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1 Língua Portuguesa 4 Júlio Dieguez Gonzalez GUÍA DOCENTE E MATERIAL DIDÁTICO 2017/2018 FACULTADE DE FILOLOXÍA DEPARTAMENTO DE FILOLOXÍA GALEGA

LÍNGUA PORTUGUESA 4

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Língua Portuguesa 4

Júlio Dieguez Gonzalez

GUÍA DOCENTE E MATERIAL DIDÁTICO

2017/2018

FACULTADE DE FILOLOXÍA

DEPARTAMENTO DE FILOLOXÍA GALEGA

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FACULTADE DE FILOLOXÍA. DEPARTAMENTO DE FILOLOXÍA GALEGA

AUTOR: Júlio Dieguez Gonzalez Edición eletrónica. 2016

ADVERTENCIA LEGAL: Reservados todos os direitos. Fica proibida a duplicación total ou parcial desta ora, en calquer forma ou por calquer meio (eletrónico, mecánico, gravación, fotocopia ou outros) sen consentimento expreso.

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FACULDADE DE FILOLOGIA

Grau em Línguas Modernas: Português

LÍNGUA PORTUGUESA IV

GUIA DIDÁTICO 2014-2015

Professor: Júlio DIEGUEZ GONZALEZ

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I: DADOS DA MATÉRIA

NOME: Língua portuguesa IV

(código G5081242)

TIPO: Matéria obrigatória do módulo de Língua do Grau de Línguas modernas (2º ano)

CRÉDITOS ECTS: 6

DURAÇÃO: Segundo semestre

DESCRITOR: “Continuación del aprendizaje y desarrollo de las competencias necesarias para el buen conocimiento gramatical y léxico del portugués en una vertiente fundamentalmente prática. Ampliación de los conocimientos sobre la historia y geografía del portugués” (BPCMFT de 23/02/81-1).

http://www.usc.es/export/sites/default/gl/servizos/sxopra/descargas/Memoria_Grao_Lenguas_Literaturas_Modernas.pdf

II. DADOS DO PROFESSOR

NOME: Júlio Dieguez Gonzalez

Gabinete: 321

Horário de atendimento: Pendente de Resolução

Línguas: Português

Correio eletrónico: [email protected]

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III. OBJETIVOS

Aquisição de competências avançadas na língua portuguesa atendendo, especialmente, à componente oral e à aquisição do vocabulário e das estruturas sintáticas.

Aquisição de noções gramaticais subordinadas ao objetivo essencial de aperfeiçoar e consolidar a competência comunicativa em português.

Aquisição de competências para a comunicação básica em língua portuguesa.

Aquisição de conhecimentos referentes às variedades do português europeu, brasileiro e africano.

Aquisição de conhecimentos referentes às principais caraterísticas e singularidades das culturas dos países lusófonos.

Aprofundar na aprendizagem e desenvolvimento das competências necessárias para o domínio da gramática e do léxico do português numa vertente fundamentalmente prática.

Aprofundar os conhecimentos sobre a história e a variação gegráfica e social do português.

IV. COMPETÊNCIAS

Aprofundamento das destrezas fonéticas e ortográficas.

Aprofundamento da competência ativa no vocabulário fundamental do português.

Aquisição do sistema verbal e da sintaxe fundamental.

Aquisição de conhecimentos essenciais de tipo gramatical que permitam aprofundar a competência comunicativa em português.

Aquisição de conhecimentos dos aspetos mais importantes das culturas dos países de língua portuguesa.

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V. CONTEÚDOS

a) TEÓRICOS

1. Fonética do português. Relações entre o sistema gráfico e o sistema fonológico. Análise da ortografia do português. O atual Acordo Ortográfico e a sua aplicação nos países de língua oficial portuguesa.

2. O artigo. Usos do artigo com nomes próprios. Usos do artigo com os possessivos.

3. O substantivo. Classificação dos substantivos. As flexões de género e número. Graus dos substantivos.

4. O adjetivo. Classificação. As flexões de género e número. Graus do adjetivo.

5. Os pronomes pessoais, possessivos e demostrativos.

6. Outros pronomes: relativos, interrogativos, exclamativos e indefinidos.

7. Os verbos regulares e irregulares. O pretérito perfeito composto. O futuro do conjuntivo. O advérbio.

8. Preposições, conjunções e interjeições.

9. Aspetos da sintaxe do português: causativas e reflexivas.

10. A coordenação. Subordinação completiva.

11. Orações relativas. Subordinação adverbial.

b) PRÁTICOS

B) Prática: A exposição teórica será seguida da realização de exercícios práticos que visam aprofundar a competência comunicativa em português.

C) OBRAS DE LEITURA:

MELO, João de (2008), Antologia do conto português. Lisboa: Publicações Dom Quixote (4ª ed.).

MEDEIROS, António (2006), Dois lados de um rio. Lisboa: ICS.

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BORROW, George (2006), George Borrow em Portugal: 1835; introdução e notas de António Ventura. Lisboa : Livros Horizonte.

BORDALO PINHEIRO, Rafael (1881), Os Galegos.

VI. BIBLIOGRAFIA BÁSICA Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea (2001) Academia das Ciências de Lisboa, dirigido por João Malaca CASTELEIRO, Lisboa: Editora Verbo. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Editora Objetiva, Rio de Janeiro 2001. FERREIRA, A. Buarque de Holanda, Novo dicionário da língua portuguesa, ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro. LAPA, Manuel Rodrigues, Estudos galego-portugueses, ed. Sá da Costa, Lisboa. LAPA, Manuel Rodrigues, Estilística da Língua Portuguesa, Coimbra Editora, Coimbra. MATEUS, Maria Helena Mira, Ana Maria BRITO, Inês Silva DUARTE e Isabel HUB FARIA (e Sónia FROTA, Marina VIGÁRIO, Fátima OLIVEIRA e Alina VILLALVA), Gramática da Língua Portuguesa. 5ª edição revista e aumentada. Ed. Caminho, Lisboa 2003. MEDEIROS, António (2006), Dois lados de um rio. Imprensa de Ciências sociais, Lisboa. VV.AA. (2004) Grande Dicionário Língua Portuguesa, coordenado por Graciete TEIXEIRA. Porto: Porto Editora. BIBLIOGRAFIA AUXILIAR COIMBRA, Olga Mata LEITE, Isabel Coimbra, Gramática activa 1. Lidel-Edições Técnicas, Lisboa 1995. COIMBRA, Olga Mata LEITE, Isabel Coimbra, Gramática activa 2. Lidel-Edições Técnicas, Lisboa 1997. DIAS, Helena Bárbara Marques, Exercícios e notas gramaticais. Curso básico de português-língua estrangeira. Edições Colibri, Lisboa 1993. LEITE, Isabel Coimbra/COIMBRA, Olga Mata, Português sem fronteiras. Método de português [3 níveis]. Lidel-Edições Técnicas, Lisboa 1989-1995. MONTEIRO, Deolinda/PESSOA, Beatriz, Guia prático dos verbos portugueses. Lidel-Edições Técnicas, Lisboa 1993. Nível Limiar - Para o ensino e aprendizagem do Português como língua estrangeira ou segunda língua. Ministério da Educação/ICALP, Lisboa, 1988. Trabalho inserido no 'Projecto de Línguas Vivas' do Conselho de Cooperação Cultural do Conselho de Europa. PRAÇA, Afonso, Novo dicionário de calão. Editora Notícias, Lisboa 2001. ROSA, Leonel Melo, Vamos lá continuar! Explicações e exercícios de gramática e de vocabulário. Lidel-Edições Técnicas, Lisboa 1998. SILVA, Mendes, Português contemporâneo. Antologia e compêndio didáctico. Instituto de Cultura e Língua Portuguesa/Ministério da Educação e Cultura, Lisboa 1986. TEYSSIER, Paul, Manual de Língua Portuguesa (Portugal-Brasil). Tradução portuguesa de Margarida Chorão de Carvalho. Coimbra Editora, Coimbra 1989.

