros alvos.

Gritos alcançaram o ar, então sumiram no teto e em sua abobada ne-gra, infinita. A guerreira não sorriu. Ela sabia que era apenas o começo.

Então, seus oponentes foram se revelando. Envoltos pela fumaça que dançava sobre seus corpos largos, desmascarando seus olhos negros.

A guerreira tingiu seu rosto de raiva.Os cinco oponentes pararam e divisaram-na. Dentes pontiagudos

rangeram ao vê-la esperando-os para o combate no meio do grande corredor de pedra. Eles sabiam que não deveriam subestimá-la, pois estavam diante de uma grande oponente. No entanto, a prepotência se elevou acima da cautela, e eles partiram ferozes contra ela. Aqueles eram tempos de guerra.

Erion então flutuou e dançou no espaço. O aço frio encontrou o san-gue quente. Novos gritos ecoaram. O orgulho e a vida caminharam e partiram juntos, pois os lobisomens, um a um, foram conduzidos ao último destino.

Em pouco tempo, Erion estava mais uma vez solitária. Inabalável em determinação e instransponível em vontade, sua força era imensa, abso-luta e completa.

Então, no corredor à frente, o metal trepidou em passos lentos, que romperam o silêncio. Os profundos olhos azuis de Erion divisaram a negra cortina de fumaça, agora rarefeita. Um grupo foi se adensando atrás da barreira frágil.

Uma ponta de tensão e medo percorreu a alma da guerreira.Quando o primeiro rosto descortinou a fumaça, tudo ficou claro

para Erion. Todo o poder e toda a capacidade da maior paladina da

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Ordem Tempus seriam confrontados. No vasto Reino do Norte, havia apenas quatro pessoas que poderiam enfrentá-la com igual poder: os grão-paladinos — Hylen, Von e Farneum — e Thane, o ex-general do Reino do Norte e um dos articuladores da guerra que assolava todo o Reino do Norte — o rosto que lhe fora revelado.

Erion ergueu o olhar tenso e encarou Thane, que viera acompanhado de Gruer, ex-paladino e ex-chefe do 3º Regimento do Exército do Norte, e outros seis lacaios. Todos conhecidos da guerreira.

— Erion… — sussurrou Thane com uma voz doce e incrédula.A paladina manteve-se calada.— Novamente nos encontramos… Eu suspeitava que a forte resis-

tência encontrada aqui por meus homens fosse sua obra e mensagem. Eu estava certo. — Um sorriso de satisfação nasceu no rosto de Thane.

Erion não esboçou palavra alguma. Apenas uma coisa era suficiente para expressar sua indignação sobre a traição de tantos. Ela cintilava na penumbra. Pálida e em punho. Banhada por sangue e vitórias.

O sorriso de Thane permaneceu, largo e fino. Seu olhar percorreu todo o corpo da guerreira, examinando-a e esquadriando os detalhes. Ele a admirava. Agora e desde o momento em que a viu pela primeira vez em Eldor, na academia do exército branco há exatos quatorze anos. O olhar do ex-general ficou vago e caído. Thane desapareceu na doce lem-brança. Uma lembrança muito querida por ele. Por alguns segundos, ele ficou calado. Então, foi erguendo o olhar lentamente, parando em Erion. O sorriso extinguiu-se, e em seu lugar brotara uma expressão distante.

Erion sabia da admiração de Thane por ela, mas ignorava esse deta-lhe, pois ela não cederia à vontade dele. Era uma convicção ainda mais forte do que aquela que formara quando soube dos sentimentos dele, pois ela havia encontrado o amor em outro homem. E agora, naqueles tempos tão sombrios e de perdas, Thane havia se tornado tudo o que ela detestava. Ela estava completamente intransponível, e Thane percebeu isso. Mesmo assim, ele fez uma última tentativa. Uma última tentativa com o resto da emoção que nutria por Erion.

— Erion — ele disse, estendendo a mão —, torne-se a minha rainha. Os lacaios de Thane se entreolharam com espanto. A reação de

surpresa e asco de Erion foi tão espontânea que uma ânsia de vômito

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alcançou-lhe a garganta. Um silêncio perturbador flutuava entre os dois olhares, até a reposta crua e violenta de Erion:

— Nunca… — O primeiro som saiu abafado. O segundo ecoou pelo corredor: — Nunca!

Thane recuou o braço. O olhar do tirano ficou pesado. A raiva vívida em seu espírito era visível através de seus punhos cerrados e tensio-nados. Ele ergueu levemente a cabeça, enquanto observava Erion. No entanto, o que resultou de toda a agitação de Thane foi apenas um sus-piro longo e profundo.

