13
\$m \ && mti KSsMísaEsaírjwáíSíOf'^ A Vi ?A 9 sssba ?Bt\sL W /i4Masv yr* REVISTA ©i©i@A.®â às se A^TIS, LITTERATURA, E COSTUMES, ,wllí^ RIO DE JANEIRO, TYPOGRAPHIA DE M. A. DA SILVA LIMA. 1846. sastf "•"*'jniujlyJiwmninTrirnui--— a-.«SÍfS ¦ ¦'¦""' --¦¦¦^¦¦¦r.-r:-~--}:--¦:-, ¦_-..._... ¦./,.:-

©i©i@A.®â às se - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00017.pdf · TOMO I. ABRIL DE 1846. X. 17. ÉIÍW ü HlMll inVTnr^rk II REVISTA DEDICADA AS SCIENCIAS,

  • Upload
    others

  • View
    4

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ©i©i@A.®â às se - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00017.pdf · TOMO I. ABRIL DE 1846. X. 17. ÉIÍW ü HlMll inVTnr^rk II REVISTA DEDICADA AS SCIENCIAS,

\$m

\

&&

mti KSsMísaEsaírjwáíSíOf'^

A

ViA

sssba?Bt\sL W /i4Masv

yr*

REVISTA

©i©i@A.®â às se A^TIS,

LITTERATURA, E COSTUMES,

,wllí^

RIO DE JANEIRO,

TYPOGRAPHIA DE M. A. DA SILVA LIMA.

1846.

sastf

"•"*' jniujlyJiwmninTrirnui- -— -.«SÍfS¦ ¦'¦""' --¦¦¦^¦¦¦r.-r:-~--}:--¦:-, ¦_-..._... ¦./,.:-

Page 2: ©i©i@A.®â às se - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00017.pdf · TOMO I. ABRIL DE 1846. X. 17. ÉIÍW ü HlMll inVTnr^rk II REVISTA DEDICADA AS SCIENCIAS,

TOMO I. ABRIL DE 1846. X. 17.

ÉIÍW ü HlMll inVTnr^rk II

REVISTADEDICADA AS SCIENCIAS, ARTES, LITTERATÜHA, E COSTUMES.

A nova minkhva publica-se todas as semanas; contemcuia numero de i<; á 20 paginas de impressão.

Subscrevc-sc mensalmente pela quantia de i»ooo réi»,no escriptorio da typographia, rua de S. José 11. 8.

AS LIMENHAS.

(CONTINUADO DO NUMJÍHO ANTKCBDENTE.)

Huma prova recente do que levamos dito,são as ohservações de Mr. Cabanis a respeitodo Brasil. Escriptas ellas com prevenção,sem imparcialidade, e sobretudo sem ver-dade, são huma creação phantastica da ima-ginação do autor que não exprimem nemapresentam nada de real na condicção, ca-racter e costumes deste paiz. Fallando dassenhoras fluminenses, por exemplo, assegu-ra ufano que não ha mais do que huma ouduas bellas, e que pelo geral são impudicasno seu ar e nos seus olhares para os homens;asserção tanto mais falsa quanto que, se-gundo o juizo dos estrangeiros mesmos, do-miciliados, ou que tem residido longo temponeste paiz, no Rio de Janeiro ha em abun-dancia, assim como em S. Paulo, Rio Grandee Maranhão, senhoras que podem competirem belleza com as melhores da Europa, eluzir em qualquer dos salões de Londres,Paris e Madrid. E ainda mais falsa e con-traria á evidencia he a observação do viageiroCabanis a respeito da pretendida impudi-cicia do bello sexo brasileiro. Talvez estepecca pelo extremo contrario, isto he, porhum encolhimento e huma reserva que oafasta demasiado da sociedade dos homens,e muito mais de terem a liberdade e ovalor de olharem com ar de insinuaçãopara os homens que passam junto de suas

janellas. Educadas as brasileiras da altaclasse sob o systema severo e sobrada mentehonesto dos portuguezes, que se distingui-ram pelo isolamento nas suas familias, estáem opposição com os factos, com a historiae a verdade o acerto de que ellas possamlevar comsigo a mancha que os olhos anu-viados de Mr. Cabanis viram nas timidase mimosas filhas de Amazônia.

A descripção das Limenhas, inseria naIllustracção não pertence á classe das feitaspor viageiros como Mr. Cabanis e outrosde quem temos fal lado : ella he quasi exactae muito brilhante, quanto aos costumesd'aquelle sexo; porém quanto a seu caractere á sua mora! he exaggeradissima, senão falsa,seja que o articulista falle por juizo próprio,seja que emitta a opinião de outros. Quantoa esta parte, a mais interessante sem duvidano conhecimento da vida dos povos, podemosdizer de seus autores o que hum romancistamoderno diz tão verdadeira como elegan-temente,

« Sabido he que os poetas estudam o cora-ção da mulher indo a ver á sahida da aurora.Todos os que manejam mal a penna tem ocostume de começar huma multidão de phra-ses com estas palavras; as mulheres fazem,as mulheres são, as mulheres dizem, etc. Istohe hum disparate. Philosophicamente a pa-lavra mulher não tem plural. E mesmo quan-do se emprega o singular he preciso especi-ficar a idade, a posição e a hora do dia. A

Page 3: ©i©i@A.®â às se - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00017.pdf · TOMO I. ABRIL DE 1846. X. 17. ÉIÍW ü HlMll inVTnr^rk II REVISTA DEDICADA AS SCIENCIAS,

A NOVA MINERVA.

mesma mulher não se parece a 6Í mesmaaos seis mezesde intervallo. Da noite á ma-nhã muda ás vezes a ponto de não podel-aconhecer. E oh ! temerários vindes a fallar-nos das mulheres do mesmo modo que pode-rieis fallar se a fome as "tivesse feito naturalis-tas de testaceos, mamíferos de oviparos, oude fosseis. Disscrtais, louvais, condemnaisdo que conheceis;—ou credes conhecer.—Devossas mulheres, de vossas queridas, deduzisas vossas conclusões sobre o desconhecido,sobre a mulher de outro, sobre o sexo, comotlizeis, quando não quereis lançar-vos nestagrande phrase: « a metade mais bella do ge-nero humano. » Eo que he mil vezes maisdeplorável, fazeis huma historia sobre oco-ração da mulher. Traduzis latim e grego, emem lugar de olhar, citais em vez de observar,e com o auxilio d'hum verso ou huma phrasenos explicaiso caracter de Fanchon. Horacionão conhecia Fanchon, e Fanchon não co-nhecia Horacio. Grande verdade he que Mesa-liua tem existido: grande desgraça he quehajahavido mulheres parecidas a Mesalina. O

que prova isto? Com que direito fazeis do no-me de Mesalina huma qualificação, humadjectivo? Não estais fazendo-o, quasi segu-ros de insultar, á pessoa que comparais comella? Creis que Magdalena, outro adjectivo osagradeça muito das menções honrosas que nosfazeis delia em vossos periódicos? MagdalenaSc arrependeu, não podereis pcrdoal-a? Isto heassumpto já regrado, toda a mulher que lempeccado se cbamma Mesalina ou Magdalena.Não ha meiotermo: a corrupção e o abandonoou o arrependimento ; tal he o vosso veri-dicto !....