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VII. METODOLOGIA DO ENSINO Utilizar-se-á uma metodologia que possa garantir a competência ativa na oralidade do português, assim como o domínio pleno da ortografia e de todos os outros aspetos da representação escrita. A metodologia adaptar-se-á inescusavelmente às necessidades específicas dos alunos, e basear-se-á na exigível participação ativa dos mesmos e na responsabilidade partilhada com o professor no sentido de garantir a consecução dos objetivos fixados. Também se procurará a cooperação constante dos alunos no sistema de avaliação. Para manter um contato constante com o português oral há uma série de recusrsos na internet que é aconselhável utilizar: * Os “Jornal da Tarde” da RTP1 (podem encontrar-se através de Google procurando com as palavras "jornal" "da" "tarde" "RTP1"). * Os registos orais do Instituto Camões (podem encontrar-se através de Google procurando com as palavras "história" "língua" "portuguesa" "geografia" "mapa06"); na lista de localidades, a cada número corresponde uma gravação. Para realizar consultas sobre a gramática do português falado, é aconselhável utilizar a página web de Diana Santos, "Português para estrangeiros" http://www.linguateca.pt/Diana/download/portugisisk.html VIII. SISTEMA DE AVALIAÇÃO Considera-se prioritário para efeitos de avaliação as habilidades relativas à oralidade, visando garantir a compreensão e expressão correta em português falado. Para a avaliação são considerados os âmbitos e procedimentos seguintes, por ordem hierárquica de importância: - Exposições orais de trabalhos (4) sobre as leituras obrigatórias - Exames escritos de conteúdos teóricos e competência prática (3) --Teste de verificação de leitura (1) - Teste de transcrição fonética A nota final será a média de oito notas: quatro de provas escritas, três de exposições orais sobre os textos de leitura obrigatória e uma de transcrição fonética. Não se faz média nos casos em que a qualificação é inferior a 4. Nesse caso a nota mais baixa será a nota final. Para a aprovação exige-se alcançar uma média que represente 55% do total da qualificação máxima absoluta. A língua da avaliação será obrigatória e exclusivamente o português.

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A assitência às aulas será registada e tida em conta para os devidos efeitos, em aplicação da “Normativa de asistência a clase” aprovada no “Consello de Goberno” da USC do 25 de Março de 2010, além da normativa específica que a Facultade de Filoloxia estabeleça a este respeito. A realização das actividades não presenciais é condição inescusável para poder realizar a prova final. Na prova final a pessoa pode realizar ou repetir qualquer das partes da avaliação ou a totalidade das mesmas. Na segunda oportunidade a avaliação será feita con critérios idénticos aos da primeira, salvo que a assistência e participação nas aulas será substituída por traballo dirigido não presencial que consistirá em actividades de recuparação. Para garantir a 100% a máxima transparência na avaliação realizar-se-á a gravado de audio das provas orais, que serão realizadas no tempo de aulas e em presença da totalidade da turma. IX. DISTRIBUIÇÃO DO TRABALHO Atividades presenciais: Sessões expositivas: 35 horas Apresentações orais dos alunos na sala de aula: 15 horas Tutoria programada: 4 horas Sessões de avaliação: 6 horas Atividades não presenciais: Estudo e preparação das atividades programadas da aula: 25 horas Realização de trabalhos: 35 horas Leituras: 5 horas Preparação de exames: 20 horas Outras actividades: 5 horas Ante qualquer dúvida consultar na página do XOPRA: http://www.usc.es/export /sites/default/gl/servizos/ sxopra/descargas/Memoria_Grao_Lenguas_Literaturas_Modernas.pdf Ver páginas 147-148

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X. CALENDÁRIO DE ATIVIDADES DA MATÉRIA No seguinte quadro mostra-se a distribuição de horas previstas para cada atividade:

ATIVIDADES

HORAS

PRESENCIAIS

HORAS DE TRABALHO AUTÓNOMO

TOTAL

Sessões expositivas

35 25 Estudo e preparação das atividades programadas da aula

60

Apresentações orais dos alunos na sala de aula

15 15

Tutoria programada

4 4

Sessões de avaliação

6 6

Realização de trabalhos

25 25

Leituras obrigatórias

25 25

Preparação de exames

15

15

TOTAL 60 90 150 CALENDÁRIO PREVISÍVEL DAS ATIVIDADES PRESENCIAIS Chave da tipologia de atividades: AP= aula prática; AT= aula de teoria; ETP= exame teórico-prático; ATE= Atendimento tutorial especializado. TD =Trabalho dirigido; EL=Exame sobre obra de leitura E= Exame teórico-prático

FEVEREIRO 2018 Horas de aulas de teoria (temas 1, 2 e 3) 5 AT Horas de aula de prática (temas 1, 2 e 3) 10 AP Ler a 1ª obra de leitura obrigatória 4 TD + 1 EL Exame teórico-prático dos temas 1 a 3 2 ETP Prova de exposição oral sobre obra nº 1 de leitura obrigatória

3 EL

11

MARÇO 2018 Horas de aulas de teoria (temas 4, 5 e 6) 5 AT Horas de aula de prática (temas 4, 5 e 6) 10 AP Ler a 1ª obra de leitura obrigatória 4 TD + 1 EL Exame teórico-prático dos temas 1 a 6 2 ETP Prova de exposição oral sobre obra nº 1 de leitura obrigatória

3 EL

ABRIL 2018 Horas de aulas de teoria (temas 7, 8, 9) 3 AT Ler a 2ª obra de leitura obrigatória 4 TD + 1 EL Horas de aula de prática (temas 7 , 8, 9) 6 AP Prova de exposição oral sobre obra nº 2 de leitura obrigatória

3 EL

MAIO 2018 Horas de aulas de teoria (temas 10 a 11) 4 AT Horas de aula de prática (temas 10 a 11) 8 AP Ler a 3ª obra de leitura obrigatória 4 TD + 1 EL Prova de exposição oral sobre obra nº 3 de leitura obrigatória

3 EL

Exame teórico-prático dos temas 7 a 11 2 ETP Prova final 2 ETP

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Anexo I

Tema 1. Fonética do português. Relações entre o sistema gráfico e o sistema fonológico. Análise da ortografia do português. O atual Acordo Ortográfico e a sua aplicação nos países de língua oficial portuguesa.

1.1. Sons consonânticos de variedades não padrão do Português europeu

Dialetos alto-minhotos e transmontanos

Caraterizam-se pela existência de um sistema complexo de quatro sibilantes que

conserva um estado de língua anterior ao do padrão atual. Essas consoantes são /s̠/, /z̠/,

/s/ e /z/, ou seja, duas consoantes com articulação apicoalveolar e duas consoantes com

realização predorsodental. São quatro consoantes que a ortografia do português

representa, por grafemas diferentes. As correspondências são as seguintes: o [s̠]

corresponde a s– inicial de palavra e a –ss– gráficos; o [z̠] corresponde a –s–

intervocálico gráfico; o [s] corresponde a c (seguido de e, i) e a ç (seguido de a, o, u); o

[z] corresponde a z gráfico em posição inicial de palavra ou medial inicial de sílaba.

Em 1574 vem a lume a obra de Pero de Magalhães de Gândavo, Regras que

ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa: com hum

Dialogo que adiante se segue em defensam da mesma lingua. Nesta obra figura a

confirmação explícita de que a oposição entre apicais e predorsodentais já não era

regular no sistema fonológico de um grande número de utentes das regiões meridionais

do reino (1574: [9]):

De como se há de fazer diferença na pronunciação de algũas letras em que muitas pessoas se costumão enganar AS LETRAS que se costumão muitas vezes trocar hũas por outras, & em que se cometem mais vícios nesta nossa linguagem, são estas que se seguem, conuem a saber, c, s, z, & isto nace de não saberem muitos a diferença que há de hũas ás outras na pronunciação. E assi há nesta parte erros tão manifestos, e tambem recebidos de algũas pessoas, que cuidam que dous ss, em meyo de parte, tem muito mais semelhança de z que de c, no que totalmente se enganão, porque dous ss, tem mais semelhança de c, que de z, assi como remissão, profissão. E hum mais de z, que de c (digo em meyo de dição entre duas vogaes) assi como casa, peso, &c.

