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Contratualistas - artigo
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Plinio Pinto Teixeira 1
RESUMO
Na evoluo da espcie humana, em um determinado
momento, por meio da razo que o diferencia de todos os
outros animais e formas de vida, o ser humano descobriu-
se um indivduo nico, capaz de liberdade, vontades e
interesses pessoais sacrificados em funo do dever de
suprir as necessidades de sobrevivncia da espcie.
Tambm pelo uso da razo, passou a ter a percepo de
que alguns dos deveres que lhe eram impostos e
restringiam sua liberdade individual, no decorriam da
necessidade geral do grupo, da defesa do bem comum,
mas da vontade ou arbtrio de outro indivduo do mesmo
agrupamento humano ou bando que, desse modo,
buscava privilgios especiais decorrentes de sua posio
de liderana imposta pela fora e/ou esperteza. Surgiram,
ento, rebelies, substituio de lderes, guerras entre os
diversos agrupamentos e formao de novos grupos. 1 Professor do Curso de Direito do Centro Universitrio UnirG.
v. 4, n. 1, jan-abr/2012, UnirG, Gurupi, TO, Brasil
TEORIAS CONTRATUALISTAS: ALGUMAS CONSIDERAES
Para o entendimento dessa origem dos grupos sociais
surgem as teorias contratualistas, tratadas
bibliograficamente neste artigo.
Palavras-chave: Teorias contratualistas. Hobbes. Locke.
Rousseau.
CONTRACTUALIST THEORIES: SOME CONSIDERATIONS ABSTRACT
In a given time of the evolution, through thinking, which
differentiates us from all other animals and life forms,
humans found them as something unique, capable of
freedom, able to sacrifice their personal wishes and
interests before the duty to fulfill the needs of the species.
Also through the use of thinking, they came to have the
perception that some of the duties imposed to them which
restricted their personal freedom, were not the results of
the general need of the group or the defense of the
common welfare, but the will or whim of another person of
the same human group who, that way sought special
privileges due to their position of leadership imposed by
force and/or cunning. There came up, then, rebellions,
replacing of leaders, wars among the groups and
formation of new groups. In order to understand the
origins of social groups arise the contractualist theories
reviewed in this article.
Keywords: Contractualist theories. Hobbes. Locke.
Rousseau
Rev. Cereus, v. 4, n. 1, p. 44-51, jan-abr/2012, UnirG, Gurupi, TO, Brasil.
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1 INTRODUO
A histria humana comea com
a necessidade, ou seja, em funo de
suas necessidades (fome, desabrigo,
doena etc.); o homem suporta os
deveres que lhe so impostos pela vida
em sociedade. O homem singular,
completamente isolado de seus
semelhantes desde o nascimento,
levando toda uma vida solitria, sem
qualquer contato com outro homem, no
encontrvel na realidade da vida.
Mesmo o homem ermito que,
por opo ou fruto de uma decepo
traumtica de seu relacionamento com
os outros de sua espcie, oculta sua
existncia embrenhado nas profundezas
da selva ou no cume de uma montanha,
para poder existir, necessitou da ajuda
de seus semelhantes ao nascer e nos
primeiros anos de sua vida. O mamfero
humano visto apenas como um animal
frgil: nasce totalmente indefeso e
incapaz de, por si prprio, manter-se
vivo e defender-se contra as agresses
da natureza, de outros animais ou de
seus semelhantes.
Dentro da liberdade que lhes
prpria, os autores da literatura de fico
tm imaginado situaes nas quais o ser
humano vive completamente s e
isolado de seus semelhantes. Menciona-
se algumas: a) Daniel Defoe, escreveu
Robson Cruso, a estria de um
nufrago que foi obrigado a viver isolado
em uma ilha; b) Rudyard Kippling,
escreveu Mowgli, o menino lobo, a
estria de uma criana que viveu na
ndia, cuidada pelos outros animais e
amiga destes; c) Edgard R. Burroughs
escreveu Tarzan, a estria de uma
criana criada por macacos desde a
idade de amamentao e que agia como
fosse um deles; d) Isaac Asimov, no seu
livro A Fundao e a Terra, imaginou a
existncia, em um futuro distante, de um
Planeta designado por Solaria,
colonizado por homens vindo da Terra
que, aps milhares de anos de
experimentos evoluram para um ser
humano completo capaz de, sozinho,
produzir vulos fertilizados, viver por
vrios sculos sem qualquer contato
fsico com seus semelhantes vendo-os
apenas atravs de aparelhos
tecnolgicos cuidado e assistido
apenas por robs desde o nascimento.