Na classe baixa de Lima ha mulheres des-honestas e immoraes; por isso todas as senho-ras daquella civilizada capital o são também 1Em Londres e em Paris, como em Roma eem Vianna ha mulheres corrompidas e maisque em nenhuma outra parte comparativa-mente a sua povoação e á miséria do maiornumero; por isso direis também que naquel-Ias primeiras c mais cultas cidades do mundo

são todas as senhoras corrompidas? Está avossa conclusão escriptores de costumes.

« Desconfiai das mulheres de Lima I scrèas

pérfidas que lançam mão de tudo, de voz do-ce, palavras insinuantes, eloqüência persua-sivd para acender em hum estrangeiro huma

paixão que só tem por (im o amor próprio, á

que se ajuntam quasi sempre cálculos de in-te-resse; não deis fé ás suas palavras, ás suas su-

plicas, sede insensivel ássuas lagrimas ; nestasmulheres tudo he fogo: os olhos são de fogo,a alma de gelo, os lábios faliam, porém não ocoração. Desconfiai dcllas, senão comprarei*a experiência por desgostos bem cruéis. »Eis-ahi o que dizem do sexo de Lima osestran-

geiros a quem se refere a Illustração ! oh ! vósdivino Homero, cisne mantuano, cego Milton,desgraçado Camões, e vós Águia da Caledo-nia, vaporoso Byron, alçai-vos de nossas tum-bas para ouvir como em simples prosa a poesiatem mais encantos que em nossos versosinefáveis! Aprendei também vós outros ho-mens das terras mortas a escrever titani-camenle! Não se pode conceber a facundiadestes escriptores sobre o bello sexo de Limaque o acham todo immoral, todo falso, todope-rigoso como as serpes da Nuniidia ! He talvezporque cm seus amorosos versos não acharamcomo o poeta de Sorento huma irmã doduque de Ferrara a quem namorar, ou asapotheosis do capitólio com que Roma o co-roou! Porém já nós temos estendido deina-siado, vamos ouvir as mesmas palavras do ar-tigo offerecido.

« Ha poucas opiniões contraditórias a res-peito das mulheres de Lima. Todos os via-jantes que visitaram o Peru, sábios, artistas,especuladores, qualquer que fosse o paiz aque pertencessem, todos pagaram o tributodevido ás Limenhas, e de accordo, decidiramque eram as mulheres mais seduetoras domundo.—O epitheto espanhol hechicera pôdeser-lhes applicado em todo o sentido; comeffeito, sua graça, elegância, belleza e par-ticularmente o relâmpago rápido de f,eusolhos prelos (ojeada) fizeram muitas vezes

Page 4: ©i©i@A.®â às se - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00017.pdf · TOMO I. ABRIL DE 1846. X. 17. ÉIÍW ü HlMll inVTnr^rk II REVISTA DEDICADA AS SCIENCIAS,

A NOVA MINERVA.

maravilhas que não desmentem a vara dasfadas de outros tempos. »

« Sc tivesse!nos a pretenção de escrever ahistoria das Limenas, faríamos primeiro sa-hir de suas phalanges misteriosas duas mu-lheres que percorreram a vida com missõesbem differentes.—Huma dellas, absorvida emcelestes extasis, entregue inteiramente ás il-luminações do hum amor divino, feria seuspés descalços nos duros seixos, molestandoseu bello corpo com a crina erissada do si-licio, e só vivendo para o céo.—A outraalegre e folgasana, existia no presente, abu-sava de todos os esplendores do luxo e tinhaá discrição os thesouros e o orgulho dehum Vice-rei de quem era idolo. Ambas dei-varam vestígios em Lima de sua passagem:huma, hum convento aonde se ora e se es-pera; a outra dois monumentos em humavasta e sombria alameda onde, em noites se-renas, vem as mulheres, ao ruido de repuchosd'agua, sonhar c fallar cm amor.—Destas duasmulheres, a primeira he santa Rosa, patronade todas as Américas ; a segunda he sim-plesmente a cômica Mariquita Viilegas, maisconhecida debaixo do nome da Pcricholi. »

« As Limenas dos nossos dias conservam¦como hum reflexo destas duas naturezas op-postas. Ha nellas ao mesmo tempo beatismoe bizarria; he o que explica a pequena di-gressão que fizemos afim de não lhes no-(loar com hum traço de seu caracter. »

« O que admira á primeira vista em Lima,he o vestuário pitoresco e misterioso dasmulheres. Este vestuário, que se parece como das mourescas, de onde tiram de certo asua origem , tomou o nome de seus doisprincipaes elementos, que são saia e manto.—iSó he usado em Lima, e as Limenhas se ser-vem delle unicamente de dia, quando sahempara ir á igreja, á procissão, ou ao passeio.Compõe-se elle de huma manta de seda dehum tecido elástico, apertado na cintura porhuma extremidade e relevado por outra atéa cabeça. As Limenas levam com a mão ades-{rada esta manta sobre o rosto de maneira

que o cubra inteiramente, deixando apenasem frente do hum dos olhos huma estreitaabertura que serve a dirigir-lhes o caminho.A ponta do chalé, levantada por traz nestamanta, deixa ver inteiramente a cintura.A saia he de setim*, apertada na cintura,franzida nas nádegas, e perfeitamente justaaté abaixo do corpo, dahi estufa-se por ves-timentas interiores fortemente erngomadas, ecahe com graça formando mil pregas iguaesque vão pouco c pouco se alargando de seunascimento á sua base. As cores mais usadaspara as saias são o asul de smalte, o preloe o verde de esmeralda. »

« O bom gosto fez justiça ha alguns annosá saia angosta, espécie de saco que cahiada cintura até aos tornozellos, desenhando,sem pudor, as formas do corpo ; a parleinferior era tão estreita que paralisava quasi omovimento das pernas, o que tirava ás mu-lheres sua mais poderosa seducção : a graça ea ligeireza de seu desembaraço. »

« O chalé he a parte de mais luxo destevestuário, os mais apreciados são os da china;surprehendem pela variedade e admirávelarmonia de seus matizes, são magnífica-mente bem bordados de flores vivas e fres-cas, que podiam fazer secar de inveja asflores naturaes. Qualquer que seja a posi-ção social das Limenas, ellas calsarn com humcuidado estremo, suas meias são geralmentede seda cór de carne, os sapatos sempre desetim branco. »