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Como indica Paul Teyssier (cf. Ivo Castro 2006: 190), Pero de Magalhães de

Gândavo era natural de Braga e, por isso mesmo, sensível à distinção antiga entre as

sibilantes (1574: [10-11]):

Mas ainda que isto assi pareça, nem por isso terão licença de pôr c, em lugar de s, nem s, em lugar de c, nem z, em lugar de s, nem s, em lugar de c, porque na verdade seria corromperem a verdadeira pronunciação dos vocábulos, & muitas vezes significar hũa cousa por outra, assi como passos, que se escrevem com dous ss, quando significam os que se dão com os pês, & paços quando se entendem pelas casas reaes com c. Não surpreende, tendo em conta que se trata de um autor do século XVI, a

concepção unitária da palavra como signo ao mesmo tempo oral e escrito, e a

consideração de que os dois significados do termo se manifestam através das formas

diferentes de grafá-lo, como se se tratasse de termos polissémicos; acrescenta ainda

(1574: [10-11]):

E outros algũs nomes & verbos há, que não tem outra diferença na significação, se não escreverem-se com s, ou com c, ou com z, assi como cozer que se escreue com z quando he por cozinhar algũa cousa em fogo, & coser com s quando he por coser com agulha. Tambem ceruo se escreue com c quando he pelo veado, e seruo com s quando se entende pelo escrauo. E assi tambem cella com c quando se toma pelo aposento do religioso, & sella com s, quando significa a que se poem no cauallo. E porque de todas estas diversidades de vocábulos que ha em nossa língua, se não podem fazer regras geraes pera se conhecer com que letras se hão de escrever, he forçado que todos os escrivães que nesta parte quiserem ser perfectos, tenham algum conhecimento de latim, ou ao menos conheção a diferença que ha na pronunciação do c, ao s, e do s, ao z, porque se cairem nella, com mais facilidade poderão vedar muitos erros conforme ao sentido da orelha que nesta parte não he pouco fiel.

Dialetos baixo-minhotos, durienses e beirões O sistema de quatro sibilantes que carateriza os dialetos do Alto Minho e de Trás-

os-Montes, continuador de um estádio de língua antigo, simplifica-se em apenas duas sibilantes, as ápico-alveolares, uma surda e outra sonora [s̠] e [z̠], que caraterizam os dialetos baixo-minhotos, durienses e beirões. A zona litoral constitui excepção.

Nesta vasta área, passo e paço pronunciam-se da mesma maneira, ['pas̠u], coser e

cozer também coincidem na pronúncia em [ku'z̠er]. (Tomado de Segura 2003)

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Mapa tomado de P. Teyssier 1990

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Mapa de Mateus, Maria Helena Mira, e Bacelar do Nascimento, F. (orgs.) 2005: 21. Ausência de distinção fonológica entre /v/ e /b/ Ausência de distinção fonológica entre /v/ e /b/, em proveito de /b/, pronunciado

quer oclusiva, quer fricativamente ([b] e [β], respetivamente): ['bẽntu] por vento, ['faβX] por fava, própria do Norte do país e que, sentido como fortemente dialetal, leva a ultracorrecções fazendo surgir v em palavras em que não devia existir (como vom por bom, voi por boi). Este fenómeno ocupa uma área a norte de uma linha que parte da costa, na Beira Litoral, a norte da Figueira da Foz em direcção a sudeste, passa a sul de Coimbra, para infletir depois para norte, pelo centro do território, até ao rio Douro, que atravessa, continuando, depois, para leste até à fronteira. Este fenómeno ocorre igualmente numa ilhota a norte de Lisboa, perto do litoral. (Tomado de Segura 2003).

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1.2. O [s] surdo e o [z] sonoro na ortografia portuguesa A primeira dificulade da fonética do português procede da existência de dois tipos

de “s”: o surdo [s] e o sonoro [z]. [s] e [z] são os símbolos fonéticos que se utilizam para transcrever, ou seja, para

indicar qual é a pronunciação concreta das palavras. Usamos os colchetes [] para indicar que não estamos a escrever a palavra ortográfica, mas a representação de como se diz, portanto a forma fonética; assim, a palavra “casa”, que se escreve igual em português e em espanhol (ortograficamente), pronuncia-se diferente:

A PALAVRA “CASA”

Ortografia espanhola “casa” Ortografia portuguesa “casa” Pronúncia espanhola [kása] Pronúncia portuguesa [káza]

Conclusão: em espanhol pronuncia-se com [s] (esse surdo), e em português com

[z] (esse sonoro) O [z] (esse sonoro) tem o mesmo som que o “s” das palavras espanholas “mismo”

ou “desde”: pode-se comprovar pronunciando devagar e pondo a mão na garganta: as cordas vocais vibram ao pronunciar esse “s”, por isso é sonoro.

Vejamos agora um pequeno quadro comparativo da pronúncia espanhola e

portuguesa:

A PALAVRA “CAÇA” Ortografia espanhola “caza” Ortografia portuguesa “caça” Pronúncia espanhola [káɵa] Pronúncia portuguesa [kása]

Conclusão: A palavra portuguesa “caça” (atividade dos caçadores) pronuncia-se

com “s” surdo, ou seja, o som é idêntico ao da palavra espanhola “casa”. Pelo contrário, a palavra portuguesa “casa” (morada) que se escreve igual que em espanhol, pronuncia-se de forma diferente: em português soa [káza], com “s” sonoro, que em espanhol não é distintivo, não é relevante, só surge (de forma inconsciente) antes de algumas consoantes, como sucede nas palavras “mismo” ou “desde”.

A distinção ortográfica segue exatamente o mesmo sistema que o erre forte e o

ere suave ([R] e [ɾ]): O [R] escreve-se:

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-----------Um “r” só no começo da palavra: roda -----------Um “r” só depois de consoante: honra -----------Dois “rr” no meio de duas vogais: carro O [ɾ] escreve-se: -----------Um “r” só no meio de duas vogais: caro -----------Um “r” só nos grupos consonânticos: entra -----------Um “r” só no fim da palavra: contar a história O [s] surdo escreve-se: -----------Um “s” só no começo da palavra: sócio, sinto -----------Um “s” só depois de consoante: penso -----------Dois “ss” no meio de duas vogais: passo (movimento que se faz ao

andar) -----------Um “c” antes de “e” ou “i”: cedo, cinto -----------Um “ç” antes de “a”, “o” ou “u”: paço (palácio), raça

(subespécie), açúcar (alimento de sabor agrável) O [z] sonoro escreve-se: ---------Um “s” só no meio de duas vogais: casa, mesa, rosa, coser ---------Um “s” só no fim da palavra: as histórias (quando a palavra seguinte

começa por vogal o –S final pronuncia-se sonoro) ---------Um “z”: rezar, zero, fazer, dizer, cozer (cozinhar)

Muito importante: No português não existe o som [›] (do espanhol “caza” [ká›a])

Para entender as diferenças entre o espanhol e o português é importante ter em

conta que na época medival ambas as línguas tinham quatro classes de sibilantes (esses):

[ts] cinto [dz] cozer [s]

sinto/siento [z] coser

No espanhol confundiram-se [ts ] e [dz] > [θ] (cinto=cozer) por uma parte, e [s] e [z] por outra (siento =coser)

No português confundiram-se [ts] e [s] > [s] (cinto=sinto) por uma parte, e [dz] e

[z] por outra (coser=cozer) Por isso no português paço (palácio) pronuncia-se igual que passo (movimento

que se faz ao andar), ambos com [s] surdo, e coser (costurar) pronuncia-se igual que cozer (cozinhar), ambos com [z] sonoro.

1.3. A pronúncia do X e do dígrafo qu

A letra X (“xis”) tem os seguintes valores fonológicos:

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A) [z] (=‘s sonoro’) nas palavras começadas por ex + vogal: exército, exemplo,

etc. Casa [kaza] exercício [izersísiu] B) É marca de ditongo nas palavras começadas por ex + consoante, e em outras

como texto, sexto, têxtil, etc.: explosão: [eixpluzãw] C) pronuncia-se [ks] em muitas palavras: sexo, fixo, reflexo, perplexo, crucifixo,

prolixo, prefixo, sufixo, etc. QU pode ser: A) Um grupo de duas letras autónomas: tranquilo, tranquilidade, equitativo,

equidade, equino, etc. B) Um dígrafo: questão, questionário, quem, etc.

C) Nunca é dígrafo quando lhe segue “a”: kwatru>katru, kw̃X̃ndo>kandu, kwal>kal1

1.4. O “a” fechado Quando o /a/ é tónico e a sílaba seguinte começa por consoante nasal o “a” pronuncia-se fechado: A cama = [ɐ kɐmɐ]; a lama= [ɐ lɐmɐ]; a rama =[ɐ Rɐmɐ]; a montanha =[ɐ mõtɐɲɐ]; o exame = [u izɐmv]; etc. Quando uma vogal leva uma consoante nasal no fim da sílaba, a vogal converte-se em nasal e a consoante desaparece:

O campo = [u kɐ ɶpu]; o santo= [u sɐɶtu]; o vento =[u vẽtu]; o monte =[u mõtɨ] Quando uma palavra terminava em vogal nasal tónica no português antigo, essa vogal converteu-se num ditongo nasal:

Ele vem [elɨ vɐɶȷ]̃

Ela vem [elɐ vɐɶȷ]̃

A mãe [ɐ mɐ ɶȷ]̃

O pão [u pɐɶw̃]

O cão [u kɐ ɶw̃] Quando o /a/ é átono, é (quase) sempre fechado:

1 Redução de /wa/ a /a/: catro, gardar, etc. Ocorre no Centro de Portugal (região de

Coimbra, Trás-os-Montes, Beira) e sobretudo no falar minhoto, onde é um traço geral.

