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    ECONOMIA E NEGCIOS

    Unidade II

    5 O SISTEMA CAPITALISTA E OS MERCADOS

    5.1 O que so estruturas de mercado?

    Afinal, o que vem a ser mercado?

    Mercado um local de encontro entre algum que oferece algo para outro algum que necessitadesse algo. Assim, mercado um local de trocas: trocas de produtos, de servios, de informaes.

    Podemos pensar, por exemplo, no mercado de trabalho. O trabalho aqui j foi definido como umfator de produo; como fator primordial de produo de que as empresas necessitam e um fatorprimordial de produo para que a sociedade possa obter renda. O mercado de trabalho constitudopr ofertantes de fora de trabalho mo de obra e demandantes de tal fator. Como as empresasnecessitam do trabalho para por em prtica seu processo produtivo, ofertam vagas para que sejampreenchidas pelas famlias que oferecem s empresas a sua riqueza, o trabalho. Assim, de forma conduzidapela mo invisvel,conforme explicado por Adam Smith, as empresas e as famlias se encontram emtal mercado. Mas, onde se d tal encontro? No necessariamente em um espao ou local especfico.Portanto, entende-se por mercado um local imaginrioonde so efetuadas tais trocas.

    Outro exemplo o mercado de crdito. Ele constitudo por agentes superavitrios, ou seja,poupadores, que colocam disposio dos bancos um volume de moeda para que seja emprestada adeficitrios. Tais agentes necessitados de moeda recorrem ao mercado de crdito para obter esse recurso.Esse mercado mais visvel,pois percebido nas atividades dos bancos e das sociedades de crdito.

    Podemos ainda classificar os mais diversos mercados em concentradoseno concentrados.Faremosisso para melhor entender como se d o padro de concorrncia entre empresas. nesse mbito que entra adiscusso sobre estruturas de mercado para que, a partir disso, possamos melhor entender como so divididas

    as mais variadas atividades econmicas e de que forma so identificadas as diversas empresas existentes numsistema econmico. Tal classificao d-se em razo do poder exercido por algum agente econmico nocaso, poder de compradores e de vendedores, mais especificamente, por parte dos vendedores.

    As vrias formas ou estruturas de mercado dependem, fundamentalmente, de trs caractersticas:

    a) Nmero de empresas que compe o mercado;

    b) Tipo de produto;

    c) Existncia de barreiras ao acesso de novas empresas.

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    So basicamente quatro as estruturas de mercado mais predominantes: o mercado de concorrnciaperfeita, o de monoplio, a concorrncia monopolstica e o oligoplio.

    O mercado no concentrado, representado pelo chamado mercado de concorrncia perfeita. Paraque um mercado seja classificado assim, algumas caractersticas devem ser reunidas.

    Um mercado de concorrncia perfeita aquele em que h grande nmero de vendedores (empresas),de tal sorte que uma empresa, isoladamente, insignificante, no afeta os nveis de oferta de mercadoe, consequentemente, o preo de equilbrio.

    O mercado de concorrncia perfeita um mercado atomizado, pois composto de um nmeroexpressivo de empresas e de compradores, como se fossem tomos. Alm disso, rene outrascaractersticas, como:

    a) Grande quantidade de compradores para uma grande quantidade de vendedores;

    b) Produto homogneo;

    c) Mercado transparente;

    d) Liberdade aos agentes econmicos quanto entrada e sada de novos participantes;

    e) Mercado atomizado.

    Nesse mercado, no longo prazo, no existem lucros extraordinrios (em que as receitas superamos custos), mas apenas os chamados lucros normais, que representam a remunerao implcita doempresrio.

    Do ponto de vista da teoria microeconmica, a estrutura de concorrncia perfeita uma construoterica, simplificadora da realidade. Mas, construo terica ou no, o fato que uma empresa atuandonesse mercado tambm ter o objetivo de lucro. Melhor ainda, ter como objetivo a maximizao de seulucro e, dessa forma, precisa decidir quais quantidades produzidas so aquelas que atingem o objetivo.Como se trata de um mercado em que h muitos vendedores de um mesmo produto, a margem de

    manobra em relao ao preo de venda da mercadoria fica bastante prejudicada, sendo, dessa forma, opreo estabelecido pelo mercado.

    Nenhuma firma, isoladamente, tem condies de alterar o preo ou praticar valor superior aoestabelecido. Contudo, acatando o preo dado pelo mercado, ela poder vender o quanto puder, limitadaapenas por sua estrutura de custos.

    Em uma concorrncia perfeita como as quantidades demandadas e ofertadas da mercadoriadependem de muitos compradores e de muitos vendedores o preo da mercadoria estabelecido apartir do encontro das curvas de demanda e oferta. Portanto, o preo da mercadoria estabelecido pelomercado e, a partir disso, as firmas seguem o valor estabelecido. Dessa forma, so tambm chamadas de

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    seguidoras ou tomadoras de preos.

    De forma oposta do mercado de concorrncia perfeita, temos o mercado de monoplio, quer dizer,o mercado em que existe um nico poder, j representando o mercado concentrado.

    O mercado de monoplio apresenta condies diametralmente opostas s da concorrncia perfeita.Nele existe, de um lado, um nico empresrio dominando inteiramente a oferta, e, de outro, todosos consumidores. No h, portanto, produto substituto perfeito ou concorrente. Nesse caso, ou osconsumidores se submetem s condies impostas pelo vendedor ou simplesmente deixam de consumiro produto.

    Para existir monoplio deve haver barreiras que impeam a entrada de novas firmas no mercado.Essas barreiras podem advir de diversas formas, sendo o monoplio puro ou natural uma delas. Essecaso ocorre quando o mercado, por suas prprias caractersticas, exige a instalao de grandes plantas

    industriais que operam normalmente com economias de escala e custos unitrios bastante baixos,possibilitando empresa cobrar preos baixos por seu produto, o que acaba praticamente inviabilizandoa entrada de novos concorrentes.

    Podemos ainda elencar como barreiras o elevado volume de capital requerido para montar umaindstria monopolista, as marcas e patentes, o controle de matria-prima bsica, bem como as instituies.A legislao brasileira acerca do tema probe a existncia de monoplio, permitido apenas para aquelessegmentos de mercado em que, para perfeito funcionamento, deva existir apenas uma empresa. So oschamados monoplios institucionais ou estatais, considerados estratgicos ou de segurana nacional.Observa-se atualmente, porm, que h uma movimentao para que segmentos monopolizados sejamprivatizados.

    Como existem barreiras entrada de novas empresas, os lucros extraordinrios devem persistirtambm no longo prazo nos mercados monopolizados. Nessa estrutura de mercado, a curva de demandada empresa a prpria curva de demanda do mercado como um todo. Ao ser exclusiva no mercado,a empresa no estar sujeita aos preos vigentes. Isso no significa, porm, que poder aumentar ospreos indefinidamente. Deve, pois sim, de alguma forma, se adequar aos padres de demanda dosconsumidores.

    Outra estrutura de mercado aquela formada pelos oligoplios. O oligoplio um tipo de estruturacaracterizada por um pequeno nmero de empresas que dominam a oferta de mercado, como o daindstria automobilstica, ou ento, no qual h um grande nmero de empresas com poucas dominandoo mercado, como a indstria de bebidas.

    No oligoplio, tanto as quantidades ofertadas quanto os preos so fixados entre as empresas,muitas vezes, por meio de conluios ou cartis (NOGAMI e PASSOS, 2003). Normalmente, as empresasdiscutem suas estruturas de custos, embora isso no ocorra com relao a sua estratgia de produo ede marketing. H uma empresa lder que, via de regra, fixa o preo, respeitando as estruturas de custosdas demais, e h empresas satlites que seguem as regras ditadas pelas lderes. Esse o modelo chamadode liderana de preos.

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    Quanto aos objetivos da empresa oligopolista de maximizao de resultados, a teoria microeconmicaaborda duas correntes: aquela apresentada pela teoria marginalista e a apresentada pela organizaoindustrial.

    Pela abordagem neoclssico-marginalista, a maximizao de lucros se d por:

    LT = RT CT

    onde: LT = lucro total; RT = receita total; CT = custo total

    De acordo com essa abordagem, basta que os custos de produo sejam menores do que as receitasde vendas para que haja lucros para a empresa oligopolista.

