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1 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Metodologia do Trabalho Científico – Texto-Base Para Prova Especial – Curso: Geografia UNIVERSIDADE VALE DO ACARAÚ- UVA UNIVERSIDADE ABERTA VIDA- UNAVIDA CURSO: LICENCIATURA EM GEOGRAFIA DISCIPLINA: METODOLOGIA CIENTÍFICA TEXTO-BASE PARA A AVALIAÇÃO ESPECIAL

METODOLOGIA CIENTÍFICA - Tiberiogeo - A Geografia levada ...tiberiogeo.com.br/texto/TextoUvaMetodologiaTrabalhoCientifico.pdf · 2 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA –

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Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Metodologia do Trabalho Científico – Texto-Base Para Prova Especial – Curso: Geografia

UNIVERSIDADE VALE DO ACARAÚ- UVA

UNIVERSIDADE ABERTA VIDA- UNAVIDA

CURSO: LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

DISCIPLINA:

METODOLOGIA CIENTÍFICA

TEXTO-BASE PARA A AVALIAÇÃO

ESPECIAL

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Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Metodologia do Trabalho Científico – Texto-Base Para Prova Especial – Curso: Geografia

INTRODUÇÃO AO TRABALHO CIENTÍFICO

Ciência. O que significa esta palavra? Existe apenas um significado para ela? Se não, quais são os outros? Existem relações entre estes vários significados? No contexto, pretende-se iniciar o aluno na recepção e na produção do conhecimento científico -faz-se necessário delimitar o que se entende por ciência. A palavra ciência surge do latim (scire) e significa conhecimento ou sabedoria. Em geral, fala-se que uma pessoa tem um certo conhecimento (ou está ciente) quando detém alguma informação ou saber com relação a algum aspecto da realidade.

Uma boa cozinheira, por exemplo, possui um conhecimento sobre culinária, assim como um engenheiro sobre os possíveis modos de construção de uma casa. No sentido mais geral da palavra ciência, os dois podem e devem ser considerados sábios. No entanto, não se pode dizer que o conhecimento que os dois apresentam seja do mesmo tipo. Tanto o modo como cada um deles veio a aprender o que sabe hoje como a natureza do conhecimento aprendido são diferentes.

Assim, por exemplo, a cozinheira, que aprendeu seu ofício com sua mãe, pode fazer bolos muito bem, mas dificilmente saberá explicar o motivo pelo qual o fermento faz o bolo crescer. Já o engenheiro, que frequentou uma universidade, deverá saber apresentar as causas relacionadas, por exemplo, à queda de uma casa. Se nem todos os conhecimentos são iguais em sua natureza, o que os diferencia? E o que caracteriza especificamente o conhecimento científico?

Na verdade, pode-se falar de uma maneira um tanto esquemática, na existência de vários tipos de conhecimento, isto é, de diferentes formas de se abordar a realidade, buscando-se compreendê-la ou explicá-la. Assim, o conhecimento pode ser do tipo senso comum, artístico, filosófico ou científico.

O conhecimento do tipo senso comum, por exemplo, como todo conhecimento, produz informações sobre a realidade. No entanto, tais informações normalmente se prendem aos seus objetivos mais imediatos. Nossa cozinheira assa bolos por causa dos elogios e/ou salários que recebe. Estes motivos, de natureza mais imediata, bastam para mantê-la assando bolos. Ao mesmo tempo, ela sobrevive muito bem sem o conhecimento do motivo pelo qual o fermento faz o bolo crescer. Assim, não precisa se preocupar em saber a propriedade que determina o crescimento do bolo. Ou seja, não busca descrever os elementos específicos que, no fermento, causam tal efeito. Também não precisa se preocupar com a generalidade do conhecimento que obtém. Não necessita enquadrar uma descoberta sua – sobre um novo jeito de fazer um bolo, por exemplo – em um princípio geral que estabeleça que tal conhecimento é válido sempre que se apresentarem determinadas, condições (por exemplo, o tempo de cozimento do bolo). A cozinheira também não precisa contar para ninguém como chegou a descobrir uma nova forma de fazer bolo. Não precisa divulgar seus resultados, ficando, se quiser, com o conhecimento só para si nem mesmo divulgar mesma. A natureza do conhecimento científico

Já o conhecimento chamado de científico surge basicamente no século XVII, com a constituição histórica da modernidade no ocidente. A separação, tão comum hoje, entre filosofia

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e ciência não existia antes do advento da modernidade. Aliás, é bom ressaltar que a relação da ciência com a filosofia e com a arte nunca deixou de existir. São todos, na verdade, campos que se interpenetram e que mantêm pelo menos um vínculo em comum: questionar a realidade de forma a estar sempre discutindo as possibilidades da felicidade humana. No entanto, existem algumas características que, de uma maneira geral, delimitam o campo da ciência.