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A cama = [ɐ kɐmɐ]; a lama= [ɐ lɐmɐ]; a rama =[ɐ Rɐmɐ]; a montanha =[ɐ mõtɐɲɐ]; etc. Quando uma vogal /e/ tónica vai seguida de “nh”, “lh”, “ch”, “x”, “g” ou “j” (consoante palatal), pronuncia-se [ɐ]:

A lenha [ɐ lɐɲɐ]; A igreja [ɐ igrɐ¥ɐ]; A telha [ɐ tɐʎɐ]; O fecho [u fɐʃu]]; O espelho [u ʃpɐλu]; O coelho [u kuɐλu]; A cerveja [ɐ sɨrvɐʒɐ].

2. AS REGRAS DE ACENTUAÇÃO

Os acentos são de três tipos: A) Agudo (´), indica que a vogal é tónica. As vogais i e u só podem levar esta clase de acento. Quando o acento agudo vai sobre as vogais a, e ou o indica que a vogal é tónica aberta. B) Circunflexo: indica vogal tónica fechada e só se utiliza com as vogais a, e e o. C) Grave: indica vogal aberta átona e só se utiliza com a vogal a nas contrações; no Brasil é um acento puramente diacrítico que não revela nenhuma particularidade fonética.

O acento grave só aparece nas seguintes palavras: à, às (contração de preposição a com o artigo definido feminino). àquele, àqueles, àquela, àquelas, àquilo (contração de preposição a o demonstrativo).

Regras de acentuação

1. Acentuam-se todas as palavras agudas terminadas em a, e ou o tónicos, seguidos ou não de -s. Também se a palavra for monossilábica. Exemplos:

há, hás, atrás, pé, só, avô, nós

2. As palavras unidas com traço são independentes no que diz respeito à acentuação:

dá-lo (darlo), fê-lo, contá-lo, conta-lo

3. As palavras agudas polissilábicas terminadas em -ém, -éns levam acento, mas não se forem monossilábicas:

alguém, também, parabéns Mas: quem, cem, bem

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4. As palavras esdrúxulas acentuam-se sempre. Os ditongos crescentes finais átonos computam-se para efeitos de acentuação como duas sílabas, de modo que as palavras que têm depois da silába tónica um ditongo crescente átono também se consideram esdrúxulas:

árabe, autêntico, óptimo, contemporâneo mágoa, próprio, férias, água, língua, história, ciência

5. As sequências vocálicas -eio, -eia não formam ditongos crescentes. A divisão

silábica é ei-o, ei-a, por isso as palavras com estas sequências vocálicas não se acentuam nunca na norma de Portugal:

passeio, areia, europeia

Na norma do Brasil acentuam-se quando a vogal do ditongo é aberta: assembléia, idéia, européia, alcatéia, atéia, colméia.

6. Acentuam-se todas as palavras graves terminadas nas vogais i ou u, seguidas

ou não de -s: lápis, táxi, ânus, júri, Vénus (Port.) / Vênus (Bras.), bónus (Port.) / bônus (Bras.) 7. Na norma de Portugal acentuam-se as formas da 10 pessoa do plural do

pretérito perfeito simples da primeira conjugação para indicar a diferença com a pessoa correspondente do presente do indicativo:

andamos (presente) / andámos (pretérito perfeito)

8. Acentuam-se as palavras graves terminadas em consoante l, n, r, x, z e ps: amável, hímen, cálix, bíceps, tríceps

9. Também se acentuam as palavras graves terminadas em -um, -uns:

álbum, álbuns

10. Também se acentuam as palavras graves terminadas em ditongo oral decrescente:

variáveis, móveis, fáceis

11. Quando o a vogal tónica é representada com til de nasalidade o til cumpre duas funções simultaneamente: indicar a nasalidade e a tonicidade da vogal:

maçã, põe, irmão

12. Se a sílaba tónica não for a da vogal que tem o til de nasalidade nese caso é necessário acentuar a vogal tónica:

órfão, órfã, bênção, sótão, etc.

13. Acentuam-se as vogais i e u tónicas quando estão em hiato com outra vogal que as precede:

aí, saúde, país, juízo, raízes, saírem Exceptuam-se os casos em que a vogal vai seguida das consoantes travantes l,

m, n, r, z, ou da consoante não travante representada pela grafia nh: paul, juiz, ruim, contribuinte, ainda, raiz, cair, sair

Também se exceptuam os casos de ui precedido de vogal:

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pauis, contribuiu, saiu Não se acentuam i e u tónicos em hiato com uma vogal posterior:

rio, rua, lua, sabia, via, tua, tia, havia

14. Acentuam-se os ditongos éu, éi, ói quando são tónicos e as vogais correspondentes são abertas:

céu, véu, paranóico, herói, lençóis, bacharéis

15. Acentuam-se algumas palavras tónicas para distingui-las de outras átonas, e algumas em que é preciso indicar o timbre da vogal tónica:

pára (verbo) para (preposição) dá, dás (verbo) da, das (de+a, de+as) pôr (verbo) por (preposição) pêlo (nome); pélo (verbo) pelo (por+o) péla, pélas (verbo pelar) pela, pelas (por+a, por+as) dêmos (conj. de dar) demos (pretérito perfeito) pôde (pretérito de poder) pode (presente de poder)

3. USO DE PORQUE, POR QUE, PORQUÊ E POR QUÊ

PORQUE a) Conjunção subordinativa causal

b) Conjunção subordinativa explicativa c) Advérbio interrogativo de causa

a) não saio porque está a chover b) ela deve estar contente, porque está a rir c) porque saíste?; porque trocou a Maria a minha prenda?

POR QUE a) Preposição + pronome relativo b) Preposição + pronome interrogativo

a) a mudança por que o Paulo ansiava ocorreu (=pela qual) b) Por que trocou a Maria a minha prenda?; por que luta a Maria?

POR QUÊ Preposição + pronome interrogativo “Quê” passa a ser tónico em final de frase; acentua-se antes de ponto final, ponto de interrogação e ponto de exclamação

Ele foi ferido num braço, mas não sabe por quê.

PORQUÊ a) Substantivo masculino b) Advérbio (=por que razão?) Também passa a ser tónico em final de frase; acentua-se antes de ponto final, ponto de interrogação e ponto de exclamação; também é tónico nas interrogativas não finitas

a) Eles deverão explicar os motivos e os porquês; b) Ele está triste e não sabe porquê c) Porquê ir de férias em Fevereiro?

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EXERCÍCIOS 1. Complete com porque, por que, porquê ou por quê: 1. Não sei _____________ ideias luta a Maria. 2. A Joana espera ____________? Talvez pelos resultados do teste. 3. O Chico reprovou, mas não sabe _____________. 4. ____________ vieste? Porque estava cansado de estar lá. 5. O Paulo foi para casa ______________ tem um trabalho para fazer. 6. A mudança ____________ o Paulo ansiava ocorreu. 7. Reafirmou o caráter democrático e pluralista do socialismo _____________ lutam os comunistas portugueses. 8. Não sabemos a razão ____________ o Luís foi para casa. 9. _____________ causa as coisas têm de ser assim? 10. _______________ trocou a Alice a minha prenda? Porque não gostava dela. 11. _______________ vieste? Pelo livro. 12. Não devem encarar de forma ansiosa a situação ________________ deverão passar. 13. _____________ motivo luta o António? 14. ____________ raio as pessoas não escutam os nossos argumentos? 15. ___________ discos trocou a Alice a minha prenda? 16. A razão _____________ em vésperas de Natal se enchem as livrarias de compradores é um mistério. 17. _____________ me lembrei deles? Não sei. 18. Explicou os verdadeiros motivos _____________ se demitiu do partido. 19. _____________ razão deve ser a Procuradoria a pedi-lo? Apenas __________ este relatório põe em causa membros do Governo? 20. _____________ é que os israelitas se calaram? 21. O Pedro está preocupado __________ anda a fumar muito. 22. Ele está zangado, sim, mas _____________? 23. __________ é que Futre foi expulso? 24. ______________ é que a sua razão há-de colidir com a razão dos outros? 25. Não lhe posso dizer ____________ fui demitida. Não lhe posso dizer não __________ não queira, mas ___________ não sei. 2. Complete com porque, por que, porquê ou por quê: 1. Perguntei _____________ fugiste. 2. Saí do cinema ______________ estava farto do filme. 3.Eu procuro saber _____________ é que apesar disso mantemos uma música tão forte e tradicional. 4. As razões _______________ ele fugiu não são óbvias. 5. Qual é o seu escritor português preferido e ________________? 6. Choveu, _____________ as ruas estão molhadas. 7. O burlesco da situação é que nessa época a Inglaterra e a França intervinham no Médio Oriente pelas mesmas razões __________ agora os Estados Unidos intervieram no Golfo. 8. ____________ ir de férias em Fevereiro?