Saindo da seara da fico
limitada apenas pela imaginao dos
autores a cincia desenvolveu a teoria
designada teoria evolucionista, segundo
a qual, todo ser vivo tem uma origem
comum e por instinto natural de
sobrevivncia e perpetuao da espcie
os ancestrais do homem, nos
primrdios, viviam em bandos para
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melhor proteger suas fmeas e filhotes,
conseguir alimentos, encontrar abrigo
contra as intempries e defender-se
contra os outros animais ou outros
bandos.
Por esta poca, no alvorecer da
evoluo da espcie humana, em um
determinado momento, por meio da
razo que o diferencia de todos os
outros animais e formas de vida, o ser
humano, embora ainda vivendo em
sociedades primitivas ou selvagens,
descobriu-se um indivduo nico, capaz
de liberdade, vontades e interesses
pessoais sacrificados em funo do
dever de suprir as necessidades de
sobrevivncia da espcie, ou melhor, a
sua prpria sobrevivncia e a de todo
bando ou agrupamento humano.
Entretanto, tambm pelo uso da razo,
passou a ter percepo de que alguns
dos deveres que lhe eram impostos e
restringiam sua liberdade individual, no
decorriam da necessidade geral do
grupo, da defesa do bem comum, mas
apenas da vontade ou arbtrio de algum
outro indivduo do mesmo agrupamento
humano ou bando que, desse modo,
buscava privilgios especiais
decorrentes de sua posio de liderana
imposta pela fora e/ou esperteza.
Surgiram, ento, rebelies, substituio
de lderes, formao de novos
agrupamentos humanos, guerras entre
os diversos agrupamentos humanos. O homem acorreu sempre sociedade, por um impulso natural. Sua natureza , por assim dizer, social, sendo portador de uma espcie de sociotropismo positivo, que o impele inelutavelmente a viver em comum com seus semelhantes. Como dizia Tobias Barreto, "a sociedade a categoria dos homens, como o espao a categoria dos corpos". Da sociedade o homem depende em grande parte e dela tira, via de regra, os seus prprios meios de aprimoramento, quer material, quer moral. O homem fora da sociedade sempre uma abstrao. S o santo ou o doente mental podem prescindir dela, por bona ou por mala natura. O homem normal, porm, jamais pode viver fora dela. Precisa tanto dela, sob o ponto de vista material, como do ar que respira. Por isso, considera-se o homem, desde Aristteles, como animal poltico zoon plitkon. O homem s se "torna" realmente homem dentro da sociedade. (PAUPRIO, 1996). Pode-se afirmar que predomina, atualmente, a aceitao de que a sociedade resultante de uma necessidade natural do homem, sem excluir a participao da conscincia e da vontade humanas. (DALARI, 1995). Sendo a multiplicao do gnero humano, embora lenta e pouco considervel, muito superior aos meios que apresentava a natureza estril e abandonada, para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais numerosas e se cruzavam de mil maneiras, os primeiros homens, at ento selvagens, se viram forados a reunir-se. Formadas algumas sociedades, logo se estabeleceram novas, na necessidade em que se ficou de resistir s primeiras, e assim vieram essas hordas, como tinham feito os indivduos, num contnuo estado de guerra entre si. As leis foram as condies que reuniram os homens, a princpio independentes e isolados, sobre a
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superfcie da terra. (BONESANA, 1959, p. 17).
2 O ESTADO NATUREZA
Norberto Bobbio, na obra Direito
e estado no pensamento de Emmanuel
Kant (1995, p. 125) indaga: possvel
que os jusnaturalistas fossem to
ingnuos em acreditar que o estado de
natureza, ou seja, um estado no qual os
homens teriam vivido isolados e fora de
qualquer lei, tivesse realmente existido?