As Limenhas vestidas de saia e manto sa-hem sós; qualquer pessoa, sem faltar ores-peito devido ao costume, pôde dirigir-lhes apalavra, c acontece muitas vezes que são eliasque tomam a iniciativa. A irregularidade dovestuários faz de huma rua ou de hum passeiohum baile mascarado perpetuo onde se atamintrigas sem conta. —A's vezes as mulheresde grande tom se oceultam debaixo de humasaia emtrapos avista mais perspicaz do maridoo mais suspeitoso ; lambem estes últimos, quenão estendem até a si a rigidez dos costumesque querem impor as mulheres, foram muifcis

Page 5: ©i©i@A.®â às se - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00017.pdf · TOMO I. ABRIL DE 1846. X. 17. ÉIÍW ü HlMll inVTnr^rk II REVISTA DEDICADA AS SCIENCIAS,

A NOVA MINERVA.àM

vez surprehendidos desagradável mente quelhes respondiam ás suas imprudentes declara-ções, tirando o véo do rosto irritado de humaesposa á qual offereciam hum incenso illi-gitimo.

Como ste vê, o vestuário de saia e mantoconsagrou em Lima a liberdade das mulheres;para ellas tem todas as vantagens, para osmaridos só desgostos. He por isso que ha humdictado peruano assim concebido: Lima pa-raiso o de mugeres, purgatório des hombres,infierno de borricos.

As mulheres sabem sempre de mangascurtas; não se pode desconfiar muito d'aquel-Ias cujas mangas cobrem a luva de maneiraque não se pôde conhecer a cor da pelle. Nãoha então que duvidar, a manta traidora en-cobre a face mais ou menos negra de humaafricana, diante a qual se semeam em vão pe-rolas de galanteria.

As Limenas andam geralmente muito cur-vadas e imprimem na parte inferior do corpohum movimento voluptuoso d'osciIlação, aponta delicada do sapato de setim apenas tocao chão. {Continua.)

CAUSA E UTILIDADE PERMANENTE DAS PYRA-

MIDES DO EGYPTO E DA NUHIA.

I.O século dezenove não será unicamente ce-

lebre pela grande epopéa napolioniana queassignalou o seu começo, sê!-o-ha tambémpela immensidade de progressos dos conheci-mentos humanos. Descobertas destinadas amudar a face do universo, a aplicação do va-por á mecânica, os caminhos de ferro, os te-legraphos elétricos, o prodigioso desenvolvi-mento da industria, huma multidão de scien-cias tiradas do nada, o mundo material, emlim, como o mundo moral, engrandecido, ana-lysado nos seus mais recônditos segredos sãoos títulos que a este século garantem o res-peito da posteridade.

Apenas se deve notar que neste grande mo-vimento do espirito humano cabe sempre á

França a honra ão primeiro lugar. Domi-nando a Europa alternativamente pela sualitteratura, pelaphilosophia, pelas armas, ellaa esclarece presentemente, pela sciencia. Se-gundo as phases da civilisação muda os instru-mentos do seu poder; mas jamais o abedica.Percorrei todo o circulo das sciencias, e nàoencontrareis lugar onde algum enérgico e la-borioso filho da França não tenha arvoradoas cores nacionaes. Vamos citar hum novoexemplo.

Sabe-se quaes foram os resultados scienti-ficos da expedição do Egypto. Com o jovenheróe, cuja espada victoriosa foi, como a deAlexandre, despertara terra dosPharaós, par-tio de França huma commissão de sábios il-lustres encarregada de sondar as trevas destacelebre sociedade, e de amplicar com novasconquistas o domínio do passado. Os resulta-dos foram muito além das previsões do pro-prio genio. Huma antiga e gloriosa civilisa-ção desenterrada de suas ruinas, os limites dahistoria do mundo recuados por dous mil an-nos, a indisputável fonte de nossos conheci-mentos restaurada, toda a antigüidade em fimilluminada com novo brilhantismo, taes foramos mais preciosos tropheos da nova expedição;porque em quanto a fortuna nos roubava aconquista política, nos restava a conquistascientiíica.

Para logo a Europa lançou os olhos para obem da civilisação; immensos sábios se preci-pitaram ás margens doNilo para concluírem adescoberta deste sovo mundo histórico. O se-gredo dos hieroglyphos causava sobretudo omais vivo interesse; porque se a chave destamysteriosa linguagem se descobrisse, a historiade quatro milannosdever-sediia naturalmentereconstruir com o grande numero de inseri-pções e manuscriptos do antigo Egypto, quepossuímos, Ainda huma vez hum celebre fran-cez Mr, Champoílion teve a gloria de fazeresta preciosa descoberta.

Todavia faltava penetrar hum grande mys-terio. Desde quatro mil annos as pyramidcspassavam no mundo por túmulos, perante os

Page 6: ©i©i@A.®â às se - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00017.pdf · TOMO I. ABRIL DE 1846. X. 17. ÉIÍW ü HlMll inVTnr^rk II REVISTA DEDICADA AS SCIENCIAS,

A NOVA MINERVA.«aaãaü mMã&wm&mtmÊmm *E MMWSIBmsstJBiigBBsww)

quaes se confundia a razão humana na suppo-sição de, segundo os cálculos da commissão,exigira construcçâo de cada hum quasi tantosmateriaes, e por ventura tanto trabalho e des-peza quanto a das maiores cidades modernas.Em vão se invocavam os caprichos do despo-tisino, o orgulho e loucura dos reis ; designartaes puerilidades como causa de exforços tãoprodigiosos era ferir as mais comesinhas regrasdo bom senso. E nem os antigos nem osmodernos poderam penetrar a razão poli-lica ou religiosa do Egypto, de fazer questãode estado dos sepulchros de seus monarchas.

pela scienciá c pela sua organisação econo-mica. Qualquer obscuro pedagogo se julgavaauthorisado a insultar dos empocirados cantosdos nossos eoüegios a memória deste povo.Além disso, força he confessal-o, o problemadas pyramides parecia extraordinário ; por talforma se julgava impossível indicar a causadestas montanhas factícias que o espirito hu-mano se via coagido a humilhar-se perantesemelhante incógnita.

Não obstante isto huma sociedade de sábiosinglezes resolveu ha cinco ou seis annos de-cifrar o enigma. Ella se dirige aos lugares da]• i """" « cuisiuj, jí a se u riíe aos no-ares i p*,ra assim pois de crer que ainda huma vez ha- t,nt„ no, ,. ¦ , , . ° °

„•„„ •] tanta celebridade, e reunindo grande numeroviam querido os sagrados enteain; rlnnntlo,, ' . b ° numeroviam querido os sagrados collegio? do antigoEgypto oceultar o seu segredo ao mundo; eque o espheisge, collocado junto das grandespyramides, não era mais do que o emblema dehum desafio á posteridade.