Um contraponto com as características do conhecimento do tipo senso comum, conforme apresentadas no texto anterior, pode ser útil para ilustrar a natureza deste campo.

Em primeiro lugar, a ciência não é imediatista, não se contenta com informações superficiais sobre um aspecto da realidade, mesmo que esta informação seja útil de alguma maneira (por exemplo, saber que o fermento faz o bolo crescer é proveitoso para a cozinheira, mas não é um conhecimento suficiente para a ciência). Na verdade, a ciência pretende ser crítica, isto é, busca estar sempre julgando a correção de suas próprias produções. Aliás, este é o sentido da palavra crítica, de origem grega (kritikós).

O conhecimento científico se caracteriza também como uma procura das possíveis causas de um acontecimento. Assim, busca compreender ou explicar a realidade apresentando os fatores que determinam a existência de um evento. Desta forma, não basta saber que o fermento faz o bolo crescer. É necessário, sobretudo, caracterizar o que, na constituição do fermento, produz o efeito que é o crescimento do bolo. Uma vez obtido este conhecimento, deve-se garantir sua generalidade, isto é, sua validade em outras situações.

A divulgação dos resultados também é uma marca fundamental da ciência moderna. Trata-se do que se chama de exercício de intersubjetividade, isto é, da garantia de que o conhecimento está sendo colocado em discussão e que qualquer outro cientista pode ter acesso a ele. Neste sentido, a ciência moderna não se pretende dogmática. Ao relatar seus resultados, o cientista deve também contar como chegou a eles, qual caminho seguiu para alcançá-los. Trata-se, pois, da apresentação do que se chama de método científico.

O que caracteriza tal método? Na verdade, método, em ciência, não se reduz a uma apresentação dos passos de uma pesquisa. Não é, portanto, apenas a descrição dos procedimentos, dos caminhos traçados pelo pesquisador para a obtenção de determinados resultados. Quando se fala em método, busca-se explicitar quais são os motivos pelos quais o pesquisador escolheu determinados caminhos e não outros. São estes motivos que determinam a escolha de certa forma de fazer ciência. Neste sentido, a questão do método é teórica (do grego theoria), uma vez que se refere aos pressupostos que fundamentam o modo de pesquisar, pressupostos estes que, como o próprio termo sugere, são anteriores à coleta de informações na realidade.

No início da modernidade, por exemplo, houve uma valorização da experimentação e da observação como procedimentos ou passos necessários para se fazer ciência, mas estes procedimentos foram escolhidos porque se partia do pressuposto de que o homem seria capaz de, por si só, descobrir as causas dos fenômenos da natureza, descrevendo em leis gerais seu modo de funcionamento. Também estava suposta uma ordem na natureza: os eventos se relacionavam uns com os outros de forma regular, assim como todo o dia pode-se observar que, em determinado momento, o sol se põe. No entanto, antes da modernidade, a observação da natureza não era valorizada (ao contrário, muitas vezes era até proibida), pois se partia de um

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pressuposto diferente: o único conhecimento possível seria dado por Deus ao homem, através de uma revelação

Assim, pressupostos diferentes determinam procedimentos diferentes para alcançar o conhecimento.

Mas exatamente sobre o que se referem tais pressupostos? Ou ainda, são suposições prévias (antes da pesquisa acontecer) a respeito do quê? São basicamente sobre:

O que é o homem, suas possibilidades de vir a conhecer a realidade e, se existem,

quais são elas e como poderão se dar;

As maneiras pelas quais a natureza e a sociedade são concebidas e;

O processo de produção de conhecimento, isto é, considerando determinada concepção de homem e de natureza e/ou sociedade, resta supor como se originam as ideias ou o saber da ciência, como deverá ser possível produzi-lo.