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9. «O que eu pergunto é ______________ é que para a polícia a minha identificação é suficiente e para a senhora notária não é» 10. É tradição na Grã-Bretanha que os jornais e as revistas revelem aos leitores qual o partido que apoiam e ______________. 11. Se Guímaro era corrupto, quem eram os corruptores e ____________ motivo não foram igualmente presentes ao juiz do Tribunal de Instrução Criminal? 12. Pergunto-me sempre de onde é que viemos e ____________ é que falamos esta língua. 13. Se a intenção é propiciar uma visão da «atualidade artística», propondo autores e intérpretes desconhecidos do público português, _____________ repetir o convite a todos os que já estiveram em Lisboa? 14-15. Iniciava-se aqui, como o leitor se recordará, uma fase de crescimento inusitado da economia mundial, Portugal incluído; com um diferença: nos outros países crescia-se ___________ a conjuntura era boa; em Portugal crescia-se ____________ tínhamos bons governantes. 16. Comprar um CD não está ao alcance de todas as pessoas que compravam os nossos discos, mas acreditamos nos jovens, ___________ temos a certeza que aderem a isto. 17. Em relação à situação da Fonte da Telha e às demolições que ali já se efetuaram, Marçal Pina afirma não saber explicar ____________ é que parte do entulho se mantém no local, remetendo a explicação para o Ministério do Ambiente. 18. As etapas boas e más _____________ cada indivíduo tem de passar fazem parte do sentido delineado para a sua própria vida. 19. O autor explica ________________ é que o acesso às edições eletrónicas de muitos jornais ainda é de graça. 20. O que é que fizeste, ______________ é que estás aqui? 3. Ponha os acentos e explique a regra fossil fossemos animais peru taxi canibal medula venus classico projetil repto faceis repteis papeis orgão assim tambem lamina café azul chapeu veu ceu pantano limite tranquilidade questão benção orfã chamine portugues ai ola paises juiz tu tres dez raizes no avo rapaz chegarei pode veem voo assembleia areia paranoico heroi ideia noite boi caracois imbecil magia magoa maquinaria historia genero antonimo genio nuvem lume viagem pa homonimo debeis

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bateis chines esquimo regime homem apos ontem quem alguem album leem giz voz arroz

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2. O artigo. Usos do artigo com nomes próprios. Usos do artigo com os possessivos.

1. Formas e contracções dos artigos 2. Uso do artigo definido com nomes próprios de pessoa 3. Uso do artigo definido com nomes geográficos 4. Divergências entre a norma europeia e a norma brasileira no uso do artigo

definido 1. FORMAS E CONTRACÇÕES DOS ARTIGOS

Há duas classes de artigos: 1. Definidos: identificam um objeto ou ser conhecido. 2. Indefinidos: indicam que o objeto ou ser de que se está a falar é desconhecido.

As formas do artigo definido são as seguintes:

MASCULINO FEMININO

SINGULAR o a PLURAL os as

As preposições A, DE, EM e POR contraem-se com o artigo definido se lhes

segue: O A OS AS

A ao à aos às DE do da dos das EM no na nos nas POR pelo pela pelos pelas

As formas do artigo indefinido são as seguintes:

MASCULINO FEMININO SINGULAR um uma PLURAL uns umas

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O artigo indefinido contrai-se opcionalmente com as preposições EM e DE: UM UMA UNS UMAS EM

num numa nuns Numas

em um em uma em uns em umas

DE

de um

de uma de uns de umas

dum duma

duns

dumas

2 USO DO ARTIGO DEFINIDO COM NOMES DE PESSOA

(Tomado de Soares 2000: 496)

Em português, e especificamente no que diz respeito aos antropónimos, a presença ou a ausência do artigo parece-nos estar dependente do seguinte conjunto de fatores:

a) grau de notoriedade pública do referente do nome próprio em questão; b) grau de familiaridade que existe com o referente do nome; c) grau de formalismo do discurso. Assim, se em relação a uma figura de reconhecida notoriedade normalmente se

omite o artigo e se diz algo como ‘Mário Soares é um apreciador e coleccionador de arte’, quem tiver uma relação estreita com Mário Soares dirá, num contexto que não obrigue à adopção de um discurso formal, ‘O Mário Soares é um apreciador e coleccionador de arte’. Note-se, porém, que neste campo não se verifica um absoluto consenso. Por exemplo, em Raposo (1992) pode ler-se:

'Em Português europeu, os nomes próprios de pessoa (quando usados referencialmente) são obrigatoriamente precedidos de um artigo definido (...) todos os nomes próprios se encontram submetidos a este comportamento [1992:90]. Em nota de rodapé, diz ainda: "Os nomes próprios de personagens históricos (especialmente quando designados no contexto de um discurso literário ou histórico relativamente formal) não requerem (não permitem para alguns falantes) um artigo definido."1 [1992:90].

Portanto, Raposo só admite a ausência do artigo no caso de nomes de personagens

históricas, o que levanta o problema de determinar em que condições pode uma entidade ser considerada como tal e deixa por explicar os usos de nome sem artigo quando a classificação como personagem histórica não é pacífica. Daí que se considere que o fator ‘notoriedade pública’ é mais produtivo, dado que reflete de forma mais abrangente as situações de omissão de artigo.

Por outro lado, Raposo refere ainda como fator importante o contexto do discurso

e especifica claramente os discursos literários ou históricos (relativamente formais). Ora o que parece de facto determinante é o maior ou menor grau de formalismo do

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discurso e não propriamente o tipo de discurso em si. A ser como Raposo propõe, ter-se-ia que admitir que, por exemplo, um noticiário se enquadra num desses discursos, já que se trata de uma das múltiplas situações em que o artigo é suprimido. Não sendo esse o caso, de novo se rejeita esta análise de Raposo, considerando como determinantes os fatores anteriormente indicados. Esta rejeição tem implicações específicas, uma vez que enquanto para Raposo esta frase é inaceitável: "Pedro comeu a maçã" [1992:90]), na realidade o exemplo em causa pode ser perfeitamente correto, se se tratar de um discurso formal, que foge à prática corrente de uso de artigo. 3 USO DO ARTIGO DEFINIDO COM NOMES GEOGRÁFICOS Usa-se artigo com muitos nomes geográficos: Como regra geral os nomes de países levam artigo: a Alemanha, a Arábia Saudita, a Argélia, a Argentina, a Arménia, a Austrália, a Austria, a Bélgica, o Brasil, a Bulgária, o Canadá, a Dinamarca, etc. Mas são usados sem artigo os seguintes: Andorra, Angola, Cabo Verde, Cuba, Israel, Madagáscar, Malta, Marrocos, Moçambique, Omana, Portugal, São Marino, São Tomé e Príncipe, Timor, Singapura. Para os quatro países da lista seguinte (Espanha, França, Inglaterra, Itália), a possibilidade de prescindir do artigo está limitada à construção de frases em que o nome do país figure como complemento circunstancial do verbo: Estar em/na Espanha, Ir a/à França, Viver em/na Inglaterra. Quando o nome do país figura na frase como sujeito, como predicativo do sujeito ou como complemento direto (mas não como vocativo [Itália/Ó Itália, quanto és complexa!; Desperta, Portugal/ó Portugal!]), o artigo antes do nome do país revela-se indispensável: A Itália é comprida e estreita, O meu país preferido é a Inglaterra, De Gaulle governou a França. Tudo quanto se disse sobre o uso (ou não) do artigo em relação aos países considerados acima é igualmente válido para um (e só um) continente, a África: Chegar a/à África, Estar em/na África, Ir para (/para a) África, etc. Utilizam-se com artigo os seguintes nomes: a Andaluzia, as Astúrias, a Catalunha, a Galiza. Mas são sem artigo: Castela, Leão, Aragão, Valença, Múrcia. os nomes de todas as províncias de Portugal, excepto Trás-os-Montes: o Minho, o Alto Douro, o Douro Litoral, a Beira Alta, a Beira Baixa, a Beira Litoral, a Estremadura, o Ribatejo, o Alto Alentejo, o Baixo Alentejo, o Algarve. A Escócia é obrigatoriamente com artigo, mas Gales é sem artigo (o País de Gales). A maior parte dos nomes de regiões e territórios são com artigo (a Flandres, a Baviera, os Alpes, a Toscana, os Pirenéus, etc.).