    A abordagem industrial no enfatiza a maximizao de lucros pura e simples, mas, sim, a maximizao

    do mark-up. A teoria do mark-uprepousa na constatao emprica de que as empresas no conseguemprever adequadamente a demanda por seu produto e, portanto, suas receitas, mas conhecem seuscustos. Difere da teoria marginalista, segundo a qual a empresa, para fixar seu preo no lucro mximo,precisa prever tambm as receitas, o que envolve conhecer a demanda por seu produto para igualar suasreceitas marginais aos custos marginais.

    Para que a empresa chegue ao preo de venda, dever ento ter em mente seus custos de produoe saber qual sua taxa de mark-up. Ento:

    p = (1 + m)c

    onde: p = preo do produto; m = taxa de mark-up, que uma porcentagem sobre os custos diretos;c = custo direto unitrio

    Dessa forma, o mark-upser dado pela diferena entre a receita de vendas e os custos diretos. A taxade mark-up deve cobrir, alm dos custos diretos, os custos fixos; deve tambm atender uma certa taxade rentabilidade desejada pela empresa oligopolista.

    A concorrncia monopolista uma estrutura intermediria entre a concorrncia perfeita e o

    monoplio, mas que no se confunde com o oligoplio.

    Na concorrncia monopolista h um nmero relativamente grande de empresas com poderconcorrencial, porm, com segmentos de mercado e produtos diferenciados, seja por caractersticasfsicas, pelas embalagens ou pela prestao de servios.

    Tais empresas detm alguma margem de manobra para fixao dos preos, que no muito ampla,uma vez que existem produtos substitutos no mercado. Essas caractersticas acabam dando um pequenopoder monopolista sobre o preo de seu produto, embora o mercado seja competitivo. O quadro 3, aseguir, resume caractersticas acerca das estruturas de mercado.

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    Saiba mais

    Temos disposio uma literatura bastante vasta sobre as estruturas

    de mercado. Recomendamos que voc leia Polticas de concorrncia:tendncias recentes e o estado da arte no Brasil, de Lucia Helena Salgado.Disponvel em: .Acesso em: 23 mar. 2011. Na obra a autora discute polticas antitrustes.

    Tambm sugerimos a leitura do texto Do vinho ao caf: aspectos sobrea poltica de diferenciao, de Alexandre Macchione Saes, que analisa ocaso da diferenciao de produtos em dois diferentes mercados. Disponvelem: . Acesso em 23

    mar. 2011.

    EstruturaNmero deempresas

    Tipo de produtoCondies de

    entrada e sadaInfluncia

    sobre o preoExemplos

    Concorrnciaperfeita

    Muitas Produtohomogneo FcilNenhuma, pois

    so tomadoras depreos

    Alguns produtosagrcolas

    Monoplio Uma Produto nico semsubstituto prximo Difcil ForteServios de energia

    eltrica

    Concorrnciamonopolista

    Muitas Produtodiferenciado Fcil LeveComrcio varejista,

    restaurantes, farmcias

    Oligoplio Poucas Homogneo oudiferenciado Difcil ConsidervelHomogneo: alumnio

    Diferenciado: automveis

    Quadro 3 Resumo das caractersticas das estruturas de mercado12

    Lembrete

    Guarde bem: o estudo das estruturas de mercado divide a economia

    em mercados concentrados e no concentrados. Certifique-se de quereconhece facilmente as caractersticas de cada um deles.

    5.2 Como se formaram os grandes oligoplios?

    O sculo XIX (conhecido como o sculo da paz), impulsionado pelo crescimento econmico, progressotecnolgico e pelos desenvolvimentos polticos advindos da Revoluo Francesa, seria o sculo dasinterpretaes da razo. Nesse momento, o imprio britnico assentar suas bases, e a conta de tamanhodesenvolvimento ser paga depois, com a crise do final do sculo e as lutas dos trabalhadores que,

    12Nogami e Passos (2003).

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    inspirados pelos ideais socialistas, procurariam melhorar as condies de trabalho. Tambm ser paganas duas ltimas dcadas do sculo e no incio do sculo seguinte, com os movimentos do capital embusca de novos mercados nas colnias e com o imperialismo econmico que acabaria por provocar a IGuerra Mundial.

    No campo das cincias, buscava-se um nico e mesmo mtodo para o encontro da verdade,independentemente da rea do conhecimento: era a nova cincia que fascinava a todos. Acincia do sculo XIX seria aquela resultante das heranas do Renascimento mesclada s doIluminismo e em que se notaria o carter preferencialmente mecanicista e o uso da matemticacomo linguagem. Afinal, se o universo era um grande organismo, faltava apenas descobrir umagrande lei que explicasse o seu funcionamento e, do ponto de vista do estudo da economiapoltica, isso significava buscar a demonstrao matematicamente rigorosa da superioridadeda ordem burguesa e do sistema de mercado: essa ser a principal razo para a busca de umaformalidade metodolgica que conferiria economia o mesmo estatuto de cincia da fsica

    e para a utilizao constante de metforas derivadas da fsica e da biologia para estudos depensamento econmico.

    Essa quantificao tambm vir sob a forma de estatsticas e recenseamentos que no mais sededicam exclusivamente administrao pblica, passando a municiar de dados os que pretendemestudar a sociedade a partir de um mtodo racional e cientfico.

    O desenvolvimento das tcnicas e dos instrumentos para mensurao estatstica permitir aosprimeiros rgos e instituies oficialmente responsveis pelas pesquisas estatsticas a descrio detodas as facetas da sociedade, numa verdadeira febre de contagem: nascimentos, bitos, doenas(que serviriam de material para os higienistas), preos, produo, animais, condenados por crimes,prostituio, uso do solo, da gua e do ar. Esses seriam os nmeros que subsidiariam a compreenso darealidade a partir de leis explicativas. Na Inglaterra vitoriana, as leis que j existiam (as de Adam Smith,Malthus e Ricardo) sobre a distribuio econmica eram poucas, mas definitivas. Essas leis pareciamexplicar no apenas como a produo da sociedade tendia a ser distribuda, mas tambm como eladeviaser distribuda (HEILBRONER, 1996, p. 120).

    A crise surgiria como resultado da expanso da produo acompanhada de reduo da lucratividadedos negcios: saturao paulatina de novas oportunidades, rapidez na acumulao de capital, limites

    para extrao da mais-valia, tudo contribuiu para a gestao da crise que romperia ao final do sculoXIX, aparentemente to promissor nos seus primrdios.

    Ao final do sculo XIX, a concorrncia, antes bem-vinda, agora sugeria a criao de mecanismosde defesa contra a reduo de preos e de margens de lucro. Essa maior preocupao com osperigos da concorrncia sem barreiras veio numa poca em que a crescente concentrao daproduo, principalmente na indstria pesada, lanava os alicerces de uma centralizao maiorda propriedade e do controle da poltica dos negcios (DOBB, 1987, p. 310). Surgem trustes,associaes de produtores industriais e cartis. Necessitadas de mercado, as empresas europeias(especialmente as de capital britnico) iro exportar bens de capital para a sia, a frica e aAmrica.

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    Esse impulso ser dado com a explorao do salitre no Chile, com a construo de ferrovias e portosno Brasil, no Mxico, no Japo, no Canad e na Argentina: se o capital j no pode ser traduzido emacumulao nos seus locais de origem, ir ser exportado para o exterior, e l produzir os lucros todesejados pelos empresrios.

    Saiba mais

    Sugerimos a leitura de Santa Maria de Iquique, h cem anos, de IvyJudensnaider, em que a autora relata o ocorrido nas minas de salitre doChile no comeo do sculo XX. Disponvel em: . Acesso em: 23 mar. 2011.