Assim, uma ordem ou regularidade nos eventos da natureza era um pressuposto a partir

do qual o cientista moderno passou, com os procedimentos que criava com essa finalidade, a observar relações entre eventos (por exemplo, entre uma determinada temperatura e a passagem da água do estado líquido para o gasoso). No entanto, se o pressuposto fosse radicalmente outro, por exemplo, o de que os fenômenos naturais se transformam o tempo todo, então os procedimentos construídos seriam outros, uma vez que o olhar do pesquisador estaria dirigido por outro tipo de pressuposto.

A definição de método acima apresentada faz com que, tanto nas chamadas ciências naturais ou exatas como nas ciências humanas (que só aparecem no século XIX), tenhamos de lidar com uma pluralidade de perspectivas que procuram fundamentar o processo de produção do conhecimento científico. Ou seja, apesar de a ciência possuir critérios que, de uma maneira geral, são aceitos por todos os cientistas como definidores de sua maneira de trabalhar (como a intersubjetividade, por exemplo), nem todos os cientistas partem, para a realização do seu trabalho, de uma mesma concepção do que seja o conhecimento científico. Isto ocorre porque os pressupostos a respeito do que seja o homem, a natureza e/ou a sociedade e o próprio modo de produzir conhecimento não precisam ser os mesmos para todos os cientistas.

Sendo assim, é mais aconselhável se falar em visões de ciência ou em tendências metodológicas. Tais diferenças no modo de entender e produzir o conhecimento científico já podem ser observadas no momento mesmo do seu surgimento, ou seja, no início da modernidade. No século XVII constituiu-se um ramo da filosofia – a epistemologia – que, a partir de então, vem discutindo e formulando diferentes fundamentos para a ciência. O conhecimento é uma relação

A epistemologia, sobretudo a partir dos trabalhos de I. Kant utiliza os termos sujeito e objeto para fazer referência aos dois polos envolvidos na produção do conhecimento: o homem (que se propõe a conhecer algo) e o aspecto da realidade a ser conhecido. A discussão do papel

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do sujeito é central para se compreender a ciência, uma vez que se refere à forma como o cientista (o sujeito) deve se comportar para produzir conhecimento, e, assim, revela pressupostos subjacentes a toda pesquisa.

Na história da epistemologia surgiram três perspectivas a este respeito. A primeira – chamada de empirismo – supõe a primazia do objeto em relação ao sujeito, isto é, o conhecimento deve ser produzido a partir da forma como a realidade se apresenta ao cientista. Neste quadro, seu papel é passivo, dado que a fonte principal do conhecimento está no objeto.

A segunda perspectiva – chamada de racionalismo – aponta a primazia do sujeito ou de sua atividade em relação ao objeto, uma vez que toma a razão, isto é, a capacidade humana de pensar, avaliar e estabelecer relações entre determinados elementos como fonte principal do conhecimento. Assim, por exemplo, a ideia de causa estaria situada na razão e seria a partir dela que se poderia produzir um conhecimento seguro da realidade.

De uma maneira bastante genérica (veremos que existem diferenças importantes entre autores situados nas duas perspectivas acima descritas), pode-se afirmar que o empirismo e o racionalismo possuem um elemento em comum: ambos pressupõem uma separação entre sujeito e objeto, isto é, partem do princípio de que existe uma realidade que independe do ponto de vista do pesquisador e que deve ser por este alcançada, seja tomando como sua via principal de acesso a percepção ou a razão. Claro que o sujeito (ou pesquisador), nos dois casos, participa do processo de produção de conhecimento. No entanto, tal participação é feita supondo-se que o objeto ou a realidade que se quer estudar existe por si só, fora e separada do pesquisador. Por este motivo, as duas posições apresentadas são chamadas de realistas. Os termos representacionismo e fundacionismo também são utilizados para indicá-las, uma vez que ambas pretendem representar ou fazer referência à realidade tal como ela, de fato, é, independentemente do sujeito que a estuda. Este é, na verdade, um dos fundamentos das duas posições apresentadas, daí o termo fundacionismo ser usado para identificá-las como um tipo de epistemologia.

A terceira posição sobre o papel do pesquisador na produção do conhecimento – o interacionismo – afirma que o conhecimento é produzido no quadro da interação entre sujeito e objeto. Nesta perspectiva, os produtos da ciência seriam os resultados das inter-relações que mantemos com a realidade, a partir de nossas práticas sociais.