Os jusnaturalistas, para dizer a verdade,
no eram to ingnuos. O mesmo autor,
em outro de seus escritos, esclarece: A hiptese do estado de natureza - enquanto estado pr-estatal ,em alguns escritores, at mesmo pr-social -era uma tentativa de justificar racionalmente, ou de racionalizar, determinadas exigncias que se iam ampliando cada vez mais; num primeiro momento, durante as guerras de religio, surgiu a exigncia da liberdade de conscincia contra toda forma de imposio de uma crena (imposio freqentemente seguida de sanes no s espirituais, mas tambm temporais); e, num segundo momento, na poca que vai da Revoluo Inglesa Norte Americana e Francesa, houve a demanda de liberdades civis contra toda forma de despotismo. O estado de natureza era uma mera fico doutrinria, que devia servir para justificar, como direitos inerentes prpria natureza do homem (e, como tais, inviolveis por parte dos detentores do poder pblico, inalienveis pelos seus prprios titulares e imprescritveis por mais longa que fosse a durao de sua violao ou alienao), exigncias de liberdade provenientes dos que lutavam contra o dogmatismo das Igrejas e contra o autoritarismo dos Estados. A realidade de onde
nasceram as exigncias desses direitos era constituda pelas lutas e pelos movimentos que lhes deram vida e as alimentaram: lutas e movimentos cujas razes, se quisermos compreend-las, devem ser buscadas no mais na hiptese do estado de natureza, mas na realidade social da poca, nas suas contradies, nas mudanas que tais contradies foram produzindo em cada oportunidade concreta. (BOBBIO, 1992, p.74).
Para Afonso Arinos de Melo
Franco (1987, p.21). Realmente, muito
do que antes se considerava ao
humana condicionada ao princpio da
liberdade, no o era. O que aparecia
como liberdade era antes privilgio de
um grupo e resultava em opresso e
misria para outro grupo, muito maior.
3 O CONTRATO SOCIAL
Na Idade Mdia eram poucos os
leigos que sabiam ler e escrever; a
cultura era dominada pelo clero; calcada
em justificaes encontradas em
passagens da Bblia o Profeta fez o
Sol parar para fazer passar o Povo de
Deus; Deus fez o Homem a sua imagem
e semelhana e, por esta razo, no
poderia coloc-lo para viver em outro
local que no fosse o Centro do
Universo etc predominava a chamada
Teoria do Teocentrismo (Deus como o
centro do Universo).
Pode-se dizer que a chamada
Teoria Contratualista surgiu aps a
RodrigoDestacarRodrigoDestacarRodrigoDestacarRodrigoDestacarRodrigoDestacarRodrigoRetnguloRodrigoRetnguloRodrigoRetnguloRodrigoRetnguloRodrigoLinhaRodrigoLinhaRodrigoLinhaRodrigoLinhaRodrigoLinhaRodrigoLinhaRodrigoLinhaRodrigoLinhaRodrigoLinhaRodrigoLinhaRodrigoLinhaRodrigoLinhaRodrigoLinhaRodrigoLinhaRodrigoLinhaRodrigoLinhaRodrigoLinhaRev. Cereus, v. 4, n. 1, p. 44-51, jan-abr/2012, UnirG, Gurupi, TO, Brasil.
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Idade Mdia, se desenvolveu na Idade
Moderna entrando por 1800, e sofreu a
influncia da filosofia racionalista que
procurava substituir a f pela razo
humana (Iluminismo) para justificar a
origem do poder estatal soberano.
A palavra Estado, utilizada no
sentido que hoje empregada (nao,
ou sociedade organizada poltica e
juridicamente), foi utilizada pela primeira
vez por Maquiavel no incio do seu livro
O Prncipe (1513), no qual a palavra
Estado lida logo na primeira frase:
"Todos os Estados, todos os poderes
que exerceram ou exercem o governo
sobre os homens foram ou so
repblicas ou principados." (FRANCO,
1987; BONESANA, 1959).
Para os contratualistas, a origem
do Estado remonta a um pacto ou
contrato originrio, fundado na
necessidade que tem cada homem de
abrir mo de parte de sua liberdade
Individual, aceitar os deveres que forem
impostos pelo Poder Soberano,
"encarregado pelas leis do depsito das
liberdades e dos cuidados da
administrao". (BONESANA, 1959, p.
32).
Sobre o pacto ou contrato
originrio, Emanuel Kant (apud BOBBIO,
1992, p. 124 e 125) observou: Esse contrato , pelo contrrio, uma simples
idia da razo, mas que tem sem dvida a sua realidade (prpria): ou seja, a sua realidade consiste em obrigar cada legislador a fazer leis como se estas precisassem derivar da vontade comum de todo um povo e sem considerar cada sdito, uma vez que quer ser cidado, como se ele tivesse dado o seu consenso para uma tal vontade.