    Como o pensamento econmico ir refletir sobre essa nova realidade? Inspirados pela viso dossucessivos levantes operrios (levantes esses que encontrariam seu pice em 1848) e pela possibilidadede entender e resolver os problemas oriundos da acumulao capitalista, Marx e Engels iro propor aanlise do capitalismo, advogando sua inexorabilidade rumo destruio. A concepo materialista dahistria, escreveu Engels (apudHEILBRONER, 1996, p. 138):

    (...) origina-se do princpio de que a produo, e com a produo atroca de seus produtos, a base de toda ordem social; que em cadasociedade que apareceu na histria a distribuio dos produtos, e comela a diviso da sociedade em classes ou Estados, determinada pelo

    que produzido, como produzido e como o produto trocado. Deacordo com essa concepo, as causas finais das mudanas sociais e dasrevolues polticas devem ser vistas, no na mente dos homens nemem seu crescente impulso em direo da eterna verdade e da justia,mas sim nas mudanas das maneiras de produo e de troca; devemser vistas no por meio da filosofia, mas sim da economiada pocaconcernente.

    Marx e Engels empreenderam forte ataque contra as teses clssicas, desmascarando a explorao

    da classe burguesa sobre os trabalhadores e dando incio a uma corrente de pensamento queextrapolou a prpria economia e ainda hoje se revela muito influente. Marx, em sua clssica obraO capital, de 1867, ao desenvolver conceitos como mais-valia, capital varivel, capital constante,exrcito industrial de reserva e composio orgnica do capital, entre outras contribuies,modificou a anlise do valor, principalmente a teoria do valor trabalho. Nas fbricas, jornadasdesumanas de trabalho.

    Fazemos um parntese no pensamento de Marx para citar uma passagem do livro A riqueza dohomem, de Leo Huberman, representativa do que era considerado normal, no sculo XIX, em termos dedurao de um dia de trabalho em uma fbrica inglesa:

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    As crianas agora trabalhavam em fbricas, sob a direo de um supervisorcujo emprego dependia da produo que pudesse arrancar de seus pequenoscorpos, com horrios e condies estabelecidos pelo dono da fbrica, ansiosopor lucros. At mesmo um senhor de escravos das ndias Ocidentais poderiasurpreender-se com o longo dia de trabalho das crianas. Um deles, falandoa trs industriais de Bradford, disse: Sempre me considerei infeliz pelo fatode ser dono de escravos, mas nunca, nas ndias Ocidentais, pensamos serpossvel haver ser humano to cruel que exigisse de uma criana de 9 anostrabalhar 12 horas e meia por dia, e isso, como os senhores reconhecem,como hbito normal (HUBERMAN, 1986, p. 192).

    Saiba mais

    O trabalho infantil ainda uma tragdia nos nossos tempos. Se vocquiser saber mais sobre o combate ao trabalho infantil, leia o contedo dosite do Ministrio do Trabalho e Emprego e, em particular, as publicaesque ali esto sobre o assunto. Disponvel em . Acesso em: 23 mar. 2011.

    Para Marx, o valor da fora de trabalho determinado, como no caso de qualquer outramercadoria, pelo tempo e pelo trabalho necessrio produo, consequentemente, reproduo detal mercadoria. Utilizando esse critrio de valor, Marx analisou a acumulao de capital, a distribuio

    da renda, as crises econmicas e, por fim, as contradies do capitalismo como sistema de produode mercadorias.

    A obra de Karl Marx (1818-1883) extremamente complexa, envolvendo, alm da anlise dofuncionamento da economia capitalista, a apresentao de um mtodo de investigao prprio (omaterialismo histrico) que, posteriormente, serviu de instrumental para vrias outras reas do saber.Para desenvolver a sua explicao terica do desenvolvimento do capitalismo, Marx partiu de Smith eRicardo. Segundo Hunt (2005), Marx considerava Mill um oponente intelectual a quem era necessriorespeitar; em relao a Malthus, Bentham, Senior e Say, ele quase que se limitou a critic-los (idem, p.194): esses autores careciam de uma viso histrica das atividades econmicas e do desenvolvimentosocial, e suas obras resultavam em anlises fracas e descontextualizadas em relao aos modos deproduo e s suas condies particulares em determinados perodos de tempo.

    Observao

    Marx faz uma previso: o capitalismo se destruir por si mesmo.

    A produo no planejada, a desorganizao do sistema, constantes oscilaes de preos, tudo

    conspiraria para a inexorvel crise.

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    O sistema, simplesmente, era complexo demais; desencaixava-se de maneiraconstante, perdia o ritmo, produzia determinada mercadoria em excesso e outra demenos. A segunda, o capitalismo deveria produzir seu sucessor sem o saber. Dentro desuas grandes fbricas ele precisaria no apenas criar a base tcnica para o socialismo produo racionalmente planejada , mas teria, alm disso, que criar uma classebem treinada e disciplinada que viria a ser o agente do socialismo, o amarguradoproletariado. Por sua prpria essncia dinmica, o capitalismo iria produzir a prpriaqueda e, no processo, alimentaria o inimigo (HEILBRONER, 1996, p. 141).

    Algumas das principais ideias de Marx podem ser assim resumidas:

    a) O capital era responsvel pela gerao de lucros para uma especfica e especial classe social;

    b) O conceito de harmonia social s era possvel se fosse tomada como pressuposto a existncia de

    apenas uma relao econmica: a troca;

    c) As mercadorias tinham um valor de uso (criado pelo trabalho til) e um valor de troca (criado pelovalor abstrato), este ltimo sendo expresso em termos de preo monetrio; ainda, o valor de usono poderia ser a base do valor de troca (HUNT, 2005, p. 198). Tendo estabelecido a ligao entreo valor de troca de uma mercadoria e a quantidade de tempo de trabalho socialmente necessriopara sua produo, Marx (...) mostrou as condies scio-histricas especficas necessrias paraos produtos do trabalho humano se transformarem em mercadorias (idem, p. 200);

    d) Enquanto numa sociedade no capitalista o fluxo de troca poderia ser descrito por mercadoriadinheiromercadoria (quer dizer, o processo envolvia a troca com o objetivo de adquirir outrasmercadorias para uso), numa sociedade capitalista o fluxo caracterizava-se por dinheiromercadoriadinheiro (ou seja, o capital permitia a produo de mercadorias que, trocadas, geravam maisdinheiro); a diferena entre dinheiro e dinheiro era a mais-valia, gerada no processo de produo eque tinha como origem o fato de os capitalistas comprarem um conjunto de mercadorias (fatoresde produo, incluindo o trabalho que o operrio vendia como mercadoria) por um valor abaixodaquele representado pelo conjunto de mercadorias vendidas (resultantes do processo produtivo).

    Essa anlise levou Marx a concluir que a nica forma de o capitalista sobreviver era acumulando cada

    vez mais capital; a luta pela sobrevivncia geraria concentrao econmica e faria com que a taxa de lucrotendesse queda, provocando crises setoriais, alienao e misria da classe operria (idem, p. 224).

    Saiba mais

    Germinal. Dir. Claude Berri, 160 minutos, 1993. Filmebaseado na obrahomnima de Emile Zola, retrata a situao dos mineiros franceses ao finaldo XIX, especialmente as condies insalubres de trabalho associadas aos

    baixos salrios. Vale a pena assistir!

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    Mais: Marx definiria a acumulao de capital como sendo a retransformao ou a utilizao damais-valia, produzida pela fora de trabalho, no prprio processo produtivo. Essa acumulao teriaseu ritmo dependente da composio orgnica do capital, que era a relao entre o chamado capitalconstante, derivado do valor dos meios de produo, e o capital varivel, advindo do valor da fora detrabalho. Quanto maior a parcela do capital total destinada ao capital constante em relao ao capitalvarivel, maior seria a acumulao do capital total.

    Como se daria o processo de acumulao de capital e as crises dela decorrentes? O capitalismo levava criao de empresas cada vez maiores, pertencentes a um nmero cada vez menor de proprietrios.Como a taxa de lucro tendia diminuio, a nica forma de compensar essa queda era aumentar aexplorao do trabalhador, mantendo os salrios ao nvel de subsistncia. medida que o capital eraacumulado, aumentava-se o valor dos outros meios de produo que no o trabalho. Os operrios sememprego formariam o exrcito industrial de reserva e competiriam pelos poucos postos de trabalho.O capital, ento, passaria a controlar o trabalho; aumentaria a alienao e a pobreza em geral. Aos

    operrios, portanto, apenas restaria destruir o capitalismo.