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3. DIVERGÊNCIAS ENTRE A NORMA EUROPEIA E A NORMA BRASILEIRA NO USO DO ARTIGO DEFINIDO Tomado de Moura Neves 2001

Com o quantificador (pronome indefinido) todo:

a) Quando se refere à totalidade de um período ou objeto ou superfície usa-se com artigo, mas surge com ou sem artigo na norma do Brasil: Já era conhecido em todo ∅ país; o achado foi comentado por toda ∅ cidade.

b) Quanto, com o mesmo significado, tem um uso intesificador, usa-se com artigo, tanto na norma europeia como na norma do Brasil: “Peço todo O silêncio e respeito do auditório”.

c) Quando tem o significado de “qualquer” em sintagmas não referênciais, usa-se sem artigo, mas surge com ou sem artigo na norma do Brasil: “Todo o homem dentro da morte se torna um cão”; “toda a mulher deve lutar pela sua igualdade”.

d) Em sintagmas de valor adverbial com “todo”, todo usa-se com artigo, mas surge com ou sem artigo na norma do Brasil: “pensando nela a todo instante”; “em todo caso, tenho de lhe falar isso”, “havia espelhos por toda parte”.

Com os determinantes possessivos: No português do Brasil o possessivo é usado com ou sem artigo em certos casos, dependendo de uma série de fatores: a) em frases preposicionais: “de” aparece com 81% de uso de artigo com o

possessivo, “por” com 55%, por exemplo. b) Função sintática: o sujeito apresenta 67% de ocorrência de artigo com o

possessivo, mas as percentagens são muito menos em outras funções sintáticas.

c) A natureza semântica do nome: os nomes de parentesco apresentam 44% de ocorrências com artigo, as partes do corpo 83%.

d) Região: as regiões mais conservadoras (Recife e Salvador) apresentam percentagens menores de artigo antes de posssessivo.

e) A flexão de número: o singular favorece o artigo. O plural inibe o uso do artigo.

f) Extensão do pé métrico: o artigo aparece preferentemente nos grupos fónicos de menor extensão.

EXERCÍCIOS A) Artigo com nomes de pessoa e nomes comuns _____ Maria encontrou _____ Pedro nas escadas. _____ Alberto cumprimentou _______ diretora (de) _______ escola quando a encontrou na rua. _____ Inês viu _____ João quando ia entrar (em) _______ biblioteca. _____ Ana aguardou (por) ______ Pedro quando ia para ______ Faculdade. _____ Luís ouviu _______ António dizer que ia comprar um carro novo.

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_____ diretor não deixou _____ João falar quando quis responder (a) ______ queixa que tinha sido feita (por) _______ porta-voz da turma. ____ Filipa despediu-se (de) ______ colegas (a) ______ porta (de) _____ escola antes de partir para as férias. _____ José viu ______ Maria sair de uma livraria com muitos livros na mão. _____ Diogo deixou _______ Pedro passar primeiro na porta da biblioteca. _____ diretor mandou _______ alunos entregarem os testes na hora que tinha sido marcada. ______ polícia obrigou _______ Rui a mostrar-lhe _____ bilhete de identidade e _____ carta de condução. B) Artigo com topónimos: O António mora (em) ________ Galiza A Inês mora (em) ________ Trás-os-Montes O John nasceu (em) _______ Escócia mas mora (em) ______ Brasil. O Brian mora (em) ________ Inglaterra, mas nasceu (em) ______ Austrália. A Jennifer está a trabalhar (em) ______ África do Sul. A Jane nasceu (em) ______ Irlanda, mas agora está a estudar (em) _____ Portugal. O Jordi mora (em) _______ Catalunha. _____ Frandres é uma região (de) ______ Bélgica. O André mora (em) _______ Porto, mas a sua namorada está a estudar (em) _____ Madeira, concretamente (em) _____ Funchal. Ele vai morar (em) ______ Estados Unidos, mais concretamente (em) _____ Florida. Eles estiveram de viagem (em) ______ Quénia, e depois (em) ______ Camarões. O Alfred mora (em) ______ Gales, mas nasceu (em) ____ França. _____ Renânia é uma região (de) ______ Alemanha. _____ Noruega é um país (de) _______ Europa. Moscovo é a capital (de) _______ Rússia. _____ Japão é um país (de) ________ Ásia. _____ Chile é um país (de) ________ América do Sul. Depois de ter alimentado a imaginação de milhões de pessoas durante mais de 1500 anos, o famoso monstro do Lago Ness, (em) _____ Escócia, corre um sério risco de extinção. O Pedro mora (em) ______ Algarve. Ponta Delgada é uma cidade (de) ______ Açores. A torre de Pisa, (em) _____ Itália, tremeu ontem de manhã com um pequeno sismo. Muitas empresas portuguesas com investimentos (em) ____ África tiveram importantes benefícios. C) Artigo em expressões de tempo c-1.Preencha com A, DE e EM, contraídos ou não com o artigo definido: _________ 10 _________ Agosto. _________ 9 h __________ noite.

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_________ próxima semana. _________ fim-de-semana passado. _________ meio-dia (12h00). _________ dia 5 __________ Março. _________ manhã. _________ cinco __________ tarde. _________ oito ___________ manhã (8h00). c-2. Complete com PARA ou POR inserindo a seguir o artigo definido quando for necessário:: Alugamos a casa ________ dois meses. A chegada do avião está prevista ___________ 14h35. As férias começam ___________ semana. A reunião foi adiada ________ sábado. Podes ficar em minha casa __________ uns dias. São cinco _____________ seis (17h55). __________ ano acabo o curso na Universidade. Foi eleito presidente do clube _________ 2 anos. c-3. Complete com A e EM contraídos com o artigo definido: _________ domingo almoçamos sempre fora. _________ domingo passado almoçámos em casa. _________ sexta-feira ________ noite costumamos ir ao cinema. _________ próxima sexta-feira temos uma festa de anos. Temos aulas de Fonética __________ segundas-feiras. _________ segunda que vem não temos, porque vamos visitar um museu. USO DO ARTIGO COM TOPÓNIMOS (Tomado de Mendes Silva 1986) Responda à pergunta «Onde vive (mora, está) ele agora?» com a preposição «em», contraída, quando necessário, com o artigo definido. Exemplos: Coimbra -� em Coimbra Rio de Janeiro --� no Rio de Janeiro Estados Unidos-� nos Estados Unidos

1.Portugal Grécia Bélgica Itália 2. Jugoslávia Espanha Países Baixos Suíça 3. Alemanha Luxemburgo Áustria União Soviética 4. Suécia Grã-Bretanha Polónia França 5. Minho Alentejo Beira Alta Trás-os-Montes 6. Estremadura Algarve Ribatejo Madeira 7. Açores Galiza Catalunha Andaluzia

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8. Canárias País Basco Pirenéus Normandia 9. País de Gales Escócia Alpes Toscana 10. Tirol Baviera Renânia Flandres 11. Lisboa Porto Setúbal Braga 12. Funchal Guimarães Ponta Delgada Faro 13. Aveiro Évora Guarda Beja 14. Sintra Cascais Estoril Albufeira 15. Nazaré Oeiras Sagres Fátima 16. Londres Paris Madrid Roma 17. Brasil Uruguai Venezuela Chile 18. México Argentina Cuba Peru 19. Canadá Colômbia Equador Panamá 20. Alasca Califórnia Texas Florida 21. Mato Grosso Amazónia Minas Gerais Rio Grande do Sul 22. Brasília S. Paulo Santos Porto Alegre 23. África Moçambique Cabo Verde Angola 24. Guiné S. Tomé Marrocos Egipto 25. Argélia Congo Senegal Quénia 26. Luanda Maputo Bissau Cairo 27. Ásia Arábia Israel Índia 28. China Japão Filipinas Vietname 29. Irão Nepal Goa Macau 30. Oceânia Austrália Havai Timor