Sendo a ciência uma prática social, seus produtos não estariam destituídos de pressupostos dados, sobretudo pela cultura ou ideologia predominante num determinado período histórico. As verdades da ciência seriam, pois, fundamentalmente históricas e, portanto, nunca neutras. Cabe frisar aqui que, na posição interacionista, quando se fala na impossibilidade de um conhecimento independente do sujeito, não se está pressupondo ou afirmando a inexistência de uma realidade a ser conhecida. O que se coloca em questão é o pressuposto de que seu acesso possa (e deva) ser feito independentemente das condições biológicas, culturais, sociais e até econômicas que constituem seu produtor, isto é, o cientista. Assim, a ideia de neutralidade científica, por exemplo, não se enquadra na perspectiva interacionista, uma vez que pressupõe um cientista purificado das condições que determinam a sua própria existência como homem e pesquisador.

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Conhecimento empírico ou senso comum O conhecimento empírico é também chamado de conhecimento popular ou comum. É

aquele obtido no dia a dia, independentemente de estudos ou critérios de análise. Foi o primeiro nível de contato do homem com o mundo, acontecendo através de experiências casuais e de erros e acertos.

Segundo Galliano (1986, p.36) “[...] resulta de repetidas experiências casuais de erro e acerto, sem observação metódica, nem verificação sistemática. Pode também resultar de simples transmissão de geração para geração e, assim, fazer parte das tradições de uma coletividade”.

É um conhecimento superficial, onde o indivíduo, por exemplo, sabe que nuvens escuras é sinal de mau tempo, contudo não tem ideia da dinâmica das massas de ar, da umidade atmosférica ou de qualquer outro princípio da climatologia. Enfim, ele não tem a intenção de ser profundo, mas sim, básico.

Nesse sentido, Ruiz (1996, p.23) conceitua o conhecimento empírico como: “[...] é o modo comum, espontâneo, pré-crítico de conhecer. É o conhecimento do povo que atinge os fatos sem lhes inquirir as causas”.

Portanto, o conhecimento do tipo senso comum, produz informações sobre a realidade. No entanto, tais informações normalmente se prendem aos seus objetivos mais imediatos, ou seja, não se preocupa em saber as razões ou as causas dos fenômenos, como é o caso da cozinheira do exemplo dado por Carvalho (2000), para ela não importa o motivo o qual o fermento faz o bolo crescer, o que importa é que ele garante um bolo fofinho e com uma aparência apetitosa, garantindo assim, os elogios esperados.

O conhecimento empírico ou senso comum fundamenta-se, nas informações adquiridas na convivência familiar e social e, portanto, possui as seguintes características: valorativo (vivência e emoção da vida cotidiana); assistemático (baseia-se nas experiências próprias do sujeito cognoscente que aprende o objeto conhecido, não possuindo um sistema organizado de ideias); verificável (pode ser percebido na vida diária); falível e inexato (conforma-se com a aparência e com o que ouviu dizer sobre o objeto). Conhecimento científico

A ciência é uma necessidade do ser humano que se manifesta desde a infância. É através dela que o homem busca o constante aperfeiçoamento e a compreensão do mundo que o rodeia por meio de ações sistemáticas, analíticas e críticas.

Ao contrário do empirismo, que fornece um entendimento superficial, o conhecimento científico busca a explicação profunda do fenômeno e suas inter-relações com o meio.

Diferentemente do filosófico, o conhecimento científico procura delimitar o objeto alvo, buscando o rigor da exatidão, que pode ser temporária, porém comprovada. Deve ser provado com clareza e precisão, levando à elaboração de leis universalmente válidas para todos os fenômenos da mesma natureza. Ainda assim, ele está sempre sob júdice, podendo ser revisado ou reformulado a qualquer tempo, desde que se possa provar sua ineficácia. É produzido pela investigação científica e através dos seus métodos A procura surge não só da necessidade de encontrar soluções para problemas da vida diária, mas também do desejo de fornecer teorias

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que possam ser testadas e criticadas, por meio de provas empíricas, portanto, pode-se dizer que o que o senso comum é o motor do conhecimento científico. Na verdade, a observação da realidade é o ponto de partida para qualquer teoria ou investigação.