    Marx estava certo? Segundo Hunt (idem, p. 233),

    o capitalismo sobreviveu a muitas profecias posteriores a sua morte (...).No podemos esperar que Marx ou qualquer outro pensador tenha sido umvidente infalvel da sequncia exata e da ocasio exata dos acontecimentosfuturos. O capitalismo ou qualquer outro modo de produo social muito complexo para permitir previses feitas com base em adivinhaes.Marx, porm, apresentou uma anlise estruturada, bem como inmerosesclarecimentos tericos e histricos concretos, que continuam,comprovadamente, muito teis at hoje.

    O final do sculo XIX, portanto, um tempo de mudanas: emergem as grandes corporaeseconmicas com tendncia monopolstica (fazendo desaparecer o capitalismo concorrencial) e o Estadopassa a interferir cada vez mais na vida econmica da sociedade.

    Temos, agora, no apenas o contexto a partir do qual se gerou a grande depresso da dcada de1870, mas tambm o instrumental analtico para compreend-la em toda a sua extenso.

    O que se tornou conhecido como a Grande Depresso, iniciada em 1873,interrompida por surtos de recuperao em 1880 e 1888, e continuada emmeados da dcada de 1890, passou a ser encarado como um divisor deguas entre dois estgios do capitalismo: aquele inicial e vigoroso, prsperoe cheio de otimismo aventureiro, e o posterior, mais embaraado, hesitantee, diriam alguns, mostrando j as marcas de senilidade e decadncia (DOBB,1987, p. 300).

    Se os mercados so to necessrios para a sobrevivncia do capital, as naes desenvolvidas iroentrar em guerra para disput-los.

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    Saiba mais

    Se voc quiser lembrar os fatos relacionados Primeira Grande Guerra,

    consulte o texto disponvel em: . Acesso em 23 mar. 2011.

    Para refletir

    Vamos pensar um pouco mais?

    O texto a seguir trata do monoplio estatal e do oligoplio privado.

    Situao Do monoplio estatal ao oligoplio privado. Sem concorrncia no mercado, operadorascobram altas taxas da populao por servios insatisfatrios13.

    Passaram-se oito anos desde a privatizao do Sistema Telebrs, estatal que controlava a telefoniafixa brasileira, cujo ramo de atividade foi dividido entre as empresas Telemar, Brasil Telecom e Telefnica.A proposta de privatizao que, em tese, pretendia estimular a concorrncia justa, criou um oligopliode corporaes. As pequenas empresas, chamadas espelho, que detm concesses limitadas, noconseguem concorrer com as grandes operadoras. De acordo com dados de um estudo feito por umdos diretores da Agncia Nacional de Telecomunicaes (Anatel), Jos Pereira Filho, em julho do anopassado, Telemar, Telefnica e Brasil Telecom possuiam 93% do mercado. As empresas-espelho, mesmo

    sendo aproximadamente 60, administravam apenas 7% desse mercado.

    A falta de concorrncia mantida porque as trs grandes concessionrias atuam em regiesdiferentes do pas, tendo assim consumidores distintos. Mesmo com o domnio do mercado na telefoniafixa e sem o risco de perderem clientes para outras empresas, os servios prestados so os campees dereclamao nos servios de proteo ao consumidor.

    Acredito que alguns fatores levaram a essa situao. A ideia inicial era de que as empresas-espelhoentrariam no mercado, no teriam concesses, portanto no teriam obrigaes, como acontece com as

    concessionrias. Por outro lado, as concessionrias teriam suas obrigaes. Entendia-se que as empresasautorizadas, por entrarem no mercado sem essas obrigaes de universalizao, teriam o interesse deatender a todos os clientes. Mas elas acabaram optando pelo mercado corporativo, que mais lucrativo.Como elas no so obrigadas a oferecer o servio para todos os grupos, optaram pelo grupo que oferecemais lucratividade, explica Daniela Batalha, advogada do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec).

    Proposta: os termos monoplio e oligoplio esto sendo usados corretamente pelo autor dotexto?

    13Disponvel em: . Acesso em: 1 nov. 2010.

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    6 A CRISE DE 1929, O SISTEMA CAPITALISTA E A MO VISVEL DO ESTADO

    6.1 A crise

    A revista Vejapublicou o texto a seguir sobre o famoso outubro de 192914:

    Um alvoroo incomum nos arredores da Bolsa de Valores de Nova Yorkchamou a ateno do comissrio de polcia da cidade, Grover Whalen, naltima quinta-feira, dia 24. Por volta das 11 horas, um rugido cavernosocomeou a escapar do edifcio. Alguns minutos depois, j no erapossvel identificar se o bramido vinha de dentro ou de fora da Bolsa;uma multido estrepitosa tomara as cercanias de Wall Street e BroadStreet, como formigas rodeando um torro de acar esquecido na pia dacozinha. Alarmado, o comissrio logo enviou um destacamento especial

    para a regio. A turba, contudo, no representava uma ameaa ordempblica, como o oficial perceberia mais tarde. Com olhares horrorizadose incrdulos, os nova-iorquinos, espremidos uns aos outros, estavaminertes. Eles apenas esperavam, no se sabe ao certo quem ou o qu. Erao pnico.

    Dentro do prdio, a consternao era semelhante e estava ainda maisevidente na agitada face de corretores e operadores, protagonistas etestemunhas do acontecimento que pode mudar os rumos da economiamundial. Smbolo maior da pujana econmica dos Estados Unidos,o mercado de aes, que se tornou verdadeira mania nacional nestadcada gloriosa para os americanos, via seu baluarte, a rica e poderosaBolsa de Nova York, despedaar-se em poucos minutos naquela que jentrou para os anais como a quinta-feira negra. Uma onda sbita esem precedentes de vendas tomou de assalto o prego nova-iorquino.Aes outrora valorizadas simplesmente no encontravam novoscompradores, nem mesmo por verdadeiras ninharias. Os preos dospapis, fossem eles da United States Steel ou da American Telephoneand Telegraph, caam vertiginosamente, arrastando com eles as

    economias, esperanas e sonhos de milhares de americanos levados bancarrota instantnea.

    A notcia dizia respeito quebra da bolsa da maior economia do mundo em 1929, que, por suadimenso, disseminou a crise por todos os continentes. Para Dobb (1987, p. 322), o que rua era o sonhode um paraso econmico:

    14O primeiro nmero da revista Vejaimpressa foi publicado em 1968. Por meio da internet, porm, sob o nome Vejana Histria, a publicao tem colocado disposio dos interessados edies especiais sobre fatos histricos relevantes queaconteceram no mundo nas mais diversas pocas, como o crash na Bolsa de Nova York. Disponvel em: . Acesso em: 1 nov. 2010.

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    ECONOMIA E NEGCIOS

    Saiba mais

    Recomendamos fortemente a leitura do livro As vinhas da ira, de

    John Steinbeck, editora Record. Romance de 1939 em que o autor narraa trajetria dos camponeses sem trabalho que vagam pelo territrioamericano em busca de alguma oportunidade de sobrevivncia.

    Os prprios fatos desses anos sombrios, com suas falncias repentinas, fbricas abandonadas efilas de gente a pedir po, foraram nos espritos j refeitos a concluso de que algo muito maisfundamental do que uma adaptabilidade lenta de desordenadas relaes de preos devia estar erradono sistema econmico, e que a sociedade capitalista teria sido tomada por algo com todos os sinais deser uma doena crnica que ameaava tornar-se fatal.

    Vejamos as origens da crise. Aquele era um tempo em que a atividade econmica tinha comoprincipal caracterstica a produo de massa, resultante de mtodos de fluxo contnuo, pelos quais omovimento do produto atravs de suas etapas sucessivas governado por um s processo mecnico(idem, p. 357). O antigo arteso, o produtor independente da mquina e o agente que operava a mquina,todos eles so substitudos por mquinas que operam e comandam a produo, mquinas essas apenassupervisionadas pelo homem. A produo se torna um processo de equipe, mecanizado e que no podevariar, j que ditado pelo processo mecnico unificado.