Tal foi, com effeito eem contrario á opiniãogeral, a hypothese da commissão do Egypto.A' vista das relíquias magniíicas da civilisaçãode hum grande povo, Mr. Jomard, illustre in-terprete da commissão, não trepidou em re-pcllir supposições aviltantes.

Admittindo que o vácuo interior ou as ga-lerias subterrâneas das pyramides tivessem ser-vido a accessoriamente de sepultura aos prin-cipes que tiveram a gloria de erigir taes mo-numentos, elle atrahio a sua construcçâo aalguma grande idéia scientifica por descobrir.

Infelizmente baldados foram os esforços dacommissão para transformar o problema emquestão scientifica digna de attenção. O maisabsurdo e vulgar ciúme se tinha principal-mente em França, como que identificado comos trabalhos da commissão. Triste consequen-cia de nossas discórdias civis!

Paixões miseráveis, não se satisfazendo emperseguir nos membros do Instituto do Egyptoos companheiros de gloria de hum heróe in-feliz, se encarniçaram contra as tradições doEgypto como tropheos de huma das suas mais

de trabalhadores sob a direcção de hum hábilengenheiro, dá começo ás explorações em gran-de escala. Apóz dous annos das mais vigorosaspesquizas e de abertos muitos povos e de esca-vadas immensas galerias, trabalhos em que sedispenderam sommas enormes, a sociedade,não descobrindo algum novo elemento para aresolução do poblema, limitou-se ao banal ar-gumento por muitos séculos repetido. As py-ramides contém sepulturas, logo não são maisdo que túmulos.

Assim, como nunca, se apresentava impg-netravel este mysterio. O mundo illustradovia-se na necessidade de encarar as maravi-lhosas construcções unicamente como estériltestemunho de louca vaidade e como huma ma-gnifica expressão do nada ; a memória de humgrande povo parecia condemnada sem appel-lação.

Mas eis huma voz que do fundo de funestaprisão se faz ouvir para protestar contra a in-justa sentença. Hum joven e instruído frau-cez, estranho á scienciá official, e que atémesmo jamais vira o Egypto, não duvida ar-rostrar o espheisge.

Novo OEdipo, ousa cobrir de ignomínia omonstro embora com risco de ser por elle de-vorado, e pela vez primeira depois de tão di-latados séculos a construcçâo das pyramideshellas expedições. Em vão os monumentos se explica por hum grande interesse,

egypcios revelavam hum povo extraordinário {{Continua )

Page 7: ©i©i@A.®â às se - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00017.pdf · TOMO I. ABRIL DE 1846. X. 17. ÉIÍW ü HlMll inVTnr^rk II REVISTA DEDICADA AS SCIENCIAS,

G A NOVA MINERVA.

pensamento no interior de suas casas ; passaro dia n'huma sala trançando os seus lindoscabellos, dispondo com graça a seu toiletepara agradar a seus maridos ou para sentar-se

PARALLELO ENTRE OS HESPANHOES E OSFRANCEZES.

O Franccz come muito e com pressa, ohespanhol moderadamente e com pausa.—O francez faz-se servir primeiro o guisado,o hespanhol o assado.—O francez deitaágua no vinho, o hespanhol o vinho na água.—O francez gosta de fallar muito quando estána mesa, o hespanhol não diz huma pala-vra.—O francez se passeia depois de jantar, ohespanhol dorme, ou pelo menos se assenta.—O francez vai depressa pelas ruas, seja a péou seja a cavallo, o hespanhol sempre vaide vagar. Os lacaios francezes seguem aseus amos, os dos hespanhoes vão adiante.—O francez para chamar a alguém por sig-naes, levanta a mão e a dirige para a cara, ohespanhol para o mesmo fim abaixa a mãoe a vira para os pés.—O francez beija asdamas ao cornprímental-as, o hespanhol nãopôde soffrer esta liberdade, O francez nãoaprecia os favores de sua dama em quantonão são conhecidos por seus amigos, o hes-panhol nada acha mais grato em seus amorescomo o segredo.—O francez falia sempredo presente, o hespanhol do passado.—O fran-cez necessitado tudo vende, excepto a ca-rnisa, o hespauhol a primeira cousa que

junto da janetía ao pôr do sol; respirar o arfresco das colunas desde hum miradouro ele-vado, ou por entre as douradas roxas de suacasa : dar algumas voltas debaixo das laran-geiras e bananeiras d'hum bello jardim,ir a fazer hum giro pela rua em companhiade seu esposo, de tarde ou de manhãcedo, cuidar da casa, dispor o jantar, os doces,eo chá, tocar o piano e cantar alguma cavati-na ; eis ahi a sociabilidade das brasileiras emtempos passados. Este modo de existir erahum tanto monótono e tinha as suas vanta-gens e os seus inconvenientes, corno todasas coisas humanas. Então não havia entreas senhoras tantas paixões fictícias e roman-ticas como hoje ; eram escravas de hum amoroceulto dentro do coração em quanto jovens»e bellas, e mais tarde eram escravas do:;cuidados domésticos e de seus filhos.— Nãocostumando ellas sahir daquelles tempos árua senão huma ou duas vezes na semana nocrespulo da tarde ou no allumiar da aurora,estando privadas de mesclar-se na sociedadedos homens por huma espécie de orgulho«noa, u uespaunoi a primeira cousa que uus uomens por numa espécie de orgulho

vende he a camisa, conservando a capa até aristocratico e pelo costume herdado de seusn ,,U: í-v „„*„„ i _ . .o ultimo apuro.—O francez veste de hummodo, o hespanhol de outro tão differente,que se se olha para elle dos pés á cabeça não selhe parece em nada.—O francez cré quena Hespanha não ha mais do que Quixotese Sancho-Pansas, e para amedrentar aos me-ninos lhes faz o bu com os hespanhoes, comohum espirito infernal, o hespanhol julgaque os francezes são tão ridículos como asgavaehos, e cré que elles tem vindo aoinundo para divertil-o efazel-o rir.

— SOCIALIDADE FLUMINENSE A PÁSCOA, OSBAILES MASCARADOS NO THEATRO DE S.PEDRO DE ALCÂNTARA.