Verifica-se, portanto que o conhecimento científico lida com ocorrências ou fatos, isto é,

com toda forma de existência que se manifesta de algum modo, estando pautado nas características relacionadas a seguir: contingente (suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida por meio da experimentação e não apenas da razão); sistemático (saber ordenado logicamente, formando um sistema de ideias [teoria] e não conhecimentos dispersos e desconexos); verificabilidade (suas hipóteses são verificáveis – observação/experimentação para comprovação ou refutação); falível (verdades não definitivas e/ou absolutas); aproximadamente exato (novas proposições e desenvolvimentos de técnicas podem reformular o acervo de teoria existente). Demarcação Científica

A preocupação da demarcação científica é identificar as características únicas e essenciais da ciência, separando-a de outras atividades consideradas não científicas tais como: religião, arte, política, folclore e principalmente a ideologia.

Ideologia é um termo usado no senso comum contendo o sentido de "conjunto de ideias”, pensamentos, doutrinas e visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas.

A origem do termo ocorreu com Destrutt Tracy, que criou a palavra e lhe deu o primeiro de seus significados: ciência das idéias. Posteriormente, esta palavra ganharia um sentido pejorativo quando Napoleão chamou De Tracy e seus seguidores de "ideólogos" no sentido de "deformadores da realidade.

Karl Marx iria desenvolver uma teoria da ideologia concebendo-a como uma forma de falsa consciência cuja origem histórica ocorre com a emergência da divisão entre trabalho intelectual e manual. É a partir deste momento que surge a ideologia, derivada de agentes sociais concretos (os ideólogos ou intelectuais), que autonomizariam o mundo das idéias e assim inverteriam a realidade.

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A dimensão ideológica do discurso pode tanto transformar quanto reproduzir as relações de dominação. Para Marx, essa dominação se dá pelas relações de produção que se estabelecem e as classes que estas criam numa sociedade. Por isso, a ideologia cria uma “falsa consciência” sobre a realidade que visa a reforçar e perpetuar essa dominação.

Já para Gramsci, a ideologia não é enganosa ou negativa em si, constituindo qualquer ideário de um grupo de indivíduos.

Mesmo quando amplos setores da população de um país ficam reduzidos a uma situação de miséria material e espiritual, mergulhados nas formas mais empobrecidas e limitadas do "senso comum", não se deve perder de vista o fato de que eles continuam a ser integrados por sujeitos humanos.

Nos Cadernos do Cárcere se lê a observação feita a respeito da situação intelectual do "homem do povo", que não sabe contra-argumentar em face de um "adversário ideologicamente superior", não consegue sustentar e desenvolver suas próprias razões, mas nem por isso adere ao ponto de vista do outro, porque se identifica solidariamente com o grupo a que pertence.

Segundo Gramsci a ideologia é identificada como distinta da estrutura e afirma que, não são as ideologias que mudam a estrutura, como afirmava Marx, mas, ao contrário, é a estrutura que muda as ideologias. Trabalhos Acadêmico-Científicos

Existem diversos tipos de trabalhos acadêmicos e/ou científicos. Pode-se citar, dentre

eles, os seguintes tipos: Resumo; Resenha; Artigos Científicos; Trabalho de Graduação ou Acadêmico; Trabalho de Conclusão de Curso ou Monografia e Relatório de estágio. Resumo

Resumir é apresentar de forma breve, concisa e seletiva um determinado conteúdo. Isto significa reduzir a termos breves e precisos a parte essencial de um tema. Saber fazer um bom resumo é fundamental no percurso acadêmico de um estudante em especial por lhe permitir recuperar rapidamente ideias, conceitos e informações com as quais ele terá de lidar ao longo de seu curso. O resumo pode ser: Resumo indicativo; Resumo informativo; e Resumo crítico ou resenha. Artigos Científicos As orientações aqui apresentadas são baseadas na norma da ABNT para apresentação de artigos científicos impressos: a NBR 6022:2003. Essa norma apresenta os elementos que constituem um artigo cientifico. “Artigo científico é parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento.” (ABNT. NBR 6022, 2003, p. 2).

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Para Lakatos e Marconi (1991) os artigos científicos têm as seguintes características:

a) não se constituem em matéria de um livro; b) são publicados em revistas ou periódicos especializados; c) permitem ao leitor, por serem completos, repetir a experiência.

Ainda de acordo com as autoras, o artigo científico pode ser:

a) Original ou divulgação: apresenta temas ou abordagens originais e podem ser: relatos de caso, comunicação ou notas prévias;

b) Revisão: os artigos de revisão analisam e discutem trabalhos já publicados, revisões bibliográficas, e outros.