3.1 PRINCIPAIS FILSOFOS 3.1.1 Thomas Hobbes Absolutismo
"Para HOBBES o homem vive
inicialmente em "estado de natureza",
designando-se por esta expresso no
s os estgios mais primitivos da
Histria mas, tambm, a situao de
desordem que se verifica sempre que os
homens tm suas aes reprimidas."
(DALLARI, 1995, p. 10).
"No Estado Natureza, se dois
homens desejarem uma mesma coisa,
no h nada que impea que eles se
tornem inimigos entre si, e eles
procuram um destruir o outro, e assim,
no estado da Natureza se instala uma
situao de guerra de todos contra
todos, onde o homem o lobo do
homem. E a vida do homem se torna
solitria, pobre, srdida, embrutecida e
curta." (MALMESBURY, 1983).
Da necessidade de conter o
estado de guerra contra todos, surge a
RodrigoDestacarRodrigoDestacarRodrigoDestacarRodrigoDestacarRev. Cereus, v. 4, n. 1, p. 44-51, jan-abr/2012, UnirG, Gurupi, TO, Brasil.
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necessidade do Contrato Social, um
Poder Absoluto que vise a paz. Apesar de suas paixes ms, o homem um ser racional e descobre os princpios que deve seguir para superar o estado de natureza e estabelecer o "estado social". HOBBES formula, ento duas leis fundamentais da natureza, que esto na base da vida social e que so as seguintes: a) cada homem deve esforar-se pela paz, enquanto tiver a esperana de alcana-la; e quando no puder obt-la, deve buscar e utilizar todas as ajudas e vantagens da guerra; b) cada um deve consentir, se os demais tambm concordam, e enquanto se considere necessrio para a paz e a defesa de si mesmo, em renunciar ao seu direito a todas as coisas, e a satisfazer-se em relao aos demais homens, com a mesma liberdade que lhe for concedida com respeito a si prprio. (DALLARI, 1995, p. 12-13).
Hobbes racionaliza a evoluo
do Estado Natureza, atravs do Contrato
Social, para o Poder absoluto
absolutismo.
3.1.2 John Locke Liberalismo
Por seu turno, o antiabsolutista
John Locke, descreve o Estado de
Natureza como um Estado de Liberdade
e Igualdade: no um Estado de
Licenciosidade; um Estado regido pela
razo natural.
Mas, apesar de natural, a razo
pode ser contrariada pelos apetites e
interesse que ameaam o Estado da
Natureza que poder transformar-se em
Estado de Guerra. Assim, antes, que isto
viesse ocorrer, o homem temendo
perder os seus Direitos Naturais
(liberdade, igualdade e propriedades),
iluminado por uma lei (lei da razo
natural), levado consentir na
formao de uma sociedade poltica,
com um Poder Soberano,
exclusivamente para garantir e proteger
os direitos naturais.
Para LOCKE (1983), o Poder
Soberano s se justifica e s deve ser
aceito se for para garantir os Direitos
Fundamentais (liberdade, igualdade e
propriedades) e, se o Poder Soberano
se desviar de sua finalidade de garantia,
ele deve ser deposto atravs de uma
revoluo pois, o fundamento dos
direitos humanos a natureza do
homem e no o Poder Soberano.
Desse modo, o Poder Soberano
confiado aos Governantes, regido por
uma relao de confiana, limitado
pelo seu objetivo de proteger os Direitos
Fundamentais e, se estes Governantes
no visarem o bem pblico, trarem a
relao de confiana, permitido aos
governados, em ltima instncia, o
Direito Insurreio a fim de retirar
aqueles Governantes e confiar o Poder
Soberano a outrem. O objetivo do governo o bem dos homens. E o que melhor para eles? Ficar o povo exposto sempre vontade ilimitada da tirania, ou os governantes terem algumas vezes de sofrer oposio quando
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exorbitam no uso do poder e o empreguem para destruio e no para a preservao das propriedades do povo? [...] Estou certo, porm, do seguinte: quem quer que, governante ou sdito, empreende pela fora invadir os direitos do prncipe ou do povo e pe as bases para derrubar a constituio e estrutura de qualquer governo justo altamente responsvel pelo maior crime de que um homem seja capaz -devendo responder por todos os malefcios de sangue, rapinagem e desolao que a destruio do governo traz ao pas. E quem o faz deve com justia ser considerado inimigo comum e praga dos homens, devendo ser tratado como tal. (LOCKE, 1983, p. 124).