Viver para hum só homem e de hum só

antepassados ; sendo quasi impossível o vel-asmais do que por entre as feridas de suas ja-nellas, como não era possível ver em outrotempo, senão por entre exhalações encau-íadas do bosqne ás fadas occultas aos olhosprofanos; apenas davam as senhoras brasi-leiras alguns passos dentro de suas casas opassavam o seu tempo empregadas nosfazeres do seu sexo, em ler hum livro místicoou em comer alguma fruta. Eram por tantomais senhoras de seu tempo, tinham dias ehoras lixas para receber visitas c arranjavama seu gosto as relações sociaes; porém estaseram muito limitadas e havia nessa conduetahum não sei que de egoísmo. Cumpridosos deveres sociaes da mais estricta attençãopassavam-se muitos dias e mesmo mezes sem

Page 8: ©i©i@A.®â às se - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00017.pdf · TOMO I. ABRIL DE 1846. X. 17. ÉIÍW ü HlMll inVTnr^rk II REVISTA DEDICADA AS SCIENCIAS,

A NOVA MINERVA.«««•«««ÈãfesssMSSS^

que vissem ás pessoas de sua amizade, a menosque as festas não viessem a reunil-as em so-ciedade. As tertúlias de então não se occupa-vam de nenhuma especialidade importante;afora huma ou outra fria e monótona con-versarão , parecia que o elemento em queviviam estava esgotado; os mesmos prazerespareciam, as despedidas de huma dita que sehiapara não voltar. Por isso nao se conhe-ciam nessa época essas ardentes o patheticasrelações, nem essas tragédias históricas cujointeresse descança no sentimentalümo exai-tado. A casta brasileira embora doulada dehuma alma e de huma natureza ardentes,ignorava as suhtilezas românticas dessa vidaamorosa, esses torreentos c essas voluptuosi-dades que hoje lhe envia o meio-dia da Eu-ropa, essas paixões violentas, outras vezesfactícias, plantas parasitas que semarchitamno seu primeiro verdor. Porém quanta mu-dança de alguns annos a esta parte ! Quantosprogressos com a civilisação moderna, e comas vantagens da independência! E quantoseria necessário dizer para mostrar estes pro-gressos, esta face radiante e animada que

meativos, e o que os fornece he o mais com-municativode todos.

Porém sobretudo os bailes mascarados dotheatro do S. Pedro tem dado neste anno ácapital do império huma especialidade quenão tem tido até agora. Na verdade, bailestão cxplendidos, tão concorridos c em lugarlão sumptuoso, não se vêem mais do que nasprimeiras capitães da Europa. Houve grandeesmero e gosto elegante na disposição eador-"os. Essa immensa saia improvisada, como!mm vasto theatro da antigüidade, estevemagnificamente illuminada, concorreram aella pessoas distinetas de ambos os sexos ; oscamarotes estavam cheios, e sobre o tabladose deslizaram mil lindos pesinhos de bellasfluminenses, e estrangeiras, pela primeiravez nos annaes do Rio de Janeiro. Este hesem duvida hum outro passo na sociabilidadebrasileira, excepto para cs que não pensamcomo J. J. Rousseau, que nas reuniões pu-bheas lie onde mais se depuram os costumese se ostenta o brilhantismo social.

O povo fluminense tem acolhido com en-thusiasmo este divertimento que lhe tem em-, -i"" —u.u^u^ wre uireiuuiemo que me tem ori «P.-os,™ c,tc W1.P.Í,, V0rtm ist0 Lia(]o . As "

-ra asaumpu, de outro artigo. Bastando- foram brilhantes; que animação e embe-"« Por ag„na duw que aSso„„o,,s Lr.silo,;- loco nossa noite , todo ora vida Lo se.nnreos comprehendem hoje melhor as vantagens que intervém a belleza e a armonia Ade seu sexo o. í p «im n™;»so „. .-.. . ,. '"¦ Ade seu sexo e de sua posição na sociedade,(' que os seus hábitos nascem do intimo dacivi-hsação moderna, vamos ao nosso propósito.—

A sociabilidade oceasionada pela vinda daPáscoa tem sido animadíssima, os soirés, osehás, os passeios tem sido magníficos; temhavido reuniões em que a gastronomia ele-vada não tem ficado em esquecimento, e emqui as fitas tanto se vem ondear sobre oscrespos d'huma bella como sobre as azas dehum lindo pássaro. Sine bacho et cerere friget;

musica sabia em explosão pelas veníanaadaquelle vasto edifício e se dilatava na at-mosphera da noite com huma armonia im-mensa ; a mor parte do movimento esteve re-concentrado naquelle ponto da cidade ador-mecida,o theatro de S. Pedro d'Alcantara.Tudo contribuía a expansão dos gozos. Asbeilezas aristocráticas reunidas porhum desejode curiosidade, presenciaram a traição dal-gumas lindas de suas patrícias, a sua pas-sagem ás fileiras populares, onde desprega-„Wo , , -I--J-, ™e-" «" incncis populares, onde desnreea-uu- 1,0 h„,„a vendado; o espirito se di|a(a ,„„ todo 0 m |)0m bumor J^com os mamares. n admii™ i,„m. ,i:i-*„«* J —i....... .. ^ entao des-com os manjares, e adquire huma dilatação

que o enleva. A mesa he o symboio maisinteressante e o laço social mais útil da com-municação dos homens. O vinho, os manja

conhecido. Dança corrida, movimento cir-cular, de vai e vem, traças de todo gênero,lindas caras debaixo d'hum véo, olhos ne-gros e scintillantes por entre os buracos dores e o hiiln c3n -i

J ~.««..«ih«> pUr entre os buracos dec o baile, suo essencialmente commu-' huma mascara, corpos elegantes, e agia, for-

Page 9: ©i©i@A.®â às se - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00017.pdf · TOMO I. ABRIL DE 1846. X. 17. ÉIÍW ü HlMll inVTnr^rk II REVISTA DEDICADA AS SCIENCIAS,

8 A NOVA MINERVA.

mas divinas que se adivinhavam debaixo demil trajosperegrinos; divertimento franco, de-«embaraçado de todos os embaraços da etiquetae do delicadismo, divertimento em toda a suaeffervecencia c em toda a altura cio cnthusías-mo; eis-ahi o queoffereceu o baile mascaradono theatro de S. Pedro de Alcântara.