    Como era o ambiente econmico nas primeiras dcadas do sculo XX? Tudo parecia funcionar

    perfeitamente, de acordo com a ideia mtica da mo invisvel, faltando to somente aguardar osmovimentos do mercado que conciliariam os interesses da demanda e da oferta. No entanto, no foi issoque se observou. Elevao do grau de monopolizao das empresas, rigidez de preos, manuteno dasmargens de lucro, reduo do emprego como estratgia para reduo de custos e otimismo infundado:essa era uma mistura improvvel, mas que, ocorrendo, levaria o mundo ao colapso de 1929.

    Se havia reduo da demanda e, portanto, formao dos estoques em nveis acima dos normais,utilizava-se a reduo da produo (e do emprego, em consequncia) como instrumento corretivo; ospreos, no sistema monopolista, estavam dados e no seriam alterados, da mesma forma que no se

    alteraria a taxa de lucros dos capitalistas. De acordo com Dobb (idem, p. 360), ainda havia outro fator aser considerado:

    Na medida em que o processo de produo se torna um todo unificado,em vez de uma coleo de unidades atomsticas, impe-se pelo menosum tamanho mnimo, abaixo do qual uma fbrica no pode operar. E, namedida em que os custos fixos ou gerais so aumentados, enquanto oscustos diretos ou primrios (ou variveis) so simultaneamente rebaixados,a praticabilidade de variar a produo de uma dada fbrica (por exemplo,pela sua dotao com uma fora de trabalho menor) fica ao mesmo tempo

    reduzida.

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    O otimismo infundado, que mencionamos anteriormente, encontrava apoio nos lucros obtidos emoperaes na bolsa de valores: os lucros eram to imensos, que todos compravam aes. Do padeiro aomotorista de nibus, todos compravam aes, embalados pelo sonho da prosperidade rpida e sem riscos,sequer imaginando que o fim estava muito mais prximo do que se imaginava. Mas, por qual motivo?

    Desde muito, o governo americano incentivava o cidado a participar do mercado acionrio. Afinal,o crescimento da produo industrial americana havia ocorrido custa de uma grande quantidade dedinheiro aplicado em bolsa de valores por meio de aquisio de aes de empresas.

    no mercado financeiro que as empresas, ao disponibilizar aes para negociao, conseguem elevarseu capital e investir no crescimento da produo. nesse tipo de mercado que agentes superavitriosencontram formas alternativas de valorizar suas riquezas, deixando-as disposio dos empresriosque investiro mais e mais na produo de coisas teis. Ao final do processo, o empresrio vende suaproduo e repassa parte dos lucros aos agentes superavitrios que acreditaram no negcio. Simples e

    bonito, no? Nem sim, nem no!

    O fato de as empresas utilizarem o mercado acionrio como forma de angariar recursos paraaumentos de produo louvvel, assim como promissor o fato de pessoas acreditarem e apostaremna produo alheia como forma de valorizao do capital. O que no est correto, ou pelo menos nose mostrou correto poca, foi a nsia capitalista de querer acumular mais e mais capital, a ponto dealgumas pessoas hipotecarem seus imveis para arriscar lucros alvissareiros no mercado financeiro.Ora, para que lucros maiores sejam repartidos entre mais pessoas, maiores devero ser os lucros dasempresas, ou seja, sua margem de lucro ser, portanto, maior que sua rentabilidade como negcio.

    Vimos em pginas anteriores certa tendncia para a mecanizao da produo. Para que a produoseja mecanizada, o homem d espao para a mquina. Quem recebe salrios para trocar sua remuneraopor produtos? Homens ou mquinas? Pensemos mais um pouco.

    Com o processo de acumulao e concentrao do capital aliado aos aumentos de eficincia eprodutividade da produo permitidos pelo crescente uso da maquinaria um volume de produtoscada vez maior lanado ao mercado para consumo.

    Faamos, ento, a conta. As empresas industriais desempregam pessoas. As empresas industriais

    aumentam as quantidades de produtos produzidos. Quem compra? Quem gera receitas s empresas? Deque forma essas empresas sero lucrativas? Como devolvero o capital anteriormente investido, agoracrescido em funo dos lucros prometidos? Ademais, grande quantidade de consumidores no estavainteressada em comprar e adquirir produtos, mas em investir seu dinheiro na produo! Percebe? Assim,

    quando os escombros foram varridos, o estrago era assustador. Em dois insanosmeses o mercado perdera todo o terreno que ganhara em dois anos delirantes;US$ 40 bilhes em valores haviam simplesmente desaparecido. Houve tambmo fato de que o americano mdio usara sua prosperidade de forma suicida;ele se hipotecara at o pescoo, esticara seus recursos de forma perigosa sob atentao de compras a prestao e acabara por selar o prprio destino comprando

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    avidamente fantsticas quantidades de aes cerca de 300 milhes de quotas, a estimativa com dinheiro emprestado (HEILBRONER, 1996, p. 233).

    O sistema monopolista tambm impedia a entrada de novas empresas, e a queda de investimentoslogo se faria sentir. Capacidade ociosa: esse seria o resultado da adoo desse conjunto de prticas, e aociosidade seria no apenas de equipamentos e ativos imobilizados, mas especialmente da mo de obra,que se caracterizaria como exrcito industrial de reserva de dimenses alarmantemente ampliadas.

    Os Estados Unidos, antes reconhecidos como osis do mundo para se viver, passaram a ser identificadoscomo geradores de crises.

    Os milhes de desempregados eram como uma embolia na circulao vitalda nao; e enquanto sua evidente existncia argumentava com mais forado que qualquer texto para demonstrar que algo estava errado no sistema, os

    economistas retorciam as mos, espremiam os crebros e invocavam o espritode Adam Smith, mas no conseguiram estabelecer qualquer diagnstico nemremdio. Desemprego este tipo de desemprego simplesmente no seencontrava na lista dos possveis problemas do sistema; era absurdo, irracionale, portanto, impossvel. Mas estava ali. (HEILBRONER, 1996, p. 234).

    O mecanismo da crise est representado no quadro 4 a seguir.

    Mecanismo da crise de 1929

    Subconsumoe

    superproduo

    Desemprego

    Quebra dosrendimentos

    Baixa de preos

    Quebra doslucros

    Falncias

    industriaise

    comerciais

    Diminuio

    do

    crdito

    Falncias

    bancrias

    Quebra

    das

    aes

    Quadro 4 O mecanismo da crise

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    O que fazer com o mundo que no caminhava automaticamente para o equilbrio, tal comopreconizado e previsto pelo liberalismo que marcara a gnese da investigao econmica? O que fazercom as teorias explicativas da poca, notadamente na figura de Jean Baptist Say, de que a ofertacria sua prpria procura e que as economias tendem ao equilbrio geral? Vrias foram as estratgiasque inspirariam os governantes dos mais diversos pases do mundo e romperiam com determinadosparadigmas do pensamento econmico.

    A partir das guerras mundiais, entremeadas pela crise de 1929 e pela Grande Depresso, a teoriaeconmica convencional passou a ser objeto de investigao e passvel de mudana. A partir dascatstrofes causadas pela Grande Depresso, h uma ruptura com a cincia clssica, pois os chamadoseconomistas clssicos acreditavam que as economias de mercado tinham a capacidade de, sem ainterferncia do governo, utilizar de maneira eficiente os recursos disponveis, ou seja, produzir essesrecursos com pleno emprego. A partir do momento em que as economias atingissem o ponto de plenoemprego, o produto da economia e o emprego j estariam determinados, representando ento a efetiva

    disponibilidade de recursos.

    6.2 A interveno do Estado

    A macroeconomia at ento prevalecente sugeria a existncia de uma tendncia automtica aopleno emprego de recursos e, dessa forma, inexistncia de desemprego de trabalhadores. Mas, porconta principalmente da Grande Depresso dos anos de 1930, a evidncia emprica mostrava pessoasbuscando constantemente emprego sem alcanar sucesso.

    Costuma-se creditar quebra da bolsa de valores a responsabilidade pela Grande Depresso dosanos 1930, mas importante notar outros acontecimentos da economia americana da poca que,conjugados euforia especulativa, acabaram por gerar a crise.