3. O substantivo. Classificação dos substantivos. As flexões de género e número. Graus dos substantivos.

3.1 O substantivo: caraterização geral

Diana Santos distingue, em relação ao género, três tipos de substantivos: 1. género natural: faz parte do significado da palavra o sexo

feminino ou masculino. Exemplos: mulher, homem, vaca, boi, cadela, avó, mãe, pai, filho, irmã, marido, sogra, genro, nora, neto, neta, leoa, gato, gata, enfermeiro, enfermeira, médico, médica, professor, professora, aluno, aluna, locutora, engenheira, ator, atriz, ré, réu

2. género intrínseco, mas arbitrário: camisa, armário, estante, felicidade, raiva, desespero, girafa, hipopótamo (quando são seres sexuados, para distinguir o sexo diz-se girafa macho, girafa fêmea, hipopótamo macho, hipopótamo fêmea), pessoa, criança, testemunha, indivíduo, personagem, visita, vítima

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3. sem género (ou género indeterminado): estudante, presidente, artista, fadista, arguente, doente, intérprete, paraquedista, amante, agente, contribuinte, pedinte.

Cada língua organiza o seu léxico segundo categorias próprias. Os verbos do

português, por exemplo, distribuem-se em três conjugações distintas: a primeira, com terminação em ar, a segunda, com terminação em er, e a terceira, com terminação em ir. Similarmente, os substantivos distribuem-se em dois géneros: o masculino e o feminino.

Realmente, para o conjunto dos substantivos do português, como um todo, a

distribuição dos géneros não é passível de uma sistematização regular e coerente.

Deve ter havido na pré-história do indo-europeu uma grande separação entre os seres animados e os inanimados. Os primeiros, possuidores de sexo, compreendiam dois géneros: o masculino e o feminino. Os segundos não se enquadravam nessa categoria de género: eram neutros.

Destes seres inanimados (entre os quais também se incluíam as plantas), alguns se

relacionavam com os animados, quer por analogia de forma, quer por analogia de atividade.

A igualdade nas desinências, a semelhança de tema e a falsa correlação foram os

fatores que concorreram para que um ser inanimado se introduzisse na esfera dos sexuados e adquirisse o género.

O mesmo acontecia quanto à atividade: alguns seres são considerados como

animados porque a função por eles desempenhada é análoga à dos animados; por exemplo: a terra e a árvore se relacionam com a fêmea e passam para o feminino; a terra também se opõe ao sol, tornado masculino por ser agente fecundador, e a árvore produz o fruto e se opõe a este que, sendo um produto, conserva-se neutro. A lua é do feminino em oposição ao sol; o sol é ativo e forte, a luz é passiva e fraca. A mão também é do género feminino porque tem a função de receber, opondo-se assim ao pé que é órgão só ativo.

Como estamos vendo, o indo-europeu já não seguia um processo simples, mas

extremamente complexo. O latim ora ampliou ora reduziu, por causa de outras analogias, tal complexidade. O neutro então não mais formava um grupo à parte: era apenas um complemento do masculino ou do feminino, perdera muitíssimos dos seus componentes e se tornara uma classe dizimada; deveria portanto subordinar-se ou ao masculino ou ao feminino, o que se resolveria principalmente pela analogia da forma, saindo o masculino quase totalmente vencedor.

Em latim distinguiam-se três géneros gramaticais: masculino, feminino e neutro. A distribuição dos substantivos num ou outro género respondia a uma sobrevivência do indoeuropeu. O género distinguia os seres animados dos inanimados (neutro), e dentro dos animados vigorava a oposição entre masculino e feminino. O género gramatical e o género natural coincidiam com pouca frequência. Substantivos como FOCUS,

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VENTUS, eram masculinos, enquanto que AQUA, TERRA, eram femininos. Os nomes das plantas, por serem geradoras de fruto, tinham género feminino, enquanto que o fruto era considerado inanimado e tinha género neutro (PIRUS, -I ‘pereira’, feminino e PIRUM, -I ‘pera’ neutro, MALUS, -I, ‘macieira’, feminino, e MALUM, -I ‘maçã’, neutro). Segundo o seu comportamiento a respeito do género, os temas dos substantivos latinos agrupavam-se em quatro classes: Neutros: templum, cornu, tempus. Masculinos: dominus, poeta, puer. Femininos: casa, domina, pirus. Comunes: civis magnus e civis magna. Dado que na maioria dos casos o género estava determinado pelo tema, as oposições de género tinham um rendimento funcional muito reduzido. O género gramatical depende do comportamento sintagmático, quer dizer, da concordância com formas masculinas, femininas ou neutras, e não de caraterísticas semânticas intrínsecas do substantivo: “bonus nauta”, “alta fagus”, etc. Os adjetivos tinham género concordante com o do substantivo que modificavam, mas havia adjetivos como ATROX que tinham a mesma forma para os três géneros, e outros como FORTIS que tinham duas formas: uma para o masculino e feminino (FORTIS) e outra para o neutro (FORTE).

Entre os nomes de animais, muitos apresentam um único género para ambos os sexos: CUNICULUS, -I (coelho) é masculino; TALPA, -AE (toupeira) é feminino; COCHLEA, AE (caracol) é feminino; CULEX, -ICIS (mosquito) é masculino; BALÆNA, -AE (baleia) é feminino; BUBO, BUBONIS (bufo) e VULTUR, -URIS (abutre) são masculinos; RANA-AE (rã) é feminino, e BUFO, -ONIS (sapo) é masculino; ANAS, ANATIS ou ANSER, -ERIS (pato), são masculinos; no caso de VULPES, -IS (raposa, feminino), para indicar o macho dizia-se VULPES MASCULUS; no caso das abelhas, o zângão recebe o nome de FUCUS, -I (masculino); quanto à lebre, LEPUS, LEPORIS é masculino.

Num grande número de casos a distinção de sexo não correspondia à variação do morfema de género para um lexema único, mas estava determinada pela existência de lexemas diferentes; há casos em que não: FĒLĒS, IS (gata) é feminino (e também masculino); CANIS, IS cão/cadela, SUS, SUIS porco/porca, têm ambos os géneros; por isso a oposição de género masculino/feminino propriamente dita tinha um rendimento funcional muito reduzido:

DOMINUS, -I / DOMINA, -AE ERUS, -I (senhor) / ERA, -AE (senhora) DEUS, -I /DEA, DEAE ORBUS, -I (órfão) / ORBA, -AE (órfã) SERVUS, -I / SERVA, -AE EQUUS, I / EQUA, -AE CERVUS, -I / CERVA, -AE PORCUS, -I /PORCA, -AE URSUS, -I /URSA, -AE LEO, -ONIS / LEŒNA, -AE

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LUPUS, -I / LUPA, -AE

No latim era frequente designar com palavras diferentes o macho e a fêmea da mesma espécie: CAPRA, -AE (cabra) ~ HÆDUS, -I (cabrito), ARIES, -ETIS (carneiro), ~ OVIS, -IS (ovelha, daí OVĬCŬLA, fem.), TAURUS ~ VACCA, GALLUS ~ GALLINA, HOMO ~ MULIER, VITRICUS ‘padrinho’~ NOVERCA ‘madrinha’, GENER ~ NORUS, AVUS ‘avô’ ~ MAMMA, AVIA ‘avó’, PUER, -I (rapaz) ~ PUELLA, -AE (rapariga). As línguas românicas acrescentaram em grande medida o rendimento funcional das oposições de género, mas mantiveram muitos pares de palavras diferentes para o macho e a fêmea que existiam já no latim, e acrescentaram outras: a oposição EQUUS ~ EQUA foi substituída por CABALLUS ~ EQUA, por exemplo. Noutros casos é à inversa: PŎRTA(M) e PŎRTU(M), feminino da segunda e masculino da quarta, tinham oposição de género no latim, mas deram origem a duas palavras diferentes em português. PŎRTU(M) significava ‘passagem’, ‘lugar de passagem’, e depois ‘passagem de montanha (portela)’ e ‘entrada por mar’. PŎRTA(M) é ‘passagem num muro’, ‘entrada de casa’, ‘porta’.