Hum philosopho severo que como o aman-te de Alice e arrastrado por força de re-pente por huma linda mascara a essa immensasala, se tivesse achado hum quarto de horano meio desses sunidos estrepitosos da orques-ira, no meiodaquelle formigueiro de entes quese esparziam como ondas em todas as partes doedifício, abaixo, arriba, cm derredor seu;olhando para todas essas traças, todas essasmascaras semelhantes, essa turba agitada ; cs-cutando esses ditos incisivos, essas vozes frauta-das, que se assemelhavam a hum echo único re-petido mil vezes em manifestações idênticas, te-ria sentido huma sensação de espanto e haveriasabido correndo daquelle lugar, maldizendo ainvenção das mascaras. Porém hum espiritolivre de preocupações e de escrúpulos, hum es-pinto social que não vê nestas reuniões maisdo que huma face necessária do movimentode huma grande capital, hum desafogo na-tural das grandes povoações á penúria e mo-notonia da existência, á agitação turbulentada vida, teria pegado na mão daquelle philo-sopho e detendo-o, ao querer este fugir, lheteria dito, como Julia, diz em Paris a seuamante: olha, frigido pensador, olha para to-das essas mulheres que estão aqui. Eu quere-ria que lhes tirasses as mascaras e lessés nassuas almas. As mais dellas são bellas de corpoe de espirito. As que te pareciam mais depra-vadas são ás vezes as que tem o coração maisterno, o gênio mais espontâneo, as que pra-ticam acções mais nobres, as que tem as en-tranhas mais maternaes, as affeeções mais ro-manescas, os instinetos mais heróicos. Pensa-obem, coitado, todas essas mulheres de alhea-ção e de prazer são o selecto das mulheres, ostypos mais extraordinários e poderosos que temsabido de mãos da natureza : por isso, graçasaos pudicos legisladores da sociedade, vemaqui a procurar por hum instante, asülusõesdo amor no meio de huma turba de homensque fingem amal-as, e, entre elles, apparen-

tam desprezai-as. Os melhores e mais belíosseres da creação estão ahi, forçados a arrostrartudo, ou a pór-se huma mascara e mentir,para que não as ultragom o cada passo. Talhe a nossa obra homens perspicaz ;s que ter-des feito hum direito de vosso amor, cdo nossohum dever.

BIBÍJOGlíAPUIA.

DNLiwaiaGD iB^üSüiLsaiai)pon

J. M. PEREIRA DA SILVA.(DOIS VOLUMES.)

Conterá esta obra dous volumes de 400 pa-ginas cada hum. A historia do Brasil, e sualitteratura são nella bem discutidas e analysa-(Ias, as vidas e feitos dos mais illustres Brasi-leiros são apresentados com todo o desenvol-vimento: nella figuram Antônio Pereira deSouza Caldas, Salvador Corroa de Sá e Bena-vídeo, José de Santa Rita Durão, FranciscodeS. Carlos, Visconde de Cayrú, Grego rio deMattos, Thomaz Antônio Gonzaga, Padre Joséde Anchietta, Cláudio Manoel da Costa, Se-bastião da Rouba Pitta, José Basiiio da Gama,Ignacio José Alvarenga Peixoto, Alexandrede Gusmão, Antônio José da Silva, Dr. Joséda Cunha de Azevedo Coutinho, BernardoVieira Ravasco, Manoel Ignacio da Silva Al-varenga, José Bonifácio de Andrade e Silva,José de Souza de Azevedo Pizarro de Araújo,Antônio de Moraes e Silva, Manoel AyrcsdóCasal, e outros muitos Brasileiros queadqui-riram, nome pelas letras e armas. Esta obrahe o resultado de muitos estudos e pesquizado autor; póde-se considerar hum monumentoque se levanta á gloria do seu paiz, tirandodo olvido tantos nomesde illustres Brasileiros,

O preço da subscripção he de G^OÜO réispago no momento daassignatura.—Os nomesdos senhores assignantes serão inseridos nofim da obra. —

Chamamos a attenção dos nossos leitorespara o Plutarco Brasileiro, que o Sr. Dr. J.M. Pereira da Silva, vai publicar. Não se podanegar que he hum grande serviço que o Sr.Pereira da Silva faz ao paiz, tirando do olvidoesses illustres Brasileiros que tanto honraramo seu paiz.

No numero seguinte continuaremos comos Mysterios de Família que por hum obstu-culo não damos neste numero.

ERRATA.

íir N',.*rt,«° as—Limenhas—onde diz i«r. Cabanis, lia-sesir. enavagne.

Page 10: ©i©i@A.®â às se - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00017.pdf · TOMO I. ABRIL DE 1846. X. 17. ÉIÍW ü HlMll inVTnr^rk II REVISTA DEDICADA AS SCIENCIAS,

mSmmBKmÍBÍA NOVA MINERVA.

«MM»»»—»—» i a— cmiaia»ae«aaaB»a3^»»aããSBãi i

ILVI)

<>\*^K JU '%* "

NOTICIAS SGIENT1FICAS.A HOMOEOPATHIA.

BEVIBETE A IIUMCOMMUNICaNTE.Küe lhe diz: « Retira-te rafei, o,Oue vens dar c'osuarizes ..'hum scdeiro.»

J. de Sousa.(CONTINUADO DO NUJtEHO ANTECEDENTE.)

As horas fogem, o tempo voa, a indigna-ção suffoca-me, a paciência falta-me. Pu-bliquei os artigos que o publico tem lidosobre a doutrina homoeopathica, não parainteresse meu, mas para proveito alheio; nãopara sorprehendcr os médicos, mas para con-vidal-os a estudar c único systema de que hepossiel esperar salvação ao menos nas moles-tias chronicas, de quo a heteropathia não hecapaz de curar nem meia; não para destruiro que ha de solido e demonstrado na antigadoutrina heteropathica, que não he pouco,mas para purgal-a dos absurdos que a cons-purcain e que fazem a deshonra da sciencia :não para estreitar o circulo da possibilidademedica, mas para estendel-o. Se o Sr. Scho-lasticus não quer que quando fór medico(que por ora o não he) o tenham por char-latão, em lugar de estar a copiar o que outrosescreveram acerca da homceepathia, segundoagora fez, estude a sciencia, mate-se, canse-secom ella, pratique-a sem prevenção somentepara examinar o que cila tem de falso ede

verdadeiro; e depois que o tiver feito, decidaconforme o que a sua própria experiência lhetiver mostrado, e não por asserções sem pro-vas nem fundamentos, conforme a praticaordinária cPaquéiles que só sabem repetir oque outrem disse: e se, em lugar de obrardesta maneira, quizer antes merecer o nomede Dr. Sangrado ou de Dr. Purgão, eusope-semuito embora no sangue dos seus doentes,farte-se de dejecções, que eu tudo quantoposso fazer-lhe be desejar-lhe mais saúde doque aquella que os seus doentes hão de tev,e applicar-lho as conhecidas palavras de Mo-íiére no Doente Imaginário :

Milie annis sangret, purguet,Deijaiit i.iflriíii morireEtaddiabolum ire.

HOMOEOPATHIA.O SCHOLASTICTJS AO SB. DO KEVIRETE.

Oninia (luaequc loca tencand sjrtita decenter.