A raiva e a frustração se tornaram indiferença e desprezo. Os olhos de Thane se fecharam, e sua mão direita deslizou pelo rosto. Ele estufou o peito, e outro suspiro rompeu o ar. Devagar, ele foi abrindo os olhos, então retrucou:

— Assim seja. Era o adeus, duro e implacável. Era o sinal para que os seguidores de

Thane partissem contra Erion. Não houve transformação. Apenas o som do aço contra o aço, fino e longo, das espadas percorrendo as bainhas riscou o silêncio. Erion brandiu sua espada em um movimento circular, depois a empunhou com as duas mãos.

Finalmente, o último momento da terrível guerra chegara.A desolação rumava contra a esperança.Erion olhou de relance para a grande porta que estava no fundo do

corredor. Arffek surgiu em sua mente. Em um dia perfeito no final de um verão brando. Naquele dia, o olhar de Erion delineou um Arffek sorriden-te. Ela se lembrou de como achou o guerreiro bonito. Ela se lembrou de que naquele dia ele a conquistou. Sem saber, sem querer. Uma época de paz.

Quando Erion regressou, sua expressão havia mudado. A serenida-de, antes absoluta, desaparecera por completo. A fúria estava viva em seus olhos, e a guerreira foi à batalha com uma ferocidade nunca antes vista. Erion agora mostraria aos seus inimigos sua face impiedosa e ter-rível. Sua mente fora preenchida pelos rostos de seus inimigos, e todas as atrocidades cometidas por eles ficaram nítidas. Um mar de mortos se estendia à sua frente.

Então, o aço ricocheteou no aço, e fagulhas saltaram pelo ar. Os sons estridentes reverberaram fortes e cada vez mais rápidos. O grupo atacou

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com vigor e força, mas Erion defendia com perfeição. Cada segundo que passava e cada falha em conseguir feri-la era uma tormenta e uma angústia. Erion então atacou, e o metal afiado manchou-se de sangue. Um grito escapou abafado pelo corredor. Mais um dos guerreiros jazia no túmulo frio e duro. Erion estava no meio do corredor, precisa e in-cansável, à espera de seus inimigos, que não tardaram a alcançá-la. Foi uma luta feroz. Ao final dela, Gruer estava à mercê de Erion, com o fio da morte a tocar-lhe o pescoço. A paladina viu um momento grandioso brilhar na lâmina de sua espada.

Thane a admirou ainda mais. Erion era mesmo a maior guerreira que ele conhecera. Ao vê-la lutar de uma forma tão exata e mortal, ele acei-tou que havia mil motivos para amá-la. Mas agora todos esses motivos eram insuficientes, porque Thane havia abandonado o amor em algum lugar de sua alma. Agora faltava muito pouco para conseguir seu maior objetivo. E Erion era a última barreira para a vitória.

Uma barreira intransponível para seus homens.Não para ele.Quando o momento derradeiro de Gruer se aproximou, um zunido

fino cruzou o ar. Erion só teve tempo de vislumbrar uma energia negra como a noite na sua frente. A energia acertou a ela e a Gruer em cheio. Houve uma pequena explosão — sem fogo ou brilho — de uma massa negra, acompanhada de um silvo tênue que rasgou o ar. O impacto da magia fora tão forte que Erion acabou arremessada para trás, chocando-se violentamente contra a espessa porta de madeira ao fundo, que foi com-pletamente destroçada. Gruer foi jogado pelo ar com força e se chocou contra uma das paredes. Ao encontrar o chão, ele já estava inconsciente.

Thane abaixou o braço lentamente, sob os olhares de seus guerreiros. Sua expressão impassível e fria não se alterara.

Erion abriu lentamente os olhos e tentou se mexer um pouco, mas não conseguiu. Uma dor terrível cortou-lhe as costas naquele momento. Ela era profunda e intensa. Erion soltou um grito abafado. A respiração ficou difícil, e o sangue chegou à boca. A paladina jogou o corpo para o lado e se apoiou em um dos cotovelos. Ela visou Thane no outro lado, estático e longínquo. Nesse instante, ela notou que havia uma energia negra em volta do seu corpo, circundando-a — a mesma energia que a acertou.