Ainda, Locke empregava o
conceito de propriedade num sentido
muito amplo (tudo o que pertence a cada
indivduo, ou seja, sua vida, sua
liberdade e seus bens); considerava o
Legislativo o poder supremo ao qual
deveria subordinar-se tanto o executivo
quanto o federativo (encarregado das
relaes exteriores).
3.1.3 Jean-Jacques Rousseau Democracia
Rousseau preconiza a
Democracia direta ou participativa,
mantida por meio de assembleias
frequentes de todos os cidados. O
Homem, atravs do Contrato Social,
toma o Poder Soberano das mos do
Rei e o passa para o Povo que o exerce
em direo ao bem comum.
O homem nasceu livre e por toda parte ele est agrilhoado. Aquele que se cr senhor dos outros no deixa de ser mais escravo que eles. [...] A passagem do estado de natureza ao estado civil produz no homem uma mudana considervel substituindo em sua conduta o instinto pela justia e conferindo s suas aes a moralidade que antes lhes faltava. S ento, assumindo a voz do dever o lugar do impulso fsico, e o direito o do apetite, o homem, que at ento no levara em conta seno a si mesmo, se viu obrigado a agir com base em outros princpios e a consultar sua razo antes de ouvir seus pendores. Conquanto nesse estado se prive de muitas vantagens concedidas pela natureza, ganha outras de igual importncia: suas faculdades se exercem e se desenvolvem, suas idias se alargam, seus sentimentos se enobrecem, toda a sua alma se eleva a tal ponto que, se os abusos dessa nova condio o desagradassem amide a uma condio inferior quela de que saiu, deveria bendizer sem cessar o ditoso instante que dela o arrancou para sempre, transformando-o de um animal estpido e limitado num ser inteligente, num homem. (ROUSSEAU,1989, p. 9 e 24).
Enquanto Soberano o Povo
ativo e cada homem considerado
Cidado. Mas h tambm uma
soberania passiva, assumida pelo povo
enquanto Sdito. Ento, o mesmo
homem, enquanto faz a lei, um
cidado e, enquanto a ela obedece e se
submete, um sdito.
Rousseau fazia diferena entre a
Vontade Geral e a Vontade de Todos:
a) Vontade Geral: quando todos
os homens participam da deciso
olhando exclusivamente para o bem
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comum, sem nenhum interesse
coorporativo e, com este esprito pblico
prprio do cidado preocupado com a
coisa pblica, o homem vota se obtm a
vontade da maioria, e a vontade da
maioria torna-se a lei, a qual todos
devem obedecer por ser a Vontade
Geral;
b) Vontade de Todos: vontade
de todos: se todos votam pensando
apenas nos interesses e benefcios
individuais, desprovidos de esprito
pblico, se obtm a maioria das
vontades particulares que a vontade
de todos, porque todos votaram, mas
esta vontade no a vontade geral, a
Vontade Soberana. O interesse comum no o interesse de todos, no sentido de uma confluncia dos interesse particulares, mas, o interesse de todos e de cada um enquanto componentes do corpo coletivo e exclusivamente nesta qualidade. Da o perigo de predominar o interesse da maioria, pois se sempre possvel conseguir-se a concordncia dos interesses privados de um grande nmero, nem por isso assim se estar atendendo ao interesse comum. (ROUSSEAU, 1989, p. 49).
Rousseau restaura a palavra
democracia, o governo do povo para o
povo em direo e em defesa do bem
comum, que reconhece o homem como
um ser superior, capaz de autonomia e
liberdade, submisso a uma lei que o
prprio homem ergueu acima de si
mesmo, superando toda a
arbitrariedade.
4 A SEPARAO DOS PODERES
Ao procurar descobrir as
relaes que as leis tm com a natureza
e o princpio de cada governo,
Montesquieu desenvolveu a teoria da
separao dos poderes, segundo a qual,
embora o Poder Soberano seja uno,
para evitar abusos do uso indevido
desse poder concentrado nas mos de
um s -e como s o poder freia o poder -
o Poder Soberano deve ser exercido
atravs de Trs Poderes distintos,
independentes e harmnicos entre si.