Mal pensávamos nós quando escrevíamosduas palavras em sentido avesso ao autor dos ar-tigos homceopathicos, quehiamos de encontroa hum sendeiro! Entretanto, S. S. disso nosdeu certeza cm sua epigraphe! Se tal nos pas-sasse pela imaginação de certo não nos mete-riamos com semelhante animalejo; e no casode nos approximannos, outra, que não a pen-

Page 11: ©i©i@A.®â às se - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00017.pdf · TOMO I. ABRIL DE 1846. X. 17. ÉIÍW ü HlMll inVTnr^rk II REVISTA DEDICADA AS SCIENCIAS,

10 A NOVA MINERVA.mi iii»n' r¦ 11 mmmm

na, seria a arma empregada. A parte da cpi-

graphe que nos queroffereccr íióslhe agrade-cemose a restituinios toda inteira, porque bemlhe fica. Vamos ao que serve.

Nada de exclamações; nenhuma apostro-

phe; não aturdimos ningsem ; limitamo-nosa apresentar, depois da devida venia, as opi-niõcs dadas e as experiências feitas por innu-meros sábios sobre abomoepathia ; e ao mesmotempo fizemos vér que este systema foi objectode huma these sustentada perante a faculdadede medicina desta corte; e que, em 1836 e37, a Revista Medica muito se occupou da ma-teria: mas S. S. responde com alaridos, gritadeslealdade ! exclama cobardia ! brada quixo-tismo I e nisto cifra-se toda a sua resposta;

pois que a these existe impressa, a RevistaMedica he conhecida de todos, e os jor-naes de medicina estrangeiros correm todasas mãos.

He desleal quem se arma de factos c não doridículo, quem cita autoridades conhecidas enão clama para o povo? He cobarde quemconsultcu sobre vossa partida, e só depois deter certeza que ella não era prompta, e quese poderiam trocar palavras, que consentio naimpressão? Certo que não; e vós não ousarciscontrariar. Ainda mais, senhor, póde-se con-siderar desleal, cobarde, &c, quem, estudau-do, se eleva a conlradictar hum veterano; eque, ainda bisonho no escrever, entra em liçacom hum já amestrado, c que tem por si todohum publico acostumado a bem recehel-o? Aluta parece desigual; mas minhas armas sãoa razão e a experiência ; meus raciocínios fi-lh os d os factos, minha guarda a justiça de causaque pleiteio.

Não cabe o argumento de que são passadosalguns mezes, porque motivos talvez que vósignorais motivassem a minha tardança; tantomais que he sabido no Rio de Janeiro que ai-guem houve que vos respondeu em tempo,mas qne o receio do vosso despejo, risível es-cripto, rafeiro sendeiro que bes, e outros mui-tos argumentos desta espécie, fez sobrestar apublicação. Comtudo, em fevereiro deste mes-

mo anno, a Revista Medica tratou da homer:»-

pathia debaixo do nome de mysticismo; appcl-lidou-a embuste; entretanto vós, que, comomedico, parece deverieis ler o único jornal demedicina publicado no paiz, e ler respondidoao artigo, não com injurias e sarcasmos, mascom argumentos c factos, nada fizestes; pare-ceis mesmo ignoral-o. Emfim, senhor, vimtarde, porém sempre tivestes tempo de res-

ponder-nie, e de que fôrma? !Principiais por huma injuria; captais a

attenção do publico, e dizeis (pie não nego*vossas observações, c que as vou mendigar naEuropa. Pois as sciencias tem paizes; ame-dicina não he a mesma servatis servandis emFrança, Itália, Rússia, Prússia ou Brazil? Setal não he, mal vão os médicos, triste da Im-mauidade; c peior ainda da homoeopathia,que, nascida na Allemanha, filha de humcérebro allemão, não pôde caber n'outrospovos.

Vós mesmos esturlastes a bomccopathia cmParis, e por vosso argumento não a pode-rieis exercitar no Rio de Janeiro. Sentis-tes que não desse apreço a vossos casos cli-nicos: como preferir quatro observações amais de trezentas? Como admittir humadoutrina cuja base he falsa? Já vos disse, se-tihor ; Andral apresentou 130 ou 140 factosque depunham contra o principio da homeco-pathia ; provou que elle e muitos collegastinham tomado os remédios homceopathicossem soffrerem incommodos alguns; logo oprincipio he falso, o remédio não cura por-que faça igual moléstia. Trouxe-vos Gtie,de Bordeaux, que tomou, durante três mezes,a belladona, e nunca soflreu da pelle ougarganta : Double, que tomou quina durantequatro mezes sem ter incommodos intermit-tentes; e mil outros que fizeram a experien-cia para conhecer a certeza do systema, poisque repousa sobre esta única base.

Lede as Revistas médicas Francezas de1835a 1838, o Bolletim Medico de Bordeaux,o Jornal Habdomadario, e todos os jornaesfrancezesde medicina dessa época, e cunhe-

Page 12: ©i©i@A.®â às se - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00017.pdf · TOMO I. ABRIL DE 1846. X. 17. ÉIÍW ü HlMll inVTnr^rk II REVISTA DEDICADA AS SCIENCIAS,

A NOVA MINERVA.

coreis se são falsos os factos que tenho apon-tado. Em os annacs de Ileckcr de 1833,lambem encontrarei» alguma coisa ; e ahise acham as experiências, sempre infelizes,mandavas fazer pelo governo nisso, já no ho:;-pitai de Tultschein, já no da capital, peloDr. Hermann, que era todo homoeopathia.A quina, o sulphato de quinina, os glóbulos(!e t.huya o mercúrio solúvel, beíladona, ar-nica, todos os heroes da homeeopalbia foramdesgraçados! Nenhum produzio moléstias nohomem são, nem curou o homem doente !Repelidas experiências fez Andral, chegou atomar c dar sulphato de quinina cm dosesheteropathicas, sem nada soffrcr. Gue pa-cientemente se poz em resguardo dias antesde começar as experiências, c mal cftmia mi-gas de pão com leite, batatas ou assucar;apezar de todo o escrúpulo, a beíladona nãodeu effeitos escarlatinos !!. . . Isto he lá paraa Europa, cá no Brasil a homoeopathia, bemque filha da outra banda, he coisa muito dif-ferente. Vejamos.