    Um desses acontecimentos foi um revs no setor agrcola. Este, caracterstico de um mercado deconcorrncia perfeita, produz um bem com demanda inelstica em relao ao preo e renda. O que issosignifica? Que se, por exemplo, baixar sobremaneira o preo da alface, o seu consumo no aumentar namesma magnitude. O mesmo ocorre em funo da renda. Como a sociedade vinha se industrializando, eranatural que os salrios dos trabalhadores da indstria fossem maiores em comparao aos trabalhadoresagrcolas. Assim, e diante do fato de as sociedades estarem mais concentradas nos centros urbanos

    em detrimento dos rurais, o consumo de produtos industrializados era maior do que o dos produtosagrcolas, gerando uma crise de superproduo agrcola e diminuindo os lucros dos empresrios dessesetor.

    Atrelado ao setor industrial, que remunerava o trabalho conforme sua produtividade, surgiu outrosetor: o de servios, que dava suporte e assistncia s indstrias. Para que as empresas do setor deprestao de servios tivessem condies de trabalhar, necessitavam de trabalhadores que seriamroubados do setor da indstria. Tais trabalhadores somente mudariam de emprego se a relao desalrio fosse melhor, ou seja, se o setor de servios pagasse salrios mais elevados do que a indstria.Dessa forma, os lucros no setor de servios eram muito baixos para pagamentos de salrios elevados,comparativamente aos salrios industriais.

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    Em 1933, Roosevelt assumiu a presidncia dos Estados Unidos e uma pesada herana: 17 milhesde desempregados. Para achar uma sada para a crise, sua equipe elaborou um plano que passoua ser conhecido como New Deal(Novo Acordo). Caberia ao Estado intervir na economia, vigiandoo mercado e os empresrios, corrigindo as distores e monitorando as atividades nas bolsas devalores.

    Basicamente, o New Dealprocurou consertar o desequilbrio na economia por meio de algumasestratgias:

    a) Criao de um portentoso e ambicioso programa de obras pblicas a serem executadas por rgospblicos e empresas estatais: foram construdas estradas, escolas, hospitais, aeroportos e todauma infinidade de obras de infraestrutura;

    b) Criao da Previdncia Social e elaborao de leis sociais para a proteo dos trabalhadores e

    desempregados;

    c) Criao do salrio mnimo;

    d) Diminuio da jornada de trabalho e manuteno dos salrios;

    e) Compra de estoques de cereais e sua posterior queima, para manter a remunerao dos setores daeconomia envolvidos com o setor primrio;

    f) Arbitragem dos conflitos entre empresrios, forando-os a concretizar acordos sobre os nveis deproduo e preos;

    g) Renegociao e perdo das dvidas dos pequenos proprietrios;

    h) Concesso de crdito aos fazendeiros.

    A proposta do New Dealfoi a de aumentar a capacidade de consumo da sociedade sem que, nummesmo momento, fosse aumentada a capacidade de produo das empresas. A preocupao maior deRoosevelt era a de proporcionar sociedade novos tempos de consumo e produo. Para tanto, as aes

    citadas permitiram ao governo transferir renda para a sociedade.

    Acompanhe o raciocnio acerca da construo de infraestrutura mencionada anteriormente.

    Para que o governo possa construir escolas, por exemplo, precisa inicialmente de um espaogeogrfico, um local fsico. Para tanto, pode adquirir uma fbrica fechada em funo da criseanterior. Assim, o governo repassa, por meio da compra de um imvel, determinada renda a umafamlia que pode voltar ao mercado de consumo. Essa escola agora precisa ser construda. Ento,o governo adquire do mercado de construo civil todos os materiais necessrios construo.Precisar contratar pessoas que trabalharo nas obras, pedreiros, marceneiros, pintores e demaisprofissionais. Cada um desses profissionais receber um salrio como forma de remunerao de

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    sua atividade. Portanto, voltam a receber renda e tambm podem voltar ao mercado de consumode mercadorias. E, assim por diante.

    Os empresrios, por seu turno, incentivados tambm pelo governo com subsdios produo, voltama ter mpeto para continuar seus negcios, percebendo agora que a sociedade tambm tem capacidadede retorno ao mercado de consumo. Assim, empresas voltam a empregar outras pessoas e retomam aproduo anteriormente freada em funo da crise. um crculo.

    Todas essas medidas conjugadas geraram um aumento no nvel de emprego da economia, forandoo aumento da produo e da contratao de empregados, a manuteno da atividade econmica e ocontrole das tenses sociais.

    Sob efeito da crise, qual a soluo para o capital? A resposta : o Estado. O Estado, finalmente, salvavao capital: acabava a era da crena no equilbrio natural e automtico do mercado. Experimentaramos o

    perodo chamado de welfare state, estado de bem-estar social, em que caberia ao Estado o resgate dasociedade.

    Observao

    Repare aqui numa coisa, conforme avanamos em nossa disciplina,percebemos que h certa mudana no papel do Estado na economia: deinstrumento de uso pela classe dominante para regulador da atividadeeconmica.

    Um economista britnico se proporia a traduzir essa nova situao dentro dos rigores dopensamento econmico: seu nome era John Maynard Keynes, e o seu trabalho, A teoria geral doemprego, do juro e da moeda,foi to brilhante, que ainda hoje ele adjetiva parcela considervel doseconomistas do mainstream15. Keynes mostrava que, contrariamente aos resultados apontados pelateoria clssica, as economias capitalistas no tinham a capacidade de promover automaticamenteo pleno emprego. Assim, deveriam ser abertas oportunidades para a ao governamental: por meiodos clssicos instrumentos de poltica econmica, caberia ao governo direcionar a economia rumo utilizao total dos recursos.

    A anlise de Keynes partiu do estudo da riqueza de uma nao. Segundo ele, a medida de riquezade uma nao sua renda. E renda, aqui, no um conceito esttico, porque ela se transfere de mosno processo de produo e consumo de mercadorias; na verdade, essa transferncia que revitalizaa economia. Parte da renda gasta no consumo de bens e servios; outra parte poupada, ou embancos ou por meio da aquisio de aes. De qualquer forma, esperado que essa renda retorne aosistema, via concesso de emprstimos ou por meio de financiamentos para a expanso das atividadesprodutivas.

    15Ainda nos dias de hoje, uma boa parte da heterodoxia econmica se autointitula de keynesiana.

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    O problema surge porque essa comunicao entre poupana e investimento no automtica.O fluxo circular da renda no funciona de forma automtica. E a est a possibilidade de depresso.Se nossas poupanas no forem investidas por empresas com negcios em expanso, nossas rendasvo declinar. Estaremos na mesma espiral de contrao como estaramos se tivssemos congeladonossas poupanas guardando-as no colcho (HEILBRONER, 1996, p. 248). A economia fica paralisada,segundo Keynes. Ele ainda descobriria mais uma coisa: a depresso e a crise da bolsa haviam acabadocom o montante de poupanas. De fato, sequer havia renda para o consumo, quanto menos parapoupana.

    A maior consequncia era que a economia encontrava-se em uma condiode paralisia exatamente quando precisava ser mais dinmica. Pois, se nohavia excedente de poupanas, no havia presso na taxa de juros paraencorajar os negociantes a pedir emprstimos. Se no havia emprstimose gastos com investimentos, no havia mpeto de expanso. (...) Assim,

    dava-se o paradoxo da pobreza em meio fartura e anomalia de homense mquinas sem ter o que fazer (idem, p. 252).

    O que fazer nessa situao de paralisia?

    Keynes elaboraria teoricamente o que se tentara antes, e de forma bem-sucedida, com o New Dealamericano. Assim, cabia ao governo tirar a economia do fundo do poo, investindo e criando empregos.Ao criar empregos, criaria renda para consumo e poupana. Criando demanda, criaria estmulos paraque a oferta fizesse a produo retomar seu crescimento. O governo deveria investir em obras pblicas,mesmo que fosse apenas para cavar buracos que, posteriormente, fossem tapados: a prioridade era criaremprego.