O artigo científico tem a mesma estrutura dos demais trabalhos científicos:

a) Pré-textual b) Textual c) Pós-textual Trabalho de graduação ou acadêmico, Projeto de pesquisa e Monografia

A atividade de elaboração dos trabalhos científicos estimula conhecer o valor da pesquisa e todos seus benefícios no ambiente universitário; proporciona a aquisição de habilidades específicas de leitura, análise e interpretação de textos e o conhecimento da aplicação das normas técnicas necessárias para apresentação de trabalhos acadêmico-científicos.

Aplicar corretamente as normas no planejamento e apresentação de projetos e trabalhos científicos requer algumas exigências, das quais se faz necessário estabelecer as diferenças entre os diversos tipos de trabalhos. Os trabalhos científicos devem apresentar uma lógica interna; devem expor ideias obedecendo uma coerência entre os tópicos abordados e, no interior destes, um encadeamento lógico de ideias. Assim, em relação aos tipos de trabalhos científicos, podem se destacar o trabalho de graduação ou acadêmico que são produzidos durante o processo de aplicação das disciplinas e aqueles que se constituem do resultado final de determinado curso: o projeto de pesquisa e a monografia. Trabalho de Graduação ou Acadêmica

Desenvolvidos durante as disciplinas possuem características distintas e são elaborados

de acordo com os interesses e objetivos específicos, conforme orientações de cada docente. De maneira geral podem ser assim descritos: Trabalho de revisão bibliográfica e Trabalhos do tipo ensaio.

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Projeto de pesquisa

Um projeto de pesquisa é a primeira etapa para obter um conhecimento sistematizado

acerca da realidade. É um documento que explicita as ações que serão desenvolvidas ao longo do processo de pesquisa. O projeto é útil ao pesquisador e à equipe para orientar a ação, e ao mesmo tempo para definir qual a temática a ser investigada.

A estrutura do Projeto de pesquisa é a seguinte: a) Elementos pré-textuais – Capa, folha de rosto e sumário b) Elementos textuais – Introdução; Referencial teórico; Metodologia; Recursos e

Cronograma; c) Elementos pós-textuais - Referências

Monografia

É um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de graduação ou de pós-graduação Lato

sensu (especialização ou MBA). O objetivo é a divulgação dos dados técnicos obtidos e analisados e registra-os em caráter permanente, proporcionando a outros pesquisadores, fontes de pesquisas fiéis, capazes de nortear futuros trabalhos de pesquisa e facilitando sua recuperação nos diversos sistemas de informação utilizados. A monografia deve ser um todo sistêmico cujos capítulos são unidades relacionadas pela razão do trabalho. A característica sistêmica da monografia, também, deve ser compreendida como um esgotamento provisório do tema abordado. Deve abordar um objeto delimitado em tema específico de determinada área do conhecimento. Relatório de Estágio

É o documento que visa apresentar a descrição do local onde foi realizado o estágio, o período de duração e as atividades desenvolvidas pelo estagiário. O relatório de estágio compreende: elementos pré-textuais (capa; agradecimentos (opcional); sumário), textuais (introdução, apresentação da empresa; síntese da carga horária semanal; relatório descritivo; conclusão) e pós-textuais (referências; apêndices e anexos). Tipos de Pesquisa

Segundo Köche (1997, p. 121) pesquisar significa identificar uma dúvida que necessite ser esclarecida e construir e executar o processo que apresenta a solução desta, quando não há teorias que a expliquem ou quando as teorias que existem não estão aptas para fazê-lo.

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Portanto, pesquisar é descobrir, e assim sendo, é um fato natural a todos os indivíduos. Ruiz (1996, p. 48) considera que pesquisa científica é a realização completa de uma investigação, desenvolvida e redigida de acordo com as normas de metodologia consagradas pela ciência.

Para que uma pesquisa seja considerada científica, ela deve seguir uma metodologia que compreenda uma seqüência de etapas logicamente encadeadas, de forma que possa ser repetida obtendo-se os mesmos resultados. Dessa maneira, os dados obtidos contribuirão para a ampliação do conhecimento já acumulado, bem como para a sua reformulação ou criação.