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De repente, Erion soltou outro grito, dessa vez alto e forte. Tão alto que chamou a atenção de Thane e seus homens. Uma dor intensa per-correu todos os músculos do seu corpo. Então, ela levou as mãos aos olhos. Eles ardiam. Sua visão foi falhando. Estava ficando cega. Cega! A paladina foi tomada pelo desespero. A dor se intensificou. Erion ten-tou contê-la, inutilmente. Ela começou a se contorcer no chão. Aflita, um longo e tenebroso grito escapou-lhe. Abruptamente, sangue e bile saíram de sua boca. Ela gritava e gritava por ajuda, tateando no escuro.

Inesperadamente, um grupo se aproximou da paladina.— Erion! — Arffek preocupou-se, já ajoelhado. Erion buscou pelas mãos do amado, mas, quando elas iam se encon-

trar, a pouca energia negra que restava foi na direção de Arffek e o tocou, provocando-lhe dor. O paladino segurou o sinal de angústia. Em poucos segundos, a energia negra desapareceu por completo. Arffek amparava Erion com um abraço.

Todos os acontecimentos foram vistos por Thane. Seu desprezo ha-via aumentado ainda mais.

Erion, por que você o escolheu?, pensou o tirano. Por que não a mim? Thane olhou para as suas mãos. De repente, passos cruzaram o cor-

redor da entrada. Um grande grupo de lobisomens chegou onde Thane estava. Ele só olhou para trás, depois para frente.

— Vão, matem todos. — As palavras saíram com ódio e amargor.Grunhidos foram ouvidos no corredor. Os soldados de Thane parti-

ram contra seus inimigos. Arffek se ergueu, trazendo Erion junto a ele.— Levem-na para um lugar seguro! — ordenou o paladino. Dois jovens paladinos que estavam próximos a pegaram e rumaram

para uma sala no fundo — a sala do trono. De repente, a penumbra angus-tiante que tremulava no ritmo das chamas das tochas desapareceu, e um pouco de alento surgiu nos corações dos últimos combatentes do Reino do Norte. O tímido amanhecer se aproximou do horizonte, e seus raios atravessaram as finas janelas dos dois lugares, deixando tudo claro e nítido.

Arffek desembainhou sua espada em um movimento circular e ficou em posição de ataque. Juntaram-se a ele Von, Farneum e um grupo de paladinos. Hylen surgiu atrás deles e orientou os dois jovens paladinos que levavam Erion.

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Aquela era a última resistência do exército do Reino do Norte.Quatorze paladinos.Contra uma horda de sete mil inimigos, quarenta deles prontos para

iniciar a última batalha daquele reino que já fora imponente e poderoso. Seus desejos mais profundos eram selar com a morte os destinos daque-les bravos guerreiros encurralados no Grande Salão do palácio de Eldor.

Um arrepio caminhou na pele gelada de muitos paladinos. Ao ver o grupo de lobisomens rumando rápido para o salão, vários deles puderam sentir a respiração paralisar e a garganta secar. O medo começou a ocupar--lhes as almas, e a esperança pareceu uma recordação insuficiente e fraca.

Então, eles foram despertos daquele sono nebuloso.O grito de fúria de Arffek alcançou todo o espaço e um raio serpen-

teou pelo ar na direção da porta de entrada.A Batalha do Grande Salão de Eldor começava.O raio se chocou com os primeiros lobisomens do grupo e seus ui-

vos foram as primeiras notas daquela canção melancólica. Das mãos de Von, Farneum e Brisrar, a pupila de Hylen, também surgiram magias para diminuir o grupo de lobisomens. Mais corpos foram ao chão, sem vida. Hylen fez uma rápida prece, e todo o grupo foi abençoado. Os âni-mos estavam revigorados e a coragem fortaleceu músculos e mentes. Hylen então desembainhou uma espada que trazia presa às suas costas e beijou sua lâmina, branca como a neve.

— Austral, guie-me nesta batalha, e que muitos inimigos caiam pela sua lâmina.

Erion, ao lado da porta da sala do trono, pediu aos paladinos que a ajudavam que parassem. Ela colocou sua mão dura na parede próxima e apoiou-se. Seu corpo estafado pesava tremendamente. Sua visão só lhe mostrava manchas em movimento. A batalha estava em andamento. Erion então sentiu o peso de sua derrota sobre os ombros. Não queria ser um estorvo! Ela não queria olhares de piedade! Nesse instante, com a voz rouca e baixa, a paladina ordenou que os dois guerreiros fossem à luta. Eles relutaram, mas, ao ver a batalha crescer, foram em auxílio de seus amigos.