    Em outras palavras, os projetos de obras pblicas atacariam o problema com uma faca dedois gumes: ajudando diretamente a manter o poder de compra das pessoas, que de outra formapermaneceriam desempregadas, e liderando o caminho para a retomada da expanso privadados negcios (idem, p. 256). Era, afinal, a mo visvel do Estado colocando ordem no mercado,ordem essa que outra mo invisvel lograra no conseguir. Assim, diante desse contexto, Keynesapresenta O princpio da demanda efetiva como novidade para o pensamento econmico dapoca.

    Os resultados obtidos foram satisfatrios. Como pode ser visto no grfico 2 a seguir, a economiaamericana voltou a crescer, e nesse crescimento se manteria at a dcada de 1970. Observe: a linhapontilhada corresponde ao crescimento americano. As barras verticais correspondem ao crescimento daeconomia brasileira.

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    1901

    1904

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    1913

    1916

    1919

    1922

    1925

    1928

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    1934

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    1940

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    1946

    1949

    1952

    1955

    1958

    1961

    1964

    1967

    1970

    1973

    1976

    1979

    1982

    1985

    1988

    1991

    1994

    1997

    2000

    2003

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    7

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    0

    -1

    -2

    Tendncia secular do crescimento no Brasil e nos Estados Unidos (1900-2005)

    HPTRENDBR

    HPTRENDUS

    Grfico 2 Crescimento no Brasil e nos Estados Unidos

    Faltava ordenar ainda alguns mecanismos, e isso ocorreria em Bretton Woods: uma sequncia deacordos determinariam algumas regras de relacionamento monetrio entre os pases. Escaldados peloefeito domin da crise de 1929 e ainda sob a comoo da II Guerra Mundial, os pases industrializadosiriam estabelecer normas para a paridade cambial, tornando as moedas indexadas ao dlar e esteancorado na conversibilidade ao ouro. Ainda como resultado de Bretton Woods, surgiriam o BancoInternacional de Reconstruo de Desenvolvimento (BIRD), constituinte do Banco Mundial, e o FundoMonetrio Internacional (FMI).

    Conforme Manzalli e Gomes (2006, p. 89-90),

    o Banco Mundial e o Fundo Monetrio Internacional so dois importantesorganismos criados para promover a coordenao de polticas entre pases,notadamente na rea financeira, mas muitas vezes tal coordenao ocorreem detrimento de interesses de sociedades. Com o avano do comrcio delonga distncia na Europa, surge certa tendncia de que as coordenaesfinanceiras, predominantemente administradas por famlias dos comercianteslocais, passem a desempenhar um papel primordial na definio dos interessespolticos e econmicos de diversos grupos no continente. Com o tempo, o

    desenvolvimento do comrcio privado de moedas e instrumentos financeiros

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    organiza-se em cidades que ganham statusde centros financeiros, e estes,agora, passam a influenciar governos e diversos grupos sociais em muitaslocalidades onde, no incio do sculo XX, o poder econmico de Londresfazia-se sentir em vastas regies do globo.

    De acordo com Sandroni (1996), o FMI foi criado em 1944 para tentar promover a cooperaomonetria entre todos os pases do mundo. Essa iniciativa partiu da necessidade de equilibrar paridadesmonetrias justas entre diferentes moedas, evitando desvalorizaes concorrenciais e formando umgrande fundo com recursos dos pases membros. Esses recursos seriam utilizados em favor de pases queencontrassem dificuldades nos pagamentos internacionais, principalmente aqueles que apresentavamrecorrentes dficits em sua conta de transaes correntes.

    Uma das principais funes do Fundo era regular as paridades dasmoedas. Tinha o objetivo essencial de presidir um regime internacional

    de cmbio praticamente fixo, promovendo a cooperao monetriainternacional mediante uma instituio permanente que servisse demecanismo para consulta e colaborao sobre problemas monetrios.Em seu instrumento constitutivo estabeleceu-se, ainda, que recursosfinanceiros do Fundo seriam oferecidos temporariamente aospases membros para proporcionar-lhes oportunidades de corrigirdesequilbrios no seu balano de pagamentos, sem recorrer adesvalorizaes cambiais, consideradas destrutivas da prosperidadeinternacional (Manzalli e Gomes, 2006, p. 96).

    J o Banco Mundial, instituio financeira internacional ligada Organizao das Naes Unidas(ONU), e tambm criada em 1944, tinha como propsito o financiamento de projetos de recuperaoe de promoo de desenvolvimento econmico dos pases atingidos pela guerra (Sandroni, 1996). Naprtica, esse papel ficou a cargo do chamado Plano Marshall, e o banco passou a lidar de modo crescentecom o tema do desenvolvimento econmico e a atuar, sobretudo, junto aos pases subdesenvolvidos(BAUMANN, 2004).

    Formalmente, seu intuito era canalizar capital para investimentos que permitissem elevar aprodutividade das empresas, o padro de vida das pessoas e as condies de trabalho nos pases membros.

    Assim, a preocupao primordial do Banco Mundial seria aquela ligada melhoria das condies de vidada populao, quer dizer, s questes de cunho qualitativo (e no quantitativo-financeiro, a exemplodo FMI).

    Conforme salientam Manzalli e Gomes (2006), o objetivo bsico do Banco Mundial era o de auxiliarna reconstruo e no desenvolvimento de territrios dos pases membros atingidos pela destruio daguerra. Esse objetivo deveria ser atendido por meio de atividades dedicadas a:

    a) Prover capital para fins produtivos;

    b) Promover o investimento externo privado;

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    c) Complementar o investimento privado mediante o fornecimento de capital para fins produtivos;

    d) Promover o crescimento equilibrado de longo prazo do comrcio internacional;

    e) Manter o equilbrio nos balanos de pagamento mediante o incentivo internacional a investimentospara o desenvolvimento de recursos produtivos.

    Os resultados das polticas keynesianas logo se fariam sentir e a economia americana viveria o seuperodo de maior riqueza e crescimento.

    No Brasil, tambm se adotaria estratgia parecida do New Deal: ao tempo de Getlio Vargas,a produo de caf seria comprada pelo governo apenas para remunerar os fatores de produoempregados. Depois, esse caf seria queimado, em vez de ser colocado no mercado, abaixando aindamais o preo do produto.

    Comprava-se caf no para revend-lo, mas apenas para manter a remunerao de setoresimportantes da economia.

    Em sua obra Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, Keynes explicaria a necessidade de investirna criao de empregos como medida para manter a demanda agregada e evitar a queda da produo.Se fosse necessrio, que se cavassem buracos e se os cobrissem novamente. Ou, nas palavras dele: Cavarburacos no cho, custa da poupana, no s aumentar o emprego como tambm a renda nacionalem bens e servios teis.

    Para refletir

    Veja o texto abaixo e reflita, conforme o proposto.

    Situao Numa entrevista concedida nos anos 1970, Golbery do Couto e Silva, ento MinistroChefe da Casa Civil, afirmou que a maior ou menor interveno do Estado na economia assemelhava-seaos movimentos cardacos de sstole e distole, o que os tornava, portanto, inexorveis com o passar dotempo.16

    Proposta: em que situaes voc acha ser importante a interveno do Estado na economia?

    Vamos pensar um pouco mais?

    Observe o trecho da entrevista de Fernando Ferrari Filho, professor titular do Departamento deEconomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisador do CNPq, sobre a situaoproposta:

    16Disponvel em: . Acesso em: 23 mar. 2011.

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    ECONOMIA E NEGCIOS

    Situao

    Keynes nunca deixou de viver, no aspecto figurativo. Entre os anos1950 e 1970, o mundo passou por um perodo de prosperidade jamaisvisto, conciliando crescimento econmico e estabilizao de preos. E,queiramos ou no, essa prosperidade se alicerou em concepes decarter keynesiano, ou seja, polticas monetrias e fiscais extremamenteexpansionistas, controle de capitais e estabilidade das taxas de cmbio.Foram as regras do sistema criado em Bretton Woods, na dcada de1940.