Existem várias formas de classificar as pesquisas. As formas clássicas de classificação serão apresentadas a seguir, conforme Gil (1991): a) Do ponto de vista da sua natureza pode ser: Pesquisa Básica: objetiva gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da ciência sem

aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais. Pesquisa Aplicada: objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à

solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais. b) Do ponto de vista da forma de abordagem do problema pode ser: Pesquisa Quantitativa: considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir

em números opiniões e informações para classificá-los e analisá-los. Requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão, etc.);

Pesquisa Qualitativa: considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicos no processo de pesquisa qualitativa. Não requer os uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem.

c) Do ponto de vista de seus objetivos (fins) pode ser:

Pesquisa Exploratória: visa proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas

a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a compreensão. Assume, em geral, as formas de Pesquisas Bibliográficas e Estudos de Caso.

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Pesquisa Descritiva: visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Requer o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática. Assume, em geral, a forma de Levantamento.

Pesquisa Explicativa: visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão, o porquê das coisas. Quando realizada nas ciências naturais requer o uso do método experimental e nas ciências sociais, o uso do método observacional. Assume, em geral, as formas de Pesquisa Experimental e Pesquisa Ex-post-facto.

d) Do ponto de vista dos procedimentos técnicos (meios) pode ser: Pesquisa Bibliográfica: utiliza material já publicado, constituído basicamente de livros,

artigos de periódicos e atualmente com informações disponibilizadas na Internet. Quase todos os estudos fazem uso do levantamento bibliográfico e algumas pesquisas são desenvolvidas exclusivamente por fontes bibliográficas. Sua principal vantagem é possibilitar ao investigador a cobertura de uma gama de acontecimentos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. (GIL, 1999);

Levantamento: envolve a interrogação direta de pessoas cujo comportamento se deseja conhecer acerca do problema estudado para, em seguida, mediante análise quantitativa, chegar as conclusões correspondentes aos dados coletados. O levantamento feito com informações de todos os integrantes do universo da pesquisa origina um censo. (GIL, 1999);

Estudo de Caso: envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento. (GIL, 1999). O estudo de caso pode abranger análise de exame de registros, observação de acontecimentos, entrevistas estruturadas e não-estruturadas ou qualquer outra técnica de pesquisa;

Pesquisa-Ação: concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo. Os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (GIL, 1999). Objetiva definir o campo de investigação, as expectativas dos interessados, bem como o tipo de auxílio que estes poderão exercer ao longo do processo de pesquisa. Implica no contato direto com o campo de estudo envolvendo o reconhecimento visual do local, consulta a documentos diversos e, sobretudo, a discussão com representantes das categorias sociais envolvidas na pesquisa;

Pesquisa Participante: Pesquisa realizada através da integração do investigador que assume uma função no grupo a ser pesquisado, mas sem seguir uma proposta pré-definida de ação. A intenção é adquirir conhecimento mais profundo do grupo. O grupo

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investigado tem ciência da finalidade, dos objetivos da pesquisa e da identidade do pesquisador;

Pesquisa Experimental: quando se determina um objeto de estudo, selecionam-se as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definem-se as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto. (GIL, 1999). A pesquisa experimental necessita de previsão de relações entre as variáveis a serem estudadas, como também o seu controle e por isso, na maioria das situações, é inviável quando se trata de objetos sociais;

Pesquisa Ex-Post-Facto: quando o experimento se realiza depois dos fatos. O pesquisador não tem controle sobre as variáveis. (GIL, 1999). É um tipo de pesquisa experimental, mas difere da experimental propriamente dita pelo fato de o fenômeno ocorrer naturalmente sem que o investigador tenha controle sobre ele, ou seja, nesse caso, o pesquisador passa a ser um mero observador do acontecimento.

Para tornar o leitor (...) um sujeito da história da ciência, (...) [é necessário que se conheça

o] modo pelo qual o exercício da produção do conhecimento científico pode ser feita. São passos que consideramos necessários (...). Tais passos, porém, não estão desvinculados na discussão feita (...) [até aqui]. Ao contrário, a cada decisão de caráter metodológico que o (...) [pesquisador] tomar – por exemplo, qual modelo explicativo de um fenômeno acha mais convincente – questões (...) [de epistemologia] emergirão e, se for necessário, uma volta a ela será útil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002. CARVALHO, Alex et al. Aprendendo Metodologia Científica. São Paulo: O Nome da Rosa, 2000, pp. 11-69. FERREIRA, Conceição de Maria Moura. Metodologia do Trabalho Científico. São Luís: UNICEUMA, 2008. GIL, Antônio C. Métodos e técnicas em pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1996.