(MONTESQUIEU, 1993). Kant, considerando a separao dos poderes como elemento caracterstico do estado republicano, ou seja, do estado no-desptico, aceita no seu sistema um outro princpio fundamental da tradio liberal. [...]. Cada Estado contm em si trs poderes, ou seja, a unidade da vontade geral se decompe em trs pessoas (trias poltica); o poder soberano (a soberania), que reside na pessoa do legislador; o poder executivo, na pessoa que governa (em conformidade s leis); e o poder judicirio (que determina para cada um o seu, segundo a lei) na pessoa do juiz. [...] ele v essa ligao como uma relao complicada, que poderamos definir como distino na unidade. E de fato, ele diz que esses poderes so em primeiro lugar coordenados entre si, no sentido de que um a complementao necessria dos outros para a perfeio da constituio do Estado; em segundo lugar, subordinados, no sentido de que nenhum pode usurpar as
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funes dos outros dois; em terceiro lugar, unidos, no sentido de que somente por meio da sntese das suas funes singulares dado ao cidado o que lhe pertence de direito." (BOBBIO , 1992, p. 124 e 142).
As ideias de Montesquieu sobre
a separao dos poderes constituem,
ainda hoje, uma das pedras angulares
da ideia de democracia.
5 CONSIDERAO LTIMA A sociedade existe, como dissemos, para servir ao homem. Em consequncia, por imposio da inteligncia, ou seja, por imposio do princpio de que os meios se sujeitam aos fins, cada homem, para poder servir-se da sociedade, est autorizado a exigir do prximo certas aes e certas abstenes, em seu prprio benefcio. Mas isto implica a obrigao, a que se acham sujeitos todos os homens, de praticar certas aes e de abster-se de outras, em benefcio de seus semelhantes. (TELLES JUNIOR, 1980, p. 343).
Sobre o futuro da democracia
escreveu Norberto Bobbio (1986, p. 39-
40): [...] Grande parte da histria humana uma histria de lutas fratricidas. Na sua Filosofia da
histria [...] Hegel definiu a histria como um imenso matadouro. Podemos desmenti-lo? Em nenhuns pais do mundo o mtodo democrtico pode perdurar sem tornar-se um costume. Mas pode tornar-se um costume sem o reconhecimento da irmandade que une todos os homens num destino comum? Um reconhecimento ainda mais necessrio hoje, quando nos tornamos a cada dia mais conscientes deste destino comum e devemos procurar agir com coerncia, atravs do pequeno lume de razo que ilumina nosso caminho.
As experincias havidas com os
regimes totalitrios e ditatoriais de direita
(nazismo e fascismo), ou de esquerda
(comunismo), resultaram em grandes
desastres, amargas lembranas de fatos
que devem ser evitados no futuro da
humanidade.
Boa ou m, a democracia
perdura como o melhor sistema de
governo; nico razovel e possvel em
uma sociedade de homens e mulheres
iguais em dignidade e direitos desde o
nascimento; uma sociedade em que,
alm de Deus, o nico ser superior
admissvel o prprio ser humano.
REFERNCIAS
ASIMOV, Isaac. A fundao e a terra. Rio de Janeiro: Record, 1986. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Traduo de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992. ______. Direito e estado no pensamento de Emmanuel Kant. 3. ed. Braslia: Universidade de Braslia, 1995.
Rev. Cereus, v. 4, n. 1, p. 44-51, jan-abr/2012, UnirG, Gurupi, TO, Brasil.
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______. O futuro da democracia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. BONESANA, Cesare Marques de Beccaria. Dos delitos e das penas. So Paulo: Atena, 1959. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 1995. FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense 1987. LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo, ensaio relativo verdadeira origem, extenso e objetivo do governo civil. 3. ed. Col. Os pensadores. So Paulo: Abril Cultural, 1983. MALMESBURY, Thomas Hobbes. Leviat ou Matria, forma e poder de um estado eclesistico e civil. So Paulo: Abril Cultural 1983. MONTESQUIEU, Charles de Secondat, Baron. O esprito das leis. So Paulo: Martins Fontes, 1993, Livro dcimo primeiro, Captulo VI. PAUPRIO, A. Machado. Introduo cincia do direito. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996. ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social. Traduo de Antonio de Pdua Danesi. So Paulo: Martins Fontes, 1989. TELLES JUNIOR. Goffredo, O direito quntico. 5. ed. So Paulo: Editora Max Limonad.,1980. ___________________ Recebido em: 18 maio 2011 Aprovado em: 17 abr. 2012