    (...) Eu diria que no h ningum mais moderno que o Keynes paraexplicar as dificuldades atuais e para nos fazer entender que essas crisesfinanceiras do capitalismo no so anmalas. Elas tendem a se repetir por

    perodos. Os economistas que so cticos ao Keynes, o so porque nuncao leram. Segundo ponto: aquilo que voc falou. As pessoas se apoiamno Keynes, se reportam s ideias dele, como agora, defendendo polticasfiscalistas, polticas de injeo de liquidez, como se fosse para solucionarum problema de curto prazo. Ou seja, hoje existe uma aceitabilidadede Keynes, para remediar os problemas. Pegando a sua expresso, naviso dessas pessoas, Keynes s para o tempo em que durar a chuva.Por qu? Porque entendem que os mercados tendem a seguir uma lgicadefinida. Entendem que polticas fiscais e polticas monetrias de cunhoessencialmente keynesiano devem ser utilizadas em pocas de crise, dedepresso, mas no devem ser utilizadas em pocas de prosperidade.Acreditam que o mercado funciona na lgica da normalidade e s veemrelevncia no Estado keynesiano dentro de uma lgica de depresso.Essa , infelizmente, a percepo.17

    Proposta: o que podemos concluir a respeito da atualidade das ideias keynesianas?

    Resumo

    Antes que voc faa os exerccios, vamos relembrar os pontos maisimportantes j discutidos at agora:

    O mercado o local de encontro entre quem oferece bens e servios equem procura bens e servios. Portanto, um local de trocas. A concorrnciaperfeita, o oligoplio, o monoplio e a concorrncia monopolista so asestruturas de mercado mais comuns.

    17Disponvel em: . Acesso em: 1 nov. 2010.

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    Unidade II

    O oligoplio se formou a partir das dificuldades enfrentadas pelocapitalismo ao final do sculo XIX.

    Karl Marx, sob o impacto das condies miserveis dos trabalhadorese das dificuldades pelas quais passava o capitalismo, escreve sua obra Ocapital, rompendo com a lgica do liberalismo clssico e criando umavertente alternativa de anlise.

    Embora sua teoria no tenha sido aceita pelo mainstream, algumasde suas previses se concretizaram: o capitalismo passaria por inmerascrises.

    A crise de 1929 ensejou uma mudana na compreenso do papel doEstado: agora, cabia a ele intervir, regulando as atividades econmicas e

    conduzindo o sistema ao equilbrio e ao pleno emprego.

    Keynes elabora sua obra sob influncia desses acontecimentos. A crisede 1929 e as guerras mundiais criam as condies para o surgimento doFMI e do Banco Mundial: a partir desse momento, o capital se organiza emtermos mundiais.

    EXERCCIOS

    Questo 1. (Adaptada do Enade Histria 2008)

    Figura 4

    Leia o trecho: (...) o fato maior do sculoXIX a criao de uma economia global nica,que atinge progressivamente as mais remotasparagens do mundo, uma rede cada vez maisdensa de transaes econmicas, comunicaes emovimentos de bens, dinheiro e pessoas, ligandoos pases desenvolvidos entre si e ao mundo nodesenvolvido. [...] Sem isso no haveria um motivoespecial para que os Estados europeus tivessemum interesse algo mais que fugaz nas questes,digamos, da bacia do rio do Congo, ou tivessemse empenhado em disputas diplomticas emtorno de algum atol do Pacfico. Essa globalizao.

    da economia no era nova, embora tivesse se acelerado consideravelmente nas dcadas centrais dosculo (HOBSBAWM, Eric. A Era dos Imprios: 1875-1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 95)

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    ECONOMIA E NEGCIOS

    O texto faz referncia expanso imperialista europeia no sculo XIX. Uma caracterstica dessemovimento de conquista de novos mercados que ocorre nos Oitocentos :

    Assinale a alternativa correta:

    A) A ausncia do Estado protecionista na criao de uma economia global nica.

    B) A criao de uma economia global nica no contexto do crescimento industrial europeu.

    C) A ausncia de concorrncia entre os pases mais industrializados.

    D) O favorecimento social das regies coloniais com a ampliao dos investimentos europeus.

    E) Os benefcios econmicos proporcionados s massas descontentes dos imprios.

    Resposta correta: alternativa B.

    Anlise das alternativas:

    A) Alternativa incorreta.

    Justificativa: a ausncia do Estado protecionista na criao de uma economia global nica inverte anatureza do processo encabeado pelo Estado em proteger a sua economia.

    B) Alternativa correta.

    Justificativa: foi isso o que suscitou o interesse de pases europeus em expandir os seus domnios,incentivando o interesse em outras reas geogrficas fora de seus domnios territoriais, e assim, ocrescimento do imperialismo econmico.

    C) Alternava incorreta.

    Justificativa: havia extrema concorrncia entre os pases mais industrializados, tanto que esses

    conflitos acabariam por gerar a I Guerra Mundial.

    D) Alternativa incorreta.

    Justificativa: no havia qualquer favorecimento em relao s regies coloniais.

    E) Alternativa incorreta.

    Justificativa: no havia preocupao nenhuma em proporcionar benefcios s massas descontentes,o que contribuiu com a crise do final do sculo e com as lutas dos trabalhadores, que, inspirados pelosideais socialistas, procurariam melhorar as condies de trabalho.

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    Unidade II

    Questo 2.Leia o trecho:

    (...) Em 3 de setembro de 1929, a Bolsa de Valores de Nova York atingiu os ndices mais elevadosque jamais seriam vistos nos vinte anos seguintes, para apenas algumas semanas depois, ser palcoda mais devastadora crise que o sistema capitalista passou, atravs dos desdobramentos do que sechamou o crack de Wall Street. Um sentimento geral de otimismo e confiana no sistema americano,fez com que o pblico em geral acreditasse que o preo das aes e demais ttulos continuasse a subirindefinidamente, o que tornava imperativa a compra, para se poder usufruir da era de prosperidade.Se at fevereiro de 1928 a alta do preos dos papis seguiu, grosso modo, o aumento assinalado doslucros das empresas, a partir dessa data, ela foi sustentada apenas pela onda especulativa. Essa ondaera encorajada por afirmaes otimistas de homens de negcios e autoridades governamentais, comoa do presidente Coolidge em 4 de dezembro de 1928, de que nenhum Congresso dos EUA jamaisreunido (...) se viu com uma prosperidade mais agradvel que essa que parece agora, que serviu paraprontamente restaurar a confiana, abalada pelo colapso do setor de construo civil em meados

    de 1928. (...) Havia chegado um ponto em que os compradores no mais levavam em conta o valorintrnseco dos ttulos, procurando aumentar seu patrimnio pela simples posse de aes quaisquer.Isso naturalmente supervalorizava todos os papis. Nessas condies, mesmo as aes das empresasmais slidas encontravam-se supervalorizadas, e as aes de segunda linha haviam atingido preosinjustificveis, muito alm de seu valor patrimonial ou de sua capacidade de remunerar, atravs dedividendos, os capitais aplicados. Essa situao, reflexo ntido das condies artificiais do crescimentoda economia norte-americana durante a dcada de 1920, no poderiam prolongar-se indefinidamente:seu ponto de equilbrio rompeu-se em outubro de 1929 (...) (REZENDE, 2007).

    Considere as afirmativas que se seguem:

    I - A especulao monetria da poca exigiu um sentimento de confiana e de otimismo, e aconvico de que as pessoas comuns estavam destinadas a ser ricas. Tal sentido era fortalecidopelo endosso das autoridades e dos fatos de enriquecimento aparentes.

    II - A ocorrncia da crise gerada em 1929 serviu para colocar em cheque a doutrina da Lei de Say,mostrando que a renda no necessariamente gasta ou investida, e de que a economia notende ao equilbrio.

    III - O crack da Bolsa de Valores de Nova York pode ser considerado como resultado natural de umadcada de desenvolvimento econmico, em que a demanda e oferta agregadas foram influenciadaspor financiamento de consumo, produto de espetacular desenvolvimento do mercado de crditoamericano nos anos 1920.

    IV Agrega-se aos fatores que contriburam para a Depresso dos anos 1930: a crise de superproduoengendrada no setor primrio da economia da poca.

    Aps a leitura do texto sugerido, da considerao das afirmativas propostas e da discusso apresentadanesta Unidade acerca do assunto, assinale a alternativa que contm as afirmativas corretas:

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    A) I e II.

    B) II e III.C) I, III e IV.

    D) III e IV.

    E) Todas as afirmativas esto corretas.

    Resoluo desta questo na Plataforma.