Os paladinos partiram contra seus inimigos. Os lobisomens, apesar da força e velocidade que possuíam, ficaram em número reduzido, e

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tinham como adversários os três mestres da Ordem Tempus — guerrei-ros de habilidades extraordinárias. Os últimos sobreviventes do exército do norte confrontariam seu último e terrível desafio. Diante da luta iminente, a esperança renasceu em seus corações. A vontade de vencer então faiscou viva em seus olhos, e a ira, que estava oculta, conduziu seus atos. As suas almas foram alcançadas por uma força incontrolável.

A luta foi violenta. O mármore branco do Grande Salão foi mancha-do pelo sangue de muitos lobisomens. Ali, no último símbolo de beleza do Reino do Norte, eles encontraram o sono perpétuo.

Foi nesse momento de vitória que o golpe mais duro atingiu a todos os paladinos. Da escuridão do corredor, saltou um lobisomem. Solitário e agressivo. Nada pôde ser feito. Ele tinha um único alvo: Arffek, o pa-ladino que liderou o ataque do grupo. Os dois se chocaram. Arffek foi arremessado com força para trás, alcançando o fundo do salão. O metal de sua armadura vibrou forte quando ele encontrou o chão. Então, mais lobisomens surgiram da escuridão, em uma onda interminável.

A batalha recomeçou.Mais feroz, mais sangrenta.Arffek, depois do golpe, levantou-se. Seus olhos se comprimiram em

um semblante tenso. Era a dor. Ele sentiu o ardor do ferimento em seu peito. O guerreiro olhou para baixo e viu as quatro marcas do golpe. O sangue já escorria e tingia sua armadura. Arffek conteve a dor e empu-nhou sua espada, pois um grunhido fino ecoou próximo.

Um mar de inimigos estava à frente dos paladinos da Ordem Tem-pus. O cansaço chegara aos seus corpos, mas a violência e a fúria o impediram de desistir. Todos avançaram contra seus inimigos, e muitos lobisomens tombaram. Apesar disso, vários paladinos também caíram sem vida.

Hylen, Von, Farneum, Brisrar e outros dois paladinos eram os úl-timos guerreiros a brandir suas espadas. Eles eram a muralha a conter o ataque incessante que manchava o Grande Salão de Eldor e seu alvo mármore resplandecente, cada vez mais coberto de sangue e corpos. O manto negro da morte.

Do outro lado, isolado, Arffek estava frente a frente com a fera. Ela estava sob as quatro patas, encolhida. A saliva escorria pela sua boca,

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pendendo em longos fios. Seus olhos marrons com finas pupilas esta-vam fixos em Arffek. Lentamente, o sangue foi escorrendo das garras afiadas, que rangeram em contato com o mármore do salão.

Os olhos de Arffek e do lobisomem se cruzaram. Os músculos se ten-sionaram e a respiração ficou densa. Então, o lobisomem saltou contra Arffek. Os dentes e as garras, em busca de sua presa, refletiram a luz do alvorecer, cada vez mais próximo. A sombra pálida de Arffek se ergueu imponente e se moveu como um raio. O lobisomem caiu no vazio, e um corte fino atravessou seu abdômen. O sangue jorrou forte. A dor rom-peu o ânimo. O animal ignorou a agonia e se voltou para seu adversário.

— Arffek… — As palavras saíram em meio a um sorriso de escárnio.O paladino deu um passo para trás. Ele reconheceu a voz.— Gruer…O lobisomem se ergueu sobre as patas traseiras. Seu tamanho era

impressionante. O ferimento então foi se fechando lentamente. Arffek não estremeceu, pois sabia dos poderes da transformação.

Gruer investiu com violência, reiniciando o combate.Arffek empregou toda força e habilidade. Do encontro de sua espada

com as garras de Gruer, nasciam centelhas e o som agudo do aço sendo riscado. A defesa de Arffek era precisa e eficiente. A raiva movia todos os seus contra-ataques, habilmente repelidos ou evitados por Gruer.

O embate era feroz.Até que o pior aconteceu.O aço de sua espada vibrou alto quando encontrou o chão pálido e

duro. A dor rasgou a carne do peito e do braço direito de Arffek. A boca do paladino ficou seca, e o cheiro de sangue impregnou o ar que ele expirava. Arffek deu alguns passos para trás sob o olhar orgulhoso de Gruer. Ele não entendia como o inimigo o atingira. Não compreendia que o equilíbrio fora exato, mas apenas no início. O cansaço e a dor surgiram lentamente em seus músculos. O suor havia brotado quente em sua pele, e a sua respiração ficou pesada. A força aos poucos tinha abandonado seus braços, apesar dos seus esforços.

Foram muitas batalhas e perdas.Os ombros de Arffek estavam extenuados. E Arffek não era como

Erion. As qualidades dele não se igualavam às dela.

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