He sabido de todos que nossos avós tinhampor costume roborar o estômago logo aoamanhecer com hum copo de vinho quinado,cosimento de fedegoso, quassia ou café semassucar, que esta usança ainda he seguidanos nossos campos; e entretanto, se os prin-

< ipios homcoopalhicos fossem certos, teríamosde ver os nossos camponezes sempre a tiritaicom maleitas, e os nossos antepassados seriamvictimasde perenncs febres. Se a quina pro-<luz todos os phenomenos da febre intermit-tente, nossos convalescentes a que se receitaesta substancia, passariam a soffrer nova mo-leslia. Se o mercúrio produzisse symptomassypliiliticos, teríamos todos os doentes de pe-ritonites, erysipelas, engorgições glandulares,etc, sempre cm luta com as terríveis con-seqüências de hum tratamento que lhes dariaa sypbilis. Finalmente, não haveria Inglezalgum que não soffresse bubões, ulceras,oxosloscs, dores etc, se o principio bomoco-pa ti co tivesse o vislumbre da veracidade, poisque esta nação faz hum prodigioso uso dos

mercuriaes, especialmente dos calomellanos,que até tomam por deleite. A beíladonahe também administrada na coqueluche, noscirrho uterino, nos espasmos musculares, naepilepsia etc, sem que nenhuma erupçãotenha apparecido ; que o digam os nossospráticos.

Lembrais o gelo, c já huma vczdissestesque o gelo, que fazia curegelar, era entre-tanto o melhor remédio para esta moléstia.Pois bem, se o gelo he quem hade curar aoscnregelados, deixai-os de conserva nas neves,não lhe presteis soecorros, que a seu tempoelles se levantarão curados homceopathica-mente ! !!

Todos quantos estudaram physiologia opathologia sabem, dizeisvós, que os remédiosproduzem no corpo são effeitos análogos; aosque curam. Logo os sábios que tenho citadosão huns ignorantes, nada sabem de patholo-gia nem de physiologia; e suas experiênciassão falsas; entretanto, cilas foram publicas,attestadas por huma academia, como quer'Voltaire;

e o mundo rende-lhes como a ho-mens de huma intelligéncia sublime e cujosescriptos honram o século !

Não attribuis a hum medico o artigo anti-bomoeopathico : fazeis bem, senhor; permiltique, vos considerando apto para juiz noutrasmatérias, rejeite vosso juízo em medicina.Vós avançasles que os medicamentos deverãoser experimentados no homem são, paraclahi tirar-se suas virtudes therapeuticas!Clamaste que era hum julgamento falso efilho da preguiça o dizer-se que a sangria erahum antiphlogislico ! Fizestes mais, gritastesem alto e bom som, que as emissões sangui-noas eram o mais violento irritante que ja-mais tenha obrado sobre a organisação hu-mana I ! !

E sois vós quem escarnece dos conheci-mentos médicos do autor do artigo?! Disseelle em algum tempo: « Nos tratados de phai-« macologia só se encontram noções confusas« e vagas, que só dizem—talvez —; que os« medicamentos são empregados porque sua

Page 13: ©i©i@A.®â às se - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/718610/per718610_1846_00017.pdf · TOMO I. ABRIL DE 1846. X. 17. ÉIÍW ü HlMll inVTnr^rk II REVISTA DEDICADA AS SCIENCIAS,

i-1 A NOVA MINERVA,

« cõr, cheiro ou sabor, estão cm relação« com certos órgãos; que existem medica-« mentos antisepticos; que a gomma arábica« be empregada como agglutinativa; que o« ópio se dá nas insomnias, os drásticos nas« constipações, etc, etc. T

Não senhor, fostcs vós. Também disses-tes que depois da sangria o pulso ficava duro,o systema vascular crescia em energia; e

que as nossas apoplexias eram freqüentes,em razão da prodigalidade das sangrias ! En-tretanto, dizeis que escreveis para os medi-cos; pensais que todos são charlatões. Quemodelo tomastes, vós, senhor? Scholasticus.

P. S. Deixo so farte de dejecções quemcom ellas se entreteve tanto tempo, e cjuetanta matéria achou para entreter-se ; emfim, quem muito se oecupou com os resul-tados estercorarios.

IIOMOEOPATIIIA.

ULTIMO RUXOXÓ AO SR. SCHOLASTICUS.

Cagado, para que queres botas,se tu tens as peruas tortas?

(PHOVBRBIO PORTCGUEZ.)

Sr. Redactor. — Com hum pé no mar ou-tro na terra, quasi como aquelle anjo de quefalia S. João no Apocalypse, me vejo na ne-cessidade de dirigir-lhe ainda estas duas li-nhas a fugir a fugir, porque he preciso dar oultimo ruxoxó ao nosso amigo Scholasticus

que de novo se acha em campo, já que tão so-frego parece de dar cutiladas no vento.

Se o primeiro artigo do nosso communi-cante fazia suspeitar que o homem não eramedico, o segundo faz vér que não só o nãohe, mas que nunca o ha de vir a ser; e a ra-zão he porque lhe falta o senso commum,que he o mais indispensável de todos os ingre-dientes nos professores de huma seiencia que,mais do que nenhuma outra, exige agudezade engenho, segurança de juizo, e, sobretu-do, a faculdade de discernir. Ora lance o lei-tor benevolo os olhos para o segundo artigodo Sr. Scholasticus, impresso no Jornal do

Commercio de hoje, considere-o com attenção,ainda medíocre, e diga-me em sua conscien-cia se me não dá razão ás carradas. Eis-aquicomo o communicante discorre a respeito dahomceopathia :

« Dizem os médicos homcoopathicos que osS3us remédios curam porque tem a próprio-dade de desenvolver no corpo são a* mesmasmoléstias que são capazes de curar no corpodoente. Mas Andral em Paris, e Gué e:n Bor-déos, tendo experimentado em si mesmos dil-ferentes remédios bomoeopathicos, não soffre-ram nenhuma dessas moléstias cujo dcsenvol-vimento cs médicos da mesma crença lhesat-Iribuem. Logo, o principio fundamental dahomceopathia he falso, e falso por consequen-cia todo o systema de medicina a que elle ser-vir de fundamento. »

O' homem, quem quer que hes! Quem foi oanimal com quein aprendesíe lógica, que tenão ensinou que cem factos negativos não po-dem ter força bastante para destruir humúnico positivo? Não vós tu com semelhantemodo de argumentar não ba absurdo nenhumneste mundo que não possa ser transformadoem axioma? Ora, eu vou mostrar-te humexemplo bem palpável disto que digo; re-para bem.

Dizem todos os médicos que as moléstiasvsnereas são contagiosas. Eu digo que não ; eporque? Porque se eu na minha pratica, ccada hum na sua, temos visto,muitos exem-pios de pessoas a quem se não communicou ainfecção, apezar de terem tido commercio compessoas inficionadas, claro está quo he porquea moléstia não podo communicar-se ; donde sesegue que tudo quanto se tem dito e escriptocontra semelhante principio hepura peta. Quevos parece a conseqüência ?

Discorrendo do mesmo modo, poderia oudizer que a febre amarella não he contagiosa,porque quando ella entrou em Barcelona,não attacou senão vinte mil indivíduos, lendoaquella cidade perto de 80 mil habitantes. Eassim nos outros casos.

[Continua.)