Alguns autores, dentre os quais Câmara Jr., que foi o primeiro a propor uma sistematização dos géneros do português, defendem a ideia de que mesmo entre os seres inanimados é possível haver uma regularidade semântica entre os dois géneros. Isso no caso dos substantivos do tipo barco/barca, poço/poça, jarro/jarra. Segundo Câmara Jr

em referência ao género, do ponto de vista semântico, (...) o masculino é uma forma geral, não-marcada, e o feminino indica umas especialização qualquer “jarra” é uma espécie de "jarro", “barca” um tipo especial de "barco", como “ursa” é a fêmea do animal chamado “urso”, e "menina” uma mulher em crescimento na idade dos seres humanos denominados como a de "menino". (Tomado de M. A . Mauro José Rocha do Nascimento)

Na verdade, como salientou Pereira, a relação geral/específico entre os pares desse tipo não é de forma alguma regular. Verificando no dicionário o significado desses pares, constata-se que, na maioria das vezes, essa relação semântica não se dá. Não podemos estabelecer uma regra que não apresenta nenhuma previsibilidade, como é o caso desses pares. Conhecendo-se o significado dos termos “barco” (geral) e “barca” (específico), não se consegue intuir de forma alguma qual seria o significado de “poça”, partindo de “poço”ou de “mata”, partindo de “mato”, já que esses dois últimos pares citados não seguem a regra geral/específico. (Tomado de M. A . Mauro José Rocha do Nascimento)

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A Gramática da Língua Portuguesa (de Mateus, Maria Helena Mira, Ana Maria Brito, Inês Silva Duarte e Isabel Hub Faria (e Sónia Frota, Marina Vigário, Fátima Oliveira e Alina Villalva), (2003: 930-931) apresenta a seguinte interpretação:

A não-obrigatoriedade de existência de contrastes de género e o facto de a sua realização estar a cargo quer de processos estritamente lexicais, pelo contraste de índices temáticos (cf. aluno / aluna; professor /professora) ou pelo contraste de diferentes palavras (cf. homem / mulher; carneiro / ovelha), quer de diversos processos morfológicos, como a derivação (cf. barão / baronesa; judeu! /judia; europeu / europeia; conde / condessa; lavrador/ lavradeira; imperador / imperatriz; espertalhão / espertalhona) e a composição (cf. águia-macho / águia-fêmea), são propriedades que distinguem claramente o género das restantes categorias morfo-sintáticas disponíveis no português, e que justificam a sua análise como uma categoria não flexional (13), contrariamente ao que a tradição gramatical portuguesa tem consagrado (14). Os tradicionalmente chamados morfemas de género' dos adjetivos e nomes do português não têm qualquer relação com o género (nem com a flexão), mas sim com a classe temática a que cada palavra pertence.

(13) A defesa de que o género não é uma categoria flexional no português é apresentada e justificada em Villalva (1994, 2000) e também se encontra, por exemplo, em Hüber (1933, 1986: 167-168, 272), que considera que, no português antigo, desaparecida a flexão casual, a flexão dos adjetivos e dos nomes se reduz à realização do plural. A formação do feminino é considerada como um processo derivacional, ainda que não sejam apresentados, neste autor, argumentos que suportem esta hipótese. Carvalho (1967, 1984: 601) também refere que os nomes não flexionam em género.

(14) Cf. Câmara (1971, 1984: 53), Lopes (1971: 66-67) ou Cunha e Cintra (1984, 1991:133, 183).

EXERCÍCIOS Ponha o artigo correspondente, masculino ou feminino, segundo for o género do substantivo: ___ alforge ___ dor ___ diabetes __ púbis/pube ___ estante ___ vertigem

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___ fraude ___ parêntese ___ cute/cútis ___ abside ___ parálise ___ síncope ___ análise ___ cal ___ labor ___ croquete ___ leite ___ dinamite ___ ênfase ___ torrente ___ grafite ___ creme ___ frente ___ glande ___ clã ___ síndrome ___ alarme ___ estratagema ___ massacre ___ palpite ___ árvore ___ sangue ___ retrete ___ epígrafe ___ ponte ___ espinafre ___ alface ___ nariz ___ lignite ___ psicanálise ___ estalactite ___ lilás ___ postal ___ til ___ afã ___ plantel ___ quilograma ___ duche ___ nada ___ regime ___ samba ___ pagode ___ fuligem ___ viagem ___ dote ___ síncope ___ estalagmite ___ íman ___ ecrã ___ garagem ___ cor ___ grama ___ alerta ___ aluvião ___ fel ___ pesadelo ___ sentinela ___ sinal ___ margem ___ síndroma ___ laje ___ ómega ___ ordem ___ origem ___ dínamo ___ anátema ___ diadema ___ esperma ___ derme ___ escarlate ___ túlipa ___ coice ___ carpete ___ cárcere ___ malte ___ divã ___ legume ___ sal ___ antílope ___ costume ___ louva-a-deus ___ alfa ___ mel ___ beta ___ cólera ___ meteorite ___ cólera-morbo ___ antracite ___ delta ___ tapete ___ sintoma ___ mármore ___ pesadume ___ coragem ___ pilhagem ___ queixume ___ lume ___ garagem GÉNERO DOS SUBSTANTIVOS (Tomado de Mendes Silva 1986) Masculino ou feminino? Indique, através do artigo definido, o género dos substantivos seguintes. Exemplos: o arroz a velocidade O jornal

1. nuvem costume pá luar 2. dente chá dia ordem 3. poema Natal açúcar mapa 4. colher cócegas chave rim 5. lume bosque pó cacau 6. sabor lei chaminé vale

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7. bagagem alface arredores céu 8. sé envelope sol papel 9. maçã paz algodão carne 10. cave sistema lã sabonete 11. sul fé ardor cinema 12. dor coragem divã couve 13. canal pele cadáver pudor 14. arte cruz parabéns árvore 15. víveres sangue totobola pavão 16. clima ananás morte avental 17. exame margem sotaque lanche 18. cereal nariz tema colar 19. neve talher café alvíssaras 20. caracol pijama cofre amor 21. leite atlas torre ponte 22. sofá anel garagem anzol 23. boletim Luz hélice gás 24. acepipe botão funil motim 25. talismã sorte enxoval reclame 26. acordeão grau rede azar 27. diadema tapume fome espécime 28. celeuma farol museu til 29. vapor sede puré noz 30. perdiz êxtase humor fim

FORMAÇÃO DO FEMININO (Tomado de Mendes Silva 1991) Qual é o feminino de ...? Exemplos: patrão –patroa; inglês –inglesa; galo-galinha

1. europeu espanhol catalão francês 2. alemão japonês beirão judeu 3. pai genro padrinho avô 4. compadre irmão marido padrasto 5. rapaz homem ancião senhor 6. imperador marquês rei barão 7. duque príncipe sultão embaixador 8. conde cônsul czar visconde

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9. deus cristão monge frade 10. abade sacerdote ateu pagão 11. herói campeão autor ator 12. escritor poeta lavrador vendedor 13. réu ladrão cavalheiro cidadão 14. cavalo bode veado macho 15. peru leão carneiro boi

FORMAÇÃO DO PLURAL (Tomado de Mendes Silva 1991) Que é o plural de ...? Exemplos: jardim –jardins; árvore –árvores; azul-azuis

1. som coração túnel chapéu 2. português ímpar capaz guarda-chuva 3. homem país ex-aluno jornal 4. paizinho difícil cão motor 5. ancião amor-perfeito cartaz jovem 6. réptil cru feijão abaixo-assinado 7. portão oásis armazém dólar 8. couve-flor farol ananás decreto-lei 9. gérmen órgão sacristão mal 10. caráter patim feliz alemão 11.voz cortesão carril vice-almirante 12. luso-brasileiro vírus aldeão capataz 13. agradável pãozinho íman funil 14. pisca-pisca condutor andaluz deus 15. vez invenção vogal social-democrata 16. freguês cônsul animal escrivão 17. altar capitão lápis lilás 18.fóssil hotel espião multicolor 19. atum vulcão civil sino-soviético 20. feroz gentil pão mão 21. capelão cortês comum hebreu 22. ruim fiel projétil órfão 23. lençol opinião ourives cordelzito 24. salvo-conduto mártir rival ladrão 25. real pires obra-prima recém-nascido 26. corrimão quebra-nozes alferes dom 27. grão-mestre lazer grátis galeão 28. petiz capitão-mor dólman cabaz 29. areal revés romã trovão 30. norte-americano

fiscal baú nó

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Referências

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